Breaking: Dança ou Esporte?

Breaking: Dança ou Esporte?

Diante do anúncio da inserção do Breaking nos Jogos Olímpicos de Paris, a serem realizados em 2024, muitas pessoas têm se questionado: afinal, o Breaking é dança ou esporte?

 

 

B-Girl Matina (RUS)
Imagem: © Breaking for Gold

 


Como diz Arthur Schopenhauer: “Todo homem toma os limites de seu próprio campo de visão como os limites do mundo”. Em outras palavras, nos limitamos muito com aquilo que conhecemos, aprendemos e vivenciamos ao longo da vida. Como o Breaking nunca foi reconhecido como um esporte antes, para alguns, isso é imutável.

Mas, vamos lá, partimos do ponto inicial, o que é cultura e o que é esporte?

No dicionário, cultura é traduzida como um conjunto de conhecimentos, costumes, crenças, padrões de comportamento, adquiridos e transmitidos socialmente, que caracterizam um grupo social. Já o esporte, é definido como qualquer prática metódica, individual ou coletiva, de jogo ou qualquer atividade que demande exercício físico e destreza, com fins de recreação, manutenção do condicionamento corporal e da saúde e/ou competição.

Ok, nada melhor do que consultar o pai dos burros, e confirmar que o Breaking tem todas essas características, assim como outras danças esportivas existentes, que já participam há anos do The World Games (Jogos Mundiais), como a Valsa, Tango, Cha Cha Cha, Samba Internacional, entre outros.

 

 

MIT Ballroom Dance Competition
Imagem: © Nathaniel C. Sheetz

 


O Breaking é dança e sempre será dança, pois, a definição de dança é um conjunto de movimentos corporais ritmados acompanhados de música. Torná-la uma modalidade esportiva não muda sua característica, ela continua sendo dança e parte da Cultura Hip-Hop.

Se analisarmos do ponto de vista técnico, o Breaking sempre foi esporte, pois uma das principais características é a competitividade, seja ela premiada ou não, pois faz parte da essência do Breaking “rachar” e os “rachas” nada mais são do que competições, elas só não têm júri com formação de arbitragem, podium e medalhas.

A grosso modo, quando competimos é esporte. Quando ela é apresentada sem finalidade competitiva, ela é dança/cultura, não tem nada a ver com dançar sem música ou fazer movimentos acrobáticos. Aliás, é bom falar sobre isso também, pois mesmo antes de virar modalidade esportiva, muitos têm preferência por treinar e desenvolver movimentos mais acrobáticos, mas isso não os fazem menos B-Boys/B-Girls do que os demais. Cultura é isso, é o respeito com o próximo, é entender que cada um tem uma história diferente, conheceu o Breaking de forma diferente e optou por estilos que mais se identificam dentro daquilo que conhecem. Não tem certo ou errado, tem a visão, a vivência e escolha de cada um.

 




 

Breaking é dança, cultura e esporte. Agora, participará de um tal de Jogos Olímpicos, mas isso não muda nada do que foi construído até hoje, o trabalho social para empoderamento de crianças e jovens que cresce ano após ano em cada canto do planeta e transforma vidas; as lutas pelas igualdades raciais, sociais e de gênero; o portal de acesso à cultura e às artes para os menos favorecidos; os eventos na quebrada; a grande família e comunidade Hip-Hop em todo o mundo, onde você pode chegar em qualquer lugar e ser recebido por quem nunca viu na vida, mas que te acolhe porque você é do Hip-Hop; porque tem em comum uma cultura que não vê cor, religião, classe social ou qualquer diferença, mas que aproxima pessoas e as une em torno de algo maior.

Quem quiser ganhar medalhas, participar do ranking e eventualmente competir nas Olimpíadas, terá que se filiar à órgãos específicos para a finalidade e participar dos campeonatos credenciados, caso contrário, você pode continuar dançando aonde quiser, competindo em batalhas não relacionadas ao Breaking nas Olimpíadas. Seus treinos, suas habilidades, seu campo de trabalho e sua história não irão mudar, assim como não mudou nas danças que se tornaram modalidade esportiva e nem nos esportes que tem uma cultura por trás de suas histórias.

A título informativo, para reflexão, o Brasil é um dos países mais ineficientes na aplicação de recursos destinados ao esporte. Esse levantamento foi realizado pelo consórcio SPLISS (Sports Policy Leading to International Sporting Success), um modelo de avaliação para mensurar o sucesso na gestão esportiva, em especial, a de alto rendimento, criado por pesquisadores em 2006 e utilizado em todo o mundo.

 




 

Foram definidos nove pilares para avaliação, e, no último levantamento, o Brasil só alcançou resultados relevantes no suporte financeiro, mostrando a necessidade e importância de uma gestão esportiva eficiente no Brasil.

O que isso tem a ver? Para aqueles que acreditam que o Breaking como modalidade esportiva deixará os dançarinos milionários e garantirá o futuro de todos, se engana. No pilar 5 – suporte para carreira e aposentadoria de atletas, temos um dos piores resultados, além do pilar 6 – instalações esportivas, que não chega a 15% do ideal.

Em resumo, não vai ser o esporte que vai mudar o Breaking, mas o Breaking sim pode mudar o esporte com a capacidade de alcance, experiência em gestão sustentável e criação de políticas públicas.

Sabe a Rayssa Leal? Aquela skatista de 13 anos que ganhou a medalha de prata nas Olimpíadas de Tóquio? Pois é, ela teve sua vida transformada graças ao esporte e alimentou o sonho de milhares de crianças e jovens em todo o mundo. O Breaking pode fazer o mesmo na vida de muitas pessoas, dar uma direção, um caminho, trazer oportunidades e mudar vidas. Porque não apoiar? Mas, pesquise muito antes de prestar apoio a qualquer organização que aparecer na sua frente. Infelizmente, há organizações oportunistas, que nem sequer têm vivência no Breaking e querem nos representar. Outras ainda que estão criando comissões de atletas e fazendo convites diretos prometendo vagas nas Olimpíadas, sendo que nada disso é válido. E alguns piores, que prometem a atletas e empresas uma visibilidade de marca que não podem garantir. Enfim, pesquisem, não apenas a idoneidade dessas organizações, mas quem está por trás delas, seus históricos como produtores, agentes, empresários e artistas. Investiguem e tenham certeza de entregar o seu nome, sua carreira e sua reputação para não cair nas mãos daqueles que nunca fizeram nada por ninguém, porque fariam agora? Questionem, afinal, você, eu, e todos que vivem o Breaking somos importantes e responsáveis pelo nosso futuro.

Estamos de olho!

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