Neste mês aconteceu no Centro de Eventos de Barueri o 2º Street Festival, o evento, que teve sua primeira edição em 2021, em plena pandemia, num formato híbrido e foi um sucesso na cidade de São Paulo, agora em 2022, a Street House, organizadora do festival, escolheu a cidade de Barueri, que sempre foi destaque nacional por sua vocação empreendedora e inovadora, gerando oportunidades para a democratização e utilização dos espaços públicos para o desenvolvimento da arte e hábitos esportivos e culturais nas ruas, nos bairros, criando novas sociabilidades e permitindo que crianças, jovens e adultos compartilhem conhecimento e o Dia Mundial do Hip-Hop para reunir todos os elementos dessa cultura. O primeiro dia de festival começou alegre, recebendo um grande número de crianças que participaram da competição de Breaking Kids 1×1 e, também os dançarinos, que participaram das competições de Breaking adulto que aconteceram no formato “Seven to Smoke”. No Kids, os jurados foram B-Girl Angel do Brasil, B-Boy Eagle e B-Boy Marcin, todos os três são dançarinos de Breaking que treinam em Barueri e representam a cidade em campeonatos nacionais e internacionais.
Imagem: Nanah D`Luize
Na competição de adultos, os jurados foram B-Boy Suco do Projeto Hip-Hop Educa, B-Girl Bia e B-Boy Sonek, que também é dançarino e professor de Breaking em Barueri. Nos toca-discos quem comandou a festa foi DJ Ninja e DJ Piu Robson e no microfone o MC Lula. Na modalidade Kids, o 1º lugar ficou com o B-Boy DN do Projeto 1 Mais 1 Faz a Diferença, em 2º lugar B-Girl Estrela Cadente, do mesmo projeto e em 3º lugar B-Girl Bia, aluna de Breaking de Barueri. Na competição de adultos 1×1, o ganhador foi o B-Boy Luizika, da Família Rua Crew. No feminino, B-Girl Nico ganhou a premiação!
Imagem: Nanah D`Luize
Passado as competições de Breaking, foi a vez da palestra do Coach Esportivo João Carlos Gaião da Academia Atleta Campeão, que é uma plataforma on-line voltada para o treinamento mental de atletas de competição, que vem conquistando cada vez mais atletas e treinadores de diversas modalidades esportivas e e-sports do Brasil e do mundo, que falou especificamente sobre ter uma mente de um atleta campeão, foi uma oportunidade de muito aprendizado para quem participou e um momento de adquirir mais confiança e sanar dúvidas.
Imagem: Breaking World
Ainda no mesmo dia, o Street Festival recebeu Mano T, Vitão RM, Duque-R e o SP Hip-Hop All Stars, uma festa comandada pelo DJ Heliobranco, recebendo nomes de peso como Elly, que é um dos fundadores do conhecido e pioneiro grupo DMN.
Imagem: Breaking World
E encerrando as atividades do primeiro dia, foi a vez da tão esperada Batalha de DJ´s Masculina, onde o grande ganhador foi o DJ Raylan. Durante todo o dia, aconteceram no festival as exposições “Breaking e suas expressões” do fotógrafo The Sarará, ” Olhares em Foco” da fotógrafa Nanah D´Luize, a exposição de jaquetas grafitadas de Fabiano Minu, live paint de graffiti da Cheira Tinta Crew e da Alquimia de Barueri e as barraquinhas de artesanatos e gastronomia urbana e vegana. Outros destaques do evento foram a presença da marca Pixa-In, da Ibotirama Records e a atuação da Clínica Reactive de fisioterapia, dando assistência a todos os dançarinos presentes durante os dois dias de evento.
Imagem: Nanah D`Luize
No segundo dia, o Street Festival recebeu mais convidados. Foi a vez das competições de Breaking nas modalidades de duplas e crews (grupos) e a Batalha Tik Battle, quem comandou a festa foi o DJ Insano. E a dupla ganhadora foi o B-Boy Thiago Vieira e a B-Girl Furacão. Nas crews, o 1º lugar ficou para a SG Crew. Na Tik Battle, ficou com o título o dançarino Wender. Ainda se apresentaram no Barueri Street Festival os artistas Adonis Maia, DJ Malo, João Bazílio, Naipe-Z, Sorriso Nogueira, Sied Mob, e de Barueri a DJ Grazi Flores e o Projeto Art Lab. Quem também marcou presença foi a Cheira Tinta Crew, palestrando sobre o Graffiti como inspiração e transformação e contando um pouco da trajetória deste elemento da cultura urbana na cidade de Barueri. Finalizando o segundo dia, teve a Batalha de DJ´s Feminina, julgada por Tati Laser e Lisa Bueno e a grande ganhadora foi a DJ Miya B, que se sagrou bicampeã da Street Battle DJ’s.
Imagem: Breaking World
São de Marcelo e Luciana, da Street House e organizadores do festival, as palavras: “Assim como o primeiro Street Festival em São Paulo, que foi épico, a segunda edição, desta vez em Barueri, também escreveu suas páginas trazendo acima de tudo o passado e a esperança no futuro! O evento cumpriu o seu objetivo de reunir todos os elementos da Cultura Hip-Hop numa festa, com uma ótima estrutura e com foco nos detalhes! A presença das crianças no primeiro dia encheu nossos corações de alegria, nos dando a certeza que o Hip-Hop e todos os seus elementos resistem e continuam nas gerações futuras! Quem não é da cultura e visitou o evento teve a chance de conhecer um pouquinho mais sobre o Breaking, novo esporte olímpico de Paris 2024! Agradecemos a Deus, ao Prefeito de Barueri Rubens Furlan, ao Secretário de Cultura Jean Gaspar, ao Coordenador de Projetos Diogo Bueno pelo apoio concedido e a todas as pessoas, coach e artistas que participaram dessa edição do Street Festival, sejam trabalhando, organizando ou dançando, agradecemos ao MC, aos jurados, aos dançarinos, os rappers, os DJ’s, os grafiteiros e as marcas que acreditaram no nosso evento. Agradecemos aos mestres da fotografia Nanah D´Luize, The Sarará e Cadú Araújo, que através dos seus olhares eternizaram mais uma vez o Street Festival! Que orgulho de vocês, reunimos os melhores fotógrafos, com os melhores clicks da cena! Temos a sensação de dever cumprido e o gostinho de queremos mais! O Street Festival continua! Até 2023!”.
Imagem: Nanah D`Luize
Imagem: Nanah D`Luize
Imagem: Breaking World
Imagem: Nanah D`Luize
Imagem: Breaking World
Imagem: DJ Piu
Imagem: Breaking World
Imagem: Breaking World
Imagem: Breaking World
Imagem: Breaking World
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No último final de semana, aconteceu no bairro do Jabaquara, em São Paulo, mais uma edição do Troféu Arte em Movimento, organizado pelo artista plástico José Pereira de Souza, mas conhecido como Zep.
O evento, mesmo num dia chuvoso, teve sucesso de público e reuniu diferentes gerações de artistas da Cultura Hip-Hop.
As mulheres estiveram em peso, só em São Paulo foram mais de 100 homenageadas, entre elas: Rúbia, Rose MC,Kika Maida, B-Girl Cris, a grafiteira Mel Zabunov, B-Girl Angel do Brasil e a rapper mirim Sara Cipri. A lista foi escolhida por nomes bem conhecidos e respeitados na cena como Robson Melancia, Monica Senna, Nego Mario e King Nino Brown.
Entre os homens, nomes como B-Boy Amendoim, o fotógrafo The Sarará, B-Boy Danzinho, o grafiteiro Minu e Dj Ninja receberam a premiação. Estava na casa, ou seja, em casa, também, a crew Jabaquara Breakers.
O evento, que está em sua sétima edição, este ano contou com uma novidade: 5 premiados internacionais selecionados pela apresentadora espanhola Margarita Espino, que é jornalista e apresentadora na Espanha e que foi convidada para indicar 5 artistas do Brasil para receber o prêmio.
O Portal Breaking World esteve no evento e registrou os melhores momentos, confira:
Nos próximos dias 25, 28 de setembro e 7 de outubro, o grupo Funk Fockers apresenta um espetáculo de Breaking, que vai ser transmitido ao vivo . “Rotina” é o nome desse trabalho e leva a cultura Hip-Hop das ruas para o palco, misturando coreografia e audiovisual, sempre buscando novos horizontes dentro da cena.
“Existem poucos espetáculos de Breaking no país. Conseguimos de forma inédita a contemplação no edital ProAC, concorrendo com grandes companhias de dança de diversos segmentos como o balé e contemporâneo, nos permitindo colocar em prática as nossas ideias e apresentar uma obra criativa em uma narrativa atual e otimista”, comenta Allan Lopes (Mixa), diretor, B-Boy e coreógrafo. O espectador irá acompanhar o dia a dia de três entregadores de aplicativo que se preparam para curtir a primeira festa de Hip-Hop pós-pandemia.
O projeto conta com a colaboração da Fuligem Comunicação e Arte, um coletivo de artistas audiovisuais.
Imagem: Renato Prado
Conheça os artistas:
Allan Barbosa Lopes (Mixa): diretor artístico, coreógrafo , intérprete e B-Boy, no cenário Hip-Hop há quase 20 anos. É um dos fundadores da Funk Fockers, crew que foi criada em 2008. Passando por França, Dinamarca, Alemanha, Chile, Argentina, Estados Unidos e Colômbia, conquistou alguns títulos individuais e em grupo.
Bruno Siles (Onnurb): coreógrafo e intérprete, também é membro fundador do grupo Funk Fockers e dançarino de Breaking há 19 anos. Participou de competições nacionais e internacionais em vários países como Suíça, França, México e Singapura.
Thiago Antonio Alves (Thiaguin): coreógrafo e intérprete, integrante do grupo Funk Fockers, dançarino de Breaking há 18 anos, participou de um dos maiores campeonatos do mundo – The Notorious IBE, na Holanda, em 2011, como convidado especial.
Igor Goforit: DJ, MC, produtor e beatmaker desde 2000.
O projeto Rotina é realizado pela Fuligem Comunicação e Arte, Funk Fockers Crew e Governo do Estado de São Paulo, por meio do edital ProAC 03/2020 e conta com o patrocínio da Nest Panos, apoio da Strutura Contábil e Me Ghusta e produção da Oriri Agência Cultural.
Imagem: Renato Prado
Serviço:
Rotina Espetáculo de Breaking com Funk Fockers Crew 50min de duração On-line (Gratuito)
Confira o local das transmissões:
25/09/2021 às 19h Site: nestpanos.com YouTube: https://youtube.com/c/NestPanos
30/09/2021 às 19h YouTube – https://youtube.com/c/SUJO https://youtube.com/c/Funkfockers Instagram: https://instagram.com/funkfockers
Série sobre o Hip-Hop em SP, idealizada por OsGêmeos, estreou na última quinta-feira no YouTube da Pinacoteca de São Paulo
A Pinacoteca de São Paulo lançou semana passada uma série audiovisual chamada “Segredos”, idealizada pelos gêmeos Gustavo e Otávio Pandolfo, que contam a história do Hip-Hop brasileiro por meio das lembranças dos artistas que fizeram parte dessa efervescência, desde 1980. A série foi dividida em quatro episódios e vai ser disponibilizada no YouTube da Pinacoteca (https://www.youtube com/user/MuseuPinacoteca) todas as quintas, às 20h.
A cada episódio, OsGêmeos recebem convidados diferentes que fazem parte do movimento para relembrar a trajetória de cada um e contá-la às novas gerações. Desta maneira, pretendem demonstrar como o Hip-Hop se transformou em uma das manifestações artísticas e culturais mais relevantes no Brasil, sendo determinante na vida dos que fizeram e fazem parte dele, não apenas por introduzi-los ao Rap, ao Breaking e ao Graffiti, mas pelas amizades que surgiram nos eventos da São Bento, berço do movimento em São Paulo, e que continuam até hoje.
Os encontros acontecem no vagão de um trem, imaginado pelos artistas e montado no ateliê dos dois. Declararam numa entrevista para o Estadão: “É uma cápsula do tempo que nos leva de volta à década de 80 para reviver a nossa história e a dos nossos amigos, que é a própria história do Hip-Hop”, conta Gustavo. Dentro desta máquina do tempo se revela, por exemplo, que o DJ KL Jay, do Racionais MC’s, foi dançarino de Breaking nos anos 1980. Os próprios irmãos, conhecidos no mundo inteiro graças ao Graffiti, contam que dançaram Breaking e cantaram Rap. “Todo mundo fazia um pouco de tudo”, diz Otávio.
Gustavo e Otávio Pandolfo, mundialmente conhecidos como “OsGêmeos”
A ideia de documentar a história do movimento é antiga, mas fazer isso por meio de uma série documental surgiu durante a montagem da exposição “OsGêmeos: Segredos”, no ano 2020. A exposição pretendia, inicialmente, fazer oficinas de Hip-Hop com jovens para incentivar a arte, mas a ideia foi abortada após o surgimento da pandemia do coronavírus. Foi aí que a série surgiu. O resultado é visto de uma maneira tão positiva pelos artistas que eles contam que “é só o começo de uma grande história”, mas não revelam o que têm em mente. O futuro promete revelar segredos…
Segundo Jochen Volz, o diretor-geral da Pinacoteca, a intenção é que o documentário também tenha uma finalidade educadora e possa servir para fomentar aulas, oficinas e debates. “O documentário foi montado de maneira bastante didática para ser visto por todos os públicos e para que os jovens, estudantes, possam aprender sobre a história do Hip-Hop e dos seus próprios artistas”, afirma Volz.
Segundo os irmãos, as entrevistas do documentário foram feitas sem um roteiro. Com improviso, histórias que não conheciam, mesmo com mais de 35 anos de amizade com a maioria dos entrevistados, foram reveladas por meio do relato de convidados como: Thaíde, KL Jay, Erick Jay, Edi Rock, Rooneyoyo e Nelson Triunfo.
Fotos: Divulgação Pinacoteca/OsGêmeos
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“Eu percebi que o Brasil não me oferecia muita coisa e resolvi me projetar para fora, onde a minha arte é mais valorizada! ” (B-Boy Neguin)
Ele é de Cascavel, Paraná, mas hoje mora em New York e se considera um mensageiro da Cultura Hip-Hop e da arte. Com 33 anos, é considerado um dos melhores B-Boys do mundo. Conhece mais de 141 países e já participou de mais de 100 campeonatos internacionais, sendo o único latino-americano e brasileiro a conquistar o cinturão de campeão da Red Bull BC One. Também coleciona outros títulos, destaque para: UBC Championship em Las Vegas, Unbreakable, Freestyle Session e Outbreak Europe. Foram vários mundiais 1 vs 1, onde foi o único brasileiro a alcançar esses títulos até hoje. Trabalhou com grandes nomes internacionais como Fergie, Gwen Stefani, Sean Paul, Justin Timberlake, Paul McCartney e Missy Elliot. Estamos falando de Fabiano Carvalho Lopes, mais conhecido na cena e no resto do mundo como Neguin. O nosso Neguin do Brasil! O Portal Breaking World bateu um papo com ele e hoje apresentamos com exclusividade para vocês:
BW: Queria que você falasse como foi sua infância. O que gostava de fazer quando criança e que lembranças tem dessa época? Foram tempos difíceis ou tranquilos?
Neguin: Minha história começa em Cascavel, no Paraná, eu comecei na capoeira aos três anos de idade. E, depois de 10 anos praticando capoeira, me interessei em aprender uma cultura diferente, então, eu despertei o interesse e comecei a praticar a Cultura Hip-Hop. Eu pratiquei todos os elementos da Cultura Hip-Hop, mas o que eu mais me destaquei foi o Breaking, devido eu já ter toda essa filosofia e conhecimento da capoeira. Então, eu mesclei as duas artes que englobam várias artes em uma só e a partir dali dei início a uma nova trajetória dentro da Capoeira e do Breaking, onde sou reconhecido mundialmente hoje. Mas, nesse período de criança, da infância, eu me envolvi também com outras atividades, o skate, o jiu-jitsu, sempre me envolvi com artes, pinturas. Sempre fui um menino voltado a aprender coisas novas que me inspiravam artisticamente. Sim, foram tempos difíceis devido ao nosso país não proporcionar apoio e nada, eu vim de família super humilde, que sempre apoiaram a minha arte, mas financeiramente sempre houve um obstáculo de viajar, ir para outros estados para poder competir, mas foi uma infância muito saudável, curti muito e ainda curto. Hoje estou com 33 anos, mas eu ainda me sinto aquele moleque de 13…
Mesclando capoeira e jiu-jitsu ao Breaking, ele se tornou um dançarino completo e conquistou o mundo
BW: Quando você disse: “É isso que eu quero para minha vida”? A capoeira, o jiu-jitsu vieram antes da paixão pela dança?
Neguin: Foi quando eu terminei o ensino médio e a capoeira e o jiu-jitsu chegaram antes do Breaking, sim. Eu terminei o ensino médio, comecei a trabalhar, eu teria a capacidade de ser um gerente numa empresa mas não foi isso que eu escolhi, pois a minha arte sempre falou mais forte e eu me joguei, peguei a primeira oportunidade e saí para fora do país, como competidor de Breaking e aproveitei essa oportunidade e me destaquei, a partir dali eu já fiz o meu cartão de visita, as pessoas identificaram o meu talento e eu comecei a viajar para outros países, em princípio para competir e, obviamente, eu comecei a ministrar palestras, workshops e tal, e surgiram outras coisas como Cirque du Soleil, comecei a trabalhar com a Madonna e minha carreira teve uma projeção rápida, ainda nos meus 19 e 20 anos.
BW: Verdade que você sofreu grandes influências dos seus irmãos que dançavam e faziam ensaios em casa? O que eles dançavam? Nos fale um pouco dessa convivência com os irmãos e como passou a entender a dinâmica da música e da dança?
Neguin: Sim, os meus irmãos dançavam o estilo deles de “club”, os “flashbacks” e foi minha irmã que me introduziu na capoeira. A minha família sempre me inspirou na arte, mas o estilo de dança deles era de passinho e tal, mas o que me influenciou bastante foram as músicas que eles escutavam na época. Escutavam flashbacks e as músicas mais clássicas e obviamente passando pelo Techno e música eletrônica. Eu cresci ouvindo música eletrônica e mesmo quando eu comecei a praticar o Breaking eu ia também nas festas raves, então, a música eletrônica sempre esteve presente dentro do meu estilo.
BW: Nos fale um pouco sobre inspirações… houve pessoas que te inspiraram na dança? Queria que você falasse também da fusão de Breaking, capoeira, movimentos acrobáticos, jiu-jitsu. No Breaking houve movimentos mais difíceis de aprender ou você sempre teve facilidade em todos?
Neguin: As inspirações, como qualquer arte que você aprende no início, lógico que tem várias inspirações, várias pessoas que são referência na modalidade, então, as minhas maiores inspirações foram vários dançarinos. Ken Swift, K-Mel, os membros da minha equipe, Pelezinho, antes de o conhecer eu já admirava bastante o trabalho dele e a minha mesclagem com a capoeira é um complemento, toda movimentação da capoeira introduzida no Breaking é uma característica minha e vice-versa e o Breaking sim, tem o grau de dificuldade mais difícil que a capoeira, mas um complementa o outro e a dedicação em cada movimento e cada etapa dentro do que você pratica acaba se adaptando e desenvolvendo uma movimentação nova. Enfim, um complementa o outro.
141 países, mais de 80 competições internacionais, vários títulos mundiais: este é o Neguin do Brasil!
BW: Fale dos principais eventos que participou e que foram especiais para você?
Neguin: Eu participei de mais de 100 campeonatos internacionais, eu sou o único latino-americano, o único brasileiro a ser campeão mundial do Red Bull BC One, eu sou o campeão de 2010, também ganhei outro mundial chamado UBC Championship, em Las Vegas e ainda Unbreakable, Freestyle Session e Outbreak Europe. Foram vários mundiais 1 vs 1, eu fui o único brasileiro a alcançar esses títulos. No Brasil, participei de vários também menores, mas o início da minha carreira como competidor já me destaquei mais nos eventos internacionais, então, uma vez que eu entrei no circuito internacional, as batalhas foram em todos os continentes e eu já viajei a 141 países e dentro desse número, pelo menos nuns 80 eu estive competindo.
BW: Neguin, viver da dança é um desafio? Recentemente vi um depoimento seu onde dizia que você conheceu o mundo através da dança e da Cultura Hip-Hop. Que dicas você dá para quem pretende viver da dança?
Neguin: Sempre será um desafio como artista ter obstáculos a serem enfrentados. Primeiramente, você tem que acreditar na sua arte, ser bom naquilo que você faz, se dedicar, porque nada na vida vem fácil, é muita dedicação, muita disciplina e é preciso ter foco, ser focado nessa arte e ver o que o mundo te oferece para facilitar esse espaço para você, no meu caso era sempre difícil, mas eu pensava “eu vou me preparar para quando rolar a oportunidade eu estar pronto, então, o que vou precisar? Vou precisar do e-mail? Vou! Vou precisar falar inglês? Opa, não falo inglês, então, vou praticar inglês, não vou ficar no Facebook falando com as garotinhas. Eu vou afiar o meu inglês para que eu esteja preparado para viajar para o exterior”. Então, é uma questão de preparação! Falar inglês, estudar a sua arte! Ter todo o conhecimento para investir na sua arte, no seu talento, aproveitando as oportunidades que virão e a partir dali ter o que chamamos de sucesso! Para chegar no sucesso, precisa valorizar a sua arte e estudar muito!
BW: Atualmente, onde você mora? Como foi sair da sua terra e viver em outro país, com outro idioma e outros costumes? Como foi essa transição e adaptação?
Neguin: Atualmente, eu moro em New York, essa cidade sempre foi a minha base, eu morei na Califórnia um tempo, mas atualmente eu moro em New York. Com as viagens que eu fazia como competidor, através das minhas viagens com a dança, com a capoeira e o jiu-jitsu, eu percebi que era o lugar que eu me identifico muito, é um local onde as oportunidades estão aqui para tentar! Tanto New York como São Paulo não é nada fácil, é o mesmo perrengue e a mesma correria, porém, eu sempre gostei da Cultura Hip-Hop e como nasceu lá e a Cultura House Dance no contexto geral, New York despertou essa minha possibilidade de viver lá, então, me projetei para viver naquele local e já tem 12 anos que moro lá. Não me lembro muito das dificuldades do início, mas olha, eu não olhei para trás não! Eu percebi que o Brasil não me oferecia muita coisa e resolvi me projetar para fora, onde a minha arte é mais valorizada!
A busca pela valorização de sua arte o levou para fora do Brasil
BW: Parece que você conseguiu rapidamente se conectar com as pessoas certas, trabalhando com celebridades como Madonna, Fergie, Gwen Stefani, Sean Paul, Justin Timberlake, Paul McCartney and Missy Elliot. Nos conta como tudo aconteceu?
Neguin: O meu talento sempre se destacou de uma certa forma, as redes sociais também, a internet facilita esse traslado, o network com as pessoas que eu conheci. Eu já estava morando em New York quando a Madonna assistiu um vídeo que mostraram para ela e ela ficou sabendo que eu estava em New York, ela foi no clube onde eu estava e falou: “eu quero ir lá ver quem é esse cara e vou conhecê-lo”. Na verdade, a Madonna foi até uma festa onde eu estava dançando em pessoa, você vê como em New York tem uma realidade bem diferente, a celebridade, a ícone da música pop chegou lá na festa, como uma cidadã comum, né? Ninguém olhou para ela como celebridade e a partir dali eu comecei a trabalhar com ela, aí a história vai muito mais a fundo. O meu network sempre foi voltado a estar em lugares e representar bem quem eu sou, representar a minha imagem, representar o Brasil, eu acho que isso reflete em todos os meios, seja num show, seja num vídeo. Seja na rede social.
BW: Falando especificamente da Madonna, nos conte sobre o tempo que dançou e trabalhou com a Rainha do Pop. Como foi essa oportunidade e o que lembra desse período?
Neguin: Eu conheci a Madonna em 2009, então, eu fiquei de 2009 até 2014, foram 5 anos, eu desenvolvi trabalhos com ela como performance, como coreógrafo nas turnês e acabei também ficando com ela! Eu tive um “affair” com ela também, durante um ano, poucas pessoas sabem disso, mas aconteceu, foi uma coisa bem saudável, um relacionamento saudável, teve toda a dinâmica, a gente ainda conversa, ultimamente pouco, faz muitos anos que não nos vemos, mas sempre trocamos ideia pela internet, mas foram 5 anos de trabalho e tive essa experiência muito legal.
Neguin e Madonna (ao centro): 5 anos de trabalho e 1 ano de “affair” com a Rainha do Pop
BW: E o Cirque du Soleil? Fale como surgiu o convite e como foi essa experiência?
Neguin: O Cirque du Soleil desenvolvo trabalhos com eles desde 2008, mas eu sempre trabalhei com eles num formato de fazer shows de viagens e turnês e não num lugar fixo em Las Vegas, então, sempre fiz shows em Andorra, na Europa, no México onde eles me chamavam. Aí eu ia fazia um mês, às vezes ou uma semana. Ou shows específicos numa reunião ou num evento, então, eu sempre trabalhei em turnê com o Cirque du Soleil. Isso aconteceu em 2010, 2014, 2016, ou seja, sempre estou fazendo shows com eles. Então, o meu relacionamento é desde 2008!
BW: Em 2010, como você mesmo falou, você foi o único latino-americano, único brasileiro a vencer o Red Bull BC One, que é um dos maiores campeonatos 1vs 1 do mundo. E as pessoas o têm como referência. O que na sua opinião foi determinante para esse sucesso?
Neguin: A diferença é nítida, se eu cheguei lá é porque eu sou autêntico através da minha arte de representar quem eu sou e o que eu aprendi, nesse caso, a capoeira misturando e tendo uma identidade específica, não sendo igual a todos. Eu não sou que nem o europeu, asiático ou americano. Eu tenho características brasileiras! Afrodescendente, toda a mistura que o Brasil nos oferece, então, isso caracterizou muito o meu estilo, o meu talento. E seu eu cheguei lá foi porquê eu busquei isso! Eu passei as dificuldades, superei todos os obstáculos e foquei naquilo, o foco e a disciplina ajudaram que eu alcançasse o que alcancei. Então, se eu consegui, qualquer um pode conseguir também! Basta ter esses princípios para ser autêntico, original e ter foco e força na disciplina!
Campeão da Red Bull BC One 2010: único latino-americano a conquistar o mais cobiçado título da categoria
BW: Bom, atualmente o assunto que mais se fala aqui no Brasil entre B-Boys e B-Girls é o fato do Breaking ter entrado para os Jogos Olímpicos. O que acha sobre isso? Na sua opinião temos B-Boys e B-Girls preparados para competir de igual para igual com outros países e trazer uma medalha olímpica para o Brasil? O que acha do nível dos nossos B-Boys e B-Girls atualmente?
Neguin: Essa é uma conquista extremamente importante, não que o Breaking precise das Olimpíadas, mas com certeza nessa nova plataforma, que são os jogos olímpicos, isso vai fazer com que as pessoas que não conhecem o Breaking vão ter uma visão de conhecer um pouco mais, então, isso veio para somar. Referente ao Brasil, somos um dos povos mais reconhecidos no circuito mundial, eu acredito que os brasileiros têm sim um grande potencial de trazer medalhas e representar mas vai ter que correr atrás, bastante, porque têm outros países que já são maiores potências, ter mais disciplina, ter mais apoio. Tipo a Rússia, a China e, então, para os brasileiros, acho que vão precisar continuar praticando e estudando, ter todo esse lado de ajuda, de tentar ajudar o país o melhor possível com toda a minha bagagem como competidor, mas é isso… As Olimpíadas eu apoio totalmente, porque o Breaking não é um esporte apenas, é uma cultura, mas também somos atletas, querendo ou não, então, seja um campeonato da Red Bull BC One, seja nas Olimpíadas ou numa batalha da esquina o Breaking vai estar presente em todas as plataformas e torcemos para que os brasileiros tenham grande destaque e nos representem bem e esperamos também que o Brasil apoie um pouco mais seus competidores, seus atletas! Vamos ver o que rola…
BW: Para finalizar, queria que falasse sobre o Programa da MTV “De férias com o Ex” que participou recentemente. Foi desafiador?
Neguin: A participação veio através de um convite logo em novembro, e eu resolvi participar porque eu não estou viajando muito, então, estou disponível e usei o programa como uma forma de experiência nova para mim e ao mesmo tempo representar o que eu faço dentro de um ambiente que é bem diferente do que eu faço, então, entrei lá como atleta e toda a minha vida, style, que tem esse lado de curtição, foi uma experiência muito boa para mim e vamos ver agora como vai ser, eles vão lançar essa semana, por ser um programa editado espero que a repercussão da minha imagem seja bem positiva e que tragam novos públicos e pessoas que não me conheciam e passem a me conhecer vendo o que faço artisticamente.
BW: Que mensagem você deixaria para todos os B-Boys e B-Girls que curtem o seu trabalho?
Neguin: A mensagem que eu deixaria é gratidão! Eu tento sempre inspirar essas pessoas e cada um ensina um (risos), então, eu acho que se eu posso inspirar milhares de pessoas, que as pessoas que se inspiram em mim possam fazer o mesmo! A minha mensagem é que estamos todos num mesmo barco, somos todos mensageiros da arte e da Cultura! Abraço a todos!
Fotos: Arquivo Pessoal
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O Graffiti é uma forma de expressão artística que utiliza locais públicos, muros, paredes de grandes edifícios, roupas, carros e até o chão como tela. A história do Graffiti começa ao final dos anos 1960 e início dos anos 1970, em cidades como Paris e Nova York, locais que começaram a mostrar em suas paredes as primeiras obras de artistas anônimos que buscavam se expressar com temas da transgressão e da contracultura, um movimento que criticava e questionava a cultura determinante de uma cidade.
A palavra Graffiti vem da palavra italiana “graffito”, que significa literalmente “escrita feita com carvão”. Mas falar do marco zero talvez não seja fácil. Há relatos de que no Império Romano, há mais de 2 mil anos, alguns muros de Roma já ostentavam pinturas que criticavam políticos, em imagens cheias de ironia. Em Pompeia, ainda é possível encontrar muros com pinturas que simbolizavam um protesto. A história se perde no tempo, mas foi nos EUA e na França que a arte se tornou uma importante ferramenta de resistência a todos os tipos de opressões.
Graffiti d’OsGêmeos é destaque na Times Square (EUA)
Em Nova York, foi das periferias que surgiu o Graffiti, sendo um dos elementos da Cultura Hip-Hop. Saindo dos muros de vizinhanças como o Bronx, o Graffiti tomou conta dos metrôs e até dos próprios trens, levando a arte e o protesto da periferia para todos os cantos de Nova York.
Em Paris, houve o movimento conhecido como “Maio de 68”, em que estudantes das duas maiores universidades da cidade iniciaram um protesto contra o que acreditavam ser uma política retrógrada das instituições de ensino. Os sindicatos também passaram a protestar, em resposta a um certo clamor mundial, já que aquele ano foi marcado por fatos muito importantes, como o assassinato de Martin Luther King Jr. nos EUA, o fortalecimento dos regimes militares na América Latina e a guerra no Vietnã. Nesse contexto, artistas anônimos deixaram seu descontentamento estampado nos muros da capital francesa, marcando, assim, o início dessa forma de expressão.
O Brasil é de todas as cores! E tem motivos para se orgulhar!
Tudo que acontecia nos EUA e na França chegou a refletir no Brasil, trazendo mudanças na música e no movimento tropicalista. A periferia de São Paulo seguiu os passos das grandes metrópoles mundiais e também começou a usar o Graffiti como forma de expressar artisticamente suas opiniões contra outras imposições culturais. Tomando força no início da década de 1980, o Graffiti, em São Paulo, chegou a ser considerado vandalismo e pichação por uns, ou admirados por outros, como era o caso dos urbanistas que viam tudo como arte e forma de expressão artística.
Um exemplo brasileiro de um dos grandes nomes dessa arte, como Basquiat e Keith Haring, é o italiano Alex Vallauri, nascido em Asmara, Eritreia em 9 de outubro de 1949, chegou ao Brasil em 1965, se estabeleceu em Santos, no litoral e mudou-se em seguida para a capital paulista, mas, infelizmente, morreu ainda jovem, em 1987, aos 37 anos, em São Paulo. O dia de sua morte, 27 de março, é a data em que é celebrado o Dia do Graffiti no Brasil. Vallauri participou nas seguintes edições das Bienais de São Paulo: 11ª (1971), 14ª (1977), 16ª (1981) e 18ª (1985). Além disso, também esteve nas mostras intermediárias realizadas pela Fundação Bienal: Pré Bienal (1970), Brasil Plástica-72 (1972), A trama do Gosto (1987) e Bienal Brasil Século XX (1994). Alex Vallauri começou com seus Graffitis em 78, quando surgiu nos muros de São Paulo uma enigmática bota de cano longo. A bota logo recebeu uma perna, umas luvas negras e acabou se tornando o personagem principal de sua obra, A Rainha do Frango Assado, uma das vedetes da Bienal de 1985. Esse era o grande lema de Valllauri, em suas palavras: “Enfeitar a cidade, transformar o urbano com uma arte viva, popular, de que as pessoas participem, acrescentado ou tirando detalhes da imagem… essa é a minha intenção.” Em relação a sua atividade como artista urbano, costumava dizer que “poderia ser chamada de desempenho anônimo”, uma vez que “o público só vê as marcas que ficam nos muros”.
O tempo passou e o Graffiti brasileiro evoluiu muito de Vallauri para cá e, além de já ser considerado por cada vez mais pessoas como expressão da arte contemporânea, essa expressão já conta com grandes nomes nacionais expondo em grandes painéis ao redor do mundo. E continua se modernizando, tudo vira tela e o Portal Breaking World foi atrás de alguns desses artistas, que aqui em São Paulo deixam a nossa vida cada dia mais colorida e nos enche de orgulho mesmo em momentos tristes como esses que vivemos da pandemia. Lembrar desses mestres urbanos e mostrar a nova geração que já mostra sua força e resistência é uma boa forma de comemorar o Dia Internacional do Grafitti, prontos para viagem ao mundo das cores?
OsGêmeos Gustavo e Otávio Pandolfo nasceram em 1974, na cidade de São Paulo. Passaram a infância e a adolescência no Cambuci, um bairro da cidade de São Paulo. Nesse período eles foram expostos a uma variedade de mudanças culturais influenciadas pelas ruas. No final dos anos 80, com o surgimento e o avanço do movimento Hip-Hop no Brasil, os gêmeos foram amplamente afetados por ele, começando como B-Boys e continuando com seus primeiros trabalhos de Graffiti. O estilo inicial de sua arte de rua ainda estava para ser formado, pois faltava consistência e referências artísticas que eles empregaram posteriormente. Com isso, eles mostraram uma incrível versatilidade no que diz respeito à mídia, usando não apenas tinta spray, mas também frascos de tinta para carros e tinta látex quando faltavam materiais adequados para o trabalho desejado. Trata-se de uma dupla dos inseparáveis e geniais artistas de rua; dos irmãos gêmeos que nasceram idênticos, tanto na aparência quanto na criatividade. Sob esse nome e trabalhando sempre unidos, conquistaram o mundo do Graffiti e da arte, porque seu estilo distinto os tornava os grafiteiros mais importantes e influentes de sua geração. Hoje, são reconhecidos e admirados não só no Brasil, mas em todo o mundo por meio de suas artes, usam linguagens visuais combinadas, o improviso e seu mundo lúdico para criar intuitivamente uma variedade de projetos pelo mundo. Já realizaram inúmeras mostras individuais e coletivas em museus e galerias de diversos países, como Cuba, Chile, Estados Unidos, Itália, Espanha, Inglaterra, Alemanha, Lituânia e Japão. Atualmente, estão “em casa”, na Pinacoteca de São Paulo, com a Exposição “Segredos”. Sim, eles contam segredos jamais revelados antes na exposição. O lançamento da exposição foi um sucesso.
Eduardo Kobra é dos artistas mais famosos do Brasil na arte do Graffiti. Autor do maior mural grafitado do mundo — “Chocolate”, com 5.742 metros — Eduardo Kobra também tem grande parte de suas obras espalhadas pelo mundo. Em contraponto ao estilo mais lúdico da dupla OsGêmeos, Kobra usa o realismo carregado de cores como marca pessoal. É um expoente da neo-vanguarda paulistana. Começou como pichador, tornou-se grafiteiro e hoje se define como muralista. Seu talento brota por volta de 1987, no bairro do Campo Limpo com o picho e o Graffiti, caros ao movimento Hip-Hop e se espalha pela cidade e pelo mundo. Com os desdobramentos que a arte urbana ganhou em São Paulo, ele derivou – com o Studio Kobra, criado em 95 – para um muralismo original inspirado em muitos artistas, especialmente os pintores mexicanos e norte-americanos, beneficiando-se das características de artista experimentador, bom desenhista e hábil pintor realista. Suas criações são ricas em detalhes, que mesclam realidade e um certo “transformismo” grafiteiro. Muitos críticos afirmam que a característica mais marcante de Kobra é o domínio do desenho e das cores. Mas o que é mais fundamental para o artista é o olhar. Kobra foi desde cedo apresentado às adversidades da vida. Viu amigos sucumbirem às drogas e à criminalidade. Alguns foram presos. Outros tantos perderam a vida. Foi o olhar que o salvou. Kobra é autor de projetos como “Muro das Memórias”, em que busca transformar a paisagem urbana por meio da arte e resgatar a memória da cidade; Greenpincel, onde mostra (ou denuncia) imagens fortes de matança de animais e destruição da natureza e “Olhares da Paz”, onde pinta figuras icônicas que se destacaram na temática da paz e na produção artística, como Nelson Mandela, Anne Frank, Madre Teresa de Calcutá, Dalai Lama, Mahatma Gandhi, Martin Luther King, John Lennon, Malala Yousafzai, Maya Plisetskaya, Salvador Dali e Frida Kahlo e recentemente homenageou o Rei Pelé com um mural em Santos, no litoral sul do estado de São Paulo, “Coração Santista”, com 800 metros quadrados.
Mel Zabunov nasceu em um ambiente artístico, em São Bernardo do Campo, teve contato com artes visuais desde muito nova: “minha mãe, artista autodidata, já fazia esta conexão unindo seus sete filhos e incentivando a criatividade por meio da música, da dança, escultura, do artesanato, artes plásticas e contação de histórias, ela passava todo este universo mágico para nós sozinha e nos contava o quão grande e interessante são outros países, sua culinária diferente, idiomas, culturas diferentes no geral, então, toda criatividade e vontade de desbravar o mundo herdei da minha mãe, tenho muito orgulho disto. Tive uma infância onde nós mudávamos muito de casa, perdemos muitas coisas, minha mãe sofria no casamento e por conta de religiosidade nos sentíamos sufocados, era bem difícil, não parávamos em escola nenhuma e nunca tínhamos condições para nada, assim, morávamos sempre em 1 ou 2 cômodos, lembro que aos meus 8 anos, fomos morar de favor na casa da vó materna, onde minha mãe não tinha muita autonomia sobre os filhos, por conta dos meus tios meu pai não foi morar junto nesta época”, conta a grafiteira. Aos 12 anos de idade (ano 2000) começou a reparar as pichações na rua e começou a pichar uma sigla do seu próprio nome, mas usava giz de cera, a partir de então se fixou no universo da pichação e a coisa foi ficando cada vez mais séria, era uma das poucas mulheres da pichação na cidade. Suas maiores inspirações são no “Ser Humano” em geral, sempre se preocupa em conectar o trabalho aos sentimentos de alguém, procura estampar exteriormente incentivos de autoestima, espiritualidade, tudo que é genuíno, natural e orgânico e fazer as pessoas olharem para dentro delas, encontrando todo seu potencial particular.
Bonga Mac nasceu em 1975, Donizete de Souza Lima, artista visual, arte-educador, empresário e estudante de artes visuais pela FAEEP – Faculdade de Educação Paulista (2019-2023). Co-autor do livro Tinta Loka Street Book (2017) e empresário desde 2013, seu primeiro contato com o Graffiti foi em meados dos anos 90, por influência da Cultura Hip-Hop, o que o motivou a reproduzir as ideias passadas em capas de discos e letras de músicas. Desenvolve projetos notáveis enquanto artista visual no Graffiti e, desde 2000, atua como arte-educador em projetos de incentivo à difusão da Cultura Hip-Hop e arte urbana, para um público diversificado. Já atuou em projetos como Criança Esperança (Instituto Sou da Paz), Fundação Fé e Alegria, Ação Educativa e Fábricas de Cultura. Atualmente, está se dedicando ao Projeto Kombozas, onde faz belos desenhos em Kombis e tem como objetivo criar uma galeria móvel. Durante a pandemia, tem customizando peruas com a técnica do Graffiti, trabalho que está desenvolvendo de forma gratuita aos perueiros e perueiras. É uma forma de presentear quem está na rua todos os dias e também de se manter produtivo em tempos de Covid-19. Deseja com essa ação se tornar o gatilho para levar essa movimentação para o Guinness Book, onde pretende quebrar o recorde do artista urbano que possuirá o maior número de Peruas Kombi pintadas.
Fabiano Minu nasceu na Vila Maria, bairro da capital de São Paulo. A paixão pela arte do Graffiti e pelas cores em jaquetas aconteceu com a chegada do filme “Beat Street” (A loucura do Ritmo), em 1984. Fez parte da 1ª geração de B-Boys de Guarulhos e também da 1ª geração de B-Boys da São Bento, no início de 1985. Integrante do lendário grupo de B-Boys Fantastic Force (Guarulhos), teve como referências no Graffiti em jaquetas, os grafiteiros Paulo “Robô” e Bad Break Mania. Participou da 2ª Amostra Paulista de Graffiti de São Paulo, em 1993, com vários artistas na época, como OsGêmeos, Speto, Gugu, Vitché, Arhur Lara, entre outros. Conheceu o Paulo Robô na Sundays Disco Club… “foi o primeiro grafiteiro que conheci, por ver a primeira jaqueta grafitada (antes só tinha visto no filme Beat Street). Anos à frente, conheci outro grafiteiro na São Bento, Bad Break Mania, com jaquetas grafitadas sensacionais, essas são minhas duas referências no Graffiti em jaquetas. Depois de eu ter pago para ter a minha primeira roupa (camisa) grafitada e não sair como eu queria (risos), tomei coragem para começar a grafitar em roupas na época”, explana Minu. Outra paixão são os boomboxes, ele conta: “Os boomboxes também têm a sua importância, pois são os parceiros dos B-Boys para dançarem nas ruas e todos aqueles que curtem um Beat, Funky Groove, Rap, etc. Não é à toa que existem vários colecionadores de boomboxes no intuito de manter essa ligação entre artistas e a música. Para quem é da velha escola, ter uma jaqueta e um boombox grafitado é como representar as raízes do Hip-Hop em sua essência. Eu tenho um boombox que grafitei recentemente, quem sabe seja o primeiro de muitos que virão”, conclui.
Xandy Sabino é grafiteiro, B-Boy e coreógrafo. Mora no litoral de São Paulo, no Guarujá, sua arte é bem respeitada dentro da Cultura Hip-Hop. É fundador da Unidade A Crew e também é arte-educador. Tem trabalhos espalhados por todo o litoral e cidade de São Paulo. Assim como Fabiano Minu também grafita boomboxes.
Xall Len também é do litoral de São Paulo, mora na cidade de Peruíbe. Sua infância e juventude foi em Ana Dias, distrito de Itariri, descalço, de cachoeira em cachoeira e pedalando até a praia de Peruíbe. “Conheci o Rap por meio de fita cassete com alguns amigos, no rádio da minha mãe colocávamos “509-E”, “Racionais MC’s” e “MC Barriga”. Nessa mesma época, já era conhecido por “rabiscar” as mesas da classe, sendo expulso diversas vezes, passeando por todas as escolas da região. Sempre me interessei por arte de rua e os poucos desenhos que tinham nos muros de Peruíbe me atraíam”, conta o grafiteiro. Sempre foi ligado em desenhos, e apesar de levar muitas broncas pelos rabiscos, também se destacava na escola nos trabalhos. Gosta de pintar letras, sempre com muitas cores e inserindo elementos. Suas letras estão em constante mudança e evolução, pois buscam sempre acrescentar novas técnicas e personalidade. Seu estilo é a mescla de Wild Style, Bomb e Piece.
Citamos alguns grandes talentos de São Paulo, mas é claro que existem muito mais artistas espalhados pelo Brasil e pelo mundo! Desejamos a todos grafiteiros um dia maravilhoso e cheio de cores! Que essa arte legítima possa cada vez mais dar voz aos nossos anseios, nossas reivindicações e lutas! Um salve a todos os grafiteiros!
Fotos: Arquivo Pessoal / Reprodução
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Médicos alertam que a nova variante é mais grave, rápida e letal entre jovens: “É preciso parar os eventos presenciais!”
O estado de São Paulo registrou nesta semana 61.064 óbitos e 2.093.924 casos confirmados durante toda a pandemia. Entre o total de casos diagnosticados de Covid-19, 1.852.904 pessoas estão recuperadas, sendo que 229.822 foram internadas e tiveram alta hospitalar.
As taxas de ocupação dos leitos de UTI são de 70% só na Grande São Paulo e 69,7% no Estado. O número de pacientes internados é de 14.809, sendo 8.042 em enfermaria e 6.767 em unidades de terapia intensiva, conforme dados desta semana. Hoje, os 645 municípios têm pelo menos uma pessoa infectada, sendo 625 com um ou mais óbitos. Em todo o país são 10.869.227 casos, 9.647.550 recuperados e 262.770 mortes. Em todo o mundo são 116.463.253 casos, 65.805.310 recuperados e 2.586.760 mortes.
Mesmo com o início da vacinação, os números ainda são alarmantes! O Brasil registrou 1.498 novas mortes por Covid-19 ontem (06), com uma média de 1.455 óbitos pela doença nos últimos sete dias, após bater o recorde de mortes por Covid-19 em um intervalo de 24 horas por dois dias consecutivos, o patamar mais alto desde o início da pandemia, foram registradas 10.183 mortes nos últimos sete dias, com isso, a média móvel de óbitos bateu um novo recorde pelo oitavo dia seguido!
Somente na cidade de São Paulo, já são 6 hospitais com 100% de ocupação de leitos de UTI para Covid-19, a taxa geral de ocupação na capital paulista chegou a 77% ontem, sendo que a rede privada varia de 80% a 99% dos leitos de UTI ocupados.
Um ano de pandemia e o país continua batendo novos recordes de mortes
Diante dessa realidade, um dos segmentos mais afetados pela Covid-19 foi o mercado de eventos. O setor registrou prejuízo de R$ 270 bilhões com a pandemia do novo coronavírus, entre março e dezembro do ano passado. As perdas levaram ao desemprego de 3 milhões de pessoas. O segmento representa 13% do Produto Interno Bruto (PIB) e tem 60 mil empresas que dependem diretamente da realização de eventos para funcionar, além de 2 milhões de microempresários. A solução? A retomada, sem dúvida, é algo desejado por organizadores de eventos para amenizar os prejuízos, no entanto, como pensar no retorno quando a Covid-19 ainda é a grande vilã do mundo e desafia a humanidade?
A vacina chegou, mas o isolamento social ainda é uma das medidas preventivas para conter a aglomeração de pessoas e, assim, evitar a proliferação do novo coronavírus. E aí perguntamos: Como será o futuro dos eventos? Quando, com segurança, será possível retornar? Será que podemos voltar aos eventos presenciais ou teremos um futuro de eventos híbridos e on-line?
A verdade é que o futuro dos eventos está sendo construído agora, baseado em experiências do que dá certo e do que não dá! Muitas respostas ainda não existem! Mas se adaptar pode significar a sobrevivência dos negócios!
Analisando essa difícil situação, o Portal Breaking World, que é voltado para a Cultura Hip-Hop e para os seus elementos, resolveu procurar e escutar a opinião de alguns organizadores de eventos reconhecidos e de credibilidade no Breaking que acontecem no nosso país e saber o que pensam e o que andam fazendo…
Começamos conversando com o produtor de eventos Alan Jhone, mais conhecido como B-Boy Papel, de Brasília. Nascido e criado em Ceilândia, formado em Marketing, ele desde 2012 organiza o Quando as Ruas Chamam, sendo um dos grandes eventos expressivos da Cultura Hip-Hop no Brasil, um catalisador e formador de B-Boys e B-Girls, o evento reúne a nova geração e também os mais conhecidos dançarinos do país em suas competições. Ele explica que, em Brasília, a situação em relação à Covid-19 continua complicada, com alto índice de contaminação e de mortes, sendo que Ceilândia é onde tem o maior número de infectados e mortes no Distrito Federal. Um dos motivos é o fato de ser a maior população entre as regiões administrativas do DF, sendo mais de 500.000 pessoas, sem falar nos problemas com a saúde e a falta de leitos para os doentes. São dele as palavras: “A situação ficou séria aqui em Brasília, mas no meu caso, depois que eu organizei toda a parte de pós-produção em 2019, eu peguei o tempo livre e me dediquei em estudos, para fazer algumas provas e como eu já tinha o projeto que seria realizado em 2020 devidamente aprovado, tudo muito certinho, eu já estava com a edição do festival garantida, então, tive liberdade para focar em alguns estudos e olha, eu dei muita sorte, pois não tive nenhum prejuízo financeiro relacionado a essa edição de 2020, porque eu não tinha começado o processo de produção do evento. Eu tinha o planejamento de começar os preparativos no mês de maio de 2020 e aí nos deparamos com a situação da pandemia que estourou em todos os lugares. No estudo pra mim foi complicado, pois eu tive que me distanciar das aulas presenciais e acabou me atrapalhando nisso, mas, felizmente, com os prejuízos relacionados ao evento eu não tive. Mas corremos sérios riscos, tenho a certeza que muitos parceiros de outros projetos estavam com eventos em andamento e tiveram prejuízos gigantescos. Agora é tempo de reinventar, eu continuo me dedicando aos estudos, conseguimos nos movimentar e apresentar a 7ª edição do festival, que foi devidamente aprovada, com a pontuação máxima no edital que ele concorreu, então, nós temos garantido para o futuro mais duas edições do festival. Mesmo no meio da pandemia não deixamos de olhar com carinho por ele e conseguimos mais essa vitória de ter duas edições garantidas! Inclusive, estamos divulgando isso em primeira mão para o Portal Breaking World. Ultimamente, além de estudar, eu tenho cuidado da minha mãe que faz parte do grupo de risco e tenho refletido muito sobre o futuro, porque nós que somos da cultura sempre temos uma vida instável, sem muita garantia, então, eu penso que nós da cultura precisamos pensar mais em como atingir essa estabilidade, para não ter mais esses baques que tivemos, por exemplo, com a pandemia e também venho pensando muito nas alternativas para o futuro, eu sou um cara proativo, inquieto, gosto de pensar longe. Até o momento não temos a intenção de realizar o Quando As Ruas Chamam numa edição on-line, isso fugiria muito do evento. Eu acho que o negócio é esperar e voltar quando for possível com chave de ouro, recebendo todos, creio que o formato on-line seria muito complicado. O Quando As Ruas Chamam tem um lance de encontro de pessoas que vêm de várias quebradas e que podem trocar experiências e nós queremos que isso seja presencial, estamos com uma energia para produzir uma festa linda no momento seguro! O momento ainda é bastante delicado, os índices de infectados ainda são altíssimos, eu penso que as pessoas que precisam fazer seus eventos e aquelas que não podem esperar, devem buscar fazer da forma mais segura possível, cuidando dos nossos com responsabilidade para que nenhum irmão pegue esse vírus maldito. Planos para o futuro é ver alguns outros projetos que eu tenho guardado saírem do papel, como tem sido muito gratificante ver o Quando as Ruas Chamam”, conclui.
Da cidade do poder para o sul do país, procuramos o Pedrinho Festa, organizador da Battle In The Cypher, que é um dos eventos de Hip-Hop mais tradicionais da América Do Sul e já tem 12 edições. O Battle In The Cypher recebe dançarinos de até 10 países diferentes por edição e anualmente tem pré-edições em países como Uruguai, Paraguai e Argentina, além de outras regiões do país. O evento tem uma programação de diversas atividades que não apenas focam numa premiação, mas sim numa construção dentro da cultura Hip-Hop. A maior importância dele se dá pelo formato que prioriza todos os elementos do Hip-Hop. Pedrinho Festa conta: “A última edição foi a edição on-line, em 2020, fora isso tivemos a edição dos 10 anos, em 2019… E sim, logo após ela, já começamos a projetar o ano posterior, tanto que tínhamos organizado edições em 2020 na Paraíba, Santa Catarina, Uruguai e Paraguai antes da pandemia, o evento já estava extremamente estruturado com diversas pré-edições realizadas, passagens compradas, datas, patrocínios, etc., já marcados. Estávamos com um projeto de captação em Mecenato aprovado, que expirou o prazo devido a pandemia. Apesar de termos tido alguns gastos, não tivemos o orçamento comprometido, pois conseguimos reverter muitos de nossos gastos, como de passagens. A nossa principal atitude foi buscar realizar de maneira on-line, mas que tivesse da mesma forma a cara do evento. Até mesmo para poder contratar os mesmos profissionais que estavam no evento e de alguma forma foram impactados com os cancelamentos de datas em 2020. Então, o fizemos de maneira on-line, mas buscamos um formato estilo festival, mantendo as atividades do BITC como a festa Hasta La Cypher, o Graffiti, os workshops e palestras, a batalha de DJs… O Battle nunca foi só uma batalha, o nosso grande desafio foi levar essa essência para o mundo digital. Em 2021, o evento tem data para acontecer: de 29 de março a 4 de abril. Será físico, ainda estamos aguardando para saber se será com público reduzido ou apenas com participantes. Resolvemos fazer agora, pois conseguimos passar um projeto importante de incentivo, com apenas 4 meses de realização e sabemos que muitas pessoas da nossa cultura estão precisando trabalhar, inclusive por isso buscamos contratar um grande número de artistas e trabalhadores da cultura Hip-Hop! Tempos difíceis, mais fácil sentar e lamentar. Sabe aquela gana de fazer a parada acontecer? Bom, a gente tem ela desde algum tempo… Às vezes, passa um filme na cabeça, de como tudo era e mesmo assim acontecia, as pessoas, no fim é tudo sobre energia, sobre as pessoas, sobre o que podemos proporcionar para as coisas serem melhores. Battle In The Cypher nunca foi só um evento, é um ideal, é um compromisso, uma retribuição. É o que somos!”.
De Bento Gonçalves direto para o Rio de Janeiro, a conversa foi com a carioca Sabrina Vaz, mais conhecida como B-Girl Savaz, uma das diretoras do evento Tropical Battle, que acontece presencialmente nos próximos dias 6 e 7 de março, realizado de forma independente, tem o apoio da comunidade Cantagalo-Pavão-Pavãozinho, onde a dança é uma importante ferramenta de transformação social. A ideia do evento nasceu em 2015, dentro de uma Crew só de mulheres, na verdade a primeira Crew de mulheres do Rio de Janeiro, que é a Manifesto B-Girls Crew, que sempre foram protagonistas de ações ligadas ao Hip-Hop carioca. Hoje, a Manifesto B-Girls Crew não existe mas a amizade entre as meninas continua! O Tropical Battle é um evento muito importante para o Rio de Janeiro, porque tem o objetivo de trazer a essência do Breaking carioca, que segundo ela não é muito identificado no Rio. Savaz conta: “Desde então, nós temos visto que influenciamos a cena com a valorização do B-Boy e da B-Girl, com premiações altas, todas as edições foram memoráveis. Até o Tropical Beneficente que fizemos para ajudar a B-Girl Branca na compra de uma cadeira de rodas ou patrocínio para as meninas irem para outros eventos, todas as edições foram especiais, a última que fizemos, em 2020, um pouco antes da pandemia, foi especial, nessa edição tivemos alguns percalços, mas aprendemos, não tivemos nem um pós-produção, porque estava tudo muito corrido, terminamos o evento e já estourou uma pandemia. Nem acreditávamos que ia rolar a edição de 2021, foi um momento de repensar a vida, o evento nunca teve patrocínio, foi do nosso bolso, as meninas foram fazer trem e metrô para ganhar dinheiro para fazer o evento, eu tive que pagar muitas contas do meu bolso. Mas Deus tem provido as coisas e está aí a edição de 2021, depois que estourou a pandemia, em 2020, nós ficamos aliviados por ter conseguido fazer um pouco antes a edição de 2020 e não estávamos comprometidos com a edição de 2021, porque nós não temos verba. Então, foi graças a Lei Aldir Blanc que está sendo possível realizar a edição de 2021, os prejuízos que eu tive em 2020 foram mais pessoal, porque nós não estávamos muito bem organizados, eu precisei tirar dinheiro do meu bolso e quando recebemos a grana da Aldir Blanc, deu para pensar na edição de 2021. Sobre se reinventar, nós nunca encaramos o evento como algo profissional ou um empreendimento. Agora que o evento está começando a ser feito por uma equipe específica, estamos começando a olhar para o evento com um olhar de empreendedorismo, nós estamos precisando nos organizar, sendo um divisor de águas. Tenho escrito editais. Não gostamos de eventos on-line, acreditamos que se perde muita coisa, já tem gente fazendo eventos on-line, se perde muito o “flevo” [sic] mas as nossas eliminatórias estão sendo on-line, quando pensamos no evento achávamos que tudo estaria bem melhor, já conversamos com a equipe que se for necessário cancelar o evento faremos. Todos os eventos aqui no Rio de Janeiro estão acontecendo, estamos providenciando os protocolos de segurança, o purificador de ar para grandes espaços, álcool, mascaras, tudo… como estamos fazendo por um edital do governo, temos com que arcar, então, precisamos apenas ver se vamos conseguir manter as datas por causa da pandemia ou não. Os cuidados não são suficientes, estamos tomando alguns cuidados aprovados pela lei, mas não é suficiente, mas uma coisa que tem me dado paz nesse momento é que tem muita gente que está precisando desse trabalho. Colocamos uma premiação alta, as atividades são gratuitas e as inscrições são R$5,00. Nossos planos para o futuro é fazer um planejamento que o Tropical Battle aconteça todos os anos. O Breaking é algo bastante resistente, ele vai continuar! Estamos acostumados a treinar sozinhos! Acredito que os eventos on-line vão morrer e só ficarão no on-line os grandes eventos que também vão fazer. O Breaking é vida!”.
Saindo da Cidade Maravilhosa e chegando em São Paulo, no coração cultural do Brasil, falamos com um dos pioneiros de eventos de Breaking no Brasil. Rooneyoyo, que é o criador da Batalha Final, evento que nasceu das festas da B-Boys Battle Party, que eram mensais quando Rooney ainda tinha loja na Galeria do Rock/Hip-Hop, no centro da cidade. A primeira Batalha Final foi em 1999, com 26 grupos, com shows e batalhas de grupo, era um evento itinerante e anual. Como B-Boy e Rapper, ele queria ver as coisas acontecendo e ninguém fazia nada, então chamou o DJ Ninja e falou que queria fazer festas mensais para tocar os discos e reunir os amigos, foi aí que tudo começou e virou o que é hoje. Ele fala: “Nossa última edição foi em 2019, foi espetacular, no aniversário de 20 anos, com 7 eventos, 1 a cada 15 dias, fizemos dentro das favelas e dentro do Shopping, utilizando as modalidades que viriam a se tornar olímpicas, com as regras e piso, som, tempo, tudo como se fosse lá, me diverti e fizemos um trabalho lindo, com uma equipe maravilhosa. Na verdade, eu já tinha programado eventos até 2028, como fazemos isso todos os anos, temos um modus operandi bem organizado, buscar recurso, reestruturamos o que temos e colocamos o evento na rua. É logico que sempre mudamos algo, para nos atualizar, mas nossa metodologia vem funcionando tem alguns anos, pois nossa equipe, repito, é ótima! Com a chegada da pandemia, cancelar foi um terror, muitos contratos cancelados, foi frustrante, mas temos que entender que a saúde de todos ainda é mais importante, eventos fazemos aos montes. Era hora de salvar vidas e proteger, foi o que pensamos. Estávamos com o conceito de 2020 pronto, artes prontas, apoios e patrocínios, tudo arranjado. Já estava comprometido financeiramente para a edição de 2020, investimos antecipadamente para adiantar nosso cronograma e deixar tudo no jeito para dedicarmos e focarmos em atender os competidores. Para que todos entendam, nos 20 anos da BF, durante o evento, eu tive um sonho e começamos a desenvolver as artes para a edição de 2020. Financeiramente tivemos prejuízos, ficamos praticamente 5 meses sem trabalho, depois, entrou umas coisas on-line e parou. Então, nos reunimos virtualmente e pensamos que não adiantava correr riscos, hoje, como presidente da Confederação Brasileira de Breaking [CBRB] não poderia colocar os breakers e produção em risco. Atualmente, paramos tudo, estamos trabalhando virtualmente e produzindo conteúdo para, quando estivermos livres para executar eventos, estarmos muito mais prontos que antes. Estamos em luto diário, com familiares e amigos falecendo, um após o outro, então decidimos não fazer nada muito barulhento, estamos lidando com a perda e pensando no futuro. Não estamos felizes, mas temos que seguir em frente e honrar os que ficaram no caminho. Para fazer eventos como tenho visto alguns por aí não me agrada e penso que a falta de estrutura e conceito desmotiva os que levam isso com amor e carinho, muito à sério, então, estamos aguardando o tempo certo para podermos fazer algo para deixar a marca. Conseguimos fazer isso com o DMC Brasil 2020, que foi um sucesso on-line. Com a Batalha Final, não tivemos apoio, então, estamos aguardando o que virá com esta vacina. O momento é incerto, governo irresponsável e alguns indo na onda… e o resultado está visível, triste e calamitoso. Com falta de leitos em hospitais, falta de oxigênio e cemitérios lotados. Sobre a volta de alguns eventos nesse momento, sou suspeito para falar, pois também sou produtor de eventos, não é porque optamos por não fazer que quem faz on-line está errado, só não gosto de alguns conceitos, mas presencial, não concordo e acho uma irresponsabilidade de quem faz e de quem participa. Não é momento para isso! Tenho visto muitos eventos on-line e presenciais com nenhuma segurança de fato, então, a resposta é não, continuo achando uma irresponsabilidade social. O Hip-Hop salva vidas e não leva elas para a tumba!”.
Outro grande evento organizado pelos produtores culturais B-Boy Dunda e B-Girl Lana, o Breaking Combate, em São Paulo, concorda com Rooneyoyo e faz coro, são deles as palavras: “Ainda não é o momento de realizar eventos presenciais. As medidas de distanciamento social devem ser respeitadas até que as atividades presenciais voltem a ser liberadas. Cabe a nós, cidadãos, respeitarmos as normas sanitárias e buscarmos formas alternativas de entrega cultural para a população. O uso de máscara, álcool em gel e lavagem das mãos não são suficientes para proteger as pessoas em meio a grandes aglomerações e, por isso, os eventos presenciais devem ser evitados. O Breaking Combate é uma celebração da cultura Hip-Hop, com foco principal na dança Breaking. Proporciona intercâmbio cultural entre os adeptos da cultura Hip-Hop a sua primeira edição foi em 2009. Nas duas primeiras edições, o evento chamava-se “Carapicuíba Battle”, porém, devido à grande dificuldade de realizar qualquer ação voltada para a cultura Hip-Hop na cidade de Carapicuíba, modificamos o nome do evento para “Breaking Combate” para assim podermos realizá-lo em outros locais”. Eles lembram: “Todas as edições foram especiais, porém, um destaque maior para a edição de 2013, que foi a primeira que trouxemos jurados internacionais, workshops, viagem totalmente paga como premiação dos vencedores e a oportunidade de poderem representar o Brasil em eventos internacionais. Foi realmente incrível receber em nosso evento B-Boys e B-Girls de todo o Brasil e também de alguns países estrangeiros e ter cobertura da mídia televisiva. A última edição aconteceu em 2017. Na ocasião, já prevíamos não realizar as edições de 2018 e 2019 por estarmos focados em outros projetos. O planejamento era retornar com o Breaking Combate 2020, mas, como todos sabemos, a pandemia chegou e todos os planos foram cancelados. Quando a pandemia teve início estávamos na fase de planejamento do evento e, por sorte, não tivemos prejuízos financeiros. O projeto da 6ª edição do Breaking Combate já estava aprovado e sendo planejado, com previsão para acontecer em agosto de 2020, quando estourou a pandemia e tudo foi cancelado. Foi assustador, mas entendemos que, com uma pandemia acontecendo, qualquer evento cultural ou esportivo deixa de ser prioridade. O lado bom das situações adversas é justamente sermos forçados a pensar fora da caixa e nos adaptar à nova realidade. Na produção de eventos não é diferente. A impossibilidade de realizar eventos presenciais e necessidade de evitar aglomerações, abriu um leque de novas oportunidades e formatos a serem explorados. Sobre o futuro, desejamos realizar a 6ª edição do Breaking Combate em 2021, após a liberação dos eventos presenciais ou semipresenciais pelas autoridades sanitárias. Optamos por aguardar e, no momento certo, realizaremos o evento da melhor forma possível, sem expor os artistas e público a riscos”, finalizam.
Ainda em São Paulo, fomos conversar com Thiago Vieira, que é B-Boy há 14 anos e arte-educador formado em Educação Física. Integrante da Crew Guetto Freak desde 2012, Thiago faz produção cultural desde o mesmo período, porém, mais sazonal. No conhecido evento Breaking Ibira, ele foi integrar a produção a partir de 2018, o evento já tem 6 anos, idealizado pelo B-Boy Mion. Foi ele quem fez as primeiras batalhas, cyphers e marcava treinos também. Na primeira batalha que Thiago foi, recebeu o convite para ser jurado, em 2014 mesmo. “E era ali no entorno do MAM (Museu de Arte Moderna), aí em determinado momento houve o contato das educadoras do museu e a partir daí começaram a abrir o espaço e oferecer estrutura de som, etc. Naquele momento, no parque, rolava muito os famosos rolezinhos…”, Thiago conta, “Sempre que realizávamos uma edição, logo em seguida fazíamos uma reunião para fazer uma avaliação e pensar numa próxima, mas no geral todas as edições foram pensadas no início do ano e, dependendo da situação, poderiam mudar de posição no cronograma ou não, na última edição de 2019, que foi a batalha de crews, nós encerramos e fomos para um rodízio de comida japonesa (risos), fomos comemorar e os planos para o ano de 2020 ficaram para janeiro. Num ano normal, a primeira edição é em março. Quando foi anunciada a pandemia, nós estávamos com quase tudo pronto pra primeira edição do ano, poucos dias depois cancelamos e ai não teve o que fazer naquele momento, só parar e avisar o público. O Breaking Ibira tem parceria com o MAM, as atividades deles pararam e consequentemente as nossas também, houve um prejuízo financeiro, principalmente para a equipe que trabalha, que sempre fecha muito com a gente e do dia pra noite perderam parte dos rendimentos, depois de um tempo, como não parecia que a coisa ia se normalizar tão cedo, passamos a nos reunir para encontrarmos uma solução, mas não foi possível fazer muita coisa, algo que tenho dito com relação a pandemia é que os trabalhadores da cultura foram os primeiros a pararem e provavelmente serão os últimos a voltarem, a sociedade não vê cultura como essencial, mesmo que assista séries e filmes todo dia, trabalhe ouvindo música e dance quando está feliz. Discutimos bastante sobre novas possibilidades, primeiro, fizemos um workshop on-line e depois fizemos a batalha, o objetivo inicial era gravarmos e depois lançar on-line, mas no fim, a melhor ideia foi o Mini Doc Breaking Ibira 6 Anos e ficamos muito satisfeitos com o resultado! Eu fui bastante afetado pela pandemia, 80% de todos os meus rendimentos foram afetados, bem complicado, mas não senti que devia entrar em pânico, aproveitei para estudar e fiz muito isso e graças ao “tempo” que tive, concluí outra graduação e já tenho outros projetos em mente, nesse sentido a pandemia ajudou a clarear os pontos onde tem que focar para manter estabilidade, não que ela seja real, não se pode ser estável sempre, mas é possível se planejar. A edição de novembro inicialmente seria on-line, mas seria gravada e os B-Boys batalhando no presencial, nas batalhas onde cada dançarino ou dançarina responde de casa, a gente observou bastante o que estava rolando e não sentimos que estava desenvolvendo bem, pois tem várias limitações, uma delas é a qualidade da conexão, a outra é que uma batalha de Breaking on-line perde um fator que é importantíssimo, que é a energia trocada, para mim é como uma luta de MMA on-line, numa batalha de Breaking você que está lá sente, o público sente, a intenção, a energia do B-Boy ou da B-Girl, se está com vontade de botar fogo, se está com medo, indiferente, arrogante… e o B-Boy ou a B-Girl que responde é diretamente afetado por essa energia e ele pode responder! É isso que deixa a batalha interessante. Então, nós fizemos uma edição em novembro, presencial, num momento em que os números da pandemia tinham caído muito, mas mesmo assim foi complicado, teve gente que tirou a máscara, se abraçou… no calor da batalha a galera esquece… eu particularmente não julgo, tem gente que anda de ônibus ou trem lotado todo santo dia, como dizer para ela que a única medida de distanciamento social possível é justamente o lazer dela? Não posso falar nada dela, mas nós, Breaking Ibira, não faremos presencial ainda, não vamos incentivar ninguém a se arriscar… pela nossa experiência, vimos que era difícil a galera manter 100% dos cuidados, não dava para contar com isso, particularmente, até acho que as medidas juntas são relativamente efetivas, mas não acho que serão seguidas. É difícil estabelecer parâmetros dentro de uma situação tão incerta, no geral o plano principal é voltar… mas quando tiver menos risco, sendo início de ano, pensar em como queremos continuar é fundamental, temos muito mais limitações agora e sabemos o que não queremos, temos uma ideia do que queremos. Batalhas? Sem público, on-line, sim, mas quem está batalhando tem que estar frente a frente apenas com uma imagem de qualidade, sem aqueles cortes de conexão que acabam com a experiência. No momento, estamos mais propensos a dar continuidade ao Mini Doc Breaking Ibira. Acredito que a vida será mais on-line, estudar será mais on-line, trabalhar será mais on-line; alguns eventos que tiverem sucesso nas lives vão permanecer no formato, mas vai sobreviver e permanecer aqueles que tiverem uma estrutura excelente, internet de altíssima velocidade, equipe rápida e eficiente; e as situações mistas, eventos transmitidos mas que também têm público presente e a questão da inserção do termo esporte ou “esportivização” [sic] vai estar cada vez mais em discussão, talvez isso afete os eventos, mas ainda não dá para falar. Sair ou não pra treinar, eu não estou indo treinar, mas sei que treinar pode ser parte da sobrevivência, da paz interior, portanto, não o julgo se estiver no corre, mas lembre-se de manter o distanciamento, se possível treine só com sua Crew ou, melhor ainda, só com um amigo ou amiga. Que Deus nos proteja e que venham dias melhores pra todos nós!”.
Eventos presenciais, híbridos ou on-line? Qual a solução?
Então, o que podemos esperar do futuro? E o que temos de concreto?
Então, o futuro dos eventos será on-line?
Para alguns profissionais do ramo de eventos, talvez o futuro será compósito. Trabalhar de forma mais ampla a experiência dos eventos. O fato é que não existe uma receita de bolo.
Um dos novos produtos em tempos de pandemia é o evento híbrido. Combinando atividades presenciais, para um público reduzido e streaming, com possibilidade de transmissão ao vivo para milhares de pessoas, o formato configura uma tendência. “Diante dos desafios do setor, os eventos híbridos tornaram-se a melhor alternativa para o momento atual”, afirma Marceli Oliveira em uma entrevista recentemente publicada. Superintendente do complexo Expo D. Pedro, um dos maiores espaços multiuso para eventos do interior de São Paulo, ela garante que os eventos híbridos vêm transformando a interação do público. Não mais em grandes espaços, mas acomodado em estúdios e salas menores, com todo o protocolo de segurança contra o novo coronavírus, o participante tem a oportunidade de experienciar presencialmente o evento. A transmissão por streaming permite que se participe remotamente.
Outra vantagem do novo formato é sua capacidade para atender de pequenos a grandes eventos. A infraestrutura dedicada a este formato permite se adequar ao número de participantes e às necessidades de cada evento. “O evento híbrido foi uma forma que o setor encontrou de se reinventar para apresentar novas soluções para as necessidades do cliente”.
Na agenda 2020 do Complexo, 30% dos eventos presenciais migraram para híbridos, destaca Marceli Oliveira. “Este fato nos surpreendeu de forma muito positiva”, afirma. Os presenciais, de acordo com a superintendente, mantêm-se de forma linear e crescente para os próximos anos. “Mas os eventos híbridos conquistaram seu lugar como produto em nosso portfólio, investimos em soluções e infraestrutura. Internet de qualidade é prioridade, completa. Se adaptar é a palavra dos próximos dias meses ou até anos!”.
Um alento neste momento de crise a Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc (Lei nº 14.017, de 29 de junho de 2020) que repassou mais de R$ 3 bilhões de recursos federais para ações emergenciais do setor cultural em estados e municípios. Segundo a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, “foram repassados no estado um total de R$ 264,5 milhões para 4.095 projetos culturais aprovados e contratados nas 25 linhas do ProAC Editais LAB. Com isso, em 2020, foram concluídas as etapas necessárias para assegurar a destinação por meio da Lei Aldir Blanc, de R$ 272.165.500,00 ao setor cultural e criativo de São Paulo. Ao todo, o Governo do Estado recebeu R$ 281.838.497,67 do Governo Federal, sendo R$ 264.155.074,63 relativos à cota original do Estado e R$ 17.683.423,04 relativos à reversão de valores não utilizados por municípios. O índice de execução, portanto, foi de 100% do valor recebido inicialmente e de 96,9% do total recebido”.
Após a polêmica gerada com o setor cultural depois do anúncio da suspensão do ProAC Expresso ICMS e a criação de uma nova linha de editais denominada ProAC Expresso ICMS, a assessoria de imprensa da secretaria informou que “sobre o incentivo fiscal por fomento direto, o Governo do Estado de São Paulo vai substituir o ProAC Expresso ICMS (programa de incentivo fiscal à cultura) por um programa de fomento direto a projetos culturais com recursos orçamentários, o ProAC Expresso Direto, mantendo o mesmo valor (R$ 100 milhões) e adotando normas e procedimentos semelhantes. Não haverá perda para o setor cultural e criativo. A medida valerá para 2021, 2022 e 2023 e foi tomada para enfrentar o déficit fiscal gerado pela crise da pandemia do coronavírus. O decreto orçamentário com este valor será publicado em breve. Posteriormente sairá o regulamento do novo ProAC Expresso Direto, a ser elaborado pela Comissão de Análise de Projetos (CAP) da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, que será a instância de análise e seleção de projetos. Será feita uma consulta pública para que a sociedade civil possa enviar contribuições. Os proponentes que tiverem projetos selecionados receberão os recursos diretamente. Com isso, o Governo do Estado de São Paulo reafirma seu compromisso com a valorização da cultura e o estímulo ao desenvolvimento do setor cultural e criativo. O ProAC Expresso Editais e o Programa Juntos Pela Cultura serão mantidos e também terão em 2021 recursos em patamar semelhante ao de 2020”.
O Portal Breaking World indagou sobre as perspectivas da pasta para o setor cultural em 2021, principalmente no que diz respeito ao cenário pós-imunização. São do Secretário de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, Sérgio Sá Leitão, as palavras: “Para 2021, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa trabalhará para a manutenção, o aperfeiçoamento e a ampliação do trabalho realizado pelas instituições culturais do ecossistema de cultura do Governo do Estado de São Paulo, que conta com cerca de sessenta instituições, espaços culturais e corpos artísticos como os Museus, Fábricas de Cultura, Oficinas Culturais, OSESP, Cia de Dança SP, Sala São Paulo, Teatro Sérgio Cardoso, entre outras. Além disso, teremos o ProAC Expresso Direto, o ProAC Expresso Editais e o Juntos pela Cultura, programas de fomento, que em 2019 tiveram um valor recorde, batido em 2020 e que esperamos bater em 2021, até porque é um investimento público que se tornou ainda mais fundamental diante do quadro da crise. E temos algumas novidades previstas como a criação de três novas Fábricas de Cultura, em Ribeirão Preto, em Heliópolis, na capital e em Iguape, na região do Vale do Ribeira, parte do programa Vale do Futuro; a reabertura do Museu da Língua Portuguesa e seguimos a todo vapor com o restauro e a ampliação do Museu do Ipiranga que será reaberto para a população em setembro de 2022. Sobre a retomada das atividades culturais, continuaremos seguindo todas as exigências, orientações e protocolos preconizados pela Organização Mundial da Saúde e pelo Centro de Contingência da Covid-19 do Governo do Estado de São Paulo. Este ano, tudo que faremos será on-line e, na medida das possibilidades, presencial. Afinal de contas, a pandemia continua aí e precisamos continuar tomando todos os cuidados até que haja a vacinação em massa da população. Mas este ano, a previsão é que todas as nossas atividades, os nossos programas e ações passem a ser híbridos: presenciais e on-line.”, conclui.
Para Zé Renato, produtor cultural que participa dos Fóruns Emergenciais Municipal e Estadual de São Paulo e integrou o grupo de trabalho da sociedade civil para implementação da Lei Aldir Blanc junto à secretaria de cultural da capital paulista, a Lei Aldir Blanc foi importante para que as pessoas tenham algum recurso, mesmo que parco, para sobreviver nestes tempos de pandemia. Ele explana: “Ao mesmo tempo que chegou em pessoas que nunca tiveram oportunidade ou acesso, ainda teve processos de inscrições complexos, mecanismos de comunicação com a sociedade falhos ou inexistentes, e não fosse a organização da sociedade civil no sentido de realizar uma busca ativa e tutoriais de saneamento de dúvidas, o impacto seria ainda menor do que foi. Seria melhor se os governos tivessem ouvido a sociedade civil na criação de inscrições simplificadas, sem burocracia, com ampla divulgação e pontos de apoio para inscrição e atendimento de um número muito maior de contemplados, com valores menores, melhor distribuídos. Tudo isto era possível, mostramos caminhos, e o poder público se negou a ouvir, na maior parte de seus aspectos. Ao mesmo tempo que, cotidianamente, recebemos mensagens de agradecimentos de coletividades que só conseguiram por causa das ações coletivas que a sociedade civil realizou e que terão acesso, neste momento, aos recursos, muitos deles pela primeira vez na vida”, para o produtor, os critérios utilizados para seleção dos projetos foram “frágeis, quando se pensa num auxilio emergencial. Na implementação da lei, na maior parte dos lugares, levou-se para a Lei Emergencial de Auxílio imediato a mesma lógica meritocrática dos editais concorrenciais usados habitualmente pelo poder público. Poderia ser mais simples e ousado, como por exemplo, a partir de um cadastro comprovando atuação na área a pessoa receber um recurso emergencial e ponto. Qualquer coisa além disso, no momento pandêmico, mostra-se concorrencial”, conclui.
Sobre a retomada pós-pandemia, Zé Renato declara: “Acho muito difícil voltarmos a uma possibilidade de atuação regular no ano de 2021, face o recrudescimento da pandemia e a péssima gestão da crise realizada pelo governo brasileiro. Para a sobrevivência do setor cultural ainda dependeremos do uso da verba da lei emergencial, que na maior parte dos lugares foram pagas apenas no final do ano ou estão sendo pagas no começo deste, e da ampliação desse tipo de ação, seja por nova aplicação de recursos do Fundo Nacional de Cultura, na atuação de Estados e Municípios em legislações próprias de auxilio emergencial e outras ações do gênero, pois neste ano não teremos uma atuação regular dos nossos pares”. Sobre os eventos on-line, o produtor opina: “Eu acho que chegaram para ficar, terão seu espaço, mesmo que não prioritário, como aconteceu em 2020. Ainda que tenha sido do ponto de vista estético bastante questionável os resultados, em minha opinião, pois na maioria das vezes apresentou-se coisas adaptadas e não criadas para o modelo on-line, ao longo do ano acabaram aparecendo algumas iniciativas que apontaram para uma “criação para este modo de troca”, com resultados interessantes. Por isso, acho que ainda teremos um caminho a percorrer até entender que tipo de ações podem ser para este modo on-line e o que tem potência para este canal. Acho que será assunto para anos ainda.”, finaliza.
Para os infectologistas e médicos que estão na linha de frente de combate a Covid-19, só existe uma forma de deter esse vírus, que é respeitando o isolamento social. Explicam: “Eventos têm alto potencial de transmissão da Covid-19. Entram na categoria conhecida como “super spreader”, ou supertransmissores. Ao longo da pandemia, cientistas se debruçaram sobre o fenômeno dos indivíduos ou eventos que têm um papel decisivo em espalhar a doença”. Dr. Joaquim Keller, que no passado era B-Boy, explana: “Cada vez que um evento acontece, mesmo com todos os cuidados recomendados, temos uma explosão de novos casos. Precisamos parar agora para prosseguir lá na frente. Acho que alguns organizadores de eventos deveriam pensar sobre suas responsabilidades nisso tudo, pensar em algumas coisas, como melhor que dar uma oportunidade para o próximo pagar as contas é garantir que ele esteja vivo no futuro. Estamos lidando com novas variantes que não conhecemos, mas que sabemos que são mais graves, rápidas e letais entre jovens, não temos mais espaços nos hospitais e nas UTIs, sejam públicos ou privados. Sem falar nos jovens assintomáticos que estão espalhando as variantes! Quando uma pessoa resolve fazer um evento, uma festa ou aglomerar, ela se torna responsável por cada vida ali presente. A pergunta é: queremos ser responsáveis pela morte dos nossos amigos e irmãos? Se o Hip-Hop é vida, porquê estamos caminhando para a morte? Que consciência estamos tendo em relação a esse assunto? As vacinas chegaram, mas ainda temos apenas 3% da população brasileira vacinada! A minha opinião é que reflitam, se cuidem e cuidem do próximo. E permaneçam vivos!”.
Observação: No dia do fechamento dessa matéria, recebemos a informação que os organizadores do Battle In The Cypher, que acontece de 29 de março a 4 de abril, optaram por realizar o evento no formato virtual. A decisão foi de fazer um encontro mais seguro, diante do contexto atual da pandemia pelo coronavírus no Rio Grande do Sul e no Brasil. No Rio de Janeiro, o evento Tropical Battle, que está acontecendo nesse momento, devido ao Decreto 48.573 cancelou os workshops presenciais, a tradicional Cypher no Arpoador e a batalha de iniciantes acontece no domingo, junto com a principal. Apenas competidores poderão estar presentes no local, acompanhantes não poderão entrar e nem público expectador.
Fotos: Arquivo Pessoal / Reprodução
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Mulheres da Cultura Hip-Hop participam da 2ª edição do Empowerment Day, contam suas vivências e refletem sobre alguns temas de empoderamento feminino.
Aconteceu no último dia 3, a gravação de mais uma edição do Empowerment Day, que vai ao ar no próximo dia 8 de março de 2021, no Dia Internacional da Mulher.
Idealizado pela Casa de Cultura Urbana Street House, de São Paulo, o evento que teve início no ano de 2020 e se tornou um marco quando o assunto é empoderamento feminino, esse ano aconteceu de uma forma híbrida devido a pandemia, seguindo os protocolos e as normas de segurança, como parte da semana “Street House Em Ação”, realizada com recursos da Lei Aldir Blanc por meio da Secretaria de Cultura do Município de São Paulo e do Governo Federal e apoio da CBRB – Confederação Brasileira de Breaking e do Breaking World.
As convidadas dessa edição foram:
Rose MC: Faz parte da cultura desde 1985, Rapper desde 1992, professora de Artes, umas das autoras do livro Perifeminas. Rose faz parte do coletivo Hip Hop All Stars e Clássicas do Hip-Hop.
B-Girl Bia: Beatriz Sena atua na cultura Hip-Hop desde 2012, através da conhecida Crew Street Son e do coletivo Multiforme. B-Girl, dançarina, professora de Educação Física, produtora de eventos e modelo publicitário.
Mel Zabunov: Ela veio de São Bernardo do Campo, formada em Teologia e Jornalismo Cultural. Mel Zabunov é uma vigorosa grafiteira. Resgata em seus trabalhos o empoderamento feminino e todas as suas nuances.
DJ Tati Laser: Ela sempre comanda a festa. Como o nome fala, a DJ Tati é super rápida, daí o apelido “laser”. Idealizadora do projeto As Minas Risca, Tati faz parte do coletivo Applebum DJS e da Hotstepper Crew. Ela ensina a arte dos toca-discos para crianças!
Luciana Mazza: Presente na cultura desde 1986, quando viajava do Rio de Janeiro onde morava para acompanhar e participar da efervescência da Cultura Hip-Hop em São Paulo. Ela é editora do Portal Breaking World, jornalista, cineasta, assessora de imprensa e mãe de B-Boy e de B-Girl.
Juntas, essas mulheres incríveis não se calaram, tomaram conta do bate-papo totalmente empoderadas e falaram sobre diversos temas como preconceito, discriminação, assédio, violência, sobre suas referências e sobre o legado que pretendem deixar para as próximas gerações femininas. Provando que o lugar das mulheres, é onde eles quiserem!
A roda de conversa foi mediada pelo jornalista Marcelo Rebello e a filmagem feita pelo fotógrafo e cinegrafista The Sarará. O evento será exibido na próxima segunda-feira a partir das 14h (horário de Brasília) e depois reprisado no Facebook, no Instagram e no canal de YouTube da Casa de Cultura Urbana Street House (@streethousebrasil).
Fotos: The Sarará / Street House
Mel Zabunov
DJ Tati Laser
B-Girl Bia
Rose MC
Luciana Mazza
The Sarará nos bastidores da gravação
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O nome que consta na certidão de nascimento é Alex José Gomes Eduardo, ele não poderia ser mais brasileiro. Nasceu numa família alegre de sambistas e capoeiristas em São José do Rio Preto, interior de São Paulo.
Da infância guarda boas lembranças das feijoadas e dos churrascos em família. Criado pela avó, matriarca da família, o menino que não tinha tênis, mas que desde pequeno já mostrava habilidades diferentes e muito especiais, a famosa estrelinha no meio da testa que alguns carregam para esse mundo, filho de mestre de capoeira era bom nos movimentos do corpo e também no futebol, por isso recebeu o apelido de “Pelezinho”, mas seu destino não foi escrito num campo de futebol e nem jogando capoeira mas sim nas ruas.
As rodas que frequentava eram outras, as de Breaking, onde sua grandeza foi reconhecida e conquistada, sendo ponte para o resto do mundo.
Numa entrevista super especial e exclusiva ao Portal Breaking World, B-Boy Pelezinho, que esta semana se posicionou sobre o assunto “Breaking nas Olimpíadas”, contou sua história de vida, suas experiências, conquistas no Breaking, falou sobre a pandemia, sobre amigos que sente saudades, sobre o futuro e mostrou sua preocupação com a nova geração de B-Boys e B-Girls.
Hoje fora das competições, porém comprometido com o Breaking pelo resto da vida, ele sempre lembra: “O Breaking mudou a minha vida e pode mudar de muitas pessoas”.
Com vocês: Pelezinhoooooooo!
BW: Você é de São José do Rio Preto, correto? Queria que você nos contasse: como foi sua infância, sua adolescência e sua vida em família? Que lembranças boas guarda dessa época? Foi uma vida tranquila ou difícil?
Pelezinho: Sim, eu sou de São José do Rio Preto, nascido e criado lá. Eu venho de uma família de sambistas e capoeiristas, eu lembro que, principalmente nos finais de semana, nós tínhamos aquele momento familiar, que tinha música, almoço, churrasco, feijoada. Na infância era bem tranquilo! A minha avó é que era a matriarca da família, ela cuidava de todos! Eu fui criado pela minha avó. Mas a minha família sempre foi aquela família animada! Tenho boas recordações!
Oriundo de uma família de sambistas e capoeiristas, Pelezinho encontrou-se no Breaking e incorporou movimentos da Capoeira na dança, criando um estilo próprio que ganhou o mundo e influenciou gerações de B-Boys e B-Girls
BW: E na adolescência, como foi? Quando e como teve o primeiro contato com a Cultura Hip-Hop? O que te chamou atenção nessa cultura?
Pelezinho: Na adolescência, foi um pouquinho mais complicado. Eu saí de casa cedo, era muito jovem e eu conheci o Breaking por meio de um amigo, ele esta numa Cypher aqui no centro da cidade e, na verdade, eu achei que fosse uma roda de capoeira e quando cheguei vi que era uma roda de Breaking e eu fiquei encantado com aquilo. Logo depois, ele fez uma performance na minha escola e foi quando ele me convidou, disse que eu tinha uma facilidade para dançar, a minha família era do samba, então, achava que eu teria muita facilidade. E me fez um convite para treinar na casa dele, isso foi em 1995 ou 1996. E desde então, eu tenho uma história dentro do Breaking.
BW: Com que idade você saiu de São José do Rio Preto? O que sentiu quando chegou em São Paulo?
Pelezinho: Na verdade, eu só sai da casa da minha avó quando eu fui para São Paulo. Na primeira vez foi para um evento de dança, foi aquele choque com a cidade grande, de conhecer mais a galera da dança, porque eu só ficava no interior. Mas quando eu cheguei no evento achei incrível, quando eu vi todas as Crews de São Paulo reunidas. Me lembro que quando os caras chegavam, eles já chegavam batalhando e eu pensei: “puxa, vou voltar para casa e treinar muito, pois eu não quero mais que esses caras fiquem me zoando na dança não…”.
BW: Mas quando houve aquela decisão mesmo em relação ao Breaking? Tipo: “É isso que eu quero para a minha vida”? Porque afinal, você cresceu no meio do samba e da capoeira e também era bom no futebol, daí o nome Pelezinho. Mas quando ficou claro que era o Breaking?
Pelezinho: Em relação ao futebol, foram os amigos do meu bairro que me deram esse apelido na época da escola, porque eu não era o craque e tal (risos), mas jogava bem. E o Breaking eu peguei gosto pela dança, pelos treinos e era algo incrível que eu estava vivendo, eu gostava muito de praticar. As informações já estavam começando a chegar de alguns eventos, surgia alguns convites e comecei a gostar muito do que eu estava vivendo.
Pelezinho em uma de suas viagens para Lima, no Peru: a preocupação da avó virou orgulho em ver o neto saindo do interior de São Paulo e ganhando o mundo
BW: Você teve apoio da família quando decidiu se dedicar à dança?
Pelezinho: Naquela época, minha avó não tinha informação, ela estava meio preocupada de eu ficar pela rua, ficar dançando no coreto da cidade com uns caras… Então, eu não tive um apoio, demorou um tempo para que ela entendesse o que eu estava fazendo, mas natural, às vezes eram costumes daquela época, estamos falando de 1995, não existia informação direito como se tem hoje. Realmente ela se preocupou, achando que eu iria por um caminho errado, mau. Mas eu insisti muito e hoje ela fala: “Meu neto é um exemplo!”.
BW: Fale da relação da Capoeira e do Breaking na sua vida. Um completou o outro?
Pelezinho: A relação minha com a Capoeira foi dentro de casa, né? Meu tio era mestre de Capoeira, meu pai era mestre de Capoeira e eles tinham a academia deles e tal e eu fui influenciado, porque eu nasci naquele meio. No meio das músicas, no meio da Capoeira… E eu acredito que a Capoeira tem muita ligação com o Breaking, vários movimentos são semelhantes, tem musicalidade e quando eu comecei a dançar Breaking, realmente alguns movimentos do Breaking foi muito fácil de aprender graças à Capoeira. Eu tive bastante facilidade para aprender o Breaking, claro que teve alguns movimentos que tinham uma dificuldade a mais, porém, falando de equilíbrio, de firmeza, de movimentação de giro, para mim foi mais fácil, então, resumindo, eu fui influenciado pelo meu pai e pelo meu tio, eu só pratiquei a Capoeira por um determinado tempo, eu não peguei corda, não segui da forma que tinha que ser, mas eu tenho um baita respeito pela Capoeira e ela foi fundamental na minha adolescência.
BW: Houve pessoas na dança que o ensinaram e o ajudaram e que também foram inspiração e referência para você? Parece que teve um B-Boy que você admirava muito e tinha o desejo de um dia conhecê-lo pessoalmente. Quem era? E de que país ele é? Esse encontro já aconteceu?
Pelezinho: Ah, sim! Eu falo que no Breaking eu tive essas pessoas, primeiro o amigo que me convidou para praticar na casa dele, depois umas outras pessoas da época, que hoje já nem praticam mais, mas eu tenho, sim. Quando eu vi esse cara dançando, ele se chama B-Boy Remind, um dos fundadores da Style Elements Crew, da Califórnia. Quando esse cara apareceu para nós nos eventos nos Estados Unidos, o Battle of the Year, foi um dos primeiros vídeos que eu vi dele, eu vi o estilo dele dançando e eu acredito que ele mudou todo o cenário da dança, principalmente no Breaking pois ele introduziu um estilo mais carismático, envolvendo alguns passos de House e eu gostei muito disso. E eu tenho um sonho de conhecê-lo. Até hoje eu viajei o mundo e não tive a chance de conhecê-lo, conheci alguns membros da Crew dele, mas ainda não o conheci. E um dia ainda eu vou conhecê-lo, se Deus quiser!
O apelido foi dado pelos amigos do bairro onde morava: a intimidade com a ‘pelota’ foi deixada para trás quando o B-Boy descobriu o prazer de dançar
BW: Quando começou a participar e ganhar eventos de Breaking? Que eventos foram especiais para você, antes da Red Bull, é claro? Que conquistas foram memoráveis?
Pelezinho: Eu participei de muitos eventos na minha vida! Mas, um dos que eu mais gostei, foi um que era relacionado a esportes radicais, ele foi feito dentro do Ibirapuera e eu fui campeão do 1vs1, tiveram outros eventos que eu não ganhei, mas foram muito legais. Uma vez eu estava de jurado na Batalha Final e aí eu fiz uma batalha muito memorável. Estava eu e Chaveirinho, nós batalhamos por um bom tempo dentro do evento e aí, depois, nós acabamos fazendo vários trabalhos pelo Brasil, a gente era meio que inimigo antes do BC One, mas claro, o maior reconhecimento internacional foi o Red Bull BC One de 2005.
BW: Sim, falando do ano de 2005, como chegou na final mundial da Red Bull, que aconteceu na Alemanha? Como foi aquela sua primeira viagem para fora do país e o que sentiu naqueles minutos que teve que representar o Brasil numa terra tão distante e diferente?
Pelezinho: Quando eu fui convidado pela Red Bull BC One, eu não tinha noção do que poderia acontecer… Claro que alguns B-Boys que estavam ali eu já via pela fita k-7, pelos DVD´s que já estavam rolando, então, tinha B-Boys que eu admirava, o Lilou já estava despontando na Europa e quando eu cheguei na semifinal, pra mim foi uma batalha apenas, só que eu só fui entender a proporção do que aconteceu comigo quando eu retornei para o Brasil, depois da repercussão que teve e a vivência que eu tive lá na Alemanha, em 2005, foi incrível, pois era tudo novidade pra mim, então, foi a primeira vez que eu saí para fora do país, um evento como aquele, era a segunda edição dele, deu um ‘boom’ na dança… Então, pra mim, foi muita experiência, aqueles 5 dias que eu fiquei em Berlim foi só aprendizado, uma bagagem incrível para poder entender o que poderia vir logo em seguida. Na final mundial em 2006, no Brasil, eu já estava classificado nesse período, eu fui conhecido mundialmente mesmo eu não sendo o campeão, porque na época ainda existia primeiro, segundo, terceiro e quarto lugar. Esses quatro eram classificados automaticamente para o próximo ano, então pra mim foi incrível!
BW: Falando ainda de 2005, como foi batalhar com o B-Boy italiano Cico?
Pelezinho: Então, a minha primeira batalha foi com o Cico, um cara que estava se destacando muito pelos Power Moves que ele vinha fazendo e, principalmente, o Giro de Mão, ali foi uma grande pressão. Como foi a primeira batalha minha, num palco daquele, numa estrutura daquela, pra mim ali foi difícil de verdade! Depois que eu passei do Cico, fui passando… aí eu cheguei na semifinal com o Hong 10, ali eu já estava mais confortável, mas ao mesmo tempo, né [sic], tive alguns errinhos, acabei esquecendo um movimento. O Hong 10 ganhou de mim naquela noite e ele fez a final com o Lilou.
Pelezinho, Lilou, Menno, Hong 10, Wing e Lil Zoo durante turnê da Red Bull BC One All Stars em Meknes, Marros (Maio, 2018)
BW: O que sentiu e como foi a sensação de ter chegado tão perto de vencer o mundial? Fale da repercussão de ser o primeiro brasileiro a participar de uma final mundial? Isso fez diferença na sua vida?
Pelezinho: Eu, naquela época, na hora que eu perdi, eu falei: “Nossa! Puxa! Eu quase fui para a final!”. Então, deu aquela frustradinha no momento, mas na verdade, como tinha terceiro e quarto, eu nem pensei muito! Eu só fui pensar mais quando retornei ao Brasil, realmente passou um tempo até a galera descobrir, porque naquela época as informações não chegavam como hoje, que você pode ver ao vivo, demorava um tempinho para chegar as informações dos eventos. O You Tube estava começando, pelo menos para nós aqui do Brasil, aí depois que a galera descobriu, saiu o DVD, aí a repercussão foi uma loucura! A prova disso que até hoje as pessoas lembram, pessoas que não são da dança, pessoas que me encontram na rua, sempre tem um que lembra e fala que assistiu o DVD da Red Bull BC One.
BW: Pelezinho, depois você já viajou para muitos países pelo mundo. A ginga do B-Boy e da B-Girl do Brasil é um diferencial? O que os gringos esperam ver quando tem um B-Boy brasileiro ou uma B-Girl do Brasil numa competição?
Pelezinho: Desde quando os brasileiros começaram a competir no circuito europeu e, principalmente, nesse período de 2005 pra cá, é natural os gringos verem algo diferente, então, eu cheguei com um pouco mais de movimentos acrobáticos, misturando tudo com Power Move, enfim! Aí depois apareceu Neguin, então a galera sempre espera que o brasileiro chegue com um movimento diferente, mas o mais importante é cada dançarino ter o seu próprio estilo, a galera tem que pensar que o nosso passaporte é brasileiro, temos que mostrar o nosso cotidiano… É o que eu falo, a dança já foi criada pelos caras lá de fora, já tinham movimentos criados, é necessário cada um mostrar de onde vem, qual é o seu estilo de dança, a sua marca, então isso é importante.
BW: Como foi sua entrada na Tsunami All Stars e na Red Bull BC One All Stars? Fale da sua experiência dentro dessas Crews?
Pelezinho: Então, sobre a Tsunami All Stars, na verdade, nós a criamos porque na época teve um evento em São Paulo e nós queríamos batalhar e nesse período, Kokada estava sem Crew, eu estava em show com Marcelo D2, Katatau também estava praticamente sem Crew e aí nós participamos de um campeonato em São Paulo. E o Aranha era próximo de nós, porque quando o Chaveiro viajava, o Aranha cobria ou vice-versa, na época do show com Marcelo D2. Aí nós entramos em cinco no campeonato e ganhamos! E depois ficou aquela história que sempre que nós nos encontrávamos em São Paulo, dançávamos juntos e tal, aí o Katatau dançava com o Chaveiro em alguns lugares, o Aranha junto e aí nós só reunimos a Crew quando teve o convite para disputar o R16 na Coreia, quando chegou o convite dos coreanos que eram os ‘managers’ e aí foi quando o Neguin já estava próximo do Katatau, eu convidei o White e o Chuchu e montamos a Crew, aumentamos a Crew e aí participamos do R16, ficamos entre os finalistas e foi esse processo na criação da Tsunami. E o Red Bull BC One All Stars eu participei de duas turnês pela Red Bull Internacional para levar o que o Red Bull BC One estava fazendo, então, fizemos Austrália (2008), Índia (2009) e dali surgiu uma ideia, começamos a conversar com uma manager e aí demos a ideia de criar um time dentro da Red Bull e então criamos o Projeto Red Bull All Stars. Eu ajudei a criar esse projeto, eu, o Lilou e a manager e hoje está aí um dos melhores times que tem no mundo, onde estão os melhores dançarinos do mundo. Atualmente, eu não estou no time para competição, porque eu já sai do circuito de competição já tem um tempo, mas o time está aí, eu ajudei a criar e tenho muito orgulho disso.
Pelezinho e a Tsunami All Stars
BW: Falando um pouco mais sobre quem fazia parte da Tsunami, queria que você falasse de sua proximidade ao Kokada, que era alguém que, sem dúvida, escreveu uma história de muito valor no Breaking e tinha uma personalidade muito singular, deixando um enorme vazio quando partiu aos 35 anos, vítima de uma meningite, em 2012.
Pelezinho: Falar do Kokada pra mim é prazeroso! Porque nós vimemos juntos um período de conquistas, vou lembrar do Kokada lá atrás, quando eu fui para são Paulo a primeira vez, o Kokada já era já o grande B-Boy Kokada junto com o Careca da Detroit Breakers. O Kokada já fazia shows, ele era famoso pelo Brasil todo! E quando eu tive a oportunidade de conhecê-lo, de virar amigo dele e surgiu a história de montarmos a Tsunami, eu o chamava de “mentor”, porque era ele que cuidava das coisas da Crew e, assim, nós vivemos muitas coisas! Kokada teve a sorte de viajar também e de competir, mas no período que ele estava fazendo as coisas não existia muita informação, naquela época então, o momento que o cara estava não existia o contato do Brasil com o pessoal de fora, então, alguns gringos começaram a vir para o Brasil e justamente nesse momento nós estávamos juntos realizando sonhos, mesmo sendo de cidades diferentes. O Kokada foi incrível! O legado que ele deixou está ai e ninguém nunca vai esquecer! Ele era mesmo difícil, era um cara mais complicado (risos), ele tinha o jeitão dele, o gênio dele sempre foi forte, só que nós nos entendíamos muito bem quanto viveu conosco. Mas ele vive em nossos corações! E ele era uma baita de uma pessoa! Até hoje ele faz muita falta! E eu acredito que nos sonhos dele eu o ajudei também, tanto que a primeira viagem dele internacional para o evento R16 fomos eu, ele, Chaveiro, Katatau, Aranha, o Neguin e fizemos parte de uma geração, mas Kokada veio primeiro que nós e é isso! Muita saudade!
BW: Voltando um pouco no tempo, Pelezinho, numa outra entrevista você falou que quando começou a dançar não tinha um tênis… Décadas depois, você foi convidado para assinar um tênis junto com o Sandro Dias e, na ocasião, você falou que queria ver o Breaking e o Skate nas Olimpíadas de Paris 2024. Hoje, creio que você tenha vários tênis e o Breaking está nas Olimpíadas. Se sente realizado?
Pelezinho: Verdade, eu não tinha tênis para dançar, passei por essa dificuldade! Eram tempos bem diferentes! Mas quando eu recebi o convite do Sandro Dias para poder participar do projeto que ele estava iniciando, que ele queria ir pelo lado da cultura, da dança e ele me convidou para fazer a Colab, puxa, eu nunca imaginei isso na minha vida e aí foi quando eu falei numa entrevista que passou um filme na minha cabeça, quando ele me ligou para me convidar, ele era o dono da marca e eu aceitei na hora. Ele tinha um sócio, mas eu aceitei na hora! Hoje eu tenho um tênis assinado, modelo 1, já tem um projeto do modelo 2, já era para ter saído ano passado. Sim, graças a Deus hoje eu tenho muitos tênis (risos) e sobre as Olimpíadas é uma coisa que nós não imaginávamos que pudesse acontecer, ter o Breaking nas Olimpíadas. Eu sou a favor! Eu acho que está aí, já está concretizado, eu acredito que é mais uma porta se abrindo dentro do cenário da dança mundial, muitas pessoas terão oportunidades. Eu sei que aqui no Brasil têm acontecido muitas conversas, mas as coisas negativas devemos deixar para trás e pegar as coisas positivas das pessoas que têm o mesmo interesse, que isso possa trazer mais informação para quem não tem e isso vai agregar muito para a nova geração. Eu costumo falar para a galera que não é porque eu não tive lá atrás que eu deva embarreirar a nova geração, eu sou a favor mesmo do Breaking nas Olimpíadas e fiquei muito feliz!
Sandro Dias (Mineirinho) e Pelezinho lançam linha de tênis com sua assinatura: grande conquista para o menino que não tinha tênis para dançar
BW: Falando sobre as Olimpíadas e sobre toda a discussão em volta desse assunto, fale sobre suas impressões sobre esse elemento do Hip-Hop virar um esporte olímpico. Na sua opinião, estamos preparados para viver isso? Normalmente atletas olímpicos levam anos se preparando para uma participação numa Olimpíada. E nós, como estamos? Ao seu ver, temos B-Boys e B-Girls brasileiros prontos e bem preparados para brigar por uma medalha olímpica?
Pelezinho: Espero que com toda essa situação que está acontecendo, que o Brasil possa ter representante em 2024, porque já não teve nos Jogos da Juventude, espero que as pessoas se organizem, fazendo a sua parte e quem estiver no comando que faça de verdade, que pense no Breaking, na dança Breaking e não no próprio bolso. Pelo amor de Deus! Estamos em 2021, estamos dentro de uma pandemia, muitas coisas mudaram, muitas não serão mais a mesma coisa! Então, por favor! Precisamos fazer de verdade e principalmente para a nova geração! Olha, sendo bem sincero sobre o que vem acontecendo no Brasil, eu ando observando, não tenho participado de muitos bate-papos que estão tendo pelas redes sociais, só participei de duas que eu achei interessante e no meu olhar, o Brasil já está começando atrasado, porque eu já vou entrar: desde os Jogos da Juventude e dos simulados que tiveram na China e o Brasil não estava ali como convidado, então, estamos começando tarde, porque precisamos preparar, tem que ter mesmo toda uma estrutura, eu sei que as pessoas vão fazer do modo deles. Mas preparados na parte de dança: Sim! Temos B-Boys e B-Girls que possam disputar medalhas para o Brasil, mas tudo depende de toda a estrutura e logística que será montada aqui no Brasil, de como será, se vai convidar os B-Boys e as B-Girls direto ou se vai fazer etapas. Então, dando uma resumida, eu acho que já estamos atrás dos outros países: o Japão já tem o time pronto, a Holanda praticamente também, a França, EUA, a China… E o Brasil ainda não está! Quem estiver na frente tem que fazer de verdade! E resolver tudo o mais rápido possível, porque esse ano já descartamos praticamente, então, só sobra 2023 e 2024. Porque até o processo todo ser feito com a estrutura… Estou falando da minha visão como dançarino e como produtor e criador de eventos. Essa é a minha opinião!
Pelezinho: “Precisamos fazer de verdade e principalmente para a nova geração!”
BW: Verdade que você se posicionou sobre o assunto e agora faz parte da Confederação Brasileira de Breaking (CBRB). Você gostaria de falar sobre isso?
Pelezinho: Eu tive uma conversa com o Rooneyoyo e juntamente com o HP, estamos nos posicionando para participar junto com o Rooneyoyo, porque eu acho que juntos podemos conduzir coisas melhores para a nova geração.
BW: Falando sobre sua experiência como jurado… Hoje em dia, Pelezinho, você participa de muitos eventos. O que você gosta de ver numa batalha e o que você acha inaceitável na mesma?
Pelezinho: Sobre as batalhas, como jurado eu gosto de ver aqueles B-Boys e B-Girls que mostram movimentos, que sejam completos: musicalidade, criatividade, movimentos básicos. Mas eu gosto sempre daqueles dançarinos que percebemos aquela vontade de competir, que vai lá, que expressa a dança dele, que mostra movimentos surpreendentes sem errar, porque tem movimentos que jurado pega erros. Enfim, eu gosto dos completos no Breaking! Gosto de ver movimentos diferentes e interessantes para julgar, porque o nível da batalha fica avançado. E coisa que eu detesto ver é a má vontade de alguns dançarinos quando estão em competição, tem dançarino que parece que não está a fim… Aí eu pergunto: “Por que participou, então? Por que se inscreveu?” E outra coisa é essa história de questionar jurado, no passado já questionei também, só que eu acho desnecessário hoje em dia, de tanta informação que temos, nós precisamos respeitar os jurados que estão sentados ali, porque têm uma bagagem, então vamos respeitar. As pessoas precisam entender que numa competição estão sujeitos a serem julgados, então, vai lá, treina e seja o mais transparente possível para o jurado e mostra o porquê quer ser campeão!
BW: Com a pandemia e todo o isolamento necessário, o que você tem feito? O que acha das batalhas on-line? É uma tendência?
Pelezinho: Sobre a pandemia, eu acredito que foi um aprendizado para várias pessoas, estamos nela ainda! Nesse período eu tive que me reinventar, me readaptar a essa realidade que estamos vivendo. Sobre as batalhas on-line, claro que não é a mesma coisa, não é a mesma energia, de estar ali na Cypher, naquele calor todo, mas é um meio de manter a galera em atividade, em competição, até mesmo dando suporte para eles, porque teve alguns eventos on-line bacanas! Pela produção, pelo o que fizeram e acabou ajudando vários B-Boys e B-Girls, então, eu sei que isso pode continuar. Alguns eventos vão manter on-line e a pandemia é uma coisa muito triste, que ninguém imaginou que ia passar nesse plano de vida, mas ela é um aprendizado para muitas pessoas e quem não se adaptar, nem imagino o que vai fazer da vida.
Pelezinho acredita que a pandemia foi um período de aprendizado para várias pessoas: reinventar, readaptar, continuar…
BW: Você tem uma frase célebre: “O Breaking salvou a minha vida”. Comente a importância do Breaking como ferramenta de transformação.
Pelezinho: Sobre o que eu falo do Breaking ter mudado a minha vida, realmente ele mudou, ele fez uma transformação tremenda! Eu fiz coisas que eu jamais imaginei que eu iria fazer! Por meio da minha dança, eu viajei praticamente o mundo todo e sou uma pessoa conhecida através do Breaking. Financeiramente foi bom pra mim, consegui ter algumas coisas, mas o que eu mais falo é que nada disso teria acontecido se não fosse a minha vontade, a determinação que eu tive e toda a história que eu tenho há mais de 20 anos dentro do Breaking. Então, quem quer alguma coisa, principalmente dentro do Breaking, a galera nova, da nova geração, que vocês têm tudo, rápida informação, eventos, então aproveitem, porque na minha época que eu comecei a dançar nós não tínhamos nada disso! Aproveitem as oportunidades! Porque as poucas que eu tive aproveitei todas! E corri muito atrás! E foi nisso que o Breaking mudou a minha vida e pode mudar de outras pessoas também.
BW: Hoje quem é o Pelezinho? Você pensa em um dia parar de dançar?
Pelezinho: Pelezinho hoje é essa pessoa aí que a galera está vendo, que o Breaking deu uma visão de transformação e também de ajudar, porque o que venho fazendo hoje em dia é ajudar a cena, principalmente o Breaking. E sobre parar de dançar, eu não me vejo parando, como vou parar algo que amo fazer? É natural com o tempo desconectar algumas coisas, eu não me vejo competindo mais, mas eu adquiri uma bagagem que posso ajudar a nova geração aqui no Brasil.
BW: Para finalizar essa entrevista, que conselhos você daria para a nova geração de B-Boys e de B-Girls?
Pelezinho: Respeitem as oportunidades que vocês têm agora, se desejam competir, treinem para isso e aproveitem as oportunidades, que façam isso de verdade! Para aqueles que desejam uma vida de atleta, principalmente agora que têm vários eventos, Olimpíadas: se preparem! Nunca esqueçam que a nossa dança é uma cultura e se você desejar, pode viver como um dançarino atleta também, você pode se dedicar, você pode praticar, você pode se proteger. Se eu tivesse a mentalidade que eu tenho hoje, com certeza eu teria competido por mais tempo, eu também poderia ter evitado algumas lesões, porque é natural, somos seres humanos e não somos máquinas e, devido alguns anos repetindo movimentos, é natural ter um desgaste, só que de alguns anos para cá, já podemos proteger isso, então, vá atrás de uma pessoa que possa te dar uma educação física como dançarino, para que você possa ter sua vida como dançarino e, se desejar, como atleta também. Respeitem e aproveitem o que vocês têm hoje, pois tudo está mais fácil!
Fotos: Arquivo Pessoal / Red Bull Content Pool (Fabio Piva, Yassine Alaoui, Dimitri Crusz) Vídeos gentilmente cedidos pela Red Bull
Pelezinho comemora seus 20 anos de dança
B-Boys Pelezinho, Lil G e Kokada no projeto "B-Boys In Motion" - 2011
Pelezinho: #RespeitaOBreaking
Pelezinho além de B-Boy é MC, jurado e produtor
Pelezinho e o tênis com sua assinatura
Neguin e Pelezinho: geração de vencedores
Pelezinho, Lilou e Neguin
Red Bull BC One All Stars
"Mister" Kokada, Lilou e Pelezinho
Tsunami All Stars
Pelezinho
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“Naquela época tudo era diferente, as Crews eram algo que, se mexesse com um integrante, era como mexer com enxame de abelhas: todos iam para cima. E a Jabaquara Breakers tinha fome e sede de racha…” (B-Boy Tripa – Jabaquara Breakers)
Dançar Breaking? Aprender seus fundamentos? Hoje, numa simples busca pela internet, numa passagem rápida nos vídeos do YouTube ao alcance de qualquer pessoa e seus dedos, é possível por meio de tutoriais de inúmeros B-Boys espalhados pelo mundo aprender e aperfeiçoar vários movimentos. Não conseguiu pegar um movimento? É só retroceder o vídeo e começar do zero. Mas nem sempre foi assim, conta o B-Boy Tripa, da pioneira Jabaquara Breakers: “Éramos bem jovens, porém muito ligados à música, costumávamos andar com pessoas mais velhas que nos encaminharam nos bailinhos dos vizinhos e nos trouxeram a ver vídeos e filmes e um programa que chamava Realce, se não estou enganado e num desses vídeos, vimos uma “dança diferente, tipo que mexe com a gente”, um clip do Michael Jackson fazendo aqueles passos tipo robô, era algo surpreendente… foi quando vimos o filme “Beat Street”, aqueles caras fazendo aqueles passos com alegria e suavidade e ao mesmo tempo com muita raiva, com vontade de vencer… nossa, relatar isso me faz viajar no tempo, onde entrava na primeira seção do cinema e só saía na última (naquela época isso era possível) vendo e revendo o filme “Beat Street” e tentando fazer alguns passos no corredor, o “Breaking” era uma febre. No começo, nem sabíamos o que era B-Boy, éramos mesmo conhecidos como os meninos que dançam Breaking ou dança Robozinho, esta evolução e conhecimento veio anos depois e o nossos grandes desafios era mesmo dançar e sermos melhores no que fazíamos, mostrando que o Breaking e a Cultura Hip-Hop nada tinha a ver com uma febre, mas com uma cultura cada dia mais sólida…”.
O Portal Breaking World, mesmo nesses tempos difíceis de pandemia não pára e conversar com a Crew Jabaquara Breakers foi uma viagem ao túnel do tempo, confira tudo que rolou na entrevista:
BW: Queria que vocês nos contassem quando e como surgiu a Crew Jabaquara Breakers? Que tempos eram? Como a sociedade via a Cultura Hip-Hop e seus elementos? Vocês sofreram muito preconceito?
Jabaquara Breakers: Acreditamos que a Jabaquara Breakers surgiu como todas as outras Crews; éramos bem jovens, porém, muito ligados à música, costumávamos andar com pessoas mais velhas que nos encaminharam nos bailinhos dos vizinhos e nos trouxeram a ver vídeos e filmes e um programa que chamava Realce, se não estou enganado, e num desses vídeos vimos uma “dança diferente, tipo que mexe com a gente”, um clip do Michael Jackson fazendo aqueles passos tipo robô, era algo surpreendente… foi quando vimos o filme “Beat Street”, aqueles caras fazendo aqueles passos com alegria e suavidade e, ao mesmo tempo, com muita raiva, com vontade de vencer… nossa, relatar isso me faz viajar no tempo, onde entrava na primeira seção do cinema e só saia na última (naquela época isso era possível) vendo e revendo o filme “Beat Street” e tentando fazer alguns passos no corredor. Fantástico, isso 83, 84 e como todas as Crews tínhamos o nome americanizado de Flash Break, neste momento não sabíamos que o “Breaking” fazia parte de uma Cultura chamada Hip-Hop, somente mais para frente, depois de muitas pesquisas, vimos a ter esta informação. E também não tivemos preconceito ainda nesta época, pois o “Breaking” era uma febre. Tanto que, em 1984, teve o primeiro festival de “Breaking” na Praça da Sé, onde participamos e conhecemos uma pessoa que gostou tanto da nossa dança que nos fez um convite para fazermos shows no Interior de São Paulo e Sul de Minas, viajamos por diversas cidades como Bauru, Agudos, Machado, Poços de Caldas, etc., éramos uma celebridade, porém muito pequenos. E, sim, depois que a febre do “Breaking” passou, tivemos que suportar muitos preconceitos, mas superamos todos com muita sabedoria.
Foto histórica dos Encontros da São Bento nos anos 1980, o “templo do Hip-Hop brasileiro”
BW: Onde vocês se encontravam, se reuniam para dançar e treinar?
Jabaquara Breakers: Por muitos anos, treinamos na estação Conceição do Metrô, tínhamos também um local que era nosso QG, que carinhosamente chamávamos de “Byongo”, neste local estiveram gente de todo o Brasil e do exterior também, até um b-boy da Rock Steady Crew esteve lá, passou o famoso e conhecido mundialmente o grafiteiro Eduardo “Kobra”, que era um integrante da Jabaquara Breakers e treinamos também no Ibirapuera, no final dos anos 80, começo dos anos 90, tínhamos também um espaço nos domingos no Centro Cultura do Jabaquara, onde existe até hoje o “Sítio da Ressaca”, conhecido como acervo afro-brasileiro, administramos muitas aulas de Graffiti, Breaking, Discotecagem e Posicionamento de Palco, trouxemos muitos artistas neste espaço, como Dona Ivone Lara, grupos de Rap como Filosofia de Rua, Black Panters, entre outros, muitos subiram no palco pela primeira vez aqui. E realizamos a primeira festa em São Paulo, direcionada exclusivamente para a Cultura Hip-Hop, para B-Boys e B-Girls mesmo, onde só se tocou músicas para se dançar Breaking, na Sede do Acadêmico.
BW: Quem foi o fundador do grupo? Como era ser B-Boy naqueles dias? Quais eram os grandes desafios?
Jabaquara Breakers: Tivemos como fundador o Paulo (Baleia), Moisés (Guetho), o Rogério (Tripa), Vandervam (Nego), Reginaldo (Neno) e o famoso DJ Maguila (R.I.P.), com o nome de “Flash Break”, porém, no começo dos anos 90 sentimos a necessidade de trocar o nome por um nome nacional, por ter muitos B-Boys vindos de outros estados e regiões e, nesta transição, tivemos como referência para decidir o nome o “Quilombo do Jabaquara”, que existiu no “Sítio da Ressaca”, já que estávamos estudando muito para realizarmos nossas palestras nas escolas, casa de cultura, éramos os únicos na época a fazer este trabalho e somaram aos nomes já mencionados o do Júlio (PEX) e do Eduardo (DJ Edu), para se tornar a Jabaquara Breakers conhecida hoje. No começo, nem sabíamos o que era B-Boy, éramos mesmo conhecidos como os meninos que dançam Breaking ou dançam Robozinho, esta evolução e conhecimento veio anos depois e o nossos grandes desafios eram mesmo dançar e ser melhores no que fazíamos.
BW: Como se aprendia a dançar Breaking na época de vocês? Vocês recebiam influências do que acontecia fora do país? Como as informações chegavam?
Jabaquara Breakers: Como já disse anteriormente, não tínhamos nenhum conhecimento, a não ser o que víamos na TV ou vídeos, principalmente alguns que meu patrão naquela época trazia dos EUA para mim, então, pegávamos o vídeo-cassete, instalávamos na garagem da minha casa e apertávamos o play (risos), mas nunca dava para pegar na primeira vez, então, voltávamos a fita por diversas vezes, até pegar o passo pretendido. Era bem difícil, não havia internet, as informações eram de B-Boy para B-Boy mesmo e acabávamos machucando muito por treinar, às vezes, do jeito errado. As Crews residentes da São Bento, Back Spin, Street Warriors, Crazy Crew e Nação Zulu, tinham mais informações e, por isso, eram bem respeitados, mas estavam no estúdio gravando o LP “Cultura de Rua” onde tivemos, juntos com a Fantastic Force, de se envolver mais na Estação São Bento e, por sinal, um dos discos mais importantes direcionados ao Hip-Hop no Brasil.
A Crew, que já chegou a ter 70 componentes, além do Breaking desenvolve vários projetos sociais
BW: Havia muita rivalidade entre as Crews brasileiras? Jabaquara Breakers, Street Warrios, Back Spin e muitas outras. Como era essa relação entre as Crews? Existia aquela Crew que era a grande rival de vocês?
Jabaquara Breakers: Sim, existia muita rivalidade, sim, todas queriam sair vencedoras de suas batalhas e a Jabaquara Breakers não era diferente, porém, havia muito respeito também e desde que começamos a fazer nossos trabalhos de palestras, éramos visto com outros olhos e muitas das Crews vieram a nos ver como referência nacional e acho que não tinha uma Crew em especial como rival, mas sim, tivemos momentos únicos. Acho que um racha com a Red Crazy Crew de Santos, que até nas lentas não paramos de dançar e outra foi no Palmeiras, com um público de 10 mil pessoas, onde chegamos todos de agasalho e fomos invadindo a roda e batalhamos com todos ali presentes, terminando o racha em cima do palco, foi épico! (Ficou parecendo o grande racha do filme “Beat Street”). E, também, não posso deixar de dizer sobre o famoso Club House, em Santo André, pois ali sempre que possível, nas horas vagas, estávamos lá, pois sabíamos que além das músicas boas ali tocadas, teria algum “Break” para racharmos, lembrando que nestas épocas diferenciamos os B-Boys, hoje popularmente ditos como dançarinos de Breaking aéreo ou Breaking de chão.
BW: Onde aconteciam as batalhas de Breaking? E o que se mostrava nas rodas? Que movimentos eram mais comuns naquela época e mostravam conhecimento e habilidade de um B-Boy?
Jabaquara Breakers: Naquela época tudo era diferente, as Crews eram algo que, se mexesse com um integrante, era como mexer com enxame de abelhas: todos iam para cima! E a Jabaquara Breakers tinha fome e sede de racha, pra nós não tinha lugar, qualquer lugar era lugar (risos) e por ser diferente dos dias de hoje, começando pelos abrigos, tínhamos no grupo especialistas em cada movimento, era desta forma as batalhas, então, a gente já se conhecia e sabia os movimentos de cada um, então os rachas acabavam, tipo, quem fazia mais voltas nos movimentos, tipo, nas tartarugas, moinhos de vento e giros de cabeça, bem diferente dos Power Move dos dias de hoje, eram poucos dançarinos que faziam todos os movimentos com perfeição.
BW: Nos fale da formação do Jabaquara Breakers. São os mesmo B-Boys desde a década de 80? Ou já tiveram várias gerações? Fale também das ações sociais que já tiveram envolvidos?
Jabaquara Breakers: Não tem como falar da formação da Jabaquara Breakers, pois já chegamos a ter com palestrantes, grafiteiros, MC’s, DJ’s, B-Boys e B-Girls mais de 70 integrantes e, costumamos dizer, uma vez Jabaquara sempre será um Jabaquara, uma família verdadeiramente, passaram diversas pessoas, onde cada um foi seguindo seus caminhos, mas somos orgulhosos de saber que passaram aqui no grupo grafiteiros como Kobra, o Cyracks, ator como Da Antiga, que fez o filme “Profissão MC”, entre muitos outros e temos até hoje contatos e respeito um pelo outro e sempre nos ajudando. Agora, falar de obras sociais, isto é impossível, pois fazemos até hoje, basta saber de uma necessidade de alguém que já estamos lá para ajudar de alguma forma, temos integrantes que frequentam a Cracolândia, mesmo nos dias de hoje, com pandemia e tudo; nos anos 90, fizemos tanto show de graça, por simplesmente sabermos que era para um orfanato ou um asilo, era e é o nosso prazer fazer o social, está em nosso sangue, na nossa alma.
O grafiteiro Eduardo “Kobra” (ao centro, de chapéu) é membro da Crew e tem sua arte reconhecida mundialmente
BW: No Jabaquara Breakers tinham também B-Girls?
Jabaquara Breakers: Sempre tivemos B-Girls no grupo e ainda as tínhamos como grande representantes das mulheres, dávamos toda força, física e moral para elas. Fomos os únicos a se apresentar no Festival da São Bento com uma Crew só de mulheres, as Jabaquara Breakers Girls e isso incentivou várias meninas a dançarem, também formamos outros grupos de garotas em outras regiões. Saíram até na revista Carícia e várias reportagens de jornais e, até hoje, são chamadas para falarem destas proezas e como é ser mulher no mundo do Hip-Hop.
BW: Quem são hoje os Jabaquara Breakers? Qual a atual formação?
Jabaquara Breakers: A Jabaquara Breakers hoje praticamente são as mesmas pessoas, porém, cada um leva sua vida normalmente, temos muitos espalhados por todo o Brasil e pelo mundo, como disse anteriormente, temos B-Boys do Ceará, Minas, Goiânia, por isso fica meio difícil de unirmos todos como antigamente, porém, cada um representante, faz o que pode e da maneira que pode, principalmente pelo social, numa palavra de conforto ou numa cesta básica, por exemplo. Somos uma família unida e pronta para ajudar.
BW: De 1983 aos dias de hoje, muita coisa mudou no Breaking? Quais as mudanças que vocês reconhecem como positivas e quais acham que foram negativas?
Jabaquara Breakers: Na vida, tudo muda… quando você nasce, não sabe andar, não sabe falar, etc., e, aos poucos, você começa a dar as primeiras engatinhadas, as primeiras passadas e o Breaking é a mesma coisa, no começo apenas dançava Breaking, depois, descobrimos que era uma dança que fazia parte da Cultura Hip-Hop, tivemos que estudar e muito para saber e ter o conhecimento do que era esta cultura, porém, não tínhamos meios para isso, informações eram precárias, batalhamos muito para obter tal conhecimento, não tinha internet, não tínhamos dinheiro, dançávamos na rua para arrecadar alguns trocados para comprar pilhas para o Box e filmes, para tirar algumas fotos, tanto que nem isso era tão importante para nós naquela época, pois mal tínhamos condições de ter uma câmera fotográfica e, quando tínhamos, teria que arrecadar mais dinheiro para revelar o filme. Os dias de hoje são outras realidades, temos internet, celulares que fazem vídeos e fotos, muito melhores do que no passado e, se não ficar boa, tira de novo, não custa nada… não vou enumerar as mudanças, mas acredito eu que a maior mudança eram as dificuldades que tínhamos em conseguir as coisas, de ter conhecimento e, hoje, é tudo mais simples, mais prático, está tudo aí pronto, vimos sim evolução na dança, nas técnicas, etc., mas, no geral, a dificuldade de antes era conseguir conhecimento. E as negativas, acho que é está facilidade de conseguir as fotos, informações disso ou daquilo, tudo se acha na internet, lembro que para eu aprender a fazer o moinho de vento, um B-Boy na época me disse, mostrando seus ferimentos no ombro e lombar: “quando você estiver com estes hematomas, você volta aqui para falar comigo!”. Olha só a situação e hoje basta digitar, não precisa nem ser no computador, no celular mesmo, em qualquer lugar e perguntar como fazer o moinho de vento. Pronto! Vai estar lá toda informação técnica, com câmera lenta e posições. Fácil não? E isso deixa muitos B-Boys preguiçosos em procurar e ter maior conhecimento de como surgiu isso ou aquilo.
Jabaquara Breakers participaram de muitos eventos Brasil afora no auge da “febre do Break” dos anos 80/90
BW: Vocês também frequentavam a São Bento? O que significa aquele local para vocês?
Jabaquara Breakers: Sim, não só frequentamos como também por algum tempo fomos responsáveis por ela, com uma autorização por escrito da diretoria do Metrô, pois sempre fomos recebidos ali como invasores e, por muitas vezes, fomos expulsos do local, os B-Boys não eram bem vindos ali. Ajudamos na realização do Festival São Bento, juntamente com as outras Crews. A São Bento é como o quintal de minha casa, a São Bento não era naqueles tempos um mar de rosas, como é nos dias de hoje, por ali vimos acontecer muitas coisas e evitamos muitas coisas também, tiveram muitas discussões, muitas brigas e até separação, onde veio a nascer a Praça Roosevelt, que foi frequentada pela Jabaquara Breakers também, mas a São Bento é um local sagrado, pois todos queriam conhecer e pisar naquele lugar, seja do Brasil ou do exterior, ali era e é mágico, é contagiante, pois ali trocávamos ideias, conhecimento, informações, mas tinha um detalhe: somente era trocado se alguém tivesse algo a nos oferecer também, senão ficava guardado à sete chaves, éramos infantis e egoístas (risos), isso acontecia com todo mundo, ninguém dava sem receber algo em troca. Mas, com o tempo, isso foi mudando e as nossas mentes foram se abrindo, transformando, e começamos a entender que teríamos que dividir e passar conhecimento, pois isso era a Cultura Hip-Hop que todos ali estavam envolvidos, por diversas vezes ficamos ali, até altas horas da noite, trocando ideias, era algo que só quem viveu sabe do que eu estou falando. A São Bento foi um grande aprendizado nas nossas vidas, como pessoas mesmo, pois íamos bem pequenos se divertir como uma criança vai a um parque infantil e, ao passar dos anos, descobrimos que ali era uma escola, uma faculdade de conhecimento e vendo hoje, olhando para trás, descobrimos que somos todos ali uma grande família e a São Bento os nossos pais.
BW: Como vocês veem o Breaking de hoje em dia? Os grandes eventos? Os movimentos que são feitos hoje, tanto por B-Boys como por B-Girls espalhados pelo mundo? O que acham da nova geração, que cada dia chega mais cedo nas rodas?
Jabaquara Breakers: Nossa, hoje tem movimentos que nem no sonho achávamos que era possível realizar, mas é a evolução, é a modernidade, existe no mercado inúmeros eventos, alguns feitos por pessoas aproveitadoras e outros não, porém, devemos nos lembrar de onde veio o Breaking, qual foi sua origem e no que ele faz parte. Nós viemos do começo, somos um “Old School”, as nossas origens sempre prevalece, sempre dançamos por respeito de gostar e amar a Cultura Hip-Hop e hoje muitos nem conhecem a Cultura Hip-Hop, dançam por três, quatro, cinco anos apenas para ganhar dinheiro e não por amor! É importante, sim, começar a dançar cedo, sua evolução acontece mais cedo, é como uma criança recém-nascida que antigamente levava uma semana ou duas para abrir os olhos, hoje eles já nascem de olhos abertos, quase falando e o Breaking também é assim, já começam cedo a despertar para a dança e sobre as B-Girls sempre fomos a favor delas dançarem, elas são capazes de fazer os mesmos movimentos dos homens.
BW: Em 2019, o Comitê Olímpico internacional recomendou a inclusão do Breaking nas Olimpíadas de Paris em 2024. Então, começou uma discussão sobre o assunto por aqueles que são contra, alegando que poderia perder a essência da cultura e por outros, na maioria mais jovens, que veem como algo positivo, sendo mais uma grande oportunidade de mostrar a cultura das ruas para a sociedade e mudar conceitos errados. O que vocês pensam sobre isso?
Jabaquara Breakers: A modernidade existe e está aí, tudo evolui, os verdadeiros B-Boys da Old School sempre vão levar na sua mente de onde veio e porque existem as batalhas, lembrando que veio dos guetos dos EUA, das rivalidades das gangues, já os mais jovens não estão interessados em ter este conhecimento e vão olhar mais para o lado financeiro, esportivo e de fama, pouco provável que irão se lembrar que o Breaking faz parte de uma cultura linda chamada Hip-Hop. Não generalizando.
A Crew participou de várias matérias em veículos impressos e redes de televisão
BW: O Breaking continua salvando vidas? O que o Breaking significa na vida de vocês?
Jabaquara Breakers: Sim, com certeza, não só o Breaking, mas a Cultura Hip-Hop salva vidas ou, pelo menos, muda! Tenho vários exemplos sobre isso, tanto que minha vida foi mudada, que estou hoje eu B-Boy Tripa aqui, participando desta entrevista… Olha meu amigo, irmão Kobra, começou na Jabaquara Breakers e hoje é conhecido mundialmente, olha Os Gêmeos, Racionais MC’s, Doctor’s MC’s, poderia citar vários nomes, vários B-Boys que dançam pelo mundo representando o Brasil, como Pelezinho, Katatau, entre muitos outros, a sua filha que é uma B-Girl nos representando também, o que seria dela se não fosse uma B-Girl? O espaço está aí, basta ter inteligência e vontade de vencer que algo você poderá produzir na Cultura Hip-Hop, seja grafitando, seja rimando, seja escrevendo, seja dançando, fotografando, discotecando ou produzindo…
BW: Como vocês imaginam que será o futuro da Cultura Hip-Hop e de seus elementos?
Jabaquara Breakers: O que imaginamos é que um dia a Cultura Hip-Hop seja vista como uma cultura que veio para mudar a vida de muita gente, pois nos dias atuais muita gente não acredita na beleza desta cultura, porém, sabemos que ela é responsável por muitos não estarem nas ruas, roubando ou algo parecido, ela abriu as portas de muitos empregos, hoje dentro da cultura temos pessoas que trabalham com roupas, com vídeo e fotografia, são escritores, artistas plásticos, produtores musicais, grafiteiros, rappers, MC’s, B-Boys e B-Girls! Ufa! É tanta coisa! Onde estaria todo este pessoal empregado? O que fariam de suas vidas?
BW: Todos do Jabaquara Breakers ainda dançam? Vocês pensam em parar?
Jabaquara Breakers: Na verdade, hoje não dançamos mais, a grande maioria está acima dos 50 anos (risos), o que fazemos é se divertir com o que conseguimos fazer nos dias de hoje e não pretendemos parar, pois sempre estamos aprendendo algo e também passando nossos conhecimentos com nossa vivência.
BW: Cite, por favor, 10 nomes que na opinião de vocês fizeram toda a diferença na história do Breaking brasileiro?
Jabaquara Breakers: Nossa! Aí fica complicado, pois podemos deixar alguém de importância fora e não queremos ser injustos, podemos dizer que tiveram vários B-Boys em anos e em momentos e tempos diferentes, de muita importância e por todo o Brasil.
BW: Que mensagem vocês deixariam para a nova geração de B-Boys e de B-Girls?
JB: Estudem e lutem pelos seus ideais e seus objetivos e seus sonhos serão realizados. Não posso deixar de mencionar que nos anos 90 ganhamos todos os prêmios possíveis, tivemos o privilégio de dançar em quase todas as redes de televisão, termos conhecido a Rock Stead Crew, que foi nossa grande inspiração e sermos inspiração para muitos, tivemos umas das nossas letras de música publicadas no primeiro livro do gênero “ABC RAP”, fomos os primeiros grupos de rua a participar do ENDA, temos o orgulho de termos sido reconhecidos como a verdadeira escola do Hip-Hop.
Fotos: Arquivo Pessoal
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