Aconteceu no último final de semana, no Ginásio Poliesportivo de São Bernardo do Campo (SP), o 2º World Dancer Experience. O evento foi um intensivão internacional de dança. Inscritos tinham mais de 110 dançarinos de todo o Brasil, de 15 anos de idade em diante, do nível intermediário ao profissional. Nos três dias, essas pessoas trabalharam versatilidade, musicalidade, conhecimento corporal, performance de palco, alma na dança e infinitas coreografias, onde o objetivo era elevar o trabalho artístico a outro nível. Esse ano, nomes internacionais como de Matthew Prescot da Broadway Dance Center, Katie Dablos da Step on Broadway, Ashlé Dawson e Geeg Torres, que protagonizou um dos momentos mais animados do intensivo com o Hip-Hop, trouxeram vivências incríveis e muita experiência aos dançarinos presentes. Alguns nomes nacionais, não menos importantes, também enriqueceram o evento com suas caminhadas, são eles: Jhean Alex, Zeca Rodrigues, Adriana Assaf e Li Kirsch. Nos três dias de evento, o Portal Breaking World esteve presente e pode sentir uma vibe diferente de corpos livres, dançantes, que tinham arte nas veias e que em alguns momentos do intensivo transbordavam e escorriam pelos rostos. Conversamos com o dançarino Ricardo Braune, organizador do WDE, antes do evento. Confiram a entrevista na íntegra:
BW: Há quanto tempo você dança? Qual a sua especialização?
Ricardo Braune: Eu sou Bailarino há 19 anos! Minha especialidade é Jazz Dance.
BW: Como surgiu a ideia de fazer o World Dance Experience? A que público ele é destinado?
Ricardo Braune: A ideia do evento surgiu da nossa própria necessidade de buscar conteúdos internacionais de qualidade, mas conteúdos que realmente aprofundassem e ajudassem o bailarino a ter algum tipo de transformação! Tanto é, que nós dizemos que esse evento não é um workshop e também não é um curso de férias, é uma experiência que vai levar o bailarino ou artista a uma transformação de dentro para fora! É destinado a bailarinos, professores, coreógrafos de Jazz Dance, Ballet Clássico e Hip-Hop, que queriam aprender não apenas sequências, mas que queiram ter algum tipo de transformação na vida e na carreira artística!
BW: A versatilidade na dança é algo fundamental na carreira de um dançarino?
Ricardo Braune: Na minha opinião é! Imagino que não só na minha, a versatilidade é um dos caminhos para que você tenha um corpo mais inteligente e consiga se expressar de várias formas! A versatilidade te dá muitas possibilidades no mercado e até mesmo para quem é mais especialista, ter conhecimentos de outras áreas te permite ter uma dança mais fluida!
BW: O que as companhias de dança nacionais e internacionais esperam hoje de um dançarino?
Ricardo Braune: Acho que não só nas companhias, mas em qualquer trabalho, qualquer contratante espera ter pessoas preparadas para o que vier dentro das propostas! Pessoas íntegras, dispostas e boas! Para isso, é necessário bastante disciplina, estudo, treino e dedicação! E eventos como o WDE podem ajudar muito!
BW: Fale resumidamente tudo que vai acontecer nesses três dias de evento?
Ricardo Braune: São 3 dias muito intensos, onde vamos trabalhar três temas: a Base, a Musicalidade e aquilo que chamamos de Alma! São 4 professores internacionais e 4 professores nacionais, com conteúdos exclusivos para o WDE!
BW: E os professores, como foram escolhidos?
Ricardo Braune: Selecionamos os profissionais a dedo, de acordo com os objetivos do evento! Foi feito um balanceamento entre os conteúdos para que fosse uma experiência transformadora! Ir para o exterior, ver e fazer as aulas nos EUA, conversar com inúmeros profissionais e decidir cada professor não é uma tarefa simples! Mas foram escolhidos de acordo com a característica de cada um! Principalmente pensando na questão da versatilidade!
BW: O evento conta com a presença de dançarinos de várias modalidades de dança, correto? Como acontece essa interação e até superação de um estilo clássico, por exemplo, se lançar num Hip-Hop ou alguém que é do Hip-Hop fazer o clássico?
Ricardo Braune: É exatamente essa a proposta, quem tem dificuldade em outros estilos, tem que sair da zona de conforto! Tem que se permitir sair da caixinha para poder desfrutar de uma dança mais fluida! Eu, por exemplo, me especializei em Jazz, mas acho que se eu for contar, mais no início da carreira, minha dificuldade maior era Ballet, então, eu fazia muito mais Ballet que Jazz! Ainda deveria manter essa proporção hoje, mais Ballet do que Jazz e claro que o Hip-Hop me ajudaria muito também! Mas é esse o espírito, trabalhar outras possibilidades!
BW: Quais são suas expectativas para esse evento?
Ricardo Braune: Minha expectativa é de muita energia e muita dança! O que mais importa é no final todo mundo inspirado, com sonhos e metas estabelecidas e muita vontade de realizá-los!
Quem não conhecia esse evento ou não pôde ir esse ano, fica aqui uma boa sugestão para 2023. Depois de passar 3 dias de imersão no WDE ficou um gostinho de quero mais! Lembre-se: um dançarino versátil hoje em dia é ser alguém muito valorizado pelas companhias de dança de todo o mundo e ajuda a atuar em diversos segmentos e tipos de apresentação, sendo necessário, além do amor à dança, profissionalismo, técnica, estratégias de linguagem corporal, expressões faciais, musicalidade, disciplina nos treinos, na vida, são questões que ajudam na ascensão de qualquer dançarino, seja clássico ou não. Ter uma agenda atualizada sobre os melhores eventos, como o WDE, pode ajudar muito na preparação e na formação de quem pretende viver da dança! Por isso, fique de olho no que acontece no mundo da dança à sua volta!
Imagens: ® Luciana Mazza
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Nos próximos dias 25, 28 de setembro e 7 de outubro, o grupo Funk Fockers apresenta um espetáculo de Breaking, que vai ser transmitido ao vivo . “Rotina” é o nome desse trabalho e leva a cultura Hip-Hop das ruas para o palco, misturando coreografia e audiovisual, sempre buscando novos horizontes dentro da cena.
“Existem poucos espetáculos de Breaking no país. Conseguimos de forma inédita a contemplação no edital ProAC, concorrendo com grandes companhias de dança de diversos segmentos como o balé e contemporâneo, nos permitindo colocar em prática as nossas ideias e apresentar uma obra criativa em uma narrativa atual e otimista”, comenta Allan Lopes (Mixa), diretor, B-Boy e coreógrafo. O espectador irá acompanhar o dia a dia de três entregadores de aplicativo que se preparam para curtir a primeira festa de Hip-Hop pós-pandemia.
O projeto conta com a colaboração da Fuligem Comunicação e Arte, um coletivo de artistas audiovisuais.
Conheça os artistas:
Allan Barbosa Lopes (Mixa): diretor artístico, coreógrafo , intérprete e B-Boy, no cenário Hip-Hop há quase 20 anos. É um dos fundadores da Funk Fockers, crew que foi criada em 2008. Passando por França, Dinamarca, Alemanha, Chile, Argentina, Estados Unidos e Colômbia, conquistou alguns títulos individuais e em grupo.
Bruno Siles (Onnurb): coreógrafo e intérprete, também é membro fundador do grupo Funk Fockers e dançarino de Breaking há 19 anos. Participou de competições nacionais e internacionais em vários países como Suíça, França, México e Singapura.
Thiago Antonio Alves (Thiaguin): coreógrafo e intérprete, integrante do grupo Funk Fockers, dançarino de Breaking há 18 anos, participou de um dos maiores campeonatos do mundo – The Notorious IBE, na Holanda, em 2011, como convidado especial.
Igor Goforit: DJ, MC, produtor e beatmaker desde 2000.
O projeto Rotina é realizado pela Fuligem Comunicação e Arte, Funk Fockers Crew e Governo do Estado de São Paulo, por meio do edital ProAC 03/2020 e conta com o patrocínio da Nest Panos, apoio da Strutura Contábil e Me Ghusta e produção da Oriri Agência Cultural.
Serviço:
Rotina Espetáculo de Breaking com Funk Fockers Crew 50min de duração On-line (Gratuito)
Confira o local das transmissões:
25/09/2021 às 19h Site: nestpanos.com YouTube: https://youtube.com/c/NestPanos
30/09/2021 às 19h YouTube – https://youtube.com/c/SUJO https://youtube.com/c/Funkfockers Instagram: https://instagram.com/funkfockers
Diante do anúncio da inserção do Breaking nos Jogos Olímpicos de Paris, a serem realizados em 2024, muitas pessoas têm se questionado: afinal, o Breaking é dança ou esporte?
Como diz Arthur Schopenhauer: “Todo homem toma os limites de seu próprio campo de visão como os limites do mundo”. Em outras palavras, nos limitamos muito com aquilo que conhecemos, aprendemos e vivenciamos ao longo da vida. Como o Breaking nunca foi reconhecido como um esporte antes, para alguns, isso é imutável.
Mas, vamos lá, partimos do ponto inicial, o que é cultura e o que é esporte?
No dicionário, cultura é traduzida como um conjunto de conhecimentos, costumes, crenças, padrões de comportamento, adquiridos e transmitidos socialmente, que caracterizam um grupo social. Já o esporte, é definido como qualquer prática metódica, individual ou coletiva, de jogo ou qualquer atividade que demande exercício físico e destreza, com fins de recreação, manutenção do condicionamento corporal e da saúde e/ou competição.
Ok, nada melhor do que consultar o pai dos burros, e confirmar que o Breaking tem todas essas características, assim como outras danças esportivas existentes, que já participam há anos do The World Games (Jogos Mundiais), como a Valsa, Tango, Cha Cha Cha, Samba Internacional, entre outros.
O Breaking é dança e sempre será dança, pois, a definição de dança é um conjunto de movimentos corporais ritmados acompanhados de música. Torná-la uma modalidade esportiva não muda sua característica, ela continua sendo dança e parte da Cultura Hip-Hop.
Se analisarmos do ponto de vista técnico, o Breaking sempre foi esporte, pois uma das principais características é a competitividade, seja ela premiada ou não, pois faz parte da essência do Breaking “rachar” e os “rachas” nada mais são do que competições, elas só não têm júri com formação de arbitragem, podium e medalhas.
A grosso modo, quando competimos é esporte. Quando ela é apresentada sem finalidade competitiva, ela é dança/cultura, não tem nada a ver com dançar sem música ou fazer movimentos acrobáticos. Aliás, é bom falar sobre isso também, pois mesmo antes de virar modalidade esportiva, muitos têm preferência por treinar e desenvolver movimentos mais acrobáticos, mas isso não os fazem menos B-Boys/B-Girls do que os demais. Cultura é isso, é o respeito com o próximo, é entender que cada um tem uma história diferente, conheceu o Breaking de forma diferente e optou por estilos que mais se identificam dentro daquilo que conhecem. Não tem certo ou errado, tem a visão, a vivência e escolha de cada um.
Breaking é dança, cultura e esporte. Agora, participará de um tal de Jogos Olímpicos, mas isso não muda nada do que foi construído até hoje, o trabalho social para empoderamento de crianças e jovens que cresce ano após ano em cada canto do planeta e transforma vidas; as lutas pelas igualdades raciais, sociais e de gênero; o portal de acesso à cultura e às artes para os menos favorecidos; os eventos na quebrada; a grande família e comunidade Hip-Hop em todo o mundo, onde você pode chegar em qualquer lugar e ser recebido por quem nunca viu na vida, mas que te acolhe porque você é do Hip-Hop; porque tem em comum uma cultura que não vê cor, religião, classe social ou qualquer diferença, mas que aproxima pessoas e as une em torno de algo maior.
Quem quiser ganhar medalhas, participar do ranking e eventualmente competir nas Olimpíadas, terá que se filiar à órgãos específicos para a finalidade e participar dos campeonatos credenciados, caso contrário, você pode continuar dançando aonde quiser, competindo em batalhas não relacionadas ao Breaking nas Olimpíadas. Seus treinos, suas habilidades, seu campo de trabalho e sua história não irão mudar, assim como não mudou nas danças que se tornaram modalidade esportiva e nem nos esportes que tem uma cultura por trás de suas histórias.
A título informativo, para reflexão, o Brasil é um dos países mais ineficientes na aplicação de recursos destinados ao esporte. Esse levantamento foi realizado pelo consórcio SPLISS (Sports Policy Leading to International Sporting Success), um modelo de avaliação para mensurar o sucesso na gestão esportiva, em especial, a de alto rendimento, criado por pesquisadores em 2006 e utilizado em todo o mundo.
Foram definidos nove pilares para avaliação, e, no último levantamento, o Brasil só alcançou resultados relevantes no suporte financeiro, mostrando a necessidade e importância de uma gestão esportiva eficiente no Brasil.
O que isso tem a ver? Para aqueles que acreditam que o Breaking como modalidade esportiva deixará os dançarinos milionários e garantirá o futuro de todos, se engana. No pilar 5 – suporte para carreira e aposentadoria de atletas, temos um dos piores resultados, além do pilar 6 – instalações esportivas, que não chega a 15% do ideal.
Em resumo, não vai ser o esporte que vai mudar o Breaking, mas o Breaking sim pode mudar o esporte com a capacidade de alcance, experiência em gestão sustentável e criação de políticas públicas.
Sabe a Rayssa Leal? Aquela skatista de 13 anos que ganhou a medalha de prata nas Olimpíadas de Tóquio? Pois é, ela teve sua vida transformada graças ao esporte e alimentou o sonho de milhares de crianças e jovens em todo o mundo. O Breaking pode fazer o mesmo na vida de muitas pessoas, dar uma direção, um caminho, trazer oportunidades e mudar vidas. Porque não apoiar? Mas, pesquise muito antes de prestar apoio a qualquer organização que aparecer na sua frente. Infelizmente, há organizações oportunistas, que nem sequer têm vivência no Breaking e querem nos representar. Outras ainda que estão criando comissões de atletas e fazendo convites diretos prometendo vagas nas Olimpíadas, sendo que nada disso é válido. E alguns piores, que prometem a atletas e empresas uma visibilidade de marca que não podem garantir. Enfim, pesquisem, não apenas a idoneidade dessas organizações, mas quem está por trás delas, seus históricos como produtores, agentes, empresários e artistas. Investiguem e tenham certeza de entregar o seu nome, sua carreira e sua reputação para não cair nas mãos daqueles que nunca fizeram nada por ninguém, porque fariam agora? Questionem, afinal, você, eu, e todos que vivem o Breaking somos importantes e responsáveis pelo nosso futuro.
Estamos de olho!
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“Nós que somos diferentes, somos carimbados como loucos. Eu gosto de ser visto dessa forma, pois foram os loucos e malucos que melhoraram o mundo! Talvez se eu fosse diferente eu não gostaria de mim!” (Nelson Triunfo)
Ele nasceu no nordeste do Brasil, numa cidade localizada na parte setentrional do Vale do Pajeú, local de um povo hospitaleiro rodeado de serras e vegetação. O nome da cidade, Triunfo, originou-se de uma luta ocorrida entre uma poderosa família dos Campos Velhos, da cidade de Flores e os habitantes da povoação da Baixa Verde. No turismo, o município tem o privilégio de reunir tantos atrativos, a começar pelo clima, que contradiz a aridez do sertão nordestino, com temperaturas oscilantes entre 8ºC no inverno e 28ºC no verão. Está a 400 km de Recife e a uma altitude de 1.004m, tem vegetação diferente da que predomina na região e uma variedade de lugares a se visitar sem similar em todo Sertão nordestino. Com tudo isso, passou a ser conhecida como “O Oásis no Sertão” mas foi um de seus filhos que a encheu de orgulho e a tornou famosa em todo o mundo adotando seu nome como sobrenome, estamos falando de Nelson Gonçalves Campos Filho, mais conhecido como Nelson Triunfo (66), filho de sanfoneiro, o menino da roça ganhou o mundo sendo considerado o pai do Hip-Hop brasileiro. Nelsão, como é chamado carinhosamente por todos, iniciou sua carreira artística como dançarino de Soul e Funk na década de 1970, sem dúvida sempre foi a figura-chave na história da cultura Hip-hop no Brasil. Genial, bem humorado e dono de uma personalidade marcante. O Portal Breaking World teve a honra de bater um longo papo com ele e agora apresentamos para vocês, confiram!
BW: Nelson, você nasceu em 1954, em Pernambuco, correto? Queria que você falasse um pouco da sua infância e da sua família. Que lembranças tem dessa época? Nelson Triunfo: Falando um pouco da infância vem todo um princípio que eu tive, que foi muito importante em toda a minha trajetória, eu fui privilegiado quando eu nasci lá na divisa de Pernambuco com a Paraíba, na verdade foi em Triunfo. Foi uma infância de moleque do interior de uma cidade simples, que também conviveu com a roça. A roça foi muito presente na minha infância, às vezes, nas férias, meu pai passava no sítio conosco, eu tomava conta de gado e tudo, e ao mesmo tempo eu estudava em Triunfo e ia apenas à noite para dormir lá. Eu trabalhei muito no sítio, fiz roça, fazia colheita de goiaba, bananas. No colégio eu sempre fui muito bom aluno, sempre fui um dos primeiros da classe. Eu tive uma base forte, naquela época já tinha o samba, já tinha o frevo, o maracatu muito presente! O forró! Luiz Gonzaga estava estourado naquela época e fazia muito sucesso! E fora isso, eu já curtia Beatles, Jovem Guarda, o som Black lá de fora. Na minha cidade, eu vi muitos filmes históricos com Gene Kelly, Fred Astaire, nessa época que eu também aprendi dar pião e espacate, os mortais. Tenho lembranças muito boas de festas de São João, eu com 13 anos ia tocar no forró com aquela sanfona, meu pai era sanfoneiro e eu já arranhava um pouquinho, às vezes nós íamos para festejos que tinha fogueira. Nós fazíamos milho na fogueira. Me lembro da moenda dos engenhos para fazer rapadura, por muito tempo a rapadura foi o açúcar do nordeste, era algo tradicional. Na época da cana de açúcar aquilo era uma delícia! O cheiro do mel, da cana de açúcar viaja quilômetros. As brincadeiras do colégio, que fazíamos corridas e olimpíadas, natação, tudo isso tinha no nordeste. Muitos imigrantes levaram esses avanços para lá. Triunfo chegou a ter o terceiro colégio mais importante do Brasil. Eu gostava de ficar na praça à noite, namorando as menininhas (risos), nós chamávamos de conquista, nós olhávamos para elas, se ela não tirasse o olho de você é porque estava interessada, tinha alto falante, você pagava para tocar as músicas e podia oferecer para quem desejasse. Depois da última música, tinha o cinema. Antes de chegar a luz em Paulo Afonso, ela só ia até às 22h10, depois disso era vela. Nessa época, não tinha televisão, ainda era só rádio. Na Copa de 70 é que chegou a televisão preto e branco mas vimos mais chuvisco do que imagem. BW: No tempo que o rádio chegou dentro de sua casa muita coisa mudou? Se aprofunde mais nos interesses culturais que tinha naquela época, além do frevo, do samba, do maracatu, do forró… Você viveu várias “ondas culturais”. Fale das influências que sofreu?
Nelson Triunfo: Eu já dançava muito! Dançava o frevo, que era tradição, o samba, o forró, que na época era chamado de pagode. Na minha época, pagode significava uma festinha. Vamos num pagode? Vamos numa festinha? Não tinha nada a ver com o samba que eles chamam hoje de pagode. Nessas festas, rolava muito uma mistura de Beatles, Jerry Adriani, Roberto Carlos, Renato e Seus Blue Caps, The Fevers, Martinho da Vila estava começando… eu vivi tudo isso, além das danças regionais, por isso que tive uma grande diversidade cultural eclética. Eu via o que acontecia lá fora também, como eu tinha vontade de conhecer Nova York, Alemanha! Mas eu pensava que era tudo distante… E hoje, graças a Deus, eu já conheço todos esses lugares! As influências que eu sofri com os tipos de dança, uma dança sempre arrastou a outra, as danças não são iguais, mas têm passos que se repetem entre uma e outra, tudo isso me alucinou um pouco, me trouxe alegria, eu comecei brincar de uma forma que virou verdade e todo mundo gostava e aplaudia. E tudo isso passou a fazer parte da minha vida, foi quando eu tomei a decisão de fazer da dança minha profissão.
BW: Na década de 70 muita coisa aconteceu, correto? Você se mudou para a Bahia, começa a frequentar os famosos Bailes Blacks, começa a gostar muito nessa mesma época de James Brown e cria uma estilo próprio de dança. Comente sobre como eram esses bailes, o que rolava e comente como foi a criação dos “Invertebrados” que foi o primeiro grupo de dança Black do nordeste? Nelson Triunfo: A dança Black não tinha comércio no Brasil, hoje nós temos batalhas de Hip-Hop, temos batalha de Soul, de Breaking, isso não tinha naquela época, eu fui um dos primeiros caras a fazer disso aí um produto cultural e alguns que queriam ter em determinado local, nos contratava. Em 1984, na novela Partido Alto, nós abríamos a novela, fomos pagos para isso, então, a dança era uma profissão também. Trabalhava de uma forma consciente, focando também no social. Nossa dança também é um sentimento que se carrega. Exemplo são as crianças: quando você coloca um som e ela começa a balançar a cabeça, quem foi que ensinou a ela que tinha que balançar a cabeça? Então, é um sentimento! Sobre os Invertebrados, quando eu saí de Triunfo, com 16 para 17 anos e fui estudar em Paulo Afonso, lá tinha um programa no Cine Coliseu, ele ficava no meio de uma praça e tinha um cinema, um palco lindo e lá tinha um programa que era parecido com o Programa do Chacrinha, tinha calouros, tinha grupos lançando músicas, o nome do programa era “O Coliseu Show” e aí eu comecei a me apresentar ali, a dançar, e chegou um cara do Rio e tinha outro amigo meu de Paulo Afonso, que pediu para subir no palco para dançar comigo e aí nós dançamos “Sex Machine”, do James Brown. Nossa! Foi uma gritaria! Foi muito legal e quando nós descemos do palco, veio uma senhora e perguntou assim: “Meu filho, nossa! Como vocês dançaram, são lindos, são maravilhosos! Vocês não têm ossos!”. Aí perguntou: “Qual o nome do grupo?”, e aí eu aproveitando o “não tem ossos” dela, já inventei na hora e respondi: “Por isso o nome do nosso grupo é Invertebrados!”. Daquele dia em diante nos tornamos os Invertebrados (risos). Já os Bailes Blacks é mais nos meados dos anos 70, o grande auge no Rio de Janeiro foi 1976, mas continuou em 1977, 1978, aqui em São Paulo foi até 1986, aí depois terminaram os Bailes Blacks, pois já tinham outras coisas entrando, depois se tornaram algo mais simples, sendo o mesmo pessoal hoje que faz baile de nostalgia, que usa mais samba rock. No Rio, era mais soul e em São Paulo era soul e samba rock e as letras eram legais, isso aconteceu no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília e Porto Alegre, foram cidades que concentraram os Bailes Blacks. Depois, se espalhou para o nordeste e para algumas cidades do interior. No Rio, acontecia em Barra Mansa e em Volta Redonda, Teresópolis. Mas nos anos 80 já começou a se misturar com o Hip Hop. BW: Nesse tempo você deixa o cabelo crescer, criando uma imagem que iria o seguir pelo resto da vida. Ficou décadas sem cortar o cabelo! Nos fale da importância desse visual em todo o contexto?
Nelson Triunfo: O meu estilo vem de uma coisa de criança, eu era uma criança muito curiosa, lia sobre tudo, nisso eu puxei o meu pai. Mesmo sendo criado na roça eu era bem aculturado. Eu sempre quis ser meio maluco e os meus pais não deixavam (risos). No sítio mesmo eu já fazia batuque, já fazia festas, campeonato de futebol, eu sempre fui meio doido, mas não tinha liberdade. Quando eu fui morar sozinho, virei um Black Power: era bonito e eu gostava! Nos EUA estava rolando o Festival Woodstock e eu sempre estive atualizado com tudo que rolava lá fora. Nessa época, eu já fazia parte da resistência, fui para Brasília, passei três anos trabalhando mas com o cabelo do mesmo jeito. E depois, vim para São Paulo. Até hoje eu nunca cortei o cabelo! Estou há muitos anos longe de Paulo Afonso, foi onde tomei a atitude de deixar crescer o meu cabelo, fiquei tão famoso lá que eu saí de lá em 1974 e até hoje os moleques deixam o cabelo crescer como o meu (risos). E quando o cabelo fica grande chamam de Nelsão (risos). Os meus fãs do Brasil inteiro e os que me conhecem de fora, eles acham uma coisa muito legal minha, que é aquela hora quando eu começo a dançar e tiro a touca e solto o cabelo (risos), eles adoram essa parte, eu também fazia no futebol, porque eu jogava futebol e toda vez que eu fazia um gol eu tirava a touca e balançava o cabelo, é minha marca registrada! Sem o cabelo não é o verdadeiro Nelsão! É a verdaeira resistência que ninguém conseguiu me engravatar, ninguém conseguiu cortar ele, ninguém me forçou a seguir algum modismo. Desde de 70 eu fui Black Power até hoje! Talvez o único cara do Brasil que é Black Power daquela época. Ele já está caindo um pouco, já tenho 66 anos, não é o que era antes!
BW: Em 1976 você chegou em São Paulo, como foi sua chegada na terra da garoa? Foi nesse tempo que você se dedicou completamente a dança, participou de bastante shows, fazendo parte do Black Soul Brothers. Pode comentar? Nelson Triunfo: Começando em Paulo Afonso tinha alguns grupos que me chamavam para dançar e quando chegava a hora eu fazia o maior sucesso. Foi lá que eu comecei a dançar! Isso acontecia no final de semana, pois eu trabalhava. Em Brasilia não foi diferente… eu trabalhava em topografia, estudava à noite e no final de semana eu ia para os bailes. Às vezes, nós iamos para o Rio para curtir os Bailes Black Rio, comprava aqueles sapatos pisantes… Aí em 1976, eu vim umas duas vezes para São Paulo, mas eu vim para fazer televisão: Silvio Santos, Chacrinha, aí pronto! No final de 1976, eu terminei os estudos em Brasília e no início de 1977 eu vim de vez para São Paulo, mas quando eu vim para São Paulo eu decidi que não queria mais trabalhar com topografia e que iria me dedicar aquilo que sempre eu gostei, na música, na dança, nas composições. E comecei forte, em 1977, com Tony Tornado, Miguel de Deus, Moisés da Rocha do Samba Pede Passagem, que na época ele tinha uma equipe de Black Music, já conhecia as equipes do Rio de Janeiro, quase sempre eu ia para lá! Nessa época, a Black Rio estava estourada! E naqueles anos, eu já tinha dentro da minha dança o Robô, o Wave, um pouco de giro de cabeça, eu fui uma das primeira pessoas a fazer movimentos de Breaking aqui no Brasil. Em 1982, já era possível aqui ver pessoas dançando Popping e em 1983, tem um vídeo muito interessante chamado “Gilberto Gil Funk-se Quem Puder”, nesse tempo nós já dançávamos nas ruas, mas dançávamos mais Funk. É possivel ver o Original Funk e Cia. saindo do Soul e entrando na Dança de Rua. Mas na verdade, nunca saímos do Soul Funk, só entramos de cara no Hip-Hop e estamos aí até hoje, numa grande mistura no Freestyle. Tem as coisas originais, mas sempre aparecem as coisas novas, as novidades!
BW: Em 1977 acontece a gravação do disco de Miguel de Deus e Mr. Funk, de sua autoria, está no disco. E ainda na década de 70 surge o Funk e Cia. Nos conte sobre esse trabalho e sobre o grupo?
Nelson Triunfo: Na verdade, em 1977 foi um ano que aconteceu muita coisa, eu fui na TV Tupi, onde hoje é a MTV e lá eu encontrei o Tony Tornado, o Moisés da Rocha, que trabalhava na Difusora, eles me convidaram para um baile que era grande em São Paulo, na Associação Atlética São Paulo, inclusive eles convidavam equipes do Rio de Janeiro, para fazer som com eles e alí surgiu o Miguel de Deus, que me convidou e até no disco dele tem uma musica que é minha, o Mr. Funk e também criamos a Black Soul Brothers, foi o nome do primeiro grupo que eu formei em São Paulo, existiu apenas para o trabalho do disco de Miguel de Deus. Assim que acabei esse trabalho, pensei em formar um grupo bem maior e potente, foi quando eu pensei no Funk e Cia. e em 1977 fui montando o Funk e Cia. com pessoas muito boas, pesadas! Eram 10 componentes! Todos foram escolhidos a dedo! Eu formei o Funk e Cia. com os melhores dançarinos da Black Music de São Paulo. Foram as que participaram do Funk-se Quem Puder. Passamos do Soul para o Hip-Hop, depois vieram outras formações do Funk e Cia. com os anos os componentes foram mudando. Hoje existe o Funk e Cia. mas atualmente é mais dançante e cantante. Mas a formação pesada foi de 1978 a 1983. Eles foram escolhidos de uma forma bem exigente, eu ia nos bailes blacks e via os caras dançarem, entrarem na roda e as vezes pintava aquele que dançava muito, aí eu conversava com ele e o convidava para o Funk e Cia. Eram os melhores dançarinos da Black Music de São Paulo. BW: Como foi participar de shows de artistas tão importantes como Tim Maia, Gilberto Gil, Sandra de Sá e Jorge Ben Jor? Verdade que o Tony Tornado te chamava de “O Homem Árvore”? Nelson Triunfo: Foi importante eu dançar com todos esses nomes da Black Music Brasileira, porque eu também era um astro da dança, então, eu me sentia em casa e me dava muito bem com todos, era muito legal e no caso do Tony Tornado, a primeira vez que ele me viu os caras estavam junto com ele, o Serginho e falaram “nossa, o cabelo dele parece uma árvore!”. E ele disse “verdade parece um homem árvore” (risos). E na hora de um show, quando foi me apresentar, “agora com vocês, pessoal, o Homem Árvore”… Aí pronto, nunca mais ele me apresentou diferente desse nome e outra coisa, nos bailes blacks do Rio e do Sul que tinham os melhores dançarinos, que eles me respeitavam muito. No Black Rio o meu nome era o Homem Árvore!
BW: Em 1978, James Brown veio ao Brasil. Você conversou com ele… Como foi conhecer James Brown? O que vocês conversaram? Verdade que você ganhou um presente dele? Fale da foto icônica e emblemática feita por Penna Prearo onde você aparece? Nelson Triunfo: Foi muito legal! Nos encontramos no Aeroporto de Congonhas, estava o Paulo Inglês, que era o nosso intérplete e mais alguns caras da Chic Show. Batemos um grande papo, eu disse a ele que gostava e que era um fã do ritmo dele, falei que eu era um dançarino no Brasil, que existiam os bailes blacks no brasil e ele disse que tinha visto reportagens sobre isso e tudo e eu disse para ele que o show no Palmeiras ia ter muita gente! Dancei um pouco para ele ver e ele disse: “The best, the best!”. Aí ele me presenteou com uma capa a qual eu levei para o show que eu iria me apresentar depois dele e infelizmente na hora que eu fui me trocar no camarim a capa sumiu. Alguem entrou lá e só de maldade levou a capa. A foto me mostra neste show com a capa antes dela ser furtada! BW: Nelson, comente a importância de James Brown para a cultura mundial, fale sobre o legado que ele deixou e nos diga o que sentiu quando recebeu a notícia do falecimento dele em 2006? Nelson Triunfo: A música do James Brown sem dúvida foi uma das maiores revoluções da música black do mundo, foi uma música que trouxe em si a dança, as mudanças, o próprio Original Funk virou várias outras coisas, inclusive até o Heavy Metal veio do Funk. O Funk é uma música muito louca. A grande maioria samplearam James Brown, eram músicas que se tornaram muito conhecidas do povo, o Rap cantado em cima daquelas bases, já pegava moral também. Ele foi um cara único, que quase não deixou nada para ninguém fazer a maioria das Danças Urbanas, vem do Original Funk. Sem dúvida é a maior base original para vários estilos, que são esses que rolam inclusive dentro da nossa Cultura Hip-Hop, quando estamos nas festas que têm os Poppers, os Lockers, B-Boys, B-Girls, até o House e o Freestyle, em todos esses estilos de dança, a base deles são do Original Funk. A noticia do falecimento dele foi muito triste, me desmontou, foi um tempo muito ruim e muito triste, ele não tinha sinal nenhum de estar ruim e de uma hora para outra partiu.. foi algo louco! Eu me lembro quendo eu voltava de Berlim, em 2006, era dezembro e eu vim chorando dentro do avião, pois estava escutando uma rádio e tocou aquela musica dele “O Mundo dos Homens”. O sentimento que eu tive foi de uma perda muito grande!
BW: Muitos te consideram o pai do Hip-Hop no Brasil, fale da sua ligação com toda a cultura e com o Breaking? Como era o Breaking na década de 80? O que se mostrava nas rodas? E nos fale dos dias e da importância da São Bento? Nelson Triunfo: Na verdade o Breaking aqui no Brasil, no final dos anos 70, o Funk e Cia. já fazia o Robô, o Wave, inclusive eu tinha três pessoas no grupo que eram capoeiristas, eles faziam Head Spin, davam mortais, já tinha um bocado dessas coisas que hoje os B-Boys fazem aí, depois chegou o Six Step que era o Footwork, quando nós fomos para a rua em 1973, já tinham caras fazendo Moinho de Vento e alí começavam os primeiros breakers do Brasil, porque até então nós tinhamos algumas coisas no Funk e Cia. mas ligado ao Soul e foi juntando tudo e, em 1983 e 1984, nós já tínhamos bons dançarinos de chão, mas na concepção daquelas danças da época. Na época do Beat Street é que foi aprimorado mais movimentos e técnicas e maior conhecimento de todos os elementos. Em 1984, já tinha uma revista falando sobre os elementos do Hip-Hop com o tempo, houve a evolução da danças, os caras foram aperfeiçoando a ponto que eu já falava que o Breaking tinha muitos jovens que eram melhores que os ginastas olímpicos. Então, esse negócio agora do Breaking estar nas Olimpiadas eu vejo como uma reparação. Eu acho que desde 1999 nós já estávamos numa evolução muito capaz! Sobre a São Bento, nós dançavamos no passado em vários lugares de São Paulo, depois fomos ficando mais na 24 de maio, em 1984 a 24 de Maio virou point. Em 1985, começou a se procurar outro lugar, foi quando surgiu a São Bento que era apenas no sábado, os encontros aconteciam sábado à tarde! No final de 1985 a São Bento estava estourada e não cabia mais ninguém, em 1986 começaram as grandes batalhas das crews, virando um point nacional. Em 1993, aconteceu a primeira batalha de Breaking no Brasil, interestadual. O próprio Mano Brown, o KL Jay iam para lá, o Thayde, isso era 1985, que fazia parte da Dragon Breakers, depois virou Back Spin Crew, aí depois Thayde e DJ Hum formaram a dupla e começaram outros trabalhos. As duas grandes bases de tudo isso foi a 24 de Maio com a São José e a São Bento. E a Casa do Hip-Hop em Diadema.
BW: Bom Nelson, você falou de Olimpíadas… Entrando nesse assunto, esse ano o Breaking passou a fazer parte dos jogos olímpicos. E B-Boys e B-Girls começam a ser vistos como atletas. Qual sua opinião sobre esse assunto?
Nelson Triunfo: Isso é evolução, todos aqueles que foram contra a evolução ficaram para trás: eu não! Eu vim para cá, fundei a Casa do Hip-Hop em Diadema e outros já fundaram outras casas, é uma evolução, às vezes alguns reclamam da notoriedade e de tudo, mas não tem como dizer que o Breaking, que o Graffiti não são comerciais. O Graffiti está no mundo inteiro hoje, grandes prédios de grandes cidades têm Graffiti, os DJ’s sempre estiveram aí, fazendo as festas. O Rap está no mundo inteiro e o B-boy sempre esteve em evidência, em todos esses anos aconteceram batalhas maravilhosas, antes tinha a Battle of the Year que era na Alemanha mas hoje tem no mundo inteiro, na Coreia, no Japão, na Rússia, nos EUA, no mundo inteiro têm B-Boys e hoje os caras desafiam até a lei da física, fazem movimentos com o corpo incriveis, eu até me lembro dos Invertebrados, a evolução e as precisões são muito boas! Hoje eu considero um bom B-Boy, avançado mesmo, como um bom ginasta de solo. Por isso que falo que não é surpresa o Breaking estar nas Olimpíadas para mim é uma reparação, pois deveríamos estar desde 1999. É algo evidente! BW: Falando da Casa do Hip-Hop de Diadema, fale da importância dela na cena e na recuperação e educação de jovens? Nelson Triunfo: A Casa do Hip-Hop nasceu de um projeto, o Repensando, que nós já fazíamos dentro das escolas, foram as primeiras aberturas da sala de aula para a Cultura Hip-Hop e ali tinha uma pessoa chamada Elisete, que trabalhava na educação junto com o Paulo Freire e ela foi chamada para trabalhar em Diadema, que foi a primeira cidade que o PT ganhou uma prefeitura no Brasil e, com isso, foi o pessoal da educação e tinha uns moleques lá que pediram para levar o trabalho que acontecia em São Paulo para lá e começamos o trabalho em alguns centros culturais lá. E de uma hora para outra estourou, tinha uma divisão de bairros, Diadema era vista como uma das cidades mais violentas de São Paulo. Começamos o trabalho em 1990, o trabalho cresceu e em 1994 já tinha o Centro Cultural do Caema, que mais tarde iria virar a Casa do Hip-Hop. Naquele tempo eu e Marcelinho Back Spin queriamos fazer a Casa do Hip-Hop e lá se tornou um centro cultural padrão, nós fazíamos os eventos e bombavam. Criamos o Hip-Hop em Ação, entre os centros culturais, para se apresentar lá todo o final do mês onde aconteciam todas as oficinas juntas do Caema e de todos os centros culturais, sempre trabalhávamos os 4 elementos e se tornou algo nosso, era um trabalho social desenvolvido, que começou a vir gente do Brasil inteiro para aprender conosco e já funcionava como Casa do Hip-Hop e, em 1999, nos tornamos Casa do Hip-Hop de Diadema, saía na grande mídia, saí no Fantástico, no Globo Repórter, uma porção de coisas, mostrando os trabalhos sociais com jovens e foram muitos jovens que sairam de lá e que hoje estão no mundo inteiro. Só no Estado de São Paulo deve ter mais de 50 Casas do Hip-Hop, a nossa foi a primeira Casa do Hip-Hop da América Latina. Nós criamos vários jovens, vários multiplicadores do Hip-Hop através da Casa do Hip-Hop.
BW: Nelson, certa vez você declarou que escreveu sua história no “Brasil dos Preconceitos”, você sofreu muito com isso? Verdade que na época da ditadura você foi preso e até apanhou? Como você se sente hoje, como vê algumas pessoas do atual governo defendendo a volta da ditadura? Nelson Triunfo: Hoje pessoas que defendem a ditadura são pessoas que estão de embalo, como sempre existiram essas pessoas na história, não sabem nem o que foi a ditadura e falam besteira e outros devem ser filhos dos militares, porque claro que filhos de militares foram criados dentro de uma doutrina que eles não acham problema, de ver o país sendo governado por militares e pessoas que têm esse dom da suástica, essa aversão a esquerda e querem ser os melhores através da estupidez e não da inteligência, você vê quanta gente não sabe nada e quer discutir sobre politica, politica é uma ciência, é o conhecimento da sociedade, tanto do lado do bem como do lado do mal, no caso desses é do lado do mal, então, eles veem todo o lado artístico como ameaça. No meu caso, eu sofri muito preconceito, o preconceito de ser nordestino, no meu sotaque quando eu cheguei aqui, tinha preconceito até na comida quando eu pedia em alguns lugares farinha para colocar no feijão, a farinha ficava escondida debaixo do balcão para ninguém ver, era vergonhoso usar farinha. Outra coisa: eu era o cara do cabelo Black Power e tinham preconceito com o meu sotaque, mas eu assumia o que eu era, como eu falava, o meu cabelo, eu nunca mudei. Eu assumi o Brasil Nordestino que eu representava e também mostrei muito o conhecimento que eu tinha lá de fora, eu lia muito. Então os caras vinham com argumento furado, racista, de gente boba e eu só dava cassetada nas testas deles com as minhas ideias e eles não podiam muito comigo. Eu fui um dos caras que mais fui preso na cidade, eu ia preso porque eu estava dançando, me apresentando e para os policiais aquilo era coisa de malandro, era tanto que eles pediam a carteira assinada. Como eu ia dançar nas ruas e ter minha carteira assinada? Quem ia assinar? Então, se não tinha carteira assinada, não era trabalhador! Era vagabundo! Eles levavam preso por vadiagem e mais para desfazer a roda mesmo, onde todo mundo estava aplaudindo. E eles não queriam isso. Então eu fui um dos caras que mais fui preso defendendo a cultura. E quando eu fiquei doente, muitos novos ficaram sem acompanhamento nas ruas, pois era o mais antigo, eu vinha de outras gerações, eu era revolucionário. Hoje eu tenho 66 anos e eu não parei graças a Deus! Todos me veem como da própria familia! Eu sempre ajudei a todos como pude! Nosso trabalho sempre foi de ajuda e de militância! Quantos moleques fizeram parte desse trabalho e hoje são doutores! Campeões Mundiais! Outra lembrança interessante é que quando eu fui dançar no Chacrinha, os caras falaram que não era para eu falar e sim apenas para dançar, na época tinha muita gente que cantava em inglês, aí eu dancei, dancei e dancei, saí sem falar com ninguém e depois eu fui descobrir porque foi que o cara não queria que eu falasse, depois em outra ocasião aconteceu a mesma coisa eu ia cantar uma música chamada 84 na 24 e quando eu cantei uma mulher da produção disse que eu tinha problema na lingua e que não daria daquela forma, enfim, o que aconteceu foi um racismo feio comigo! O problema na língua era o meu sotaque nordestino! Para eles a minha forma de falar era uma vergonha! E eu fui vencendo isso tudo, os mesmos que falaram mal de mim, me vendo na televisão, me vendo vencendo, se tornaram meus amigos! Foi mais uma vitória do Triunfo! BW: Nelson fale das homenagens que já recebeu na sua vida? E também do teatro, do filme, da biografia e da sua estátua em Triunfo?
Nelson Triunfo: Já recebi alguns prêmios e homenagens, como o do Hutuz de Melhor Lider Comunitário, ganhei em São Paulo em 2008 o título de Cidadão Paulistano, também em 2008 a Comenda da Cultura Nacional, o reconhecimento que o Ministério da Cultura tem por algumas pessoas que desenvolvem trabalhos muito importantes dentro da cultura do país, teve o “Se Liga Mano” que foi uma peça feita em 96 para 97, tinha 60 atores, todos eram alunos do Centro Cultural de Diadema, foi algo maravilhoso! Triunfo, o filme, dirigido por Cauê Angeli, que passou umas 30 vezes no Canal Brasil, feito em 2014, é um filme interessante que conta um pouco da minha história, foi premiado em vários lugares, inclusive num festival na Espanha. Aí vem a minha biografia, que foi feita por Gilberto Yoshinaga em março de 2014, quem leu gostou muito! E por fim a estátua em Triunfo, o pessoal vinha cogitando faz tempo que iriam fazer uma homenagem a minha pessoa e eles fizeram uma estátua lá e isso mostra uma mudança, pois antigamente se fazia homenagens dessa na ausência da pessoa, no meu caso fizerem uma estátua em vida e fiquei muito feliz! Eu vejo que as coisas são resultado do que você planta. A estátua foi feita pela Prefeitura de Triunfo, no sertão de Pernambuco, minha cidade de origem!
BW: O que você tem feito nesse tempo de pandemia? Nelson Triunfo: Eu tenho ficado em casa, de boa, estou compondo, eu escrevo, tenho lido muito, fazendo minhas lives e tenho me comportado dessa forma, com cuidado, enquanto não tomo a vacina. Acho que ainda vai demorar um pouco e a parada ainda vai longe… BW: Que mensagem você deixaria para a nova geração que vai continuar essa história do Hip-Hop no Brasil? Nelson Triunfo: Eu os vejo como a continuação, tem B-Boys e B-Girls novos que são maravilhosos! Eu sei também que tem muitos B-Boys hoje que estão no auge que, quando chegar em 2024, talvez não estejam mais e outros novos aparecem, tudo é uma questão de tempo, mas também acho que alguns dos antigos serão mentores, técnicos, coisas assim, eu acredito muito na galera jovem, principalmente na dança deles, porém, eu gostaria de vê-los mais politizados, valorizando a educação, os livros, a informação, essas coisas que eu gostaria de falar aos jovens, além de serem atletas, dançarinos, que procurassem ser pessoas boas, pessoas que não prejudiquem outras, porque o que você não gosta que façam com você não deve fazer com os outros! Sejam pessoas incríveis e felizes! BW: Para finalizar, Nelson, tem alguma coisa na sua vida que você se pudesse mudaria? Como gostaria de ser lembrado ? Nelson Triunfo: Eu gostaria de ser lembrado de alguma forma fazendo parte dos representantes do Brasil que vão para as Olimpíadas. Como guru, como um símbolo da Dança de Rua do Brasil. Gostaria de ser lembrado por ter feito parte dessa primeira equipe que será escolhida para representar o Breaking brasileiro nas Olimpíadas! Algumas pessoas acham que eu sou louco, nós que somos diferentes algumas pessoas já carimbam como louco, eu gosto de ser visto dessa forma, pois todos que foram vistos como loucos e malucos foram os que melhoraram o mundo! Talvez se eu fosse diferente eu não gostasse de mim! Foram os descobridores e inventores das coisas, foram esses que transformaram de vez o mundo! No passado eu fiz o que eu pude e continuo fazendo de boa, sem estresse, numa nice e suave na nave!
Fotos: Arquivo Pessoal
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Planejamento, disciplina, foco e estratégia são fundamentais na vida de quem deseja ser um campeão, garante B-Boy Bart
Ele nasceu no Ceará, quando criança teve contato com muitos movimentos por meio do Kung Fu e da Capoeira. Aprendeu também a ter disciplina e flexibilidade desde cedo. Mas foram os pulos feitos na areia improvisada que pedia aos vizinhos que o fizeram se aproximar do Breaking.
Mateus Melo (22), conhecido como B-Boy Bart, hoje é um dos nomes mais cogitados para representar o Breaking brasileiro nas Olimpíadas de Paris, em 2024.
Ele compara a dança a um grande jogo de xadrez e afirma que, além de ter um corpo preparado, é necessário ter estratégias, planejar ações para se chegar no objetivo que se deseja.
O Portal Breaking World teve o prazer de conversar com ele na primeira semana do ano de 2021. E olha, aperte os cintos pois esse B-Boy não dança, ele voa! Fique por dentro do que rolou nessa conversa:
BW: Queria que você falasse um pouco da sua infância, onde e como foi? Como era o Mateus criança?
B-Boy Bart: Eu sempre me movimentei muito quando criança! Tive muito contato com os movimentos. Fui muito influenciado pelo meu pai, que era do Kung Fu e também pela Capoeira. Dessa época, eu ganhei a disciplina e a flexibilidade. Conheci a Capoeira foi na curiosidade mesmo. Fiquei num grupo chamado Zumbi por menos de 1 ano. Aí eu entrei em outro grupo, porquê a minha vontade era pular e nesse outro grupo eu conheci pessoas que pulavam muito. Quando começava a passar cordas, essas coisas, eu saía pois não era o meu foco.
BW: Quando você teve o primeiro contato com a Cultura Hip-Hop? Como surgiu o Breaking na sua vida?
B-Boy Bart: Eu e alguns meninos da minha idade jogávamos sempre futebol e teve um dia, um iluminado que apareceu, um bêbado e ele disse que ia mostrar umas coisas que nós não sabíamos fazer e deu um mortal! Lógico que, como ele estava muito bêbado, caiu, mas depois daquilo nós falamos: “Nossa, é isso!”. Aí começamos pegar areia de um canto e de outro, de um vizinho aqui, de outro ali, para poder treinar mortal. Eu deveria ter uns 10 anos. Tudo isso aconteceu em Fortaleza. Passado algum tempo, eu me mudei. Meu pai ficou desempregado, nós vendemos a casa, fomos morar em outro bairro perto da Serrinha e lá, quando eu cheguei, eu não estudava, devido a problemas com papéis e tal… E, na verdade, eu também não queria naquela época. Então, eu e meus irmãos ficamos sem estudar um tempo. Meu irmão sempre existiu e esteve presente na minha vida! No mortal, na capoeira, em todos os momentos. E aí, chamei ele e disse que deveríamos ir atrás, naquele bairro, de algum lugar que tivesse Breaking, pois não poderíamos ficar parados. Então, descobrimos o “Programa Escola Aberta”, foi ali que tudo começou. Era como se abrisse a escola no final de semana, jovens e crianças podiam ter contato não só com o Breaking, mas com o Totó (Pebolim) e várias brincadeiras de criança. Eu ia pelo Breaking mesmo. Mas eu ia olhar. Eu sempre fui assim, de olhar primeiro, de observar, ver como é a movimentação, treino em casa e depois fazia fora. Mas foi após o meu filho nascer e eu me ver sem estrutura que realmente eu vi que aquilo era pra mim. Eu sempre tive disciplina, desde cedo e quando meu filho nasceu eu vi que precisava fazer alguma coisa, então, foquei no que eu mais gostava, que era dançar. E, em 2015, comecei a participar de muitos eventos, o primeiro evento foi o “Intime”, da Igreja Bola de Neve, “1vs1”, que dava vaga para um outro evento em Exu, em Pernambuco, com tudo pago. Eu ganhei e fui para lá. E isso foi muito marcante, a primeira vez que participei, ganhei e fui para uma outra cidade que ganhei também. Então, eu vi que era isso mesmo que eu deveria escolher na minha vida. Em 2015, eu saí ganhando todos os eventos. Eu tinha apenas 16 anos.
BW: Houve pessoas que foram referências para você na dança? Alguém te ensinou a dançar Breaking?
B-Boy Bart: Que me ensinou a dançar, não. Existiram aquelas pessoas que me davam um toque, falavam de um movimento… Agora, um treinador, não! Inspiração? Desde 2005, o Pelezinho foi um furacão que aconteceu.
BW: Como sua família via a sua relação com o Breaking? Você teve apoio da família?
B-Boy Bart: No começo, não tanto. Para eles, eram só pulos. Eles não tinham noção no que ia dar tudo isso. Só tiveram quando eu comecei a competir e ganhar! Mas, também, eles não falavam nada, mas para eles era perda de tempo.
BW: No tempo de aprendizado do Breaking houve dificuldades ou movimentos mais difíceis de aprender? Quais? Como foi a sua preparação para chegar onde chegou?
B-Boy Bart: Tiveram momentos que realmente foram mais chatos, principalmente nos freezes. Toda pessoa que dança Breaking tem um lado mais forte, no meu caso, foi fazer os movimentos nos dois lados. Para passar de um lado que era mais forte para o outro foi trabalhoso, porque até eu poderia ficar torto fazendo os movimentos só de um lado. Essa transição de aprender fazer as coisas para os dois lados foi muito chata, mas necessária. Tipo Chair, doía muito! Na hora do treino eu não sentia, mas depois doía muito! Mas eu precisava chegar no meu objetivo.
BW: Em outras danças é bem normal escutar os dançarinos falando de dor aqui e dor ali. Meio que faz parte da vida do dançarino… Como você vê isso?
B-Boy Bart: Sim, a dor caminha junto e faz parte da vida de quem dança. Sempre que um B-Boy ou uma B-Girl ganha um evento, você vai ver depois: parece que houve um esgotamento. Toda hora tem dor e tem que dançar sempre mais do que dança. É real! É necessário superar os limites para ser campeão! A dor significa muitas vezes que você está chegando perto dos seus objetivos!
BW: A maioria dos seus movimentos são de impacto, de poder. Como você prepara o seu corpo para isso?
B-Boy Bart: Eu treino normalmente com a galera do meu grupo e também treino com a galera de outros grupos. Mas penso que o que me diferencia é que eu já chego no treino treinado. E saio do treino ainda tem mais um pouquinho de treino. O Breaking é o meu estilo de vida. Eu acordo cedo, faço alongamento. Dia sim, outro não, eu corro. Eu sou vegetariano, comecei com vegano três anos atrás. Antes dos eventos, fazer a dieta vegana ajuda muito! A diferença no rendimento é muito rápida, esse tipo de comida traz leveza, mais explosão, define muito mais a musculatura. Mas de vez em quando podemos sair um pouco disso e comer coisas boas, merecemos isso (risos). Mas nunca antes de evento.
BW: Em 2018, você foi campeão brasileiro do Red Bull BC One, nos conte o que você sentiu naquele momento que saiu o resultado? Passou um filme na cabeça? Para você já era algo esperado?
B-Boy Bart: Esperado não era, mas eu tinha uma intuição que poderia acontecer e quando aconteceu, eu falei: “Caramba eu vou para Zurique!”, e pensei, “vamos ver o que é o Breaking do outro lado do mundo”. Naqueles dias, a Europa estava com muito Breaking! Para mim, batalhar com outras pessoas, até com a dança maior que a minha, me levou para um outro nível. Foi algo empolgante demais! Eu treinei com eles, eu comi com eles e o Leony estava lá comigo, me motivando, naquele evento ele foi Top 16. Então, ele falava: “Vamos lá, falta mais um!”. Ele é um cara muito amigo, humilde e ele fez eu me sentir mais seguro, porque eu estava em outro país, só tinha ele, então, ele me dava força. Tinha também Pelezinho e Neguin, mas não estavam perto, não tinha como ter uma conexão.
BW: Bart, você tem a experiência de ser dançarino da internacional Flying Steps. Como foi sua entrada na companhia? Fale um pouco do tempo junto com os outros dançarinos, dos ensaios, dos espetáculos antes da pandemia e o que você faz para atingir o seu melhor desempenho.
B-Boy Bart: Sim, eu trabalho com eles e com uma outra da Alemanha. Quando comecei, eu já cheguei chegando, tinha 45 shows para fazer. Nesse mundo, tem uma séria de coisas, tinha uma orquestra tocando ao vivo, tinha bonecos gigantescos, tivemos 1 mês e meio para criar tudo. Era de segunda a sábado, de 8h até 19h ensaiando. Nesse tempo, eu não falava muito inglês, mas depois de 1 semana, eu me virei e ainda eu morava com três deles, então, nós só pensávamos na dança, no espetáculo e no que íamos fazer. E isso me ensinou muito a ser regrado, a ter paciência com processos de montar movimentos. Eu consegui trazer isso também para o meu Breaking. Pra mim também! Eu estava treinando para batalhas futuras e estava mesclando tudo. A experiência foi muito boa! Foram 45 espetáculos e muito ensaio. Foi um grande aprendizado, único na minha vida, que guardo até hoje.
BW: Você falou que muita coisa você levou para o seu Breaking. Qual a importância de diversificar movimentos, de buscar algo novo e trazer coisas diferentes para as sessions?
B-Boy Bart: É muito importante você ter um arsenal gigantesco de movimentos. Porque você mostra confiança, atitude e personalidade na dança. Hoje já se olha a execução dos movimentos nos eventos. Com a possibilidade de você colocar tudo que traz na dança, você chega mais perto do ser original, mostrando variações.
BW: Em 2019, você participou do mundial da Red Bull em Mumbai, na Índia, junto com mais 2 brasileiros. No seu caso, você foi convidado pela organização a entrar diretamente na decisão, como um dos finalistas ‘wildcards’ do evento. Como foi sua participação? Nos fale sobre o resultado e suas impressões.
B-Boy Bart: Três semanas antes desse evento, eu tinha participado de um outro na Bélgica e eu já sabia que estaria no Top 16 da Red Bull em Mumbai, em 2019. E eu tinha que destruir na Bélgica para eu chegar em Mumbai. E foi o que aconteceu, eu cheguei na final na Bélgica e foi totalmente gratificante, muita gente assistiu e aquilo levantou o meu astral. E cheguei na Red Bull mais tranquilo, estava tudo muito fresco na minha cabeça, por mais que a pressão seja muito, mais muito grande mesmo… a pressão psicológica é muito alta, mas eu me senti bem. Cheguei lá, perdi para o Killa Kolya na semifinal, no ano de 2018 eu ganhei dele. Então, eu cheguei na semifinal achando que ia para a final, pois eu já tinha ganhado dele. Eu perdi, mas nós estamos ainda no 1 a 1 (risos). Ainda tem muita coisa pela frente na próxima para ganhar!
BW: E falando de tempo… Que tempo sobra para sua família? Você tem filho! Como administra tudo isso?
B-Boy Bart: É um mix de coisas! Nem todos os dias são iguais e fazemos o estilo brasileiro mesmo (risos). Eu tento estar com a minha família e ao mesmo tempo treinar. Meu filho tem 5 anos e é bem tranquilo. Deus mandou a criança perfeita para mim! (risos). Quando ele vê que cheguei de viagem, sempre vem “papai, trouxe alguma coisa para mim?”, ele já pratica alguma coisa de capoeira, mas no tempo dele…
BW: Bart, muitos B-Boys e B-Girls brasileiros não vivem da dança. Que conselhos você pode dar para quem pretende viver da dança?
B-Boy Bart: Planejamento. Planejamento é tudo! Saber o que você vai fazer, como você vai ganhar dinheiro e manter o foco. Tem que participar de eventos, afinal, eventos são vitrines. Você tem que batalhar. Planejar o seu ano tipo um ano antes. É algo fundamental!
BW: O que você tem feito em todo esse tempo de pandemia? Como tem treinado? Como acha que será o “novo normal” da vida de um B-Boy ou de uma B-Girl pós-pandemia?
B-Boy Bart: Eu tento fugir da depressão, tento me manter feliz. Estou no Brasil, em Fortaleza, morando com a minha noiva, continuo treinando dia após dia, colocando minha mente em outras coisas, como redes sociais, YouTube, navegando e estudando áudio visual, cuidando da minha casa e treinando mortal.
BW: Sim, falando sobre o mortal, é verdade que os gringos quando veem os brasileiros dançando, eles aguardam o mortal? Como uma marca nossa?
B-Boy Bart: Eu acho que é porquê temos muitos B-Boys capoeiristas. Isso é Brasil! Eles já esperam por causa disso, seja como Pelezinho, Neguin ou Bart. Eles sabem que com nós é mais embaixo (risos).
BW: Muito tem se falado de Breaking nas Olimpíadas. O que você acha sobre isso? Algumas pessoas criticam e falam da possibilidade de se perder a essência da cultura por ser, agora, também um esporte. Como você vê isso?
B-Boy Bart: Eu vejo como uma evolução, na verdade, não acho que seja positivo e nem negativo, é somente algo do mercado. Isso já vem acontecendo tem muito tempo. O R16, todos esses eventos que tem, são em ritmo de Olimpíada, de ranking. Existe o ranking de B-Boys tem muito tempo. A Olimpíada entrou para apimentar ainda mais a competição. Acho que nada vai mudar… Como no futebol existem pessoas que jogam pelada e existem pessoas que jogam nos mundiais. Então, acho que vai melhorar muita coisa!
BW: Como você imagina que será para um B-Boy ou uma B-Girl dançar numa Olimpíada? Como a nova geração deve se preparar para isso?
B-Boy Bart: Aqui nós somos ainda muito samba. Estamos ainda presos em algumas perguntas: tem isso? Tem aquilo? Tem incentivo? O pessoal lá fora está se preparando, enquanto aqui temos que ser competidor e também ensinar, talvez isso aconteça com a nova geração… Será que respondi essa pergunta?!?
BW: Bart, seu nome tem sido lembrado o tempo todo na imprensa e nas grandes mídias. Então, vou direto ao ponto: Você se sente preparado para representar o Brasil numa Olimpíada e trazer uma medalha para casa?
B-Boy Bart: Estou sim! (risos). Eu venho me preparando para isso. Vejo o Breaking como um jogo de xadrez, tem que usar a cabeça e muita estratégia. O momento conta muito! Mesmo que eu não tenha treinado no dia anterior, eu não fico mais do que uma semana sem treinar. Nas oportunidades, precisamos estar “okay” e eu estou preparado!
BW: Na sua opinião, temos mais brasileiros preparados para o pódio?
B-Boy Bart: Sim, temos! O Brasil é potente no Breaking, todo brasileiro tem uma chavezinha que mostra algo a mais.
BW: Quais são seus planos para o futuro?
B-Boy Bart: Praticar Breaking, participar de eventos, voltar a fazer shows na Europa e me manter preparado para as Olimpíadas! O meu foco agora é esse! Estou rezando para que tudo volte ao normal.
BW: Que mensagem você deixaria para os B-Boys, B-Girls do Brasil? E o que você diria para a nova geração do Breaking que o tem como uma grande referência?
B-Boy Bart: Nossa, que pergunta! Preciso pensar… Complicado inspirar as pessoas… Penso que o Breaking deva ser passado para a nova geração, quanto mais passado, mais vamos fortalecer o Brasil. Mas aconselho que tenham planejamento, que sejam persistentes e teimosos, sempre treinar além do que já existe e do que se vê: é isso!
Fotos: Arquivo Pessoal
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A pandemia chegou e virou o país (e o mundo!) de pernas para o ar… Pessoas morrendo diariamente, quarentena, crise global e, é claro, os B-Boys e B-Girls não poderiam deixar de serem atingidos por esta situação caótica. Muita coisa mudou em muito pouco tempo: os praticantes da dança Breaking se viram de uma hora para outra com seus planos adiados, muitos entraram em um estresse contínuo causado pelo isolamento social, crise financeira e um inevitável esgotamento físico e mental. A desigualdade social que já era grande, principalmente no cenário urbano, mostrou-se ainda maior nestes tempos ruins.
A autocobrança acaba refletindo no desempenho. Nas redes sociais vi muitos B-Boys e B-Girls reclamando que seu rendimento caiu, seja pela falta de local adequado para treinar, seja pelo excesso de stress gerado pelo tédio de ficar em casa, alguns engordaram, perderam a forma, outros estão sem motivação, sem alegria e sem energia, alguns, até, entrando em um início de estado depressivo. Tudo isso causado, principalmente, pela falta de convívio mais intenso com as pessoas. Sim! A tecnologia até nos permite aproximação e algum consolo diante de tanta notícia ruim, mas nunca vai substituir o contato físico, aquele bate-papo gostoso entre amigos num churrasco de final de semana!
Isso tudo nos trouxe um quadro generalizado de desequilíbrio emocional e social. Estamos todos com os nervos à flor da pele, pois descobrimos, enfim, que as conexões são muito mais importantes do que imaginávamos outrora. Nada será como antes!
E o “novo normal”, enfim, bateu à nossa porta. “Caramba! E agora? O que vai ser?”, esta é a pergunta que não sai da cabeça de todos nós que amamos a cultura urbana, a arte, a dança, a música… E o novo sempre assusta. Em alguns, dá até calafrios tentar entender e perceber o que pode estar por vir.
Mas, afinal, o que vem a ser o “novo normal”?
Bem, antes de me aprofundar no novo, acho importante voltarmos um pouco no tempo… Pensar em nosso conceito do que é normal e do que não é tão normal assim. Afinal de contas, como diz o velho ditado “de louco, todo mundo tem um pouco”!
Não dá para entender o que é “normal” sem entender antes o que significa “comum”. Sim, por mais semelhanças que estas duas palavrinhas possam ter, não são a mesma coisa. Comum é a junção de “como um”, é a resposta para a pergunta: “o que eu tenho do outro e que ele se identifica? E o que o outro tem de mim que eu me identifico?”.
O comum é quando há um padrão estabelecido como “um de todos”, que de alguma maneira garante proteção e sobrevivência que, para aqueles que fazem parte de determinada sociedade, se torna o conceito de normal. Ou seja, o padrão de comportamento leva a uma identificação, que por sua vez traz em si opiniões, hábitos e costumes. Se somarmos, então, o comum mais a sobrevivência, chegamos ao nosso “normal”. E o que é a sobrevivência senão o nosso instinto de proteção, segurança e continuidade?
Seguindo esta linha de raciocínio, chegamos, concluímos que quando a nossa sobrevivência e proteção estão ameaçadas “não é normal”! É comum vermos alguns B-Boys e B-Girls usarem bebidas alcóolicas em excesso ou substâncias ilícitas. Mas isso não é normal, pois estão ameaçando suas próprias vidas, fazendo mal ao próprio corpo que é a ferramenta e o instrumento que utilizam para externar a sua arte e sua dança.
O “novo normal” então, nada mais é que um novo padrão que a pandemia da Covid-19 trouxe para a sociedade, um novo padrão que visa garantir a nossa sobrevivência por meio de protocolos de proteção e acompanhamento.
No Breaking era normal, até então, os B-Boys e B-Girls chegarem nos eventos, se cumprimentarem com abraços, beijos, apertos e toques com as mãos… O contato físico é uma característica da Batalha de Breaking: o olhar nos olhos, passar a mão por cima, as pernas por baixo do oponente, provocar, ironizar, tudo isso faz parte da cultura desta dança e dessa arte das ruas… A roda! Sim, a roda é o maior símbolo desta gente que nas “cyphers” se encontra, se solta, tem sua liberdade e sua arte saindo pelos poros (e pela boca também, com suas milhares de gotículas e aerossóis sem fim!).
Como será o futuro, o que muda e o que esperar deste novo normal?
É fato que por mais que o Breaking una as pessoas (e vai continuar unindo) alguns cuidados terão que ser tomados nos campeonatos pós-pandemia para que se mantenha a segurança dos participantes: andar com máscaras, ser menos expansivo, mais contido, manter o distanciamento social, talvez dançar também com luvas, pois o contato com o chão é a marca registrada desta dança… Pois é: nada de abraços, nada de beijinhos no rosto, nada de selinhos, nada de apertos de mão… O mundo está mudado e é claro que o Breaking não seria exceção.
Os campeonatos, além das preocupações usuais, terão que se adaptar a uma nova realidade, pelo menos até que se encontre uma vacina e que seja novamente seguro enfiar o dedo na cara do seu oponente! As batalhas presenciais deverão retornar aos poucos, mas cumprindo os protocolos da OMS (Organização Mundial da Saúde). Batalhas sem público e com transmissão on-line, com limpeza do local no final de cada round, distribuição de máscaras e álcool gel para todos os participantes e trabalhadores, testagem da presença do vírus de competidores, jurados, DJs, MC’s, produtores e outros personagens que possibilitam acontecer um evento de qualidade é um caminho, pelo menos por ora, sem volta.
A própria produção e estrutura dos eventos devem passar por modificações para garantir a segurança de todos. A dinâmica das batalhas, sem dúvida, vai cair bastante com estas medidas, pois sem aglomeração e sem aproximação entre os oponentes, vamos ter uma maior frieza nos campeonatos. E isso porque temos ainda um longo caminho a percorrer até que as batalhas se tornem novamente seguras: as vacinas, na melhor das hipóteses deve sair até o final deste ano. Mas deve-se levar em consideração os estudos que apontam que o novo coronavírus pode passar por mutações genéticas que, a médio e longo prazo, podem tornar a vacina ineficaz. Isso sem falar que estudos recentes demonstram que algumas pessoas foram reinfectadas… Ufa!
Mesmo diante deste quadro, ainda podemos respirar fundo (com máscara, claro!), pensar naquela metáfora do copo com água pela metade (meio cheio ou meio vazio?) e tirar algumas vantagens: por exemplo, os eventos on-line têm menor custo de produção e maior alcance de público, as empresas e os produtores independentes podem economizar muito dinheiro com o sistema de “home-office”. Novas oportunidades, como a abertura de novos mercados para os dançarinos e dançarinas, como aulas on-line, oficinas, vivências e outras atividades não presenciais. E ainda: melhor qualidade de vida. Menos stress no trânsito, menos poluição; para ir aos eventos os B-Boys e B-Girls não precisam mais percorrer grandes distâncias ou enfrentar chuvas, gastar com alimentação, transporte, hospedagem.
Enfim, o “novo normal” pode ser uma oportunidade incrível para os breakers descobrirem uma nova forma de viver, ao descobrirmos o valor da nossa própria casa, aprendemos a ter a humildade e a consciência que já não temos mais tanto controle assim de nossas vidas como pensávamos! A possibilidade de fazer novos amigos e participar de eventos internacionais sem sair de casa acabou abrindo novas frentes para muitos que jamais teriam a oportunidade de “rachar com a gringa”!
A normalidade, meus caros leitores, é uma busca constante por segurança e proteção, então, jamais poderemos dizer que somos completamente normais. Vivemos uma dicotomia: estamos sempre entre a vida e a morte. As nossas escolhas nos levam a uma encruzilhada aonde de um lado estamos de frente com a morte, trazida por exemplo pelo hábito de beber e dirigir, uso de drogas, brigas e discussões, etc. e de outro a vida, trazida pela prudência, pela busca do saudável, de querer cuidar de seu próprio corpo, sua mente e das pessoas que ama.
O “novo normal” é traumático e assustador e pode trazer ansiedade e insegurança para muitos. Mas não se trata de um “bicho de sete cabeças”! A pandemia vai passar e mesmo que deixe algumas sequelas, a nossa vontade de sobreviver e de nos proteger vai trazer adaptação e ambientação com a nova realidade e os novos padrões.
Portanto, meu conselho para os B-Boys e B-Girls é: preparem-se para o “novo normal”! “Mas, como, mano?!?”, você pode estar se perguntando… Proteja-se, cuide do outro, crie novas expectativas para si, novas rotinas, explore todo o seu potencial… Aprenda a controlar as suas emoções e a sua mente: olhe para dentro de si, descubra o que há de melhor, aproveite o tempo para treinar mais, ver tutoriais, aprender novos passos e novos movimentos. Fale com quem você ama, mesmo que seja por videoconferência, diga para seus parentes e amigos o quanto você os ama, leia, regule suas emoções e encontre algum equilíbrio emocional e mental… Não é fácil! Tem que ter força de vontade e uma boa dose de determinação, mas vai ajudar-lhe a ser bem melhor como B-Boy ou B-Girl e, muito mais, como ser humano.
Fotos: Reprodução
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Para quem não sabe, antes de ser reconhecido como um dos melhores rappers da história, Tupac Shakur dançava no grupo “Digital Underground”, que foi um grupo de Rap de Oakland, Califórnia, fundado em 1987 por Gregory, Tupac Shakur e Jacobs, conhecido como “Shock-G”.
Shock-G passou a maior parte de sua juventude em Nova York, sendo fortemente influenciado pelo Funk dos anos 1970, então, começou a se envolver com música criando um estilo de Rap na West Side (Costa Oeste).
O grupo foi formado para prestar uma homenagem aos ativistas sociais do “Black Panthers” (Panteras Negras), que tinha todas as ligações com a família de Tupac.
A mãe de Tupac, Afeni Shakur, fazia parte deste famoso grupo político, um movimento que lutava contra o preconceito aos afro-americanos. Afeni estava grávida de Tupac quando foi presa. Seu padrasto, Mutulu Shakur, foi sentenciado a 60 anos de cadeia por roubar um carro e matar a vítima. Isso teve um grande impacto na vida Tupac, que cresceu sem a figura paterna ao seu lado. Nas ruas, os únicos modelos em que Tupac podia se espelhar eram os traficantes e cafetões.
No final da década de 1980, o “Digital Underground” alcança um grande sucesso com o álbum “Sex Packets”, que chega a ganhar Disco de Platina e a receber comentários positivos da crítica. Tupac também ajudava a carregar equipamentos e algumas vezes teve a chance de cantar com o grupo. Ele se tornou dançarino aos 19 anos, quando o grupo conseguiu o primeiro sucesso com “The Humpty Dance”, em 1990. A faixa chegou ao 11º lugar na parada “Hot 100” da “Billboard”, além do primeiro lugar no chart de Rap da revista.
Dono de uma carreira meteórica e de um talento único que iria impactar o mundo para sempre, suas primeiras letras eram notáveis e revelaram a tendência para sua personalidade violenta. Em uma música que fez parte da trilha sonora do filme “Nothing But Trouble” chamada “Same Song”, Tupac conheceu o sucesso pela primeira vez e não parou mais! Em 1995, o Rapper foi acusado de abusar sexualmente de uma mulher em um hotel.
Segundo Pac, a mulher, que ele havia conhecido em uma boate, teria feito sexo oral nele em plena pista de dança e teria ido com ele para um hotel por livre e espontânea vontade. Shakur disse que tudo não passou de uma armação. Em fevereiro do mesmo ano, devido a tal fato, Tupac foi sentenciado a quatro anos e meio de prisão por estupro, embora tivesse negado veementemente. Pouco depois do ocorrido, Tupac havia levado cinco tiros em um assalto ocorrido em um estúdio de Nova York. Tupac deu informações em detalhes sobre o ocorrido em uma entrevista para “Vibe”. O astro começou a cumprir sua pena no presídio de Clinton.
Pouco depois, seu multiplatinado “Me against the world” é lançado. Tupac entra para a história como o único artista a ter um álbum em primeiro nas paradas estando preso. “Este sempre será meu álbum favorito”, disse ele a uma entrevista. Enquanto os guardas provocavam na cadeia dizendo que Tupac não era mais o mesmo, ele ria e dizia: “Meu álbum é número 1 no país inteiro e apenas bateu Bruce Springsteen no topo da Billboard”. Após quase onze meses na prisão, Tupac foi liberado, logo depois de ter feito um acordo com Suge Knight, o cabeça do “Death Row Records”. Suge pagou a fiança de 1.4 milhões de dólares. Em troca, o artista deveria lançar 3 álbuns pela sua gravadora. Imediatamente após sair da prisão, Tupac começou a trabalhar em um novo álbum. Em fevereiro de 1996, ele lança seu quarto álbum, “All eyes on me”, o primeiro álbum duplo da história do Rap. O sucesso foi tremendo e vendeu mais de 9 milhões de cópias e é considerado por muitos o melhor álbum do gênero. Em meio a tanto sucesso, Tupac foi assassinado em 1996, quando saía de uma luta de seu amigo Mike Tyson.
Logo após sua morte, a “Death Row” lança o álbum “The Don Killuminati”, com o pseudônimo de “Makavell”. A capa traz um 2Pac crucificado, com uma coroa de espinhos na cabeça e um mapa das principais gangues do país. Em janeiro de 1997, a “Gramercy Pictures” lança “Gridlock’d”, um filme em que Tupac interpreta um viciado em drogas e que foi bem aceito pela crítica, recebendo inúmeros elogios. Seu último filme, “Gang Related”, seria lançado meses depois. Antes de morrer, Tupac deixou centenas de músicas gravadas na época de “Death Row”. A maioria foi lançada em álbuns póstumos como “Better Dayz”, “Until the end of time”, “Loyal to the game” e em seu último póstumo “Pac’s Life”. Tupac é o Rapper que mais vendeu álbuns na história. Sua morte até hoje continua a ser motivo de discussão, não só pela forma que foi mas principalmente no mundo das grandes gravadoras onde o artista vende mais discos morto do que vivo.
Sim, a história é estranha no entanto representativa de um dos nomes mais fortes do que chamamos de “Gangsta Rap”. Tupac era considerado um terrorista como também um dos mais promissores poetas do Hip-Hop. Tupac, que era do signo de gêmeos, tanto foi considerado um B-Boy machista como um talentoso ator. E o Rap? O Rap era sua arte, sua obra prima, o milagre poético que o mundo conheceu!
Fotos: Reprodução
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Você já ouviu falar em assédio no Breaking? Provavelmente não, afinal, não falamos sobre esse e outros importantes temas relacionados a violências no Breaking.
Mas sim, eles existem e estão presentes nos eventos, nos treinos, na internet e em todo lugar.
Tudo começou após a publicação da renomada B-Girl alemã Jilou [na foto em destaque] publicar um desabafo em seu blog sobre os assédios sofridos ao longo de todos os anos na dança e afirmar: “Eu sei que não sou a única a passar por isso”.
A “Rede Bgirls do Brasil”, que hoje conta com mais de 150 mulheres de todo o país, discutiu o tema e descobriu por meio de trocas de experiências e de uma pesquisa realizada em junho de 2020 pela B-Girl do Rio de Janeiro Amanda Baroni, que a maioria delas já sofreu algum tipo de assédio no Breaking e, boa parte, não soube identificar no momento ocorrido e quando perceberam o ato, não souberam o que fazer. No total, 47 B-Girls de diversos estados do Brasil foram escutadas.
Com base nessas informações, ficou clara a necessidade urgente de criar um material de conscientização e orientação sobre o assédio. Surgiu então o “Guia Antiassédio no Breaking”, um manual didático, de fácil leitura, prático e compacto.
“Esse guia chegou num melhor momento, após décadas de violência na cena do Breaking, nós Mulheres, LGBTQI+ e outras pessoas, podem identificar as violências que sofreram e buscar ajuda e recursos para não silenciar a Cultura da Violência” – comenta Lucilene Santos (B-Girl Lu Afrobreak – arte educadora, pesquisadora e produtora cultural), ao se sentir contemplada, já que o estudo e todo o conteúdo foram dirigidos para todos.
Em menos de uma semana da publicação do material, a repercussão foi muito além do esperado, graças às redes sociais e a união de B-Girls e B-Boys, que reconhecem a importância do tema e a necessidade de compartilhamento desse conteúdo.
Infeliz coincidência, na mesma semana da publicação, um membro de um importante grupo de Rap brasileiro foi acusado de assédio a uma menor de idade em São Paulo, o que trouxe o tema à tona, criando interesse de outros elementos do Hip-Hop em utilizar o guia para consulta.
No guia, além de esclarecimentos sobre todos os principais tipos de assédios, é possível encontrar informações para os B-Boys e público em geral sobre como evitar o assédio, para produtores culturais sobre o que podem fazer para colaborar para gerar uma mudança significativa e onde procurar ajuda, com links de instituições responsáveis de acolhimento em todo o território nacional.
“Nunca paramos para entender o porquê muitas meninas param de dançar, agora sabemos um dos motivos, um dos principais, na verdade” – comenta Amanda Baroni e ainda acrescenta: “A maior parte do assédio é reproduzida pelos B-Boys, mas é importante que as B-Girls saibam o que fazer e os B-Boys, por sua vez, entendam que são parte da solução para reverter esse quadro no Breaking”.
O coletivo prevê uma série de ações de conscientização e, inclusive, a tradução do guia em outros idiomas para compartilhamento em todo o mundo.
Fotos: Sueliton Lima, Reprodução (Imagem em Destaque)
Os dançarinos que pretendem levar a dança como profissão e fazer dela o seu sustento, precisam de um atestado de capacitação profissional, o que muitos chamam de DRT.
O DRT é necessário para que você seja visto legalmente como um dançarino profissional e possa trabalhar e receber um salário ou cachê, ou seja, se não deseja atuar na informalidade, é preciso providenciar o seu o quanto antes.
Quer entender melhor o que é esse registro, quais os documentos e comprovações necessárias e como tirar o DRT? Nós explicamos tudo o que você precisa saber.
A sigla DRT se refere à Delegacia Regional do Trabalho, no entanto, quando a utilizamos, estamos nos referindo ao registro profissional emitido pelo órgão. Esse registro é um selo ou carimbo em sua carteira de trabalho que comprova a sua competência em determinada área. O registro é concedido a profissionais que atuam como bailarinos, radialistas, atores, modelos, cantores, artistas circenses, entre outros. Somente com o DRT em mãos você poderá dar aulas em escolas de educação ou projetos e instituições governamentais, atuar em empresas e programas de televisão e trabalhar em companhias patrocinadas por leis de incentivo.
Para se dirigir ao sindicato, primeiramente, elabore um currículo com suas informações pessoais e todas as experiências na área. Conte há quanto tempo você pratica a modalidade, quem foram seus professores, de quais cursos e festivais participou e anexe seus certificados.
Providencie também uma cópia simples de seu RG, CPF, carteira de trabalho, comprovante de residência e uma foto 3×4.
Visite o sindicato de seu estado e entregue os documentos e o currículo.
Você também precisará fazer o pagamento de uma taxa de inscrição. Seu currículo será avaliado e, caso seja aprovado, será preciso agendar o dia da avaliação diante de uma banca examinadora composta por profissionais da área.
Você deve, então, realizar uma apresentação de solo com duração de 3 minutos. Após a aprovação, com o Atestado de Capacitação em mãos, chegou a hora de se dirigir à Delegacia Regional do Trabalho.
Documentos Necessários: formulário de requerimento, atestado de capacitação profissional, carteira de trabalho, RG, CPF, Cartão do PIS ou Cartão Cidadão, comprovante de endereço.
O processo, apesar de simples, pode ser um pouco demorado. No entanto, ele é de suma importância para a evolução da sua carreira profissional no mundo da dança. Esse documento é o que diferencia os bailarinos amadores dos profissionais. E, claro, faça isso depois da pandemia do novo coronavírus, pois mais importante do que ter um registro profissional é estar vivo!
Fotos: Reprodução
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