B-Girl chinesa, de apenas 16 anos, vence a Outbreak Europa e The World Battle, mostrando que o futuro já chegou, é completo e tem pressa de subir no pódio
Em 2021, a Olimpíada de Tóquio consolidou a China como uma das maiores potências olímpicas do mundo. O país asiático era o que tinha conquistado mais medalhas de ouro nos Jogos e ocupava o topo do ranking à frente dos EUA, algo que no passado só foi visto em Pequim, em 2008, quando os chineses foram anfitriões.
Agora, em 2022, a China se destaca novamente, dessa vez no Breaking, nova modalidade olímpica de Paris 2024.
E o grande nome que faz todos os holofotes se voltarem para esse país asiático é de Liu Qingy (16) conhecida como B-Girl 671, que foi campeã no Outbreak Europe realizado na Eslováquia no mês de agosto, com a participação de mais de 30 países, representados por 600 dançarinos de Breaking. Ela chegou na final, mostrando um novo padrão para as B-Girls do mundo inteiro, com seus movimentos de Power Move e sua energia diferenciada. Nas finais, ela enfrentou a veterana holandesa B-Girl India e a venceu por dois a um.
Nessa última semana, 671 também participou da World Battle 2022, que foi na cidade de Porto, em Portugal, que é uma das maiores competições de Breaking da Europa e recebeu atletas de mais de 50 nacionalidades. No evento, ela se sagrou novamente campeã, indo na final contra a B-Girl Vanessa, de Portugal. O Portal Breaking World fez uma rápida entrevista com a B-Girl 671, que hoje apresentamos com exclusividade para vocês:
BW: Qual é o seu nome de nascimento? De onde veio o nome B-Girl 671? Esse número tem um significado especial para você?
671: Meu nome verdadeiro é Liu Qingyi. Tenho 16 anos. Eu sou da China. 671 é o meu nome em chinês. Esse nome foi dado por mim, sim.
BW: Sua família sempre te apoiou na dança? Como é ser uma B-Girl na China?
671: Eles sempre me apoiam. E em nosso país, o Breaking é uma coisa muito popular. Comecei a dançar em 2015.
BW: Quando você teve contato com a Cultura Hip-Hop pela primeira vez? Com que idade você começou a aprender os primeiros movimentos? Alguém te ensinou?
671: Lembro que 7 anos atrás, eu vi na rua. Aí eu perguntei para alguém, eles me disseram que era Breaking. Eu gostei muito, então decidi estudar. Encontrei um estúdio de dança de rua. Então comecei a dançar.
BW: No Breaking, você teve pessoas que foram referência para você?
671: Sim, B-Boy Flea Rock, B-Boy Zoopreme
BW: Você venceu recentemente a categoria B-Girls no Outbreak e agora no The World Battle. Conte-nos sobre sua participação nesses dois eventos e como você se sentiu ao conseguir o 1º lugar em ambos?
671: Consegui ser campeã nesses dois eventos, estou muito feliz. São competições muito grandes e internacionais. Ambos foram os melhores resultados que já tive. Então, foi incrível.
BW: Você já esteve no Brasil? Gostaria de deixar alguma mensagem para os brasileiros?
671: Eu não estive no Brasil. Mas quem sabe um dia irei. Gostaria de agradecer o apoio do Portal Breaking World e a atenção. Obrigada pela oportunidade dessa entrevista.
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“Eu trombava com eles, alguns apontavam o dedo na minha cara pra rachar, isso só me fortaleceu, me deu mais ânimo de treinar a cada dia, e lutei para ser a melhor mulher a dançar o Power Move no Brasil naquela época!” (B-Girl Beth)
Década de 90, o dance dava lugar a música eletrônica, mas tinham aqueles que mergulharam na música Black, foi o caso de Elisabeth Prado, mulher preta, nascida em Osasco, filha de pais separados, por algum tempo foi criada por um tio no Rio de Janeiro, mas logo voltou para São Paulo com a mãe, onde cresceu e se tornou a conhecida B-Girl Beth Power Move. Ela pensava: “Se aquele cara consegue fazer determinados movimentos, porquê não vou conseguir?”. Ela conta que foi essa forma de ver as coisas, mantendo a cabeça sempre aberta, que facilitou o aprendizado dos mais difíceis movimentos do Power Move, o que a tornou muito conhecida. Engravidou, perdeu um filho, engravidou novamente, sofreu discriminação dentro da própria cultura, mas não ligou, seguiu em frente… O Portal Breaking World teve a honra de conversar com essa diva brasileira do Power Move, que teve muita história para contar e conselhos para dar… Gostou da introdução? Então confira a entrevista:
BW: Queria que você falasse seu nome completo, idade e nos contasse um pouco sobre suas origens, sua infância e juventude?
B-Girl Beth: Meu nome é Elisabeth Prado, tenho 42 anos. Nasci em Osasco. Mas desde os 3 anos de idade fui criada no Rio de Janeiro pelo meu tio, depois que minha mãe se separou do meu pai. Ela precisou trabalhar e para isso meu tio cuidou de mim até os 7 anos e meio, depois disso, minha mãe foi me buscar e me trouxe para São Paulo, desde então fui levando minha infância… Na minha época, as crianças brincavam na rua sem problemas, eu brinquei de muitas coisas na época… pipa, pião, bolinha de gude, taco, corda, amarelinha, elástico, pedrinha, dominó, entre outros… Logo fui crescendo e comecei a gostar de vôlei… Neste período, eu gostava muito de fazer Educação Física na escola, eu pedia para a professora deixar eu fazer todas as aulas só para jogar e ela deixava! Os anos foram passando e quando a professora foi trocada na escola a outra que entrou começou a formar um time de vôlei para participar de campeonatos… Logo eu consegui uma posição no time e participei 2 anos da Copa Danapi, era um campeonato entre colégios de todos os lugares de São Paulo e a abertura dos jogos aconteciam no Ginásio do Ibirapuera. Não recordo muito o ano, mas já era no início da minha adolescência… Comecei também a ir paras baladas, aos 14 anos, nessa época fui apresentada para as músicas de Dance, quando o baile inteiro dançava o mesmo passinho, era muito legal.
BW: Quando teve contato pela primeira vez com a Cultura Hip-Hop? O que te atraiu nessa Cultura? Você tinha apoio da sua família?
B-Girl Beth: Naquela época, o Dance mudou para música eletrônica e eu fui deixando de gostar e comecei a ouvir música Black e acabei gostando muito! Fui levada para o Projeto Radial e desde então lá virou minha segunda casa, sempre que eu ia lá tinha uns caras dançando Breaking e eu nem sabia que dança era aquela… Mas eu via eles fazendo uns movimentos no chão e eu lembro que comentava com uma amiga que tinha gente limpando o chão do baile (risos) até que pela primeira vez vi uma mulher fazendo moinho de vento e achei muito interessante ela dançando, isso foi no ano de 1996.
BW: E o Breaking? Quando e como começou na sua vida? Existiram pessoas que te ensinaram os movimentos ou você aprendeu sozinha?
B-Girl Beth: Foi a partir daí que veio o interesse pela Cultura Hip-Hop. Passei uns meses treinando, conhecia pessoas que me ensinaram, até que houve um período da minha vida que minha mãe me proibiu de dançar por causa de um namorado que eu tive na época. Ele disse a minha mãe que só tinha eu no meio dos homens e que me proibisse, ele era muito ciumento, não gostava quando eu saia pra treinar, foi quando conheci uma B-Girl e a levei em casa pra apresentar a minha mãe, depois disso minha mãe não ligou para isso… Porém, tive muita dificuldade de locomoção para ir aos lugares pois eu não trabalhava na época, minha vida era escola e treino… Escola e treino… O Breaking? Ele começou a partir do momento em que vi a primeira mulher fazer movimentos de moinho de vento… Depois, fui correndo atrás de lugares que as pessoas dançavam, essa dança na qual me identifiquei, quando ouvi falar da Estação de Metrô São Bento e que os encontros aconteciam aos sábados, aquele canteiro de flores que tem lá era um palquinho e tinha pessoas de vários lugares de São Paulo e do interior também… Conheci as primeiras pessoas e eles me ensinavam os movimentos e quanto mais me aprofundava mais eu gostava, cada vez o corpo exigia mais, fui seguindo o caminho. Uma noite na balada uma dançarina mulher (era assim que eu a identificava na época não sabia que o nome era B-Girl – risos), apontou o dedo na minha cara e jogou uns movimentos e na época eu estava começando e fiquei sem reação e outra pessoa entrou por mim… No dia seguinte, eu fui treinar pensando nela dia e noite e decidi que ia correr atrás. O tempo foi passando, comecei a ir para vários lugares onde aprendia a dançar, mas eu ia para um lugar treinar com uma galera e depois ia para outro com outras pessoas e alguns achavam que eu era uma espiã e levava e trazia os movimentos de um para o outro (risos). E nunca nem me veio isso na cabeça, eu nem tinha maturidade de fazer isso e passei por algumas rejeições, só porque eu queria dançar, mas quem via de fora não via isso…
BW: Como era ser B-Girl no seu tempo? E uma B-Girl que fazia movimentos de Power Move?
B-Girl Beth: A cada lugar que eu ia e via os caras dançando mais, eu pensava comigo, se aquele cara consegue fazer aquilo porquê comigo seria diferente? Então! Sempre tive uma cabeça aberta, isso facilitou que aprendesse com facilidade… No final, não teve revanche entre eu e a B-Girl pois ficamos amigas (risos)… Continuei a dançar, tive muito altos e baixos dentro da Cultura, com B-Boys muito bons no Power Move, quando eu estava nos bailes e eu trombava com eles era uma tirada apontando o dedo na minha cara pra rachar, isso só me fortaleceu, me deu mais ânimo de treinar a cada dia, de ser a melhor mulher a dançar o Power Move! Depois conheci outros estilos que têm dentro da Cultura como Aéreo, o famoso Robozinho, era assim que eu achava na época, Freestyle, Locking, Popping… E eu, vários B-Boys como os famosos pés-de-barro que faziam Power Move, diziam que eu tinha um talento desperdiçado e eu comecei a entender melhor, agora eu no mundo dos Powers Moves, independente dos contratempos, eu era respeitada, rachei na balada com alguns nomes e assim fui ficando conhecida cada vez mais… Dançar Power Move nunca foi fácil e na minha época também existia preconceito com quem era Power Move, tanto que se parar para pensar até hoje isso acontece, mesmo eu não estando mais na Cultura, apareceram várias B-Girls que foram feitos matérias, entrevistas com elas e eu nunca tive essa oportunidade de terem interesse de fazer algo do gênero comigo… Entre tudo isso que aconteceu isso nunca me abalou, só deixou eu cada vez mais forte dentro de mim…
BW: Fale desse preconceito… Acontecia dentro da Cultura ou também existia na sociedade?
B-Girl Beth: O maior preconceito que tive mesmo foi dentro da Cultura Hip-Hop.
BW: Beth, houve movimentos mais difíceis de aprender? Qual você levou mais tempo? Como era seu preparo físico para executar esses movimentos?
B-Girl Beth: Os movimentos mais difíceis pra mim eram aqueles que eu estava começando a aprender. Eu não tinha muito recurso de preparo físico pra dançar, não me alimentava bem, naquela época eu pesava em torno de 45 kg, eu era leve, mas para alguns eu estava pesada para dançar, aí nós corríamos a famosa avenida imperador para emagrecer mais para os movimentos ficarem cada vez mais perfeitos. O moinho de vento eu demorei mais, o flare em um mês peguei, achei fácil, eu girava um pouco de cabeça, fazia algumas sequências dos Powers (risos) e assim ia.
BW: Fale um pouco do clima dos eventos que rolavam na sua época. Como eram? Verdade que você ganhou vários deles? Fale sobre os mais especiais que marcaram sua vida…
B-Girl Beth: Quase não tinham eventos… A galera se encontrava nos bailes Black, tinha um que no último sábado do mês era Flash Back, eu contava os dias para chegar essa data e ir ao baile… Muitas das vezes eu rachava nesse baile e acaba pegando movimentos diferentes na empolgação das músicas, eu mesmo só tive conhecimento dos eventos de Breaking no ano de 1999 em diante… antes disso, eram só os bailes e os encontros na São Bento. Quando comecei a ir aos encontros de Breaking era quando formavam as rodas, tinha aquelas separações como a roda dos B-Boys e outra dos “pés-de-barro”. Em 1999, eu participei pela primeira vez de um campeonato de Breaking, tive a oportunidade de ser chamada pra dançar num grupo chamado Style Crew.
BW: Nos conte sobre sua crew… Qual era e como vocês se relacionavam?
B-Girl Beth: Bom, a primeira crew que fiz parte foi a Detroit Breaks, nesta crew eu participei de um programa na TV, do Raul Gil, pelo dinheiro da premiação, na semifinal perdemos, mas foi legal essa experiência (risos). Depois que sai do grupo fiquei um tempo sozinha, sem grupo, sem ninguém, até ter a oportunidade de ser chamada na Style Crew… Quando comecei a aparecer em outros lugares… Meu relacionamento com grupo Detroit Breaks era confuso, pois tinham muitos desentendimentos com o que treinar.
BW: Hoje em dia, a nova geração de B-Girls, chegam cada dia mais cedo no Breaking e as B-Girls fora do país já mandam os Power Moves sem nenhuma dificuldade, mas, no entanto, quando olhamos a maioria das B-Girls brasileiras, entre 20 a 30 anos, poucas ou quase nenhuma se arriscam nesses movimentos… Na sua opinião, o que acontece? Que justificativas existem para isso? Algumas alegam que o corpo da mulher é diferente do corpo do homem… Quais suas impressões sobre esse assunto?
B-Girl Beth: Já na minha época, dava pra contar nos dedos quantas mulheres dançavam Breaking, eu mesma tinha em torno de 16 pra 17 anos eu acho, eram poucas B-Girls, não tinham a quantidade que tem hoje, mas quando ia em alguns eventos, quando eu já tinha parado de dançar, não me lembro de ver B-Girls dançando Power Move. A única justificativa que tenho para isso hoje em dia seria falta de força de vontade, porque para tudo na vida e só a pessoa se esforçar e também querer, eu pensei que não conseguiria até pelo fato de estar mais pesada do que antes, mas até isso não me impediu… Eu quando fiquei grávida fiquei muito debilitada, perdi meu primeiro filho com 6 meses de gestação, esperei 5 meses pra engravidar novamente e após acontecer isso eu fiquei deitada e sentada a minha gestação toda, para não perder o bebê, ganhei 20kg a mais, quase entrei em depressão por não me aceitar da forma que fiquei pós gestação, mas graças a Deus eu não desisti de mim e comecei a fazer atividades físicas, e hoje, aos 42 anos, me sinto bem melhor que antes… Basta querer! Lógico que com algumas limitações, porque pra treinar Power Move não é fácil, os movimentos exigem muito esforço, é uma dança bruta, e não se aprende a fazer os movimentos da noite para o dia… É mais demorado, podendo até demorar meses ou anos dependendo da pessoa. Mas eu consegui!
BW: Hoje em dia falamos de Breaking nas Olimpíadas! O que acha sobre isso? B-Boys e B-Girls vão virar atletas, na sua opinião o que muda? Como Personal como você analisa o preparo físico dos nossos breakers? Estamos preparados para batalhar no mesmo nível com os europeus e estrangeiros em geral?
B-Girl Beth: É positivo, é muito bom isso na minha opinião! Valorizar o Breaking como uma modalidade esportiva! Essa dança é muita intensa e exige muito preparo físico! A entrada do Breaking nas Olimpíadas e uma forma de ser valorizado na sociedade que antes nos criticava tanto, nos vendo como vagabundos. Mudamos de vagabundos para atletas de alto rendimento. Muitas crianças já começam cedo, a geração de hoje evolue mais rápido, tentando superar seus próprios limites na dança, virando atletas muita coisa muda, se antes a dança era por prazer e claro que tem campeonatos com premiações e tudo. Mas virando um esporte a ponto de virar uma modalidade nas Olimpíadas, um dos maiores campeonatos de competições do mundo juntando 99,9% dos esportes, estão reunidos num único evento é excelente, quem dera se eu não tivesse parado, ai se arrependimento matasse (risos), mas os dançarinos virando atletas a dança fica muito mais séria, tendo a maior das responsabilidades, porque estará representando seu país… A cobrança será muito maior… Agora como Personal, tendo esse olhar, vendo da transformação de uma dança para um esporte de alto padrão… Os dançarinos tem que ter além dos treinamentos de dança um preparo físico melhor, mais resistência e fôlego pra dançar, é muito bom começarem a pensar assim. Agora os níveis dos campeonatos que acontecem no Brasil têm que ser mais rígidos com os futuros atletas, têm que estudar mais os níveis dos atletas dos outros países, para não ficarem pra trás. Acredito que o Brasil tem que correr atrás para se preparar mais e chegar num ótimo nível. Torço pelo Brasil…
BW: Como você vê a cena atual principalmente para as mulheres? Hoje se fala muito de empoderamento feminino e se abriu o diálogo para discussões e denúncias de abusos sofridos pelas mulheres dentro da Cultura… Comente essa questão!
B-Girl Beth: Eu acredito que isso acontece em qualquer lugar desse mundo, tem países que são piores ainda, vivendo num mundo machista que só vê as meninas como um objetivo sexual, sendo que as mulheres têm a mesma capacidade que os homens, podem conseguir cargos importantes, tendo os mesmos direitos que os homens, a mulher sofre perante a sociedade, vemos empregos com mesmos cargos onde os homens ganham mais que as mulheres, acompanhamos muitos feminicídios, abusos, agressões, até mesmo com pessoas próximas de nós, e pouca coisa é feita a respeito desse assunto… E acredito que dentro da Cultura não seja diferente… É necessário ficar atento a tudo que vem acontecendo!
BW: Quem é a B-Girl Beth hoje? O que faz? No que acredita?
B-Girl Beth: Hoje eu sou uma mulher mais madura, com responsabilidades de mãe e com afazeres do dia a dia pro meu próprio sustento… Hoje eu sou Personal, amo o que faço, gosto de cuidar das pessoas, saí do Breaking e entrei pro mundo fitness, acabando virando uma profissão pra mim hoje… Me sinto muito bem fisicamente e mentalmente e muito feliz no que faço, embora tenho muitas conquistas a realizar ainda (risos).
BW: Que mensagens deixaria para as B-Girls que ainda estão atuantes na cena e para a nova geração?
B-Girl Beth: Minha mensagem para as B-Girls que ainda estão em cena é que não parem e continuem firmes e fortes como referência para as novas gerações… E para novas gerações que estão pegando o melhor momento do Breaking: aproveitem essa oportunidade agora que virou uma modalidade olímpica, aproveitem! Aproveitem o seu tempo e as oportunidades!
Fotos: Arquivo Pessoal
B-Girl Beth dançando em videoclipe:
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Ela nasceu em Brasília, no Distrito Federal, no meio de artistas. Na infância jogava futebol, subia em árvores, brincava de pique-esconde. Não era raro dentro de casa os saraus que sua mãe fazia. Nesses eventos bem vivos na memória, ela tinha a oportunidade de conhecer e conviver com outros artistas, o que a influenciou desde pequena. Além disso, conviveu com o circo, com o teatro e com a música. O primeiro contato com a Cultura Hip-Hop foi por meio da irmã, que cantava Rap, o Breaking veio depois de um evento e de ser orientada pelo B-Boy Katatal.
Sim, estamos falando da Maia, a B-Girl que participou de várias batalhas na Europa em 2019 e 2020. Em 2019, esteve no “Festival I Love Hip-Hop”, na Holanda, participou da batalha de B-Girl 1×1 e foi convidada para a batalha de crew junto com a equipe do B-Girl Session (B-Girl Pauline, B-Girl Vanessa, B-Girl Bo, B-Girl Chica e B-Girl Camine). Com isso, participou da “Outbreak’, “Festival Free Spirit” e chegou na final do “The Notorious IBE” na Top Rock Battle. Em 2020, esteve em Praga no “The Legits Blast”, antes da pandemia, e no mesmo ano conseguiu conhecer o evento “Concrete Jam” na Suíça e o “Queen Of The Floor” na Dinamarca. Agora, neste último mês, no Brasil, participou do Breaking Street Battles, em São Paulo, onde foi a campeã na categoria B-Girls. A mina é braba! Vamos conhecê-la um pouco mais?
BW: Queria que você nos contasse onde nasceu, em que cidade cresceu e que lembranças tem da infância e da vida em família…
Maia: Eu nasci e cresci em Brasília, no Distrito Federal. Na minha infância, me lembro de jogar muito futebol, brincar de pique-esconde e subir em árvores, além disso, por fazer parte de uma família com muitos artistas, sempre tive muito contato com circo, teatro e música através do trabalho do meu pai e irmãos e, também, assistindo a outros artistas que se apresentavam nos saraus que minha mãe fazia em casa.
BW: Quando teve o primeiro contato com a Cultura Hip-Hop? E o Breaking como surgiu na sua vida? Alguém na sua família dançava?
Maia: Meu primeiro contato com a Cultura Hip-Hop foi através da minha irmã que canta Rap, já tinha visto ela cantando algumas vezes na infância, mas teve um dia que ela me deu um CD com gravações de músicas dela e outro com músicas do Racionais MC’s e, nessa época, eu ouvia muito esses dois CDs. Depois disso, na adolescência, o Breaking começou a aparecer na minha vida através de lugares que eu frequentava e que tinham pessoas dançando, amigos que dançavam também e eu sempre achei muito incrível, tiveram até algumas vezes que fui em treinos para aprender, mas sempre sentia que não me ensinavam muita coisa. Daí tiveram dois acontecimentos que realmente fizeram a diferença, um deles foi um evento de Breaking 2×2 que aconteceu no meu bairro e que havia uma dupla de B-Girls muito maravilhosa, e poder assisti-las batalhando me inspirou profundamente, o outro fator foi ter conhecido, pouco tempo depois, o B-Boy Katatal, um grande amigo e principal responsável pela minha iniciação no Breaking, foi ele quem acreditou em mim e me deu base para seguir dançando.
BW: Alguém te ensinou a dançar Breaking? Você teve referências dentro da dança?
Maia: Quem me ensinou a dançar Breaking, primeiramente, foi o B-Boy Katatal, em 2010. Nessa época, minhas principais referências eram aqueles que eu via dançando no treino, no Encontro de B-Boys e B-Girls do Conic e em eventos aqui em Brasília mesmo.
BW: Como mulher, dançando Breaking, sofreu algum tipo de preconceito? Como sua família e as pessoas que estavam à sua volta viram sua ligação com a Cultura Hip-Hop e com o elemento Breaking?
Maia: Como mulher dançando Breaking não me lembro de sofrer preconceito na família ou nos lugares onde frequentava, pelo contrário, eu conhecia muita gente que curtia Hip-Hop, inclusive vizinhos. Minha família também recebeu bem e meu pai até já foi em alguns eventos aqui em Brasília assistir as batalhas.
BW: No Breaking houve movimentos mais difíceis de aprender? Quais você teve mais facilidade e mais dificuldade?
Maia: O mais difícil no Breaking para mim foi encontrar a minha personalidade dentro dos movimentos, foi um processo longo, muito particular e que continua em desenvolvimento, acredito que a gente dança aquilo que somos, e vendo dessa maneira me percebo nessa mutação e evolução enquanto pessoa e B-Girl todo o tempo. Em questão de movimentações específicas, acho que tive e tenho ainda algum tipo de facilidade para os movimentos, tudo vai depender também do que é o meu foco no momento, talvez para alguns freezes e footworks preciso de um pouco mais de dedicação, e os movimentos que tive mais facilidade, principalmente no começo, foram aqueles de maior flexibilidade.
BW: Como normalmente é sua rotina de treinos?
Maia: Treino sempre pelas manhãs, dia sim e dia não.
BW: Em que ano começou a competir? Houve eventos que foram especiais? Pode falar um pouco sobre eles…
Maia: Minha primeira competição foi em 2011 junto com a crew da qual eu fazia parte na época, depois disso competi poucas vezes até que, em 2015, fui morar em São Paulo, lembro que depois de pouco tempo que havia chegando lá, fui participar da minha primeira batalha e ganhei e naquele momento foi muito significativo para mim e para o caminho que eu estava buscando com a minha mudança para aquela nova cidade. Na minha opinião, todos os eventos são especiais de alguma maneira, porque sempre aprendo e vivo momentos especiais através da Cultura, alguns me marcaram de maneiras diferentes, um deles foi o “Battle In The Cypher” que pra mim é um dos melhores eventos do mundo por ter fortemente esse compromisso com a Cultura Hip-Hop, oferecendo uma programação de muito conteúdo, vivências e informação, para além da competição de Breaking; e outro evento foi o “Queen Of The Floor” na Dinamarca em 2020, porque eu tive a oportunidade de viver e ser parte de um momento histórico, ganhando a primeira batalha de B-Girls do país, foi uma experiência incrível, e nessa viagem também tive a oportunidade de conhecer muitas B-Girls e B-Boys que eu respeito e admiro, como o casal B-Girl Karen e B-Boy Katatal, e também B-Boy Machine, B-Boy Blanka, B-Girl Paulina e B-Boy Zoopreme.
BW: Se divertir, curtir, competir, ganhar e perder como você administra todos esses sentimentos na hora que entra numa battle?
Maia: Acho que o que me ajuda a administrar meus sentimentos na hora de entrar numa batalha é me conectar com o meu propósito naquele momento, porque independente do resultado, o que eu realmente avalio comigo mesma, depois, é se realmente consegui atingir aquilo que eu gostaria, e que nem sempre está no resultado de quem julga.
BW: Você faz parte do grupo “Rede B-Girls do Brasil”, nos fale da importância desse grupo para as meninas do Breaking.
Maia: Acredito muito na força que é esse grupo e essa rede de contato entre as B-Girls do Brasil, porque mesmo sabendo que somos minoria dentro da Cultura, através do grupo nos enxergamos muitas e nos sentimos parte, nos identificamos com as histórias umas das outras, compartilhamos assuntos do universo B-Girling que, na grande parte dos lugares que frequentamos, não temos esse espaço de troca e tudo isso fortalece muito a cena das mulheres no Breaking, pois através da Rede podemos incentivar a iniciação e permanência de muitas B-Girls dentro da Cultura.
BW: Você já competiu fora do país, nos conte suas experiências?
Maia: Sim, participei de batalhas na Europa em 2019 e 2020, e também agora em 2021 de forma on-line. Em 2019, estive no “Festival I Love Hip-Hop”, na Holanda, onde pude participar da batalha de B-Girl 1×1 e ainda fui convidada para a batalha de crew junto com a equipe do B-Girl Session (B-Girl Pauline, B-Girl Vanessa, B-Girl Bo, B-Girl Chica e B-Girl Camine). Nesse mesmo ano participei da “Outbreak’, “Festival Free Spirit” e cheguei na final do “The Notorious IBE” na Top Rock Battle, foi super especial e na final me lembro de ver todas as B-Girls do público atrás de mim me apoiando. Em 2020, estive em Praga no “The Legits Blast”, antes da pandemia, e no mesmo ano ainda consegui conhecer o evento “Concrete Jam” na Suíça, evento muito bom e produzido no meio de um parque e o “Queen Of The Floor” na Dinamarca.
BW: Breaking nas Olimpíadas… O que você pensa sobre isso?
Maia: Para mim, o Breaking nas Olimpíadas ainda é um caminho desconhecido, mas, por enquanto, tenho tentado ver como mais uma oportunidade de visibilidade para a cena e mais um possível caminho a seguir através do formato “competições”. Minha insegurança está em não saber como a nossa cultura será apresentada nesse espaço olímpico, pois não entendo o Breaking como um esporte e sei o quanto somos potentes enquanto Cultura Hip-Hop e apenas não desejo que isso seja perdido ou diminuído a competições.
BW: O que você tem feito na pandemia?
Maia: Tenho trabalhado muito de forma on-line, escrevendo e realizando projetos para editais, montando trabalhos no formato de audiovisual, treinando, estudando bastante e produzindo mensalmente o “Encontro On-line de B-Girls do Brasil”, espaço de troca e acolhimento de B-Girls.
BW: Recentemente, você participou do “Breaking Street Battle” em São Paulo, passando por várias meninas e foi a ganhadora. O que achou do evento?
Maia: O evento foi bem legal e teve um formato diferente dos eventos on-line que têm acontecido nos últimos tempos, gostei da proposta de montar uma batalha através de vídeos já pré-prontos e ir montando as chaves através de sorteio e votação ao vivo.
BW: Quais são seus planos para o futuro?
Maia: No momento, confesso que tem sido difícil fazer muitos planos futuros, mas tenho estudado e treinado bastante para melhorar cada dia mais a minha dança e meu fazer artístico, estou com projetos de desenvolvimento de um espetáculo solo e planos também de viajar para fora novamente, assim que possível.
BW: Deixe um recado para os leitores da Breaking World?
Maia: Seja incrível, se olhe com carinho e respeito e saiba enxergar suas fraquezas e suas potências, se alimente bem, faça as coisas por você, seja sensível para o mundo, passe menos tempo no celular e viva o presente das coisas, assuma seus erros e aprenda com eles, olhe mais para si e o mais importante, não deixe de sonhar jamais, tudo é possível e impossível a gente só vai saber se tentar fazer acontecer e, na maior parte das vezes, o caminho do sonho vale muito mais do que chegar lá.
Ela nasceu na cidade de Nagoya, Aichi, no Japão. Começou a dançar Breaking com 8 anos, hoje com 10, sonha em pisar nos grandes palcos olímpicos e se tornar a melhor B-Girl do mundo. Tem participado de vários eventos mundiais on-line erecentemente esteve no evento brasileiro “Expo Hip-Hop On-Line”, organizado pela Street House – Casa de Cultura Urbana, junto com crianças dos EUA, Venezuela e Brasil, onde numa final pesada contra um brasileiro foi a grande campeã. Noa ainda não esteve presencialmente no Brasil, mas espera algum dia poder conhecer, dançar com os breakers brasileiros e fazer novos amigos da sua geração. Confira a entrevista:
BW: Gostaria que você nos contasse um pouco sobre sua vida no Japão. Em qual cidade você nasceu? Onde você mora? Você tem irmãos?
Noa: Eu nasci em Nagoya, Aichi, Japão. Agora eu moro na cidade vizinha. Eu tenho uma irmã mais velha.
BW: Ser uma B-Girl no Japão é algo bem aceito pela sociedade? Você tem todo o apoio de sua família?
Noa: É aceitável, mas o Breaking ainda não é tão famoso quanto o futebol ou o beisebol. Professores e amigos ficam surpresos quando digo que sou B-Girl. Espero que o Breaking se torne mais conhecido algum dia. Tenho o apoio de toda minha família. Sempre sou grata por isso.
BW: Quando você teve seu primeiro contato com a Cultura Hip-Hop? Quando você começou a dançar Breaking?
Noa: Eu tinha 5 anos quando tive o primeiro contato com a cultura. Naquela época, minha irmã começou a aprender Hip-Hop. Depois disso, aos sete anos, comecei a aprender também no mesmo estúdio que minha irmã. Comecei no Breaking aos oito anos.
BW: Alguém te ensinou a dançar Breaking? Alguém na sua família dança? No mundo do Breaking, quem são suas referências?
Noa: Foi B-Boy Kan quem me ensinou a dançar. Ele tem um ótimo Footwork, personalidade e carisma. Graças a ele me apaixonei pela dança. Se meu mentor não fosse ele, não haveria uma B-Girl Noa agora. Eu realmente aprecio ele. Conhecê-lo foi o começo da minha vida de B-Girl. Na minha família, só minha irmã dança um pouco. Meus pais não têm experiência em dança.
BW: No mundo do Breaking, quem são suas referências?
Noa: A primeira B-Girl que vi quando não conhecia a palavra “B-Girl” foi Ami. Foi ela quem ganhou o Red Bull BC One. Naquele momento pensei: Eu quero ser como ela! Torne-se uma B-Girl! Tomei uma decisão forte. Estou com saudades de B-Girl Ami & Ayu e B-Boy Katsu1. Ela é uma saudade e uma meta para mim. Eu também admiro Ayu. Eu amo Footwork. Seu Footwork é criativo e original. E Ami e Ayu são elegantes e fofas. Eu também quero ser assim. O B-Boy Katsu1 é incrível. Ele me ensina a alegria de dançar e a alegria de tocar além de dançar. Ele é um B-Boy muito famoso e tem amigos em todo o mundo. Mesmo assim, ele me chama de “amiga”. Estou muito feliz com isso. E sua dança tem alma. Conheci uma dança calorosa graças a ele. É tão grande para mim. Acho que cresci quando o conheci. Eu quero ser como ele algum dia. Como dançarina e como pessoa. Eu o respeito muito.
BW: Como é a sua rotina de treinamento, quantas horas por dia você treina?
Noa: Pratico em casa cerca de duas horas todos os dias. E eu tenho aulas todos os sábados. Essa é minha rotina.
BW: Existe algum movimento que você mais gosta de fazer? E outros que você acha mais difíceis? Você teve dificuldade com algum movimento específico?
Noa: Eu gosto de Footwork. Recentemente, consegui fazer Atracks (Halo), mas foi difícil para mim. Tenho praticado principalmente Footwork até agora, então gostaria de aprender mais sobre movimentos de Power Move. E eu gostaria de poder fazer meu próprio movimento especial com originalidade!
BW: Como você divide o tempo entre o estudo e a dança? Como tem sido sua vida neste período de pandemia?
Noa: Esta é uma pergunta muito difícil para mim. Porque não gosto muito de estudar. Mas não posso praticar a menos que termine meu dever de casa. Então, me apresso para fazer minha lição de casa todos os dias. O tempo de pandemia aumentou o tempo para dançar em casa. Os eventos presenciais foram cancelados, então, busquei participar de muitas batalhas on-line. Graças a isso, conheci muitas pessoas. Mas eu odeio pandemias porque há muitas notícias tristes. Espero que a pandemia acabe em breve e que as pessoas em todo o mundo possam se sentir à vontade.
BW:Você participou de vários eventos on-line. Participou do E-Fise na França em 2020, agora do World Kidz Breaking Championship e da Expo Hip-Hop no Brasil. Conte-nos como é participar de vários eventos ao redor do mundo, agora on-line?
Noa: Cada batalha teve uma grande experiência. A primeira batalha on-line no exterior da qual participei foi o Breakfree Worldwide. Fiquei emocionada ao mostrar minha dança para estrangeiros pela primeira vez. Como resultado, perdi no segundo turno, mas os grandes B-Boys organizadores me elogiaram. Além disso, um estrangeiro que não me conhecia antes deu-me boas dicas. E eu me tornei amigo de Katsu1 nessa época. Isso me deixou muito feliz e me deu confiança. Depois disso, comecei a querer participar cada vez mais das batalhas mundiais, eu me divirto muito porque posso batalhar com dançarinos que eu normalmente não seria capaz e com dançarinos estrangeiros!
BW: Nos campeonatos de Breaking, o tempo todo, B-Boys e B-Girls ganham e perdem. Como você se prepara emocionalmente para isso?
Noa: Claro que é muito frustrante perder. Na verdade, às vezes chorei na frente de todos. Mas depois disso, entendi que poderia ganhar da próxima vez! O espírito de competir eu tenho. Outros dizem: “Gosto do seu estilo”. Sinto-me encorajada pelas palavras. Mesmo se eu perder a batalha, ficaria muito feliz se alguém se lembrasse de mim pela minha dança memorável. E eu quero ser a melhor B-Girl do mundo algum dia, então eu continuarei treinando e participando de desafios!
BW: O que você acha do Breaking ter entrado nos Jogos Olímpicos?
Noa: Quero que muitas pessoas conheçam meu Breaking e sonho pelo grande palco das Olimpíadas. Mas preciso saber mais sobre o Breaking na história e também quero o valorizar como cultura.
BW: Quais são seus planos e sonhos para o futuro?
Noa: Meu sonho é ser a melhor B-Girl do mundo. E fazer muitos amigos em todo o mundo.
BW: Esse ano as Olimpíadas estão programadas para acontecer no Japão. Mas em função da pandemia muitas ideias diferentes surgiram na imprensa. É verdade que muitos japoneses são contra o evento acontecer este ano? Conte-nos como estão as coisas por aí? Como está a pandemia no Japão?
Noa: Essa é uma pergunta muito difícil. Não sei o que dizer, mas acho que alguns japoneses são a favor das Olimpíadas e outros são contra. Mas eu entendo ambas as opiniões. Se eu fosse uma atleta olímpica, gostaria que fosse realizado. Mas se minha família tem uma doença crônica e eles podem morrer se forem infectados, eu teria medo de participar. O Japão agora está tentando conter a pandemia. As vacinas estão sendo aplicadas. Mas muitas pessoas ainda são infectadas todos os dias. Parece que muitas vão morrer porque o hospital está cheio e não tem mais leitos. Ninguém ao meu redor foi infectado ainda. Por favor, não infecte ninguém. Quero que meus entes queridos continuem saudáveis. Espero sinceramente que não haja mais pandemias em todo o mundo.
BW: Que mensagem você deixaria para B-Boys e B-Girls brasileiros?
Noa: Olá, B-Boys e B-Girls brasileiros. Sou a B-Girl Noa do Japão. Se algum dia eu puder ir ao Brasil, gostaria de dançar com vocês. E eu quero que vocês sejam meus amigos. Estou ansiosa para vê-los algum dia. Vamos dar o nosso melhor um ao outro, tomara que esse dia chegue logo e se cuidem!
Fotos: Arquivo Pessoal
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Ela nasceu na Vila Carrão, zona leste de São Paulo, filha de artesã e de um metalúrgico que também era maestro e trombonista. Teve contato bem cedo com a arte e a música, mas aprendeu a dançar Breaking com amigos nos bailes. Foi num concurso durante uma matinê que, sendo a única mulher do grupo, recebeu o apelido de “Mina do Breaking”.
Estamos falando da pioneira Rose MC, que também é B-Girl.
Ela, no início dos anos 90, começou a fazer Rap, gravou músicas em coletâneas, fez inúmeras participações, se formou professora de artes, deu aulas em escolas públicas e viajou o mundo desenvolvendo projetos que mesclavam Hip-Hop e pedagogia.
Entre um compromisso e outro, Rose aceitou conversar com o Portal Breaking World. Veja a história de vida dessa “Diva do Hip-Hop”:
BW: Queria que você falasse um pouco da sua infância, onde nasceu e cresceu? E como era sua vida em família?
Rose MC: Eu nasci na Vila Carrão, Zona Leste e logo mudamos para a Vila Aricanduva, onde morei durante toda a infância e adolescência. Minha mãe Tânia era costureira e artesã e meu pai Joaquim era metalúrgico e músico (maestro e trombonista). Cresci em um ambiente musical. Meu pai foi trabalhar como torneiro mecânico, mas continuou com a Orquestra Sul América de São Paulo, onde era maestro e tocava trombone. Os ensaios eram em minha casa e eu sempre o acompanhava nas apresentações, ajudando nos bastidores ou dançando no cantinho do palco.
BW: Quando e onde teve contato pela primeira vez com a Cultura Hip-Hop? O que mais a fascinou nessa cultura?
Rose MC: Eu frequentava a danceteria TOCO, aqui na Vila Matilde. Aprendi a dançar o “breaking”, que a gente chamava de “robozinho” com colegas do baile. Realizaram um concurso de dança na matiné. Fui convidada pelos meus amigos Luis Break e Sidney para um grupo de dança onde eu era a única mulher. Concorremos ao som do Black Juniors: “Mas que linda estás” e ganhamos! Ganhei o apelido de “mina do breaking” pelo DJ Iraí Campos e passei a ser conhecida pelo bairro. O que mais me fascinou foi o fato de ser diferente, inovador, dançar no alto ou no chão, e a disponibilidade de quem sabia os passos ensinava aos que estavam iniciando e queriam aprender.
BW: Primeiro B-Girl e depois MC, como sua família e a sociedade que estava à sua volta via isso? Você sofreu algum tipo de discriminação por caminhar numa cena onde a grande maioria eram homens?
Rose MC: No início meus pais não gostaram muito… Meu pai falou: “agora você mudou de nome e de sobrenome?”, porque eu assumi o nome de rua, de “Rose MC”. Ele queria que eu estudasse música, me deu um caderno com as notas musicais. Depois passou a me orientar, principalmente sobre contrato de gravadora, a experiência dele no meio foi fundamental para que eu não assinasse nada sem ler. Minha mãe não gostava do estilo, depois passou a costurar minhas roupas de show. Era difícil e caro o acesso ao estilo de se vestir do Hip-Hop. Eu levava as fotos e ela costurava. Assim, pude me sentir uma Salt n Pepa, Queen Latifah, etc. Na verdade eu tive muita sorte quanto à aceitação e apoio masculino. O Doctor MC’s me apadrinhou em 1992, Thaíde & DJ Hum me convidaram para participar da faixa “A entrevista” do LP Brava Gente, em 1994. Mas também passei muito perrengue, indo a eventos e era deixada para cantar no final ou nem cantava, como muitos grupos iniciantes que não tinham disco gravado. Pelos flyers da época, podemos constatar que a participação feminina era muito pequena. Consegui espaço com muita insistência: às vezes cordial e outras metendo o pé na porta.
BW: No Breaking você tinha referências? Alguém te ensinou a dançar?
Rose MC: Minha fase como B-Girl foi aqui no bairro. Aprendi a dançar com o Luis Break e o Sidney (do grupo que eu participei na TOCO). Quando vi na TV os grupos Electric Boogies e o Black Juniors, tive a dimensão de que aquela dança que eu fazia no bairro estava em outros lugares do Brasil. Vale lembrar que não tinha rede social e nosso único canal de comunicação era a TV aberta. Minhas referências da época eram: o Luís Break e o Nelson Triunfo (que estava aqui na reinauguração da TOCO na Praça da Conquista).
BW: Dançar Breaking era algo fácil para você ou tinham movimentos mais difíceis? Quais eram seus movimentos favoritos?
Rose MC: Não foi algo fácil aprender a dançar Breaking. Só treinava durante o baile com os amigos e não havia vídeos para treinar em casa. Os meus movimentos favoritos eram de “robozinho”, lembrando que ainda não havia aqui no Brasil as definições de Popping, Locking e Freestyle.
BW: Como foi ser B-Girl nos dias que você começou? Quais eram os principais desafios enfrentados pelas mulheres naquela época? Aconteciam muitos problemas? Muito assédio? Como esses problemas eram resolvidos?
Rose MC: Na verdade, eu acho que tive muita sorte em ter amigos no baile que eu frequentava aqui no bairro, que me acolheram nos treinos, me ensinaram várias coreografias, me respeitaram como mulher e como iniciante no Breaking. Não sofri assédio, ao contrário, tive muito apoio e incentivo. Depois do concurso, passei a ser respeitada por todos e sempre era solicitada para entrar na roda. Também participei de um grupo de dublagens (o meu “breaking” era um diferencial) fomos em diversas casas noturnas fazer shows como a Pop Corn Disco Club e outras. As minhas amigas não gostavam deste estilo de dança, portanto não se dispunham a treinar e aprender.
BW: Fale um pouco da sua caminhada junto a crew que fazia parte. Era tudo tranquilo ou às vezes rolava aquela treta?
Rose MC: Era muito tranquilo. A gente contava os dias para chegar logo o domingo, para ir ao baile e treinar. Na Toco Dance Club, só na matiné o DJ Iraí Campos tocava as músicas perfeitas para dançar o Breaking. Claro que um queria aparecer com um passo diferente… a gente criava as coreografias em casa para ir ao baile dançar na roda e juntar os amigos e ensinar o que aprendeu. A treta era para os meninos disputarem a roda. Como eu era a única mulher minha entrada sempre estava garantida.
BW: O Filme “Beat Street” foi um marco na sua vida? Comente isso…
Rose MC: Este filme mudou a minha vida! Pudemos ver na tela o nosso sonho materializado. Ir ao cinema várias vezes foi emocionante, desafiador e inesquecível. Eu ia sozinha, assistia a várias seções e nos intervalos, o pessoal ficava dançando no hall até a próxima seção. Ali eu vi os B-Boys e B-Girls treinando o que tinham acabado de ver no filme. Para os jovens de hoje é meio surreal esta experiência, tipo: por que eles não assistiam ao vídeo em casa para treinar? Porque não havia esta possibilidade! Enquanto o filme esteve nas telas, nem me lembro quantas vezes fui assistir, às vezes com meus amigos, outras sozinha. Vi algumas mulheres dançando nos cantos, mas não tive coragem de puxar conversa, timidez da época.
BW: De repente MC, quando surgiu o amor pelo Rap? Alguma vez teve que escolher entre o Breaking ou o Rap?
Rose MC: Em 1988 eu decidi ir à Universidade. Não havia políticas públicas, abri mão dos rolês para se dedicar totalmente aos estudos. Nos finais de semana eu trabalhava em um buffet porque o meu salário só dava para pagar a mensalidade, com isto parei com os treinos e apresentações de dança. Mas, em 1992, a sala de teatro da Faculdade entrou em uma reforma interminável e nós estávamos perdendo muitas aulas. As reclamações não eram ouvidas. Escrevi um Rap, comprei um instrumental na Galeria do Rock e pedi para cantar no intervalo. Me cederam o som, microfone… Fiz a denúncia, protestei através da música e todos ficaram sabendo do problema… Em 15 dias a sala estava pronta e nossas aulas retornaram. Ao término do curso reencontrei meu amigo DJ Smokey Dee (Doctor MC’s), que morava aqui na Vila Matilde, contei o ocorrido, e cantei o Rap para ele. A partir daí o grupo me incentivou, passei a frequentar os ensaios do grupo, abri o show deles no Clube House, em Santo André. Fui convidada pelo Carlinhos Kaskatas para participar da primeira coletânea só com mulheres: “Sociedade Alternativa – Elas por Elas”, onde canto duas músicas: “Paixão Bandida” e “Exemplo de Mulher” (lançado em 1994). Eu já havia parado com os treinos, então decidi investir no elemento Rap.
BW: Fale um pouco da sua caminhada como B-Girl, dos principais eventos que participou e também da sua carreira como MC?
Rose MC: Como B-Girl o principal evento foi no concurso de Dança da TOCO Dance Club, onde meu grupo foi campeão e eu ganhei o apelido do DJ Iraí Campos: “a mina do breaking”. Como MC eu tive vários momentos importantes mas vou citar só 3: fui uma das MCs do 1º Encontro Nacional de Hip-Hop na Estação São Bento do Metrô, em março de 1993, organizado pelo Geledés (Instituto da Mulher Negra) e São Bento Força Break. Participei da música “A Entrevista” do LP Brava Gente de Thaíde & DJ Hum (1994), Cantei na Conferência Internacional da Ong IEARN (International Education and Resource Network), em Puerto Madryn, Argentina (2014). Ali nasceu meu projeto de Hip-Hop e Educação: “Hip-Hop On The Spot”.
BW: Rose, fale sobre a importância da São Bento para todos que amam e respeitam a Cultura Hip-Hop?
Rose MC: A São Bento é onde conheci a verdadeira essência de ser um “hip-hopper”. Ali as pessoas se reuniam para treinar, trocar experiências, marcar shows, trocar materiais de estudo sobre o Hip-Hop mundial. Neste solo sagrado pude conhecer pessoas como o B-Boy Banks, que deixou o seu legado de luta e resistência. A volta dos encontros da São Bento foram imprescindíveis para que pudéssemos dar continuidade a este espírito de amizade e respeito a todos os elementos. E agora é um local de encontro “True School”, onde a “Old School” e a “New School” se unem em prol da união verdadeira no Hip-Hop.
BW: Você é uma das autoras do livro “Perifeminas”. Nos conte sobre ele, sobre o assunto que aborda e sobre as vivências que teve para escrevê-lo?
Rose MC: Eu estava estagnada com minha participação aos eventos de Hip-Hop e em 2012 a Lunna, presidente da FNMH2 (Frente Nacional de Mulheres no Hip-Hop) me convidou para participar do livro. Tivemos encontros com formações e uma troca entre mulheres, que eu defino como um divisor de águas na minha vida. Foi emocionante reencontrar as mulheres da década de 90 e conhecer as mulheres que estavam iniciando na Cultura. A partir daí voltei à cena, retornei com tudo na carreira de MC. Eu escolhi escrever uma crônica sobre a história da minha vida na música. Outras autoras escolheram poesia, conto ou letra de música.
BW: Rose você é uma das pioneiras do Hip-Hop brasileiro e abriu caminho para muitas mulheres. Faça um paralelo entre a participação das mulheres na Cultura Hip-Hop na sua época e nos dias de hoje. O que mudou para melhor e para pior na sua opinião?
Rose MC: O machismo no Rap continua presente, mas hoje as mulheres têm mais liberdade para se vestir, serem femininas e a temática na composição das letras é diversificada. Na década de 90, as mulheres não podiam escolher o produtor musical ou opinar sobre o beat escolhido pela gravadora. Eu não pude nem escolher a minha foto que saiu na capa do disco. Melhorou a facilidade ao acesso para gravar uma música. Os valores são mais acessíveis e as gravadoras não dominam mais o mercado. Um artista pode viver de stream, direcionar a sua carreira, fazer a própria divulgação, etc. A única coisa que continua igual é a dificuldade em dividir o espaço. Ainda tentam colocar só uma mulher, seja B-Girl, MC, Grafiteira ou DJ, para justificar a participação feminina. Queremos igualdade e equidade.
BW: Como você vê a nova geração feminina do Breaking e das rimas? Se pudesse deixar um recado para eles, o que falaria?
Rose MC: Eu fico extremamente feliz em ver as mulheres quebrando tudo, tanto nas batalhas de Breaking, como nas rimas das MCs. É bom demais ver isto acontecer depois de 35 anos que eu iniciei como B-Girl. Temos muitas mulheres guerreiras e talentosas dentro da Cultura de Rua. O meu recado é: continuem esta luta, vocês não estão sozinhas, quando uma menina ganha um prêmio, ela carrega todas as mulheres nesta vitória! É muito treino, muito ensaio, mas o resultado sempre vem. Não desista dos teus sonhos!
BW: O que significa a Cultura Hip-Hop na sua vida?
Rose MC: O Hip-Hop é a oportunidade que eu tive para realizar os meus sonhos, direcionar meu talento e criatividade, ter amigos de verdade há mais de 30 anos e ser feliz.
BW: Nos conte como tem sido a experiência de, junto com Rúbia e Sharylaine, fazer as lives das Clássicas?
Rose MC: É incrível unir as experiências de três mulheres guerreiras e criar um canal de troca de conhecimento através das Lives. O nosso encontro semanal nos fortalece pela nossa amizade e pelo nosso compromisso como “hip-hoppers”, para além do elemento Rap.
BW: O que você tem feito nesses meses de pandemia?
Rose MC: Eu tenho seguido o isolamento social, só saio para coisas inadiáveis. Estou organizando a casa, compondo, gravando as músicas do meu CD solo, lendo muitas coisas, prestigiando os amigos nas Lives e assistindo a filmes e séries. Estou mudando a alimentação (tentando ser mais saudável) e fazendo exercícios pelo YouTube (aulas de Hip-Hop de baixo impacto).
BW: Defina a Rose MC em um único parágrafo.
Rose MC: Uma mulher guerreira, bem-humorada, feliz, positiva, que luta diariamente pela paz mundial.
BW: Deixe um recado para os nossos leitores.
Rose MC: Espero que o Hip-Hop te traga emoções fortes, amigos verdadeiros e conquistas importantes. Ele pode ser a ferramenta que falta para que você atinja a felicidade na tua vida. Paz nas quebradas e Hip-Hop na veia!
Fotos: Arquivo Pessoal
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“A convivência com o Hip-Hop Educa me ensinou a crescer, a evoluir e a entender como a união faz a força. Sinto muita falta deles!”. (B-Girl Aninha)
Ela nasceu em Mauá, que é um município da região metropolitana de São Paulo. Sua infância foi bem humilde mas muito divertida.
Foi por meio do Ballet, numa coreografia que envolvia o Hip-Hop que descobriu, ao ser escalada para fazer o movimento principal, que o Breaking era algo mágico e que queria ser uma B-Girl.
Mas foi junto com a família do Hip-Hop Educa e com o B-Boy Suco que cresceu, evoluiu e aprendeu talvez uma das maiores lições de sua vida: “que a união faz a força”.
Estamos falando da B-Girl Aninha, hoje com 15 anos a menina começa a dar espaço para o nascimento de uma vigorosa jovem, atualmente ela mora com seus pais em Peruíbe, no litoral paulista. A mudança se deu pela busca da tranquilidade na vida praiana. Aninha conversou com o Portal Breaking World e falou sobre sua vida, suas vitórias, suas saudades, suas opiniões e sobre o futuro. Confira a entrevista:
BW: Queria que você falasse um pouco de você, sobre a sua infância e das lembrança que tem dessa época.
Aninha: Meu nome é Anna Carolyne de Sousa Diamantino, tenho 15 anos, tenho 4 irmãos por parte de pai e 2 irmãos por parte de mãe. Eu nasci na cidade de Mauá, em SP e morei em um lugar bem humilde. Minha infância foi incrível e divertida.
BW: Quando teve contato pela primeira vez com a Cultura Hip-Hop? Onde e como foi isso? Quando começou a dançar Breaking?
Aninha: Por incrível que pareça, tive contato pela primeira vez em uma coreografia de Ballet. Minha professora montou uma coreografia que envolvia o Hip-Hop e eu fui escolhida para fazer o movimento principal da coreografia.
BW: Como sua família via seu interesse pela dança? Você teve apoio da família?
Aninha: A minha família notou esse interesse no momento da coreografia. Sim, tenho muito apoio deles, tanto do meu pai quanto da minha mãe e dos meus irmãos.
BW: Fale sobre como era o tempo que treinava com o B-Boy Suco e como era viver com a família Hip-Hop Educa? Você sente falta deles?
Aninha: Era sensacional! Ele é um professor muito dedicado, disciplinado para com seus alunos, sempre transmitia sua alegria para todos. A convivência com o Hip-Hop Educa me ensinou a crescer, a evoluir e a entender como a união faz a força. Sim, sinto muita falta deles!
BW: Tiveram movimentos mais difíceis de aprender do que outros ou foram todos tranquilos de aprender?
Aninha: Sim, tiveram movimentos difíceis que demorei mais para aprender.
BW: Você participou de vários eventos e ganhou alguns deles. Fale dos principais eventos e das grandes vitórias.
Aninha: Um dos principais eventos, que foi muito marcante, foi a segunda vez que fui para Diadema, no Beija-flor. E uma das grandes vitórias foi quando eu fui para Tattoo Week pela primeira vez e consegui levar a vitória para casa. Participei de muitos eventos e tive grandes vitórias, mas esses foram os principais que mais me marcaram.
BW: Já competiu fora do país? Alguma vez pensou em ir morar fora do Brasil?
Aninha: Não, mas já tive a chance. Sim
BW: Estudar e dançar: como você organiza isso? Em que série você está? Na escola é normal pedirem para você dançar?
Aninha: Em relação a isso é bem tranquilo, consigo me organizar muito bem. Estou na 1ª série do Ensino Médio. Na escola atual não, mas na anterior sempre pediam para eu dançar.
BW: Ano passado você mudou de São Paulo para Peruíbe, no litoral. O que a levou a trocar a vida agitada de São Paulo pela vida do litoral?
Aninha: Meus pais decidiram trocar essa vida agitada, pois queriam mais tranquilidade e menos agitação.
BW: Como você tem vivido esses dias de pandemia no litoral? O que tem feito?
Aninha: Tenho vivido muito bem. Estou estudando bastante, ajudando a minha mãe e treinando muito.
BW: O que acha dos eventos on-line que estão acontecendo nesse momento e dessa nova forma de participar de eventos? Como acha que será o futuro para os B-Boys e as B-Girls pós pandemia?
Aninha: Estou achando bem legal. Na minha opinião, isso depende de cada um, muitos não tem lugares para treinar, mas sei que alguns estão tentando continuar nessa batalha e evoluir.
BW: Muito tem se falado do Breaking nas Olimpíadas. O que pensa sobre isso? Você gostaria de ir para as Olimpíadas?
Aninha: Achei muito interessante, isso será uma chance para todos nós de sermos reconhecidos
BW: O que hoje significa o Breaking na sua vida? Quais são seus planos para o futuro e seus sonhos?
Aninha: Pra mim significa tudo, o Breaking faz parte de mim, é uma dança que me faz sentir leve e contente. Ainda não me decidi o que eu realmente quero para o meu futuro, mas sei que o Breaking continuará sendo o meu hobby.
BW: Deixe uma mensagem para os leitores do Portal Breaking World que estão lendo essa entrevista…
Aninha: E aê galera? Continue se esforçando e dando o melhor de si pelo o que você gosta, desistir jamais, persistir sempre! Um abraço para todos!
Fotos: Arquivo Pessoal/The Sarará
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“… teve uma pessoa que me fez chorar muitas vezes, dizendo que minha dança era desengonçada e que eu não chegaria a lugar algum, mas eu tomei isso de raiva e passei a treinar para pegar e rachar com essa pessoa, mas nunca rachamos e essa pessoa hoje já parou de dançar e eu continuo.” (B-Girl Nathana)
Ela nasceu em Uberlândia, perdeu o pai com 5 anos em um acidente, mas sempre teve o amor e o carinho da mãe. Começou a dançar com 16 anos e não parou mais, na sua caminhada, enfrentou preconceitos pelo fato de ser mulher e até escutou comentários que fariam muitas pessoas desistirem da própria dança. Mas ela não!
Nathana Vieira Venancio ou B-Girl Nathana, como é conhecida na cena, sempre foi forte e usou o comentário negativo para crescer e evoluir na própria dança. Sendo uma verdadeira inspiração para quem pretende ir longe no Breaking. Atualmente, ela acaba de receber a notícia que está nos Top 16 da E-Battle da Red Bull BC One. No evento se inscreveram e mandaram vídeos B-Boys e B-Girls do mundo inteiro, então, sem dúvida essa menina de Uberlândia só tem motivos para se alegrar.
O Portal Breaking World conseguiu uma exclusiva com ela. Estamos na torcida, Nathana! Leia a entrevista:
BW: Queria que você falasse um pouco da sua infância, onde nasceu e cresceu.
Nathana: Eu nasci e fui criada em Uberlândia, Minas Gerais, perdi meu pai com 5 anos em um acidente, então sempre tive minha mãe como pai e mãe, sempre fui muito apegada a ela, acho que por isso, uma menina muito estudiosa e desde pequena gostava da área de artes, com 12 anos comecei a fazer aulas de teclado e bateria e somente depois, com 16 anos, que conheci a dança.
BW: Quando teve contato pela primeira vez com a Cultura Hip-Hop? E quando o Breaking começou a fazer parte da sua vida?
Nathana: Eu tive o contato com 16 anos por meio de um professor de Street Dance, ele era B-Boy e foi ele quem me apresentou e me ensinou durante um tempo da minha vida, o Breaking começou a fazer parte da minha vida totalmente em 2013, quando decidi viver profissionalmente com a dança.
BW: Você aprendeu o Breaking com alguém? Quem eram suas referências na dança?
Nathana: No começo eu aprendi com esse professor de Street Dance, ele se chama Fagundes, mas depois ele teve que se mudar de cidade, então, continuei a caminhada sozinha, minhas maiores referências quando comecei foi a Flow Mo Crew, B-Girl Taya, B-Boy Keebz, Top 9 e B-Girls do Brasil como Fabgirl, Bibi, Miwa e dentre outras pessoas.
BW: Em que ano começou a dançar? Como sua família e todos que estavam à sua volta viam isso? Você teve apoio de alguém?
Nathana: Comecei em 2007, minha família não gostava pelo fato de ter poucas mulheres, eu era menor de idade e sempre chegava tarde em casa, no começo não tive o apoio porque eles não viam isso como profissão, para a minha mãe era como passatempo ou hobby.
BW: Ser mulher e dançar Breaking, alguma vez se sentiu hostilizada por isso? Sofreu algum tipo de preconceito dentro ou fora da cultura?
Nathana: Sim, no começo sofri muito quando comecei, muitas pessoas desacreditavam só pelo fato de ser mulher, enfim, me subestimaram muitas vezes também, hoje que melhorou muito.
BW: Verdade que na sua vida existiram pessoas que tentaram te desestimular? Conte isso e nos mostre como superou.
Nathana: Sim, me recordo que teve uma pessoa que me fez chorar muitas vezes, dizendo que minha dança era desengonçada e que eu não chegaria a lugar algum, mas eu tomei isso de raiva e passei a treinar para pegar e rachar com essa pessoa, mas nunca rachamos e essa pessoa hoje já parou e eu estou na ativa ainda, eu peguei uma coisa negativa e fiz isso como motivação para treinar e evoluir.
BW: Nathana, certa vez você falou que para as mulheres têm movimentos que são mais difíceis. No entanto, lá fora, existem grandes exemplos de mulheres que são B-Girls completas e que fazem todos os fundamentos, dominando inclusive os Power Moves. O que dificulta no Brasil atingir essa realidade?
Nathana: Acho que talvez hoje, com a tecnologia e toda facilidade que temos, se pegarmos um tutorial de como fazer da maneira certa e com a técnica certa, iremos aprender. Isso vai depender do foco e esforço de cada uma, porque quando eu comecei não havia professores e essa tecnologia que temos hoje, então, muitas coisas que sei fazer hoje aprendi sozinha, na raça, treinei muito tempo errado, aprendia de forma errada, se eu tivesse essa consciência e todas as ferramentas que tenho hoje, eu estaria além de tudo que sei fazer hoje. Eu acho na minha humilde opinião e ponto de vista, então, acho que falta isso, essa determinação de estudar o movimento e querer aprender e dedicar seu tempo a isso.
BW: Que movimentos do Breaking foram mais difíceis para você?
Nathana: O que tem me custado a aprender ainda é o flare e o hallo.
BW: Fale um pouco sobre sua relação com a sua Crew?
Nathana: Hoje eu faço parte de 3 Crews que são We Can Do It B-Girls, do qual eu sou uma das fundadoras e também Rock Niggaz e Gangsta Squad, as pessoas da minha crew são as minhas inspirações, elas sempre me motivam e falam daquilo que preciso melhorar, críticas construtivas, a importância de ter pessoas lado a lado com você é grande, ter essa ajuda e companheirismo é muito válido, as meninas sempre estão a me passar energias positivas, enfim, sou muito grata a todos da Crew.
BW: Fale dos eventos de destaque que participou no Brasil e no exterior? Como é para você competir fora do país?
Nathana: Tive bastante experiência em eventos fora, ganhei eventos no México, como Funk Paradise, Freestyle Session, Eurobattle em Portugal e dentre outros, para mim competir em outro país cada vez que vou é uma forma diferente que me sinto, porquê cada evento tem uma sensação diferente, mas me sinto honrada e com uma responsabilidade sempre de dar o meu melhor e poder representar meu país e as minhas Crews.
BW: Agora você chegou no Top 16 da E-battle da Red Bull. Nos fale dessa conquista e como você se sente.
Nathana: Eu me sinto honrada e muito motivada, porque só de estar no Top 16 da Red Bull já é uma conquista gigante, porque sei que pessoas do mundo inteiro enviaram os seus vídeos, então, quero poder agarrar essa oportunidade e fazer valer a pena.
BW: Nos conte um pouco sobre sua rotina de treinos e como tem se preparado para essa competição que ainda vai acontecer.
Nathana: Tenho montado estratégias porque não posso deixar dúvidas, tenho estudado as oponentes que estou pegando em cada fase, acredito que isso tem me ajudado, porque cada um tem um jeito diferente de dançar, então tenho que ter essa estratégia, porque quero pegar cada uma em seu ponto fraco. Desde o começo desse ano e da pandemia, resolvi me dedicar mais ainda aos treinos e a minha evolução, porque quero poder ser melhor que eu mesma, então, estou nessa disciplina de treinos constantes, sem faltar a treinos mesmo cansada, mesmo com problemas, quando fiquei sabendo que estava no Top 16 já tenho me preparado psicologicamente porque isso é importantíssimo e estou treinando essa semana todas as entradas que tenho que soltar para a Red Bull, nada de treinar coisas novas para não correr o risco de me machucar, então, tenho repassado tudo e me concentrado naquilo que preciso fazer e 2 dias antes da batalha só irei descansar, relaxar e manter o foco.
BW: O fato de você representar o Brasil contra o Japão, que tem um histórico de ter grandes B-Girls te cria alguma ansiedade? Como você tem trabalhado o seu psicológico?
Nathana: Não procuro pensar nisso, até porque no Top 32 eu batalhei contra uma B-Girl do Japão e nem cheguei a pensar nisso, penso que vou estar ali defendendo o meu estilo e quero poder representar bem o país, penso em dar o meu melhor, sem deixar dúvidas.
BW: Como têm sido seus dias nessa época de pandemia?
Nathana: Tenho trabalhado, estudado e treinado bastante, me cuidando, enfim, ficando em casa.
BW: Fale um pouco dessa nova realidade dos eventos on-line. E como tem sido isso para você?
Nathana: Essa realidade não sei quanto tempo vai durar, mas tem servido de motivação e também é uma forma de oportunidade para quem não pode viajar para fora e aparecer na cena mundial, está aí uma boa oportunidade que não podemos perder.
BW: Você também é jurada de alguns eventos, correto? Julgar a dança de uma outra pessoa é algo difícil? Que critérios você utiliza na hora do julgamento?
Nathana: Sim, sou jurada de muitos eventos, acredito que é difícil porque sempre falo que cada um tem sua arte e seu jeito de dançar, ali vai vencer o melhor naquele momento, não que a pessoa seja a melhor, eu julgo Limpeza, Originalidade, Musicalidade, Fundamentos, Personalidade.
BW: O que significa hoje o Breaking na sua vida?
Nathana: O Breaking é a minha vida, faz parte de mim.
BW: Quem hoje é a Nathana?
Nathana: Hoje eu sou a B-Girl Nathana, que acorda e dorme como B-Girl, que pensa em construir uma história e ser referência na vida das pessoas, que ajuda o próximo, que pensa em crescer e ir além e deixar um legado.
BW: Deixe uma mensagem para os leitores do Portal Breaking World?
Nathana: Gente: obrigado por lerem essa matéria, Deus abençoe a vida de vocês, continuem, não desanimem! Estejam bem e fiquem em casa, se cuidem.
Fotos: Arquivo Pessoal/BreakSP/Multiforme
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O chão vai estalar: está chegando a nova geração do Breaking.
Com cara de brava, com uma força que parece não caber dentro de uma garotinha de 10 anos, Chaya Gabor, mais conhecida no circuito de campeonatos de Breaking como B-Girl Angel do Brasil, sempre gostou de batalhas!
O que muitos não sabem é que a maior delas foi assim que chegou ao mundo e o prêmio foi a própria vida. Com um passado ligado a muitos fios, incubadora, balão de oxigênio e muitas orações, foram assim os primeiros meses da vida dessa B-Girl, marcada pela prematuridade extrema, Chaya nasceu com 850 gramas, ficando internada numa UTI Neo Natal por muitos dias, tendo sobrevivido a 2 paradas cardiorrespiratórias. Angel é um milagre vivo! Após sua alta médica, teve apneia da prematuridade, necessitando de monitoramento contínuo e utilização de oxímetro em seu primeiro ano de vida, ela esquecia-se de respirar mas não deixava de batalhar pela vida jamais.
Seu nome significa “Presente de Deus” e segundo sua família, sempre representou isso na vida de todos que a conhecem. Sua emocionante história virou até um livro chamado “Gerando Milagres”.
Passadas todas as tempestades e incertezas, Angel começou a dançar, no início por uma indicação médica, já que não gostava de nadar. Primeiro no Ballet, depois, acompanhando o irmão, B-Boy Eagle (13), já com quase 4 anos trocou o Ballet por algo bem radical, o Breaking, onde se encontrou.
Curada por Deus e abraçada pela Cultura Hip-Hop, a menina que é bem conhecida na cena, nas redes sociais e na imprensa, tem despontado como um grande nome da nova geração do Breaking. Só no Instagram tem mais de 2000 seguidores que acompanham seu dia a dia, os campeonatos que participa e suas vitórias. Recentemente, ganhou o primeiro lugar na qualificatória brasileira do Festival de Dança “All Dance”, o que garantiu uma vaga no mundial que acontece agora em Setembro. Com uma personalidade forte e marcante na hora da dança, é carinhosamente chamada por seu treinador Eder Devesa de “Senhorita Power Move”. Leia a entrevista:
BW: Fale um pouco sobre você, sobre sua história?
B-Girl Angel: Meu nome é Chaya Gabor, tenho 10 anos. Nasci bem antes do tempo que os médicos e minha mãe esperavam. Nasci com 850 gramas e quase morri. Isso me fez ficar no hospital muito tempo com minha mãe até eu ganhar peso e ficar boa dos meus problemas respiratórios. Mamãe diz que foram muitos dias, onde muitas pessoas oraram pela minha vida. Para alguns, sou um milagre, parei duas vezes de respirar. Lutei para viver, essa foi minha primeira batalha. E minha mãe até escreveu um livro contando a minha história.
BW: Quando você começou a dançar Breaking e quem te ensinou?
B-Girl Angel: Acho que comecei a dançar Breaking dentro da barriga da minha mãe (risos). Nessa época, minha mãe trabalhava com alguns Rappers e quando eles começavam a rimar em shows, eu me mexia muito em sua barriga, às vezes ela não conseguia nem andar. Mas aprender dançar mesmo comecei aos 2 anos no Ballet, com a tia Luciana Amâncio, no litoral de São Paulo, meu irmão também dançava, fazíamos sapateado juntos. Até que um dia conhecemos o Zeca Break, foi ele quem nos ensinou os primeiros movimentos do Breaking e nos fez amar essa cultura. Tenho muito carinho pelo Zeca.
BW: Você tem referências no Breaking?
B-Girl Angel: Sim, algumas: B-Girl Mini Japa, B-Boy Ruddy, B-Girl Ayumi, B-Boy Lilou, B-Boy Menno, B-Boy Bruce, B-Boy Issei, B-Boy André Herculess, B-Boy Dynabeat, B-Boy Vapor, todos os meninos da minha Crew, meu coach B-Boy Dunda e meu irmão.
BW: Quem te treina hoje?
B-Girl Angel: É o Eder do Breaking Combate, já estamos juntos há 2 anos. Gosto muito dele, já faz parte da minha família. Ele me chama de “Senhorita Power Move” (risos).
BW: Tiveram movimentos que foram mais difíceis de aprender, que levaram mais tempo?
B-Girl Angel: Sim, tiveram e têm até hoje! Mas Breaking é repetição. E de tanto repetir, aprendemos.
BW: Sua família sempre apoiou a sua dança? Como é sua vida em família?
B-Girl Angel: Sempre! Minha mãe e o meu pai sempre nos apoiaram demais! Os meus avós também! Todos são grandes incentivadores da nossa arte.
BW: Quando começou a ir para campeonatos? Qual foi o primeiro campeonato que você foi?
B-Girl Angel: Foi em 2017. O primeiro campeonato que eu participei foi o “Rival vs Rival”. Depois, o “Master Crews” e não parei mais de participar de campeonatos. Eu gosto muito de competir! É um momento que me sinto bem e tranquila, pois estou fazendo o que mais gosto.
BW: E qual foi o primeiro que você ganhou? Qual foi a sensação de levantar o primeiro troféu? Você guarda esse troféu até hoje?
B-Girl Angel: Acho que o primeiro que eu ganhei foi em Juquitiba. Foi muito bom ganhar o primeiro troféu e foi contra o meu irmão (risos). O troféu faz parte da minha coleção e está na estante até hoje!
BW: Me fale um pouco da sua rotina de treinos. Que horas e quantas vezes na semana você treina e com quem?
B-Girl Angel: Treino quase todos os dias, às vezes até final de semana e os meus treinos são divididos. Dura em média umas 3 horas.
BW: É fácil ser B-Girl e uma boa aluna na escola? Os colegas e os professores pedem para você dançar para eles na escola?
B-Girl Angel: Não é fácil. Sim, sempre pediram, principalmente nos eventos da escola. Os colegas também, na hora do recreio. E até ensinava para alguns.
BW: Fale um pouco sobre a sua Crew?
B-Girl Angel: Eu faço parte da Dream Kids Brazil, que é uma Crew formada por crianças e juntos somos uma família. Somos treinados pelo B-Boy Dunda. Na Crew somos B-Boy Sonek, B-Boy Marcin, B-Boy Samukinha, B-Boy Eagle e eu.
BW: O que você sente quando você dança? O que se passa na sua cabeça?
B-Girl Angel: Liberdade e felicidade de poder sempre ser eu na minha dança. De ter a minha personalidade. Me sinto muito bem. Admiro muita gente, mas não quero ser os outros, eu quero ser eu. Lembro que no passado, por algum tempo, treinei com um professor que usava as crianças e não respeitava isso e transformava todos os alunos em seus bonecos de imitação. E até hoje é assim. É só olhar para eles, são os meninos e meninas do B-Boy fulano, que dançam igual a ele! Não quero ser conhecida desta forma. Eu não gosto disso! Eu sou a B-Girl Angel!
BW: Uma das suas principais características é a cara de brava dentro das rodas? Você é brava?
B-Girl Angel: Nas batalhas e nas rodas sou concentrada. Mas não sou brava!
BW: Para você o que é o Breaking? O que ele representa na sua vida?
B-Girl Angel: Breaking é a minha vida! Depois de Deus, foi o Breaking que me curou dos meus problemas respiratórios.
BW: Você se acha competitiva? O que te deixa muito irritada durante uma batalha de Breaking?
B-Girl Angel: Sim, sou bastante! Pessoas que parecem presas, repetitivas e que têm movimentos sujos.
BW: Nos campeonatos que você compete contra adulto, você acha que já deixou de ganhar algum pelo fato de ser criança? Acha que as crianças são valorizadas nos eventos?
B-Girl Angel: Não me lembro, mas acho que aqui no Brasil, os eventos não valorizam as crianças como lá fora! Meu irmão foi para a Europa no ano passado e as crianças eram reconhecidas nos grandes eventos. Mesmo tendo adultos também! Se a criança for melhor que o adulto deve ganhar!
BW: O que você se sente quando você não ganha ou perde? Consegue lidar bem com isso?
B-Girl Angel: Me sinto normal, faz parte ganhar e perder. Quando eu não ganho porque errei, na hora fico aborrecida, sim. Mas, quando sei que fui bem e não ganhei porque houve panela acho feio para quem senta na cadeira de jurado. Se um dia for convidada para ser jurada, jamais quero participar de coisas assim.
BW: Além da dança, o que mais você gosta de fazer?
B-Girl Angel: Eu gosto de rimar, gosto de Batalhas de Rima! Gosto de ir na São Bento, gosto de desenhar, de ver vídeos de dança e de como construir as coisas.
BW: Quais são os seus maiores sonhos na dança? Onde quer chegar?
B-Girl Angel: Meu sonho é morar e dançar fora do país. É ser completa na dança, eu sou B-Girl e eu posso!
BW: Tiveram muitas crianças que começaram na mesma época que você e hoje já não dançam mais. Você alguma vez pensou em desistir de dançar?
B-Girl Angel: Não vou desistir da minha vida. O Breaking é a minha vida.
BW: O que você acha da possibilidade de poder participar de uma Olimpíada?
B-Girl Angel: Acho muito bom! Mais uma grande oportunidade para a minha geração.
BW: Fale sobre os eventos que já participou.
B-Girl Angel: Em 2019, fui a primeira criança a chegar na final do Prêmio Sabotage, 1º lugar na Batalha Final Kids e 3° lugar na Batalha Final de B-Girls. 1° lugar Batalha de Juquitiba, participei de Rival Vs Rival (SP), Breaking Combate (SP), 2° lugar no Peruíbe Dance Festival (SP), Master Crews (SP), BreakSP Battle, B-Boy World Classic (SP), Nike Battle Force na Streetopia (SP), 2º lugar São Matheus Break, 1º lugar Fábricas de Cultura (SP), Ar Dance (Peruíbe/SP), 2° lugar na Tattoo Week (SP), Festival Santos Café (Santos/SP), R16 (SP), Tropical Battle (RJ), Battle Kids Argentina, Quando as Ruas Chamam (DF), Red Bull BC One Camp Brazil, Campeã da Quebrada Viva Battle, 1° lugar no Arte Breaking, 2º lugar no São Vicente Festival, 1° lugar na modalidade Kids do All Dance Brazil 2020.
BW: Como foi ganhar a vaga para o mundial no All Dance World?
B-Girl Angel: Foi bem especial! Treinamos durante meses a coreografia “Anjo do Breaking” e o resultado foi a resposta a um bom trabalho feito. Vou lutar pelo mundial também!
BW: Quem é a Angel?
B-Girl Angel: B-Girl Angel do Brasil sou eu! Fora das batalhas sou a Chaya!
BW: Que mensagem você deixaria para outras crianças que pensam em começar no Breaking?
B-Girl Angel: Venha logo dançar e conhecer essa cultura!
“Eu quero que minha história alcance o maior número de pessoas possíveis, para que possam refletir e valorizar a vida o máximo possível.” (B-Girl Branca)
Ela começou no Breaking cedo, mas foi apenas com 16 anos que passou a participar de competições, seu sonho era ir para fora do país e ter sua dança reconhecida mundialmente. Sempre foi competitiva, guerreira e gostava de desafios.
Estamos falando de Geisiane Aguilar, mais conhecida na cena como B-Girl Branca. Em 2015, ela participou da Batom Battle, sendo ganhadora do evento de B-Girls. Junto com suas crews Rock Niggaz e We Can Do It, teve várias conquistas. Esteve também na eliminatória no Brasil da Eurobattle, ficando em segundo lugar.
Tudo caminhava bem, mas foi durante o treino, numa noite em agosto de 2016, que Branca seria apresentada a maior de todas as batalhas da sua vida: seu nome era “Mielite Transversa Cervical” ou “DEVIC”, uma inflamação na coluna cervical que a deixaria tetraplégica. Segundo os médicos, Branca tinha apenas 7 meses de vida.
Ela encarou o diagnóstico como mais uma grande batalha que seria vencida! Foi forte, guerreira, pediu a Deus uma nova oportunidade e quando recebeu a agarrou com unhas e dentes, tendo grandes melhoras e avanços no seu quadro.
Branca é um milagre, um exemplo de superação! Uma verdadeira inspiração para todos que conhecem sua história!
Hoje B-Girl Branca luta para continuar seu tratamento de reabilitação, que não é barato! Se recuperar e voltar a dançar faz parte de seus sonhos futuros! Por isso, criou nas redes sociais uma “vakinha” para levantar dinheiro para custear o tratamento.
Foi nesse momento que o Portal Breaking World teve a oportunidade de conversar com esta B-Girl incrível que, sem dúvida, é uma Rainha do Breaking Brasileiro! Sim ela é forte! Ela é B-Girl! O Portal Breaking World convoca a todos, B-Boys, B-Girls, DJ’s. MC’s, promotores de eventos e amantes da Cultura Hip-Hop para a ajudar a B-Girl Branca! Confira a entrevista:
BW: Queria que você falasse um pouco sobre sua infância, sua adolescência e quando teve o primeiro contato com a Cultura Hip-Hop?
Branca: Olá, meu nome é Geisiane, conhecida no Brasil como B-Girl Branca. A minha infância foi maravilhosa, sempre fui uma menina saudável e que amava praticar esportes como futebol, basquete e alguns outros mais. Eu tive meu primeiro contato com o Hip-Hop por meio de um projeto que acontecia na minha cidade, chamado “Segundo Tempo” e lá tinham várias atividades físicas e tinham aulas de Hip-Hop, esse foi o meu primeiro contato e me encantei.
BW: Quando nasceu o amor pelo Breaking? Com que idade começou a dançar? Alguém te ensinou?
Branca: Eu acho que eu já amava o Breaking, só que não conhecia. Eu me apaixono por algo que seja competitivo, coisas difíceis e desafiadoras. E foi quando eu conheci o Breaking e já tinha todas essas essências que eu gostava e acabei me identificando. Foi quando eu acabei me apaixonando. Quem me ensinou foi o César Rodrigues do grupo QDM. Ele estava à frente do projeto onde eu conheci o famoso Hip-Hop. Hoje somos amigos e irmãos, ele acredita que irei voltar mais forte.
BW: Você teve o apoio da sua família na prática do Breaking?
Branca: Nunca tive apoio da minha família, meus pais sempre questionavam, diziam que era coisa de louco, que era coisa para meninos. Eu tinha mais ou menos um pouco de apoio da minha mãe, mas da minha família nunca tive.
BW: Com que idade começou a competir? Fale um pouco dos principais eventos que participou e que também ganhou. Quais eram seus objetivos e sonhos nessa época?
Branca: Eu comecei a competir com 16 anos de idade, participei da Batom Battle, em 2015 e ganhei o campeonato de B-Girls. Era um evento para B-Girls e tinham várias de todos os estados e países. E também competia muito com a minha crew. Meu sonho era conhecer a gringa e ser reconhecida no mundo inteiro.
BW: Fale sobre sua vivência nas Crews Rock Niggaz e We Can Do It e o que conquistou ao lado delas. Você chegou também a participar de alguns eventos internacionais, como a Eurobattle? Nos fale sobre eles…
Branca: Eu sou do grupo da Rock Niggaz e da We Can Do It B-Girls, com a Rock Niggaz participei de um campeonato chamado Batalha na Vila e ficamos em segundo lugar e outros que participei com eles foi chegando em semifinais. Com a We Can Do It B-Girls, nós participamos da Master Crews e a gente foi a primeira crew de B-Girls a passar do filtro desse evento, onde tinham mais de 32 Crews e ficamos entre os 16. Eu participei da eliminatória aqui no Brasil da Eurobattle onde fiquei em segundo lugar. Era um evento com várias modalidades e eu participei da de B-Girls, onde quem ganhasse o campeonato iria ter uma vaga na OutBreak, na gringa.
BW: Você disse que 2015 tinha sido o melhor ano da sua vida. Nos conte o que aconteceu nesse ano?
Branca: Em 2015, foi o ano que eu treinei mais para poder ganhar esse dois campeonatos: Batom Battle e Eurobattle. Foi o melhor ano porque eu consegui provar pra mim mesma que eu consigo sim ganhar as coisas e mostrar pra quem desacreditava do Breaking que não ia me levar a nada, foram o que mais me levou a conquistar as coisas e ser reconhecida no Brasil. E mostrar pra minha família que o Breaking sim, dá retorno!
BW: Passado um ano, o que aconteceu na noite de 16 de agosto de 2016, no Ginásio de Esportes, em Brasília? Foi durante o treino? Quando notou que tinha algo errado? Como tinha sido aquele seu dia?
Branca: Eu fui pro treino bem, tinha acabado de me recuperar de uma dengue que eu tinha pegado. Não tive o repouso, que é de 15 dias, só esperei melhorar e fui para o treino. Treinei muito naquele dia, mas estava me sentindo cansada, com o corpo doendo, ainda por conta da dengue. Foi quando eu fui fazer um movimento chamado “Coin Drop” (conhecido como “Giro de Moeda”), fui fazendo ele várias vezes no treino, a partir desse movimento eu me senti mal, sentei, coloquei a mão no pescoço e estava doendo muito. Foi aí que meus colegas de treino preferiram me pegar e me levar ao hospital. Aquele dia foi horrível para mim!
BW: Quais foram as primeiras medidas tomadas? Quem te socorreu? Para onde te levaram? Que procedimentos e exames foram feitos? Chegou a fazer alguma ressonância magnética no primeiro momento?
Branca: Meus colegas de treino me levaram até o hospital, logo após minha mãe chegou. Cheguei chorando e eles me atenderam o mais rápido possível, me deram “Dipirona” na veia e não passava a dor, me deram um relaxante muscular e foi quando eu não consegui sentir meu corpo. Isso foi no hospital da minha cidade, eu moro no entorno de Brasília. Minha cidade se chama Cidade Ocidental, no outro dia, eu fui pra Brasília, no Hospital de Base, fizeram um monte de exames e não descobriam o que era. Pediram uma ressonância e viram minha medula completamente inflamada.
BW: O que você sentia naquele momento e o que os médicos te falaram?
Branca: Os médicos não me passavam nada, só conversavam bastante com a minha família. Eu me senti muito mal de me ver toda cheia de aparelhos e estava no estado de intubação. E disseram pra minha família que meu estado era gravíssimo…
BW: Quando de fato o diagnóstico foi fechado? Os médicos falaram de “Mielite Transversa Cervical” ou “DEVIC”, consegue nos explicar o que é essa inflamação, qual a causa e quais são as consequências? Verdade que os médicos compararam a sua situação a uma pessoa que tivesse sofrido um acidente muito grave?
Branca: Os médicos não sabem o motivo da inflamação, eu perguntei se foi por conta da dança, eles disseram que não foi. A inflamação foi tão forte que foi como se eu tivesse sofrido um acidente de carro e tivesse batido minha cabeça várias vezes. Hoje eu tenho acompanhamento médico e eles estão definindo o que aconteceu para causar essa informação toda. Em outubro, eu vou ver o resultado do exame e eles vão dizer o que eu tenho realmente. Eles deram que é 100% DEVIC, mas eles dependem desse exame para sair o resultado que é o que eles querem saber, se é DEVIC mesmo para eles confirmarem e me passarem o resultado! As consequências eles não me passaram e nem me deram esperança, conheci uma moça com DEVIC e ela disse que ela não ia voltar a andar e ela ficou 3 anos na cadeira de rodas e voltou a andar e está normal hoje em dia.
BW: Você chegou a pensar que essa inflamação teria alguma ligação com a dança? Chegou a mostrar vídeos para os médicos, correto? O que eles falaram?
Branca: Eu cheguei a pensar que sim, porque eu não tinha uma alimentação tão saudável. Comigo era tudo corrido e deixava minha alimentação em segundo lugar e dava a prioridade à dança, ao trabalho, etc. Cheguei a mostrar o vídeo de dança e eles começaram a rir e disse que eu sou bem agitada e folgada. E que não tinha capacidade de ter causado essa informação tão alta e forte.
BW: O que você sentiu quando recebeu o diagnóstico? O que se passava na sua cabeça?
Branca: Diagnóstico eles fecharam como DEVIC, eu imaginei várias coisas, quase entrei em depressão por saber que eu iria demorar um pouco a voltar os movimentos do meu corpo. Mas eu sempre acreditei em Deus e ele sabe de todas as coisas e ele que vai dar o resultado final. Hoje, as minhas forças vêm de Deus.
BW: Uma pessoa cheia de vida, que dançava, que tinha movimentos rápidos e precisos, de repente se vê tetraplégica. Como você viveu esse momento, o que te deu forças para passar por tudo isso?
Branca: Foi muito difícil pra mim saber que eu iria fica tetraplégica e ficar numa cadeira de rodas e estar dependendo de outro pessoa, aquilo me matava por dentro, porque sempre fui independente e nunca passou pela minha cabeça que eu iria ficar assim. Eu sempre fui mudando meus pensamentos ao passar dos tempos, ficava pensando que eu sempre fui uma menina positiva e que isso é só uma fase e que as coisas vão ficar bem e que também vão dar certo. Eu sou evangélica, minha força toda vem de Deus, minha segunda força vem da minha companheira, que é minha mãe. Eu falo que ela é minha psicóloga (risos). Ela fala pra mim umas coisas bonitas e positivas. Quando estou nos meus dias ruins, ela fala: “minha filha, você é forte, guerreira e está viva, graças a Deus. Logo, logo você vai estar bem, fé em Deus”, eu ouço, reflito bem aquilo que ela me diz e aí me dá mais ânimo de correr atrás pra me ver bem logo.
BW: Você fez cirurgia? Por que isso foi necessário? Como foi a recuperação?
Branca: Sim, eu fiz uma traqueostomia no pescoço, a recuperação foi ótima e rápida. Só senti muita dor quando eu acordei da cirurgia, parecia que tinha arranhado minha garganta, foi horrível. Mas quando tirei, foi um alívio, porque me incomodava demais.
BW: Por que os médicos falaram que você tinha apenas 7 meses de vida? No que se baseavam? O que você sentiu nesse momento? E como você reagiu a tudo isso?
Branca: Eu não sei o porquê eles falavam isso, médicos são muito desacreditados das coisas, eles passam uma carga negativa, sabe. Não te dão esperança. Os médicos diziam para ninguém me falar que eu só tinha 7 meses de vida. Mas eu via eles conversando baixo e sabia que não era uma boa notícia, mas eu nunca me desesperei. Eu também tinha pegado uma pneumonia na UTI e tudo estava dando alterado, os resultados de exames, etc. Eu dei a volta por cima e estou aí de volta, eu fui lá no hospital visitar o médico que falou pra minha família que eu tinha 7 meses de vida, o encontrei e disse a ele: “Os seus cálculos deram errado, hein, Doutor!”. E ele veio, me abraçou forte e se emocionou, falou que eu era um milagre, que era muito forte, que era para eu e minha família continuarmos tendo fé. Porque eu conseguiria ter uma boa recuperação.
BW: Como sua família reagiu a toda a situação?
Branca: Minha família ficou desesperada, não sabiam o que fazer, não tinham muitas notícias minhas porque eu era maior de idade, tinha 20 anos na época. E era só uma hora de visita e os médicos só falavam coisa ruim. E quando minha família disse que eu ia pra UTI e iria ficar usando traqueostomia, foi desesperador. Mas depois todos mantiveram uma calma e só vou dando certo e recebendo notícias boas pelo celular, que o hospital ligava.
BW: Após isso, como foi o tempo de fisioterapia e de recuperação? De onde você tirava força para prosseguir?
Branca: Após ter alta, eu fui para outro hospital de reabilitação em Brasília, chamado Hospital de Apoio, onde eu tive meus primeiros acessos às fisioterapias. Eu tirava as minhas forças vendo outras pessoas que estavam com a mesma dificuldade que a minha se recuperando um dia de cada vez. Aí eu pensei: eu vou fazer igual essa pessoa; só que ao invés de eu estar fazendo fisioterapia, eu vou imaginar que eu estou tentando pegar um movimento difícil que eu queria aprender e colocava toda minha força nas fisioterapias e nas reabilitação.
BW: Fale um pouco das amizades nesse período da sua vida, você disse que 100% dos amigos sumiram… Nos conte isso.
Branca: Sim, eu tinha amigos fora da dança, que a gente sempre se juntava pra curtir umas festas e, quando eu adoeci, todos sumiram! Restaram 2 ou 4 que me ajudam quando eu preciso. Mas eu não liguei muito, fiquei chateada na época, mas passou. Encontro alguns na rua e cumprimento todos normalmente. Eu acho que, tipo, ninguém quer ter responsabilidade ou alguns só estava comigo por estar, outros por outros motivos. Eu não sei muito bem explicar!
BW: Por outro lado, tiveram pessoas mais que especiais, como por exemplo, o professor de dança Cesar Rodrigues, alguns fisioterapeutas e amigos que foram mais chegados do que irmãos, não é verdade? Nos fale dessas pessoas e o que significam na sua vida.
Branca: Sim, eu conheci uma fisioterapeuta maravilhosa. Bem prestativa, sempre querendo o meu bem em todos os momentos. E aí a gente virou amiga depois que sai do hospital. Ela se chama Juliana Alves, continua me dando o maior apoio e força também, gosto bastante dela, é uma pessoa muito especial para mim. Tenho uma outra amiga, chamada Arianne, ela sempre me ajuda no que eu preciso. Me ajudou bastante na minha reabilitação, ficando comigo nos hospitais, ela é uma irmã pra mim. A amo e teve outras pessoas também, que me ajudaram bastante no meu processo em casa. O César Rodrigues eu já disse, é meu irmão também, sempre está comigo quando ele tem seu tempo vago, um cara super especial pra mim também. Amo todos que me ajudaram, de coração!
BW: Quando você voltou a recuperar alguns movimentos, conseguiu sentar e ficar depois de pé, nos conte o turbilhão de emoções que você sentiu?
Branca: Quando eu tive meu primeiro movimento, foi na UTI, eu mexi lentamente o meu dedo e mandei minha mãe conferir se estava mexendo mesmo. Ela disse que sim e chamou os médicos e fisioterapeutas, foi uma alegria esse dia. Eu me senti tipo uma “fênix renascendo das cinzas”, tipo feliz demais, chorei horrores (risos), aí eu imaginei, se o dedo mexeu, o resto vai mexer também. Aí eu tenho movimentação na perna direita, de encolher e esticar, tenho movimento nas mãos e nos dedos, de encolher e esticar. Mas não consigo ficar em pé e não consigo levantar os braços, não consigo comer só, banhar só, não consigo abraçar alguém, não consigo fazer cumprimentos levando os braços. E tenho equilíbrio de tronco.
BW: Você fala em um vídeo, que tudo tem um propósito e o seu tempo e demonstra gratidão a Deus por ter te dado uma nova chance. Você já descobriu qual foi o propósito disso tudo que você passou? O que mudou na sua vida após tanta luta?
Branca: O propósito que eu acho que Deus teve comigo foi mostrar que nós, seres humanos, não somos nada diante dele. E eu sou uma prova viva disso, para quem tinha 7 meses de vida vocês não acham que tem algum propósito aí?! Eu quero que minha história alcance o maior número de pessoas possível, para as pessoas refletirem e valorizarem a vida o máximo possível. E sempre agradecer, todos os dias! Esse é o recado que eu tenho para dar! Passar para todos! O que mudou na minha vida foram os valores, passei a valorizar as mínimas coisas que as pessoas desprezam. Hoje em dia, essa minha luta está me amadurecendo demais. E espero levar isso comigo pro resto da minha vida.
BW: Quais são seus desafios e sonhos para o futuro? O Breaking se encontra neles?
Branca: Sim, o Breaking se encontra neles. Quero volta a dançar, se Deus permitir. E desafios para o futuro é continuar alcançando os meus objetivos e sonhos que eu pretendo realizar em breve.
BW: Quem é a B-Girl Branca hoje?
Branca: A B-Girl Branca hoje continua sendo a mesma, gentil, marrenta, um amor de pessoa, agradável. E sempre com pensamentos positivos e querendo voltar o mais rápido possível. Estou com mais experiência na vida, penso demais antes de fazer alguma coisa errada ou falar algo que possa magoar o próximo. Hoje eu sinto uma paz que eu não sentia antes. E quero que as coisas só tenham progresso, na minha vida é isso.
BW: Nesse momento, segundo informações, você precisa de um trabalho de recuperação mais efetivo, fazendo uma terapia intensiva que não é barata e para isso foi lançada uma campanha nas redes sociais “Ajude B-Girl Branca”. Nos fale sobre essa campanha, quanto precisa levantar e como as pessoas podem ajudar?
Branca: Então, eu estou fazendo fisioterapias particulares, que custam R$ 120,00 a sessão. Hoje em dia, eu faço uma vez na semana. Porque lá eles fecham o pacote que é R$ 480,00 e pretendo fazer duas vezes na semana. Eu criei a “vakinha” para a galera ajudar a compartilhar e poder conseguir esse valor pedido na vaquinha virtual. Para que eu possa fechar um pacote indo pelo menos 2 vezes na semana. Fora o transporte, que eu tenho que pagar por fora, que é R$ 70,00. Na “vakinha” eu peço só a quantia da fisioterapia mesmo e no valor total de R$ 8.000,00. Toda quantia é bem-vinda no site da “vakinha”, a questão do transporte a gente tenta correr atrás!
BW: Que mensagem você deixaria para B-Boys, B-Girls ou dançarinos que estão lendo essa entrevista?
Branca: Quero que a minha história seja uma inspiração para todos os B-Boys e B-Girls. Acreditem sempre no potencial de vocês, nunca deixem nada desmotivar. Sempre curtam o momento, dancem mesmo e vivam as coisas mínimas com mais intensidade. Porque não sabemos o dia de amanhã! Um abraço da B-Girl Branca e me sigam nas minhas redes sociais, para motivar e inspirar vocês a cada dia.
Durante um evento, uma voz feminina se faz ouvir… “Não precisa nos incluir, a gente sempre esteve aqui. Pois na verdade sempre estivemos na cena, às vezes não muito respeitadas, às vezes sem espaço, sem voz. Mas sempre estivemos presentes. Nos fortalecemos entre nós e onde pisa uma mulher, pisam várias outras juntas, os degraus mudaram e nós aprendemos a subir e a levar muitas com a gente. Acredito que quando pararmos de entender o Breaking como algo masculino, teremos uma evolução!”, essa declaração saiu da incrível fotógrafa Bruna Ferreira que é o rosto, o corpo e o coração do “Coolture Trip”. Sua fotografia inspira, emociona e apresenta a Cultura Hip-Hop de uma forma singular. Da máquina fotográfica, Bruna fez suas asas e voou bem longe… Confira a entrevista:
BW: Queria que você falasse um pouco da sua história, onde nasceu, como foi sua infância e quando teve o primeiro contato com a Cultura Hip-Hop?
Bruna: Bem, eu sou do interior do Rio Grande do Sul, da cidade de São Borja, fronteira com a Argentina e com 11 anos vim morar em Bento Gonçalves, a 100 quilômetros da capital, Porto Alegre. Minha infância foi muito boa, graças a Deus e ao empenho dos meus pais nunca nos faltou nada, família sempre unida, valores, respeito e educação estiveram sempre presentes na nossa casa. Na fronteira as oportunidades, principalmente de trabalho, para os meus pais ficaram escassas e Bento sempre teve muito trabalho devido as indústrias instaladas aqui. Minha madrinha já morava na cidade e nos abriu as portas para essa nova vida, buscando uma melhor qualidade de vida, estudos e oportunidades para a família viemos então eu, meus pais e minha irmã no ano de 2009.
BW: Que elementos da cultura no início te chamaram mais atenção
Bruna: Conhecer e me envolver em arte e cultura não era algo que eu almejava quando criança, não tinha referências na família e quando via algo “artístico” na TV, era legal mas algo que pra mim não era alcançável, ou pelo menos não tinha essa visão de querer/poder ser “artista”. E quando me mudei, logo que entrei na escola fiz parte de projetos sociais no contra turno escolar, o que me possibilitou ter acesso a música, dança, teatro… Na escola de ensino fundamental que eu frequentava, a arte era muito incentivada, principalmente a dança e todos os anos o grupo de Breaking “Elemente B Crew”, muito significativo na história do Breaking da cidade, fazia apresentações e trazia pessoas de fora pra dançar para o pessoal que assistia um espetáculo de dança feito pelos alunos, por causa desse espetáculo aonde as turmas tinham que montar coreografias e etc., a gente consumia dança o ano inteiro, isso nos incentivava a pesquisar e assistir vídeos, estudar, etc. E por meio dessas artes conheci o Hip-Hop, uma amiga frequentava um estúdio de dança da cidade onde estava instalada a Nest Panos e a maioria dos B-Boys da cidade treinava e se reunia, esses mesmos que se apresentavam na escola e frequentando o estúdio pude ver a estética do Graffiti, saber que dentro do Hip-Hop se subdividiam outras danças e outras formas de expressão que não só a dança.
BW: Pessoas te influenciaram a se envolver com a cena?
Bruna: Logo que eu conheci o Hip-Hop entrei pra um estúdio de dança, depois desenvolvi mais o Breaking, inclusive fazia aulas com o Pedrinho, também fazia Graffiti, mas depois que decidi ficar na fotografia abandonei os outros elementos (risos). Desde o início eu tive muita influência, da escola do ensino fundamental, das pessoas que eu conheci que tinham o gosto pela dança em comum, comecei a fazer aula e as amizades aumentaram. Então, no meio que eu estava, meus amigos todos tinham envolvimento com o estúdio, com a dança, com “função e furdunço” (risos) então, meio que era inevitável seguir esse caminho.
BW: Como sua família via o seu contato com a Cultura Hip-Hop? Eles apoiavam?
Bruna: Logo depois que saí do projeto social comecei a trabalhar com teatro, com 14 anos. Então meus pais viam a arte com outros olhos, eu apresentava espetáculos em grandes feiras, participei de festivais de teatro, escolas e trabalhei 4 anos como atriz profissional no passeio turístico bem conhecido aqui de Bento, que é a “Maria Fumaça”, um trem a vapor que oferece um passeio turístico apresentando em pequenos espetáculos de arte a história da região dentro dos vagões. Comecei no Hip-Hop na verdade dançando, dancei em companhias e depois fui para o Breaking em um curto período, fiz Graffiti, até me encontrar na fotografia. Eu comecei a trabalhar com 12 anos e nunca precisei ajudar meus pais financeiramente, além de admirarem o que eu fazia, esse foi também um suporte, muitas vezes eu tinha despesas com as viagens, figurinos etc. e conseguia pagar com meu dinheiro e sempre fui muito responsável, então, eles sempre permitiam minha participação em viagens e qualquer ação que envolvesse arte. Por ser menina, sempre há um maior cuidado, mas eles confiaram em mim e sabiam que eu confiaria neles para me auxiliar em qualquer problema, acho que esse foi o maior suporte deles que eu tive.
BW: Quando surgiu o interesse e o amor pela fotografia?
Bruna: Na verdade, o interesse por fotografia veio porque um amigo meu, o Igui, que também frequentava a Vico (na época eu treinava na Vico também) comprou uma câmera, e às vezes levava pra cypher. Pra matar treino eu pedia emprestada (risos) e ficava tirando foto ao invés de treinar (mais risos). Olhava uns vídeos no YouTube de fotografia, mas por não ter referências de fotógrafos, eu não conhecia nenhum, achava tudo muito inacessível, equipamentos muito caros e só não levava adiante a ideia de seguir. Na época eu já me envolvia com a Nest e despertou o interesse de usar a fotografia, não só pra fazer fotos dos momentos de descontração, mas também pra loja, para colocar na internet a foto dos produtos e eu usava uma digital da minha mãe, aquelas tipo TekPix (risos), daí levava pra loja, acabava fazendo algumas fotos dos treinos e assim, em 2015, o William me presenteou com a primeira câmera, chorei muito por dois motivos: porque eu sempre choro e também porque não esperava mesmo, fiquei muito feliz. A maior surpresa foi que eu não sabia nem ligar a tal câmera (risos) porque era de uma marca diferente da do Igui e então no outro dia comecei a estudar e pensei: agora que eu tenho as ferramentas preciso aprender esse negócio.
BW: Onde e com quem aprendeu a fotografar?
Bruna: Fiz muitos workshops, aqui na minha região tem fotógrafos muito bons e bem famosos na verdade, que sempre abriam turmas para aulas e eu sempre que podia estava. Fazia cursos sobre fotografia de casamento e aplicava tudo em Breaking.
BW: Fotografar B-Boys e B-Girls, fazer fotografia urbana é diferente de fotografar outras coisas? Exige um conhecimento diferenciado para fotografar dançarinos?
Bruna: Os workshops que eu fiz, nenhum falava sobre dança nem nada parecido com a estética que temos no Hip-Hop, mas me ajudou muito em questão técnica, de edição das imagens, então, na minha cabeça eu aprendia tudo e convertia pra minha vivência. Com certeza é muito diferente e nosso meio carece de pessoas com competência aliada à vivência da parada, que ensine fotografia com técnica e com direção, com objetivo em Breaking, em Graffiti, em Hip-Hop. Pra não ter hoje que percorrer todo caminho que eu percorri. Sempre que possível a gente faz workshops aqui pra molecada e inclusive a Ramoni está dando uns passinhos agora na fotografia e tal, por causa dessas oportunidades. Workshop de fotografia não é barato e se a gente puder se fortalecer pra somar, melhor ainda.
BW: Me fale um pouco do seu trabalho junto ao Coletivo Nest Panos. Desde quando você caminha junto e o que faz dentro do coletivo?
Bruna: Eu entrei pra Nest ali por 2012 eu acho, sou péssima com datas, o cara que sabe todas as datas na Nest é o Pedrinho (risos). Eu comecei na loja, gravando DVD de evento tipo BOTY, vídeo aula do Focus, documentários tipo “The Freshest Kids”, que a Nest distribuía para a gurizada nos eventos e vendia a R$5,00 pra geral. Depois, fui evoluindo (risos), cuidava do stand nos eventos, fazia umas fotos dos produtos com a câmera digital da minha mãe mesmo, fui estudando, comecei a fazer fotos mais legais, então montamos o e-commerce no site, fazia as matérias, comecei a fazer parte da organização dos eventos e no mais aonde eu podia ajudar, eu estava envolvida. Hoje faço parte da manutenção do site, gerencio o sistema da loja, produzo todo o material de fotografia da marca, faço parte da produção dos eventos e dobro roupas muito bem. O meu cargo oficial é fazer o que precisa ser feito (risos).
BW: No seu perfil do Facebook está escrito “Projeto de Vida – Coolture Trip”. Fale sobre esse projeto.
Bruna: Coolture Trip é meu projeto de vida pois foi o que eu escolhi pra dar sentido a ela. Não está à venda, se eu tiver grana ou não, ele vai existir igual, é algo que eu faço do fundo do coração por uma cena que eu amo, que eu acredito e que por meio do projeto eu sinto que posso contribuir para que ela seja melhor e maior.
BW: A Cultura Hip-Hop é dominada pelo sexo masculino, alguma vez se sentiu discriminada dentro da cena pelo fato de ser mulher?
Bruna: Sempre que debatemos sobre a mulher no Hip-Hop eu lembro de agradecer, pois fui acolhida num ambiente que jamais fui desrespeitada. Óbvio que meu espaço foi conquistado, nem sempre eu tinha voz, mas quando eu afirmo que tive sorte no coletivo, foi que tivemos conversas sobre o assunto e foi possível pouco a pouco muitas mudanças por meio de debates feministas, de questões muito importantes a serem levantadas e ouvidas. Acho que o principal pra mim foi ter representações femininas na cena, pois os homens ao meu redor me tratavam de igual pra igual, mas ainda eram vários homens, eu precisava de espelho, de ver outras minas pra poder me sentir parte, pra sentir que eu “poderia” ser parte e que qualquer outra mina também. Com a Coolture Trip, pelo fato do nome nem o logo ser o que a sociedade associa como “feminino”, todos os elogios são direcionados a um mano, já teve casos aonde pessoas vinham elogiar o trampo, fazer perguntas sobre ele e quando eu me apresentava Bruna, as pessoas não respondiam mais (risos). Nunca dei muita atenção a isso, me importo com o trampo tocar as pessoas e ser bom, mas com o tempo percebi que o fato das pessoas associarem o trampo automaticamente a um homem não era tão legal, eles precisavam saber que o trampo bom era de uma mulher e comecei a mostrar mais meu rosto.
BW: Vocês fizeram uma exposição no Sesc de Bento Gonçalves chamada “Rolê Coolture Trip” que não mostra apenas dança, mas toda a movimentação, todo o rolê que acontecia no meio de uma praça. Nos conte como foi a preparação do material dessa exposição até ela acontecer de fato. Nos conte essa experiência?
Bruna: O Rolê Coolture Trip foi uma das ações mais da hora que fizemos. O Pedrinho escreveu um projeto onde nos possibilitou um apoio em várias viagens, as telas foram feitas justamente pensando no transporte e durabilidade, inclusive na exposição de Esteio dois quadros ficaram expostos na área externa, como foram feitos de PVC, podem pegar chuva e sol e foi um diferencial bacana dessa expo. As fotos que compõem a expo foram as que mais tinham a ver com a ideia do rolê que é a cypher, pois quando a galera se reúne para dançar na Vico, não é só isso que acontece, a praça tem pessoas, têm crianças que geralmente interagem com a música, com a galera conversando e trocando ideia, que pega um adesivo pra levar pra casa ou que só fica olhando mesmo. São 10 obras de 1 metro quadrado mais ou menos, com a ambientação de folhas, plantas, para que trouxesse um pouco da praça para galeria. Fizemos horas e horas de viagem pra todas elas, pra São José do Rio Preto mais de 30h de carro, pro Uruguai são 12h, então rodamos alguns quilômetros para fazer a função (risos).
BW: Fale sobre o livro “Nossa Casa: Cypher Vico” lançado em 2018. O porquê desse nome e fale com detalhe dessa Cypher.
Bruna: O livro foi nossa maior realização. Depois que me interessei por fotografia, vi que fotografia e Hip-Hop não andavam tão separados assim e que inclusive tinham ótimas referências de fotógrafos e fotógrafas que foram da cena, na década de 70/80, com histórias ligadas diretamente ao Hip-Hop. Martha Cooper e Henry Chalfant com Subway Art, depois Hip-Hop Files, ajudaram a propagar o Hip-Hop para o mundo e também entender o que ele era na década de 70, logo na sequência veio Sue Kwon, Ricky Powell que faziam fotos das capas dos discos de grupos de Rap e que também foram responsáveis por nos dar dados e informações históricas quanto a vivência Hip-Hop desses ícones e enfim, a lista é grande e eu queria fazer parte dessa lista com a minha fotografia nos dias de hoje. A gente falava meio que brincando “Bah! Já pensou um livro!”, mas assim como ser fotógrafa para mim não era algo acessível, talvez eu não acreditasse muito na minha capacidade… E aí a galera do coletivo incentivou, me auxiliaram a montar um projeto e da primeira vez que enviamos ele não passou, 2017 reformulamos o projeto, a ideia amadureceu, deu tudo certo, por meio do Fundo de Cultura da minha cidade consegui a verba para a impressão do livro. 2018 executei ele entre captação e impressão no mesmo ano, e foi loucura. Eu fiz desde os textos até os vídeos (ele tem QR Codes espalhados aonde quando você escaneia com o celular tem acesso a vídeos exclusivos de quem tem o livro), a diagramação (inclusive eu aprendi a diagramar o livro 4 dias antes do prazo pra enviar ele pra editora, eu mal tomava banho, só fazia as coisas do livro), as entrevistas, as fotos… A capa e a arte do lançamento ficou por conta do Oneroc, tenho muito orgulho de quase tudo ter sido feito por mim, mas não vou repetir essa façanha (risos) foi insano o processo todo dentro de um prazo muito pequeno.
BW: Como foram as exposições? Como foi apresentar a cultura a pessoas que não conheciam a cena? De que forma foi feito isso?
Bruna: No Rolê Coolture Trip a gente passou não só por lugares familiares como a Casa do Hip-Hop de Esteio, como também pelo SESC, Dom Quixote Livraria e Casa de Criar, que são lugares que recebem artistas de diversas áreas, portanto têm um público diverso, nem sempre simpatizante de Hip-Hop. Então, a experiência mais da hora que tivemos foi apresentar cultura urbana pra pessoas que não faziam ideia de como ela é expressiva e nem de que estaríamos ocupando galerias de arte. Foi uma honra ser recebida nos lugares com carinho, apresentando a minha vida, a nossa vida. Senhorinhas compraram o livro, elogiaram muito o trabalho, assim como na Casa de Criar tivemos alunos de faculdade fazendo perguntas sobre o material das obras, também sobre técnicas de fotografia. Então foram experiências bem diversas mas ao mesmo tempo complementares: falávamos sobre o mesmo assunto sempre, mas em cada lugar ele era recebido e abordado de formas diferentes.
BW: Fale sobre o seu sentimento de levar o seu trabalho para outros estados como São Paulo e até outros países?
Bruna: Mostrar as fotografias da Vico, de Breaking para cada vez mais pessoas e cada vez mais longe é algo que me deixa realizada. Com a Nest já tive a oportunidade de rodar muitos lugares do Brasil, mas ir com a exposição da Coolture Trip é diferente, como se fosse a minha contribuição pessoal para a cena. Em outra oportunidade, já tínhamos feito dentro de um Battle in the Cypher o lançamento do livro, na Casa do Hip-Hop de Diadema, aonde eu com meus 22 anos apresentei o livro para inspirações como Rooney, o Jaspion, o Casper, em Minas Gerais tive a honra de conhecer e falar do livro pro P.MC e foi a maior responsa, nunca vou esquecer esses momentos, aonde eu com tão pouco tempo na cena pude realizar coisas significativas e apresentá-las para pessoas que eu conhecia só pelo YouTube, por documentários, tão importantes pra cena do Brasil.
BW: Vocês saíram do Brasil e foram para o Uruguai. Uau!!! Como foi levar essa exposição para outro país? Você e a B-Girl Ramoni, duas mulheres, uma ministrando workshop e outra à frente de todas as coisas. Como foi essa troca de mulheres brasileiras com mulheres uruguaias
Bruna: Meu primeiro contato com o Hip-Hop do Uruguai foi por meio da Viky, B-Girl, MC e escritora de Graffiti lá de Montevideo, que desde 2012 não falha um Battle in the Cypher aqui em Bento (risos), foi por meio dela que eu senti (e sinto até hoje) aquele orgulho de ser quem eu sou, aquela sensação de que: “eu sou porque nós somos”. Conhecer a Viky aqui, ver tudo que ela é e representa e depois ter a oportunidade de conhecer Montevideo e tantas mulheres “fodas” que tem lá, me fez ter uma ligação muito forte com a representatividade feminina na cena e fazer a exposição lá foi só uma consequência dessa ligação. As mulheres do Hip-Hop no Uruguai sempre me inspiraram desde que as conheci, e ir pra lá ou recebê-las aqui é sempre especial.
BW: Como você vê a presença das mulheres hoje dentro da Cultura Hip-Hop? O que é necessário alcançar? São vistas e respeitadas?
Bruna: Falei em uma oportunidade algo do tipo: não precisa nos incluir, a gente sempre esteve aqui. Pois na verdade sempre estivemos na cena, às vezes não muito respeitadas, às vezes sem espaço, sem voz. Mas essa ascensão feminina não é de hoje, aonde víamos uma mulher pode ter certeza que tinham várias, nem sempre com a mesma visibilidade, essa visibilidade aumentou porque nos fortalecemos, acho que como Hip-Hop aprendemos e seguimos aprendendo a olhar mais para as mulheres e por isso vemos mais. Nos fortalecemos entre nós, o que faz com que aonde uma mulher pisa, leva várias junto, os degraus mudaram e a gente aprendeu a subir e a levar outras com a gente. Acredito que quando pararmos de entender o Breaking como algo masculino, teremos uma evolução significativa na visão perante as mulheres e isso é mais difícil do que aceitá-las (risos), mas eu acredito nessa desconstrução e farei o que estiver ao meu alcance pra mudar essa percepção. Seja por meio da fotografia ou nesses lugares de fala.
BW: Quais são os planos para o futuro?
Bruna: O plano já traçado é o segundo livro (risos), nesse momento estamos montando um mini documentário que é uma releitura do Faces da Cypher de 2018 do livro, só que com todo esse “novo mundo” que a pandemia nos mostrou. Tínhamos viagens e o início das captações do segundo livro já programadas, o livro será sobre cypher também mas em escala nacional, fotografando essas cyphers independentes pelo Brasil. Mas tivemos que adiar por motivos óbvios. Já temos o primeiro roteiro programado e assim que for possível, começarão as captações, primeiro no Sul (Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina). Esse imagino ser possível com 5 anos de trabalho. Quero aproveitar bastante o processo e o tempo deverá ser estendido porque precisamos sempre captar recursos e fazer os corres de grana pra poder pagar as viagens, que deverão ser feitas para o projeto acontecer.
Fotos: Arquivo Pessoal
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