“Eu percebi que o Brasil não me oferecia muita coisa e resolvi me projetar para fora, onde a minha arte é mais valorizada! ” (B-Boy Neguin)
Ele é de Cascavel, Paraná, mas hoje mora em New York e se considera um mensageiro da Cultura Hip-Hop e da arte. Com 33 anos, é considerado um dos melhores B-Boys do mundo. Conhece mais de 141 países e já participou de mais de 100 campeonatos internacionais, sendo o único latino-americano e brasileiro a conquistar o cinturão de campeão da Red Bull BC One. Também coleciona outros títulos, destaque para: UBC Championship em Las Vegas, Unbreakable, Freestyle Session e Outbreak Europe. Foram vários mundiais 1 vs 1, onde foi o único brasileiro a alcançar esses títulos até hoje. Trabalhou com grandes nomes internacionais como Fergie, Gwen Stefani, Sean Paul, Justin Timberlake, Paul McCartney e Missy Elliot. Estamos falando de Fabiano Carvalho Lopes, mais conhecido na cena e no resto do mundo como Neguin. O nosso Neguin do Brasil! O Portal Breaking World bateu um papo com ele e hoje apresentamos com exclusividade para vocês:
BW: Queria que você falasse como foi sua infância. O que gostava de fazer quando criança e que lembranças tem dessa época? Foram tempos difíceis ou tranquilos?
Neguin: Minha história começa em Cascavel, no Paraná, eu comecei na capoeira aos três anos de idade. E, depois de 10 anos praticando capoeira, me interessei em aprender uma cultura diferente, então, eu despertei o interesse e comecei a praticar a Cultura Hip-Hop. Eu pratiquei todos os elementos da Cultura Hip-Hop, mas o que eu mais me destaquei foi o Breaking, devido eu já ter toda essa filosofia e conhecimento da capoeira. Então, eu mesclei as duas artes que englobam várias artes em uma só e a partir dali dei início a uma nova trajetória dentro da Capoeira e do Breaking, onde sou reconhecido mundialmente hoje. Mas, nesse período de criança, da infância, eu me envolvi também com outras atividades, o skate, o jiu-jitsu, sempre me envolvi com artes, pinturas. Sempre fui um menino voltado a aprender coisas novas que me inspiravam artisticamente. Sim, foram tempos difíceis devido ao nosso país não proporcionar apoio e nada, eu vim de família super humilde, que sempre apoiaram a minha arte, mas financeiramente sempre houve um obstáculo de viajar, ir para outros estados para poder competir, mas foi uma infância muito saudável, curti muito e ainda curto. Hoje estou com 33 anos, mas eu ainda me sinto aquele moleque de 13…
Mesclando capoeira e jiu-jitsu ao Breaking, ele se tornou um dançarino completo e conquistou o mundo
BW: Quando você disse: “É isso que eu quero para minha vida”? A capoeira, o jiu-jitsu vieram antes da paixão pela dança?
Neguin: Foi quando eu terminei o ensino médio e a capoeira e o jiu-jitsu chegaram antes do Breaking, sim. Eu terminei o ensino médio, comecei a trabalhar, eu teria a capacidade de ser um gerente numa empresa mas não foi isso que eu escolhi, pois a minha arte sempre falou mais forte e eu me joguei, peguei a primeira oportunidade e saí para fora do país, como competidor de Breaking e aproveitei essa oportunidade e me destaquei, a partir dali eu já fiz o meu cartão de visita, as pessoas identificaram o meu talento e eu comecei a viajar para outros países, em princípio para competir e, obviamente, eu comecei a ministrar palestras, workshops e tal, e surgiram outras coisas como Cirque du Soleil, comecei a trabalhar com a Madonna e minha carreira teve uma projeção rápida, ainda nos meus 19 e 20 anos.
BW: Verdade que você sofreu grandes influências dos seus irmãos que dançavam e faziam ensaios em casa? O que eles dançavam? Nos fale um pouco dessa convivência com os irmãos e como passou a entender a dinâmica da música e da dança?
Neguin: Sim, os meus irmãos dançavam o estilo deles de “club”, os “flashbacks” e foi minha irmã que me introduziu na capoeira. A minha família sempre me inspirou na arte, mas o estilo de dança deles era de passinho e tal, mas o que me influenciou bastante foram as músicas que eles escutavam na época. Escutavam flashbacks e as músicas mais clássicas e obviamente passando pelo Techno e música eletrônica. Eu cresci ouvindo música eletrônica e mesmo quando eu comecei a praticar o Breaking eu ia também nas festas raves, então, a música eletrônica sempre esteve presente dentro do meu estilo.
BW: Nos fale um pouco sobre inspirações… houve pessoas que te inspiraram na dança? Queria que você falasse também da fusão de Breaking, capoeira, movimentos acrobáticos, jiu-jitsu. No Breaking houve movimentos mais difíceis de aprender ou você sempre teve facilidade em todos?
Neguin: As inspirações, como qualquer arte que você aprende no início, lógico que tem várias inspirações, várias pessoas que são referência na modalidade, então, as minhas maiores inspirações foram vários dançarinos. Ken Swift, K-Mel, os membros da minha equipe, Pelezinho, antes de o conhecer eu já admirava bastante o trabalho dele e a minha mesclagem com a capoeira é um complemento, toda movimentação da capoeira introduzida no Breaking é uma característica minha e vice-versa e o Breaking sim, tem o grau de dificuldade mais difícil que a capoeira, mas um complementa o outro e a dedicação em cada movimento e cada etapa dentro do que você pratica acaba se adaptando e desenvolvendo uma movimentação nova. Enfim, um complementa o outro.
141 países, mais de 80 competições internacionais, vários títulos mundiais: este é o Neguin do Brasil!
BW: Fale dos principais eventos que participou e que foram especiais para você?
Neguin: Eu participei de mais de 100 campeonatos internacionais, eu sou o único latino-americano, o único brasileiro a ser campeão mundial do Red Bull BC One, eu sou o campeão de 2010, também ganhei outro mundial chamado UBC Championship, em Las Vegas e ainda Unbreakable, Freestyle Session e Outbreak Europe. Foram vários mundiais 1 vs 1, eu fui o único brasileiro a alcançar esses títulos. No Brasil, participei de vários também menores, mas o início da minha carreira como competidor já me destaquei mais nos eventos internacionais, então, uma vez que eu entrei no circuito internacional, as batalhas foram em todos os continentes e eu já viajei a 141 países e dentro desse número, pelo menos nuns 80 eu estive competindo.
BW: Neguin, viver da dança é um desafio? Recentemente vi um depoimento seu onde dizia que você conheceu o mundo através da dança e da Cultura Hip-Hop. Que dicas você dá para quem pretende viver da dança?
Neguin: Sempre será um desafio como artista ter obstáculos a serem enfrentados. Primeiramente, você tem que acreditar na sua arte, ser bom naquilo que você faz, se dedicar, porque nada na vida vem fácil, é muita dedicação, muita disciplina e é preciso ter foco, ser focado nessa arte e ver o que o mundo te oferece para facilitar esse espaço para você, no meu caso era sempre difícil, mas eu pensava “eu vou me preparar para quando rolar a oportunidade eu estar pronto, então, o que vou precisar? Vou precisar do e-mail? Vou! Vou precisar falar inglês? Opa, não falo inglês, então, vou praticar inglês, não vou ficar no Facebook falando com as garotinhas. Eu vou afiar o meu inglês para que eu esteja preparado para viajar para o exterior”. Então, é uma questão de preparação! Falar inglês, estudar a sua arte! Ter todo o conhecimento para investir na sua arte, no seu talento, aproveitando as oportunidades que virão e a partir dali ter o que chamamos de sucesso! Para chegar no sucesso, precisa valorizar a sua arte e estudar muito!
BW: Atualmente, onde você mora? Como foi sair da sua terra e viver em outro país, com outro idioma e outros costumes? Como foi essa transição e adaptação?
Neguin: Atualmente, eu moro em New York, essa cidade sempre foi a minha base, eu morei na Califórnia um tempo, mas atualmente eu moro em New York. Com as viagens que eu fazia como competidor, através das minhas viagens com a dança, com a capoeira e o jiu-jitsu, eu percebi que era o lugar que eu me identifico muito, é um local onde as oportunidades estão aqui para tentar! Tanto New York como São Paulo não é nada fácil, é o mesmo perrengue e a mesma correria, porém, eu sempre gostei da Cultura Hip-Hop e como nasceu lá e a Cultura House Dance no contexto geral, New York despertou essa minha possibilidade de viver lá, então, me projetei para viver naquele local e já tem 12 anos que moro lá. Não me lembro muito das dificuldades do início, mas olha, eu não olhei para trás não! Eu percebi que o Brasil não me oferecia muita coisa e resolvi me projetar para fora, onde a minha arte é mais valorizada!
A busca pela valorização de sua arte o levou para fora do Brasil
BW: Parece que você conseguiu rapidamente se conectar com as pessoas certas, trabalhando com celebridades como Madonna, Fergie, Gwen Stefani, Sean Paul, Justin Timberlake, Paul McCartney and Missy Elliot. Nos conta como tudo aconteceu?
Neguin: O meu talento sempre se destacou de uma certa forma, as redes sociais também, a internet facilita esse traslado, o network com as pessoas que eu conheci. Eu já estava morando em New York quando a Madonna assistiu um vídeo que mostraram para ela e ela ficou sabendo que eu estava em New York, ela foi no clube onde eu estava e falou: “eu quero ir lá ver quem é esse cara e vou conhecê-lo”. Na verdade, a Madonna foi até uma festa onde eu estava dançando em pessoa, você vê como em New York tem uma realidade bem diferente, a celebridade, a ícone da música pop chegou lá na festa, como uma cidadã comum, né? Ninguém olhou para ela como celebridade e a partir dali eu comecei a trabalhar com ela, aí a história vai muito mais a fundo. O meu network sempre foi voltado a estar em lugares e representar bem quem eu sou, representar a minha imagem, representar o Brasil, eu acho que isso reflete em todos os meios, seja num show, seja num vídeo. Seja na rede social.
BW: Falando especificamente da Madonna, nos conte sobre o tempo que dançou e trabalhou com a Rainha do Pop. Como foi essa oportunidade e o que lembra desse período?
Neguin: Eu conheci a Madonna em 2009, então, eu fiquei de 2009 até 2014, foram 5 anos, eu desenvolvi trabalhos com ela como performance, como coreógrafo nas turnês e acabei também ficando com ela! Eu tive um “affair” com ela também, durante um ano, poucas pessoas sabem disso, mas aconteceu, foi uma coisa bem saudável, um relacionamento saudável, teve toda a dinâmica, a gente ainda conversa, ultimamente pouco, faz muitos anos que não nos vemos, mas sempre trocamos ideia pela internet, mas foram 5 anos de trabalho e tive essa experiência muito legal.
Neguin e Madonna (ao centro): 5 anos de trabalho e 1 ano de “affair” com a Rainha do Pop
BW: E o Cirque du Soleil? Fale como surgiu o convite e como foi essa experiência?
Neguin: O Cirque du Soleil desenvolvo trabalhos com eles desde 2008, mas eu sempre trabalhei com eles num formato de fazer shows de viagens e turnês e não num lugar fixo em Las Vegas, então, sempre fiz shows em Andorra, na Europa, no México onde eles me chamavam. Aí eu ia fazia um mês, às vezes ou uma semana. Ou shows específicos numa reunião ou num evento, então, eu sempre trabalhei em turnê com o Cirque du Soleil. Isso aconteceu em 2010, 2014, 2016, ou seja, sempre estou fazendo shows com eles. Então, o meu relacionamento é desde 2008!
BW: Em 2010, como você mesmo falou, você foi o único latino-americano, único brasileiro a vencer o Red Bull BC One, que é um dos maiores campeonatos 1vs 1 do mundo. E as pessoas o têm como referência. O que na sua opinião foi determinante para esse sucesso?
Neguin: A diferença é nítida, se eu cheguei lá é porque eu sou autêntico através da minha arte de representar quem eu sou e o que eu aprendi, nesse caso, a capoeira misturando e tendo uma identidade específica, não sendo igual a todos. Eu não sou que nem o europeu, asiático ou americano. Eu tenho características brasileiras! Afrodescendente, toda a mistura que o Brasil nos oferece, então, isso caracterizou muito o meu estilo, o meu talento. E seu eu cheguei lá foi porquê eu busquei isso! Eu passei as dificuldades, superei todos os obstáculos e foquei naquilo, o foco e a disciplina ajudaram que eu alcançasse o que alcancei. Então, se eu consegui, qualquer um pode conseguir também! Basta ter esses princípios para ser autêntico, original e ter foco e força na disciplina!
Campeão da Red Bull BC One 2010: único latino-americano a conquistar o mais cobiçado título da categoria
BW: Bom, atualmente o assunto que mais se fala aqui no Brasil entre B-Boys e B-Girls é o fato do Breaking ter entrado para os Jogos Olímpicos. O que acha sobre isso? Na sua opinião temos B-Boys e B-Girls preparados para competir de igual para igual com outros países e trazer uma medalha olímpica para o Brasil? O que acha do nível dos nossos B-Boys e B-Girls atualmente?
Neguin: Essa é uma conquista extremamente importante, não que o Breaking precise das Olimpíadas, mas com certeza nessa nova plataforma, que são os jogos olímpicos, isso vai fazer com que as pessoas que não conhecem o Breaking vão ter uma visão de conhecer um pouco mais, então, isso veio para somar. Referente ao Brasil, somos um dos povos mais reconhecidos no circuito mundial, eu acredito que os brasileiros têm sim um grande potencial de trazer medalhas e representar mas vai ter que correr atrás, bastante, porque têm outros países que já são maiores potências, ter mais disciplina, ter mais apoio. Tipo a Rússia, a China e, então, para os brasileiros, acho que vão precisar continuar praticando e estudando, ter todo esse lado de ajuda, de tentar ajudar o país o melhor possível com toda a minha bagagem como competidor, mas é isso… As Olimpíadas eu apoio totalmente, porque o Breaking não é um esporte apenas, é uma cultura, mas também somos atletas, querendo ou não, então, seja um campeonato da Red Bull BC One, seja nas Olimpíadas ou numa batalha da esquina o Breaking vai estar presente em todas as plataformas e torcemos para que os brasileiros tenham grande destaque e nos representem bem e esperamos também que o Brasil apoie um pouco mais seus competidores, seus atletas! Vamos ver o que rola…
BW: Para finalizar, queria que falasse sobre o Programa da MTV “De férias com o Ex” que participou recentemente. Foi desafiador?
Neguin: A participação veio através de um convite logo em novembro, e eu resolvi participar porque eu não estou viajando muito, então, estou disponível e usei o programa como uma forma de experiência nova para mim e ao mesmo tempo representar o que eu faço dentro de um ambiente que é bem diferente do que eu faço, então, entrei lá como atleta e toda a minha vida, style, que tem esse lado de curtição, foi uma experiência muito boa para mim e vamos ver agora como vai ser, eles vão lançar essa semana, por ser um programa editado espero que a repercussão da minha imagem seja bem positiva e que tragam novos públicos e pessoas que não me conheciam e passem a me conhecer vendo o que faço artisticamente.
BW: Que mensagem você deixaria para todos os B-Boys e B-Girls que curtem o seu trabalho?
Neguin: A mensagem que eu deixaria é gratidão! Eu tento sempre inspirar essas pessoas e cada um ensina um (risos), então, eu acho que se eu posso inspirar milhares de pessoas, que as pessoas que se inspiram em mim possam fazer o mesmo! A minha mensagem é que estamos todos num mesmo barco, somos todos mensageiros da arte e da Cultura! Abraço a todos!
Fotos: Arquivo Pessoal
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Hoje é comemorado o Dia do Breaking, em São Paulo, o dia foi criado pelo vereador Milton Ferreira (Podemos) em 2017, por meio da PL 253, promulgada a Lei 16.753, de 13/11/2017.
Mas o Breaking vem muito antes disso… é um elemento da Cultura Hip-Hop que nasceu no Bronx, em Nova Iorque, com os fundadores da dança, na década de 70. Era algo que aparecia nas festas. A palavra “B-Boying” significa a manifestação corporal do Hip-Hop. Não eram só os pés, mãos em movimento, eram usadas todas as partes do corpo. Cabeça, pescoço, mas intelecto e também caráter.
O Breaking nunca foi moda, mas uma arte legítima!
Os B-Boys comiam, bebiam, respiravam e pensavam “B-Boying”. Toda vez que se escutava “Sex Machine”, “Just Begun”, “Apache”, que era hino, era possível ver a música ser sentida nos corpos, fazendo esses meninos dançarem, tratava-se de algo mágico, que apenas a música e sua energia faz com as pessoas. Na verdade, foi a música que fez desenvolver todos os estilos e movimentos. O Breaking é Hip-Hop puro!
Ken Swift uma vez disse: “O Breaking começou com uns poucos irmãos e irmãs que não se importavam com o que as pessoas pensariam de seus movimentos”. Eram meninos sem dinheiro, que moravam nos guetos, no meio do ambiente urbano. Nas festas, a pessoa entrava fazendo pose, depois descia ao chão. E se os movimentos fossem bons, se formava uma roda em volta para que outro pudesse também entrar e desafiar o mano na dança. A palavra B-Boy veio de Kool Herc, deveria ter representado o Bronx, na verdade era “Breaking Boys”. Quando a galera estava “Breaking” nas festas, significava que estavam procurando confusão, eram “Breaking Boys” e “Breaking Girls”. Breaking vem da terminologia de rua. A pergunta: “Por que você está Breaking?”, significava “Por que você está fazendo coisas fora do normal?”. Estar zangado era estar “Breaking”, ou seja, nos dias de hoje seria “estar bravo, estar chutando o balde!”. Essa se tornou uma expressão oficial quando Kool Herc usou. Os B-Boys eram “os meninos que quebravam” e as B-Girls eram “as meninas que quebravam”, não tinha nenhuma ligação e não veio dos breaks no disco, como muitos pensam. Esses meninos e meninas desciam até o chão e giravam, foram os primeiros a fazer isso. Alguns chegavam nas festas com charutos e casacos compridos: eles arrebentavam! Dançavam em cima de cimento.
Desde a criação do Breaking, a dança possibilitou que muitos jovens se distanciassem da violência, juntando-se em Crews para dançar e trocar vivências. Quando chegou ao Brasil na década de 1980, não foi diferente. Muitos encontraram no Breaking motivações e objetivos para tocar a vida! Muitos saíram da droga e da marginalidade graças ao Breaking! O Breaking sempre representou vida! 51 anos depois do início do movimento, muita coisa mudou sim, no dia 4 de dezembro de 2020, o Comitê Olímpico Internacional (COI) confirmou a inclusão do Breaking no programa dos Jogos Olímpicos de Paris-2024. Novos ventos parecem soprar nas rodas de Breaking, mas a essência deve continuar!
O Portal Breaking World, para comemorar esse dia, destaca nesta matéria com orgulho alguns nomes de B-Boys e B-Girls que levaram no passado e continuam levando o nome do nosso país para os quatro cantos do mundo. Desejamos a todos os B-Boys e B-Girls de todas as gerações muita luz e muita dança! Confiram:
Pelezinho: O nome que consta na certidão de nascimento é Alex José Gomes Eduardo, ele não poderia ser mais brasileiro. Nasceu numa família alegre de sambistas e capoeiristas em São José do Rio Preto, interior de São Paulo. Da infância guarda boas lembranças das feijoadas e dos churrascos em família. Criado pela avó, matriarca da família, o menino que não tinha tênis, mas que desde pequeno já mostrava habilidades diferentes e muito especiais, a famosa estrelinha no meio da testa que alguns carregam para esse mundo, filho de mestre de capoeira era bom nos movimentos do corpo e também no futebol, por isso recebeu o apelido de “Pelezinho”, mas seu destino não foi escrito num campo de futebol e nem jogando capoeira, mas sim nas ruas. As rodas que frequentava eram outras, as de Breaking, onde sua grandeza foi reconhecida e conquistada, sendo ponte para o resto do mundo. Foi o primeiro brasileiro a participar da competição que em poucos anos se firmaria como uma das maiores de Breaking do planeta, o Red Bull BC One. Pelezinho agarrou firme a chance e teve seu talento reconhecido internacionalmente. Hoje, é membro da Red Bull BC One All Stars, equipe internacional composta por artistas e dançarinos que representam os melhores da cena. Atualmente fora das competições, continua comprometido com o Breaking pelo resto da vida, ele sempre lembra: “O Breaking mudou a minha vida e pode mudar de muitas pessoas”.
Kokada: Maurício Araújo de Souza, conhecido na cena Hip-Hop como B-Boy Kokada morreu aos 35 anos, no dia 21 de dezembro de 2012. Um dos mais talentosos B-Boys que o Brasil já teve. “Mr. Kokada”, como também era conhecido, começou a dançar em 1993 na Estação São Bento, participou de vários campeonatos nacionais e internacionais. Durante os 16 anos atuando na cena B-Boying, ficou conhecido não só no Brasil, como também em todo o mundo. Kokada também era MC e integrante da Tsunami All Stars Crew. Conhecido como “Mestre do Power Move Brasileiro”, Kokada possui um currículo invejável e era considerado o primeiro B-Boy a ganhar fama mundial antes do YouTube, além de ser lembrado por sua habilidade de realizar movimentos para ambos os lados, cujo grau de dificuldade o tornava ainda mais único. De personalidade forte, impactou a cena com a sua presença.
Neguin: Neguin nasceu e foi criado no Paraná. Durante sua infância, foi influenciado pela capoeira, música e artes e acabou apaixonado pela dança. Atualmente, além de fazer parte do time da Red Bull BC One All-Stars, ele é o único latino-americano com o título de campeão mundial e o dançarino que mais carrega títulos em competições internacionais como Red Bull BC One, UBC Championship, Unbreakable, Freestyle Session, Outbreak Europe e outros.
Luka: Ele nasceu no bairro do Tatuapé, mas sua infância foi na Vila Curuçá, em São Miguel Paulista. Seu sonho, como a maioria dos meninos brasileiros, era ser jogador de futebol, sempre incentivado pela família. Começou a jogar com apenas 4 anos. Depois, conheceu a capoeira, onde no primeiro dia se identificou, sentindo-se em casa e livre. Durante anos, jogava futebol e fazia capoeira. Mas foi em 2006, com apenas 12 anos, que mergulhou de corpo e alma no Breaking. Sua evolução foi rápida! Foi o futebol e a capoeira que lhe deram a base para tudo, confessa que sem eles não teria a dedicação e foco que tem hoje. Foram nessas artes que aprendeu a ser persistente, paciente e dedicado. Os primeiros passos de Breaking deu na própria sala da casa onde morava, vendo um DVD da Red Bull BC One, onde tentava copiar os movimentos, o pai também tinha coleção de discos em casa, cresceu escutando alguns clássicos do Hip-Hop, a música sempre foi presente em sua vida. O menino ganhou idade, conquistou seu espaço, aprendeu a dançar no meio da pressão e sobreviver às críticas, resolveu viver sua própria vida, da sua forma e aprendeu que o segredo sempre foi focar no presente, no agora, plantar as sementes para colher no futuro com muita paciência e dedicação. Recebeu influência de grandes nomes do Breaking e participou de vários eventos naturais e internacionais. Em 2014, assinou o contrato com o Cirque de Soleil e foi morar fora do pais, onde tem se destacado. São de Lukas as palavras: “No Cirque eu tive essa oportunidade, de poder acordar todos os dias e fazer o que mais amo. Treinar, dançar e inspirar as pessoas. No show, todos nós artistas, através da sua especialidade, inspiramos o público a viver a vida com amor e que tudo vai melhorar. Sobre o Breaking, atualmente vem fazendo parte de empresas e eventos grandes, procurem se valorizar e entender o business por trás dos eventos e trabalhos. Como se comportar, aprender a falar outras línguas, principalmente o inglês. Se hoje o B-Boy brasileiro tem uma oportunidade, tem que saber conversar e negociar. Muitos da nova geração têm o sonho de viver de eventos e batalha, mas não podem esquecer que temos outros caminhos e oportunidades para viver e se expressar através da dança. Cada dia mais estamos evoluindo, o mundo está em constante crescimento, novos talentos e oportunidades. Precisamos acompanhar esse processo de mudança. Quem acompanhar essa evolução, não só do movimento, mas da cultura em si, são aqueles que irão colher bons frutos. A nossa ação precisa ser aplicada no nosso momento presente, no agora. Não adianta querer ser um bom B-Boy ou B-Girl, ser campeão, fazer parte de grandes eventos e projetos, se não estiver preparando e vivendo o dia-a-dia. Não vamos esquecer o poder de cura e mudança de vida que a nossa dança pode trazer na vida das pessoas, como inspiração. Quando dançar, mostre o seu espírito em sua maneira única. Não coloque rótulos na sua dança, pois dançar é infinito e cada movimento é uma nota na música. Repare que quando você dança de mente livre, você entra na zona e em uma dimensão diferente. Essa é sua essência e verdade. Busquem isso e sigam a sua jornada, sem olhar pra trás. O que passou, passou. Continuem evoluindo, estudando e vivendo”.
FabGirl: Ela começou a dançar aos 18 anos e enfrentou o machismo inerente à cena, abrindo caminhos que permitiram que essa revolução feminina acontecesse no País. “É mais uma conquista de muita resistência e luta”, diz Fab. As primeiras referências de dança da FabGirl vieram da televisão. “Quando eu era novinha, eu gostava de Jennifer Lopez, Madonna e Beyoncé, queria dançar aquelas coreografias”, lembra. Mas o que fez FabGirl se apaixonar mesmo pela dança foi ver uma B-Girl de seu bairro dançando. “Fiquei encantada, nunca tinha imaginado uma mulher fazendo aquilo”. No dia seguinte, FabGirl foi a um ensaio de Breaking e pediu para os caras lhe ensinarem alguns passos. “Eles me falaram que Breaking não era dança de mulher”, relembra a B-Girl. “Foi sempre difícil esse espaço dentro da cena”. FabGirl não se deixou abalar e, em 2003, criou a BSBGirls, primeira crew do Distrito Federal formada só por mulheres. Além de liderar o grupo, a dançarina, coreógrafa e pesquisadora se destacou pelos vários títulos conquistados, foi a primeira brasileira a representar o país no campeonato mundial We B-Girlz, na Alemanha, por dois anos consecutivos. Sua carreira lhe rendeu um lugar no time de jurados do Red Bull BC One. “B-Girls jovens estão vendo mulheres em posição de liderança e ter referências é motivador”.
Bart: Ele nasceu no Ceará, quando criança teve contato com muitos movimentos por meio do Kung Fu e da Capoeira. Aprendeu também a ter disciplina e flexibilidade desde cedo. Mas foram os pulos feitos na areia improvisada que pedia aos vizinhos que o fizeram se aproximar do Breaking. Mateus Melo (22), conhecido como B-Boy Bart, hoje é um dos nomes mais cogitados para representar o Breaking brasileiro nas Olimpíadas de Paris, em 2024. Já participou de muitos eventos nacionais e internacionais. Ele compara a dança a um grande jogo de xadrez e afirma que, além de ter um corpo preparado, é necessário ter estratégias, planejar ações para se chegar no objetivo que se deseja. Sobre as Olimpíadas, fala: “Eu vejo como uma evolução, na verdade, não acho que seja positivo e nem negativo, é somente algo do mercado. Isso já vem acontecendo tem muito tempo. O R16, todos esses eventos que tem, são em ritmo de Olimpíada, de ranking. Existe o ranking de B-Boys tem muito tempo. A Olimpíada entrou para apimentar ainda mais a competição. Acho que nada vai mudar… Como no futebol existem pessoas que jogam pelada e existem pessoas que jogam nos mundiais. Então, acho que vai melhorar muita coisa!”.
Nathana: Ela nasceu em Uberlândia, perdeu o pai com 5 anos em um acidente, mas sempre teve o amor e o carinho da mãe. Começou a dançar com 16 anos e não parou mais. Na sua caminhada, enfrentou preconceitos pelo fato de ser mulher e até escutou comentários que fariam muitas pessoas desistirem da própria dança. Mas ela não! Nathana Vieira Venancio, ou B-Girl Nathana, como é conhecida na cena, sempre foi forte e usou o comentário negativo para crescer e evoluir na própria dança. Sendo uma verdadeira inspiração para quem pretende ir longe no Breaking. Ela participou da E-Battle da Red Bull BC One e vem participando, mesmo em tempo de pandemia, de muitos eventos internacionais. Faz parte de 3 Crews que são We Can Do It B-Girls, da qual é uma das fundadoras, Rock Niggaz e Gangsta Squad, Nathana declara: “As pessoas da minha crew são as minhas inspirações, elas sempre me motivam e falam daquilo que preciso melhorar, críticas construtivas, a importância de ter pessoas lado a lado com você é grande, ter essa ajuda e companheirismo é muito válido, as meninas sempre estão a me passar energias positivas, enfim, sou muito grata a todos da Crew.”
Leony: Ele nasceu em Belém, capital do estado do Pará, que é uma cidade portuária e a porta de entrada para a região do Baixo Amazonas do Brasil. Sempre morou no bairro do 40 Horas. Como todo menino, quando pequeno gostava de jogar bola e brincava na rua até altas horas da noite. Hiperativo, não parava nem um minuto sequer. O que nunca lhe faltou foi energia! Sendo o mais velho dos filhos de Dona Elizete, foi criado com suas irmãs por sua mãe sozinha, mulher guerreira, como ele mesmo relata com orgulho. Aos 12 anos de idade, por influência de um primo próximo, conheceu o Hip-Hop, se apaixonando no primeiro momento pelo movimento Head Spin [Giro de Cabeça], começando sua caminhada de sucesso no Breaking, passando a competir em 2012. Mas foi em 2013 e 2016 que conquistou o título de Melhor B-Boy do país. E, em 2017, foi tricampeão do Red Bull BC One no Brasil. Segundo B-Boy Pelezinho, que foi um dos jurados do evento que deu o segundo título para Leony, ele começou a se destacar por sua autenticidade. Na época, Pelezinho declarou: “sabe muito bem combinar os movimentos. Sua habilidade é impressionante, por isso mereceu mais uma vez o título”. O tempo passou muito rápido e foi generoso com o B-Boy, que gosta de saborear açaí com mortadela em Belém, o consagrando como um dos maiores nomes da sua geração no Breaking, mas também trouxe responsabilidades por ser um B-Boy mundialmente conhecido.
Miwa: B-Girl desde 1999, diretora do grupo de Breaking feminino Bonnitas Crew e da Hotstepper B-Girls, foi uma das primeiras B-Girls brasileiras a ganhar reconhecimento no exterior. Campeã das competições “Sudaka 2007” (Chile), “El Rey del Seven 2 Smoke 2009” (Venezuela) e “KB Battle Original Flavor 2013” (Israel), Miwa também levou para casa o terceiro lugar na “Eurobattle 2008” (Portugal) e o vice-campeonato na competição de trio de B-Girls “UK Bboy Championships 2010” (Inglaterra). Em 2008, participou do Battle of the Year. Como produtora, realizou o primeiro festival feminino de Hip-Hop “FNMH2 Festival” (São Paulo, 2013 e 2014) e é responsável pelo “Elas por Elas” (2012), primeiro documentário brasileiro sobre mulheres no Hip-Hop.
Klesio: Ele é de Brazlândia, cidade satélite de Brasília e começou a dançar Breaking com 13 anos. Não teve uma infância fácil, escondido do pai e da mãe, usava um pedaço do colchão para colocar na touca de giro, para não machucar a cabeça na hora de fazer o Head Spin. O menino cresceu e evoluiu rápido, sendo o ganhador da Batalha Final em 2009, evento tradicional de Breaking que abriu portas para sua carreira na dança, mas foi com 22 anos que ficou conhecido mundialmente, sendo um dos finalistas da mundial do evento “Red Bull BC One”, realizado no Rio de Janeiro (RJ) em dezembro de 2012, o que o fez ser notícia em toda a grande imprensa brasileira. Na ocasião, Klesio batalhou com o Mounir, da França e foi considerado um dos 8 melhores B-Boys do mundo. Ele ainda foi o vencedor do reality show “Vai Dançar”, da Multishow. Hoje mora na Polônia e já ganhou diversas premiações para o Brasil.
Itsa: Com apenas 20 anos, a B-Girl Itsa venceu a etapa nacional do Red Bull BC One e depois foi para Mumbai, na India. “Foi o momento mais marcante da minha carreira”, diz. Itsa faz parte de uma safra de dançarinas que está se unindo cada vez mais para fazer barulho na cena Breaking. “As mulheres farão parte de um cenário que tenha consciência e respeito da sua existência e da sua história no Hip-Hop como civilização”, afirma. “Tem que haver um interesse dos B-Boys em estudar, questionar e aprender com as mulheres da cena.”
Till: O cearense Cleiton Verçosa, 26, conhecido no mundo do Breaking como B-Boy Till, é forte candidato para representar o verde-e-amarelo nas Olimpíadas. Talento e experiência em competições não falta para o dançarino. Membro do grupo Perfect Style Crew, Till disputou o evento Red Bull BC One Cypher Fortaleza nos anos de 2014, 2018 e 2019, sendo campeão da etapa nos dois últimos anos. A seletiva estadual serve como qualificação para o Red Bull One Cypher Brazil, que reúne os vencedores de cada um dos estados brasileiros. Em 2019, foi campeão e garantiu sua participação no Red Bull BC One — o campeonato mundial.
Mini Japa: A paraense Mayara Colins, conhecida como Mini Japa, saiu vencedora da arena montada no prédio do Red Bull Station, em 2018. Foi para a Suíça em setembro e representou o Brasil no mundial do Red Bull BC One. Nascida e criada no bairro Terra Firme, em Belém, Mayara há mais de oito anos se dedica aos movimentos e acrobacias do Breaking. Atualmente, a dançarina faz parte da Amazon Crew, um celeiro de talentos da dança no Norte do país, da qual também faz parte o B-Boy Leony Pinheiro, que já foi tricampeão brasileiro do Red Bull BC One Cypher Brazil.
Luan: Luan Carlos dos Santos é natural de Bauru (SP), disputou a final mundial em Paris. Foi vencedor da final do Red Bull BC One Latin America, em 2014 e finalista do Red Bull BC One World Final. Foi eleito o melhor B-Boy da América Latina e venceu a Red Bull BC One E-Battles em 2018.
Paola: Ela é paulista, mas atualmente mora na França com a família e é uma das B-Girls mais vigorosas do nosso país. Por meio do Breaking teve oportunidade de trabalhar com pessoas reconhecidas na cena e fazer vídeo clipes com Guizmo e Flash Zoom, na França e comerciais. Além de alguns trabalhos com Rashid, Nelson Triunfo, Mr. Kokada.
E o Breaking continua…
A nova geração que representa o Brasil no exterior chega cada vez mais forte:
Sonek: De Catalão direto para o mundo, B-Boy Sonek é considerado o “Príncipe do Power Move Brasileiro” da nova geração: com apenas 10 anos, ele ganhou o 1° lugar na Eurobattle Kids e foi vice-campeão mundial na Power Move Battle. Hoje, com 18 anos, continua treinando e faz parte da Dream Kids Brazil.
Marcin: Também de Catalão, com apenas 15 anos já esteve em Portugal, na França e no Chile. Foi tricampeão da Brazil Batlle Pro e também premiado no Dance Summer Camp, em Portugal.
B-Girl Angel do Brasil: De São Paulo, com apenas 10 anos foi vice-campeã no mundial E-fise Montpellier na França, 2° lugar no Battle Kids Argentina e ficou no Top 10 no Breaking Kids Champion, na Rússia. Também faz parte da Dream Kids Brazil.
Eagle: Foi vice-campeão no B de Dança em Braga, Portugal e ficou entre os Top 16 na Porto World Battle, também em Portugal.
Fotos: Arquivo Pessoal / Reprodução
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O Graffiti é uma forma de expressão artística que utiliza locais públicos, muros, paredes de grandes edifícios, roupas, carros e até o chão como tela. A história do Graffiti começa ao final dos anos 1960 e início dos anos 1970, em cidades como Paris e Nova York, locais que começaram a mostrar em suas paredes as primeiras obras de artistas anônimos que buscavam se expressar com temas da transgressão e da contracultura, um movimento que criticava e questionava a cultura determinante de uma cidade.
A palavra Graffiti vem da palavra italiana “graffito”, que significa literalmente “escrita feita com carvão”. Mas falar do marco zero talvez não seja fácil. Há relatos de que no Império Romano, há mais de 2 mil anos, alguns muros de Roma já ostentavam pinturas que criticavam políticos, em imagens cheias de ironia. Em Pompeia, ainda é possível encontrar muros com pinturas que simbolizavam um protesto. A história se perde no tempo, mas foi nos EUA e na França que a arte se tornou uma importante ferramenta de resistência a todos os tipos de opressões.
Graffiti d’OsGêmeos é destaque na Times Square (EUA)
Em Nova York, foi das periferias que surgiu o Graffiti, sendo um dos elementos da Cultura Hip-Hop. Saindo dos muros de vizinhanças como o Bronx, o Graffiti tomou conta dos metrôs e até dos próprios trens, levando a arte e o protesto da periferia para todos os cantos de Nova York.
Em Paris, houve o movimento conhecido como “Maio de 68”, em que estudantes das duas maiores universidades da cidade iniciaram um protesto contra o que acreditavam ser uma política retrógrada das instituições de ensino. Os sindicatos também passaram a protestar, em resposta a um certo clamor mundial, já que aquele ano foi marcado por fatos muito importantes, como o assassinato de Martin Luther King Jr. nos EUA, o fortalecimento dos regimes militares na América Latina e a guerra no Vietnã. Nesse contexto, artistas anônimos deixaram seu descontentamento estampado nos muros da capital francesa, marcando, assim, o início dessa forma de expressão.
O Brasil é de todas as cores! E tem motivos para se orgulhar!
Tudo que acontecia nos EUA e na França chegou a refletir no Brasil, trazendo mudanças na música e no movimento tropicalista. A periferia de São Paulo seguiu os passos das grandes metrópoles mundiais e também começou a usar o Graffiti como forma de expressar artisticamente suas opiniões contra outras imposições culturais. Tomando força no início da década de 1980, o Graffiti, em São Paulo, chegou a ser considerado vandalismo e pichação por uns, ou admirados por outros, como era o caso dos urbanistas que viam tudo como arte e forma de expressão artística.
Um exemplo brasileiro de um dos grandes nomes dessa arte, como Basquiat e Keith Haring, é o italiano Alex Vallauri, nascido em Asmara, Eritreia em 9 de outubro de 1949, chegou ao Brasil em 1965, se estabeleceu em Santos, no litoral e mudou-se em seguida para a capital paulista, mas, infelizmente, morreu ainda jovem, em 1987, aos 37 anos, em São Paulo. O dia de sua morte, 27 de março, é a data em que é celebrado o Dia do Graffiti no Brasil. Vallauri participou nas seguintes edições das Bienais de São Paulo: 11ª (1971), 14ª (1977), 16ª (1981) e 18ª (1985). Além disso, também esteve nas mostras intermediárias realizadas pela Fundação Bienal: Pré Bienal (1970), Brasil Plástica-72 (1972), A trama do Gosto (1987) e Bienal Brasil Século XX (1994). Alex Vallauri começou com seus Graffitis em 78, quando surgiu nos muros de São Paulo uma enigmática bota de cano longo. A bota logo recebeu uma perna, umas luvas negras e acabou se tornando o personagem principal de sua obra, A Rainha do Frango Assado, uma das vedetes da Bienal de 1985. Esse era o grande lema de Valllauri, em suas palavras: “Enfeitar a cidade, transformar o urbano com uma arte viva, popular, de que as pessoas participem, acrescentado ou tirando detalhes da imagem… essa é a minha intenção.” Em relação a sua atividade como artista urbano, costumava dizer que “poderia ser chamada de desempenho anônimo”, uma vez que “o público só vê as marcas que ficam nos muros”.
O tempo passou e o Graffiti brasileiro evoluiu muito de Vallauri para cá e, além de já ser considerado por cada vez mais pessoas como expressão da arte contemporânea, essa expressão já conta com grandes nomes nacionais expondo em grandes painéis ao redor do mundo. E continua se modernizando, tudo vira tela e o Portal Breaking World foi atrás de alguns desses artistas, que aqui em São Paulo deixam a nossa vida cada dia mais colorida e nos enche de orgulho mesmo em momentos tristes como esses que vivemos da pandemia. Lembrar desses mestres urbanos e mostrar a nova geração que já mostra sua força e resistência é uma boa forma de comemorar o Dia Internacional do Grafitti, prontos para viagem ao mundo das cores?
OsGêmeos Gustavo e Otávio Pandolfo nasceram em 1974, na cidade de São Paulo. Passaram a infância e a adolescência no Cambuci, um bairro da cidade de São Paulo. Nesse período eles foram expostos a uma variedade de mudanças culturais influenciadas pelas ruas. No final dos anos 80, com o surgimento e o avanço do movimento Hip-Hop no Brasil, os gêmeos foram amplamente afetados por ele, começando como B-Boys e continuando com seus primeiros trabalhos de Graffiti. O estilo inicial de sua arte de rua ainda estava para ser formado, pois faltava consistência e referências artísticas que eles empregaram posteriormente. Com isso, eles mostraram uma incrível versatilidade no que diz respeito à mídia, usando não apenas tinta spray, mas também frascos de tinta para carros e tinta látex quando faltavam materiais adequados para o trabalho desejado. Trata-se de uma dupla dos inseparáveis e geniais artistas de rua; dos irmãos gêmeos que nasceram idênticos, tanto na aparência quanto na criatividade. Sob esse nome e trabalhando sempre unidos, conquistaram o mundo do Graffiti e da arte, porque seu estilo distinto os tornava os grafiteiros mais importantes e influentes de sua geração. Hoje, são reconhecidos e admirados não só no Brasil, mas em todo o mundo por meio de suas artes, usam linguagens visuais combinadas, o improviso e seu mundo lúdico para criar intuitivamente uma variedade de projetos pelo mundo. Já realizaram inúmeras mostras individuais e coletivas em museus e galerias de diversos países, como Cuba, Chile, Estados Unidos, Itália, Espanha, Inglaterra, Alemanha, Lituânia e Japão. Atualmente, estão “em casa”, na Pinacoteca de São Paulo, com a Exposição “Segredos”. Sim, eles contam segredos jamais revelados antes na exposição. O lançamento da exposição foi um sucesso.
Eduardo Kobra é dos artistas mais famosos do Brasil na arte do Graffiti. Autor do maior mural grafitado do mundo — “Chocolate”, com 5.742 metros — Eduardo Kobra também tem grande parte de suas obras espalhadas pelo mundo. Em contraponto ao estilo mais lúdico da dupla OsGêmeos, Kobra usa o realismo carregado de cores como marca pessoal. É um expoente da neo-vanguarda paulistana. Começou como pichador, tornou-se grafiteiro e hoje se define como muralista. Seu talento brota por volta de 1987, no bairro do Campo Limpo com o picho e o Graffiti, caros ao movimento Hip-Hop e se espalha pela cidade e pelo mundo. Com os desdobramentos que a arte urbana ganhou em São Paulo, ele derivou – com o Studio Kobra, criado em 95 – para um muralismo original inspirado em muitos artistas, especialmente os pintores mexicanos e norte-americanos, beneficiando-se das características de artista experimentador, bom desenhista e hábil pintor realista. Suas criações são ricas em detalhes, que mesclam realidade e um certo “transformismo” grafiteiro. Muitos críticos afirmam que a característica mais marcante de Kobra é o domínio do desenho e das cores. Mas o que é mais fundamental para o artista é o olhar. Kobra foi desde cedo apresentado às adversidades da vida. Viu amigos sucumbirem às drogas e à criminalidade. Alguns foram presos. Outros tantos perderam a vida. Foi o olhar que o salvou. Kobra é autor de projetos como “Muro das Memórias”, em que busca transformar a paisagem urbana por meio da arte e resgatar a memória da cidade; Greenpincel, onde mostra (ou denuncia) imagens fortes de matança de animais e destruição da natureza e “Olhares da Paz”, onde pinta figuras icônicas que se destacaram na temática da paz e na produção artística, como Nelson Mandela, Anne Frank, Madre Teresa de Calcutá, Dalai Lama, Mahatma Gandhi, Martin Luther King, John Lennon, Malala Yousafzai, Maya Plisetskaya, Salvador Dali e Frida Kahlo e recentemente homenageou o Rei Pelé com um mural em Santos, no litoral sul do estado de São Paulo, “Coração Santista”, com 800 metros quadrados.
Mel Zabunov nasceu em um ambiente artístico, em São Bernardo do Campo, teve contato com artes visuais desde muito nova: “minha mãe, artista autodidata, já fazia esta conexão unindo seus sete filhos e incentivando a criatividade por meio da música, da dança, escultura, do artesanato, artes plásticas e contação de histórias, ela passava todo este universo mágico para nós sozinha e nos contava o quão grande e interessante são outros países, sua culinária diferente, idiomas, culturas diferentes no geral, então, toda criatividade e vontade de desbravar o mundo herdei da minha mãe, tenho muito orgulho disto. Tive uma infância onde nós mudávamos muito de casa, perdemos muitas coisas, minha mãe sofria no casamento e por conta de religiosidade nos sentíamos sufocados, era bem difícil, não parávamos em escola nenhuma e nunca tínhamos condições para nada, assim, morávamos sempre em 1 ou 2 cômodos, lembro que aos meus 8 anos, fomos morar de favor na casa da vó materna, onde minha mãe não tinha muita autonomia sobre os filhos, por conta dos meus tios meu pai não foi morar junto nesta época”, conta a grafiteira. Aos 12 anos de idade (ano 2000) começou a reparar as pichações na rua e começou a pichar uma sigla do seu próprio nome, mas usava giz de cera, a partir de então se fixou no universo da pichação e a coisa foi ficando cada vez mais séria, era uma das poucas mulheres da pichação na cidade. Suas maiores inspirações são no “Ser Humano” em geral, sempre se preocupa em conectar o trabalho aos sentimentos de alguém, procura estampar exteriormente incentivos de autoestima, espiritualidade, tudo que é genuíno, natural e orgânico e fazer as pessoas olharem para dentro delas, encontrando todo seu potencial particular.
Bonga Mac nasceu em 1975, Donizete de Souza Lima, artista visual, arte-educador, empresário e estudante de artes visuais pela FAEEP – Faculdade de Educação Paulista (2019-2023). Co-autor do livro Tinta Loka Street Book (2017) e empresário desde 2013, seu primeiro contato com o Graffiti foi em meados dos anos 90, por influência da Cultura Hip-Hop, o que o motivou a reproduzir as ideias passadas em capas de discos e letras de músicas. Desenvolve projetos notáveis enquanto artista visual no Graffiti e, desde 2000, atua como arte-educador em projetos de incentivo à difusão da Cultura Hip-Hop e arte urbana, para um público diversificado. Já atuou em projetos como Criança Esperança (Instituto Sou da Paz), Fundação Fé e Alegria, Ação Educativa e Fábricas de Cultura. Atualmente, está se dedicando ao Projeto Kombozas, onde faz belos desenhos em Kombis e tem como objetivo criar uma galeria móvel. Durante a pandemia, tem customizando peruas com a técnica do Graffiti, trabalho que está desenvolvendo de forma gratuita aos perueiros e perueiras. É uma forma de presentear quem está na rua todos os dias e também de se manter produtivo em tempos de Covid-19. Deseja com essa ação se tornar o gatilho para levar essa movimentação para o Guinness Book, onde pretende quebrar o recorde do artista urbano que possuirá o maior número de Peruas Kombi pintadas.
Fabiano Minu nasceu na Vila Maria, bairro da capital de São Paulo. A paixão pela arte do Graffiti e pelas cores em jaquetas aconteceu com a chegada do filme “Beat Street” (A loucura do Ritmo), em 1984. Fez parte da 1ª geração de B-Boys de Guarulhos e também da 1ª geração de B-Boys da São Bento, no início de 1985. Integrante do lendário grupo de B-Boys Fantastic Force (Guarulhos), teve como referências no Graffiti em jaquetas, os grafiteiros Paulo “Robô” e Bad Break Mania. Participou da 2ª Amostra Paulista de Graffiti de São Paulo, em 1993, com vários artistas na época, como OsGêmeos, Speto, Gugu, Vitché, Arhur Lara, entre outros. Conheceu o Paulo Robô na Sundays Disco Club… “foi o primeiro grafiteiro que conheci, por ver a primeira jaqueta grafitada (antes só tinha visto no filme Beat Street). Anos à frente, conheci outro grafiteiro na São Bento, Bad Break Mania, com jaquetas grafitadas sensacionais, essas são minhas duas referências no Graffiti em jaquetas. Depois de eu ter pago para ter a minha primeira roupa (camisa) grafitada e não sair como eu queria (risos), tomei coragem para começar a grafitar em roupas na época”, explana Minu. Outra paixão são os boomboxes, ele conta: “Os boomboxes também têm a sua importância, pois são os parceiros dos B-Boys para dançarem nas ruas e todos aqueles que curtem um Beat, Funky Groove, Rap, etc. Não é à toa que existem vários colecionadores de boomboxes no intuito de manter essa ligação entre artistas e a música. Para quem é da velha escola, ter uma jaqueta e um boombox grafitado é como representar as raízes do Hip-Hop em sua essência. Eu tenho um boombox que grafitei recentemente, quem sabe seja o primeiro de muitos que virão”, conclui.
Xandy Sabino é grafiteiro, B-Boy e coreógrafo. Mora no litoral de São Paulo, no Guarujá, sua arte é bem respeitada dentro da Cultura Hip-Hop. É fundador da Unidade A Crew e também é arte-educador. Tem trabalhos espalhados por todo o litoral e cidade de São Paulo. Assim como Fabiano Minu também grafita boomboxes.
Xall Len também é do litoral de São Paulo, mora na cidade de Peruíbe. Sua infância e juventude foi em Ana Dias, distrito de Itariri, descalço, de cachoeira em cachoeira e pedalando até a praia de Peruíbe. “Conheci o Rap por meio de fita cassete com alguns amigos, no rádio da minha mãe colocávamos “509-E”, “Racionais MC’s” e “MC Barriga”. Nessa mesma época, já era conhecido por “rabiscar” as mesas da classe, sendo expulso diversas vezes, passeando por todas as escolas da região. Sempre me interessei por arte de rua e os poucos desenhos que tinham nos muros de Peruíbe me atraíam”, conta o grafiteiro. Sempre foi ligado em desenhos, e apesar de levar muitas broncas pelos rabiscos, também se destacava na escola nos trabalhos. Gosta de pintar letras, sempre com muitas cores e inserindo elementos. Suas letras estão em constante mudança e evolução, pois buscam sempre acrescentar novas técnicas e personalidade. Seu estilo é a mescla de Wild Style, Bomb e Piece.
Citamos alguns grandes talentos de São Paulo, mas é claro que existem muito mais artistas espalhados pelo Brasil e pelo mundo! Desejamos a todos grafiteiros um dia maravilhoso e cheio de cores! Que essa arte legítima possa cada vez mais dar voz aos nossos anseios, nossas reivindicações e lutas! Um salve a todos os grafiteiros!
Fotos: Arquivo Pessoal / Reprodução
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Hoje vamos falar sobre a importância de ser dinâmico e porquê essa palavra é muito significativa dentro do Breaking.
Primeiro de tudo, o que significa dinâmica?
Se formos pesquisar a fundo vamos encontrar uma variedade de significados relacionados sobre o tema, então, vamos resumir e associar com o Breaking.
Dinâmica é caracterizada por contínuas mudanças, atividades e progresso. Geralmente, quando começamos a praticar Breaking nos identificamos com o que é mais atrativo, por exemplo, muitos B-Boys/B-Girls gostam mais de Top Rock/Footwork, outros já se identificam mais com Power Moves/Tricks e também têm outros que se identificam com as duas coisas ao mesmo tempo e etc…
Com o passar dos anos, ser bom nisso ou naquilo não é suficiente para alcançar um nível internacional, tem que ir muito mais a fundo em todos os aspectos. Estive viajando pelo mundo por alguns anos e comecei a tomar conhecimento sobre muitas concepções que eu nunca ouvi falar quando estava no Brasil e isso me fez perceber o porquê sempre foi difícil para a maioria de nós, brasileiros, ganhar as competições mundiais mais importantes.
A resposta está relacionada ao que acreditamos, somos um povo muito intuitivo e dançar pra gente está relacionado mais com a alma do que qualquer outra coisa, gostamos de expressar de dentro pra fora e fazemos isso naturalmente, porém, muitos de nós não abordamos o Breaking de uma forma mais científica.
Apenas dançar com essa energia de latino que temos não é o suficiente.
Por isso, esse tema sobre dinâmica é muito importante para que a gente melhore em outros pontos que precisamos, para finalmente chegarmos e mostrarmos a nossa essência por completo e, assim, não ficarmos sempre um passo atrás nos eventos internacionais.
Os estrangeiros estão sempre um passo à frente porque eles abordam todos os temas, como musicalidade, técnicas, criatividade, estratégias, competitividade, surpresas, personalidade e muitas outras janelas, está tudo relacionado à dinâmica. Eles estão sempre mudando, se adaptando a novas formas e concepções, sempre em progresso. Nós, brasileiros, precisamos aprender a analisar o Breaking de uma forma mais crítica. Futuramente, vou estar escrevendo sobre cada um dos artigos citados abaixo:
Você sabe o que significa:
Dinâmica de espaço e direções?
Dinâmica de níveis?
Dinâmica de ritmos?
Dinâmica de treinos?
Dinâmica de desconforto e criatividade?
Dinâmica de ambiente?
Dinâmica musical?
Dinâmica de aprendizagem?
Dinâmica de tamanho?
Todos esses temas têm se tornado parte da minha nova pesquisa, tenho aprendido com vários renomados nomes na cena mundial. Gostaria de compartilhar com todos para que vocês, da nova geração, possam evoluir muito mais.
Até o próximo artigo!
Foto: Reprodução
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Vítima do descaso do sistema de saúde do Brasil, Dina Di partiu em 20 de março de 2010, depois de lutar 17 dias pela vida…
Viviane Lopes Matias, ou apenas Dina Di, nome artístico que escolheu por toda a vida, foi uma das divas do Rap nacional, ao lado de outras MC’s como Sharylaine, Rúbia e Cris SNJ.
Nascida em Campinas, ela era do grupo Visão de Rua e lançou sucessos como “Marcas da adolescência”, “Meu filho, Minhas Regras” e “Mente Engatilhada”. Começou na Cultura Hip-Hop com 16 anos, a artista, era brava, de personalidade forte. Usava roupas largas e boné, estilo comum usado por algumas mulheres do Rap nos anos 90, para diminuir os riscos de chamar atenção de forma sensual e dessa forma não serem respeitadas.
Foi por meio de um estilo bem masculino que Dina Di conquistou o espaço que pertencia às mulheres, mas que antes era ocupado por homens. Dina era MC e historiadora, nascida em Santos, entre todas as vozes femininas que se levantam, Dina Di é a mais forte, a que nunca foi esquecida, nem a morte a calou. “No passado, sem documentos, tentava provar num cartório que era ‘amásia’ para poder visitar o companheiro na cadeia. Ou, para fazer o videoclipe de “Mente Engatilhada”, foi pedir um tênis numa loja porque não tinha sapato. Tudo o que comia era arroz com feijão uma vez por dia.” – informações da Revista Época, publicada em 2002.
Por meio de sua voz, Dina Di questionava o sistema e denunciava questões sociais
Dina Di deu voz a grandes debates, como ser mulher, periférica, mãe e MC em um país que desde seus primórdios menospreza todo tipo de arte produzida pelas periferias.
As narrativas de Dina também denunciavam questões sociais e revelavam fases distintas de sua vida fora dos holofotes.
Uma das poucas aparições da diva na grande imprensa foi numa entrevista à Revista Época, em 2002. Ele confidenciou: “Tô vivendo de sonho, de subir no palco. Pegar trem, ônibus, perua e cantar para verem que eu não morri. Sobrevivi a tudo e estou ali. E depois descer e não ter nem dinheiro para comer um cachorro-quente”.
Além de citar as vezes em que foi parar na Febem, de quando começou a trabalhar para sobreviver, aos sete anos de idade e da vez que fugiu de casa aos treze, Dina Di deixou explícito como estava orgulhosa em estar vivendo seus sonhos e qual era o seu propósito no Hip-Hop.
Dina Di, Rúbia RPW e Lauren Priscila
Visão de Rua e o adeus à diva!
No grupo Visão de Rua, ao lado de Lauren, Tum e DJ O.G, Dina Di lançou sua primeira música, em 1994, intitulada “Confidências de uma presidiária”.
É um relato da rotina no sistema carcerário feminino. Depois de ser detida e conhecer a realidade nas prisões, Dina Di usou a música como ferramenta de transformação social, a fim de compartilhar com outras mulheres formas mais otimistas de viver.
Na entrevista, ela contou à Época que levava seus CDs para as cadeias porque queria que suas “irmãs de cela” soubessem que podiam contar com ela. “Uma prima minha perdeu o filho dentro da prisão. Foi abortando a criança durante a noite, sem socorro. Quando a mulherada ouve as minhas músicas, sabe que não está sozinha”, destacou.
Em 1998, o grupo lançou seu primeiro álbum, o Herança do Vício(1998) e três anos mais tarde criou o segundo disco Ruas de Sangue (2001), que a fez ganhar o Prêmio Hutúz na categoria “melhor grupo feminino”. Em 2003, o Visão de Rua, que já havia se consolidado e conquistado um espaço importante na cena do Rap nacional, lançou o emblemático clipe A Noiva do Thock, que concorreu em três categorias no Hutúz. Em 2007, o grupo se dedicou ao seu último álbum, O Poder nas Mãos (2007).
Mulher, periférica, mãe e MC: Dina Di é sem dúvida uma das vozes mais fortes do Rap feminino brasileiro
Em 2008, Dina foi indicada novamente ao prêmio Hutúz como melhor álbum no ano, com “O poder nas mãos” e, na categoria “Grupo ou Artista Solo”; em 2009, foi indicada a categoria “Melhores Grupos ou Artistas Solo Feminino da década”, ganhando o troféu.
Dois anos depois, no dia 20 de março, depois de lutar 17 dias pela vida, Dina Di faleceu. Aos 34 anos, a artista contraiu uma infecção hospitalar após o parto de sua segunda filha, tendo a vida e carreira interrompidas. Após a repercussão da morte de Dina, a rapper Negra Li, uma de suas companheiras de profissão e amiga pessoal, disse que naquele dia o Rap havia se calado.
Ele é de Brazlândia, cidade satélite de Brasília e começou a dançar Breaking com 13 anos. Não teve uma infância fácil, escondido do pai e da mãe, usava um pedaço do colchão para colocar na touca de giro, para não machucar a cabeça na hora de fazer o Head Spin.
O menino cresceu e evoluiu rápido, sendo o ganhador da Batalha Final em 2009, evento tradicional de Breaking que abriu portas para sua carreira na dança, mas foi com 22 anos que ficou conhecido mundialmente, sendo um dos finalistas da mundial do evento “Red Bull BC One”, realizado no Rio de Janeiro (RJ) em dezembro de 2012, o que o fez ser notícia em toda a grande imprensa brasileira. Na ocasião, Klesio batalhou com o Mounir, da França e foi considerado um dos 8 melhores B-Boys do mundo. Ele ainda foi o vencedor do reality show “Vai Dançar”, da Multishow.
Passados 9 anos, o Portal Breaking World foi atrás desse B-Boy brasileiro que tira o fôlego de qualquer pessoa que o vê dançando. Klesio hoje vive na Polônia, que é um país do Leste Europeu, na costa do Mar Báltico, conhecido por sua arquitetura medieval e pela herança judaica. O B-Boy coleciona títulos de vários campeonatos em diversos países, onde sempre foi reconhecido e respeitado. Exemplo foi o Just Battle, na China, em 2018, onde foi mais uma vez campeão. Klesio falou na entrevista sobre a infância, sobre família, sobre bullying, sobre valorização na dança, sobre Olimpíadas, sobre eventos híbridos e on-line, falou sobre tempo de pandemia e sobre o futuro! Vamos à entrevista!
BW: Queria que você falasse seu nome completo, sua idade e nos contasse um pouco da sua infância, da sua vida em família na Brazlândia. Que recordações tem desse tempo?
Klesio: Eu me chamo Kleson Silva Moreira, tenho 31 anos. Tive uma infância bastante oscilante, muitos momentos bons e ruins. Cresci em um lar com uma família cristã protestante e dominante. Tenho recordações boas e ruins.
O mundo do crime passou bem perto, mas o Breaking motivou o B-Boy a seguir o caminho do bem
BW: Como era o Klesio criança, em casa e na escola? Verdade que você teve problemas de bullying e que quase entrou para o mundo do crime? Como superou isso?
Klesio: Sendo honesto, eu odiava estudar e brigava bastante na escola, só conseguia me encaixar com arte, educação física. Bullying era parte da minha rotina quando estava na escola, acontecia porque eu não andava bem cuidado, todos os alunos tinham boas roupas e eu não estava autorizado a usar roupas novas pra ir à escola porque minha mãe me proibia, na mente dela roupas novas eram somente para ocasiões especiais, então andava com roupas rasgadas, tênis rasgado e eu sofria muito preconceito com isso por parte dos alunos. Recebia nomes como: passa fome, lixão, soldado da guerra, etc… Sim, quase que meu destino foi outro, na época eu tinha 12 anos e andava com uns caras estranhos do meu bairro, já cheguei até a carregar malotes de drogas como aviãozinho pra eles, mas isso foi pouco antes de conhecer a dança, quando conheci o Breaking, coloquei toda minha energia dentro disso e consequentemente mudou minha perspectiva.
BW: Quando teve o primeiro contato com a Cultura Hip-Hop? E com o elemento Breaking? Onde deu os primeiros passos?
Klesio: Meu primeiro contato com a Cultura Hip-Hop foi por meio do Breaking, me lembro vividamente no dia em que eu estava na sala de aula e quando a professora saiu, eu vi alguns alunos afastando as cadeiras, formando um espaço vazio na sala, então eu vi eles fazendo movimentos no chão, muito difícil de entender e fui pego fortemente por essa arte. Meus primeiros passos foram na minha cidade, dentro do meu quintal, nos horários em que meus pais estavam no trabalho, claro.
BW: Tiveram pessoas que te inspiraram e que foram referências para você na dança?
Klesio: Sim, primeiro de tudo, aqueles alunos da escola que eu vi dançar, depois veio meu professor, finado Gordin (Black Spin Breakers) e ao longo da minha carreira tive muitas outras influências.
Mesmo sofrendo preconceito de parte da família, Klesio seguiu em frente
BW: Como sua família via o Breaking na sua vida? Eles te apoiaram? Verdade que sua mãe descobriu que você dançava quando deu falta de um pedaço do colchão? Nos conte isso?
Klesio: Como citado, minha família sempre foi protestante e a Cultura Hip-Hop sempre foi algo marcante nos bairros, naquela época as pessoas não tinham informação, então essa cultura foi sempre associada como algo criminoso na minha área. Minha família não me apoiou no início e eles viam essa arte como a porta de entrada para as drogas e o crime, chegou até ser irônico. Teve várias ocasiões em que minha mãe encontrava evidências de que eu estava praticando essa dança. Ela encontrava os colchões rasgados por baixo pois eu retirava esses pedaços para fazer um chapéu de giro de cabeça. Ela encontrava a cerâmica de casa riscada e ouvia depoimentos de vizinhos que me viam dançando na rua. Foi uma guerra por causa dessa arte. Fiquei um mês em cárcere privado pelos meus pais. Não tinha como, eu dava meu jeito. Era uma paixão muito forte pela música, pelo estilo e pelos movimentos.
BW: Houve movimentos difíceis de aprender ou todos foram fáceis? Na sua dança tem algum movimento que é a sua marca registrada?
Klesio: Todo começo tem suas dificuldades, foi muito difícil de aprender porque não tive incentivo de ninguém. Eu olhava aqueles garotos fazendo os movimentos e tentava copiar quando chegava em casa. Sim, na dança tenho minhas próprias características e movimentos, só que a minha principal inspiração é a música.
BW: Quando começou a competir? Fale um pouco dos principais eventos que participou aqui no Brasil e se teve algum que foi especial ou que teve aquela treta…
Klesio: Comecei a competir na minha cidade na categoria de iniciantes, depois comecei a competir em Brasília nos níveis mais difíceis, na minha época a DF Zulu, QDM, Floor Riders, Black Spin, The Brooklyn, etc… eram grupos fortemente renomados. Fiz parte do grupo QDM (Quebra de Movimento), foi uma das escolas mais importante em minha carreira, por causa do mesmo eu tive a oportunidade de viajar competindo nacionalmente. Meu primeiro importante evento foi a Batalha Final 2009, onde conquistei o título de campeão, foi a porta de entrada para uma nova era em minha carreira. Fiquei bastante conhecido no Brasil por causa desse evento.
E o quase-soldado virou um guerreiro levando o Breaking brasileiro para vários países
BW: Quando de fato começou a viver da dança?
Klesio: Comecei a viver da dança desde 2007 quando fui instrutor de Breaking em um projeto social da minha cidade. Logo depois, fiz parte de outro projeto, nesse período eu não era conhecido ainda e não tinha certeza de nada. Eu quase entrei pro exército nessa época, eu estava na fila já escolhido para raspar a cabeça, quando minha intuição pediu pra eu desistir e continuar com a dança. E até hoje vivo por meio da arte por causa das escolhas que fiz nessa época.
BW: Verdade que você foi vencedor do reality show “Vai Dançar”, da Multishow? Como surgiu o convite para participar e como foi nos bastidores?
Klesio: Sim, a produtora entrou em contato comigo através do Facebook, fazendo o convite. Eu estava muito tranquilo nessa competição, pois eu sabia da premiação, mas não quis pensar sobre, porque eu não queria colocar meu espírito sob pressão. Criar expectativas durante uma competição não é recomendável. Durante o reality show eu estava pensando em uma só coisa “pensar em ser o melhor pra mim mesmo o resto é consequência” foi como um mantra que me levou a ser o vencedor do reality.
BW: Em 2012, você foi para as quartas de finais com o Mounir, na Red Bull BC One, que foi no Rio de Janeiro, correto? Ficando entre os 8 melhores B-Boys do mundo! Fale sobre essa experiência e sobre o que sentiu.
Klesio: Sim, correto! Red Bull BC One foi uma experiência incrível de todos os eventos que já participei na minha vida. A adrenalina de ser responsável por representar o seu país em um mundial é inexplicável, porém, me senti prejudicado pois o calor naquele lugar estava insuportável, eu estava suando muito e por causa disso escorreguei na minha entrada contra o Mounir. Eu imagino que se o evento tivesse sido climatizado talvez não teria escorregado em um movimento simples e ter perdido a competição, eu estava muito confiante.
Em 2012 Klesio participou do mundial representando o Brasil e ficou entre os 8 melhores B-Boys do mundo
BW: Quando e porque você decidiu sair do Brasil? Foi difícil tomar essa decisão? Onde você mora atualmente?
Klesio: Sendo sincero, foram vários fatores que me fizeram mudar de país. Primeiro que é difícil viver da dança no Brasil e também me senti desvalorizado dentro da minha própria comunidade, principalmente depois da Red Bull. Eu me senti perseguido, muitas vezes vi em redes sociais certos indivíduos fazendo vídeos, me difamando, vi que as pessoas estavam torcendo contra mim, me senti oprimido em chegar nos lugares e sentir uma energia totalmente contra a minha dança, sem nenhuma razão. Nunca consegui entender se foi por causa do meu crescimento e isso criou um ciúme, não sei. Não foi só comigo, aconteceu com outros participantes também. Hoje eu moro na Polônia, na Europa.
BW: Conte um pouco da sua experiência morando no exterior e por quais países passou. Houve tempos difíceis?
Klesio: A experiência de morar no exterior está sendo como uma escola para minha vida pessoal e profissional. Já visitei vários países, estive em contato com várias culturas diferentes. Eu me sinto bastante respeitado pelos dançarinos em diversos países, especialmente na Ásia, eu admiro muito os dançarinos desse continente, pois eles são muito receptivos e amáveis. O nível de educação é inexplicável. Chega um momento na vida, que nem tudo é somente dançar e ganhar. Tem muitas outras coisas que te agregam e enriquecem o seu intelecto, vindo de outras culturas. Tem o lado difícil também, fuso horário, comida, estresse com agentes de imigração nos aeroportos com interrogações tipo: o que você veio fazer aqui? Cadê o dinheiro pra se manter? Você é criminoso no seu país? Muito choque de culturas. Quando você viaja bastante, você vai estar suscetível a todo o tipo de situação como essa. Graças a Deus sempre deu tudo certo.
BW: Em 2018, você foi campeão do The Just Battle, na China. Nos conte como foi esse evento? Mesmo em competições pesadas e que necessitam de uma grande concentração, você consegue se divertir?
Klesio: O sentimento que eu tive na Batalha Just Battle foi a mesma sensação que eu tive anos atrás, no reality show “Vai Dançar”. Eu vi a premiação o quanto seria e vi que o favorito da batalha era o lendário B-Boy Physics, imediatamente eu tirei essas duas coisas da minha mente e foquei em mim, nas minhas habilidades, na minha intuição. Eu sabia que a luta maior seria comigo mesmo, então, praticamente o mesmo mantra “foca dentro de você com confiança e o resto é consequência” sempre estava comigo. Às vezes, em uma competição, o ego é importantíssimo, não é errado ser arrogante no momento da batalha, é um mecanismo de defesa que impõe respeito e insegurança no seu oponente, não é agressão verbal ou física, é como você olha seu adversário e como você o trata usando sua aura, então, toda vez que eu pisei naquele palco eu trazia esse ranço, essa raiva, principalmente, quando eu batalhei contra os melhores desta competição. Consequentemente, Campeão.
O foco de dar o melhor de si mesmo sem temer os adversários tem sido a receita de sucesso de Klesio
BW: Morando fora do país, chegou a trabalhar em espetáculos ou fazer parte de companhias de dança?
Klesio: Sim, faço muitos espetáculos artísticos na Alemanha.
BW: Fale um pouco de suas rotinas de treino e de como se prepara para participar das competições?
Klesio: Atualmente, eu estou começando do zero. Eu sempre estive um passo atrás de ganhar as competições mais importantes do mundo por causa do nível, que vem ficando cada vez mais absurdo e quem não se adianta fica pra trás. Hoje estou me reeducando sobre muitas coisas no Breaking para se tornar a melhor versão de mim mesmo. Nunca fui muito criativo em termos de movimentos, então, minha prioridade é totalmente inovar. Procuro referências que possam me ajudar, o B-Boy Storm tem sido um grande mentor em novas concepções que preciso desenvolver. Eu treino quase todos os dias, 3 horas aproximadamente. Meus treinos são bem estudados e focados. No momento não estou competindo por causa da pandemia.
BW: Recentemente, o Breaking se tornou uma modalidade olímpica. O que acha sobre isso?
Klesio: Eu acho uma excelente ideia que o Breaking faça parte das Olimpíadas, pois é uma oportunidade para fazer o mesmo ser mais reconhecido profissionalmente dentro da sociedade. Porém, não devemos esquecer que o Breaking é uma dança com muita essência. Breaking é arte e intuição conectada com a música e espero que não se torne uma dança superficial, onde só os movimentos é o que importa e pronto.
Aproveitar o tempo de pandemia para treinar forte e estar pronto para o retorno das competições
BW: O que tem feito nesse tempo de pandemia? Como está a situação no país que mora?
Klesio: Durante esse tempo, tenho focado na minha evolução como pessoa e profissional. A situação está bem mais controlada do que antes. A economia do país segue adiante, mas sempre com restrições. E aqui as pessoas levam a sério, todos usam máscaras nas ruas e ambientes privados. Espero que em breve tudo volte ao normal em todo o mundo.
A expectativa de Klesio é que volte tudo ao normal para que ele possa continuar levando sua arte além-mar
BW: O que acha dos eventos on-line ou híbridos de Breaking? Seria uma tendência para o futuro?
Klesio: Sendo honesto, pra mim é estranho que eventos se tornem on-line, não tenho nada contra e entendo que é a única maneira de manter o Breaking vivo, mas eu sinto saudades da muvuca das competições.
BW: Quais são seus planos para o futuro? Tem planos de retornar ao Brasil?
Klesio: É muito provável que em breve eu vá focar nos estudos, quero cursar Letras por aqui na Europa e futuramente cursar Ciências Forenses. Todo mundo precisa de um plano B, pois viver do Breaking é uma coisa muito incerta. Eu gostaria de voltar ao Brasil e poder ajudar o cenário da dança, para que a nova geração de B-Boys e B-Girls evoluam e conquistem mais espaço nacionalmente e internacionalmente. Têm muitos estudos dentro do Breaking que a maioria de nós, brasileiros, desconhece. Vamos ver se futuramente isso possa se concretizar.
BW: Que mensagem você deixaria para a nova geração de B-Boys e B-Girls que vão ler essa entrevista e para todos que mesmo de longe acompanham seu trabalho?
Klesio: O recado que eu deixo é que se eduquem o máximo que puderem, tudo em sua volta oferece uma oportunidade de aprendizado. Seja lá o que você for fazer, faça com paciência, não se apresse por nada. Nunca esqueça que todos nós precisamos de um plano B, nunca conte somente com dança. Aprenda inglês.
Fotos: Arquivo Pessoal
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Essa semana, completou 24 anos que Christopher George Latore Wallace, também chamado de Biggie Smalls, Big Poppa e Frank White, mais conhecido como The Notorious B.I.G. (Business Instead of Game) foi assassinado.
The Notorious B.I.G. foi uma das grandes lendas do Rap nos EUA. Nasceu em Bed-Stuy, Brooklyn, New York. Ex-traficante de drogas em Bedford-Stuyvesant, Brooklyn. Abandonou sua vida criminal, lançando o aclamado álbum “Ready To Die”, em 1994, se tornando a principal figura do Rap da Costa Leste dos EUA, que tanto rivalizava com a Costa Oeste, que na época era liderada pelo Rapper Tupac Shakur.
Notorious B.I.G. e Tupac tentavam realizar o que parecia impossível: uma união de amizade entre os Rappers da Costa Leste e a Oeste, mas quando Tupac sofre um atentado dentro da gravadora de Notorious as coisas mudam e este passa a ver Notorious como um inimigo. Essa rixa tornou-se ainda mais acirrada quando dois produtores — Dr. Dre, de Los Angeles e Puff Daddy, de Nova York — começaram a disputar espaço nas paradas de sucesso. Tupac e Big eram seus principais pupilos, que depois do ocorrido viviam trocando farpas, ameaças e provocações. Até que 2Pac foi assassinado na saída de uma luta de Mike Tyson, em Las Vegas.
Tupac Shakur e The Notorious B.I.G.
A morte mexeu com a cena em todo o país e em fevereiro do ano seguinte, Rappers das duas costas se juntaram para oficializar a paz — Nova York sendo representada por Puff Daddy e Los Angeles por Snoop Dogg. Mas as brigas ainda continuaram em outras ocasiões públicas e, no dia 9 de março de 1997, na saída de um evento de lançamento de seu disco mais recente, a picape que transportava Biggie parou ao lado de um carro cujo motorista abaixou o vidro e descarregou sua pistola. Notorious B.I.G. levou quatro tiros e morreu em menos de uma hora.
Dias depois, o funeral de Biggie reuniu centenas de Rappers em Manhattan, entre eles nomes como o grupo Run-DMC, a Rapper Queen Latifah e Flavor Flav, do Public Enemy. Seu amigo e produtor o homenageou naquele mesmo ano, ao lançar a música “I’ll Be Missing You”, o maior sucesso de Puff Daddy até hoje.
Passado um pouco mais de duas décadas depois da morte de Notorius B.I.G a Netflix aposta num documentário sobre sua carreira meteórica. No mês de fevereiro, foi divulgado o primeiro trailer do documentário “Notorious BIG – A Lenda do Hip-Hop”. De acordo com as informações do SPIN, o documentário levou quatro anos para ser concluído e é o primeiro filme sobre o Rapper a ser aprovado pelo espólio. A mãe dele, Voletta Wallace e o colaborador Sean “Puff Daddy” Combs, ajudaram a produzir e participaram das entrevistas exclusivas.
Fotos: Reprodução
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B-Girl Itsa bate papo com o educador Eduardo Valladares sobre escolhas para o futuro, profissão e coragem para seguir por caminhos não convencionais, nesta quinta-feira às 19h, no perfil de instagram @eduvlld
Campeã nacional de Breaking, integrante do Cirque du Soleil e nome com grande potencial olímpico para 2024, a artista de dança Itsa bate um papo especial, nesta quinta-feira (11), às 19h, com Eduardo Valladares, profissional com mais de duas décadas de experiência na área de educação e vulnerabilidade, TEDx & SXSWEdu speaker e criador da metodologia Guia do Estudo Perfeito na plataforma Descomplica.
Uma das protagonistas da série “Until 18 – O Momento da Decisão”, produzida pela Red Bull TV, Itsa irá detalhar no papo com Eduardo como foi a fase em que decidiu seguir seu caminho no mundo da dança e não em uma carreira convencional. A partir do tema ‘Eu sou as escolhas que eu faço’, a dupla passará durante a conversa por assuntos relacionados à coragem, educação nas suas mais variadas formas, mercado profissional, quebra de paradigmas e escolha de futuro. Para acompanhar a live, basta acessar o Instagram do Eduardo: @eduvlld.
Fotos: Divulgação Red Bull
B-Girl Itsa foi campeã brasileira de Breaking na Red Bull BC One Camp Brazil, em 2019
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Médicos alertam que a nova variante é mais grave, rápida e letal entre jovens: “É preciso parar os eventos presenciais!”
O estado de São Paulo registrou nesta semana 61.064 óbitos e 2.093.924 casos confirmados durante toda a pandemia. Entre o total de casos diagnosticados de Covid-19, 1.852.904 pessoas estão recuperadas, sendo que 229.822 foram internadas e tiveram alta hospitalar.
As taxas de ocupação dos leitos de UTI são de 70% só na Grande São Paulo e 69,7% no Estado. O número de pacientes internados é de 14.809, sendo 8.042 em enfermaria e 6.767 em unidades de terapia intensiva, conforme dados desta semana. Hoje, os 645 municípios têm pelo menos uma pessoa infectada, sendo 625 com um ou mais óbitos. Em todo o país são 10.869.227 casos, 9.647.550 recuperados e 262.770 mortes. Em todo o mundo são 116.463.253 casos, 65.805.310 recuperados e 2.586.760 mortes.
Mesmo com o início da vacinação, os números ainda são alarmantes! O Brasil registrou 1.498 novas mortes por Covid-19 ontem (06), com uma média de 1.455 óbitos pela doença nos últimos sete dias, após bater o recorde de mortes por Covid-19 em um intervalo de 24 horas por dois dias consecutivos, o patamar mais alto desde o início da pandemia, foram registradas 10.183 mortes nos últimos sete dias, com isso, a média móvel de óbitos bateu um novo recorde pelo oitavo dia seguido!
Somente na cidade de São Paulo, já são 6 hospitais com 100% de ocupação de leitos de UTI para Covid-19, a taxa geral de ocupação na capital paulista chegou a 77% ontem, sendo que a rede privada varia de 80% a 99% dos leitos de UTI ocupados.
Um ano de pandemia e o país continua batendo novos recordes de mortes
Diante dessa realidade, um dos segmentos mais afetados pela Covid-19 foi o mercado de eventos. O setor registrou prejuízo de R$ 270 bilhões com a pandemia do novo coronavírus, entre março e dezembro do ano passado. As perdas levaram ao desemprego de 3 milhões de pessoas. O segmento representa 13% do Produto Interno Bruto (PIB) e tem 60 mil empresas que dependem diretamente da realização de eventos para funcionar, além de 2 milhões de microempresários. A solução? A retomada, sem dúvida, é algo desejado por organizadores de eventos para amenizar os prejuízos, no entanto, como pensar no retorno quando a Covid-19 ainda é a grande vilã do mundo e desafia a humanidade?
A vacina chegou, mas o isolamento social ainda é uma das medidas preventivas para conter a aglomeração de pessoas e, assim, evitar a proliferação do novo coronavírus. E aí perguntamos: Como será o futuro dos eventos? Quando, com segurança, será possível retornar? Será que podemos voltar aos eventos presenciais ou teremos um futuro de eventos híbridos e on-line?
A verdade é que o futuro dos eventos está sendo construído agora, baseado em experiências do que dá certo e do que não dá! Muitas respostas ainda não existem! Mas se adaptar pode significar a sobrevivência dos negócios!
Analisando essa difícil situação, o Portal Breaking World, que é voltado para a Cultura Hip-Hop e para os seus elementos, resolveu procurar e escutar a opinião de alguns organizadores de eventos reconhecidos e de credibilidade no Breaking que acontecem no nosso país e saber o que pensam e o que andam fazendo…
Começamos conversando com o produtor de eventos Alan Jhone, mais conhecido como B-Boy Papel, de Brasília. Nascido e criado em Ceilândia, formado em Marketing, ele desde 2012 organiza o Quando as Ruas Chamam, sendo um dos grandes eventos expressivos da Cultura Hip-Hop no Brasil, um catalisador e formador de B-Boys e B-Girls, o evento reúne a nova geração e também os mais conhecidos dançarinos do país em suas competições. Ele explica que, em Brasília, a situação em relação à Covid-19 continua complicada, com alto índice de contaminação e de mortes, sendo que Ceilândia é onde tem o maior número de infectados e mortes no Distrito Federal. Um dos motivos é o fato de ser a maior população entre as regiões administrativas do DF, sendo mais de 500.000 pessoas, sem falar nos problemas com a saúde e a falta de leitos para os doentes. São dele as palavras: “A situação ficou séria aqui em Brasília, mas no meu caso, depois que eu organizei toda a parte de pós-produção em 2019, eu peguei o tempo livre e me dediquei em estudos, para fazer algumas provas e como eu já tinha o projeto que seria realizado em 2020 devidamente aprovado, tudo muito certinho, eu já estava com a edição do festival garantida, então, tive liberdade para focar em alguns estudos e olha, eu dei muita sorte, pois não tive nenhum prejuízo financeiro relacionado a essa edição de 2020, porque eu não tinha começado o processo de produção do evento. Eu tinha o planejamento de começar os preparativos no mês de maio de 2020 e aí nos deparamos com a situação da pandemia que estourou em todos os lugares. No estudo pra mim foi complicado, pois eu tive que me distanciar das aulas presenciais e acabou me atrapalhando nisso, mas, felizmente, com os prejuízos relacionados ao evento eu não tive. Mas corremos sérios riscos, tenho a certeza que muitos parceiros de outros projetos estavam com eventos em andamento e tiveram prejuízos gigantescos. Agora é tempo de reinventar, eu continuo me dedicando aos estudos, conseguimos nos movimentar e apresentar a 7ª edição do festival, que foi devidamente aprovada, com a pontuação máxima no edital que ele concorreu, então, nós temos garantido para o futuro mais duas edições do festival. Mesmo no meio da pandemia não deixamos de olhar com carinho por ele e conseguimos mais essa vitória de ter duas edições garantidas! Inclusive, estamos divulgando isso em primeira mão para o Portal Breaking World. Ultimamente, além de estudar, eu tenho cuidado da minha mãe que faz parte do grupo de risco e tenho refletido muito sobre o futuro, porque nós que somos da cultura sempre temos uma vida instável, sem muita garantia, então, eu penso que nós da cultura precisamos pensar mais em como atingir essa estabilidade, para não ter mais esses baques que tivemos, por exemplo, com a pandemia e também venho pensando muito nas alternativas para o futuro, eu sou um cara proativo, inquieto, gosto de pensar longe. Até o momento não temos a intenção de realizar o Quando As Ruas Chamam numa edição on-line, isso fugiria muito do evento. Eu acho que o negócio é esperar e voltar quando for possível com chave de ouro, recebendo todos, creio que o formato on-line seria muito complicado. O Quando As Ruas Chamam tem um lance de encontro de pessoas que vêm de várias quebradas e que podem trocar experiências e nós queremos que isso seja presencial, estamos com uma energia para produzir uma festa linda no momento seguro! O momento ainda é bastante delicado, os índices de infectados ainda são altíssimos, eu penso que as pessoas que precisam fazer seus eventos e aquelas que não podem esperar, devem buscar fazer da forma mais segura possível, cuidando dos nossos com responsabilidade para que nenhum irmão pegue esse vírus maldito. Planos para o futuro é ver alguns outros projetos que eu tenho guardado saírem do papel, como tem sido muito gratificante ver o Quando as Ruas Chamam”, conclui.
Da cidade do poder para o sul do país, procuramos o Pedrinho Festa, organizador da Battle In The Cypher, que é um dos eventos de Hip-Hop mais tradicionais da América Do Sul e já tem 12 edições. O Battle In The Cypher recebe dançarinos de até 10 países diferentes por edição e anualmente tem pré-edições em países como Uruguai, Paraguai e Argentina, além de outras regiões do país. O evento tem uma programação de diversas atividades que não apenas focam numa premiação, mas sim numa construção dentro da cultura Hip-Hop. A maior importância dele se dá pelo formato que prioriza todos os elementos do Hip-Hop. Pedrinho Festa conta: “A última edição foi a edição on-line, em 2020, fora isso tivemos a edição dos 10 anos, em 2019… E sim, logo após ela, já começamos a projetar o ano posterior, tanto que tínhamos organizado edições em 2020 na Paraíba, Santa Catarina, Uruguai e Paraguai antes da pandemia, o evento já estava extremamente estruturado com diversas pré-edições realizadas, passagens compradas, datas, patrocínios, etc., já marcados. Estávamos com um projeto de captação em Mecenato aprovado, que expirou o prazo devido a pandemia. Apesar de termos tido alguns gastos, não tivemos o orçamento comprometido, pois conseguimos reverter muitos de nossos gastos, como de passagens. A nossa principal atitude foi buscar realizar de maneira on-line, mas que tivesse da mesma forma a cara do evento. Até mesmo para poder contratar os mesmos profissionais que estavam no evento e de alguma forma foram impactados com os cancelamentos de datas em 2020. Então, o fizemos de maneira on-line, mas buscamos um formato estilo festival, mantendo as atividades do BITC como a festa Hasta La Cypher, o Graffiti, os workshops e palestras, a batalha de DJs… O Battle nunca foi só uma batalha, o nosso grande desafio foi levar essa essência para o mundo digital. Em 2021, o evento tem data para acontecer: de 29 de março a 4 de abril. Será físico, ainda estamos aguardando para saber se será com público reduzido ou apenas com participantes. Resolvemos fazer agora, pois conseguimos passar um projeto importante de incentivo, com apenas 4 meses de realização e sabemos que muitas pessoas da nossa cultura estão precisando trabalhar, inclusive por isso buscamos contratar um grande número de artistas e trabalhadores da cultura Hip-Hop! Tempos difíceis, mais fácil sentar e lamentar. Sabe aquela gana de fazer a parada acontecer? Bom, a gente tem ela desde algum tempo… Às vezes, passa um filme na cabeça, de como tudo era e mesmo assim acontecia, as pessoas, no fim é tudo sobre energia, sobre as pessoas, sobre o que podemos proporcionar para as coisas serem melhores. Battle In The Cypher nunca foi só um evento, é um ideal, é um compromisso, uma retribuição. É o que somos!”.
De Bento Gonçalves direto para o Rio de Janeiro, a conversa foi com a carioca Sabrina Vaz, mais conhecida como B-Girl Savaz, uma das diretoras do evento Tropical Battle, que acontece presencialmente nos próximos dias 6 e 7 de março, realizado de forma independente, tem o apoio da comunidade Cantagalo-Pavão-Pavãozinho, onde a dança é uma importante ferramenta de transformação social. A ideia do evento nasceu em 2015, dentro de uma Crew só de mulheres, na verdade a primeira Crew de mulheres do Rio de Janeiro, que é a Manifesto B-Girls Crew, que sempre foram protagonistas de ações ligadas ao Hip-Hop carioca. Hoje, a Manifesto B-Girls Crew não existe mas a amizade entre as meninas continua! O Tropical Battle é um evento muito importante para o Rio de Janeiro, porque tem o objetivo de trazer a essência do Breaking carioca, que segundo ela não é muito identificado no Rio. Savaz conta: “Desde então, nós temos visto que influenciamos a cena com a valorização do B-Boy e da B-Girl, com premiações altas, todas as edições foram memoráveis. Até o Tropical Beneficente que fizemos para ajudar a B-Girl Branca na compra de uma cadeira de rodas ou patrocínio para as meninas irem para outros eventos, todas as edições foram especiais, a última que fizemos, em 2020, um pouco antes da pandemia, foi especial, nessa edição tivemos alguns percalços, mas aprendemos, não tivemos nem um pós-produção, porque estava tudo muito corrido, terminamos o evento e já estourou uma pandemia. Nem acreditávamos que ia rolar a edição de 2021, foi um momento de repensar a vida, o evento nunca teve patrocínio, foi do nosso bolso, as meninas foram fazer trem e metrô para ganhar dinheiro para fazer o evento, eu tive que pagar muitas contas do meu bolso. Mas Deus tem provido as coisas e está aí a edição de 2021, depois que estourou a pandemia, em 2020, nós ficamos aliviados por ter conseguido fazer um pouco antes a edição de 2020 e não estávamos comprometidos com a edição de 2021, porque nós não temos verba. Então, foi graças a Lei Aldir Blanc que está sendo possível realizar a edição de 2021, os prejuízos que eu tive em 2020 foram mais pessoal, porque nós não estávamos muito bem organizados, eu precisei tirar dinheiro do meu bolso e quando recebemos a grana da Aldir Blanc, deu para pensar na edição de 2021. Sobre se reinventar, nós nunca encaramos o evento como algo profissional ou um empreendimento. Agora que o evento está começando a ser feito por uma equipe específica, estamos começando a olhar para o evento com um olhar de empreendedorismo, nós estamos precisando nos organizar, sendo um divisor de águas. Tenho escrito editais. Não gostamos de eventos on-line, acreditamos que se perde muita coisa, já tem gente fazendo eventos on-line, se perde muito o “flevo” [sic] mas as nossas eliminatórias estão sendo on-line, quando pensamos no evento achávamos que tudo estaria bem melhor, já conversamos com a equipe que se for necessário cancelar o evento faremos. Todos os eventos aqui no Rio de Janeiro estão acontecendo, estamos providenciando os protocolos de segurança, o purificador de ar para grandes espaços, álcool, mascaras, tudo… como estamos fazendo por um edital do governo, temos com que arcar, então, precisamos apenas ver se vamos conseguir manter as datas por causa da pandemia ou não. Os cuidados não são suficientes, estamos tomando alguns cuidados aprovados pela lei, mas não é suficiente, mas uma coisa que tem me dado paz nesse momento é que tem muita gente que está precisando desse trabalho. Colocamos uma premiação alta, as atividades são gratuitas e as inscrições são R$5,00. Nossos planos para o futuro é fazer um planejamento que o Tropical Battle aconteça todos os anos. O Breaking é algo bastante resistente, ele vai continuar! Estamos acostumados a treinar sozinhos! Acredito que os eventos on-line vão morrer e só ficarão no on-line os grandes eventos que também vão fazer. O Breaking é vida!”.
Saindo da Cidade Maravilhosa e chegando em São Paulo, no coração cultural do Brasil, falamos com um dos pioneiros de eventos de Breaking no Brasil. Rooneyoyo, que é o criador da Batalha Final, evento que nasceu das festas da B-Boys Battle Party, que eram mensais quando Rooney ainda tinha loja na Galeria do Rock/Hip-Hop, no centro da cidade. A primeira Batalha Final foi em 1999, com 26 grupos, com shows e batalhas de grupo, era um evento itinerante e anual. Como B-Boy e Rapper, ele queria ver as coisas acontecendo e ninguém fazia nada, então chamou o DJ Ninja e falou que queria fazer festas mensais para tocar os discos e reunir os amigos, foi aí que tudo começou e virou o que é hoje. Ele fala: “Nossa última edição foi em 2019, foi espetacular, no aniversário de 20 anos, com 7 eventos, 1 a cada 15 dias, fizemos dentro das favelas e dentro do Shopping, utilizando as modalidades que viriam a se tornar olímpicas, com as regras e piso, som, tempo, tudo como se fosse lá, me diverti e fizemos um trabalho lindo, com uma equipe maravilhosa. Na verdade, eu já tinha programado eventos até 2028, como fazemos isso todos os anos, temos um modus operandi bem organizado, buscar recurso, reestruturamos o que temos e colocamos o evento na rua. É logico que sempre mudamos algo, para nos atualizar, mas nossa metodologia vem funcionando tem alguns anos, pois nossa equipe, repito, é ótima! Com a chegada da pandemia, cancelar foi um terror, muitos contratos cancelados, foi frustrante, mas temos que entender que a saúde de todos ainda é mais importante, eventos fazemos aos montes. Era hora de salvar vidas e proteger, foi o que pensamos. Estávamos com o conceito de 2020 pronto, artes prontas, apoios e patrocínios, tudo arranjado. Já estava comprometido financeiramente para a edição de 2020, investimos antecipadamente para adiantar nosso cronograma e deixar tudo no jeito para dedicarmos e focarmos em atender os competidores. Para que todos entendam, nos 20 anos da BF, durante o evento, eu tive um sonho e começamos a desenvolver as artes para a edição de 2020. Financeiramente tivemos prejuízos, ficamos praticamente 5 meses sem trabalho, depois, entrou umas coisas on-line e parou. Então, nos reunimos virtualmente e pensamos que não adiantava correr riscos, hoje, como presidente da Confederação Brasileira de Breaking [CBRB] não poderia colocar os breakers e produção em risco. Atualmente, paramos tudo, estamos trabalhando virtualmente e produzindo conteúdo para, quando estivermos livres para executar eventos, estarmos muito mais prontos que antes. Estamos em luto diário, com familiares e amigos falecendo, um após o outro, então decidimos não fazer nada muito barulhento, estamos lidando com a perda e pensando no futuro. Não estamos felizes, mas temos que seguir em frente e honrar os que ficaram no caminho. Para fazer eventos como tenho visto alguns por aí não me agrada e penso que a falta de estrutura e conceito desmotiva os que levam isso com amor e carinho, muito à sério, então, estamos aguardando o tempo certo para podermos fazer algo para deixar a marca. Conseguimos fazer isso com o DMC Brasil 2020, que foi um sucesso on-line. Com a Batalha Final, não tivemos apoio, então, estamos aguardando o que virá com esta vacina. O momento é incerto, governo irresponsável e alguns indo na onda… e o resultado está visível, triste e calamitoso. Com falta de leitos em hospitais, falta de oxigênio e cemitérios lotados. Sobre a volta de alguns eventos nesse momento, sou suspeito para falar, pois também sou produtor de eventos, não é porque optamos por não fazer que quem faz on-line está errado, só não gosto de alguns conceitos, mas presencial, não concordo e acho uma irresponsabilidade de quem faz e de quem participa. Não é momento para isso! Tenho visto muitos eventos on-line e presenciais com nenhuma segurança de fato, então, a resposta é não, continuo achando uma irresponsabilidade social. O Hip-Hop salva vidas e não leva elas para a tumba!”.
Outro grande evento organizado pelos produtores culturais B-Boy Dunda e B-Girl Lana, o Breaking Combate, em São Paulo, concorda com Rooneyoyo e faz coro, são deles as palavras: “Ainda não é o momento de realizar eventos presenciais. As medidas de distanciamento social devem ser respeitadas até que as atividades presenciais voltem a ser liberadas. Cabe a nós, cidadãos, respeitarmos as normas sanitárias e buscarmos formas alternativas de entrega cultural para a população. O uso de máscara, álcool em gel e lavagem das mãos não são suficientes para proteger as pessoas em meio a grandes aglomerações e, por isso, os eventos presenciais devem ser evitados. O Breaking Combate é uma celebração da cultura Hip-Hop, com foco principal na dança Breaking. Proporciona intercâmbio cultural entre os adeptos da cultura Hip-Hop a sua primeira edição foi em 2009. Nas duas primeiras edições, o evento chamava-se “Carapicuíba Battle”, porém, devido à grande dificuldade de realizar qualquer ação voltada para a cultura Hip-Hop na cidade de Carapicuíba, modificamos o nome do evento para “Breaking Combate” para assim podermos realizá-lo em outros locais”. Eles lembram: “Todas as edições foram especiais, porém, um destaque maior para a edição de 2013, que foi a primeira que trouxemos jurados internacionais, workshops, viagem totalmente paga como premiação dos vencedores e a oportunidade de poderem representar o Brasil em eventos internacionais. Foi realmente incrível receber em nosso evento B-Boys e B-Girls de todo o Brasil e também de alguns países estrangeiros e ter cobertura da mídia televisiva. A última edição aconteceu em 2017. Na ocasião, já prevíamos não realizar as edições de 2018 e 2019 por estarmos focados em outros projetos. O planejamento era retornar com o Breaking Combate 2020, mas, como todos sabemos, a pandemia chegou e todos os planos foram cancelados. Quando a pandemia teve início estávamos na fase de planejamento do evento e, por sorte, não tivemos prejuízos financeiros. O projeto da 6ª edição do Breaking Combate já estava aprovado e sendo planejado, com previsão para acontecer em agosto de 2020, quando estourou a pandemia e tudo foi cancelado. Foi assustador, mas entendemos que, com uma pandemia acontecendo, qualquer evento cultural ou esportivo deixa de ser prioridade. O lado bom das situações adversas é justamente sermos forçados a pensar fora da caixa e nos adaptar à nova realidade. Na produção de eventos não é diferente. A impossibilidade de realizar eventos presenciais e necessidade de evitar aglomerações, abriu um leque de novas oportunidades e formatos a serem explorados. Sobre o futuro, desejamos realizar a 6ª edição do Breaking Combate em 2021, após a liberação dos eventos presenciais ou semipresenciais pelas autoridades sanitárias. Optamos por aguardar e, no momento certo, realizaremos o evento da melhor forma possível, sem expor os artistas e público a riscos”, finalizam.
Ainda em São Paulo, fomos conversar com Thiago Vieira, que é B-Boy há 14 anos e arte-educador formado em Educação Física. Integrante da Crew Guetto Freak desde 2012, Thiago faz produção cultural desde o mesmo período, porém, mais sazonal. No conhecido evento Breaking Ibira, ele foi integrar a produção a partir de 2018, o evento já tem 6 anos, idealizado pelo B-Boy Mion. Foi ele quem fez as primeiras batalhas, cyphers e marcava treinos também. Na primeira batalha que Thiago foi, recebeu o convite para ser jurado, em 2014 mesmo. “E era ali no entorno do MAM (Museu de Arte Moderna), aí em determinado momento houve o contato das educadoras do museu e a partir daí começaram a abrir o espaço e oferecer estrutura de som, etc. Naquele momento, no parque, rolava muito os famosos rolezinhos…”, Thiago conta, “Sempre que realizávamos uma edição, logo em seguida fazíamos uma reunião para fazer uma avaliação e pensar numa próxima, mas no geral todas as edições foram pensadas no início do ano e, dependendo da situação, poderiam mudar de posição no cronograma ou não, na última edição de 2019, que foi a batalha de crews, nós encerramos e fomos para um rodízio de comida japonesa (risos), fomos comemorar e os planos para o ano de 2020 ficaram para janeiro. Num ano normal, a primeira edição é em março. Quando foi anunciada a pandemia, nós estávamos com quase tudo pronto pra primeira edição do ano, poucos dias depois cancelamos e ai não teve o que fazer naquele momento, só parar e avisar o público. O Breaking Ibira tem parceria com o MAM, as atividades deles pararam e consequentemente as nossas também, houve um prejuízo financeiro, principalmente para a equipe que trabalha, que sempre fecha muito com a gente e do dia pra noite perderam parte dos rendimentos, depois de um tempo, como não parecia que a coisa ia se normalizar tão cedo, passamos a nos reunir para encontrarmos uma solução, mas não foi possível fazer muita coisa, algo que tenho dito com relação a pandemia é que os trabalhadores da cultura foram os primeiros a pararem e provavelmente serão os últimos a voltarem, a sociedade não vê cultura como essencial, mesmo que assista séries e filmes todo dia, trabalhe ouvindo música e dance quando está feliz. Discutimos bastante sobre novas possibilidades, primeiro, fizemos um workshop on-line e depois fizemos a batalha, o objetivo inicial era gravarmos e depois lançar on-line, mas no fim, a melhor ideia foi o Mini Doc Breaking Ibira 6 Anos e ficamos muito satisfeitos com o resultado! Eu fui bastante afetado pela pandemia, 80% de todos os meus rendimentos foram afetados, bem complicado, mas não senti que devia entrar em pânico, aproveitei para estudar e fiz muito isso e graças ao “tempo” que tive, concluí outra graduação e já tenho outros projetos em mente, nesse sentido a pandemia ajudou a clarear os pontos onde tem que focar para manter estabilidade, não que ela seja real, não se pode ser estável sempre, mas é possível se planejar. A edição de novembro inicialmente seria on-line, mas seria gravada e os B-Boys batalhando no presencial, nas batalhas onde cada dançarino ou dançarina responde de casa, a gente observou bastante o que estava rolando e não sentimos que estava desenvolvendo bem, pois tem várias limitações, uma delas é a qualidade da conexão, a outra é que uma batalha de Breaking on-line perde um fator que é importantíssimo, que é a energia trocada, para mim é como uma luta de MMA on-line, numa batalha de Breaking você que está lá sente, o público sente, a intenção, a energia do B-Boy ou da B-Girl, se está com vontade de botar fogo, se está com medo, indiferente, arrogante… e o B-Boy ou a B-Girl que responde é diretamente afetado por essa energia e ele pode responder! É isso que deixa a batalha interessante. Então, nós fizemos uma edição em novembro, presencial, num momento em que os números da pandemia tinham caído muito, mas mesmo assim foi complicado, teve gente que tirou a máscara, se abraçou… no calor da batalha a galera esquece… eu particularmente não julgo, tem gente que anda de ônibus ou trem lotado todo santo dia, como dizer para ela que a única medida de distanciamento social possível é justamente o lazer dela? Não posso falar nada dela, mas nós, Breaking Ibira, não faremos presencial ainda, não vamos incentivar ninguém a se arriscar… pela nossa experiência, vimos que era difícil a galera manter 100% dos cuidados, não dava para contar com isso, particularmente, até acho que as medidas juntas são relativamente efetivas, mas não acho que serão seguidas. É difícil estabelecer parâmetros dentro de uma situação tão incerta, no geral o plano principal é voltar… mas quando tiver menos risco, sendo início de ano, pensar em como queremos continuar é fundamental, temos muito mais limitações agora e sabemos o que não queremos, temos uma ideia do que queremos. Batalhas? Sem público, on-line, sim, mas quem está batalhando tem que estar frente a frente apenas com uma imagem de qualidade, sem aqueles cortes de conexão que acabam com a experiência. No momento, estamos mais propensos a dar continuidade ao Mini Doc Breaking Ibira. Acredito que a vida será mais on-line, estudar será mais on-line, trabalhar será mais on-line; alguns eventos que tiverem sucesso nas lives vão permanecer no formato, mas vai sobreviver e permanecer aqueles que tiverem uma estrutura excelente, internet de altíssima velocidade, equipe rápida e eficiente; e as situações mistas, eventos transmitidos mas que também têm público presente e a questão da inserção do termo esporte ou “esportivização” [sic] vai estar cada vez mais em discussão, talvez isso afete os eventos, mas ainda não dá para falar. Sair ou não pra treinar, eu não estou indo treinar, mas sei que treinar pode ser parte da sobrevivência, da paz interior, portanto, não o julgo se estiver no corre, mas lembre-se de manter o distanciamento, se possível treine só com sua Crew ou, melhor ainda, só com um amigo ou amiga. Que Deus nos proteja e que venham dias melhores pra todos nós!”.
Eventos presenciais, híbridos ou on-line? Qual a solução?
Então, o que podemos esperar do futuro? E o que temos de concreto?
Então, o futuro dos eventos será on-line?
Para alguns profissionais do ramo de eventos, talvez o futuro será compósito. Trabalhar de forma mais ampla a experiência dos eventos. O fato é que não existe uma receita de bolo.
Um dos novos produtos em tempos de pandemia é o evento híbrido. Combinando atividades presenciais, para um público reduzido e streaming, com possibilidade de transmissão ao vivo para milhares de pessoas, o formato configura uma tendência. “Diante dos desafios do setor, os eventos híbridos tornaram-se a melhor alternativa para o momento atual”, afirma Marceli Oliveira em uma entrevista recentemente publicada. Superintendente do complexo Expo D. Pedro, um dos maiores espaços multiuso para eventos do interior de São Paulo, ela garante que os eventos híbridos vêm transformando a interação do público. Não mais em grandes espaços, mas acomodado em estúdios e salas menores, com todo o protocolo de segurança contra o novo coronavírus, o participante tem a oportunidade de experienciar presencialmente o evento. A transmissão por streaming permite que se participe remotamente.
Outra vantagem do novo formato é sua capacidade para atender de pequenos a grandes eventos. A infraestrutura dedicada a este formato permite se adequar ao número de participantes e às necessidades de cada evento. “O evento híbrido foi uma forma que o setor encontrou de se reinventar para apresentar novas soluções para as necessidades do cliente”.
Na agenda 2020 do Complexo, 30% dos eventos presenciais migraram para híbridos, destaca Marceli Oliveira. “Este fato nos surpreendeu de forma muito positiva”, afirma. Os presenciais, de acordo com a superintendente, mantêm-se de forma linear e crescente para os próximos anos. “Mas os eventos híbridos conquistaram seu lugar como produto em nosso portfólio, investimos em soluções e infraestrutura. Internet de qualidade é prioridade, completa. Se adaptar é a palavra dos próximos dias meses ou até anos!”.
Um alento neste momento de crise a Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc (Lei nº 14.017, de 29 de junho de 2020) que repassou mais de R$ 3 bilhões de recursos federais para ações emergenciais do setor cultural em estados e municípios. Segundo a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, “foram repassados no estado um total de R$ 264,5 milhões para 4.095 projetos culturais aprovados e contratados nas 25 linhas do ProAC Editais LAB. Com isso, em 2020, foram concluídas as etapas necessárias para assegurar a destinação por meio da Lei Aldir Blanc, de R$ 272.165.500,00 ao setor cultural e criativo de São Paulo. Ao todo, o Governo do Estado recebeu R$ 281.838.497,67 do Governo Federal, sendo R$ 264.155.074,63 relativos à cota original do Estado e R$ 17.683.423,04 relativos à reversão de valores não utilizados por municípios. O índice de execução, portanto, foi de 100% do valor recebido inicialmente e de 96,9% do total recebido”.
Após a polêmica gerada com o setor cultural depois do anúncio da suspensão do ProAC Expresso ICMS e a criação de uma nova linha de editais denominada ProAC Expresso ICMS, a assessoria de imprensa da secretaria informou que “sobre o incentivo fiscal por fomento direto, o Governo do Estado de São Paulo vai substituir o ProAC Expresso ICMS (programa de incentivo fiscal à cultura) por um programa de fomento direto a projetos culturais com recursos orçamentários, o ProAC Expresso Direto, mantendo o mesmo valor (R$ 100 milhões) e adotando normas e procedimentos semelhantes. Não haverá perda para o setor cultural e criativo. A medida valerá para 2021, 2022 e 2023 e foi tomada para enfrentar o déficit fiscal gerado pela crise da pandemia do coronavírus. O decreto orçamentário com este valor será publicado em breve. Posteriormente sairá o regulamento do novo ProAC Expresso Direto, a ser elaborado pela Comissão de Análise de Projetos (CAP) da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, que será a instância de análise e seleção de projetos. Será feita uma consulta pública para que a sociedade civil possa enviar contribuições. Os proponentes que tiverem projetos selecionados receberão os recursos diretamente. Com isso, o Governo do Estado de São Paulo reafirma seu compromisso com a valorização da cultura e o estímulo ao desenvolvimento do setor cultural e criativo. O ProAC Expresso Editais e o Programa Juntos Pela Cultura serão mantidos e também terão em 2021 recursos em patamar semelhante ao de 2020”.
O Portal Breaking World indagou sobre as perspectivas da pasta para o setor cultural em 2021, principalmente no que diz respeito ao cenário pós-imunização. São do Secretário de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, Sérgio Sá Leitão, as palavras: “Para 2021, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa trabalhará para a manutenção, o aperfeiçoamento e a ampliação do trabalho realizado pelas instituições culturais do ecossistema de cultura do Governo do Estado de São Paulo, que conta com cerca de sessenta instituições, espaços culturais e corpos artísticos como os Museus, Fábricas de Cultura, Oficinas Culturais, OSESP, Cia de Dança SP, Sala São Paulo, Teatro Sérgio Cardoso, entre outras. Além disso, teremos o ProAC Expresso Direto, o ProAC Expresso Editais e o Juntos pela Cultura, programas de fomento, que em 2019 tiveram um valor recorde, batido em 2020 e que esperamos bater em 2021, até porque é um investimento público que se tornou ainda mais fundamental diante do quadro da crise. E temos algumas novidades previstas como a criação de três novas Fábricas de Cultura, em Ribeirão Preto, em Heliópolis, na capital e em Iguape, na região do Vale do Ribeira, parte do programa Vale do Futuro; a reabertura do Museu da Língua Portuguesa e seguimos a todo vapor com o restauro e a ampliação do Museu do Ipiranga que será reaberto para a população em setembro de 2022. Sobre a retomada das atividades culturais, continuaremos seguindo todas as exigências, orientações e protocolos preconizados pela Organização Mundial da Saúde e pelo Centro de Contingência da Covid-19 do Governo do Estado de São Paulo. Este ano, tudo que faremos será on-line e, na medida das possibilidades, presencial. Afinal de contas, a pandemia continua aí e precisamos continuar tomando todos os cuidados até que haja a vacinação em massa da população. Mas este ano, a previsão é que todas as nossas atividades, os nossos programas e ações passem a ser híbridos: presenciais e on-line.”, conclui.
Para Zé Renato, produtor cultural que participa dos Fóruns Emergenciais Municipal e Estadual de São Paulo e integrou o grupo de trabalho da sociedade civil para implementação da Lei Aldir Blanc junto à secretaria de cultural da capital paulista, a Lei Aldir Blanc foi importante para que as pessoas tenham algum recurso, mesmo que parco, para sobreviver nestes tempos de pandemia. Ele explana: “Ao mesmo tempo que chegou em pessoas que nunca tiveram oportunidade ou acesso, ainda teve processos de inscrições complexos, mecanismos de comunicação com a sociedade falhos ou inexistentes, e não fosse a organização da sociedade civil no sentido de realizar uma busca ativa e tutoriais de saneamento de dúvidas, o impacto seria ainda menor do que foi. Seria melhor se os governos tivessem ouvido a sociedade civil na criação de inscrições simplificadas, sem burocracia, com ampla divulgação e pontos de apoio para inscrição e atendimento de um número muito maior de contemplados, com valores menores, melhor distribuídos. Tudo isto era possível, mostramos caminhos, e o poder público se negou a ouvir, na maior parte de seus aspectos. Ao mesmo tempo que, cotidianamente, recebemos mensagens de agradecimentos de coletividades que só conseguiram por causa das ações coletivas que a sociedade civil realizou e que terão acesso, neste momento, aos recursos, muitos deles pela primeira vez na vida”, para o produtor, os critérios utilizados para seleção dos projetos foram “frágeis, quando se pensa num auxilio emergencial. Na implementação da lei, na maior parte dos lugares, levou-se para a Lei Emergencial de Auxílio imediato a mesma lógica meritocrática dos editais concorrenciais usados habitualmente pelo poder público. Poderia ser mais simples e ousado, como por exemplo, a partir de um cadastro comprovando atuação na área a pessoa receber um recurso emergencial e ponto. Qualquer coisa além disso, no momento pandêmico, mostra-se concorrencial”, conclui.
Sobre a retomada pós-pandemia, Zé Renato declara: “Acho muito difícil voltarmos a uma possibilidade de atuação regular no ano de 2021, face o recrudescimento da pandemia e a péssima gestão da crise realizada pelo governo brasileiro. Para a sobrevivência do setor cultural ainda dependeremos do uso da verba da lei emergencial, que na maior parte dos lugares foram pagas apenas no final do ano ou estão sendo pagas no começo deste, e da ampliação desse tipo de ação, seja por nova aplicação de recursos do Fundo Nacional de Cultura, na atuação de Estados e Municípios em legislações próprias de auxilio emergencial e outras ações do gênero, pois neste ano não teremos uma atuação regular dos nossos pares”. Sobre os eventos on-line, o produtor opina: “Eu acho que chegaram para ficar, terão seu espaço, mesmo que não prioritário, como aconteceu em 2020. Ainda que tenha sido do ponto de vista estético bastante questionável os resultados, em minha opinião, pois na maioria das vezes apresentou-se coisas adaptadas e não criadas para o modelo on-line, ao longo do ano acabaram aparecendo algumas iniciativas que apontaram para uma “criação para este modo de troca”, com resultados interessantes. Por isso, acho que ainda teremos um caminho a percorrer até entender que tipo de ações podem ser para este modo on-line e o que tem potência para este canal. Acho que será assunto para anos ainda.”, finaliza.
Para os infectologistas e médicos que estão na linha de frente de combate a Covid-19, só existe uma forma de deter esse vírus, que é respeitando o isolamento social. Explicam: “Eventos têm alto potencial de transmissão da Covid-19. Entram na categoria conhecida como “super spreader”, ou supertransmissores. Ao longo da pandemia, cientistas se debruçaram sobre o fenômeno dos indivíduos ou eventos que têm um papel decisivo em espalhar a doença”. Dr. Joaquim Keller, que no passado era B-Boy, explana: “Cada vez que um evento acontece, mesmo com todos os cuidados recomendados, temos uma explosão de novos casos. Precisamos parar agora para prosseguir lá na frente. Acho que alguns organizadores de eventos deveriam pensar sobre suas responsabilidades nisso tudo, pensar em algumas coisas, como melhor que dar uma oportunidade para o próximo pagar as contas é garantir que ele esteja vivo no futuro. Estamos lidando com novas variantes que não conhecemos, mas que sabemos que são mais graves, rápidas e letais entre jovens, não temos mais espaços nos hospitais e nas UTIs, sejam públicos ou privados. Sem falar nos jovens assintomáticos que estão espalhando as variantes! Quando uma pessoa resolve fazer um evento, uma festa ou aglomerar, ela se torna responsável por cada vida ali presente. A pergunta é: queremos ser responsáveis pela morte dos nossos amigos e irmãos? Se o Hip-Hop é vida, porquê estamos caminhando para a morte? Que consciência estamos tendo em relação a esse assunto? As vacinas chegaram, mas ainda temos apenas 3% da população brasileira vacinada! A minha opinião é que reflitam, se cuidem e cuidem do próximo. E permaneçam vivos!”.
Observação: No dia do fechamento dessa matéria, recebemos a informação que os organizadores do Battle In The Cypher, que acontece de 29 de março a 4 de abril, optaram por realizar o evento no formato virtual. A decisão foi de fazer um encontro mais seguro, diante do contexto atual da pandemia pelo coronavírus no Rio Grande do Sul e no Brasil. No Rio de Janeiro, o evento Tropical Battle, que está acontecendo nesse momento, devido ao Decreto 48.573 cancelou os workshops presenciais, a tradicional Cypher no Arpoador e a batalha de iniciantes acontece no domingo, junto com a principal. Apenas competidores poderão estar presentes no local, acompanhantes não poderão entrar e nem público expectador.
Fotos: Arquivo Pessoal / Reprodução
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Mulheres da Cultura Hip-Hop participam da 2ª edição do Empowerment Day, contam suas vivências e refletem sobre alguns temas de empoderamento feminino.
Aconteceu no último dia 3, a gravação de mais uma edição do Empowerment Day, que vai ao ar no próximo dia 8 de março de 2021, no Dia Internacional da Mulher.
Idealizado pela Casa de Cultura Urbana Street House, de São Paulo, o evento que teve início no ano de 2020 e se tornou um marco quando o assunto é empoderamento feminino, esse ano aconteceu de uma forma híbrida devido a pandemia, seguindo os protocolos e as normas de segurança, como parte da semana “Street House Em Ação”, realizada com recursos da Lei Aldir Blanc por meio da Secretaria de Cultura do Município de São Paulo e do Governo Federal e apoio da CBRB – Confederação Brasileira de Breaking e do Breaking World.
As convidadas dessa edição foram:
Rose MC: Faz parte da cultura desde 1985, Rapper desde 1992, professora de Artes, umas das autoras do livro Perifeminas. Rose faz parte do coletivo Hip Hop All Stars e Clássicas do Hip-Hop.
B-Girl Bia: Beatriz Sena atua na cultura Hip-Hop desde 2012, através da conhecida Crew Street Son e do coletivo Multiforme. B-Girl, dançarina, professora de Educação Física, produtora de eventos e modelo publicitário.
Mel Zabunov: Ela veio de São Bernardo do Campo, formada em Teologia e Jornalismo Cultural. Mel Zabunov é uma vigorosa grafiteira. Resgata em seus trabalhos o empoderamento feminino e todas as suas nuances.
DJ Tati Laser: Ela sempre comanda a festa. Como o nome fala, a DJ Tati é super rápida, daí o apelido “laser”. Idealizadora do projeto As Minas Risca, Tati faz parte do coletivo Applebum DJS e da Hotstepper Crew. Ela ensina a arte dos toca-discos para crianças!
Luciana Mazza: Presente na cultura desde 1986, quando viajava do Rio de Janeiro onde morava para acompanhar e participar da efervescência da Cultura Hip-Hop em São Paulo. Ela é editora do Portal Breaking World, jornalista, cineasta, assessora de imprensa e mãe de B-Boy e de B-Girl.
Juntas, essas mulheres incríveis não se calaram, tomaram conta do bate-papo totalmente empoderadas e falaram sobre diversos temas como preconceito, discriminação, assédio, violência, sobre suas referências e sobre o legado que pretendem deixar para as próximas gerações femininas. Provando que o lugar das mulheres, é onde eles quiserem!
A roda de conversa foi mediada pelo jornalista Marcelo Rebello e a filmagem feita pelo fotógrafo e cinegrafista The Sarará. O evento será exibido na próxima segunda-feira a partir das 14h (horário de Brasília) e depois reprisado no Facebook, no Instagram e no canal de YouTube da Casa de Cultura Urbana Street House (@streethousebrasil).
Fotos: The Sarará / Street House
Mel Zabunov
DJ Tati Laser
B-Girl Bia
Rose MC
Luciana Mazza
The Sarará nos bastidores da gravação
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