As batalhas virtuais do campeonato da Red Bull BC One acontecem, neste sábado (26), com transmissão ao vivo, o brasileiro B-Boy Bart que recentemente conversou com o Portal Breaking World disputará contra outros 7 B-Boys de diferentes locais do planeta em busca de uma vaga para a final mundial do evento, que acontece na Polônia, em novembro.
Quem quiser conhecer mais sobre a dinâmica do torneio e como funcionam as competições 1×1 de breaking, vale acompanhar todas as emoções ao vivo, a partir das 13h (horário de Brasília), por meio da Red Bull TV e dos canais oficiais do evento no Facebook e YouTube.
E ainda:
Follow the Steps:Que tal uma viagem ao redor do mundo com uma das equipes de Breaking mais famosas de todos os tempos? Quatro vezes campeões mundiais da modalidade, os Flying Steps protagonizam esta série de seis episódios, em que a crew europeia mostra todas as suas habilidades e seu estilo único, deixando sua marca em locais como Estados Unidos, Áustria e até em alto mar, a bordo de um cruzeiro.
Dance Como: Fortemente ligada às raízes brasileiras, a série de quatro episódios vai além do Breaking e acompanha as trajetórias de dançarinos periféricos que superaram desafios e tornaram-se referência em seus estilos. A produção conta com a participação de grandes nomes nacionais da cena de cultura urbana.
ABC… do Red Bull BC One:Décimo episódio da série “ABC do…”, a produção de 25 minutos acompanha toda a trajetória do maior campeonato de Breaking 1×1 do mundo, desde sua fundação até todas as lendas que passaram pelo evento em seus 17 anos de história. O episódio ainda funciona como uma espécie de aula, já que apresenta todos os diferentes elementos e movimentos que compõem uma dança de Breaking.
Foto: ® Dean Tream Red Bull
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Planejamento, disciplina, foco e estratégia são fundamentais na vida de quem deseja ser um campeão, garante B-Boy Bart
Ele nasceu no Ceará, quando criança teve contato com muitos movimentos por meio do Kung Fu e da Capoeira. Aprendeu também a ter disciplina e flexibilidade desde cedo. Mas foram os pulos feitos na areia improvisada que pedia aos vizinhos que o fizeram se aproximar do Breaking.
Mateus Melo (22), conhecido como B-Boy Bart, hoje é um dos nomes mais cogitados para representar o Breaking brasileiro nas Olimpíadas de Paris, em 2024.
Ele compara a dança a um grande jogo de xadrez e afirma que, além de ter um corpo preparado, é necessário ter estratégias, planejar ações para se chegar no objetivo que se deseja.
O Portal Breaking World teve o prazer de conversar com ele na primeira semana do ano de 2021. E olha, aperte os cintos pois esse B-Boy não dança, ele voa! Fique por dentro do que rolou nessa conversa:
BW: Queria que você falasse um pouco da sua infância, onde e como foi? Como era o Mateus criança?
B-Boy Bart: Eu sempre me movimentei muito quando criança! Tive muito contato com os movimentos. Fui muito influenciado pelo meu pai, que era do Kung Fu e também pela Capoeira. Dessa época, eu ganhei a disciplina e a flexibilidade. Conheci a Capoeira foi na curiosidade mesmo. Fiquei num grupo chamado Zumbi por menos de 1 ano. Aí eu entrei em outro grupo, porquê a minha vontade era pular e nesse outro grupo eu conheci pessoas que pulavam muito. Quando começava a passar cordas, essas coisas, eu saía pois não era o meu foco.
BW: Quando você teve o primeiro contato com a Cultura Hip-Hop? Como surgiu o Breaking na sua vida?
B-Boy Bart: Eu e alguns meninos da minha idade jogávamos sempre futebol e teve um dia, um iluminado que apareceu, um bêbado e ele disse que ia mostrar umas coisas que nós não sabíamos fazer e deu um mortal! Lógico que, como ele estava muito bêbado, caiu, mas depois daquilo nós falamos: “Nossa, é isso!”. Aí começamos pegar areia de um canto e de outro, de um vizinho aqui, de outro ali, para poder treinar mortal. Eu deveria ter uns 10 anos. Tudo isso aconteceu em Fortaleza. Passado algum tempo, eu me mudei. Meu pai ficou desempregado, nós vendemos a casa, fomos morar em outro bairro perto da Serrinha e lá, quando eu cheguei, eu não estudava, devido a problemas com papéis e tal… E, na verdade, eu também não queria naquela época. Então, eu e meus irmãos ficamos sem estudar um tempo. Meu irmão sempre existiu e esteve presente na minha vida! No mortal, na capoeira, em todos os momentos. E aí, chamei ele e disse que deveríamos ir atrás, naquele bairro, de algum lugar que tivesse Breaking, pois não poderíamos ficar parados. Então, descobrimos o “Programa Escola Aberta”, foi ali que tudo começou. Era como se abrisse a escola no final de semana, jovens e crianças podiam ter contato não só com o Breaking, mas com o Totó (Pebolim) e várias brincadeiras de criança. Eu ia pelo Breaking mesmo. Mas eu ia olhar. Eu sempre fui assim, de olhar primeiro, de observar, ver como é a movimentação, treino em casa e depois fazia fora. Mas foi após o meu filho nascer e eu me ver sem estrutura que realmente eu vi que aquilo era pra mim. Eu sempre tive disciplina, desde cedo e quando meu filho nasceu eu vi que precisava fazer alguma coisa, então, foquei no que eu mais gostava, que era dançar. E, em 2015, comecei a participar de muitos eventos, o primeiro evento foi o “Intime”, da Igreja Bola de Neve, “1vs1”, que dava vaga para um outro evento em Exu, em Pernambuco, com tudo pago. Eu ganhei e fui para lá. E isso foi muito marcante, a primeira vez que participei, ganhei e fui para uma outra cidade que ganhei também. Então, eu vi que era isso mesmo que eu deveria escolher na minha vida. Em 2015, eu saí ganhando todos os eventos. Eu tinha apenas 16 anos.
BW: Houve pessoas que foram referências para você na dança? Alguém te ensinou a dançar Breaking?
B-Boy Bart: Que me ensinou a dançar, não. Existiram aquelas pessoas que me davam um toque, falavam de um movimento… Agora, um treinador, não! Inspiração? Desde 2005, o Pelezinho foi um furacão que aconteceu.
BW: Como sua família via a sua relação com o Breaking? Você teve apoio da família?
B-Boy Bart: No começo, não tanto. Para eles, eram só pulos. Eles não tinham noção no que ia dar tudo isso. Só tiveram quando eu comecei a competir e ganhar! Mas, também, eles não falavam nada, mas para eles era perda de tempo.
BW: No tempo de aprendizado do Breaking houve dificuldades ou movimentos mais difíceis de aprender? Quais? Como foi a sua preparação para chegar onde chegou?
B-Boy Bart: Tiveram momentos que realmente foram mais chatos, principalmente nos freezes. Toda pessoa que dança Breaking tem um lado mais forte, no meu caso, foi fazer os movimentos nos dois lados. Para passar de um lado que era mais forte para o outro foi trabalhoso, porque até eu poderia ficar torto fazendo os movimentos só de um lado. Essa transição de aprender fazer as coisas para os dois lados foi muito chata, mas necessária. Tipo Chair, doía muito! Na hora do treino eu não sentia, mas depois doía muito! Mas eu precisava chegar no meu objetivo.
BW: Em outras danças é bem normal escutar os dançarinos falando de dor aqui e dor ali. Meio que faz parte da vida do dançarino… Como você vê isso?
B-Boy Bart: Sim, a dor caminha junto e faz parte da vida de quem dança. Sempre que um B-Boy ou uma B-Girl ganha um evento, você vai ver depois: parece que houve um esgotamento. Toda hora tem dor e tem que dançar sempre mais do que dança. É real! É necessário superar os limites para ser campeão! A dor significa muitas vezes que você está chegando perto dos seus objetivos!
BW: A maioria dos seus movimentos são de impacto, de poder. Como você prepara o seu corpo para isso?
B-Boy Bart: Eu treino normalmente com a galera do meu grupo e também treino com a galera de outros grupos. Mas penso que o que me diferencia é que eu já chego no treino treinado. E saio do treino ainda tem mais um pouquinho de treino. O Breaking é o meu estilo de vida. Eu acordo cedo, faço alongamento. Dia sim, outro não, eu corro. Eu sou vegetariano, comecei com vegano três anos atrás. Antes dos eventos, fazer a dieta vegana ajuda muito! A diferença no rendimento é muito rápida, esse tipo de comida traz leveza, mais explosão, define muito mais a musculatura. Mas de vez em quando podemos sair um pouco disso e comer coisas boas, merecemos isso (risos). Mas nunca antes de evento.
BW: Em 2018, você foi campeão brasileiro do Red Bull BC One, nos conte o que você sentiu naquele momento que saiu o resultado? Passou um filme na cabeça? Para você já era algo esperado?
B-Boy Bart: Esperado não era, mas eu tinha uma intuição que poderia acontecer e quando aconteceu, eu falei: “Caramba eu vou para Zurique!”, e pensei, “vamos ver o que é o Breaking do outro lado do mundo”. Naqueles dias, a Europa estava com muito Breaking! Para mim, batalhar com outras pessoas, até com a dança maior que a minha, me levou para um outro nível. Foi algo empolgante demais! Eu treinei com eles, eu comi com eles e o Leony estava lá comigo, me motivando, naquele evento ele foi Top 16. Então, ele falava: “Vamos lá, falta mais um!”. Ele é um cara muito amigo, humilde e ele fez eu me sentir mais seguro, porque eu estava em outro país, só tinha ele, então, ele me dava força. Tinha também Pelezinho e Neguin, mas não estavam perto, não tinha como ter uma conexão.
BW: Bart, você tem a experiência de ser dançarino da internacional Flying Steps. Como foi sua entrada na companhia? Fale um pouco do tempo junto com os outros dançarinos, dos ensaios, dos espetáculos antes da pandemia e o que você faz para atingir o seu melhor desempenho.
B-Boy Bart: Sim, eu trabalho com eles e com uma outra da Alemanha. Quando comecei, eu já cheguei chegando, tinha 45 shows para fazer. Nesse mundo, tem uma séria de coisas, tinha uma orquestra tocando ao vivo, tinha bonecos gigantescos, tivemos 1 mês e meio para criar tudo. Era de segunda a sábado, de 8h até 19h ensaiando. Nesse tempo, eu não falava muito inglês, mas depois de 1 semana, eu me virei e ainda eu morava com três deles, então, nós só pensávamos na dança, no espetáculo e no que íamos fazer. E isso me ensinou muito a ser regrado, a ter paciência com processos de montar movimentos. Eu consegui trazer isso também para o meu Breaking. Pra mim também! Eu estava treinando para batalhas futuras e estava mesclando tudo. A experiência foi muito boa! Foram 45 espetáculos e muito ensaio. Foi um grande aprendizado, único na minha vida, que guardo até hoje.
BW: Você falou que muita coisa você levou para o seu Breaking. Qual a importância de diversificar movimentos, de buscar algo novo e trazer coisas diferentes para as sessions?
B-Boy Bart: É muito importante você ter um arsenal gigantesco de movimentos. Porque você mostra confiança, atitude e personalidade na dança. Hoje já se olha a execução dos movimentos nos eventos. Com a possibilidade de você colocar tudo que traz na dança, você chega mais perto do ser original, mostrando variações.
BW: Em 2019, você participou do mundial da Red Bull em Mumbai, na Índia, junto com mais 2 brasileiros. No seu caso, você foi convidado pela organização a entrar diretamente na decisão, como um dos finalistas ‘wildcards’ do evento. Como foi sua participação? Nos fale sobre o resultado e suas impressões.
B-Boy Bart: Três semanas antes desse evento, eu tinha participado de um outro na Bélgica e eu já sabia que estaria no Top 16 da Red Bull em Mumbai, em 2019. E eu tinha que destruir na Bélgica para eu chegar em Mumbai. E foi o que aconteceu, eu cheguei na final na Bélgica e foi totalmente gratificante, muita gente assistiu e aquilo levantou o meu astral. E cheguei na Red Bull mais tranquilo, estava tudo muito fresco na minha cabeça, por mais que a pressão seja muito, mais muito grande mesmo… a pressão psicológica é muito alta, mas eu me senti bem. Cheguei lá, perdi para o Killa Kolya na semifinal, no ano de 2018 eu ganhei dele. Então, eu cheguei na semifinal achando que ia para a final, pois eu já tinha ganhado dele. Eu perdi, mas nós estamos ainda no 1 a 1 (risos). Ainda tem muita coisa pela frente na próxima para ganhar!
BW: E falando de tempo… Que tempo sobra para sua família? Você tem filho! Como administra tudo isso?
B-Boy Bart: É um mix de coisas! Nem todos os dias são iguais e fazemos o estilo brasileiro mesmo (risos). Eu tento estar com a minha família e ao mesmo tempo treinar. Meu filho tem 5 anos e é bem tranquilo. Deus mandou a criança perfeita para mim! (risos). Quando ele vê que cheguei de viagem, sempre vem “papai, trouxe alguma coisa para mim?”, ele já pratica alguma coisa de capoeira, mas no tempo dele…
BW: Bart, muitos B-Boys e B-Girls brasileiros não vivem da dança. Que conselhos você pode dar para quem pretende viver da dança?
B-Boy Bart: Planejamento. Planejamento é tudo! Saber o que você vai fazer, como você vai ganhar dinheiro e manter o foco. Tem que participar de eventos, afinal, eventos são vitrines. Você tem que batalhar. Planejar o seu ano tipo um ano antes. É algo fundamental!
BW: O que você tem feito em todo esse tempo de pandemia? Como tem treinado? Como acha que será o “novo normal” da vida de um B-Boy ou de uma B-Girl pós-pandemia?
B-Boy Bart: Eu tento fugir da depressão, tento me manter feliz. Estou no Brasil, em Fortaleza, morando com a minha noiva, continuo treinando dia após dia, colocando minha mente em outras coisas, como redes sociais, YouTube, navegando e estudando áudio visual, cuidando da minha casa e treinando mortal.
BW: Sim, falando sobre o mortal, é verdade que os gringos quando veem os brasileiros dançando, eles aguardam o mortal? Como uma marca nossa?
B-Boy Bart: Eu acho que é porquê temos muitos B-Boys capoeiristas. Isso é Brasil! Eles já esperam por causa disso, seja como Pelezinho, Neguin ou Bart. Eles sabem que com nós é mais embaixo (risos).
BW: Muito tem se falado de Breaking nas Olimpíadas. O que você acha sobre isso? Algumas pessoas criticam e falam da possibilidade de se perder a essência da cultura por ser, agora, também um esporte. Como você vê isso?
B-Boy Bart: Eu vejo como uma evolução, na verdade, não acho que seja positivo e nem negativo, é somente algo do mercado. Isso já vem acontecendo tem muito tempo. O R16, todos esses eventos que tem, são em ritmo de Olimpíada, de ranking. Existe o ranking de B-Boys tem muito tempo. A Olimpíada entrou para apimentar ainda mais a competição. Acho que nada vai mudar… Como no futebol existem pessoas que jogam pelada e existem pessoas que jogam nos mundiais. Então, acho que vai melhorar muita coisa!
BW: Como você imagina que será para um B-Boy ou uma B-Girl dançar numa Olimpíada? Como a nova geração deve se preparar para isso?
B-Boy Bart: Aqui nós somos ainda muito samba. Estamos ainda presos em algumas perguntas: tem isso? Tem aquilo? Tem incentivo? O pessoal lá fora está se preparando, enquanto aqui temos que ser competidor e também ensinar, talvez isso aconteça com a nova geração… Será que respondi essa pergunta?!?
BW: Bart, seu nome tem sido lembrado o tempo todo na imprensa e nas grandes mídias. Então, vou direto ao ponto: Você se sente preparado para representar o Brasil numa Olimpíada e trazer uma medalha para casa?
B-Boy Bart: Estou sim! (risos). Eu venho me preparando para isso. Vejo o Breaking como um jogo de xadrez, tem que usar a cabeça e muita estratégia. O momento conta muito! Mesmo que eu não tenha treinado no dia anterior, eu não fico mais do que uma semana sem treinar. Nas oportunidades, precisamos estar “okay” e eu estou preparado!
BW: Na sua opinião, temos mais brasileiros preparados para o pódio?
B-Boy Bart: Sim, temos! O Brasil é potente no Breaking, todo brasileiro tem uma chavezinha que mostra algo a mais.
BW: Quais são seus planos para o futuro?
B-Boy Bart: Praticar Breaking, participar de eventos, voltar a fazer shows na Europa e me manter preparado para as Olimpíadas! O meu foco agora é esse! Estou rezando para que tudo volte ao normal.
BW: Que mensagem você deixaria para os B-Boys, B-Girls do Brasil? E o que você diria para a nova geração do Breaking que o tem como uma grande referência?
B-Boy Bart: Nossa, que pergunta! Preciso pensar… Complicado inspirar as pessoas… Penso que o Breaking deva ser passado para a nova geração, quanto mais passado, mais vamos fortalecer o Brasil. Mas aconselho que tenham planejamento, que sejam persistentes e teimosos, sempre treinar além do que já existe e do que se vê: é isso!
Fotos: Arquivo Pessoal
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