Quem esteve no Streetopia, que fica próximo da Avenida Paulista, coração cultural do Brasil, neste último final de semana ou acompanhou as diversas lives, entre elas a do Portal Breaking World, pode testemunhar que: “O bagulho foi louco!”. Expressão muito usada dentro da Cultura Hip-Hop para expressar algo que foi muito bom e com o astral lá em cima. Depois de passar por Curitiba (PR), Fortaleza (CE) e Brasília (DF), um dos maiores campeonatos mundiais de Breaking, o Red Bull BC One, neste último final de semana aterrissou em São Paulo, reunindo toda a galera, da nova geração aos Old School, na cidade que é indiscutivelmente o berço do Breaking Brasileiro.
B-Girl Dedessa e B-Boy Zym, campeões da Red Bull BC One Cypher São Paulo Imagem: ® Nanah D’Luize
No dia 29, aconteceu a Cypher São Paulo que foi a última seletiva regional, onde B-Boys e B-Girls passaram por um filtro. De lá, saíram quatro finalistas – dois da categoria feminina e dois da masculina, os ganhadores foram B-Boy Zym e B-Girl Dedessa, que garantiram a vaga na final nacional do Red Bull BC One, que aconteceu no domingo (31), quando, então, os 32 melhores B-Boys e B-Girls do país se enfrentam numa competição insana e com total participação do público presente para conseguir o título de campeão e campeã nacional. Os campeões foram B-Boy Leony e B-Girl Maia, ambos conseguiram a vaga para representar o Brasil em Nova Iorque na etapa mundial, que acontece no dia 12 de novembro. B-Boy Leony, que se tornou tetracampeão, declarou em entrevista: “O tetracampeonato veio agora, em 2022. O tempo todo estava com meu filho na cabeça e isso me deu mais força”, diz o paraense, pai do pequeno João Miguel, de dois anos. “Treinei muito para chegar até aqui e agora só quero comemorar”, completa. Maia, que no ano de 2021 chegou na semifinal, também se pronunciou: “Ano passado não teve público e este ano a energia da galera me contagiou. Fui de coração aberto, me diverti e em nenhum momento fiquei pensando em ganhar”, concluiu agora a campeã.
Vale também destacar a diferenciada e incrível participação do B-Boy Allef, que ganhou na semifinal do B-Boy Bart e depois foi para a final com o B-Boy Leony, conquistando a torcida do público presente! Que chegaram a pedir um terceiro round na semifinal!
B-Boy Bart e B-Boy Allef Imagem: ® The Sarará
Paralelo às competições, aconteceram nos três dias de evento muitas emoções no Red Bull BC One Camp Brazil, um evento com programações bem variadas, que convidou todo o público presente para uma verdadeira imersão no mundo da Cultura Hip-Hop. Na programação, houve muitas cyphers com participação de várias gerações do Breaking nacional, exposição fotográfica e de jaquetas com a reconhecida fotógrafa Martha Cooper, famosa por fotografar a arte urbana de Nova Iorque desde a década de 70, quando a Cultura Hip-Hop nasceu nos subúrbios nova-iorquinos, após seis anos de sua última passagem pelo país. Em parceria com o artista visual catarinense Wagner Wagz, as obras da fotógrafa fizeram parte de uma exposição durante os três dias de evento, onde foram estampadas em jaquetas confeccionadas e pintadas artesanalmente por Wagz.
Também houve workshops nacionais e internacionais, como do conhecido B-Boy Lilou, da B-Girl Sarah Bee, DJ Kapela e do importante fotógrafo Little Shao.
Além disso, oficinas de dança, batalhas “Bonnie & Clyde”, que pegou fogo entre a dupla carioca B-Girl Savaz e B-Boy Adriano e a dupla nordestina B-Girl Lorinha e B-Boy Suicida.
Também teve a diferente “Batalha do Chinelo”, criada pelo B-Boy Pelezinho para o evento IBE, na Holanda, a Batalha do Chinelo rolou pela segunda vez no Brasil. Os participantes não podiam deixar o chinelo sair do pé enquanto dançam Breaking. E quem levou a melhor na parada foi o B-Boy Bart.
E a incrível batalha de exibição entre duas grandes crews do mundo, a Squadron Crew, diretamente do sul da Califórnia e a brasileira Tsunami All Stars. Essa foi a chance de ver alguns dos melhores B-Boys do mundo em ação, em uma batalha de exibição em que eles mostraram o melhor que sabem fazer. Do lado da equipe californiana Squadron Crew estiveram Luigi, Phil, Pnut e Stripes. Do outro lado, Bart, Neguin, Allmax e Sinistro representaram a força brasileira pela Tsunami All Stars.
Squadron Crew versus Tsunami All Stars Imagem: ® Breaking World
O evento no Brasil foi um sucesso, deixando um gostinho de “queremos muito mais”! E agora, o que acontece com os brasileiros que ganharam a Red Bull BC One 2022?
Bom, o próximo desafio é a Last Chance Cypher, onde Leony e Maia lutam por uma vaga na Final Mundial do Red Bull BC One 2022, que acontece dia 12 de novembro, em Nova York. Existem duas formas de fazer parte da competição: a primeira é por convite e a segunda é vencendo a Last Chance Cypher, que é disputada por campeões nacionais do mundo todo.
Imagem: ® Divulgação Red Bull BC One
Todos os anos, alguns breakers são escolhidos pelo seu excelente nível e peso na cena do Breaking. Esses B-Boys e B-Girls fazem parte automaticamente dos 16 participantes da Final Mundial. Pode ser que, dos 16 competidores, em um ano tenha apenas uma ou duas vagas remanescentes, mas esse número pode até quadruplicar dependendo do número de breakers convidados. Estamos na torcida pelos nossos representantes!
O Portal Breaking World agradece a todos que acompanharam as transmissões nesses três dias! Estamos juntos família! E a Red Bull BC One pelo respeito com a imprensa e pela oportunidade de mais uma vez registrar esse evento espetacular.
Imagem em destaque: ® Breaking World
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“Queria mostrar ao mundo a beleza de nossa cultura. No meu ambiente, meus pais e amigos nunca levaram o Breaking a sério, então, eu encontrei uma maneira de mostrar a eles que éramos super-heróis” (Little Shao)
Ele é de família vietnamita mas nasceu em Paris, cidade conhecida como a capital europeia da Arte ou Cidade das Luzes, que durante séculos e até hoje ainda recebe de braços abertos as mentes mais complexas, iluminadas, incríveis e brilhantes nas diversas vertentes das artes. Thinh Souvannarath, mais conhecido como Little Shao, escreveu seu nome na história mostrando toda sua paixão pelo Breaking através de seus cliques, evidenciando a beleza da Cultura Hip-Hop e dos seus elementos. Desde o início, esteve totalmente envolvido na cena underground. Passou toda a infância nos subúrbios de Paris, onde conheceu o Hip-Hop. Aos 14 anos começou no Breaking. Entrava em batalhas e também fotografava e testemunhava os principais eventos de Breaking. À medida em que se aprofundou, sentiu que havia falta de documentação fotográfica. Naquele momento, começou a analisar todas as fotografias que tinha tirado ao longo da sua caminhada. Decidiu que queria mostrar a sua visão da cena. Queria produzir registros de Breaking melhores do que qualquer outra coisa que já tinha sido feito na vida e levar a fotografia de dança para outro nível. Uau! E não é que ele conseguiu?! Essa semana durante a Red Bull BC One em São Paulo, o Portal Breaking World teve a oportunidade de conversar com Shao e apresentar para vocês, breakers, essa entrevista exclusiva e super especial, confira abaixo:
BW: Eu gostaria que você nos falasse sobre suas origens, onde você nasceu e cresceu. O que veio primeiro em sua vida, o amor pela fotografia ou o amor pelo Breaking? Quando e como isso aconteceu?
Little Shao: Minha origem é vietnamita, mas nasci em Paris, França, depois que meus pais se mudaram para lá para trabalhar. Eu cresci em bairros difíceis, mas meus pais me mantiveram muito focado na escola, mesmo que eu passasse todas as minhas noites e fins de semana brincando ao ar livre. Eu tinha um grande interesse em tudo, como esportes, vários jogos e atividades que me levaram a me apaixonar por Breaking, por volta de 1997. Esta foi definitivamente minha primeira paixão e a fotografia veio mais tarde, como um suporte para isso, como uma forma de arte que era fortemente ligada à dança, para captar e hipnotizar esta cultura. Isso acontece especialmente porque senti que queria mostrar ao mundo a beleza de nossa cultura. No meu ambiente, meus pais e amigos nunca levaram o Breaking a sério, então, eu encontrei uma maneira de mostrar a eles que éramos super-heróis… (risos).
Francês de família vietnamita, Little Shao se tornou referência na fotografia Imagem: ®Arquivo Pessoal
BW: Houve referências ou alguma pessoa especial na dança ou na fotografia que o encorajou a continuar e fazer o que faz com tanta perfeição e excelência?
Little Shao: Acho que minhas referências estavam realmente fora do nosso mundo da dança. Lembro que minha referência era Davehill, um fotógrafo que tinha um render específico de fotografia que se aproximava da pintura, da publicidade. Claro que mais tarde, quando vi as imagens do Red Bull BC One, sonhei em me tornar fotógrafo um dia para este evento e adicionar minha visão a ele, trazendo minha visão a bordo. Acho que minha perseverança, trabalho duro e mentalidade B-Boy me fizeram querer ser o melhor.
BW: Quando você decidiu se dedicar totalmente à fotografia? Foi difícil escolher entre o Breaking e a fotografia?
Little Shao: Em 2007, terminei meus estudos na Escola de Negócios de Paris, com especialização em Finanças. Comecei a trabalhar como consultor no mercado de bolsa de valores e foi realmente o momento em que não consegui encontrar tempo e motivação para praticar, para manter meu nível de Breaking no topo da batalha, então, fiz a escolha preguiçosa de fotografar mais batalhas de Breaking. Essa foi uma maneira de eu permanecer na minha paixão. A fotografia começou a ganhar força para mim entre 2010 e 2012, decidi mudar completamente e me dedicar como fotógrafo profissional em 2012. Todas as minhas escolhas sempre foram difíceis, mas segui meu coração.
O B-Boy que virou fotógrafo mundialmente reconhecido Imagem: ® Arquivo Pessoal
BW: Ser um B-Boy te ajuda a entender e capturar melhor os momentos e sentimentos de cada dançarino que você fotografa?
Little Shao: Sim, claro! Isso ajuda na sua conexão com as pessoas, as formas, os códigos que a gente tem na cultura é superimportante. Quando eu estava dançando, sempre fui superexigente com minhas formas e meu estilo, então, acho que queria refletir isso nas minhas fotos, é claro.
BW: A ausência de registros como documentação fotográfica de Breaking o motivou a intensificar seu trabalho, mostrar tudo o que aconteceu e sua visão da cena?
Little Shao: Sim, naquela época a internet não era o que é hoje, então, acho que era mais fácil não ser mimado e era mais fácil para mim desenvolver minha visão, porque como um B-Boy você sempre quer ser único, não copiar as pessoas. Graças aos meus estudos e dinâmica na escola, por volta de 2005/2006, minha atenção já estava em torno das plataformas sociais, então, eu meio que usei isso para divulgar minhas fotos e documentar nossa cultura.
Little Shao na Red Bull BC One Camp Brazil 2022 Imagem: ® The Sarará
BW: Aqui no Brasil temos bons fotógrafos, mas as condições de trabalho ainda são muito difíceis para a grande maioria. Como estão as coisas no país em que você mora? Conte-nos sobre sua rotina de trabalho, reconhecimento, valorização profissional e, claro, amor pela fotografia?
Little Shao: Ser artista é difícil também no meu país por causa dos números. Eu sinto que temos um acesso mais fácil a equipamentos e tecnologia, mas porque todos podem ter, traz muita competição e para poder viver como artista você realmente precisa ser o melhor. Quando você tem muita concorrência e fotógrafos, o valor cai. Lutei muito pelo meu reconhecimento e valorização profissional, por ter uma forte estratégia de marketing. A chave é como fazer as pessoas entenderem sobre seu custo, sua qualidade, seu profissionalismo e experiência.
BW: Como começou sua jornada na fotografia? Em todos esses anos, houve alguma foto especial que ficou imortalizada em sua carreira? Você pode falar sobre eles?
Little Shao: Comecei a fotografar muitos retratos para dançarinos franceses. Esses dançarinos começaram a viajar muito e usaram minhas fotos para se comunicar, o que me levou a ser convidado como fotógrafo para grandes eventos. Acho que, quando fiz o Urban Dance Camp, achei uma boa ideia fazer fotos criativas misturando dançarinos de todos os ambientes. Misturei bailarinos de coreografias famosas com breakers, com dançarinos de street style, etc… essas fotos viralizaram nas redes sociais porque eu trouxe um estilo diferente, com fotos que chamaram a atenção das pessoas. A estreia do Juste também foi um grande evento que cobri e me ajudou muito. Alguns anos depois, todos esses dançarinos começaram a dançar e coreografar grandes artistas da música, foi quando tive a chance de clicar e colaborar com Justin Bieber, Madonna, etc…
B-Boy Leony, campeão da Red Bull BC One Cypher Brazil 2022 Imagem: ® Little Shao
BW: Como você vê o fato do Breaking se tornar um esporte olímpico? Teremos clicks de Little Shao nas Olimpíadas de Paris?
Little Shao: Sim, eu escutei que meu nome foi cogitado para ser o fotógrafo principal de Breaking nas Olimpíadas, mas nada é certo, então, eu tenho que verificar esse ponto (risos). Nunca sabemos o que pode acontecer… você pode ser o melhor, mas se um amigo do amigo do organizador estiver por perto, essa pessoa pode ser recomendada e não você. Mas para ser honesto, eu ficaria super-honrado de registrar o primeiro evento de Breaking nas Olimpíadas, especialmente porque é na minha cidade! Mas eu acho que o Red Bull BC One é o melhor evento para fotografar.
BW: Você já esteve no Brasil outras vezes? O que você acha do nosso país?
Little Shao: Acho que essa é a minha 6ª ou 7ª vez… vim muito para o Rio e esta é apenas a minha segunda vez em São Paulo. Eu realmente amo este país. Minha primeira vez aqui foi na final mundial do Red Bull BC One, em 2012, e foi um choque para mim. Foi a minha melhor experiência. Eu já atirei com a minha câmera em muitos brasileiros (risos).
B-Boy Menno, campeão mundial da Red Bull BC One 2017 Imagem: ® Little Shao
BW: Esta semana aconteceu um workshop no Red Bull BC One aqui em São Paulo, conte-nos sobre o que apresentou aos brasileiros…
Little Shao: Fiz o possível para compartilhar minhas motivações e inspirar as pessoas. Se eu consegui apenas dar um vislumbre de motivação que tenho em minha alma para eles, então foi um sucesso!
BW: Qual é a sua mensagem para as pessoas que amam seu trabalho e o têm como referência?
Little Shao: Sem Arte, a vida é seca! (risos)
A editora do portal Breaking World, jornalista Luciana Mazza e o fotógrafo Little Shao na Red Bull BC One 2022 Imagem: ® Breaking World
Imagem em destaque: ®Piltosh
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No próximo sábado (9) começa na Funarte a Exposição “Arte do ABC”, o local é conhecido por ser o berço da indústria automotiva brasileira e palco dos grandes movimentos sociais no final dos anos 1970. Formado por sete municípios da Região Metropolitana de São Paulo, o território também é referência em manifestações artísticas e culturais. Além de abrigar artistas de diferentes linguagens, a região é uma das pioneiras do Punk Rock brasileiro, da cultura do Skate, do Hip-Hop e do cinema nacional. Uma cena underground muito rica, embora desconhecida do público em geral, que acaba enxergando o local muitas vezes de forma estereotipada. Dentro desse contexto, um coletivo de artistas levará à cidade de São Paulo um pouco da variedade cultural da região. Entre eles o fotógrafo The Sarará, que falou para o Portal Breaking World sobre a exposição e suas impressões: “Esta exposição para mim vai ser uma grande alegria, quando recebi o convite do artista Renê Muniz e Betto Damasceno para estar mostrando minha arte que me dedico há mais de 12 anos de estudos, indo em diversos eventos do brasil e vendo a evolução de diversos breakers crescendo em vida e na dança, mostrar um pouco do meu trabalho, de algumas pessoas que venho acompanhando desde do seu início ou meio de suas carreiras, eternizar estas pessoas e expor elas nestas fotografias e mostrar a importância da Cultura Hip-Hop e como o Breaking, que vem da cena underground, vem ganhando seu espaço e eu como fotógrafo quero registrar este cenário e trazer estes “corpos in movimentos” e que vejam esta expressão corporal através do Breaking, que este estudo seja não só para mim, mas para todos que dedicam a sua vida pela dança Breaking e que acredita na sua dança, na sua história e no seu corre.”
Alguns breakers que vão ter suas fotos na exposição comentaram: “É algo super gratificante ter uma foto minha fazendo parte dessa exposição na Funarte, porque eu acompanhei a evolução do Sarará, fizemos parte da mesma crew em 2007, lembro de quando ele fazia fotografia só por hobby, diversão, quando fotografava os eventos e depois se tornou algo muito mais além, sendo a profissão principal dele. Hoje dá aula, ministra palestras. Sempre brinco que ele é o meu fotógrafo oficial. Ele está em todos os meus eventos, está dentro da minha marca. É uma consideração de um puxar o outro! Estou muito feliz e não vejo a hora de ver essa exposição!” comentou B-Boy Amendoim.
A nova geração do Breaking também foi lembrada na exposição, são de B-Girl Angel do Brasil (12) as palavras: “O Sarará acompanha minha carreira desde o início. Eu comecei a dançar com 5 anos, hoje eu tenho 12. Ele registrou vários momentos importantes na minha vida e sempre soube a hora certa de pegar o melhor movimento! Fiquei muito feliz quando ele falou com a minha mãe! Eu vou visitar a exposição e convido a todos para ir também!”
A exposição “Arte do ABC” vai até o dia 31 de julho. Além de Sarará, outros 12 artistas e coletivos vão apresentar suas obras, entre eles: Betto Damasceno, Cafelinas, Cinema do ABC, David Góes, Denner Alves, Flávio Grão, Mauro Yamaguti, Mel Zabunov, Pixote, Renê Muniz, William Pimentel e Zéis. A direção e a produção ficaram por conta de René Muniz; textos e pesquisa, com Isadora Schmitt Caccia; David Góes assina a identidade visual da mostra; Betto Damasceno é o curador e também apresenta alguns trabalhos na exposição, como o artista Renê Muniz. É só colocar na agenda e conferir!
Serviço:
Exposição Arte do ABC: Cultura e Expressão na Grande São Paulo
Abertura: 9 de julho (sábado) | Horário: 16h
Temporada: de 9 a 31 de julho
Visitação: de terça-feira a domingo | Horário: das 14h às 19h
Entrada gratuita
Galeria Flávio de Carvalho e Galeria Mario Schenberg |Complexo Cultural Funarte SP
Alameda Nothmann, 1058 – Campos Elíseos, São Paulo (SP)
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Contar a história sem filtro, abrir espaço para que a verdade apareça, revelar o que foi vivido e construído mostrando o que realmente tem relevância na cena é um dos compromissos do Portal Breaking World.
Nessa entrevista, apresentamos um bate-papo épico que vai sem dúvida causar reflexão e ficar carimbado e registrado na história do nosso Portal e da Cultura Hip-Hop brasileira. Conversamos com o mestre Ellypretoriginal, do DMN. Rimador, professor de rimas, produtor e diretor musical, Elly, sem dúvida, é um dinossauro do Rap Nacional, mostrando que respeito se conquista e não se compra. Só de DMN são mais de 30 anos, entre tantos assuntos e vivências, Elly falou: “A temática e teor de nossas letras, sempre tiveram em seu contexto falar da nossa etnia, dos problemas que o povo preto e pobre da periferia vivenciavam e ainda vivem até hoje, tentar combater através das nossas músicas, todo tipo de injustiças, preconceitos, racismo e discriminação que todos nós de alguma maneira sofremos, e mostrar que temos que nos valorizar, que a nossa história é uma história de lutas, de grandes batalhas e que não podemos de maneira alguma desistir, ou abaixar a cabeça, o racismo é um câncer na humanidade. Nós sempre fomos linha de frente, sempre nos articulamos de informação, de cultura, de sabedoria, eram tempos difíceis, e sem tantas oportunidades, bem diferente do quadro que vivemos hoje, mas nós nunca desistimos, mas conquistamos o nosso lugar, entre os melhores”.
Atualmente, Elly se diz mais reflexivo, mais calmo e trabalha no novo álbum do DMN que segundo ele vai surpreender muita gente, ficando pronto em agosto. E junto com o DJ Heliobranco está produzindo um trabalho dançante, chamado “FUNKZTAZ” que é uma fusão da palavra FUNK com GANGZTAZ. Gostou das novidades? Então confira a entrevista:
BW: Elly, queria que você nos falasse: onde nasceu e foi criado? Como era sua vida em família? Que lembranças tem dessa época?
Elly: Em primeiro lugar, quero agradecer pelo convite, e por poder contar um pouco de minha história, nessa entrevista, enfim… nasci na Vila Matilde, em São Paulo e fui criado na Zona Leste de SP, quando criança no Jardim Nordeste, já adolescente, cresci em Itaquera, onde estou até hoje, desde os meus 8 anos de idade. Minha vida em família sempre foi das melhores, sempre amei minha família, tive uma ótima criação com meus pais, mas muito mais por minha mãe, pois perdi meu pai logo que mudei para Itaquera e tudo que aprendi, foi com minha mãe, que lutou duramente e se dedicou e lutou uma vida inteira para nos dar uma educação melhor e nunca nos deixar passar veneno por nada, trabalhando como diarista em casa de família, de vendedora de roupas, de doces e salgados e de cozinheira no hospital Bandeirantes. Hoje ela já é falecida, há 7 anos, moro com minha irmã, meu cunhado, meus sobrinhos e nos damos muito bem, graças a Deus. Minhas lembranças daquele tempo são as melhores, ainda que com as dificuldades que tínhamos na época, morávamos em um super quintal, com todo tipo de árvores frutíferas, tínhamos diversos amigos e amigas e brincávamos um bocado, de muitas coisas que hoje não vemos mais entre as crianças e voltar a pensar nas coisas daquele tempo me remete a muita coisa boa, indubitavelmente, principalmente pelo fato de meu pai gostar muito de músicas, comprar uma diversidade de vinil e na época dos 3X1, fazer muito barulho, como eu também faço hoje em dia, escutando suas músicas bem alto, os meus primeiros contatos com a música partiram dessa época, com pouco mais de 4 anos de idade e me acompanham até hoje.
O DMN é reconhecido como um dos maiores grupos de Rap nacional de todos os tempos Imagem: Arquivo Pessoal
BW: Quando teve contato pela primeira vez com a Cultura Hip-Hop? Em que ano foi isso? Quais foram suas referências?
Elly: Meu primeiro contato com o Hip-Hop teve início em 1982, com o lançamento de um compacto chamado “Ya Mama”, de Wuf Stick, em 1982, música que em época de ginásio, na 5ª. série, eu rolava nas festinhas numa sede do PT, situada em um quartinho, no fundo da casa de um dos meus grandes amigos, o Cidão, depois das aulas vagas que a minha sala tinha no “Chiquinho”, apelido da escola Professor Francisco de Assis Pires Correa, que estudei de 82 até 86 e que concluí meu ginásio, estudando lá, nessas festinhas eu era o DJ e usava 2 aparelhos de som 3 em 1, pra poder mixar as músicas. Nessa época, fiz amizade com outro grande amigo meu, o Josenaldo (Ferreira), que levou a um DJ mais velho e muito considerado da época, chamado DJ Ailtão, que começou a nos fornecer fitas K7, com diversos “Balanços” e “Pesos”, pois nessa época ainda não tínhamos a noção exata que o que estávamos ouvindo era Rap, Soul Music, Black Music e que aquela música e comportamento das pessoas, a dança da época, era o Breaking e que também dancei muito, faria parte da minha história até hoje… Em 86, tive a oportunidade de também conhecer no baile de formatura do meu ginásio o DJ Luis, que junto com ele, montamos a Star Som Produções e fazíamos diversos bailinhos aos finais de semana, até passar por uma fase mais profissional, tocando em diversas grandes equipes de bailes black e de house music naquela época, também influenciado pelos grandes DJ’s da época, como DJ Kl Jay, DJ Hum, DJ Iraí Campos, Ricardo Guedes, DJ Grandmaster Duda, DJ Vadão, DJ Gregão, Nathanael Valêncio, Silvio Miller, aqui no Brasil e lá fora, DJ Cash Money, Jazzy Jeff, Joe Cooley, até me tornar também um DJ de performance, conseguindo também ser campeão em alguns campeonatos aqui na Leste, ou seja, minha primeira paixão no Hip-Hop foi como DJ!
BW: O Rap, como surgiu na sua vida? Você chegou a participar de batalhas de rima? Que batalhas existiam naquela época?
Elly: Comecei a cantar “Ya Mama” de Wuf Stick, acompanhando o MC da música, sem imaginar que aquele estilo seria Rap, também percebi que eu tinha uma facilidade muito grande em aprender letras em inglês, claro que meio sem noção, pois não tinha conhecimentos da língua que era cantado aqueles versos, e aí, depois, comprei vários álbuns da época, como Whodini, Fat Boys, LL Cool J., Public Enemy, Kurtis Blow, The Boogie Boys, Dana Dane, Eric B and Rakin, Dj Jazzy Jeff & The Fresh Prince e, também, aprendi a cantar diversas tracks. Conheci, então, 3 amigos primordiais para me inserir neste universo do Hip-Hop, até pela identificação visual que tínhamos, estou falando de Duda da 7, Fábio Felizbino, conhecido como “Feliz” e um outro amigo conhecido como “Sombra”. Nós sempre usamos tênis cano alto da Reebok e Nike, L.A Gear, Avia, Adidas e camisetas da Nike, correntes douradas e prateadas, torcidas e em formato de corda no pescoço, cronômetros, bonés importados e calças largas e um dia eles me convidaram para ir à estação de metrô São Bento, onde conheci outros garotos e garotas, semelhantes a nós, que dançavam, se vestiam e batucavam nas latas de lixo fazendo um som, e ali, foi minha primeira vez dentro da cultura. Já o Rap, um dia eu ouvi a “Melô do Bastião” uma versão criada em cima de “Fly Guys” de Magic Trick, cantada por Pepeu & Mike, depois ouvi “Os Metralhas” cantando na Bandeirantes em cima de “They Call me Puma” de Seeborn & Puma, e tudo em português e aí entendi que era possível fazer aquilo que os gringos faziam com tanta maestria de forma falada, em português. Nessa época, mesmo sendo um DJ, eu já me vestia como um rapper, sem ser, tinha muita identificação visual com aquilo que eu via nas capas de disco da época e eu namorava com uma garota chamada Adriana Bueno, que me acompanhava sempre às lojas de discos e em alguns lugares nos quais trabalhei como DJ e que hoje fico pensando o que as amigas dela da época, pensavam vendo ela, que era uma garota muito bonita e totalmente normal em seu jeito de ser, com alguém que já era bem americanizado no jeito de ser e bem distante dos padrões de outros garotos da época… bons tempos demais! Nunca participei de batalhas de rimas, naquela época as batalhas eram mais lá fora, aqui não teve essa ascensão de hoje em dia, a gente curtia mesmo escrever as nossas próprias histórias e fazer críticas a tudo que fazia a vida das pessoas ficarem piores, como a opressão policial, a violência, drogas, política e por aí vai… O que rolava muito naquela época, eram os clubes do Rap e também, os concursos de Rap, promovidos pelas grandes equipes de baile como “Zimbabwe” do nosso amigo Willian Santiago e Serafim, onde nós fomos lançados em 1991, na coletânea “Consciência Black Vol. 2” com nosso primeiro Hit, “Isso não se faz” e em 93, o nosso primeiro álbum, “Cada vez + Preto” que saiu nos 3 formatos da época: vinil, CD e fita K7.
BW: Em 1988, surgia o pioneiro grupo DMN, nos conte como foi isso, fale de cada integrante, da formação original e da esfera política que se vivia naquela época. Sobre o que rimavam? Que grupos dominavam a cena naquela época?
Elly: Sim, o grupo surgiu em novembro de 1988, tínhamos um amigo em comum chamado Duda da 7, que já citei acima, que fez a ponte para que nós nos conhecêssemos, me apresentou ao Xis, ao LF e o D.J. Slick, que eu já conhecia dos campeonatos e em nossa primeira formação, era eu, Elly (Produção Musical), LF (Vocal), DJ Slick, X-Ato (Vocal), que depois virou, o Xis. A temática e teor de nossas letras sempre tiveram em seu contexto falar da nossa etnia, dos problemas que o povo preto e pobre da periferia vivenciava e ainda vive até hoje, tentar combater através das nossas músicas todo tipo de injustiças, preconceitos, racismo e discriminação que todos nós, de alguma maneira, sofremos e mostrar que temos que nos valorizar, que a nossa história é uma história de lutas, de grandes batalhas e que não podemos de maneira alguma desistir, ou abaixar a cabeça, o racismo é um câncer na humanidade. Nós sempre fomos linha de frente, sempre nos articulamos de informação, de cultura, de sabedoria, eram tempos difíceis, e sem tantas oportunidades, bem diferente do quadro que vivemos hoje, mas nós não desistimos nunca e, dentre tantos grupos daquela época, como MC Jack, Thaíde, Racionais, Ndee Naldinho, MT Bronx, Geração Rap, Sharylaine, Sampa Crew, nós também conquistamos o nosso lugar, entre os melhores.
BW: A primeira aparição importante do grupo foi na coletânea Consciência Black Volume II, na canção “Isso não se faz”, que tratava do racismo com negros mundo afora. Comente essa música?
Elly: “Isso não se faz” foi produzida pelo “KL Jay” e retratava o que nos deixava profundamente descontentes naquele momento, a maneira pejorativa que a imagem de nossos semelhantes eram mostradas nas novelas, nos filmes, nos comerciais, sempre fomos desprivilegiados, desvalorizados e estávamos cansados de ficar calados, de braços cruzados, sem fazer nada e aí tivemos a ideia da letra da música, foi aceitação geral na época e um dos grandes destaques da coletânea, nos abrindo as portas para fazer o nosso primeiro álbum e nos rendendo muitas matérias na época e também apresentações por toda São Paulo!
BW: O primeiro trabalho próprio foi o álbum Cada Vez Mais Preto, com canções como “4P” e “Como Pode Estar Tudo Bem”. Pode falar sobre essas canções?
Elly: Essas músicas foram produzidas por mim, assim como este álbum inteiro, menos “Já não me Espanto” que foi produção minha e de KL Jay e essas 2 músicas que foram perguntadas tiveram uma importância muito grande para a história do DMN e também do povo preto. “4P”, principalmente, que virou um grito de guerra para o nosso povo, que até então, não tinha ninguém que falasse por eles, que tocasse de uma forma que nós víamos como necessária, não só naquela época, mas que infelizmente ainda hoje é… O racismo é um carma, e a desigualdade social existente entre nós cria vilões, traz frustrações e falta de autoestima, para os homens e para as mulheres, para os adultos e principalmente para as crianças e em um clima totalmente desfavorável a nossa cor, não dá para dizer que está “Tudo bem”, daí a ideia de “Como pode estar tudo bem?”.
O racismo é um carma, e a desigualdade social existente entre nós cria vilões (Ellypretoriginal DMN) Imagem: Arquivo Pessoal
BW: Além desses, quais foram os principais trabalhos gravados do grupo DMN? Quem escrevia e escreve as letras?
Elly: No primeiro álbum, em 1993, podemos destacar ainda: “Mova-se”, outro grande grito de guerra periférico, “Aformaoriginalmental” que foi o nosso primeiro trabalho feito em vídeo clipe, com a direção do meu amigo Odorico Mendes, “Precisamos de nós mesmos”, citada por Racionais MC’s em “Voz Ativa” e, claro, “A Lei da Rua”, que o Xis na época escreveu com maestria falando das ruas e de suas doutrinas. Agora teve, em 1998, “H.aço” (clássica), com vídeo clipe dirigido por Maurício Eça. Em 2001, saiu nosso álbum “Saída de Emergência”, pela BROS Company, na época de nosso amigo Diogo Poças e Drico Melo. Teve produção de Edi Rock e minha e tiveram destaques de alguns clássicos, como “Cisco”, “Racistas Otários”, que tem vídeo clipe extraído do DVD “Saída de Emergência”, “Tenha uma meta a seguir” e “A Lei do Opressor (500 Anos)”. Em 2003, sai pela Mel Records o álbum “Essa é a cena”, com produção do DJ QAP, DJ King, Diogo Poças e minha, os clássicos desse álbum são: “Jão”, “Essa é a cena”, “Pra você Preta”, “Chove lá Fora” e “Talvez eu Seja”, com vídeo clipe dirigido por Rooneyoyo. Em 2013, lançamos “9 Anos Depois. Epílogo”, produzido por DJ QAP, eu, Markão II, Johnny Campanille, com os clássicos: “Eu sei que tem”, “VEm Kum Nóizz”, “Nunca Nada Tá Bom”, “Quem é o fora da Lei” e “US Preto Rimador”, que tem vídeo clipe dirigido por Odorico Mendes. Falando das composições do DMN, até o ano de 1997 quem escrevia era o LF e o Xis, de 98 em diante, eu comecei a compor junto com o Markão também, para reforçar o nosso time, tendo em vista que houve a saída de Xis, que foi fazer carreira solo, em 2003, LF saiu do grupo para carreira solo e hoje quem compõe todas letras do grupo sou eu e Markão, mas também se achamos que têm alguns compositores que fazem letras que têm o nosso perfil, não temos vaidade alguma em também grava-las, já venho fazendo algumas coisas nesse sentido no meu trabalho solo, com pessoas como o França (S.O.T) de Conchal, interior de SP, com meu mano Fernando Treze, com o Natho, com minha querida Luli, todos eles com um talento espetacular em suas canetas e que também têm seus trabalhos em particular, do qual tenho a honra de produzi-los e são compositores e rimadores de altíssimo nível.
BW: Como era ser um rapper na década de 80? Como vocês eram encarados pelo resto da sociedade?
Elly: Era ser meio que um alienígena, pois as pessoas e mídias da época não enxergavam a gente como artistas, como pessoas cultas e inteligentes que faziam a trilha sonora dos acontecimentos vividos na periferia, sempre fomos vistos como marginais, a nossa música e cultura sempre foi marginalizada aos olhos da sociedade, infelizmente…
BW: Podemos falar que o sucesso mesmo do DMN veio em 1998, com a música “Homem de Aço”, que teve grande popularidade entre os jovens e veiculações constantes nos veículos de mídia. A canção tem a participação especial de Edi Rock dos Racionais MC’s, foi indicada ao Vídeo Music Brasil 1998 e foi eleita como uma das melhores músicas da década no Prêmio Hutúz de 2009. O segundo álbum, chamado “Saída de Emergência” foi produzido por Edi Rock, com destaque para as canções “Cisco” e “Racistas otários” (com Mano Brown, Edi Rock e KL Jay); álbum no qual o grupo firma-se na escala do Rap nacional. No mesmo ano, teve três indicados no Hutúz: Slick, em DJ de Grupo, “Saída de Emergência”, em Álbum do Ano e o grupo em si no Artista do Ano. Comente esse momento da carreira de vocês.
Elly: Somos um grupo, graças a Deus, muito iluminado e abençoado com o lance da inspiração e a construção de trabalhos que, de fato, se tornam grandes clássicos. “H.aço”, veio num momento certo, na dosagem certa, onde as pessoas precisavam ouvir o que é dito em cada rima da letra e, também, foi o retorno triunfal de 6 anos sem lançar nada, pois naquela época, era muito difícil colocar músicas novas na rua, pela dificuldade que tínhamos para pagar estúdio, era tudo muito caro e as opções que tínhamos eram bem poucas realmente, e aí tínhamos que esperar o momento certo de conseguir juntar uma grana e fazer o trabalho para depois ver o que faríamos, não só DMN mais Racionais também estavam sem gravar há 6 anos e naquela época, quando começou a se espalhar o boato que nós tínhamos nos juntado para fazer uma música, o bicho pegou, até pirataria aconteceu da música, antes mesmo que ela fosse lançada, na época pela Cia. Paulista de Hip-Hop, a qual éramos sócios, junto com Milton Salles. O reconhecimento do grupo e da música foi imediato, tão logo quando a música saiu e foi executada nas principais rádios e pistas do Brasil e conseguimos tocar praticamente no Brasil inteiro, levando nossa música e trabalho a um outro nível e patamar…
BW: Elly, queria que você nos contasse um pouco sobre suas impressões sobre o Movimento Hip-Hop, o Movimento Rap existiu ou ainda existe? Queria que nos falasse um pouco da união ou da falta dela entre os elementos da Cultura. Queria uma reflexão sobre o que foi e o que se tornou hoje em dia a Cultura Hip-Hop, na sua opinião?
Elly: Eu quando entrei no Hip-Hop, nunca acreditei que houvesse o Movimento Rap, pois para mim sempre foi o Hip-Hop, porém, teve tempo em que o Rap, com um estilo um pouco mais gangsta de ser, com bases lentas e muito distantes das que a gente curtia na gringa, passaram a criar de fato o “Movimento Rap” e individualizaram o Rap do Hip-Hop, não foi o nosso caso, mas se você observar nos dias de hoje, muita gente que hoje faz Rap, não tem mais nenhuma identificação com o Hip-Hop, nem musicalmente e nem tampouco visualmente, acho uma merda isso, pois estamos de uma certa maneira caminhando para o fim de uma cultura que salva e salvou muitas vidas. Na minha opinião (e nem falo pelo DMN), nunca houve união realmente, nem tampouco com os grupos de Rap e MC’s, nem com os DJ’s, nem grafiteiros, nem tampouco B-Boys e B-Girls. Eu me recordo de sempre ouvir os B-Boys da época reclamarem que os MC’s não faziam músicas para que eles pudessem dançar e até concordo, até a página 2, pois em um momento do Rap, no Brasil, surgiram muitas músicas mais dançantes e descontraídas, que todos que curtem a arte da dança poderiam muito bem usar em suas danças e coreografias e também tinham a possibilidade de apresentá-las, a todos nós, demonstrando o que criaram para a música X ou Y de qualquer grupo de Rap e ainda tinham a opção de negociar a sua arte, para que pudéssemos utilizar em nossas apresentações, seria algo esplêndido, pois poderiam ganhar uma grana, poderiam enriquecer os shows de Rap, com as coreografias para determinadas músicas e já ligando 3 elementos dentro do show, assim como Thaíde fez muito e ainda faz até hoje e, sem contar também os grafiteiros, que poderiam também criar painéis bem coloridos, com o nome das bandas ou de protestos mesmo, que também poderiam ser utilizados por todos nós artistas, em nossas apresentações unificando os 4 elementos do Hip-Hop, infelizmente, perdemos muito tempo se preocupando com o “cada um por si” e não pensando no coletivo, aí quando pintam as oportunidades financeiras e o dinheiro, esquecemos a verdadeira essência do Hip-Hop e só pensamos e agimos no individual, se eu vou aparecer mais que X ou Y, ou se eles vão aparecer mais do que eu, desprestigiam os eventos e trabalhos que não estamos envolvidos, por vaidades e novamente só pensando no “Eu”, nunca temos uma visão do “Nós”.
BW: Como você vê tudo de novo que vem surgindo nos últimos anos: Boombap Rap, Trap, entre outros? Pode nos fazer uma comparação do que era feito no passado e o que é feito hoje? Houve mudanças para melhor ou para pior? Com que tipo de som você se identifica hoje? Que som escuta? Fale sobre a durabilidade de tudo isso?
Elly: A internet trouxe a independência para muita gente em vários aspectos, dentro da música hoje tem artistas que já não são mais escravos das gravadoras e preferem mesmo o caminho da independência musical. Todo mundo hoje é bom conhecedor de tudo e de todos, todo mundo se acha o “phoda”, tem cara que pensa que tudo que está acontecendo hoje, começou a partir deles, que eles são os idealizadores e pouco se importam com o que aconteceu antes, quem somos nós nos anos 90, qual a representatividade e importância de cada um. Subgêneros do Rap foram criados, começou com o “Crunk”, que era legal, depois virou “Dirth Sound” e o Rap começou a ficar mais mecânico, e enlatado, com o surgimento do “Trap”, o Rap segmentou e a essência e originalidade da nossa música começou a morrer, as músicas se tornaram descartáveis, todo mundo é exatamente igual, todo mundo ostenta, todo mundo fala de dinheiro, de mulher, de “bundalização”, de drogas. A cultura que inicialmente trazia em sua mensagem o distanciamento do jovem das gangues, de uma hora para a outra, passou a adotar a postura de fazer gestos elevando as gangues, o crime e começaram a dizer que ser de uma gangue é da hora, que ser pimp, cafetão e que as mulheres são vadias, entre outras coisas, é que é o da hora, como se não tivessem mãe, irmã, namorada, esposa… houve uma inversão total de valores, o certo virou errado e o errado virou certo. A falta de respeito se elevou em cada letra, não só no Rap, mas as influências negativas que vieram do Funk [carioca] também, que mesmo tendo o seu valor para alguns, traz em sua mensagem pornografias, que também é um mercado que dá muito dinheiro e vende muita coisa no mundo, e aí devido toda essa liberação que aconteceu nos últimos anos, as pessoas começaram a achar natural e tudo ficou meio que normal e aceitável. O Rap dos anos 90, que na minha concepção é o Rap dos homens, traz mensagens fortes e depoimentos sinceros e reais, falamos da vida real em nossas letras, e o Rap dos meninos, chamado “Trap”, só visa “estética”, se enchem de tatuagem em toda parte, usam todos os tipos de drogas e cantam isso em suas letras, como se fosse algo da hora, ostentam uma vida que em muitas das vezes nem têm, muitos têm um contrato assinado com o demônio que bem sabemos, e aí, ao invés de se agilizarem e fazerem o pé de meia, aproveitando o momento, ostentam mais e mais e bebem só bebidas fortes, com músicas cada vez mais de plástico, sem essência, sem mensagem, sem emoção. Têm alguns que ainda mantém a chama do real Rap, bem vivo, mas depois que esses subgêneros tomaram a cabeça dessa geração, ficou bem complicado para quem faz um trabalho sério de conscientização por meio da música. Agora, tem também o Drill, que particularmente prefiro mais que o Trap, porém, também acredito que é mais um estilo que, como os outros, é de plástico descartável, descartável music…
Tem cara que pensa que tudo que está acontecendo hoje, começou a partir deles, que eles são os idealizadores e pouco se importam com o que aconteceu antes, quem somos nós nos anos 90, qual a representatividade e importância de cada um. (Elly) Imagem: Arquivo Pessoal
BW: Elly, você também gravou trabalho solo, correto? Nos fale sobre esse trabalho?
Elly: Em 2008, com a ajuda de meu amigo Renato Scanzani, que foi o produtor executivo do CD, conseguimos colocar meu primeiro álbum solo na rua, intitulado “Acerto de Contas”. Johnny Campanille (SobTensão Podcast) foi quem produziu quase todas as faixas do álbum, menos “Se ainda Puder”, que é produção de Guilherme “Mandella” Tavares, “Pra você Preta” com feat de Silvera e “Mó Responsa” com feat de Ksslu e Paulo Henrique (meus sobrinhos),
que é produção de Diogo Poças e “Lembranças”, que tem feat da Tina e que é produção de Marden Jam. Daí em diante, adotei o nome artístico que uso hoje, que é “Ellypretoriginal” (exatamente assim), destacando meu valor individual como MC, mostrando também um outro lado de composições das quais eu fiz e não se encaixavam com a linha que o DMN faz e foi uma experiência muito bacana, pois consegui alcançar também essa visão do que é ser um artista solo, como eu me sairia fazendo shows, com outro DJ e outros novos artistas, quem me acompanhou nessa caminhada, foi meu irmãozaço, Dj Fabinho BW, que hoje está morando em Portugal, pude fazer coisas, à parte, sem o aparato do DMN, novos rimadores junto em meu CD. Mostrei também que seria possível criar uma outra vertente, à parte do DMN, mesmo sendo do grupo, para mim foi uma grande experiência, bem gratificante! Pretendo fazer outro! O clássico desse CD, que virou o hit, foi a faixa “Me Tirando”, que teve seu vídeo clipe imortalizado pela RecLife do meu mano Biofa e Lorde Sol. Estou neste momento com uma versão dela, que em breve vai sair numa fusão de DMN e Realidade Cruel… aguardem…
BW: Mais de 30 anos de DMN, correto? Qual o segredo para se manter unido tanto tempo? Como foi esse período de pandemia para vocês?
Elly: Sim, estamos indo para 34 anos de atividade do DMN, muitas águas rolaram embaixo da ponte e passamos por todas as fases do Rap, sempre ativos e vivos, fazendo música boa, interagindo com os nossos fãs, trocando ideias e trabalhando duro para nos mantermos vivos. Nestes 34 anos, o que posso dizer é que amamos o DMN e tratamos o grupo, com toda a importância que é necessária e possível. Tivemos algumas perdas de integrantes que também contribuíram muito para que chegássemos aqui, sou muito grato ao LF, ao Xis, ao Max e ao Slick, amo todos eles e sempre serão minha família e parte da história do DMN, mesmo depois do fim (um dia), escrevemos o nosso nome na história do Hip-Hop nacional e da música brasileira, pois graças a Deus extrapolamos o Rap e alcançamos outros estilos musicais também e temos o respeito de muitos, somos bem citados em diversas composições de grandes artistas de nosso segmento e isso não tem preço, é gratificante ter esse reconhecimento e saber que nossa música salvou e ainda salva a vida de muitos. Hoje, no DMN, quem toca o barco somos eu e meu irmãozaço, Markão II, que também é integrante do Realidade Cruel. Para nós, foi uma missão muito difícil tocar esse barco todos estes anos, sabendo da qualidade técnica de grandes rimadores que já passaram no grupo, mas acredito que depois de todos estes anos, não decepcionamos aos fãs e continuamos fazendo uma música boa e com conteúdo lírico apurado e, o principal, nunca perdemos a nossa originalidade, DMN4LIFE! Falando da pandemia, foi algo bem difícil para todo mundo e para nós não foi nada diferente, não foi nada agradável, estar em uma prisão domiciliar por quase 3 anos, longe das pessoas que amamos, sem trabalhar, ou poder fazer o que gostamos, vendo nossos amigos e amigas pegando as malas e indo embora, por causa desse vírus maldito, ver tanta gente morrendo em nossa frente, ver tanta gente maluca surgindo, com a vitória do atual presidente, do qual graças a Deus não contribuí em nada para que ele estivesse aonde está. A nossa vida só se tornou mais e mais difícil e torço muito para que as coisas mudem, que as pessoas acordem, para que façam as melhores escolhas nas urnas, para que não tenhamos novamente que passar por toda essa dor, que já vivemos emocionalmente, pois perdemos familiares, amigos e amigas, ainda vivemos com o fantasma da doença e o constrangimento de ainda andar com a máscara no rosto, sem saber mais quem é quem. Nossas vidas nunca mais serão as mesmas, pois nenhum de nós estava preparado para isso, então, vamos almejar novos tempos, mas, antes, temos que vencer essa guerra que enfrentaremos por todo esse ano e também com os efeitos que essa gestão causou no ser humano.
Adriana Lessa, Elly e Rose MC Imagem: Sérgio Most
BW: Ficamos sabendo que tem disco novo do DMN chegando… Pode nos adiantar o que vem por aí? O que será o “Funkztaz”? É dessa forma que escreve? Verdade que é a versão do que é o “Funk” para vocês?
Elly: Sim… pretendemos lançar o novo álbum do DMN em agosto possivelmente, estamos confeccionando as letras e as produções, posso dizer que será um trabalho bem legal, com muita coisa bacana e interessante, estamos caprichando na lírica, produção e temática, terá algumas participações das quais posso citar, nosso irmão GOG, na pesadaça música “Clássico”, Adriana Lessa, na pancada “O que será do Amanhã” e as outras ainda estamos refletindo sobre… mas aguardem, vai surpreender muita gente… é sério… (risos). Também estou produzindo, junto com o DJ Heliobranco, um trabalho muito bacana e dançante, chamado “FUNKZTAZ”, que é uma fusão da palavra FUNK com GANGZTAZ, somos os gangztaz do funk…(risos), é uma linha musical inspirada em Los Angeles, num estilo mais sofisticado, onde mostramos a nossa versão do que entendemos como Funk, muita gente fala mal do que foi feito com a palavra Funk por esse gênero que tomou posse do nome aqui no Brasil, mas não fazem nada para mostrar um outro caminho e nós resolvemos dar o nosso ponto de vista, a nossa versão musical e resposta à musicalidade em si. Contamos com a colaboração de diversos rimadores, que convidamos um a um, posso falar que vai ter feat de Fernando Treze, Luli, Rose MC, Adriana Lessa, Natho D.C., Dhavy O.C., Alambeat (Sampa Crew), Diwcy (Vítima Fatal), Nino (Cohabitantes), Magoo Jigsaw, Racional, Pastor Tom, Chris Britto, Tchello Rock (Fantastic Force), Cezinha, Paulo Break, Magno C4 (Visão Urbana), DJ Gato Magro e muito mais…
BW: E o trabalho que realizou junto com a Rose MC? Fale sobre ele. E sobre o que você anda produzindo?
Elly: Produzi o CD da Rose MC, inteiraço, e tem também tracks produzidas pelo DJ Heliobranco, que também cuidou dos detalhes da arte de capa do CD, foi muito bacana poder fazer parte desse projeto, pois a Rose é uma pessoa muito bacana, e correria, ela merecia ter um trabalho de qualidade, ainda mais depois de tantos anos lutando pelas causas da mulher, representando a classe trabalhadora dos professores, levantando a bandeira do Hip-Hop nos 4 cantos onde esteve, é importantíssimo ajudar a construir um trabalho de qualidade, para quem é de verdade e original, e aí, somando forças com um time que sempre que posso envolvo em meus projetos, como a minha parceira Luli, oldschool do Rap também como nós, que está produzindo seu primeiro trabalho comigo e também contribui com a composição de letras e vocais no trabalho, com a contribuição de Fernando Treze, que fez parte do time que acompanhava o Xis em tempos de destaque no cenário, que também é um monstro da caneta e nos vocais e Rose MC com seu talento natural e experiências vividas e escritas em suas letras, que são afiadas e inteligentes, eu a dirigi aqui em meu estúdio e o que posso dizer é que ficou um trabalho muito bonito e musical, ela está muito feliz com o resultado e agora, em junho, está na rua o CD físico e nas principais plataformas digitais. Estou também produzindo trabalhos para o Racional, um garoto novo e bem interessante, que já tive a honra de dividir uma track chamada “Criação de Dependência” que tem o vídeo clipe no YouTube, estou produzindo o trabalho de um rimador chamado D’Responsa, bem legal e diferenciado, que brevemente estará nas plataformas. Uma track para o Edy, junto com DMN, que está por vir, estou produzindo o CD do “Cohabitantes” do Nino & Renê, muito bom e pesado, com várias músicas boas, produzi o novo single do Magoo Jigsaw, “Código da Rua”, que também já está em todas as plataformas digitais… Estou produzindo uma track para a rapper Vanessa Kriolla e também estou produzindo o trabalho do grupo Negritude Ativa, do meu mano Gilmar, lá do Espírito Santo, com aproximadamente umas 10 faixas, muito bom também e, em breve, vai sair todos estes trampos com uma qualidade impecável!
Elly e sua mãe, Dona Severina Imagem: Arquivo Pessoal
BW: Elly, nesses últimos anos tiveram momentos bons e momentos tristes com a perda da sua querida mãe. Queria que nos contasse um pouco da sua relação com ela e o que ela significava na sua vida… E como foi superar essa dor e prosseguir?
Elly: Bom… minha mãe me deu a vida e me ensinou todos os valores de vida que tenho e levo comigo, eu a amo e a amarei incondicionalmente, até depois do meu fim, ela foi minha companheira e amiga por 44 anos, e não foi fácil saber que ela resolveu pegar as malas e partir não, foi algo doloroso, difícil de entender, o porquê que as mães têm que ir embora e de lidar com a falta dela, apesar de eu me sentir privilegiado, pois a tive comigo até os 79 anos e nunca fui um mal filho, nunca dei desgostos a ela e fiz minha parte, quando temos a consciência disto, ajuda muito a superar o processo da perda. Mas como temos que seguir em frente, fiquei bem abalado por alguns anos, principalmente no Natal, pois ela fazia aniversário nesta data, mas consegui superar e hoje entendo que tinha que ser assim e uma hora todos temos que ir… que ela esteja ao lado de Deus!
BW: O tempo passou, todos nós que acompanhamos o DMN estamos na fase dos “enta”… O que mudou em todos esses anos para você? Quem é o Elly hoje e que planos existem para o futuro?
Elly: A fase dos “enta” é algo bem interessante, pois nos deixa mais reflexivos, mais sensíveis em muitos aspectos, mais calmos, nos dá mais sabedoria, amplia nossa visão de alcance da vida, procuramos errar menos, e enxergamos muito longe, num imenso 360 graus, o mais maluco é que a vida inteira, escutamos que a vida começava aos 40, e, às vezes, eu ficava refletindo se era isso mesmo, queria muito que chegasse, mas com a idade vieram diversas complicações, também relacionadas a saúde, infelizmente, quando se fala de saúde, nunca são boas, mas eu acredito que temos sempre que buscar novos caminhos e focar nos desejos de vida, muita gente se ilude com sonhos, porém, os sonhos não temos o controle e só acontecem quando não esperamos e dormimos, o que nós temos que focar são nos desejos e objetivos, para poder alcança-los e aproveitar a vida, da melhor maneira. Meus planos para o futuro, é continuar fazendo o que amo fazer, que são minhas músicas, voltar a fazer minhas atividades físicas e jogar basquete, que tive que parar por motivos de saúde, quero poder me estabilizar, físico, mental e financeiramente, ter uma esposa, viver a minha vida da melhor maneira, também quero fazer aulas de canto e piano, para somar a tudo que já faço, poder viajar um pouco, talvez para o exterior e ficar um tempo [fora do Brasil].
DMN, Rashid e Emicida Imagem: Arquivo Pessoal
BW: Que mensagem você deixaria para a nova geração de rappers que está chegando? Que conselhos daria?
Elly: Acreditem sempre que é possível fazer o seu melhor, façam músicas boas, pesquisem mais, busquem conhecimento, tenham foco, não façam o que todo mundo faz, nesse mercado da música, só fica quem é original, quem tem estilo, se você é igual a todo mundo, sempre será comparado a alguém, isso é péssimo, pode até funcionar por um tempo, mas uma hora azeda mesmo o caldo e você vai cair no esquecimento e aí, para voltar depois, é quase que impossível, o mercado da música é pop e o pop não polpa ninguém, chegar lá no topo não é impossível e qualquer um pode chegar, mas se manter no topo é que é o difícil. Quando forem fazer seus trabalhos, procurem trabalhar sempre com os melhores, ser profissional, não trate sua música como qualquer coisa, dê o tratamento que daria a um filho seu e tenho certeza que você não colocaria seu filho em qualquer escola, nas mãos de qualquer um, é importante demais essa parte para poder dar frutos positivos pra você e, por último, escutem Rap, fiquem longe das drogas, respeitem os mais velhos, aproveitem bem a honra de ainda terem verdadeiros livros de histórias, bem vivos e ao lado de vocês, cheios de informação e conhecimento para passar pra vocês! Escutem DMN, escutem Ellypretoriginal!
BW: Pode deixar uma mensagem para os leitores do Portal Breaking World?
Elly: Valorizem cada vez mais espaços como este, sabemos a dificuldade que se tem hoje em dia para que tenham portais que falem realmente a nossa história, que abram espaço pra falar verdades, sem maquiagem, como realmente tem que ser! Sejam mulheres e homens de aço, em seu dia a dia e suas vidas! Fiquem com Deus e fortes na caminhada! Essa é a verdadeira cena, Ellypretoriginal DMN!
Imagem: Arquivo Pessoal
Imagem em destaque: Arquivo Pessoal
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Com inscrições abertas a partir do dia 28, o Red Bull BC One seleciona os maiores talentos para representar o Brasil na Final Mundial.
Evento também realizará um ‘mini festival’ da cultura Hip-Hop
Faltam apenas dois anos para a estreia do Breaking em Paris, o Red Bull BC One 2022, maior campeonato mundial da modalidade, está prestes a começar. Com seletivas marcadas para as cidades de Curitiba (PR), Fortaleza (CE), Brasília (DF) e São Paulo (SP) durante o mês de julho, a competição procura os melhores B-Boys e B-Girls do país. As inscrições podem ser feitas pelo site redbull.com/bcone-br, a partir do dia 28 de junho, ou no próprio local do evento, por ordem de chegada.
De cada seletiva, as chamadas Cyphers, sairão quatro vencedores, dois de cada categoria (feminina e masculina), que passarão à próxima fase: a Final Nacional, que reunirá 16 B-Boys e 16 B-Girls, em São Paulo, e que consagrará um B-Boy e uma B-Girl para representarem o Brasil em Nova Iorque, berço do Hip-Hop. Por lá, os finalistas disputarão a Last Chance Cypher, evento do qual participam todos os vencedores das Cyphers regionais do mundo, antes de se classificarem para a grande Final Mundial, dia 12 de novembro de 2022.
B-Girl Sarah Bee – Imagem: Leo Rosas
Red Bull BC One Camp – imersão no Hip-Hop com referências do Brasil e do mundo
Paralelamente à Cypher e Final Nacional, acontece também o Red Bull BC One Camp, entre os dias 29 e 31 de julho, na Streetopia (Rua Luís Coelho, 323 – Consolação, São Paulo – SP). Com três dias de programações especiais, o público poderá vivenciar uma imersão ao mundo do Breaking por meio de workshops, apresentações, oficinas de danças e batalhas de exibição, com grandes nomes nacionais e internacionais da modalidade.
Entre a programação, acontecerá a Batalha do Chinelo, criada pelo B-Boy Pelezinho, em que participantes deverão performar calçando os chinelos e com um grande desafio: não deixar que eles saiam dos pés. O Camp ainda contará com a batalha Bonnie & Clyde, que acontece entre duplas, a Passinho House, uma mistura de ritmos tradicionais no Brasil, nunca feita antes, que terá Neguin no júri ao lado de Celly e Nenê, e a batalha entre Tsunami e The Ruggets, duas das mais temidas crews do mundo, além de workshops ministrados por Kapela, Sarah Bee, Lilou, Little Shao, Arthur Fiu e outras referências da cena.
B-Boy Kapela – Imagem: Romina Amato
E-Battles
O campeonato mundial conta com mais de 60 eventos qualificatórios em 30 países diferentes. Entretanto, para as cidades sem qualificatórias, há também uma chance de participação no torneio através das E-Battles, em que os participantes enviam vídeos de até um minuto performando os seus melhores movimentos. Pela primeira vez na história, os vencedores das E-Battles avançam direto à etapa mundial, sem precisar passar pela Last Chance Cypher. O resultado sai dia 22 de junho.
Este ano, mais de 91 países participaram dessa fase da competição, sendo cerca de 30% dos inscritos do Brasil, país com o maior número de inscrições.
B-Boy Lilou – Imagem: Little Shao
Se ligue nas datas!
Em 2022, o Red Bull BC One conta com Cyphers Regionais, Final Nacional e Final Mundial, além do Red Bull BC One E-Battle e do Red Bull BC One Camp. Confira, abaixo, as principais datas para não perder nada do evento:
22/06: Anúncio dos finalistas do Red Bull BC One E-Battle
Ele nasceu na Paraíba, na cidade de João Pessoa, mas foi em 2005, com apenas 12 anos, que após assistir um DVD de um campeonato de Breaking decidiu se dedicar de corpo e alma a esse elemento da Cultura Hip-Hop. Cresceu praticando saltos mortais, plantando bananeiras e se dedicando aos movimentos flexíveis, o que o levou a ser um dos caras mais flexíveis do Brasil, claro que estamos falando do Jonas Flex. Neste último mês, ele esteve em São Paulo como jurado e palestrante do campeonato Breaking Combate, onde falou de assuntos bem importantes como viver da dança, lesões e oportunidades para dançarinos. Jonas está de malas prontas para a Europa, onde pretende passar uns 40 dias participando de campeonatos, como World Breaking Classic, The Notorious I.B.E e Outbreak. O Portal Breaking World correu e levou aquele papo com esse mano que, sem dúvida, é uma referência não só na dança, mas na conduta dentro da cena. Confira a entrevista:
BW: Queria que você nos falasse um pouco da sua infância, onde nasceu e cresceu e que lembranças tem dessa época?
Jonas Flex: Nasci e cresci na Paraíba, na cidade de João Pessoa, no bairro do Geisel, toda minha infância foi cercada de aventuras, dentro do meu bairro, andando de bicicleta, soltando pipa, jogando bola, praticando saltos mortais e “plantando bananeira”.
Imagem: Jonas Flex / Arquivo Pessoal
BW: Quando teve contato pela primeira vez com a Cultura Hip-Hop? O que mais te chamou a atenção?
Jonas Flex: Desde criança eu sempre tive contato o Hip-Hop, na música e Graffiti e depois de alguns anos, com 12 anos de idade, tive meu primeiro contato com o Breaking, através de um DVD, onde assim que assisti me identifiquei com aqueles movimentos, pois sempre achei que meu corpo pedia isso.
BW: E com o Breaking? Quem foram suas referências e com quem aprendeu a fazer seus primeiros movimentos? Alguém te ensinou? Em que ano foi isso?
Jonas Flex: Minha primeira referência foi o DVD do Red Bull BC One 2005, após assistir eu fui atrás de pessoas que dançavam no meu bairro e acabei encontrando algumas pessoas que estavam iniciando e outras que já dançavam, assim fui criando conexões e comecei a praticar cada dia mais.
BW: Quando começou a se envolver com o Breaking, você teve apoio da sua família?
Jonas Flex: No início não tive tanto apoio, eu era muito novo e ainda estava no ensino fundamental e minha mãe disse que “eu só podia dançar se eu fosse aprovado e no dia que eu reprovasse nunca mais eu colocaria a mão no chão para dançar”, aí, desse jeito, eu me dediquei muito aos meus estudos e consegui finalizar ensino fundamental, médio e superior sem reprovar nenhuma vez, sendo assim, ganhei a confiança dos meus pais e com o tempo eles começaram a me apoiar muito e valorizar o que eu fazia. Hoje eu sou formado em Licenciatura em Dança pela UFPB (universidade Federal da Paraíba).
Imagem: Jonas Flex / Arquivo Pessoal
BW: E de onde vem tanta flexibilidade nos movimentos?
Jonas Flex: Quando iniciei no Breaking, eu me identifiquei com os movimentos flexíveis, me alonguei muito junto com o professor de ginástica, que me auxiliava nos alongamentos e me fazia ir além dos meus limites. Sempre achei que seria o cara mais flexível do mundo, mas aí eu alonguei tanto que quase me machucava e resolvi diminuir no alongamento para não ter um problema no futuro, mas ainda fiquei muito flexível até os dias de hoje, ultimamente tenho alongado apenas para manter o que eu já tenho.
BW: Com que idade começou a competir no Breaking? Fale um pouco das principais vitórias e dos principais eventos por onde passou.
Jonas Flex: Minha primeira batalha foi com 13 anos de idade, eu dançava Breaking há menos de um ano, foi uma experiência incrível, mas não me dei bem em relação a vitória, mas me dei bem com a experiência que adquiri, que foi essencial para minha evolução como dançarino, até que o tempo foi passando e fui ficando em vários pódios de terceiro, segundo e primeiro lugar. Ganhamos 5 vezes o Giga B-Boys/B-Girls em Pernambuco, ganhamos 4 vezes o EDCRA na cidade de Exu (PE), ficamos 3 vezes em segundo lugar no Festival Cearense de Hip-Hop em Fortaleza (CE), já participei de vários Red Bull BC One Cypher Brasil, já participei de eventos internacionais como Unidisputed, Crashfast, BBIC no The Notorious IBE Holanda, Breaking It Up Hungria, Outbteak Eslováquia.
BW: Recentemente, você esteve em um grande evento aqui em São Paulo e, numa roda de conversa, falou sobre viver do Breaking aqui no Brasil. Queria que nos contasse a sua experiência, se alguém te apoiou financeiramente, patrocinou e que conselhos você daria para quem pretende viver da dança?
Jonas Flex: Esse é um dos assuntos mais complicados e delicados para mim, pois viver bem trabalhando com dança aqui onde eu moro em João Pessoa, para mim foi e ainda está sendo impossível, tive que buscar outros meios para conseguir realizar “meus sonhos” e pagar meus boletos. Abri uma empresa e hoje trabalho com moda Street Wear, mas para quem realmente quer viver da dança, eu aconselho se dedicar bastante, mas sempre ter dois caminhos, para caso um caminho não dê certo, você tenha o outro, assim transformando os dois caminhos em um e não se tornar um “dançarino frustrado”.
Imagem: Jonas Flex / Arquivo Pessoal
BW: Nos últimos anos vivemos muitas mudanças, o Breaking virou uma modalidade olímpica. Como você vê todas essas mudanças, cultura versus esporte e a forma que vem sendo trabalhado no Brasil. Olhando o cenário mundial estamos preparados para subir num pódio?
Jonas Flex: O Breaking nos Jogos Olímpicos é de extrema importância, pois trará muita visibilidade e valorização para o Esporte/Dança, gerando emprego e patrocínio de grandes empresas para os B-Boys/B-Girls, sendo assim, alcançaremos o tão sonhado “Viver bem de dança no Brasil” algo que eu espero dizer um dia, hoje é possível para mim.
BW: Verdade que esse ano você vai para fora? Quais são seus planos? Por que países pretende passar? E por quanto tempo pretende ficar fora do Brasil?
Jonas Flex: Vou passar 40 dias na Europa, onde estarei participando de vários eventos, como World Breaking Classic, The Notorious I.B.E e Outbreak e, claro, fazendo aquele network, criando uma conexão com novos amigos e aprendendo um pouco da cultura de cada país que estarei passando.
BW: Jonas, você é um B-Boy bem experiente e já gravou vários tutoriais que têm ajudado B-Boys e B-Girls espalhados pelo Brasil. Outro assunto que você tocou na roda de conversa no evento aqui em São Paulo, foi sobre o “perigo das lesões”. Nos fale um pouco sobre esse assunto e se existe uma forma de se cuidar mais e de diminuir os riscos?
Jonas Flex: Esse é um assunto que eu posso falar, pois sou a prova viva. Infelizmente, para quem não sabe, eu sempre eu fiz Street Show, por 10 anos, como dependente, para completar minha renda, ou seja, se eu não dançasse no semáforo de trânsito e na orla da praia, eu ficaria sem dinheiro para se manter, o que foi um pensamento muito triste da minha parte, pois poderia ter pego outro trabalho para poupar meu corpo; no semáforo de trânsito eram, em média, 80 entradas com flares e handhops e isso foi desgastando meu corpo, principalmente a virilha, pois o corpo não aguentou o excesso de exercício físico. Hoje eu evito dançar sem me alongar ou aquecer, para não me lesionar. Muitas vezes você vai em um shopping ou algum passeio e as pessoas falam “Faz um flare aí, ou dá uma entrada para eu gravar” e, assim, na emoção, você acaba fazendo e aquilo pode te custar uma lesão crônica ou tão demorada que pode durar anos e nunca mais ser o mesmo corpo, eu fiquei lesionado da minha virilha por 7 anos, isso tudo porque eu fazia o Street Show na orla de praia sem me alongar e acabei adquirindo essa lesão, e olha que em 2014 eu era um dos caras mais flexíveis do Brasil, mesmo assim não teve jeito, a lesão ficou até 2021 e hoje estabilizou 90%, mas depois de passar por vários médicos, fisioterapia, nada dava jeito, até que desisti de tudo e deixei ver até onde ia e acabou melhorando, talvez por sorte (risos tristes).
Imagem: Little Shao
BW: Em alguns eventos, você tem dançado de luva devido a um suor excessivo nas mãos. Na medicina, isso é chamado de Hiperidrose, é isso? Talvez você não seja o único que passa por esse problema. Pode explicar um pouquinho da sua experiência, do que acontece com você e quais as alternativas para resolver isso?
Jonas Flex: Para quem não sabe, eu tenho esse problema de Hiperidrose, que é um suor excessivo nas mãos, isso me atrapalhou desde o início quando comecei a dançar Breaking, vários eventos eu deixei de participar devido o piso ser muito liso e não dar para mim. Perdi as contas de quantas vezes eu caí ou deixei de fazer meus movimentos devido o piso liso, até que eu fui para o evento Red Bull BC One Fortaleza 2021, onde estava super preparado, com várias entradas e movimentos para ganhar e acabei escorregando no piso e não consegui desenvolver como eu gostaria. Após sair de lá, muito triste, eu fui atrás de um método para solucionar o meu problema, o que eu já deveria ter corrido há muito tempo, tentei várias coisas, como pó magnésio, gesso, entre outros e nada deu certo. Então, fui atrás de uma luva que não deixasse escorregar e fosse confortável para eu dançar. E resolvi meu problema, por enquanto, porém, pretendo fazer essa cirurgia para parar de suar, ela no particular passa de R$ 20.000,00, mas estarei buscando pelo SUS aqui na minha cidade e espero conseguir o mais rápido possível, além disso, eu tenho Ceratocone, um problema de vista que deforma a córnea e fiz a cirurgia de um olho e ainda falta o outro, depois disso estarei 100% para me dedicar ainda mais ao meu Breaking.
BW: Quais são seus planos para o futuro?
Jonas Flex: Meus planos para o futuro, é conseguir viver bem da dança, algo que no fundo eu ainda acredito que será possível, mas também se não der certo, continuarei firme e forte com meu Breaking e trabalhando na minha área de empreendedorismo e me dedicando ao máximo como sempre fui.
BW: Deixe uma mensagem para os leitores do Portal Breaking World?
Jonas Flex: Deixo meu agradecimento ao Portal Breaking World, por poder contar um pouco da minha história, também agradeço a todos vocês que tiraram um tempinho para ler mais sobre mim, que nós do Breaking e da dança no geral, nunca venham a desistir de sonhar, mas nunca fiquem apenas no sonho, vamos realizar, novos tempos estão por vir, foco no trabalho.
Imagem em destaque: Jonas Flex / Arquivo Pessoal
Imagem: Jonas Flex / Arquivo Pessoal
Imagem: Jonas Flex / Arquivo Pessoal
Imagem: Lucas Matheus
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E o Portal Breaking World tem a honra de trazer para vocês mais uma daquelas entrevistas que oferecem uma viagem ao túnel do tempo. Sim, o Hip-Hop não para e nem seus personagens e suas incríveis histórias! Nesse bate-papo convidamos Jackson Moraes ou MC Jack para conversar conosco! Jack é uma lenda viva, um dos caras mais versáteis do Hip-Hop nacional, além de ser MC, é DJ e também já foi B-Boy. Ele apareceu na primeira coletânea de Rap nacional, chamada “Hip-Hop Cultura De Rua”, em 1988, com as músicas “Centro da Cidade” e “Calafrio”. Filho do Seu Augusto e Dona Antônia, desde pequeno tinha muita música dentro de casa, de várias vertentes. No Breaking, gostava de dançar no meio da roda, viu a efervescência da São Bento e de algumas crews que fizeram história! Com mais de 30 anos de Hip-Hop, Jack, em 1991, foi Vice-Campeão Brasileiro do DMC, em 1996 ganhou o DMC BRASIL e se tornou o primeiro DJ brasileiro a figurar entre os 10 melhores do mundo! Ficando, também, em 4º lugar no DMC World, que foi realizado em Rimini, na Itália. Falamos do início de tudo, das rivalidades, do Breaking, do Rap Nacional, da nova geração, do Trap e etc… O mano é brabo e a entrevista foi reta! Confira:
BW: MC Jack você é uma lenda viva da Cultura Hip-Hop brasileira, são bem mais de 30 anos de caminhada, queria que você se apresentasse e nos contasse como foi seu primeiro encontro com essa cultura. Verdade que você começou no Breaking?
MC Jack: Salve! Eu sou o Jackson Moraes, filho do Seu Augusto e Dona Antônia. Desde pequeno, tinha muita música dentro de casa de várias vertentes: Samba, Pop, Rock, Black, Brega, Românticas, além de ouvir muita música de rádio. Diversão eram as matinês na Asteroides, no Boomerang e no Contra Mão. Um dia, um brother chamado Rildo chegou na matinê da Contramão e me disse: “Jackson, tem uma dança nova que os caras dançam igual robô e eles rodam…”, logo entendi que aquilo era para se dançar sozinho. Nunca fui muito de dançar os “passinhos”, eu gostava de dançar no meio da roda! Começamos a treinar aquela nova dança sem fazer ideia do que fazíamos. As referências sobre o Breaking eram escassas, um vídeo aqui e uma foto numa revista ali, mas ele já se espalhava pelos bairros de São Paulo.
Imagem: Reprodução
BW: Nos conte como foi seu primeiro contato com o Nelsão, o famoso “Homem Árvore”, e com as pessoas que dançavam Breaking no centro de São Paulo? Quem estava lá naquela época? E conte a história que na roda do Nelsão só entrava quem sabia dançar…
MC Jack: Quando fui a primeira vez na 24 de Maio, onde sabíamos que estava rolando um pessoal dançando, pedi para o Nelsão entrar na roda e ele me deixou de lado, e quando não tinha mais ninguém olhando ele me falou: “Dança ae mans!”, e eu respondi: “Agora não quero! Não tem ninguém olhando!” (risos). Ele me disse que só entrava na roda dele quem sabia dançar… aí fui para cima, sai rodando de costas e parei na ponte. Ele, surpreso, me perguntou: “Qual seu nome?”, eu falei: “Jackson!”… E ele, na pronúncia gringa, falou assim: “A partir de agora seu nome é Jack”. Daí nasce o B-Boy Jack. Minha primeira gangue foram os Bombetas Mágicas.
BW: Jack, nos fale um pouco da força e da efervescência do Breaking naqueles anos, das gangues e de toda atmosfera de quem participava de tudo isso aqui no Brasil? Das amizades, das rivalidades, das crews e das tretas?
MC Jack: Colei com o pessoal da 24 de Maio, Nelsão, Paul, Billy, Freddy, Raul, Nice, Charles, Função, João Break, Luizinho (LZ), Itaú, Maguila, André, enfim, estive na São Bento desde o começo. Fiz parte da gangue Nação Zulu, que era formada por: Zulu, Gerson, Renato, Mad Zoo, Bimbinho, Bicudo, Cabecinha e Getúlio. E a minha última gangue foi a Crazy Crew, onde faziam parte o Taroko, Hiro, Mistério, Sandrão, Azambaa e eu. A Crazy Crew perturbou a cena na época… fomos procurar mais informações na Ginástica Olímpica, fomos aprender as técnicas dos “mortais”, “flare” e outros movimentos. Eu amo a Crazy Crew! Ao passar dos tempos, o Breaking foi tomando conta do Brasil e o contato com outros B-Boys foi ficando mais frequente. Até que veio o “advento” do filme “Beat Street”, de 1984, que mudou tudo que todo mundo pensava sobre a dança. Foi mágico cabular aula no SENAI e ir ver o filme (risos). Fiquei o dia todo dentro do Cine Ritz no centro de SP, comi minha marmita gelada, mas valia… Era o Beat Street! As principais gangues de São Paulo, naquela época, eram: Crazy Crew, Nação Zulu, Street Warriors, Back Spin. Só lembrando que existiram várias outras gangues, em vários outros lugares de São Paulo e do Brasil… O clima entre as gangues era algo que queríamos imitar o enredo do filme Beat Street, havia rivalidade e, às vezes, passava dos limites, mas a dança sempre teve acima disso tudo! No meu caso, a Crazy Crew tinha uma rivalidade épica com a Back Spin. Tivemos rachas históricos!
BW: Em que ano o Rap começou a chegar com toda força aqui no Brasil? São Paulo foi o grande reduto de tudo isso?
MC Jack: O Rap começa a ser percebido por volta de 1985. Os B-Boys entenderam que o Rap era ligado ao Breaking e a partir disso foi um caminho natural cada gangue ter o seu Rapper e o disco “Hip-Hop Cultura de Rua” é um exemplo disso e, por causa disso, ele teve uma visibilidade muito grande quando foi lançado, em 1988. Foram Thaide & DJ Hum (Back Spin), Código 13 (Nação Zulu), MC Jack e DJ Ninja (Crazy Crew e Street Warriors). O Credo, foi quem articulou a reunião destes artistas nesse disco. Em nome do MC Who Uzi & DJ T e o Gilson no comando geral. O Rap, assim como o Breaking, se espalhou ao mesmo tempo pelo Brasil, mas São Paulo saiu na frente no quesito visibilidade. A reunião da São Bento teve o intuito de dar uma “apaziguada” nos ânimos das gangues, pois estava caminhando para uma direção onde o fundamental que era a dança estava começando a ficar em “segundo plano”… estava muvucando demais e gente dançando de menos… Importância fundamental para o bom andamento do movimento Hip-Hop… a partir dessa reunião muita coisa tomou um rumo mais profissional e mais raiz.
Imagem: Reprodução
BW: Como foi quando houve a junção de todas as gangues, dos B-Boys na São Bento? Quem eram os grandes nomes do Breaking naquela época? Tinham B-Girls, quem eram? Em que ano foi isso?
MC Jack: Foi em 1984 e 1985. Lendas da São Bento… Andrezinho & Silvão. B-Girls: Kika, Reka, Fernanda e Celina… Hoje em dia, tenho a grata satisfação de apertar a mão de quem já foi meu “inimigo”… todo último sábado do mês tem “Encontro na São Bento”, das 13h às 18h…
BW: Quando na sua vida começou a rolar de fato os trabalhos como MC Jack e como foi isso? Breaking e rima: foi necessário escolher entre um e outro? Como eram os shows e os bailes daquela época?
MC Jack: Em 1986, eu continuava a dançar, mas já estava começando a fazer umas rimas junto com o Azambaa. Ele parou um tempo depois e eu continuei. Ganhei o primeiro concurso de Rap do Clube da Cidade no baile da Chic Show. E assim, seguiu uma sequência de apresentações em outros bailes de outras equipes também. Em 1987, eu e o DJ Ninja já estávamos conciliando nossos trampos com os shows. Eu trabalhei no Mappin, de 1985 a 1988, o Ninja trabalhava nas lojas de discos na galeria 24 de Maio e o A.G. Naja (Rooneyoyo) trabalhava no Bamerindus da 7 de Abril. Em 1988, eu já estava um pouco distante do Breaking e me dedicando mais ao Rap… e nesse ano é quando rola a gravação do disco Hip-Hop Cultura de Rua… Produção de Dudu Marote nas duas faixas… Centro da Cidade & Calafrio… Scratches por DJ Ninja.
BW: Como era fazer Rap Nacional naquela época? Havia apoio? Alguém abria caminho? E como era esse vínculo do Rap com os B-Boys?
MC Jack: Os shows eram basicamente nos bailes Black das equipes, não havia uma cena fora disso. Mas ao longo do tempo fomos pavimentando nosso espaço como artistas. Pouca estrutura, mas muito esforço! Algumas equipes de baile ajudaram mais que as outras… Equipe Kaskatas ajudou muito o Rap Nacional! O vínculo entre Rappers e B-Boys eram uma simbiose natural. Os dois vinham do mesmo berço: a rua!
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BW: E quando aconteceu o movimento dos DJs? Nos fale da sua caminhada também como DJ?
MC Jack: Os DJs foi algo que aconteceu de uma forma muito mais tímida, porque havia o lance de ter os equipamentos. Algo muito mais difícil! Então, a primeira geração dos DJs do Movimento Hip-Hop foi pequena, estavam lá: DJ Hum, DJ Ninja, DJ KL Jay e DJ Mad Zoo. Em 1990, é desfeita a dupla MC Jack & DJ Ninja e eu sigo sozinho tanto como MC e como DJ. E, por incrível que pareça, no mesmo ano de 1990 eu fiquei em 9º lugar no Campeonato Brasileiro de DJs – DMC 90. Aprendi muita técnica de DJ num curto espaço de tempo e, em 1991, fui Vice-Campeão Brasileiro do DMC 1991! De 92 a 95 não tiveram campeonatos. De 1992 e 1993 passei tocando em várias casas noturnas, 1994 comecei a tocar numa casa noturna chamada Rivage, em Blumenau (SC). Já em 1996, ganhei o DMC Brasil e me tornei o primeiro DJ brasileiro a figurar entre os 10 melhores do mundo! Fiquei em 4º lugar no DMC World, que foi realizado em Rimini, na Itália. Em 1997, fui para as finais do DMC World e fiquei em 4º lugar novamente.
BW: Numa entrevista, você falou que a junção do Breaking com o Rap impediu o surgimento de uma indústria do Rap Nacional no nosso país. Houve uma ausência de se fazer negócios e tornar esse elemento como algo lucrativo… nos explique isso? E como você vê o que existe hoje no meio do Rap? E o que pensa sobre o Trap, essa mistura do Rap com a música eletrônica que virou uma febre da nova geração?
MC Jack: O Rap em específico nunca fez negócios aqui no Brasil! Éramos muito amadores neste sentido! Vou falar a minha visão: o lado B-Boy vindo da rua, praticante do racha, nunca falamos sobre o mercado que havia para a nossa arte. Queríamos treinar escondido e aparecer na hora e arrebentar nas rodas! Levamos parte desse pensamento para o Rap, escrever e esconder a letra para um “melhor momento” (risos). Não tínhamos nem cena. Esconder o quê? Mas, para nós, era uma visão muito natural! Se você pedisse para a maioria dos Rappers para escrever 5 letras para o dia seguinte, ele escreveria! E quando fosse perguntado quanto cobraria, não saberiam colocar valor naquela arte! E assim seguimos, nenhum Rapper pensava em ter um escritório ou tomar conta das próprias composições… estávamos preocupados em fazer show e levantar uma verbeta! E isso serviu de “espelho” para quem veio depois. Hoje consigo enxergar esse espaço deixado por nós mesmos, mas não existe culpa quando se faz de coração! Existem uns respingos disso até hoje. Ofereça o escritório do Emicida a algum Rapper e pode ser que ele queira somente o Nike do Emicida! Os negócios referentes ao Rap hoje em dia estão caminhando para o jeito certo, o artista toma conta da própria carreira, algo natural para qualquer Rapper gringo, que já faziam isso há anos! Devido ao “hiato” causado pelo próprio Rap Nacional, a nova geração criou o seu próprio estilo! O Trap é a síntese entre o Rap e o Funk, e os moleques tão rimando. Os assuntos falados nas letras de Trap refletem o tempo em que eles vivem… ah, não posso esquecer de falar que nos anos 90 eu lancei 3 CDs de música eletrônica.
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BW: Jack, recentemente foi lançado o minidocumentário da Puma “Onda do Break”, nos fale desse material e da sua participação.
MC Jack: O documentário da Puma registra o início de tudo. Não é algo “definitivo” porque na mesma época em que é retratado o documentário, em outros lugares do Brasil também estavam acontecendo a cena do Breaking. Agradecimento aos Gêmeos, que se empenharam para que isso se tornasse realidade!
BW: Estamos vivendo um momento em que o Breaking volta às mídias, dessa vez como um esporte olímpico. Falamos de uma cultura que virou esporte e que será uma modalidade olímpica em Paris 2024. Como você vê tudo isso? E o que acha sobre como o Brasil vem se organizando e se preparando para participar desse ciclo?
MC Jack: Nos meus melhores sonhos eu poderia imaginar o Breaking numa Olimpíada! Sensação de dever cumprido! Eu não estava errado! Faria tudo de novo! O atleta que for representar o Brasil vai levar parte de mim, porque parte de mim está nele! Somos um celeiro de talentos… vamos ter boas notícias num futuro!
BW: MC Jack, fale do que está fazendo neste momento, no que está trabalhando e quais são seus planos para o futuro?
MC Jack: Hoje em dia continuo tocando pelos vários cantos do Brasil como DJ. Têm músicas novas chegando…
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BW: Que recado você deixaria para a nova geração, seja do Rap, do Breaking, dos DJs ou do Graffiti?
MC Jack: O Recado é simples: O Hip-Hop não para!
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Com curadoria de Kamau e presença de PK Freestyle, Clara Lima e Bob 13, a decisão do Red Bull FrancaMente acontece neste sábado (30)
Rimando até a final! Com os 16 finalistas já selecionados e a postos para duelos cheios de criatividade e improviso, chegou a hora da grande Final Nacional do Red Bull FrancaMente, um dos principais campeonatos de rima do país. Em sua terceira edição, o torneio tem como palco um local icônico da capital paulista: o Auditório Ibirapuera, projetado por Oscar Niemeyer. Em um clima que mistura muita cultura de rua, música e arte, grandes talentos nacionais do Rap se reunirão neste sábado (30), às 19h, em uma espécie de “ringue lírico” em busca do título nacional.
Aberto ao público e com entrada gratuita, o evento será comandado por Rashid, um dos mais importantes nomes do rap no Brasil que, de modo especial, retorna ao local que foi o seu berço na cultura Hip-Hop, porém, dessa vez, como apresentador.
Imagem: Red Bull Content Pool
“Vejo essa experiência como continuidade, uma forma de fortalecer ainda mais o elo entre minha geração de MC’s de batalha e a geração de agora – que é incrível. Simbolicamente, é como ver um ciclo se completando, já que um dia eu fui um desses talentos ali esperando minha vez de rimar”, relembra Rashid que, atualmente, conta com mais de 1 milhão de ouvintes mensais nas plataformas de áudio e acaba de lançar o single “Pílula Vermelha, Pílula Azul”, que inicia uma nova fase na carreira dele. “Quando a gente olha em volta e percebe a quantidade de artistas que foram revelados nas batalhas, fica fácil entender o tamanho da importância disso. Quanto mais estrutura nossos talentos tiverem, mais longe eles e elas chegarão”, finaliza.
Com curadoria de Kamau, o torneio ainda conta com um júri de peso e grandes referências da cena avaliarão os competidores: Bob13, Clara Lima, Slim Rimografia, Léo Cezário e Jupitter Paz. O cantor PK Freestyle comandará a apresentação do chaveamento, e a dupla Carol Anchieta e Mamuti ficará à frente da transmissão ao vivo do evento para o público que não puder comparecer presencialmente, por meio do Youtube.com/RedBullFrancaMente, e também no Tik Tok @redbullbr.
Imagem: Red Bull Content Pool
Reunindo talentos de norte a sul do Brasil, o evento, que conta com patrocínio do Spotify, passou por cidades como Belo Horizonte (MG), Porto Alegre (RS), Salvador (BA), Fortaleza (CE) e São Paulo (SP), polos que foram sede das seletivas regionais da competição, de onde saíram 10 finalistas, que se juntarão aos wildcards – convites especiais que selecionam alguns nomes com base em desempenho e forte participação na cena – na grande Final.
O Red Bull FrancaMente é a versão em língua portuguesa do Red Bull Batalla, uma das maiores competições de Rap do mundo, que acontece em países de língua hispânica há mais de 15 anos e chega a receber mais de 17 mil inscritos por ano.
Imagem: Red Bull Content Pool
Confira os finalistas
Seletiva São Paulo:
Tubarão Teaga
Seletiva Salvador:
Gorete MCGomes
Seletiva Belo Horizonte:
Neo Martzinn
Seletiva Porto Alegre:
Nicolas Walter MC Cruel
Seletiva Fortaleza:
Tonhão Mandacaru
Wild Cards:
Bl4ck MC Yoga Fampa WinniT Jump Magrão
Imagem: Red Bull Content Pool
SERVIÇO
Red Bull FrancaMente
Data: 30 de abril de 2022
Horário: Abertura às 17h/ Início do show às 19h
Local: Auditório Ibirapuera – Av. Pedro Álvares Cabral, 0 – Ibirapuera, São Paulo – SP, 04094-050
Ingresso: Gratuito
Imagem em Destaque: Fábio Piva / Red Bull Content Pool
Aconteceu no último final de semana, em Barueri, o Festival de Artes e Empreendedorismo Urbano (FAEU), com total sucesso de público e apoio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, Proac-Editais e da Secretaria de Cultura e Turismo de Barueri. O FAEU foi um festival multicultural que fortaleceu a economia criativa dos empreendedores do setor de cultura urbana, Hip-Hop, streetwear e também dos artistas como B-Girls, B-Boys, grafiteiros, DJ’s e MC’s da Grande São Paulo. O evento se expressou por meio de múltiplas linguagens artísticas e apresentou um setor em constante crescimento com características alternativas ligadas à cultura urbana, sendo palco para novos talentos, abriu espaços para novas ideias e tendências nas áreas das artes, música, dança, moda e gastronomia, ofereceu oportunidade aos artistas participantes e marcas independentes que puderam promover, comercializar e viabilizar as suas criações.
Visào parcial do público presente, com várias famílias prestigiando o festival.
Quem desejava conhecer mais sobre a Cultura Hip-Hop e sobre seus elementos pode aproveitar a grande oportunidade! O primeiro dia do festival (22) foi de aprendizado, dedicado aos Workshops. Dentro do Espaço Cultural Luiz Fernandes, que fica na Aldeia de Barueri, diversos artistas de vários cantos do Brasil e até de fora compareceram e participaram das palestras oferecidas gratuitamente. Nomes como João Carlos, coach esportivo do Atleta Campeão, B-Boy Jonasflex, B-Boy Pulga, o MC Nauí e Ale, da FMS, foram os nomes convidados a palestrar e dividir suas vivências com os participantes.
João Carlos, do Atleta Campeão e os participantes da palestra “Escute a batida do seu coração”.
No dia seguinte (23), o tempo amanheceu bonito no Parque Municipal Dom José e quem gosta e pratica o Breaking ou quem desejava conhecer mais sobre essa nova modalidade olímpica de Paris 2024 não ficou de fora! O evento começou às 13h com os filtros e batalhas de B-Boys, depois, veio um desfile de marcas urbanas, em seguida, a competição Kids, com a presença de crianças que são a esperança do Breaking brasileiro nos próximos Jogos da Juventude e nas Olimpíadas, depois veio a disputa de B-Girls, mostrando a força das mulheres brasileiras dentro da Cultura Hip-Hop e do Esporte Urbano e por fim, a Batalha de MC´s, que finalizou o evento com chave de ouro. No total, foram mais de 200 participantes, entre B-Boys, B-Girls e Kids. Os grandes campeões do evento foram: No Kids, em 1º lugar a B-Girl Angel do Brasil (12), que com uma personalidade forte e com uma presença marcante na competição agitou o público presente. Angel, que treina em Barueri e tem apoio da cidade, já coleciona prêmios nacionais e internacionais. Em 2020, ficou em 2º lugar no E-Fise Montpellier, da França e em 2021, em 1º lugar no All Dance Brazil. Em 2022, começou o ano sendo homenageada pelo Prêmio Arte em Movimento e agora o 1º lugar no Breaking Combate. Angel faz parte da Dream Kids Brazil. Nas B-Girls, a grande vencedora foi a paraense Mayara Colins, conhecida como Mini Japa, que em 2018 ganhou a Red Bull BC One Cypher Brazil e representou o país no mundial da Suíça. Japa faz parte da Amazon Crew. Nos B-Boys, o vencedor foi o mineiro Gilberto Araújo, mais conhecido como B-Boy Rato, que até pouco tempo morava no exterior e tem se destacado em grandes eventos no cenário nacional e internacional. Julgando essa competição, estavam os dançarinos: B-Boy Kustelinha, da Bauru Breakers, B-Girl Lu, da Afrobreak e o B-Boy JonasFlex. da Supreme Boyz Crew. E comandando a festa DJ Conrado e Anderson BBMCs.
Campeões do Breaking Combate 2022: B-Girl Angel do Brasil (Categoria Kids – Barueri/SP), B-Girl Mini Japa (Categoria B-Girls – Belém/PA) e B-Boy Rato (Categoria B-Boys – Uberlândia/MG)
Na batalha de rimas, o vencedor da noite foi o MC Big Mike, que no final de 2021 foi um dos 3 grandes ganhadores da BDA 5 anos. O evento foi apresentado por Bob 13. E na difícil tarefa de julgar os competidores: MC Nauí, de Brasília e o MC Koel, de São Paulo deram conta de escolher os campeões.
MC Big Mike foi o campeão do MC Combate em uma final disputadíssima.
O Festival de Artes Urbanas e o Breaking Combate ainda tiveram o apoio do Portal Breaking World, que foi a mídia oficial do evento, da Associação Raso da Catarina, da Street House Cultura e Esportes Urbanos, da Urban Roosters e da Monster Energy. E registrando o evento, o fotógrafo The Sarará.
Outro grande destaque do evento foi o grafiteiro Sotaq, que em sua arte fez uma homenagem durante o evento a Cindy Campbell e seu irmão, o grande DJ jamaicano Kool Herc, considerado o “Pai do Hip-Hop”.
O grafiteiro Sotaq e o mural em homenagem a Cindy Campbell e Kool Herc, precursores do movimento Hip-Hop mundial.
São de Eder Devesa e de Chalana, organizadores do Festival de Artes Urbanas e do Breaking Combate, as palavras: “O evento foi um sucesso! Mais uma edição que superou a nossa expectativa, depois de alguns anos sem a realização do Breaking Combate devido a pandemia, sentimos no olhar, na vibração das B-Girls, B-Boys e do público, nesse dia incrível, a alegria das pessoas. Foi um reencontro épico, divertido e, claro, os combates pegaram fogo, tivemos combates de alto nível nas três modalidades, Baby, B-Girl e B-Boy. Recebemos participantes de vários estados e até de fora do país, isso foi muito gratificante, reunir todos os elementos do Hip-Hop em um só evento não é fácil e isso aconteceu, celebrar essa cultura serve como combustível para seguirmos em frente e a cada edição melhorar…”.
A nova geração foi destaque no evento, mostrando que o futuro do Breaking já está presente e chega com tudo!
Estiveram prestigiando o evento o Secretário de Cultura e Turismo de Barueri Jean Gaspar e alguns jornalistas que já acompanham as edições do Breaking Combate.
Foi difícil apagar as luzes e desmontar o piso de madeira, sabendo que por ali passaram tantos artistas singulares. O evento foi contagiante e a sensação é de dever cumprido! E sabem de uma coisa? Queremos mais!
Fotos: The Sarara e Cadu Barbosa
Galeria dos Campeões 2022
B-Girl Angel do Brasil mostra o cinturão que conquistou na competição, na categoria Kids, representando a cidade de Barueri/SP
MC Big Mike mandou bem nas rimas e conquistou vaga e passagens para competição internacional da FMS
B-Girl Mini Japa foi o destaque na categoria B-Girls, levando o cinturão para o Pará
B-Boy Rato conquistou o primeiro lugar na categoria B-Boys, levando o cinturão para Minas Gerais
Você é um B-Boy ou uma B-Girl, mas agora pretende se tornar também um atleta? Representa ou pretende representar um estado ou um país!? Muito bem! Essa matéria é para você. Bem-vindo ao mundo dos atletas espetaculares, que gira em torno de bons resultados, superação, exposições na mídia e muitas cobranças de todos os lados! Seu mundo provavelmente vai existir em torno de horas de treinos, de viagens, competições, busca de patrocínios, contratos, premiações e medalhas (quem sabe, algumas vezes, Olímpicas?), entrevistas, pódios, recordes, performance, evolução, aplausos e vaias. Da superação ao fracasso no cotidiano, das vitórias as crises de depressão e ansiedade, a vida de um atleta de alto rendimento, ao contrário do que muitos possam imaginar, não é só de triunfos, conquistas, viagens, passeios turísticos e diversão, mas traz desafios desde o início, do preparo físico, mental e profissional até o difícil final de carreira, quando é necessário saber a hora de parar. Chegar ao topo pode escrever para sempre um nome de um atleta na história, mas embarcar nesse mundo sem estar preparado pode trazer consequências desastrosas na vida de uma pessoa.
Exemplos foram situações recentes que aconteceram na última Olimpíada de Tóquio, com esportistas de grande visibilidade, uma parada inesperada para cuidar da saúde, um grito de socorro atrás da fama e do estrelato, trouxe a questão dos transtornos emocionais, mentais, da depressão e da ansiedade para discussão em todo o mundo. Quando a atleta estadunidense Simone Biles, considerada uma das maiores ginastas de todos os tempos, anunciou que não iria disputar algumas provas em que era a grande favorita nas Olimpíadas de Tóquio, alegando que precisava cuidar de sua saúde mental, abriu-se um grande debate: Até que ponto esportistas de alto rendimento podem suportar a sobrecarga emocional imposta pela rotina de treinos, competições, cobranças e busca por recordes e medalhas? Simone contou ter tomado a decisão de modo a preservar sua saúde mental, evitando, assim, danos à sua integridade física. Em uma competição em que são grandes os riscos de quedas, é preciso mais que um bom preparo físico. “Minha mente e meu corpo simplesmente estão fora de sincronia. Não acho que vocês entendam quão perigoso isso é nas superfícies de competições duras. Eu não preciso explicar, porque coloquei a saúde em primeiro lugar”, publicou a ginasta em suas redes sociais.
Outro caso foi do Surfista Gabriel Medina, que além de não ter os resultados desejados nas Olimpíadas, no mês de janeiro anunciou em suas redes sociais que estava em tratamento psicológico sem saber quando estaria apto para voltar a competir. Por isso, ficou de fora das primeiras etapas desta temporada da Liga Mundial de Surfe (WSL). Ele escreveu: ”2021 foi um ano incrível pra mim, conquistei meu maior sonho como surfista, que era me tornar tricampeão mundial. Era uma parada intocável pra mim. No ano passado, vivi uma montanha russa de emoções dentro e fora da água, o que afetou muito minha saúde mental e física. Ao final da temporada, eu estava completamente esgotado. Cheguei no meu limite. Reconhecer e admitir para mim mesmo que não estou bem vem sendo um processo muito difícil e optar por tirar um tempo para me cuidar foi talvez a decisão mais difícil que já tomei em toda a minha vida. Me questionei muito nos últimos tempos se deveria tornar isso público ou manter de forma privada, mas é justo que todos vocês que sempre torceram por mim, saibam do momento que estou enfrentando”.
Exemplos mais antigos tomaram também as manchetes de todo o mundo, como o astro do futebol norte-americano, Ross Willians, que passou toda sua carreira lutando contra o transtorno de personalidade boderline, que é um transtorno mental caracterizado por humor, comportamentos e relacionamentos instáveis. Em entrevista à Associação Americana de Ansiedade e Depressão (ADAA), o atleta relatou: “Eu tinha 23 anos, era milionário, tinha tudo e ainda assim, nunca estive mais triste na vida. Me sentia extremamente isolado de meus amigos e minha família porque não conseguia explicar a eles o que sentia. Não fazia ideia do que estava errado comigo”.
Além de Willians, o nadador e super atleta, Michael Phelps, a judoca medalhista de ouro, Rafaela Silva, a tenista ex-número 1 do mundo, Jennifer Capriati, o ginasta Diego Hypólito e o jogador de basquete da NBA, Lucas Bebe, são outros casos de atletas de alta performance que também sofreram com depressão e ansiedade, tendo se recuperado após realizarem tratamentos específicos para as doenças.
Mas, também existem casos marcantes de atletas que não venceram a batalha contra a depressão, como do ex-goleiro da seleção alemã Robert Enke. Sofrendo de ataques de pânico, sobretudo do medo de falhar, o jogador chegou a estar próximo de se internar numa clínica para reabilitação, mas evitava fazê-lo para que sua carreira não fosse encerrada precocemente. Em 2006, o goleiro ainda viveu grande fase de sua carreia como atleta do Hannover, mesmo após o trágico falecimento de sua filha, sendo considerado um dos principais goleiros do futebol alemão. No entanto, após sua morte, no ano de 2009, sua esposa revelou que seu quadro depressivo nunca havia melhorado efetivamente, sendo esse o provável motivo de seu suicídio. Numa carta deixada ainda em vida, Enke pediu desculpas à família e aos médicos por “deliberadamente levá-los a pensar que ele estava melhor”.
Para médicos e especialistas é necessário ficar atento, quando ansiedade, depressão, desequilíbrio emocional aparecem e ultrapassam o limite da normalidade, por exemplo, afetando as atividades do dia a dia, a vida familiar ou a alegria de viver, é necessário procurar ajuda, alerta o Dr. Márcio Rodin, psicólogo que tem se dedicado ao estudo dos transtornos emocionais em atletas. São dele as palavras: “Temos visto muitos atletas sendo derrotados pelas próprias ansiedades e inseguranças no mundo inteiro. É preciso notar que nem todas as pessoas estão preparadas para viver no mundo do alto rendimento comandado pelos resultados. Quem não sabe lidar com pressão, quem não sabe ouvir críticas e não consegue lidar com derrota e com cobrança, não está pronto para essa realidade. Hoje em dia temos um outro grande problema que agrava ainda mais a situação: A internet e as redes sociais. O esportista muitas vezes está mais preocupado em postar isso ou aquilo no Instagram do que no se concentrar antes de uma competição, ou aproveitar uma viagem que está fazendo sem se preocupar em comer e dormir bem. E, após os eventos esportivos, volta para o mundo virtual para ver o que as pessoas estão falando, o que normalmente gera mais ansiedade, ainda mais quando os resultados não foram os esperados, aí vem o aborrecimento e frustração. Vemos atletas justificando seus resultados nas redes sociais ou ainda postando frases de autoajuda que na verdade são para si mesmos, são formas de extravasar e gritar para o mundo inteiro que precisa de ajuda! Isso é preocupante! Quanto mais precoce for o diagnóstico e o início do tratamento com acompanhamento profissional, maiores são as chances de recuperação para esses atletas”, finaliza.
Andreia Poletti, especialista em Psicologia Hospitalar, Neuropsicologia (Avaliação e Reabilitação) pela Divisão de Psicologia do Instituto Central da Faculdade de Medicina da USP, especialista em Terapia Comportamental Cognitiva, destaca alguns sinais de quando é necessário ficar atento: É importante perceber as mudanças de comportamento e do humor, que podem envolver perda do interesse e motivação pelas atividades realizadas, descontentamento, isolamento, sentimento de culpa, de menos valia, agitação, auto/hetero agressividade, alteração no padrão do sono, falta de concentração, perda ou aumento do peso, irritabilidade, fadiga excessiva, abuso de substâncias (ingestão de álcool, drogas ou medicações), sintomas físicos que não têm correlação com problemas de saúde (palpitações, falta de ar, tontura, náusea, tremores, boca seca, formigamento, diarreia). São de Andreia as palavras: “As exigências de vitórias por parte dos treinadores, patrocinadores e até mesmo pelos familiares, as comparações desnecessárias, as expectativas irreais, podem causar estresse excessivo e crônico, desencadeando os problemas e transtornos emocionais. A mídia acaba influenciando também, pois em um momento faz do atleta um ídolo e no outro não o coloca mais em evidência. Há necessidade de um trabalho psicoeducativo com os treinadores, familiares, para desmistificar a ideia do super-herói e também para sensibilizá-los a respeito do impacto dessas exigências no estado emocional do atleta. Também precisamos falar mais sobre saúde e doença mental. O fato de Simone Biles, Gabriel Medina e outros terem deixado em evidência suas dificuldades psicológicas pode ser um gatilho para que outros atletas, que estão passando pelos mesmos problemas, se sintam seguros para falarem sobre suas vulnerabilidades. Acredito que muito mais do que saber identificar e tratar as diversas manifestações de desordens emocionais, precisamos também investir na prevenção. Nestas duas esferas, a inclusão de profissionais da área da saúde mental na área do esporte, como parte da equipe, é fundamental. É importante identificar as dificuldades na fase aguda antes que se tornem problemas crônicos. O adoecimento mental pode se tornar incapacitante e trazer repercussões catastróficas em outras esferas da vida do atleta também. Isolar o corpo da mente não é um caminho ajustado para a qualidade de vida de todos os envolvidos”, conclui.
Em 2016, foi publicado um estudo no Frontiers in Psychology, que mostra que a depressão costuma ser maior em atletas que praticam esportes individuais do que naqueles que disputam competições em equipe. Outra análise, publicada em 2018 pelo European Journal of Sport Science, após acompanhamento pelo período de um ano de atletas de elite, indicou que transtornos de saúde mental ocorreram em 35% destes esportistas.
O Portal Breaking World conversou com a ex-atleta de patinação Mayra Ramos, que fundou em 2016 a plataforma “Atleta Campeão”. Em 2020, o trabalho se tornou a maior academia de treinamento mental de atletas do Brasil, sendo também uma das maiores do mundo. Ela conta que o Atleta Campeão nasceu das várias dores que teve na própria vida como atleta: “Eu comecei muito cedo na patinação, a patinação é um esporte onde os atletas começam mais cedo e param mais cedo. Comecei com 6 anos, com 7 já foi minha primeira competição. Com 8 eu ganhei o meu primeiro campeonato paulista e brasileiro pré-mirim, com 10 anos eu fui convocada para o sul-americano infantil, foi a minha primeira competição internacional. Com 13 anos, eu fui para a categoria júnior e aí eu tive a minha primeira convocação para o mundial, competindo com meninas de 18 anos, onde eu fui muito bem. No ano seguinte, a expectativa toda estava em cima de mim e aí eu não consegui a vaga para o mundial do ano seguinte e ali eu percebi o quanto o treinamento mental faria diferença na minha vida. E aí treinei bastante para no outro ano conseguir a vaga e retomei o posto de “a melhor do Brasil”. Uma característica minha era que eu ia muito bem nos campeonatos brasileiros, mas em competições internacionais eu me sentia muito ansiosa, nervosa, inferior mesmo! Eu competia sempre com meninas da Europa avançadas e tinha aquela coisa que o Brasil não era respeitado, então, eu tive que conquistar o meu espaço e essa era a minha busca de me entender, de entender porque eu ia bem no Brasil, mas fora não. E, em 2004, eu era uma favorita para ganhar o mundial e eu acabei perdendo para eu mesma, para a minha fraqueza de não conseguir lidar com a pressão. E ali eu me lesionei. E ali eu tomei uma decisão: ou eu parava ou mudava a minha forma de treinar. Aí eu comecei a buscar respostas, por que as estrangeiras iam bem e eu não? Era frustrante ir para fora e não render nem 50% do que eu rendia nos treinos, perder de pessoas que eram tecnicamente inferiores. Eu sabia fazer as coisas, mas chegava na hora eu não conseguia. Eu treinava 5 horas por dia com os patins nos pés, eu fazia preparo físico também, mas até os meus 15 anos não existia um trabalho mental. O trabalho mental começou depois de 2004, ano que eu tive uma lesão séria na coluna, que eu comecei a buscar nos livros esse preparo mental e nas biografias de outros atletas. Eu ficava muito frustrada quando perdia, nunca gostei de perder, mas eu nunca desisti por causa disso. Então, comecei a buscar técnicas e ferramentas que me ajudassem mentalmente. Comecei a entender mais de respiração, sobre a mente e aí cheguei ao mundial preparada física e emocionalmente, e ali eu bati o recorde que até hoje não foi ultrapassado, ficando entre as 5 melhores do mundo em 2005 na categoria do sênior livre individual, que é considerada a categoria mais difícil da patinação. Quando eu conquistei títulos internacionais, aí sim, era uma sensação de dever cumprido, de ver todo o esforço valendo a pena, é uma sensação que não existe nada que se compara. Hoje, eu tenho uma empresa, tenho muitas alegrias na minha empresa, mas nenhuma vitória como executiva é maior do que subir no topo do pódio. É algo inigualável!”
Como os transtornos abalam os atletas de alto rendimento? E onde procurar ajuda?
Mayra explica que, quando um atleta chega ao ponto de falar: “Chega! Eu não aguento mais!”, é porque não é feito desde o início um trabalho de inteligência emocional, afirma que esse hábito não é cultural, principalmente no Brasil. Explica: “Para saber lidar com o nervosismo, com a ansiedade e ter isso como uma ferramenta diária é muito difícil. Pois estamos falando de jovens que têm que lidar com situações muito difíceis, estressantes e que não foram preparados para isso, então, se na fase adulta já sofremos com isso, imagina um atleta que muitas vezes é uma criança com 12, 13 anos, que enfrenta cobrança de treinadores, de pais, na verdade é um despreparo que acontece. Ela explica: “Então, esse preparo tem que estar junto com o preparo físico do atleta, principalmente de um atleta que tem grande repercussão na mídia, como é o caso da Simone, do Gabriel e de muitos outros, que ainda tem o fator de redes sociais, onde todo mundo vai opinar sobre o seu desempenho e treinamento, sobre seus resultados, sobre os seus relacionamentos e o cérebro não foi preparado para isso, com essa enxurrada de opiniões das outras pessoas ao nosso respeito, então, o que acontece é um colapso: ou a pessoa para ou a pessoa não sobrevive, é algo bem complexo. Outra questão é a aproximação do fim da carreira, um atleta não sabe como parar. Ele tem medo de parar. Muitos empurram com a barriga até ter uma lesão e ter que parar. Nessa situação, é legal falar que existe uma nova profissão, que é ser um treinador mental de atletas. É um trabalho educativo! Trabalhamos a performance e muitos ex-atletas estão entrando nessa área”.
“As pessoas estão se atentando agora para essas questões, depois de 2 anos de pandemia, sem competições, muitos atletas entrando em depressão, tendo crises de ansiedade por causa do isolamento social, sem contar o tempo que se passa nas redes sociais ao invés de comemorarem a vitória ou lamentar a derrota, eles vão para as redes sociais para saber o que falaram. E isso está sendo tema de toda a imprensa, esse abalo mental dos atletas. Fazer um trabalho educativo de conscientização, para que tanto os técnicos quanto os líderes das equipes, das Crews e os atletas entendam o quanto que é importante o treinamento mental. Tanto, que eu criei um grupo de líderes, que é para educar técnicos, pais de atletas e atletas. Esse primeiro encontro é gratuito, para educar, não é uma palestra chata, é algo dinâmico para que o atleta sinta que é legal. É necessário se conectar com os atletas e com os treinadores! E aplicar técnicas para desenvolver a inteligência emocional e os pais, na minha visão, são parte do time, então, eles não devem nunca ficar de fora, eles precisam participar. Meu trabalho é fazer os atletas se sentirem mais confiantes, saber lidar com as pressões, para que eles consigam bons resultados. Temos cursos, treinamentos e atendimentos para atletas de todas as idades e modalidades. Temos também para técnicos e coach, são cursos para entender a parte mental e comportamental dos atletas e temos também para os pais. O atendimento fazemos individual e em grupo, tem uma variedade de cursos que oferecemos, hoje são 34 cursos para atletas, treinadores, pais e coach esportivo. Agora, nós temos 12 lideres espalhados pelo Brasil e Europa e nós fazemos palestras para equipe, essa primeira palestra é gratuita e nós vamos até a equipe para falar um pouco sobre o treinamento mental, dar a primeira assistência às equipes, aos times e às Crews. É a forma que encontramos de popularizar o treinamento mental que ainda é algo novo na cabeça das pessoas, mas fundamental”, conclui.
Os casos relatados acima e as dicas são valiosos para qualquer atleta de alto rendimento, que pretende se equilibrar, ter o controle de suas emoções e atitudes, fazer boas escolhas, treinar inteligente, saindo da zona de conforto para alcançar resultados maiores e mais satisfatórios. No Breaking, que sempre foi e será um dos elementos da Cultura Hip-Hop e que agora é a nova modalidade olímpica de Paris 2024, onde alguns B-Boys e B-Girls escolheram também se tornar atletas, o despertar para essa realidade se torna algo fundamental. “Trabalhar a mente é muito importante”, essa é a opinião da B-Girl Miwa Kozuma, que só no Breaking tem mais de 23 anos e foi uma das primeiras B-Girls brasileiras a competir e ser jurada em eventos internacionais. São dela as palavras: “O preparo mental é necessário! Tomei conhecimento disso depois que eu não era mais competidora. Acho muito importante falar sobre isso, eu sempre que posso trabalho essa questão nas minhas lives e nas minhas falas e workshops. No passado, eu sem ter muito conhecimento fazia meu próprio preparo mental, principalmente nas competições e eu acredito muito que o desempenho de cada B-Boy e B-Girl dentro de uma competição tenha muito a ver com a condição psicológica em que cada um se encontra. Muita gente treina demais e na hora da competição não consegue rachar direito. Inclusive, uma das minhas maiores estratégias para ganhar campeonato era trabalhar isso e mexer com o psicológico dos oponentes. A primeira vez que eu competi num mundial, numa dupla de B-Girls, não tive um bom desempenho por estar muito nervosa, não estava preparada psicologicamente. Era a primeira dupla de B-Girls brasileiras a competir num mundial, era uma responsabilidade muito grande representar um país e eu senti uma pressão muito forte, foi muito difícil, eu fui péssima, mas foquei no lado positivo de aprendizado e no ano seguinte eu voltei outra pessoa, rachando com todo mundo, estava segura, preparada e isso fez toda a diferença. Eu nunca tive depressão, mas tive crise de ansiedade devido a um trabalho que eu fazia numa ONG, onde fui abusada moralmente sem perceber, então, eu chorava muito e era instável nos meus sentimentos. Por isso eu acho tão importante o cuidado da mente, eu faço terapia há quase 10 anos e é o que tem me ajudado. Muita gente não prioriza a mente como algo importante e foca apenas na parte física, isso é um erro! Trabalhar a mente é algo fundamental, acho que nunca se priorizou isso e nunca foi visto a importância disso, a maior prova foram os recentes acontecimentos nas Olimpíadas com a Simone Biles, a própria Daiane dos Santos, que recentemente falou sobre isso, então, é uma tendência que as pessoas olhem mais para si próprias e cuidem mais da saúde mental.”
Saber controlar as emoções não é uma tarefa fácil. Cada vez mais, o mercado e os profissionais que trabalham com esportistas (técnicos, treinadores, preparadores físicos, coaches, etc.), têm voltado sua atenção e seus esforços para uma das mais importantes ferramentas de sucesso de um atleta: o treinamento da mente. Em uma época em que o vencedor é decidido por detalhes, a cabeça é uma das maiores aliadas dos atletas. É a mente que controla a ansiedade, medo e fortalece a confiança daquele jogador que, por exemplo, está caminhando para a marca do pênalti em uma partida decisiva, do tenista que está prestes a sacar antes de um match-point, do jogador de basquete que está a segundos de fazer seu arremesso de lance-livre. Ou de um B-Boy ou uma B-Girl que está na final de um mundial e precisa apresentar os melhores e precisos movimentos, a mais limpa e diferente session, a musicalidade impecável e a originalidade para ganhar os votos dos jurados.
É a mente saudável, equilibrada e preparada que oferece os recursos (força mental, habilidade de concentração) de que o atleta precisa para alcançar seu desempenho máximo e atingir seus objetivos profissionais, sejam eles individuais ou do grupo. Também, nunca perca o amor pelo que você gosta de fazer, é o que que te faz prosseguir! Muitas vezes reconhecer suas fragilidades e pedir ajuda é uma necessidade para ir longe! Ainda mais no meio esportivo, onde tudo funciona em cima de resultados que são cobrados a toda hora e por todos. Se você escolheu esse caminho e deseja ser um atleta espetacular eternizado na história, precisa se preparar como tal. O sucesso está atrelado não ao dom ou ao talento, mas aos treinos. Treino mental, treino emocional e o treino físico juntos são iguais a um treino inteligente de um atleta vencedor! Então, o que está esperando? Coloque tudo isso em prática na sua vida e colha os resultados!
Imagem em destaque: Fotomontagem Breaking World
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