Hoje vamos falar sobre a importância de ser dinâmico e porquê essa palavra é muito significativa dentro do Breaking.
Primeiro de tudo, o que significa dinâmica?
Se formos pesquisar a fundo vamos encontrar uma variedade de significados relacionados sobre o tema, então, vamos resumir e associar com o Breaking.
Dinâmica é caracterizada por contínuas mudanças, atividades e progresso. Geralmente, quando começamos a praticar Breaking nos identificamos com o que é mais atrativo, por exemplo, muitos B-Boys/B-Girls gostam mais de Top Rock/Footwork, outros já se identificam mais com Power Moves/Tricks e também têm outros que se identificam com as duas coisas ao mesmo tempo e etc…
Com o passar dos anos, ser bom nisso ou naquilo não é suficiente para alcançar um nível internacional, tem que ir muito mais a fundo em todos os aspectos. Estive viajando pelo mundo por alguns anos e comecei a tomar conhecimento sobre muitas concepções que eu nunca ouvi falar quando estava no Brasil e isso me fez perceber o porquê sempre foi difícil para a maioria de nós, brasileiros, ganhar as competições mundiais mais importantes.
A resposta está relacionada ao que acreditamos, somos um povo muito intuitivo e dançar pra gente está relacionado mais com a alma do que qualquer outra coisa, gostamos de expressar de dentro pra fora e fazemos isso naturalmente, porém, muitos de nós não abordamos o Breaking de uma forma mais científica.
Apenas dançar com essa energia de latino que temos não é o suficiente.
Por isso, esse tema sobre dinâmica é muito importante para que a gente melhore em outros pontos que precisamos, para finalmente chegarmos e mostrarmos a nossa essência por completo e, assim, não ficarmos sempre um passo atrás nos eventos internacionais.
Os estrangeiros estão sempre um passo à frente porque eles abordam todos os temas, como musicalidade, técnicas, criatividade, estratégias, competitividade, surpresas, personalidade e muitas outras janelas, está tudo relacionado à dinâmica. Eles estão sempre mudando, se adaptando a novas formas e concepções, sempre em progresso. Nós, brasileiros, precisamos aprender a analisar o Breaking de uma forma mais crítica. Futuramente, vou estar escrevendo sobre cada um dos artigos citados abaixo:
Você sabe o que significa:
Dinâmica de espaço e direções?
Dinâmica de níveis?
Dinâmica de ritmos?
Dinâmica de treinos?
Dinâmica de desconforto e criatividade?
Dinâmica de ambiente?
Dinâmica musical?
Dinâmica de aprendizagem?
Dinâmica de tamanho?
Todos esses temas têm se tornado parte da minha nova pesquisa, tenho aprendido com vários renomados nomes na cena mundial. Gostaria de compartilhar com todos para que vocês, da nova geração, possam evoluir muito mais.
Até o próximo artigo!
Foto: Reprodução
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Ele é de Brazlândia, cidade satélite de Brasília e começou a dançar Breaking com 13 anos. Não teve uma infância fácil, escondido do pai e da mãe, usava um pedaço do colchão para colocar na touca de giro, para não machucar a cabeça na hora de fazer o Head Spin.
O menino cresceu e evoluiu rápido, sendo o ganhador da Batalha Final em 2009, evento tradicional de Breaking que abriu portas para sua carreira na dança, mas foi com 22 anos que ficou conhecido mundialmente, sendo um dos finalistas da mundial do evento “Red Bull BC One”, realizado no Rio de Janeiro (RJ) em dezembro de 2012, o que o fez ser notícia em toda a grande imprensa brasileira. Na ocasião, Klesio batalhou com o Mounir, da França e foi considerado um dos 8 melhores B-Boys do mundo. Ele ainda foi o vencedor do reality show “Vai Dançar”, da Multishow.
Passados 9 anos, o Portal Breaking World foi atrás desse B-Boy brasileiro que tira o fôlego de qualquer pessoa que o vê dançando. Klesio hoje vive na Polônia, que é um país do Leste Europeu, na costa do Mar Báltico, conhecido por sua arquitetura medieval e pela herança judaica. O B-Boy coleciona títulos de vários campeonatos em diversos países, onde sempre foi reconhecido e respeitado. Exemplo foi o Just Battle, na China, em 2018, onde foi mais uma vez campeão. Klesio falou na entrevista sobre a infância, sobre família, sobre bullying, sobre valorização na dança, sobre Olimpíadas, sobre eventos híbridos e on-line, falou sobre tempo de pandemia e sobre o futuro! Vamos à entrevista!
BW: Queria que você falasse seu nome completo, sua idade e nos contasse um pouco da sua infância, da sua vida em família na Brazlândia. Que recordações tem desse tempo?
Klesio: Eu me chamo Kleson Silva Moreira, tenho 31 anos. Tive uma infância bastante oscilante, muitos momentos bons e ruins. Cresci em um lar com uma família cristã protestante e dominante. Tenho recordações boas e ruins.
BW: Como era o Klesio criança, em casa e na escola? Verdade que você teve problemas de bullying e que quase entrou para o mundo do crime? Como superou isso?
Klesio: Sendo honesto, eu odiava estudar e brigava bastante na escola, só conseguia me encaixar com arte, educação física. Bullying era parte da minha rotina quando estava na escola, acontecia porque eu não andava bem cuidado, todos os alunos tinham boas roupas e eu não estava autorizado a usar roupas novas pra ir à escola porque minha mãe me proibia, na mente dela roupas novas eram somente para ocasiões especiais, então andava com roupas rasgadas, tênis rasgado e eu sofria muito preconceito com isso por parte dos alunos. Recebia nomes como: passa fome, lixão, soldado da guerra, etc… Sim, quase que meu destino foi outro, na época eu tinha 12 anos e andava com uns caras estranhos do meu bairro, já cheguei até a carregar malotes de drogas como aviãozinho pra eles, mas isso foi pouco antes de conhecer a dança, quando conheci o Breaking, coloquei toda minha energia dentro disso e consequentemente mudou minha perspectiva.
BW: Quando teve o primeiro contato com a Cultura Hip-Hop? E com o elemento Breaking? Onde deu os primeiros passos?
Klesio: Meu primeiro contato com a Cultura Hip-Hop foi por meio do Breaking, me lembro vividamente no dia em que eu estava na sala de aula e quando a professora saiu, eu vi alguns alunos afastando as cadeiras, formando um espaço vazio na sala, então eu vi eles fazendo movimentos no chão, muito difícil de entender e fui pego fortemente por essa arte. Meus primeiros passos foram na minha cidade, dentro do meu quintal, nos horários em que meus pais estavam no trabalho, claro.
BW: Tiveram pessoas que te inspiraram e que foram referências para você na dança?
Klesio: Sim, primeiro de tudo, aqueles alunos da escola que eu vi dançar, depois veio meu professor, finado Gordin (Black Spin Breakers) e ao longo da minha carreira tive muitas outras influências.
BW: Como sua família via o Breaking na sua vida? Eles te apoiaram? Verdade que sua mãe descobriu que você dançava quando deu falta de um pedaço do colchão? Nos conte isso?
Klesio: Como citado, minha família sempre foi protestante e a Cultura Hip-Hop sempre foi algo marcante nos bairros, naquela época as pessoas não tinham informação, então essa cultura foi sempre associada como algo criminoso na minha área. Minha família não me apoiou no início e eles viam essa arte como a porta de entrada para as drogas e o crime, chegou até ser irônico. Teve várias ocasiões em que minha mãe encontrava evidências de que eu estava praticando essa dança. Ela encontrava os colchões rasgados por baixo pois eu retirava esses pedaços para fazer um chapéu de giro de cabeça. Ela encontrava a cerâmica de casa riscada e ouvia depoimentos de vizinhos que me viam dançando na rua. Foi uma guerra por causa dessa arte. Fiquei um mês em cárcere privado pelos meus pais. Não tinha como, eu dava meu jeito. Era uma paixão muito forte pela música, pelo estilo e pelos movimentos.
BW: Houve movimentos difíceis de aprender ou todos foram fáceis? Na sua dança tem algum movimento que é a sua marca registrada?
Klesio: Todo começo tem suas dificuldades, foi muito difícil de aprender porque não tive incentivo de ninguém. Eu olhava aqueles garotos fazendo os movimentos e tentava copiar quando chegava em casa. Sim, na dança tenho minhas próprias características e movimentos, só que a minha principal inspiração é a música.
BW: Quando começou a competir? Fale um pouco dos principais eventos que participou aqui no Brasil e se teve algum que foi especial ou que teve aquela treta…
Klesio: Comecei a competir na minha cidade na categoria de iniciantes, depois comecei a competir em Brasília nos níveis mais difíceis, na minha época a DF Zulu, QDM, Floor Riders, Black Spin, The Brooklyn, etc… eram grupos fortemente renomados. Fiz parte do grupo QDM (Quebra de Movimento), foi uma das escolas mais importante em minha carreira, por causa do mesmo eu tive a oportunidade de viajar competindo nacionalmente. Meu primeiro importante evento foi a Batalha Final 2009, onde conquistei o título de campeão, foi a porta de entrada para uma nova era em minha carreira. Fiquei bastante conhecido no Brasil por causa desse evento.
BW: Quando de fato começou a viver da dança?
Klesio: Comecei a viver da dança desde 2007 quando fui instrutor de Breaking em um projeto social da minha cidade. Logo depois, fiz parte de outro projeto, nesse período eu não era conhecido ainda e não tinha certeza de nada. Eu quase entrei pro exército nessa época, eu estava na fila já escolhido para raspar a cabeça, quando minha intuição pediu pra eu desistir e continuar com a dança. E até hoje vivo por meio da arte por causa das escolhas que fiz nessa época.
BW: Verdade que você foi vencedor do reality show “Vai Dançar”, da Multishow? Como surgiu o convite para participar e como foi nos bastidores?
Klesio: Sim, a produtora entrou em contato comigo através do Facebook, fazendo o convite. Eu estava muito tranquilo nessa competição, pois eu sabia da premiação, mas não quis pensar sobre, porque eu não queria colocar meu espírito sob pressão. Criar expectativas durante uma competição não é recomendável. Durante o reality show eu estava pensando em uma só coisa “pensar em ser o melhor pra mim mesmo o resto é consequência” foi como um mantra que me levou a ser o vencedor do reality.
BW: Em 2012, você foi para as quartas de finais com o Mounir, na Red Bull BC One, que foi no Rio de Janeiro, correto? Ficando entre os 8 melhores B-Boys do mundo! Fale sobre essa experiência e sobre o que sentiu.
Klesio: Sim, correto! Red Bull BC One foi uma experiência incrível de todos os eventos que já participei na minha vida. A adrenalina de ser responsável por representar o seu país em um mundial é inexplicável, porém, me senti prejudicado pois o calor naquele lugar estava insuportável, eu estava suando muito e por causa disso escorreguei na minha entrada contra o Mounir. Eu imagino que se o evento tivesse sido climatizado talvez não teria escorregado em um movimento simples e ter perdido a competição, eu estava muito confiante.
BW: Quando e porque você decidiu sair do Brasil? Foi difícil tomar essa decisão? Onde você mora atualmente?
Klesio: Sendo sincero, foram vários fatores que me fizeram mudar de país. Primeiro que é difícil viver da dança no Brasil e também me senti desvalorizado dentro da minha própria comunidade, principalmente depois da Red Bull. Eu me senti perseguido, muitas vezes vi em redes sociais certos indivíduos fazendo vídeos, me difamando, vi que as pessoas estavam torcendo contra mim, me senti oprimido em chegar nos lugares e sentir uma energia totalmente contra a minha dança, sem nenhuma razão. Nunca consegui entender se foi por causa do meu crescimento e isso criou um ciúme, não sei. Não foi só comigo, aconteceu com outros participantes também. Hoje eu moro na Polônia, na Europa.
BW: Conte um pouco da sua experiência morando no exterior e por quais países passou. Houve tempos difíceis?
Klesio: A experiência de morar no exterior está sendo como uma escola para minha vida pessoal e profissional. Já visitei vários países, estive em contato com várias culturas diferentes. Eu me sinto bastante respeitado pelos dançarinos em diversos países, especialmente na Ásia, eu admiro muito os dançarinos desse continente, pois eles são muito receptivos e amáveis. O nível de educação é inexplicável. Chega um momento na vida, que nem tudo é somente dançar e ganhar. Tem muitas outras coisas que te agregam e enriquecem o seu intelecto, vindo de outras culturas. Tem o lado difícil também, fuso horário, comida, estresse com agentes de imigração nos aeroportos com interrogações tipo: o que você veio fazer aqui? Cadê o dinheiro pra se manter? Você é criminoso no seu país? Muito choque de culturas. Quando você viaja bastante, você vai estar suscetível a todo o tipo de situação como essa. Graças a Deus sempre deu tudo certo.
BW: Em 2018, você foi campeão do The Just Battle, na China. Nos conte como foi esse evento? Mesmo em competições pesadas e que necessitam de uma grande concentração, você consegue se divertir?
Klesio: O sentimento que eu tive na Batalha Just Battle foi a mesma sensação que eu tive anos atrás, no reality show “Vai Dançar”. Eu vi a premiação o quanto seria e vi que o favorito da batalha era o lendário B-Boy Physics, imediatamente eu tirei essas duas coisas da minha mente e foquei em mim, nas minhas habilidades, na minha intuição. Eu sabia que a luta maior seria comigo mesmo, então, praticamente o mesmo mantra “foca dentro de você com confiança e o resto é consequência” sempre estava comigo. Às vezes, em uma competição, o ego é importantíssimo, não é errado ser arrogante no momento da batalha, é um mecanismo de defesa que impõe respeito e insegurança no seu oponente, não é agressão verbal ou física, é como você olha seu adversário e como você o trata usando sua aura, então, toda vez que eu pisei naquele palco eu trazia esse ranço, essa raiva, principalmente, quando eu batalhei contra os melhores desta competição. Consequentemente, Campeão.
BW: Morando fora do país, chegou a trabalhar em espetáculos ou fazer parte de companhias de dança?
Klesio: Sim, faço muitos espetáculos artísticos na Alemanha.
BW: Fale um pouco de suas rotinas de treino e de como se prepara para participar das competições?
Klesio: Atualmente, eu estou começando do zero. Eu sempre estive um passo atrás de ganhar as competições mais importantes do mundo por causa do nível, que vem ficando cada vez mais absurdo e quem não se adianta fica pra trás. Hoje estou me reeducando sobre muitas coisas no Breaking para se tornar a melhor versão de mim mesmo. Nunca fui muito criativo em termos de movimentos, então, minha prioridade é totalmente inovar. Procuro referências que possam me ajudar, o B-Boy Storm tem sido um grande mentor em novas concepções que preciso desenvolver. Eu treino quase todos os dias, 3 horas aproximadamente. Meus treinos são bem estudados e focados. No momento não estou competindo por causa da pandemia.
BW: Recentemente, o Breaking se tornou uma modalidade olímpica. O que acha sobre isso?
Klesio: Eu acho uma excelente ideia que o Breaking faça parte das Olimpíadas, pois é uma oportunidade para fazer o mesmo ser mais reconhecido profissionalmente dentro da sociedade. Porém, não devemos esquecer que o Breaking é uma dança com muita essência. Breaking é arte e intuição conectada com a música e espero que não se torne uma dança superficial, onde só os movimentos é o que importa e pronto.
BW: O que tem feito nesse tempo de pandemia? Como está a situação no país que mora?
Klesio: Durante esse tempo, tenho focado na minha evolução como pessoa e profissional. A situação está bem mais controlada do que antes. A economia do país segue adiante, mas sempre com restrições. E aqui as pessoas levam a sério, todos usam máscaras nas ruas e ambientes privados. Espero que em breve tudo volte ao normal em todo o mundo.
BW: O que acha dos eventos on-line ou híbridos de Breaking? Seria uma tendência para o futuro?
Klesio: Sendo honesto, pra mim é estranho que eventos se tornem on-line, não tenho nada contra e entendo que é a única maneira de manter o Breaking vivo, mas eu sinto saudades da muvuca das competições.
BW: Quais são seus planos para o futuro? Tem planos de retornar ao Brasil?
Klesio: É muito provável que em breve eu vá focar nos estudos, quero cursar Letras por aqui na Europa e futuramente cursar Ciências Forenses. Todo mundo precisa de um plano B, pois viver do Breaking é uma coisa muito incerta. Eu gostaria de voltar ao Brasil e poder ajudar o cenário da dança, para que a nova geração de B-Boys e B-Girls evoluam e conquistem mais espaço nacionalmente e internacionalmente. Têm muitos estudos dentro do Breaking que a maioria de nós, brasileiros, desconhece. Vamos ver se futuramente isso possa se concretizar.
BW: Que mensagem você deixaria para a nova geração de B-Boys e B-Girls que vão ler essa entrevista e para todos que mesmo de longe acompanham seu trabalho?
Klesio: O recado que eu deixo é que se eduquem o máximo que puderem, tudo em sua volta oferece uma oportunidade de aprendizado. Seja lá o que você for fazer, faça com paciência, não se apresse por nada. Nunca esqueça que todos nós precisamos de um plano B, nunca conte somente com dança. Aprenda inglês.
Fotos: Arquivo Pessoal
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Médicos alertam que a nova variante é mais grave, rápida e letal entre jovens: “É preciso parar os eventos presenciais!”
O estado de São Paulo registrou nesta semana 61.064 óbitos e 2.093.924 casos confirmados durante toda a pandemia. Entre o total de casos diagnosticados de Covid-19, 1.852.904 pessoas estão recuperadas, sendo que 229.822 foram internadas e tiveram alta hospitalar.
As taxas de ocupação dos leitos de UTI são de 70% só na Grande São Paulo e 69,7% no Estado. O número de pacientes internados é de 14.809, sendo 8.042 em enfermaria e 6.767 em unidades de terapia intensiva, conforme dados desta semana. Hoje, os 645 municípios têm pelo menos uma pessoa infectada, sendo 625 com um ou mais óbitos. Em todo o país são 10.869.227 casos, 9.647.550 recuperados e 262.770 mortes. Em todo o mundo são 116.463.253 casos, 65.805.310 recuperados e 2.586.760 mortes.
Mesmo com o início da vacinação, os números ainda são alarmantes! O Brasil registrou 1.498 novas mortes por Covid-19 ontem (06), com uma média de 1.455 óbitos pela doença nos últimos sete dias, após bater o recorde de mortes por Covid-19 em um intervalo de 24 horas por dois dias consecutivos, o patamar mais alto desde o início da pandemia, foram registradas 10.183 mortes nos últimos sete dias, com isso, a média móvel de óbitos bateu um novo recorde pelo oitavo dia seguido!
Somente na cidade de São Paulo, já são 6 hospitais com 100% de ocupação de leitos de UTI para Covid-19, a taxa geral de ocupação na capital paulista chegou a 77% ontem, sendo que a rede privada varia de 80% a 99% dos leitos de UTI ocupados.
Diante dessa realidade, um dos segmentos mais afetados pela Covid-19 foi o mercado de eventos. O setor registrou prejuízo de R$ 270 bilhões com a pandemia do novo coronavírus, entre março e dezembro do ano passado. As perdas levaram ao desemprego de 3 milhões de pessoas. O segmento representa 13% do Produto Interno Bruto (PIB) e tem 60 mil empresas que dependem diretamente da realização de eventos para funcionar, além de 2 milhões de microempresários. A solução? A retomada, sem dúvida, é algo desejado por organizadores de eventos para amenizar os prejuízos, no entanto, como pensar no retorno quando a Covid-19 ainda é a grande vilã do mundo e desafia a humanidade?
A vacina chegou, mas o isolamento social ainda é uma das medidas preventivas para conter a aglomeração de pessoas e, assim, evitar a proliferação do novo coronavírus. E aí perguntamos: Como será o futuro dos eventos? Quando, com segurança, será possível retornar? Será que podemos voltar aos eventos presenciais ou teremos um futuro de eventos híbridos e on-line?
A verdade é que o futuro dos eventos está sendo construído agora, baseado em experiências do que dá certo e do que não dá! Muitas respostas ainda não existem! Mas se adaptar pode significar a sobrevivência dos negócios!
Analisando essa difícil situação, o Portal Breaking World, que é voltado para a Cultura Hip-Hop e para os seus elementos, resolveu procurar e escutar a opinião de alguns organizadores de eventos reconhecidos e de credibilidade no Breaking que acontecem no nosso país e saber o que pensam e o que andam fazendo…
Começamos conversando com o produtor de eventos Alan Jhone, mais conhecido como B-Boy Papel, de Brasília. Nascido e criado em Ceilândia, formado em Marketing, ele desde 2012 organiza o Quando as Ruas Chamam, sendo um dos grandes eventos expressivos da Cultura Hip-Hop no Brasil, um catalisador e formador de B-Boys e B-Girls, o evento reúne a nova geração e também os mais conhecidos dançarinos do país em suas competições. Ele explica que, em Brasília, a situação em relação à Covid-19 continua complicada, com alto índice de contaminação e de mortes, sendo que Ceilândia é onde tem o maior número de infectados e mortes no Distrito Federal. Um dos motivos é o fato de ser a maior população entre as regiões administrativas do DF, sendo mais de 500.000 pessoas, sem falar nos problemas com a saúde e a falta de leitos para os doentes. São dele as palavras: “A situação ficou séria aqui em Brasília, mas no meu caso, depois que eu organizei toda a parte de pós-produção em 2019, eu peguei o tempo livre e me dediquei em estudos, para fazer algumas provas e como eu já tinha o projeto que seria realizado em 2020 devidamente aprovado, tudo muito certinho, eu já estava com a edição do festival garantida, então, tive liberdade para focar em alguns estudos e olha, eu dei muita sorte, pois não tive nenhum prejuízo financeiro relacionado a essa edição de 2020, porque eu não tinha começado o processo de produção do evento. Eu tinha o planejamento de começar os preparativos no mês de maio de 2020 e aí nos deparamos com a situação da pandemia que estourou em todos os lugares. No estudo pra mim foi complicado, pois eu tive que me distanciar das aulas presenciais e acabou me atrapalhando nisso, mas, felizmente, com os prejuízos relacionados ao evento eu não tive. Mas corremos sérios riscos, tenho a certeza que muitos parceiros de outros projetos estavam com eventos em andamento e tiveram prejuízos gigantescos. Agora é tempo de reinventar, eu continuo me dedicando aos estudos, conseguimos nos movimentar e apresentar a 7ª edição do festival, que foi devidamente aprovada, com a pontuação máxima no edital que ele concorreu, então, nós temos garantido para o futuro mais duas edições do festival. Mesmo no meio da pandemia não deixamos de olhar com carinho por ele e conseguimos mais essa vitória de ter duas edições garantidas! Inclusive, estamos divulgando isso em primeira mão para o Portal Breaking World. Ultimamente, além de estudar, eu tenho cuidado da minha mãe que faz parte do grupo de risco e tenho refletido muito sobre o futuro, porque nós que somos da cultura sempre temos uma vida instável, sem muita garantia, então, eu penso que nós da cultura precisamos pensar mais em como atingir essa estabilidade, para não ter mais esses baques que tivemos, por exemplo, com a pandemia e também venho pensando muito nas alternativas para o futuro, eu sou um cara proativo, inquieto, gosto de pensar longe. Até o momento não temos a intenção de realizar o Quando As Ruas Chamam numa edição on-line, isso fugiria muito do evento. Eu acho que o negócio é esperar e voltar quando for possível com chave de ouro, recebendo todos, creio que o formato on-line seria muito complicado. O Quando As Ruas Chamam tem um lance de encontro de pessoas que vêm de várias quebradas e que podem trocar experiências e nós queremos que isso seja presencial, estamos com uma energia para produzir uma festa linda no momento seguro! O momento ainda é bastante delicado, os índices de infectados ainda são altíssimos, eu penso que as pessoas que precisam fazer seus eventos e aquelas que não podem esperar, devem buscar fazer da forma mais segura possível, cuidando dos nossos com responsabilidade para que nenhum irmão pegue esse vírus maldito. Planos para o futuro é ver alguns outros projetos que eu tenho guardado saírem do papel, como tem sido muito gratificante ver o Quando as Ruas Chamam”, conclui.
Da cidade do poder para o sul do país, procuramos o Pedrinho Festa, organizador da Battle In The Cypher, que é um dos eventos de Hip-Hop mais tradicionais da América Do Sul e já tem 12 edições. O Battle In The Cypher recebe dançarinos de até 10 países diferentes por edição e anualmente tem pré-edições em países como Uruguai, Paraguai e Argentina, além de outras regiões do país. O evento tem uma programação de diversas atividades que não apenas focam numa premiação, mas sim numa construção dentro da cultura Hip-Hop. A maior importância dele se dá pelo formato que prioriza todos os elementos do Hip-Hop. Pedrinho Festa conta: “A última edição foi a edição on-line, em 2020, fora isso tivemos a edição dos 10 anos, em 2019… E sim, logo após ela, já começamos a projetar o ano posterior, tanto que tínhamos organizado edições em 2020 na Paraíba, Santa Catarina, Uruguai e Paraguai antes da pandemia, o evento já estava extremamente estruturado com diversas pré-edições realizadas, passagens compradas, datas, patrocínios, etc., já marcados. Estávamos com um projeto de captação em Mecenato aprovado, que expirou o prazo devido a pandemia. Apesar de termos tido alguns gastos, não tivemos o orçamento comprometido, pois conseguimos reverter muitos de nossos gastos, como de passagens. A nossa principal atitude foi buscar realizar de maneira on-line, mas que tivesse da mesma forma a cara do evento. Até mesmo para poder contratar os mesmos profissionais que estavam no evento e de alguma forma foram impactados com os cancelamentos de datas em 2020. Então, o fizemos de maneira on-line, mas buscamos um formato estilo festival, mantendo as atividades do BITC como a festa Hasta La Cypher, o Graffiti, os workshops e palestras, a batalha de DJs… O Battle nunca foi só uma batalha, o nosso grande desafio foi levar essa essência para o mundo digital. Em 2021, o evento tem data para acontecer: de 29 de março a 4 de abril. Será físico, ainda estamos aguardando para saber se será com público reduzido ou apenas com participantes. Resolvemos fazer agora, pois conseguimos passar um projeto importante de incentivo, com apenas 4 meses de realização e sabemos que muitas pessoas da nossa cultura estão precisando trabalhar, inclusive por isso buscamos contratar um grande número de artistas e trabalhadores da cultura Hip-Hop! Tempos difíceis, mais fácil sentar e lamentar. Sabe aquela gana de fazer a parada acontecer? Bom, a gente tem ela desde algum tempo… Às vezes, passa um filme na cabeça, de como tudo era e mesmo assim acontecia, as pessoas, no fim é tudo sobre energia, sobre as pessoas, sobre o que podemos proporcionar para as coisas serem melhores. Battle In The Cypher nunca foi só um evento, é um ideal, é um compromisso, uma retribuição. É o que somos!”.
De Bento Gonçalves direto para o Rio de Janeiro, a conversa foi com a carioca Sabrina Vaz, mais conhecida como B-Girl Savaz, uma das diretoras do evento Tropical Battle, que acontece presencialmente nos próximos dias 6 e 7 de março, realizado de forma independente, tem o apoio da comunidade Cantagalo-Pavão-Pavãozinho, onde a dança é uma importante ferramenta de transformação social. A ideia do evento nasceu em 2015, dentro de uma Crew só de mulheres, na verdade a primeira Crew de mulheres do Rio de Janeiro, que é a Manifesto B-Girls Crew, que sempre foram protagonistas de ações ligadas ao Hip-Hop carioca. Hoje, a Manifesto B-Girls Crew não existe mas a amizade entre as meninas continua! O Tropical Battle é um evento muito importante para o Rio de Janeiro, porque tem o objetivo de trazer a essência do Breaking carioca, que segundo ela não é muito identificado no Rio. Savaz conta: “Desde então, nós temos visto que influenciamos a cena com a valorização do B-Boy e da B-Girl, com premiações altas, todas as edições foram memoráveis. Até o Tropical Beneficente que fizemos para ajudar a B-Girl Branca na compra de uma cadeira de rodas ou patrocínio para as meninas irem para outros eventos, todas as edições foram especiais, a última que fizemos, em 2020, um pouco antes da pandemia, foi especial, nessa edição tivemos alguns percalços, mas aprendemos, não tivemos nem um pós-produção, porque estava tudo muito corrido, terminamos o evento e já estourou uma pandemia. Nem acreditávamos que ia rolar a edição de 2021, foi um momento de repensar a vida, o evento nunca teve patrocínio, foi do nosso bolso, as meninas foram fazer trem e metrô para ganhar dinheiro para fazer o evento, eu tive que pagar muitas contas do meu bolso. Mas Deus tem provido as coisas e está aí a edição de 2021, depois que estourou a pandemia, em 2020, nós ficamos aliviados por ter conseguido fazer um pouco antes a edição de 2020 e não estávamos comprometidos com a edição de 2021, porque nós não temos verba. Então, foi graças a Lei Aldir Blanc que está sendo possível realizar a edição de 2021, os prejuízos que eu tive em 2020 foram mais pessoal, porque nós não estávamos muito bem organizados, eu precisei tirar dinheiro do meu bolso e quando recebemos a grana da Aldir Blanc, deu para pensar na edição de 2021. Sobre se reinventar, nós nunca encaramos o evento como algo profissional ou um empreendimento. Agora que o evento está começando a ser feito por uma equipe específica, estamos começando a olhar para o evento com um olhar de empreendedorismo, nós estamos precisando nos organizar, sendo um divisor de águas. Tenho escrito editais. Não gostamos de eventos on-line, acreditamos que se perde muita coisa, já tem gente fazendo eventos on-line, se perde muito o “flevo” [sic] mas as nossas eliminatórias estão sendo on-line, quando pensamos no evento achávamos que tudo estaria bem melhor, já conversamos com a equipe que se for necessário cancelar o evento faremos. Todos os eventos aqui no Rio de Janeiro estão acontecendo, estamos providenciando os protocolos de segurança, o purificador de ar para grandes espaços, álcool, mascaras, tudo… como estamos fazendo por um edital do governo, temos com que arcar, então, precisamos apenas ver se vamos conseguir manter as datas por causa da pandemia ou não. Os cuidados não são suficientes, estamos tomando alguns cuidados aprovados pela lei, mas não é suficiente, mas uma coisa que tem me dado paz nesse momento é que tem muita gente que está precisando desse trabalho. Colocamos uma premiação alta, as atividades são gratuitas e as inscrições são R$5,00. Nossos planos para o futuro é fazer um planejamento que o Tropical Battle aconteça todos os anos. O Breaking é algo bastante resistente, ele vai continuar! Estamos acostumados a treinar sozinhos! Acredito que os eventos on-line vão morrer e só ficarão no on-line os grandes eventos que também vão fazer. O Breaking é vida!”.
Saindo da Cidade Maravilhosa e chegando em São Paulo, no coração cultural do Brasil, falamos com um dos pioneiros de eventos de Breaking no Brasil. Rooneyoyo, que é o criador da Batalha Final, evento que nasceu das festas da B-Boys Battle Party, que eram mensais quando Rooney ainda tinha loja na Galeria do Rock/Hip-Hop, no centro da cidade. A primeira Batalha Final foi em 1999, com 26 grupos, com shows e batalhas de grupo, era um evento itinerante e anual. Como B-Boy e Rapper, ele queria ver as coisas acontecendo e ninguém fazia nada, então chamou o DJ Ninja e falou que queria fazer festas mensais para tocar os discos e reunir os amigos, foi aí que tudo começou e virou o que é hoje. Ele fala: “Nossa última edição foi em 2019, foi espetacular, no aniversário de 20 anos, com 7 eventos, 1 a cada 15 dias, fizemos dentro das favelas e dentro do Shopping, utilizando as modalidades que viriam a se tornar olímpicas, com as regras e piso, som, tempo, tudo como se fosse lá, me diverti e fizemos um trabalho lindo, com uma equipe maravilhosa. Na verdade, eu já tinha programado eventos até 2028, como fazemos isso todos os anos, temos um modus operandi bem organizado, buscar recurso, reestruturamos o que temos e colocamos o evento na rua. É logico que sempre mudamos algo, para nos atualizar, mas nossa metodologia vem funcionando tem alguns anos, pois nossa equipe, repito, é ótima! Com a chegada da pandemia, cancelar foi um terror, muitos contratos cancelados, foi frustrante, mas temos que entender que a saúde de todos ainda é mais importante, eventos fazemos aos montes. Era hora de salvar vidas e proteger, foi o que pensamos. Estávamos com o conceito de 2020 pronto, artes prontas, apoios e patrocínios, tudo arranjado. Já estava comprometido financeiramente para a edição de 2020, investimos antecipadamente para adiantar nosso cronograma e deixar tudo no jeito para dedicarmos e focarmos em atender os competidores. Para que todos entendam, nos 20 anos da BF, durante o evento, eu tive um sonho e começamos a desenvolver as artes para a edição de 2020. Financeiramente tivemos prejuízos, ficamos praticamente 5 meses sem trabalho, depois, entrou umas coisas on-line e parou. Então, nos reunimos virtualmente e pensamos que não adiantava correr riscos, hoje, como presidente da Confederação Brasileira de Breaking [CBRB] não poderia colocar os breakers e produção em risco. Atualmente, paramos tudo, estamos trabalhando virtualmente e produzindo conteúdo para, quando estivermos livres para executar eventos, estarmos muito mais prontos que antes. Estamos em luto diário, com familiares e amigos falecendo, um após o outro, então decidimos não fazer nada muito barulhento, estamos lidando com a perda e pensando no futuro. Não estamos felizes, mas temos que seguir em frente e honrar os que ficaram no caminho. Para fazer eventos como tenho visto alguns por aí não me agrada e penso que a falta de estrutura e conceito desmotiva os que levam isso com amor e carinho, muito à sério, então, estamos aguardando o tempo certo para podermos fazer algo para deixar a marca. Conseguimos fazer isso com o DMC Brasil 2020, que foi um sucesso on-line. Com a Batalha Final, não tivemos apoio, então, estamos aguardando o que virá com esta vacina. O momento é incerto, governo irresponsável e alguns indo na onda… e o resultado está visível, triste e calamitoso. Com falta de leitos em hospitais, falta de oxigênio e cemitérios lotados. Sobre a volta de alguns eventos nesse momento, sou suspeito para falar, pois também sou produtor de eventos, não é porque optamos por não fazer que quem faz on-line está errado, só não gosto de alguns conceitos, mas presencial, não concordo e acho uma irresponsabilidade de quem faz e de quem participa. Não é momento para isso! Tenho visto muitos eventos on-line e presenciais com nenhuma segurança de fato, então, a resposta é não, continuo achando uma irresponsabilidade social. O Hip-Hop salva vidas e não leva elas para a tumba!”.
Outro grande evento organizado pelos produtores culturais B-Boy Dunda e B-Girl Lana, o Breaking Combate, em São Paulo, concorda com Rooneyoyo e faz coro, são deles as palavras: “Ainda não é o momento de realizar eventos presenciais. As medidas de distanciamento social devem ser respeitadas até que as atividades presenciais voltem a ser liberadas. Cabe a nós, cidadãos, respeitarmos as normas sanitárias e buscarmos formas alternativas de entrega cultural para a população. O uso de máscara, álcool em gel e lavagem das mãos não são suficientes para proteger as pessoas em meio a grandes aglomerações e, por isso, os eventos presenciais devem ser evitados. O Breaking Combate é uma celebração da cultura Hip-Hop, com foco principal na dança Breaking. Proporciona intercâmbio cultural entre os adeptos da cultura Hip-Hop a sua primeira edição foi em 2009. Nas duas primeiras edições, o evento chamava-se “Carapicuíba Battle”, porém, devido à grande dificuldade de realizar qualquer ação voltada para a cultura Hip-Hop na cidade de Carapicuíba, modificamos o nome do evento para “Breaking Combate” para assim podermos realizá-lo em outros locais”. Eles lembram: “Todas as edições foram especiais, porém, um destaque maior para a edição de 2013, que foi a primeira que trouxemos jurados internacionais, workshops, viagem totalmente paga como premiação dos vencedores e a oportunidade de poderem representar o Brasil em eventos internacionais. Foi realmente incrível receber em nosso evento B-Boys e B-Girls de todo o Brasil e também de alguns países estrangeiros e ter cobertura da mídia televisiva. A última edição aconteceu em 2017. Na ocasião, já prevíamos não realizar as edições de 2018 e 2019 por estarmos focados em outros projetos. O planejamento era retornar com o Breaking Combate 2020, mas, como todos sabemos, a pandemia chegou e todos os planos foram cancelados. Quando a pandemia teve início estávamos na fase de planejamento do evento e, por sorte, não tivemos prejuízos financeiros. O projeto da 6ª edição do Breaking Combate já estava aprovado e sendo planejado, com previsão para acontecer em agosto de 2020, quando estourou a pandemia e tudo foi cancelado. Foi assustador, mas entendemos que, com uma pandemia acontecendo, qualquer evento cultural ou esportivo deixa de ser prioridade. O lado bom das situações adversas é justamente sermos forçados a pensar fora da caixa e nos adaptar à nova realidade. Na produção de eventos não é diferente. A impossibilidade de realizar eventos presenciais e necessidade de evitar aglomerações, abriu um leque de novas oportunidades e formatos a serem explorados. Sobre o futuro, desejamos realizar a 6ª edição do Breaking Combate em 2021, após a liberação dos eventos presenciais ou semipresenciais pelas autoridades sanitárias. Optamos por aguardar e, no momento certo, realizaremos o evento da melhor forma possível, sem expor os artistas e público a riscos”, finalizam.
Ainda em São Paulo, fomos conversar com Thiago Vieira, que é B-Boy há 14 anos e arte-educador formado em Educação Física. Integrante da Crew Guetto Freak desde 2012, Thiago faz produção cultural desde o mesmo período, porém, mais sazonal. No conhecido evento Breaking Ibira, ele foi integrar a produção a partir de 2018, o evento já tem 6 anos, idealizado pelo B-Boy Mion. Foi ele quem fez as primeiras batalhas, cyphers e marcava treinos também. Na primeira batalha que Thiago foi, recebeu o convite para ser jurado, em 2014 mesmo. “E era ali no entorno do MAM (Museu de Arte Moderna), aí em determinado momento houve o contato das educadoras do museu e a partir daí começaram a abrir o espaço e oferecer estrutura de som, etc. Naquele momento, no parque, rolava muito os famosos rolezinhos…”, Thiago conta, “Sempre que realizávamos uma edição, logo em seguida fazíamos uma reunião para fazer uma avaliação e pensar numa próxima, mas no geral todas as edições foram pensadas no início do ano e, dependendo da situação, poderiam mudar de posição no cronograma ou não, na última edição de 2019, que foi a batalha de crews, nós encerramos e fomos para um rodízio de comida japonesa (risos), fomos comemorar e os planos para o ano de 2020 ficaram para janeiro. Num ano normal, a primeira edição é em março. Quando foi anunciada a pandemia, nós estávamos com quase tudo pronto pra primeira edição do ano, poucos dias depois cancelamos e ai não teve o que fazer naquele momento, só parar e avisar o público. O Breaking Ibira tem parceria com o MAM, as atividades deles pararam e consequentemente as nossas também, houve um prejuízo financeiro, principalmente para a equipe que trabalha, que sempre fecha muito com a gente e do dia pra noite perderam parte dos rendimentos, depois de um tempo, como não parecia que a coisa ia se normalizar tão cedo, passamos a nos reunir para encontrarmos uma solução, mas não foi possível fazer muita coisa, algo que tenho dito com relação a pandemia é que os trabalhadores da cultura foram os primeiros a pararem e provavelmente serão os últimos a voltarem, a sociedade não vê cultura como essencial, mesmo que assista séries e filmes todo dia, trabalhe ouvindo música e dance quando está feliz. Discutimos bastante sobre novas possibilidades, primeiro, fizemos um workshop on-line e depois fizemos a batalha, o objetivo inicial era gravarmos e depois lançar on-line, mas no fim, a melhor ideia foi o Mini Doc Breaking Ibira 6 Anos e ficamos muito satisfeitos com o resultado! Eu fui bastante afetado pela pandemia, 80% de todos os meus rendimentos foram afetados, bem complicado, mas não senti que devia entrar em pânico, aproveitei para estudar e fiz muito isso e graças ao “tempo” que tive, concluí outra graduação e já tenho outros projetos em mente, nesse sentido a pandemia ajudou a clarear os pontos onde tem que focar para manter estabilidade, não que ela seja real, não se pode ser estável sempre, mas é possível se planejar. A edição de novembro inicialmente seria on-line, mas seria gravada e os B-Boys batalhando no presencial, nas batalhas onde cada dançarino ou dançarina responde de casa, a gente observou bastante o que estava rolando e não sentimos que estava desenvolvendo bem, pois tem várias limitações, uma delas é a qualidade da conexão, a outra é que uma batalha de Breaking on-line perde um fator que é importantíssimo, que é a energia trocada, para mim é como uma luta de MMA on-line, numa batalha de Breaking você que está lá sente, o público sente, a intenção, a energia do B-Boy ou da B-Girl, se está com vontade de botar fogo, se está com medo, indiferente, arrogante… e o B-Boy ou a B-Girl que responde é diretamente afetado por essa energia e ele pode responder! É isso que deixa a batalha interessante. Então, nós fizemos uma edição em novembro, presencial, num momento em que os números da pandemia tinham caído muito, mas mesmo assim foi complicado, teve gente que tirou a máscara, se abraçou… no calor da batalha a galera esquece… eu particularmente não julgo, tem gente que anda de ônibus ou trem lotado todo santo dia, como dizer para ela que a única medida de distanciamento social possível é justamente o lazer dela? Não posso falar nada dela, mas nós, Breaking Ibira, não faremos presencial ainda, não vamos incentivar ninguém a se arriscar… pela nossa experiência, vimos que era difícil a galera manter 100% dos cuidados, não dava para contar com isso, particularmente, até acho que as medidas juntas são relativamente efetivas, mas não acho que serão seguidas. É difícil estabelecer parâmetros dentro de uma situação tão incerta, no geral o plano principal é voltar… mas quando tiver menos risco, sendo início de ano, pensar em como queremos continuar é fundamental, temos muito mais limitações agora e sabemos o que não queremos, temos uma ideia do que queremos. Batalhas? Sem público, on-line, sim, mas quem está batalhando tem que estar frente a frente apenas com uma imagem de qualidade, sem aqueles cortes de conexão que acabam com a experiência. No momento, estamos mais propensos a dar continuidade ao Mini Doc Breaking Ibira. Acredito que a vida será mais on-line, estudar será mais on-line, trabalhar será mais on-line; alguns eventos que tiverem sucesso nas lives vão permanecer no formato, mas vai sobreviver e permanecer aqueles que tiverem uma estrutura excelente, internet de altíssima velocidade, equipe rápida e eficiente; e as situações mistas, eventos transmitidos mas que também têm público presente e a questão da inserção do termo esporte ou “esportivização” [sic] vai estar cada vez mais em discussão, talvez isso afete os eventos, mas ainda não dá para falar. Sair ou não pra treinar, eu não estou indo treinar, mas sei que treinar pode ser parte da sobrevivência, da paz interior, portanto, não o julgo se estiver no corre, mas lembre-se de manter o distanciamento, se possível treine só com sua Crew ou, melhor ainda, só com um amigo ou amiga. Que Deus nos proteja e que venham dias melhores pra todos nós!”.
Então, o que podemos esperar do futuro? E o que temos de concreto?
Então, o futuro dos eventos será on-line?
Para alguns profissionais do ramo de eventos, talvez o futuro será compósito. Trabalhar de forma mais ampla a experiência dos eventos. O fato é que não existe uma receita de bolo.
Um dos novos produtos em tempos de pandemia é o evento híbrido. Combinando atividades presenciais, para um público reduzido e streaming, com possibilidade de transmissão ao vivo para milhares de pessoas, o formato configura uma tendência. “Diante dos desafios do setor, os eventos híbridos tornaram-se a melhor alternativa para o momento atual”, afirma Marceli Oliveira em uma entrevista recentemente publicada. Superintendente do complexo Expo D. Pedro, um dos maiores espaços multiuso para eventos do interior de São Paulo, ela garante que os eventos híbridos vêm transformando a interação do público. Não mais em grandes espaços, mas acomodado em estúdios e salas menores, com todo o protocolo de segurança contra o novo coronavírus, o participante tem a oportunidade de experienciar presencialmente o evento. A transmissão por streaming permite que se participe remotamente.
Outra vantagem do novo formato é sua capacidade para atender de pequenos a grandes eventos. A infraestrutura dedicada a este formato permite se adequar ao número de participantes e às necessidades de cada evento. “O evento híbrido foi uma forma que o setor encontrou de se reinventar para apresentar novas soluções para as necessidades do cliente”.
Na agenda 2020 do Complexo, 30% dos eventos presenciais migraram para híbridos, destaca Marceli Oliveira. “Este fato nos surpreendeu de forma muito positiva”, afirma. Os presenciais, de acordo com a superintendente, mantêm-se de forma linear e crescente para os próximos anos. “Mas os eventos híbridos conquistaram seu lugar como produto em nosso portfólio, investimos em soluções e infraestrutura. Internet de qualidade é prioridade, completa. Se adaptar é a palavra dos próximos dias meses ou até anos!”.
Um alento neste momento de crise a Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc (Lei nº 14.017, de 29 de junho de 2020) que repassou mais de R$ 3 bilhões de recursos federais para ações emergenciais do setor cultural em estados e municípios. Segundo a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, “foram repassados no estado um total de R$ 264,5 milhões para 4.095 projetos culturais aprovados e contratados nas 25 linhas do ProAC Editais LAB. Com isso, em 2020, foram concluídas as etapas necessárias para assegurar a destinação por meio da Lei Aldir Blanc, de R$ 272.165.500,00 ao setor cultural e criativo de São Paulo. Ao todo, o Governo do Estado recebeu R$ 281.838.497,67 do Governo Federal, sendo R$ 264.155.074,63 relativos à cota original do Estado e R$ 17.683.423,04 relativos à reversão de valores não utilizados por municípios. O índice de execução, portanto, foi de 100% do valor recebido inicialmente e de 96,9% do total recebido”.
Após a polêmica gerada com o setor cultural depois do anúncio da suspensão do ProAC Expresso ICMS e a criação de uma nova linha de editais denominada ProAC Expresso ICMS, a assessoria de imprensa da secretaria informou que “sobre o incentivo fiscal por fomento direto, o Governo do Estado de São Paulo vai substituir o ProAC Expresso ICMS (programa de incentivo fiscal à cultura) por um programa de fomento direto a projetos culturais com recursos orçamentários, o ProAC Expresso Direto, mantendo o mesmo valor (R$ 100 milhões) e adotando normas e procedimentos semelhantes. Não haverá perda para o setor cultural e criativo. A medida valerá para 2021, 2022 e 2023 e foi tomada para enfrentar o déficit fiscal gerado pela crise da pandemia do coronavírus. O decreto orçamentário com este valor será publicado em breve. Posteriormente sairá o regulamento do novo ProAC Expresso Direto, a ser elaborado pela Comissão de Análise de Projetos (CAP) da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, que será a instância de análise e seleção de projetos. Será feita uma consulta pública para que a sociedade civil possa enviar contribuições. Os proponentes que tiverem projetos selecionados receberão os recursos diretamente. Com isso, o Governo do Estado de São Paulo reafirma seu compromisso com a valorização da cultura e o estímulo ao desenvolvimento do setor cultural e criativo. O ProAC Expresso Editais e o Programa Juntos Pela Cultura serão mantidos e também terão em 2021 recursos em patamar semelhante ao de 2020”.
O Portal Breaking World indagou sobre as perspectivas da pasta para o setor cultural em 2021, principalmente no que diz respeito ao cenário pós-imunização. São do Secretário de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, Sérgio Sá Leitão, as palavras: “Para 2021, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa trabalhará para a manutenção, o aperfeiçoamento e a ampliação do trabalho realizado pelas instituições culturais do ecossistema de cultura do Governo do Estado de São Paulo, que conta com cerca de sessenta instituições, espaços culturais e corpos artísticos como os Museus, Fábricas de Cultura, Oficinas Culturais, OSESP, Cia de Dança SP, Sala São Paulo, Teatro Sérgio Cardoso, entre outras. Além disso, teremos o ProAC Expresso Direto, o ProAC Expresso Editais e o Juntos pela Cultura, programas de fomento, que em 2019 tiveram um valor recorde, batido em 2020 e que esperamos bater em 2021, até porque é um investimento público que se tornou ainda mais fundamental diante do quadro da crise. E temos algumas novidades previstas como a criação de três novas Fábricas de Cultura, em Ribeirão Preto, em Heliópolis, na capital e em Iguape, na região do Vale do Ribeira, parte do programa Vale do Futuro; a reabertura do Museu da Língua Portuguesa e seguimos a todo vapor com o restauro e a ampliação do Museu do Ipiranga que será reaberto para a população em setembro de 2022. Sobre a retomada das atividades culturais, continuaremos seguindo todas as exigências, orientações e protocolos preconizados pela Organização Mundial da Saúde e pelo Centro de Contingência da Covid-19 do Governo do Estado de São Paulo. Este ano, tudo que faremos será on-line e, na medida das possibilidades, presencial. Afinal de contas, a pandemia continua aí e precisamos continuar tomando todos os cuidados até que haja a vacinação em massa da população. Mas este ano, a previsão é que todas as nossas atividades, os nossos programas e ações passem a ser híbridos: presenciais e on-line.”, conclui.
Para Zé Renato, produtor cultural que participa dos Fóruns Emergenciais Municipal e Estadual de São Paulo e integrou o grupo de trabalho da sociedade civil para implementação da Lei Aldir Blanc junto à secretaria de cultural da capital paulista, a Lei Aldir Blanc foi importante para que as pessoas tenham algum recurso, mesmo que parco, para sobreviver nestes tempos de pandemia. Ele explana: “Ao mesmo tempo que chegou em pessoas que nunca tiveram oportunidade ou acesso, ainda teve processos de inscrições complexos, mecanismos de comunicação com a sociedade falhos ou inexistentes, e não fosse a organização da sociedade civil no sentido de realizar uma busca ativa e tutoriais de saneamento de dúvidas, o impacto seria ainda menor do que foi. Seria melhor se os governos tivessem ouvido a sociedade civil na criação de inscrições simplificadas, sem burocracia, com ampla divulgação e pontos de apoio para inscrição e atendimento de um número muito maior de contemplados, com valores menores, melhor distribuídos. Tudo isto era possível, mostramos caminhos, e o poder público se negou a ouvir, na maior parte de seus aspectos. Ao mesmo tempo que, cotidianamente, recebemos mensagens de agradecimentos de coletividades que só conseguiram por causa das ações coletivas que a sociedade civil realizou e que terão acesso, neste momento, aos recursos, muitos deles pela primeira vez na vida”, para o produtor, os critérios utilizados para seleção dos projetos foram “frágeis, quando se pensa num auxilio emergencial. Na implementação da lei, na maior parte dos lugares, levou-se para a Lei Emergencial de Auxílio imediato a mesma lógica meritocrática dos editais concorrenciais usados habitualmente pelo poder público. Poderia ser mais simples e ousado, como por exemplo, a partir de um cadastro comprovando atuação na área a pessoa receber um recurso emergencial e ponto. Qualquer coisa além disso, no momento pandêmico, mostra-se concorrencial”, conclui.
Sobre a retomada pós-pandemia, Zé Renato declara: “Acho muito difícil voltarmos a uma possibilidade de atuação regular no ano de 2021, face o recrudescimento da pandemia e a péssima gestão da crise realizada pelo governo brasileiro. Para a sobrevivência do setor cultural ainda dependeremos do uso da verba da lei emergencial, que na maior parte dos lugares foram pagas apenas no final do ano ou estão sendo pagas no começo deste, e da ampliação desse tipo de ação, seja por nova aplicação de recursos do Fundo Nacional de Cultura, na atuação de Estados e Municípios em legislações próprias de auxilio emergencial e outras ações do gênero, pois neste ano não teremos uma atuação regular dos nossos pares”. Sobre os eventos on-line, o produtor opina: “Eu acho que chegaram para ficar, terão seu espaço, mesmo que não prioritário, como aconteceu em 2020. Ainda que tenha sido do ponto de vista estético bastante questionável os resultados, em minha opinião, pois na maioria das vezes apresentou-se coisas adaptadas e não criadas para o modelo on-line, ao longo do ano acabaram aparecendo algumas iniciativas que apontaram para uma “criação para este modo de troca”, com resultados interessantes. Por isso, acho que ainda teremos um caminho a percorrer até entender que tipo de ações podem ser para este modo on-line e o que tem potência para este canal. Acho que será assunto para anos ainda.”, finaliza.
Para os infectologistas e médicos que estão na linha de frente de combate a Covid-19, só existe uma forma de deter esse vírus, que é respeitando o isolamento social. Explicam: “Eventos têm alto potencial de transmissão da Covid-19. Entram na categoria conhecida como “super spreader”, ou supertransmissores. Ao longo da pandemia, cientistas se debruçaram sobre o fenômeno dos indivíduos ou eventos que têm um papel decisivo em espalhar a doença”. Dr. Joaquim Keller, que no passado era B-Boy, explana: “Cada vez que um evento acontece, mesmo com todos os cuidados recomendados, temos uma explosão de novos casos. Precisamos parar agora para prosseguir lá na frente. Acho que alguns organizadores de eventos deveriam pensar sobre suas responsabilidades nisso tudo, pensar em algumas coisas, como melhor que dar uma oportunidade para o próximo pagar as contas é garantir que ele esteja vivo no futuro. Estamos lidando com novas variantes que não conhecemos, mas que sabemos que são mais graves, rápidas e letais entre jovens, não temos mais espaços nos hospitais e nas UTIs, sejam públicos ou privados. Sem falar nos jovens assintomáticos que estão espalhando as variantes! Quando uma pessoa resolve fazer um evento, uma festa ou aglomerar, ela se torna responsável por cada vida ali presente. A pergunta é: queremos ser responsáveis pela morte dos nossos amigos e irmãos? Se o Hip-Hop é vida, porquê estamos caminhando para a morte? Que consciência estamos tendo em relação a esse assunto? As vacinas chegaram, mas ainda temos apenas 3% da população brasileira vacinada! A minha opinião é que reflitam, se cuidem e cuidem do próximo. E permaneçam vivos!”.
Observação: No dia do fechamento dessa matéria, recebemos a informação que os organizadores do Battle In The Cypher, que acontece de 29 de março a 4 de abril, optaram por realizar o evento no formato virtual. A decisão foi de fazer um encontro mais seguro, diante do contexto atual da pandemia pelo coronavírus no Rio Grande do Sul e no Brasil. No Rio de Janeiro, o evento Tropical Battle, que está acontecendo nesse momento, devido ao Decreto 48.573 cancelou os workshops presenciais, a tradicional Cypher no Arpoador e a batalha de iniciantes acontece no domingo, junto com a principal. Apenas competidores poderão estar presentes no local, acompanhantes não poderão entrar e nem público expectador.
Fotos: Arquivo Pessoal / Reprodução
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“Nós que somos diferentes, somos carimbados como loucos. Eu gosto de ser visto dessa forma, pois foram os loucos e malucos que melhoraram o mundo! Talvez se eu fosse diferente eu não gostaria de mim!” (Nelson Triunfo)
Ele nasceu no nordeste do Brasil, numa cidade localizada na parte setentrional do Vale do Pajeú, local de um povo hospitaleiro rodeado de serras e vegetação. O nome da cidade, Triunfo, originou-se de uma luta ocorrida entre uma poderosa família dos Campos Velhos, da cidade de Flores e os habitantes da povoação da Baixa Verde. No turismo, o município tem o privilégio de reunir tantos atrativos, a começar pelo clima, que contradiz a aridez do sertão nordestino, com temperaturas oscilantes entre 8ºC no inverno e 28ºC no verão. Está a 400 km de Recife e a uma altitude de 1.004m, tem vegetação diferente da que predomina na região e uma variedade de lugares a se visitar sem similar em todo Sertão nordestino. Com tudo isso, passou a ser conhecida como “O Oásis no Sertão” mas foi um de seus filhos que a encheu de orgulho e a tornou famosa em todo o mundo adotando seu nome como sobrenome, estamos falando de Nelson Gonçalves Campos Filho, mais conhecido como Nelson Triunfo (66), filho de sanfoneiro, o menino da roça ganhou o mundo sendo considerado o pai do Hip-Hop brasileiro. Nelsão, como é chamado carinhosamente por todos, iniciou sua carreira artística como dançarino de Soul e Funk na década de 1970, sem dúvida sempre foi a figura-chave na história da cultura Hip-hop no Brasil. Genial, bem humorado e dono de uma personalidade marcante. O Portal Breaking World teve a honra de bater um longo papo com ele e agora apresentamos para vocês, confiram!
BW: Nelson, você nasceu em 1954, em Pernambuco, correto? Queria que você falasse um pouco da sua infância e da sua família. Que lembranças tem dessa época? Nelson Triunfo: Falando um pouco da infância vem todo um princípio que eu tive, que foi muito importante em toda a minha trajetória, eu fui privilegiado quando eu nasci lá na divisa de Pernambuco com a Paraíba, na verdade foi em Triunfo. Foi uma infância de moleque do interior de uma cidade simples, que também conviveu com a roça. A roça foi muito presente na minha infância, às vezes, nas férias, meu pai passava no sítio conosco, eu tomava conta de gado e tudo, e ao mesmo tempo eu estudava em Triunfo e ia apenas à noite para dormir lá. Eu trabalhei muito no sítio, fiz roça, fazia colheita de goiaba, bananas. No colégio eu sempre fui muito bom aluno, sempre fui um dos primeiros da classe. Eu tive uma base forte, naquela época já tinha o samba, já tinha o frevo, o maracatu muito presente! O forró! Luiz Gonzaga estava estourado naquela época e fazia muito sucesso! E fora isso, eu já curtia Beatles, Jovem Guarda, o som Black lá de fora. Na minha cidade, eu vi muitos filmes históricos com Gene Kelly, Fred Astaire, nessa época que eu também aprendi dar pião e espacate, os mortais. Tenho lembranças muito boas de festas de São João, eu com 13 anos ia tocar no forró com aquela sanfona, meu pai era sanfoneiro e eu já arranhava um pouquinho, às vezes nós íamos para festejos que tinha fogueira. Nós fazíamos milho na fogueira. Me lembro da moenda dos engenhos para fazer rapadura, por muito tempo a rapadura foi o açúcar do nordeste, era algo tradicional. Na época da cana de açúcar aquilo era uma delícia! O cheiro do mel, da cana de açúcar viaja quilômetros. As brincadeiras do colégio, que fazíamos corridas e olimpíadas, natação, tudo isso tinha no nordeste. Muitos imigrantes levaram esses avanços para lá. Triunfo chegou a ter o terceiro colégio mais importante do Brasil. Eu gostava de ficar na praça à noite, namorando as menininhas (risos), nós chamávamos de conquista, nós olhávamos para elas, se ela não tirasse o olho de você é porque estava interessada, tinha alto falante, você pagava para tocar as músicas e podia oferecer para quem desejasse. Depois da última música, tinha o cinema. Antes de chegar a luz em Paulo Afonso, ela só ia até às 22h10, depois disso era vela. Nessa época, não tinha televisão, ainda era só rádio. Na Copa de 70 é que chegou a televisão preto e branco mas vimos mais chuvisco do que imagem. BW: No tempo que o rádio chegou dentro de sua casa muita coisa mudou? Se aprofunde mais nos interesses culturais que tinha naquela época, além do frevo, do samba, do maracatu, do forró… Você viveu várias “ondas culturais”. Fale das influências que sofreu?
Nelson Triunfo: Eu já dançava muito! Dançava o frevo, que era tradição, o samba, o forró, que na época era chamado de pagode. Na minha época, pagode significava uma festinha. Vamos num pagode? Vamos numa festinha? Não tinha nada a ver com o samba que eles chamam hoje de pagode. Nessas festas, rolava muito uma mistura de Beatles, Jerry Adriani, Roberto Carlos, Renato e Seus Blue Caps, The Fevers, Martinho da Vila estava começando… eu vivi tudo isso, além das danças regionais, por isso que tive uma grande diversidade cultural eclética. Eu via o que acontecia lá fora também, como eu tinha vontade de conhecer Nova York, Alemanha! Mas eu pensava que era tudo distante… E hoje, graças a Deus, eu já conheço todos esses lugares! As influências que eu sofri com os tipos de dança, uma dança sempre arrastou a outra, as danças não são iguais, mas têm passos que se repetem entre uma e outra, tudo isso me alucinou um pouco, me trouxe alegria, eu comecei brincar de uma forma que virou verdade e todo mundo gostava e aplaudia. E tudo isso passou a fazer parte da minha vida, foi quando eu tomei a decisão de fazer da dança minha profissão.
BW: Na década de 70 muita coisa aconteceu, correto? Você se mudou para a Bahia, começa a frequentar os famosos Bailes Blacks, começa a gostar muito nessa mesma época de James Brown e cria uma estilo próprio de dança. Comente sobre como eram esses bailes, o que rolava e comente como foi a criação dos “Invertebrados” que foi o primeiro grupo de dança Black do nordeste? Nelson Triunfo: A dança Black não tinha comércio no Brasil, hoje nós temos batalhas de Hip-Hop, temos batalha de Soul, de Breaking, isso não tinha naquela época, eu fui um dos primeiros caras a fazer disso aí um produto cultural e alguns que queriam ter em determinado local, nos contratava. Em 1984, na novela Partido Alto, nós abríamos a novela, fomos pagos para isso, então, a dança era uma profissão também. Trabalhava de uma forma consciente, focando também no social. Nossa dança também é um sentimento que se carrega. Exemplo são as crianças: quando você coloca um som e ela começa a balançar a cabeça, quem foi que ensinou a ela que tinha que balançar a cabeça? Então, é um sentimento! Sobre os Invertebrados, quando eu saí de Triunfo, com 16 para 17 anos e fui estudar em Paulo Afonso, lá tinha um programa no Cine Coliseu, ele ficava no meio de uma praça e tinha um cinema, um palco lindo e lá tinha um programa que era parecido com o Programa do Chacrinha, tinha calouros, tinha grupos lançando músicas, o nome do programa era “O Coliseu Show” e aí eu comecei a me apresentar ali, a dançar, e chegou um cara do Rio e tinha outro amigo meu de Paulo Afonso, que pediu para subir no palco para dançar comigo e aí nós dançamos “Sex Machine”, do James Brown. Nossa! Foi uma gritaria! Foi muito legal e quando nós descemos do palco, veio uma senhora e perguntou assim: “Meu filho, nossa! Como vocês dançaram, são lindos, são maravilhosos! Vocês não têm ossos!”. Aí perguntou: “Qual o nome do grupo?”, e aí eu aproveitando o “não tem ossos” dela, já inventei na hora e respondi: “Por isso o nome do nosso grupo é Invertebrados!”. Daquele dia em diante nos tornamos os Invertebrados (risos). Já os Bailes Blacks é mais nos meados dos anos 70, o grande auge no Rio de Janeiro foi 1976, mas continuou em 1977, 1978, aqui em São Paulo foi até 1986, aí depois terminaram os Bailes Blacks, pois já tinham outras coisas entrando, depois se tornaram algo mais simples, sendo o mesmo pessoal hoje que faz baile de nostalgia, que usa mais samba rock. No Rio, era mais soul e em São Paulo era soul e samba rock e as letras eram legais, isso aconteceu no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília e Porto Alegre, foram cidades que concentraram os Bailes Blacks. Depois, se espalhou para o nordeste e para algumas cidades do interior. No Rio, acontecia em Barra Mansa e em Volta Redonda, Teresópolis. Mas nos anos 80 já começou a se misturar com o Hip Hop. BW: Nesse tempo você deixa o cabelo crescer, criando uma imagem que iria o seguir pelo resto da vida. Ficou décadas sem cortar o cabelo! Nos fale da importância desse visual em todo o contexto?
Nelson Triunfo: O meu estilo vem de uma coisa de criança, eu era uma criança muito curiosa, lia sobre tudo, nisso eu puxei o meu pai. Mesmo sendo criado na roça eu era bem aculturado. Eu sempre quis ser meio maluco e os meus pais não deixavam (risos). No sítio mesmo eu já fazia batuque, já fazia festas, campeonato de futebol, eu sempre fui meio doido, mas não tinha liberdade. Quando eu fui morar sozinho, virei um Black Power: era bonito e eu gostava! Nos EUA estava rolando o Festival Woodstock e eu sempre estive atualizado com tudo que rolava lá fora. Nessa época, eu já fazia parte da resistência, fui para Brasília, passei três anos trabalhando mas com o cabelo do mesmo jeito. E depois, vim para São Paulo. Até hoje eu nunca cortei o cabelo! Estou há muitos anos longe de Paulo Afonso, foi onde tomei a atitude de deixar crescer o meu cabelo, fiquei tão famoso lá que eu saí de lá em 1974 e até hoje os moleques deixam o cabelo crescer como o meu (risos). E quando o cabelo fica grande chamam de Nelsão (risos). Os meus fãs do Brasil inteiro e os que me conhecem de fora, eles acham uma coisa muito legal minha, que é aquela hora quando eu começo a dançar e tiro a touca e solto o cabelo (risos), eles adoram essa parte, eu também fazia no futebol, porque eu jogava futebol e toda vez que eu fazia um gol eu tirava a touca e balançava o cabelo, é minha marca registrada! Sem o cabelo não é o verdadeiro Nelsão! É a verdaeira resistência que ninguém conseguiu me engravatar, ninguém conseguiu cortar ele, ninguém me forçou a seguir algum modismo. Desde de 70 eu fui Black Power até hoje! Talvez o único cara do Brasil que é Black Power daquela época. Ele já está caindo um pouco, já tenho 66 anos, não é o que era antes!
BW: Em 1976 você chegou em São Paulo, como foi sua chegada na terra da garoa? Foi nesse tempo que você se dedicou completamente a dança, participou de bastante shows, fazendo parte do Black Soul Brothers. Pode comentar? Nelson Triunfo: Começando em Paulo Afonso tinha alguns grupos que me chamavam para dançar e quando chegava a hora eu fazia o maior sucesso. Foi lá que eu comecei a dançar! Isso acontecia no final de semana, pois eu trabalhava. Em Brasilia não foi diferente… eu trabalhava em topografia, estudava à noite e no final de semana eu ia para os bailes. Às vezes, nós iamos para o Rio para curtir os Bailes Black Rio, comprava aqueles sapatos pisantes… Aí em 1976, eu vim umas duas vezes para São Paulo, mas eu vim para fazer televisão: Silvio Santos, Chacrinha, aí pronto! No final de 1976, eu terminei os estudos em Brasília e no início de 1977 eu vim de vez para São Paulo, mas quando eu vim para São Paulo eu decidi que não queria mais trabalhar com topografia e que iria me dedicar aquilo que sempre eu gostei, na música, na dança, nas composições. E comecei forte, em 1977, com Tony Tornado, Miguel de Deus, Moisés da Rocha do Samba Pede Passagem, que na época ele tinha uma equipe de Black Music, já conhecia as equipes do Rio de Janeiro, quase sempre eu ia para lá! Nessa época, a Black Rio estava estourada! E naqueles anos, eu já tinha dentro da minha dança o Robô, o Wave, um pouco de giro de cabeça, eu fui uma das primeira pessoas a fazer movimentos de Breaking aqui no Brasil. Em 1982, já era possível aqui ver pessoas dançando Popping e em 1983, tem um vídeo muito interessante chamado “Gilberto Gil Funk-se Quem Puder”, nesse tempo nós já dançávamos nas ruas, mas dançávamos mais Funk. É possivel ver o Original Funk e Cia. saindo do Soul e entrando na Dança de Rua. Mas na verdade, nunca saímos do Soul Funk, só entramos de cara no Hip-Hop e estamos aí até hoje, numa grande mistura no Freestyle. Tem as coisas originais, mas sempre aparecem as coisas novas, as novidades!
BW: Em 1977 acontece a gravação do disco de Miguel de Deus e Mr. Funk, de sua autoria, está no disco. E ainda na década de 70 surge o Funk e Cia. Nos conte sobre esse trabalho e sobre o grupo?
Nelson Triunfo: Na verdade, em 1977 foi um ano que aconteceu muita coisa, eu fui na TV Tupi, onde hoje é a MTV e lá eu encontrei o Tony Tornado, o Moisés da Rocha, que trabalhava na Difusora, eles me convidaram para um baile que era grande em São Paulo, na Associação Atlética São Paulo, inclusive eles convidavam equipes do Rio de Janeiro, para fazer som com eles e alí surgiu o Miguel de Deus, que me convidou e até no disco dele tem uma musica que é minha, o Mr. Funk e também criamos a Black Soul Brothers, foi o nome do primeiro grupo que eu formei em São Paulo, existiu apenas para o trabalho do disco de Miguel de Deus. Assim que acabei esse trabalho, pensei em formar um grupo bem maior e potente, foi quando eu pensei no Funk e Cia. e em 1977 fui montando o Funk e Cia. com pessoas muito boas, pesadas! Eram 10 componentes! Todos foram escolhidos a dedo! Eu formei o Funk e Cia. com os melhores dançarinos da Black Music de São Paulo. Foram as que participaram do Funk-se Quem Puder. Passamos do Soul para o Hip-Hop, depois vieram outras formações do Funk e Cia. com os anos os componentes foram mudando. Hoje existe o Funk e Cia. mas atualmente é mais dançante e cantante. Mas a formação pesada foi de 1978 a 1983. Eles foram escolhidos de uma forma bem exigente, eu ia nos bailes blacks e via os caras dançarem, entrarem na roda e as vezes pintava aquele que dançava muito, aí eu conversava com ele e o convidava para o Funk e Cia. Eram os melhores dançarinos da Black Music de São Paulo. BW: Como foi participar de shows de artistas tão importantes como Tim Maia, Gilberto Gil, Sandra de Sá e Jorge Ben Jor? Verdade que o Tony Tornado te chamava de “O Homem Árvore”? Nelson Triunfo: Foi importante eu dançar com todos esses nomes da Black Music Brasileira, porque eu também era um astro da dança, então, eu me sentia em casa e me dava muito bem com todos, era muito legal e no caso do Tony Tornado, a primeira vez que ele me viu os caras estavam junto com ele, o Serginho e falaram “nossa, o cabelo dele parece uma árvore!”. E ele disse “verdade parece um homem árvore” (risos). E na hora de um show, quando foi me apresentar, “agora com vocês, pessoal, o Homem Árvore”… Aí pronto, nunca mais ele me apresentou diferente desse nome e outra coisa, nos bailes blacks do Rio e do Sul que tinham os melhores dançarinos, que eles me respeitavam muito. No Black Rio o meu nome era o Homem Árvore!
BW: Em 1978, James Brown veio ao Brasil. Você conversou com ele… Como foi conhecer James Brown? O que vocês conversaram? Verdade que você ganhou um presente dele? Fale da foto icônica e emblemática feita por Penna Prearo onde você aparece? Nelson Triunfo: Foi muito legal! Nos encontramos no Aeroporto de Congonhas, estava o Paulo Inglês, que era o nosso intérplete e mais alguns caras da Chic Show. Batemos um grande papo, eu disse a ele que gostava e que era um fã do ritmo dele, falei que eu era um dançarino no Brasil, que existiam os bailes blacks no brasil e ele disse que tinha visto reportagens sobre isso e tudo e eu disse para ele que o show no Palmeiras ia ter muita gente! Dancei um pouco para ele ver e ele disse: “The best, the best!”. Aí ele me presenteou com uma capa a qual eu levei para o show que eu iria me apresentar depois dele e infelizmente na hora que eu fui me trocar no camarim a capa sumiu. Alguem entrou lá e só de maldade levou a capa. A foto me mostra neste show com a capa antes dela ser furtada! BW: Nelson, comente a importância de James Brown para a cultura mundial, fale sobre o legado que ele deixou e nos diga o que sentiu quando recebeu a notícia do falecimento dele em 2006? Nelson Triunfo: A música do James Brown sem dúvida foi uma das maiores revoluções da música black do mundo, foi uma música que trouxe em si a dança, as mudanças, o próprio Original Funk virou várias outras coisas, inclusive até o Heavy Metal veio do Funk. O Funk é uma música muito louca. A grande maioria samplearam James Brown, eram músicas que se tornaram muito conhecidas do povo, o Rap cantado em cima daquelas bases, já pegava moral também. Ele foi um cara único, que quase não deixou nada para ninguém fazer a maioria das Danças Urbanas, vem do Original Funk. Sem dúvida é a maior base original para vários estilos, que são esses que rolam inclusive dentro da nossa Cultura Hip-Hop, quando estamos nas festas que têm os Poppers, os Lockers, B-Boys, B-Girls, até o House e o Freestyle, em todos esses estilos de dança, a base deles são do Original Funk. A noticia do falecimento dele foi muito triste, me desmontou, foi um tempo muito ruim e muito triste, ele não tinha sinal nenhum de estar ruim e de uma hora para outra partiu.. foi algo louco! Eu me lembro quendo eu voltava de Berlim, em 2006, era dezembro e eu vim chorando dentro do avião, pois estava escutando uma rádio e tocou aquela musica dele “O Mundo dos Homens”. O sentimento que eu tive foi de uma perda muito grande!
BW: Muitos te consideram o pai do Hip-Hop no Brasil, fale da sua ligação com toda a cultura e com o Breaking? Como era o Breaking na década de 80? O que se mostrava nas rodas? E nos fale dos dias e da importância da São Bento? Nelson Triunfo: Na verdade o Breaking aqui no Brasil, no final dos anos 70, o Funk e Cia. já fazia o Robô, o Wave, inclusive eu tinha três pessoas no grupo que eram capoeiristas, eles faziam Head Spin, davam mortais, já tinha um bocado dessas coisas que hoje os B-Boys fazem aí, depois chegou o Six Step que era o Footwork, quando nós fomos para a rua em 1973, já tinham caras fazendo Moinho de Vento e alí começavam os primeiros breakers do Brasil, porque até então nós tinhamos algumas coisas no Funk e Cia. mas ligado ao Soul e foi juntando tudo e, em 1983 e 1984, nós já tínhamos bons dançarinos de chão, mas na concepção daquelas danças da época. Na época do Beat Street é que foi aprimorado mais movimentos e técnicas e maior conhecimento de todos os elementos. Em 1984, já tinha uma revista falando sobre os elementos do Hip-Hop com o tempo, houve a evolução da danças, os caras foram aperfeiçoando a ponto que eu já falava que o Breaking tinha muitos jovens que eram melhores que os ginastas olímpicos. Então, esse negócio agora do Breaking estar nas Olimpiadas eu vejo como uma reparação. Eu acho que desde 1999 nós já estávamos numa evolução muito capaz! Sobre a São Bento, nós dançavamos no passado em vários lugares de São Paulo, depois fomos ficando mais na 24 de maio, em 1984 a 24 de Maio virou point. Em 1985, começou a se procurar outro lugar, foi quando surgiu a São Bento que era apenas no sábado, os encontros aconteciam sábado à tarde! No final de 1985 a São Bento estava estourada e não cabia mais ninguém, em 1986 começaram as grandes batalhas das crews, virando um point nacional. Em 1993, aconteceu a primeira batalha de Breaking no Brasil, interestadual. O próprio Mano Brown, o KL Jay iam para lá, o Thayde, isso era 1985, que fazia parte da Dragon Breakers, depois virou Back Spin Crew, aí depois Thayde e DJ Hum formaram a dupla e começaram outros trabalhos. As duas grandes bases de tudo isso foi a 24 de Maio com a São José e a São Bento. E a Casa do Hip-Hop em Diadema.
BW: Bom Nelson, você falou de Olimpíadas… Entrando nesse assunto, esse ano o Breaking passou a fazer parte dos jogos olímpicos. E B-Boys e B-Girls começam a ser vistos como atletas. Qual sua opinião sobre esse assunto?
Nelson Triunfo: Isso é evolução, todos aqueles que foram contra a evolução ficaram para trás: eu não! Eu vim para cá, fundei a Casa do Hip-Hop em Diadema e outros já fundaram outras casas, é uma evolução, às vezes alguns reclamam da notoriedade e de tudo, mas não tem como dizer que o Breaking, que o Graffiti não são comerciais. O Graffiti está no mundo inteiro hoje, grandes prédios de grandes cidades têm Graffiti, os DJ’s sempre estiveram aí, fazendo as festas. O Rap está no mundo inteiro e o B-boy sempre esteve em evidência, em todos esses anos aconteceram batalhas maravilhosas, antes tinha a Battle of the Year que era na Alemanha mas hoje tem no mundo inteiro, na Coreia, no Japão, na Rússia, nos EUA, no mundo inteiro têm B-Boys e hoje os caras desafiam até a lei da física, fazem movimentos com o corpo incriveis, eu até me lembro dos Invertebrados, a evolução e as precisões são muito boas! Hoje eu considero um bom B-Boy, avançado mesmo, como um bom ginasta de solo. Por isso que falo que não é surpresa o Breaking estar nas Olimpíadas para mim é uma reparação, pois deveríamos estar desde 1999. É algo evidente! BW: Falando da Casa do Hip-Hop de Diadema, fale da importância dela na cena e na recuperação e educação de jovens? Nelson Triunfo: A Casa do Hip-Hop nasceu de um projeto, o Repensando, que nós já fazíamos dentro das escolas, foram as primeiras aberturas da sala de aula para a Cultura Hip-Hop e ali tinha uma pessoa chamada Elisete, que trabalhava na educação junto com o Paulo Freire e ela foi chamada para trabalhar em Diadema, que foi a primeira cidade que o PT ganhou uma prefeitura no Brasil e, com isso, foi o pessoal da educação e tinha uns moleques lá que pediram para levar o trabalho que acontecia em São Paulo para lá e começamos o trabalho em alguns centros culturais lá. E de uma hora para outra estourou, tinha uma divisão de bairros, Diadema era vista como uma das cidades mais violentas de São Paulo. Começamos o trabalho em 1990, o trabalho cresceu e em 1994 já tinha o Centro Cultural do Caema, que mais tarde iria virar a Casa do Hip-Hop. Naquele tempo eu e Marcelinho Back Spin queriamos fazer a Casa do Hip-Hop e lá se tornou um centro cultural padrão, nós fazíamos os eventos e bombavam. Criamos o Hip-Hop em Ação, entre os centros culturais, para se apresentar lá todo o final do mês onde aconteciam todas as oficinas juntas do Caema e de todos os centros culturais, sempre trabalhávamos os 4 elementos e se tornou algo nosso, era um trabalho social desenvolvido, que começou a vir gente do Brasil inteiro para aprender conosco e já funcionava como Casa do Hip-Hop e, em 1999, nos tornamos Casa do Hip-Hop de Diadema, saía na grande mídia, saí no Fantástico, no Globo Repórter, uma porção de coisas, mostrando os trabalhos sociais com jovens e foram muitos jovens que sairam de lá e que hoje estão no mundo inteiro. Só no Estado de São Paulo deve ter mais de 50 Casas do Hip-Hop, a nossa foi a primeira Casa do Hip-Hop da América Latina. Nós criamos vários jovens, vários multiplicadores do Hip-Hop através da Casa do Hip-Hop.
BW: Nelson, certa vez você declarou que escreveu sua história no “Brasil dos Preconceitos”, você sofreu muito com isso? Verdade que na época da ditadura você foi preso e até apanhou? Como você se sente hoje, como vê algumas pessoas do atual governo defendendo a volta da ditadura? Nelson Triunfo: Hoje pessoas que defendem a ditadura são pessoas que estão de embalo, como sempre existiram essas pessoas na história, não sabem nem o que foi a ditadura e falam besteira e outros devem ser filhos dos militares, porque claro que filhos de militares foram criados dentro de uma doutrina que eles não acham problema, de ver o país sendo governado por militares e pessoas que têm esse dom da suástica, essa aversão a esquerda e querem ser os melhores através da estupidez e não da inteligência, você vê quanta gente não sabe nada e quer discutir sobre politica, politica é uma ciência, é o conhecimento da sociedade, tanto do lado do bem como do lado do mal, no caso desses é do lado do mal, então, eles veem todo o lado artístico como ameaça. No meu caso, eu sofri muito preconceito, o preconceito de ser nordestino, no meu sotaque quando eu cheguei aqui, tinha preconceito até na comida quando eu pedia em alguns lugares farinha para colocar no feijão, a farinha ficava escondida debaixo do balcão para ninguém ver, era vergonhoso usar farinha. Outra coisa: eu era o cara do cabelo Black Power e tinham preconceito com o meu sotaque, mas eu assumia o que eu era, como eu falava, o meu cabelo, eu nunca mudei. Eu assumi o Brasil Nordestino que eu representava e também mostrei muito o conhecimento que eu tinha lá de fora, eu lia muito. Então os caras vinham com argumento furado, racista, de gente boba e eu só dava cassetada nas testas deles com as minhas ideias e eles não podiam muito comigo. Eu fui um dos caras que mais fui preso na cidade, eu ia preso porque eu estava dançando, me apresentando e para os policiais aquilo era coisa de malandro, era tanto que eles pediam a carteira assinada. Como eu ia dançar nas ruas e ter minha carteira assinada? Quem ia assinar? Então, se não tinha carteira assinada, não era trabalhador! Era vagabundo! Eles levavam preso por vadiagem e mais para desfazer a roda mesmo, onde todo mundo estava aplaudindo. E eles não queriam isso. Então eu fui um dos caras que mais fui preso defendendo a cultura. E quando eu fiquei doente, muitos novos ficaram sem acompanhamento nas ruas, pois era o mais antigo, eu vinha de outras gerações, eu era revolucionário. Hoje eu tenho 66 anos e eu não parei graças a Deus! Todos me veem como da própria familia! Eu sempre ajudei a todos como pude! Nosso trabalho sempre foi de ajuda e de militância! Quantos moleques fizeram parte desse trabalho e hoje são doutores! Campeões Mundiais! Outra lembrança interessante é que quando eu fui dançar no Chacrinha, os caras falaram que não era para eu falar e sim apenas para dançar, na época tinha muita gente que cantava em inglês, aí eu dancei, dancei e dancei, saí sem falar com ninguém e depois eu fui descobrir porque foi que o cara não queria que eu falasse, depois em outra ocasião aconteceu a mesma coisa eu ia cantar uma música chamada 84 na 24 e quando eu cantei uma mulher da produção disse que eu tinha problema na lingua e que não daria daquela forma, enfim, o que aconteceu foi um racismo feio comigo! O problema na língua era o meu sotaque nordestino! Para eles a minha forma de falar era uma vergonha! E eu fui vencendo isso tudo, os mesmos que falaram mal de mim, me vendo na televisão, me vendo vencendo, se tornaram meus amigos! Foi mais uma vitória do Triunfo! BW: Nelson fale das homenagens que já recebeu na sua vida? E também do teatro, do filme, da biografia e da sua estátua em Triunfo?
Nelson Triunfo: Já recebi alguns prêmios e homenagens, como o do Hutuz de Melhor Lider Comunitário, ganhei em São Paulo em 2008 o título de Cidadão Paulistano, também em 2008 a Comenda da Cultura Nacional, o reconhecimento que o Ministério da Cultura tem por algumas pessoas que desenvolvem trabalhos muito importantes dentro da cultura do país, teve o “Se Liga Mano” que foi uma peça feita em 96 para 97, tinha 60 atores, todos eram alunos do Centro Cultural de Diadema, foi algo maravilhoso! Triunfo, o filme, dirigido por Cauê Angeli, que passou umas 30 vezes no Canal Brasil, feito em 2014, é um filme interessante que conta um pouco da minha história, foi premiado em vários lugares, inclusive num festival na Espanha. Aí vem a minha biografia, que foi feita por Gilberto Yoshinaga em março de 2014, quem leu gostou muito! E por fim a estátua em Triunfo, o pessoal vinha cogitando faz tempo que iriam fazer uma homenagem a minha pessoa e eles fizeram uma estátua lá e isso mostra uma mudança, pois antigamente se fazia homenagens dessa na ausência da pessoa, no meu caso fizerem uma estátua em vida e fiquei muito feliz! Eu vejo que as coisas são resultado do que você planta. A estátua foi feita pela Prefeitura de Triunfo, no sertão de Pernambuco, minha cidade de origem!
BW: O que você tem feito nesse tempo de pandemia? Nelson Triunfo: Eu tenho ficado em casa, de boa, estou compondo, eu escrevo, tenho lido muito, fazendo minhas lives e tenho me comportado dessa forma, com cuidado, enquanto não tomo a vacina. Acho que ainda vai demorar um pouco e a parada ainda vai longe… BW: Que mensagem você deixaria para a nova geração que vai continuar essa história do Hip-Hop no Brasil? Nelson Triunfo: Eu os vejo como a continuação, tem B-Boys e B-Girls novos que são maravilhosos! Eu sei também que tem muitos B-Boys hoje que estão no auge que, quando chegar em 2024, talvez não estejam mais e outros novos aparecem, tudo é uma questão de tempo, mas também acho que alguns dos antigos serão mentores, técnicos, coisas assim, eu acredito muito na galera jovem, principalmente na dança deles, porém, eu gostaria de vê-los mais politizados, valorizando a educação, os livros, a informação, essas coisas que eu gostaria de falar aos jovens, além de serem atletas, dançarinos, que procurassem ser pessoas boas, pessoas que não prejudiquem outras, porque o que você não gosta que façam com você não deve fazer com os outros! Sejam pessoas incríveis e felizes! BW: Para finalizar, Nelson, tem alguma coisa na sua vida que você se pudesse mudaria? Como gostaria de ser lembrado ? Nelson Triunfo: Eu gostaria de ser lembrado de alguma forma fazendo parte dos representantes do Brasil que vão para as Olimpíadas. Como guru, como um símbolo da Dança de Rua do Brasil. Gostaria de ser lembrado por ter feito parte dessa primeira equipe que será escolhida para representar o Breaking brasileiro nas Olimpíadas! Algumas pessoas acham que eu sou louco, nós que somos diferentes algumas pessoas já carimbam como louco, eu gosto de ser visto dessa forma, pois todos que foram vistos como loucos e malucos foram os que melhoraram o mundo! Talvez se eu fosse diferente eu não gostasse de mim! Foram os descobridores e inventores das coisas, foram esses que transformaram de vez o mundo! No passado eu fiz o que eu pude e continuo fazendo de boa, sem estresse, numa nice e suave na nave!
Fotos: Arquivo Pessoal
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O nome que consta na certidão de nascimento é Alex José Gomes Eduardo, ele não poderia ser mais brasileiro. Nasceu numa família alegre de sambistas e capoeiristas em São José do Rio Preto, interior de São Paulo.
Da infância guarda boas lembranças das feijoadas e dos churrascos em família. Criado pela avó, matriarca da família, o menino que não tinha tênis, mas que desde pequeno já mostrava habilidades diferentes e muito especiais, a famosa estrelinha no meio da testa que alguns carregam para esse mundo, filho de mestre de capoeira era bom nos movimentos do corpo e também no futebol, por isso recebeu o apelido de “Pelezinho”, mas seu destino não foi escrito num campo de futebol e nem jogando capoeira mas sim nas ruas.
As rodas que frequentava eram outras, as de Breaking, onde sua grandeza foi reconhecida e conquistada, sendo ponte para o resto do mundo.
Numa entrevista super especial e exclusiva ao Portal Breaking World, B-Boy Pelezinho, que esta semana se posicionou sobre o assunto “Breaking nas Olimpíadas”, contou sua história de vida, suas experiências, conquistas no Breaking, falou sobre a pandemia, sobre amigos que sente saudades, sobre o futuro e mostrou sua preocupação com a nova geração de B-Boys e B-Girls.
Hoje fora das competições, porém comprometido com o Breaking pelo resto da vida, ele sempre lembra: “O Breaking mudou a minha vida e pode mudar de muitas pessoas”.
Com vocês: Pelezinhoooooooo!
BW: Você é de São José do Rio Preto, correto? Queria que você nos contasse: como foi sua infância, sua adolescência e sua vida em família? Que lembranças boas guarda dessa época? Foi uma vida tranquila ou difícil?
Pelezinho: Sim, eu sou de São José do Rio Preto, nascido e criado lá. Eu venho de uma família de sambistas e capoeiristas, eu lembro que, principalmente nos finais de semana, nós tínhamos aquele momento familiar, que tinha música, almoço, churrasco, feijoada. Na infância era bem tranquilo! A minha avó é que era a matriarca da família, ela cuidava de todos! Eu fui criado pela minha avó. Mas a minha família sempre foi aquela família animada! Tenho boas recordações!
BW: E na adolescência, como foi? Quando e como teve o primeiro contato com a Cultura Hip-Hop? O que te chamou atenção nessa cultura?
Pelezinho: Na adolescência, foi um pouquinho mais complicado. Eu saí de casa cedo, era muito jovem e eu conheci o Breaking por meio de um amigo, ele esta numa Cypher aqui no centro da cidade e, na verdade, eu achei que fosse uma roda de capoeira e quando cheguei vi que era uma roda de Breaking e eu fiquei encantado com aquilo. Logo depois, ele fez uma performance na minha escola e foi quando ele me convidou, disse que eu tinha uma facilidade para dançar, a minha família era do samba, então, achava que eu teria muita facilidade. E me fez um convite para treinar na casa dele, isso foi em 1995 ou 1996. E desde então, eu tenho uma história dentro do Breaking.
BW: Com que idade você saiu de São José do Rio Preto? O que sentiu quando chegou em São Paulo?
Pelezinho: Na verdade, eu só sai da casa da minha avó quando eu fui para São Paulo. Na primeira vez foi para um evento de dança, foi aquele choque com a cidade grande, de conhecer mais a galera da dança, porque eu só ficava no interior. Mas quando eu cheguei no evento achei incrível, quando eu vi todas as Crews de São Paulo reunidas. Me lembro que quando os caras chegavam, eles já chegavam batalhando e eu pensei: “puxa, vou voltar para casa e treinar muito, pois eu não quero mais que esses caras fiquem me zoando na dança não…”.
BW: Mas quando houve aquela decisão mesmo em relação ao Breaking? Tipo: “É isso que eu quero para a minha vida”? Porque afinal, você cresceu no meio do samba e da capoeira e também era bom no futebol, daí o nome Pelezinho. Mas quando ficou claro que era o Breaking?
Pelezinho: Em relação ao futebol, foram os amigos do meu bairro que me deram esse apelido na época da escola, porque eu não era o craque e tal (risos), mas jogava bem. E o Breaking eu peguei gosto pela dança, pelos treinos e era algo incrível que eu estava vivendo, eu gostava muito de praticar. As informações já estavam começando a chegar de alguns eventos, surgia alguns convites e comecei a gostar muito do que eu estava vivendo.
BW: Você teve apoio da família quando decidiu se dedicar à dança?
Pelezinho: Naquela época, minha avó não tinha informação, ela estava meio preocupada de eu ficar pela rua, ficar dançando no coreto da cidade com uns caras… Então, eu não tive um apoio, demorou um tempo para que ela entendesse o que eu estava fazendo, mas natural, às vezes eram costumes daquela época, estamos falando de 1995, não existia informação direito como se tem hoje. Realmente ela se preocupou, achando que eu iria por um caminho errado, mau. Mas eu insisti muito e hoje ela fala: “Meu neto é um exemplo!”.
BW: Fale da relação da Capoeira e do Breaking na sua vida. Um completou o outro?
Pelezinho: A relação minha com a Capoeira foi dentro de casa, né? Meu tio era mestre de Capoeira, meu pai era mestre de Capoeira e eles tinham a academia deles e tal e eu fui influenciado, porque eu nasci naquele meio. No meio das músicas, no meio da Capoeira… E eu acredito que a Capoeira tem muita ligação com o Breaking, vários movimentos são semelhantes, tem musicalidade e quando eu comecei a dançar Breaking, realmente alguns movimentos do Breaking foi muito fácil de aprender graças à Capoeira. Eu tive bastante facilidade para aprender o Breaking, claro que teve alguns movimentos que tinham uma dificuldade a mais, porém, falando de equilíbrio, de firmeza, de movimentação de giro, para mim foi mais fácil, então, resumindo, eu fui influenciado pelo meu pai e pelo meu tio, eu só pratiquei a Capoeira por um determinado tempo, eu não peguei corda, não segui da forma que tinha que ser, mas eu tenho um baita respeito pela Capoeira e ela foi fundamental na minha adolescência.
BW: Houve pessoas na dança que o ensinaram e o ajudaram e que também foram inspiração e referência para você? Parece que teve um B-Boy que você admirava muito e tinha o desejo de um dia conhecê-lo pessoalmente. Quem era? E de que país ele é? Esse encontro já aconteceu?
Pelezinho: Ah, sim! Eu falo que no Breaking eu tive essas pessoas, primeiro o amigo que me convidou para praticar na casa dele, depois umas outras pessoas da época, que hoje já nem praticam mais, mas eu tenho, sim. Quando eu vi esse cara dançando, ele se chama B-Boy Remind, um dos fundadores da Style Elements Crew, da Califórnia. Quando esse cara apareceu para nós nos eventos nos Estados Unidos, o Battle of the Year, foi um dos primeiros vídeos que eu vi dele, eu vi o estilo dele dançando e eu acredito que ele mudou todo o cenário da dança, principalmente no Breaking pois ele introduziu um estilo mais carismático, envolvendo alguns passos de House e eu gostei muito disso. E eu tenho um sonho de conhecê-lo. Até hoje eu viajei o mundo e não tive a chance de conhecê-lo, conheci alguns membros da Crew dele, mas ainda não o conheci. E um dia ainda eu vou conhecê-lo, se Deus quiser!
BW: Quando começou a participar e ganhar eventos de Breaking? Que eventos foram especiais para você, antes da Red Bull, é claro? Que conquistas foram memoráveis?
Pelezinho: Eu participei de muitos eventos na minha vida! Mas, um dos que eu mais gostei, foi um que era relacionado a esportes radicais, ele foi feito dentro do Ibirapuera e eu fui campeão do 1vs1, tiveram outros eventos que eu não ganhei, mas foram muito legais. Uma vez eu estava de jurado na Batalha Final e aí eu fiz uma batalha muito memorável. Estava eu e Chaveirinho, nós batalhamos por um bom tempo dentro do evento e aí, depois, nós acabamos fazendo vários trabalhos pelo Brasil, a gente era meio que inimigo antes do BC One, mas claro, o maior reconhecimento internacional foi o Red Bull BC One de 2005.
BW: Sim, falando do ano de 2005, como chegou na final mundial da Red Bull, que aconteceu na Alemanha? Como foi aquela sua primeira viagem para fora do país e o que sentiu naqueles minutos que teve que representar o Brasil numa terra tão distante e diferente?
Pelezinho: Quando eu fui convidado pela Red Bull BC One, eu não tinha noção do que poderia acontecer… Claro que alguns B-Boys que estavam ali eu já via pela fita k-7, pelos DVD´s que já estavam rolando, então, tinha B-Boys que eu admirava, o Lilou já estava despontando na Europa e quando eu cheguei na semifinal, pra mim foi uma batalha apenas, só que eu só fui entender a proporção do que aconteceu comigo quando eu retornei para o Brasil, depois da repercussão que teve e a vivência que eu tive lá na Alemanha, em 2005, foi incrível, pois era tudo novidade pra mim, então, foi a primeira vez que eu saí para fora do país, um evento como aquele, era a segunda edição dele, deu um ‘boom’ na dança… Então, pra mim, foi muita experiência, aqueles 5 dias que eu fiquei em Berlim foi só aprendizado, uma bagagem incrível para poder entender o que poderia vir logo em seguida. Na final mundial em 2006, no Brasil, eu já estava classificado nesse período, eu fui conhecido mundialmente mesmo eu não sendo o campeão, porque na época ainda existia primeiro, segundo, terceiro e quarto lugar. Esses quatro eram classificados automaticamente para o próximo ano, então pra mim foi incrível!
BW: Falando ainda de 2005, como foi batalhar com o B-Boy italiano Cico?
Pelezinho: Então, a minha primeira batalha foi com o Cico, um cara que estava se destacando muito pelos Power Moves que ele vinha fazendo e, principalmente, o Giro de Mão, ali foi uma grande pressão. Como foi a primeira batalha minha, num palco daquele, numa estrutura daquela, pra mim ali foi difícil de verdade! Depois que eu passei do Cico, fui passando… aí eu cheguei na semifinal com o Hong 10, ali eu já estava mais confortável, mas ao mesmo tempo, né [sic], tive alguns errinhos, acabei esquecendo um movimento. O Hong 10 ganhou de mim naquela noite e ele fez a final com o Lilou.
BW: O que sentiu e como foi a sensação de ter chegado tão perto de vencer o mundial? Fale da repercussão de ser o primeiro brasileiro a participar de uma final mundial? Isso fez diferença na sua vida?
Pelezinho: Eu, naquela época, na hora que eu perdi, eu falei: “Nossa! Puxa! Eu quase fui para a final!”. Então, deu aquela frustradinha no momento, mas na verdade, como tinha terceiro e quarto, eu nem pensei muito! Eu só fui pensar mais quando retornei ao Brasil, realmente passou um tempo até a galera descobrir, porque naquela época as informações não chegavam como hoje, que você pode ver ao vivo, demorava um tempinho para chegar as informações dos eventos. O You Tube estava começando, pelo menos para nós aqui do Brasil, aí depois que a galera descobriu, saiu o DVD, aí a repercussão foi uma loucura! A prova disso que até hoje as pessoas lembram, pessoas que não são da dança, pessoas que me encontram na rua, sempre tem um que lembra e fala que assistiu o DVD da Red Bull BC One.
BW: Pelezinho, depois você já viajou para muitos países pelo mundo. A ginga do B-Boy e da B-Girl do Brasil é um diferencial? O que os gringos esperam ver quando tem um B-Boy brasileiro ou uma B-Girl do Brasil numa competição?
Pelezinho: Desde quando os brasileiros começaram a competir no circuito europeu e, principalmente, nesse período de 2005 pra cá, é natural os gringos verem algo diferente, então, eu cheguei com um pouco mais de movimentos acrobáticos, misturando tudo com Power Move, enfim! Aí depois apareceu Neguin, então a galera sempre espera que o brasileiro chegue com um movimento diferente, mas o mais importante é cada dançarino ter o seu próprio estilo, a galera tem que pensar que o nosso passaporte é brasileiro, temos que mostrar o nosso cotidiano… É o que eu falo, a dança já foi criada pelos caras lá de fora, já tinham movimentos criados, é necessário cada um mostrar de onde vem, qual é o seu estilo de dança, a sua marca, então isso é importante.
BW: Como foi sua entrada na Tsunami All Stars e na Red Bull BC One All Stars? Fale da sua experiência dentro dessas Crews?
Pelezinho: Então, sobre a Tsunami All Stars, na verdade, nós a criamos porque na época teve um evento em São Paulo e nós queríamos batalhar e nesse período, Kokada estava sem Crew, eu estava em show com Marcelo D2, Katatau também estava praticamente sem Crew e aí nós participamos de um campeonato em São Paulo. E o Aranha era próximo de nós, porque quando o Chaveiro viajava, o Aranha cobria ou vice-versa, na época do show com Marcelo D2. Aí nós entramos em cinco no campeonato e ganhamos! E depois ficou aquela história que sempre que nós nos encontrávamos em São Paulo, dançávamos juntos e tal, aí o Katatau dançava com o Chaveiro em alguns lugares, o Aranha junto e aí nós só reunimos a Crew quando teve o convite para disputar o R16 na Coreia, quando chegou o convite dos coreanos que eram os ‘managers’ e aí foi quando o Neguin já estava próximo do Katatau, eu convidei o White e o Chuchu e montamos a Crew, aumentamos a Crew e aí participamos do R16, ficamos entre os finalistas e foi esse processo na criação da Tsunami. E o Red Bull BC One All Stars eu participei de duas turnês pela Red Bull Internacional para levar o que o Red Bull BC One estava fazendo, então, fizemos Austrália (2008), Índia (2009) e dali surgiu uma ideia, começamos a conversar com uma manager e aí demos a ideia de criar um time dentro da Red Bull e então criamos o Projeto Red Bull All Stars. Eu ajudei a criar esse projeto, eu, o Lilou e a manager e hoje está aí um dos melhores times que tem no mundo, onde estão os melhores dançarinos do mundo. Atualmente, eu não estou no time para competição, porque eu já sai do circuito de competição já tem um tempo, mas o time está aí, eu ajudei a criar e tenho muito orgulho disso.
BW: Falando um pouco mais sobre quem fazia parte da Tsunami, queria que você falasse de sua proximidade ao Kokada, que era alguém que, sem dúvida, escreveu uma história de muito valor no Breaking e tinha uma personalidade muito singular, deixando um enorme vazio quando partiu aos 35 anos, vítima de uma meningite, em 2012.
Pelezinho: Falar do Kokada pra mim é prazeroso! Porque nós vimemos juntos um período de conquistas, vou lembrar do Kokada lá atrás, quando eu fui para são Paulo a primeira vez, o Kokada já era já o grande B-Boy Kokada junto com o Careca da Detroit Breakers. O Kokada já fazia shows, ele era famoso pelo Brasil todo! E quando eu tive a oportunidade de conhecê-lo, de virar amigo dele e surgiu a história de montarmos a Tsunami, eu o chamava de “mentor”, porque era ele que cuidava das coisas da Crew e, assim, nós vivemos muitas coisas! Kokada teve a sorte de viajar também e de competir, mas no período que ele estava fazendo as coisas não existia muita informação, naquela época então, o momento que o cara estava não existia o contato do Brasil com o pessoal de fora, então, alguns gringos começaram a vir para o Brasil e justamente nesse momento nós estávamos juntos realizando sonhos, mesmo sendo de cidades diferentes. O Kokada foi incrível! O legado que ele deixou está ai e ninguém nunca vai esquecer! Ele era mesmo difícil, era um cara mais complicado (risos), ele tinha o jeitão dele, o gênio dele sempre foi forte, só que nós nos entendíamos muito bem quanto viveu conosco. Mas ele vive em nossos corações! E ele era uma baita de uma pessoa! Até hoje ele faz muita falta! E eu acredito que nos sonhos dele eu o ajudei também, tanto que a primeira viagem dele internacional para o evento R16 fomos eu, ele, Chaveiro, Katatau, Aranha, o Neguin e fizemos parte de uma geração, mas Kokada veio primeiro que nós e é isso! Muita saudade!
BW: Voltando um pouco no tempo, Pelezinho, numa outra entrevista você falou que quando começou a dançar não tinha um tênis… Décadas depois, você foi convidado para assinar um tênis junto com o Sandro Dias e, na ocasião, você falou que queria ver o Breaking e o Skate nas Olimpíadas de Paris 2024. Hoje, creio que você tenha vários tênis e o Breaking está nas Olimpíadas. Se sente realizado?
Pelezinho: Verdade, eu não tinha tênis para dançar, passei por essa dificuldade! Eram tempos bem diferentes! Mas quando eu recebi o convite do Sandro Dias para poder participar do projeto que ele estava iniciando, que ele queria ir pelo lado da cultura, da dança e ele me convidou para fazer a Colab, puxa, eu nunca imaginei isso na minha vida e aí foi quando eu falei numa entrevista que passou um filme na minha cabeça, quando ele me ligou para me convidar, ele era o dono da marca e eu aceitei na hora. Ele tinha um sócio, mas eu aceitei na hora! Hoje eu tenho um tênis assinado, modelo 1, já tem um projeto do modelo 2, já era para ter saído ano passado. Sim, graças a Deus hoje eu tenho muitos tênis (risos) e sobre as Olimpíadas é uma coisa que nós não imaginávamos que pudesse acontecer, ter o Breaking nas Olimpíadas. Eu sou a favor! Eu acho que está aí, já está concretizado, eu acredito que é mais uma porta se abrindo dentro do cenário da dança mundial, muitas pessoas terão oportunidades. Eu sei que aqui no Brasil têm acontecido muitas conversas, mas as coisas negativas devemos deixar para trás e pegar as coisas positivas das pessoas que têm o mesmo interesse, que isso possa trazer mais informação para quem não tem e isso vai agregar muito para a nova geração. Eu costumo falar para a galera que não é porque eu não tive lá atrás que eu deva embarreirar a nova geração, eu sou a favor mesmo do Breaking nas Olimpíadas e fiquei muito feliz!
BW: Falando sobre as Olimpíadas e sobre toda a discussão em volta desse assunto, fale sobre suas impressões sobre esse elemento do Hip-Hop virar um esporte olímpico. Na sua opinião, estamos preparados para viver isso? Normalmente atletas olímpicos levam anos se preparando para uma participação numa Olimpíada. E nós, como estamos? Ao seu ver, temos B-Boys e B-Girls brasileiros prontos e bem preparados para brigar por uma medalha olímpica?
Pelezinho: Espero que com toda essa situação que está acontecendo, que o Brasil possa ter representante em 2024, porque já não teve nos Jogos da Juventude, espero que as pessoas se organizem, fazendo a sua parte e quem estiver no comando que faça de verdade, que pense no Breaking, na dança Breaking e não no próprio bolso. Pelo amor de Deus! Estamos em 2021, estamos dentro de uma pandemia, muitas coisas mudaram, muitas não serão mais a mesma coisa! Então, por favor! Precisamos fazer de verdade e principalmente para a nova geração! Olha, sendo bem sincero sobre o que vem acontecendo no Brasil, eu ando observando, não tenho participado de muitos bate-papos que estão tendo pelas redes sociais, só participei de duas que eu achei interessante e no meu olhar, o Brasil já está começando atrasado, porque eu já vou entrar: desde os Jogos da Juventude e dos simulados que tiveram na China e o Brasil não estava ali como convidado, então, estamos começando tarde, porque precisamos preparar, tem que ter mesmo toda uma estrutura, eu sei que as pessoas vão fazer do modo deles. Mas preparados na parte de dança: Sim! Temos B-Boys e B-Girls que possam disputar medalhas para o Brasil, mas tudo depende de toda a estrutura e logística que será montada aqui no Brasil, de como será, se vai convidar os B-Boys e as B-Girls direto ou se vai fazer etapas. Então, dando uma resumida, eu acho que já estamos atrás dos outros países: o Japão já tem o time pronto, a Holanda praticamente também, a França, EUA, a China… E o Brasil ainda não está! Quem estiver na frente tem que fazer de verdade! E resolver tudo o mais rápido possível, porque esse ano já descartamos praticamente, então, só sobra 2023 e 2024. Porque até o processo todo ser feito com a estrutura… Estou falando da minha visão como dançarino e como produtor e criador de eventos. Essa é a minha opinião!
BW: Verdade que você se posicionou sobre o assunto e agora faz parte da Confederação Brasileira de Breaking (CBRB). Você gostaria de falar sobre isso?
Pelezinho: Eu tive uma conversa com o Rooneyoyo e juntamente com o HP, estamos nos posicionando para participar junto com o Rooneyoyo, porque eu acho que juntos podemos conduzir coisas melhores para a nova geração.
BW: Falando sobre sua experiência como jurado… Hoje em dia, Pelezinho, você participa de muitos eventos. O que você gosta de ver numa batalha e o que você acha inaceitável na mesma?
Pelezinho: Sobre as batalhas, como jurado eu gosto de ver aqueles B-Boys e B-Girls que mostram movimentos, que sejam completos: musicalidade, criatividade, movimentos básicos. Mas eu gosto sempre daqueles dançarinos que percebemos aquela vontade de competir, que vai lá, que expressa a dança dele, que mostra movimentos surpreendentes sem errar, porque tem movimentos que jurado pega erros. Enfim, eu gosto dos completos no Breaking! Gosto de ver movimentos diferentes e interessantes para julgar, porque o nível da batalha fica avançado. E coisa que eu detesto ver é a má vontade de alguns dançarinos quando estão em competição, tem dançarino que parece que não está a fim… Aí eu pergunto: “Por que participou, então? Por que se inscreveu?” E outra coisa é essa história de questionar jurado, no passado já questionei também, só que eu acho desnecessário hoje em dia, de tanta informação que temos, nós precisamos respeitar os jurados que estão sentados ali, porque têm uma bagagem, então vamos respeitar. As pessoas precisam entender que numa competição estão sujeitos a serem julgados, então, vai lá, treina e seja o mais transparente possível para o jurado e mostra o porquê quer ser campeão!
BW: Com a pandemia e todo o isolamento necessário, o que você tem feito? O que acha das batalhas on-line? É uma tendência?
Pelezinho: Sobre a pandemia, eu acredito que foi um aprendizado para várias pessoas, estamos nela ainda! Nesse período eu tive que me reinventar, me readaptar a essa realidade que estamos vivendo. Sobre as batalhas on-line, claro que não é a mesma coisa, não é a mesma energia, de estar ali na Cypher, naquele calor todo, mas é um meio de manter a galera em atividade, em competição, até mesmo dando suporte para eles, porque teve alguns eventos on-line bacanas! Pela produção, pelo o que fizeram e acabou ajudando vários B-Boys e B-Girls, então, eu sei que isso pode continuar. Alguns eventos vão manter on-line e a pandemia é uma coisa muito triste, que ninguém imaginou que ia passar nesse plano de vida, mas ela é um aprendizado para muitas pessoas e quem não se adaptar, nem imagino o que vai fazer da vida.
BW: Você tem uma frase célebre: “O Breaking salvou a minha vida”. Comente a importância do Breaking como ferramenta de transformação.
Pelezinho: Sobre o que eu falo do Breaking ter mudado a minha vida, realmente ele mudou, ele fez uma transformação tremenda! Eu fiz coisas que eu jamais imaginei que eu iria fazer! Por meio da minha dança, eu viajei praticamente o mundo todo e sou uma pessoa conhecida através do Breaking. Financeiramente foi bom pra mim, consegui ter algumas coisas, mas o que eu mais falo é que nada disso teria acontecido se não fosse a minha vontade, a determinação que eu tive e toda a história que eu tenho há mais de 20 anos dentro do Breaking. Então, quem quer alguma coisa, principalmente dentro do Breaking, a galera nova, da nova geração, que vocês têm tudo, rápida informação, eventos, então aproveitem, porque na minha época que eu comecei a dançar nós não tínhamos nada disso! Aproveitem as oportunidades! Porque as poucas que eu tive aproveitei todas! E corri muito atrás! E foi nisso que o Breaking mudou a minha vida e pode mudar de outras pessoas também.
BW: Hoje quem é o Pelezinho? Você pensa em um dia parar de dançar?
Pelezinho: Pelezinho hoje é essa pessoa aí que a galera está vendo, que o Breaking deu uma visão de transformação e também de ajudar, porque o que venho fazendo hoje em dia é ajudar a cena, principalmente o Breaking. E sobre parar de dançar, eu não me vejo parando, como vou parar algo que amo fazer? É natural com o tempo desconectar algumas coisas, eu não me vejo competindo mais, mas eu adquiri uma bagagem que posso ajudar a nova geração aqui no Brasil.
BW: Para finalizar essa entrevista, que conselhos você daria para a nova geração de B-Boys e de B-Girls?
Pelezinho: Respeitem as oportunidades que vocês têm agora, se desejam competir, treinem para isso e aproveitem as oportunidades, que façam isso de verdade! Para aqueles que desejam uma vida de atleta, principalmente agora que têm vários eventos, Olimpíadas: se preparem! Nunca esqueçam que a nossa dança é uma cultura e se você desejar, pode viver como um dançarino atleta também, você pode se dedicar, você pode praticar, você pode se proteger. Se eu tivesse a mentalidade que eu tenho hoje, com certeza eu teria competido por mais tempo, eu também poderia ter evitado algumas lesões, porque é natural, somos seres humanos e não somos máquinas e, devido alguns anos repetindo movimentos, é natural ter um desgaste, só que de alguns anos para cá, já podemos proteger isso, então, vá atrás de uma pessoa que possa te dar uma educação física como dançarino, para que você possa ter sua vida como dançarino e, se desejar, como atleta também. Respeitem e aproveitem o que vocês têm hoje, pois tudo está mais fácil!
Fotos: Arquivo Pessoal / Red Bull Content Pool (Fabio Piva, Yassine Alaoui, Dimitri Crusz) Vídeos gentilmente cedidos pela Red Bull
Pelezinho comemora seus 20 anos de dança
B-Boys Pelezinho, Lil G e Kokada no projeto "B-Boys In Motion" - 2011
Pelezinho: #RespeitaOBreaking
Pelezinho além de B-Boy é MC, jurado e produtor
Pelezinho e o tênis com sua assinatura
Neguin e Pelezinho: geração de vencedores
Pelezinho, Lilou e Neguin
Red Bull BC One All Stars
"Mister" Kokada, Lilou e Pelezinho
Tsunami All Stars
Pelezinho
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“A convivência com o Hip-Hop Educa me ensinou a crescer, a evoluir e a entender como a união faz a força. Sinto muita falta deles!”. (B-Girl Aninha)
Ela nasceu em Mauá, que é um município da região metropolitana de São Paulo. Sua infância foi bem humilde mas muito divertida.
Foi por meio do Ballet, numa coreografia que envolvia o Hip-Hop que descobriu, ao ser escalada para fazer o movimento principal, que o Breaking era algo mágico e que queria ser uma B-Girl.
Mas foi junto com a família do Hip-Hop Educa e com o B-Boy Suco que cresceu, evoluiu e aprendeu talvez uma das maiores lições de sua vida: “que a união faz a força”.
Estamos falando da B-Girl Aninha, hoje com 15 anos a menina começa a dar espaço para o nascimento de uma vigorosa jovem, atualmente ela mora com seus pais em Peruíbe, no litoral paulista. A mudança se deu pela busca da tranquilidade na vida praiana. Aninha conversou com o Portal Breaking World e falou sobre sua vida, suas vitórias, suas saudades, suas opiniões e sobre o futuro. Confira a entrevista:
BW: Queria que você falasse um pouco de você, sobre a sua infância e das lembrança que tem dessa época.
Aninha: Meu nome é Anna Carolyne de Sousa Diamantino, tenho 15 anos, tenho 4 irmãos por parte de pai e 2 irmãos por parte de mãe. Eu nasci na cidade de Mauá, em SP e morei em um lugar bem humilde. Minha infância foi incrível e divertida.
BW: Quando teve contato pela primeira vez com a Cultura Hip-Hop? Onde e como foi isso? Quando começou a dançar Breaking?
Aninha: Por incrível que pareça, tive contato pela primeira vez em uma coreografia de Ballet. Minha professora montou uma coreografia que envolvia o Hip-Hop e eu fui escolhida para fazer o movimento principal da coreografia.
BW: Como sua família via seu interesse pela dança? Você teve apoio da família?
Aninha: A minha família notou esse interesse no momento da coreografia. Sim, tenho muito apoio deles, tanto do meu pai quanto da minha mãe e dos meus irmãos.
BW: Fale sobre como era o tempo que treinava com o B-Boy Suco e como era viver com a família Hip-Hop Educa? Você sente falta deles?
Aninha: Era sensacional! Ele é um professor muito dedicado, disciplinado para com seus alunos, sempre transmitia sua alegria para todos. A convivência com o Hip-Hop Educa me ensinou a crescer, a evoluir e a entender como a união faz a força. Sim, sinto muita falta deles!
BW: Tiveram movimentos mais difíceis de aprender do que outros ou foram todos tranquilos de aprender?
Aninha: Sim, tiveram movimentos difíceis que demorei mais para aprender.
BW: Você participou de vários eventos e ganhou alguns deles. Fale dos principais eventos e das grandes vitórias.
Aninha: Um dos principais eventos, que foi muito marcante, foi a segunda vez que fui para Diadema, no Beija-flor. E uma das grandes vitórias foi quando eu fui para Tattoo Week pela primeira vez e consegui levar a vitória para casa. Participei de muitos eventos e tive grandes vitórias, mas esses foram os principais que mais me marcaram.
BW: Já competiu fora do país? Alguma vez pensou em ir morar fora do Brasil?
Aninha: Não, mas já tive a chance. Sim
BW: Estudar e dançar: como você organiza isso? Em que série você está? Na escola é normal pedirem para você dançar?
Aninha: Em relação a isso é bem tranquilo, consigo me organizar muito bem. Estou na 1ª série do Ensino Médio. Na escola atual não, mas na anterior sempre pediam para eu dançar.
BW: Ano passado você mudou de São Paulo para Peruíbe, no litoral. O que a levou a trocar a vida agitada de São Paulo pela vida do litoral?
Aninha: Meus pais decidiram trocar essa vida agitada, pois queriam mais tranquilidade e menos agitação.
BW: Como você tem vivido esses dias de pandemia no litoral? O que tem feito?
Aninha: Tenho vivido muito bem. Estou estudando bastante, ajudando a minha mãe e treinando muito.
BW: O que acha dos eventos on-line que estão acontecendo nesse momento e dessa nova forma de participar de eventos? Como acha que será o futuro para os B-Boys e as B-Girls pós pandemia?
Aninha: Estou achando bem legal. Na minha opinião, isso depende de cada um, muitos não tem lugares para treinar, mas sei que alguns estão tentando continuar nessa batalha e evoluir.
BW: Muito tem se falado do Breaking nas Olimpíadas. O que pensa sobre isso? Você gostaria de ir para as Olimpíadas?
Aninha: Achei muito interessante, isso será uma chance para todos nós de sermos reconhecidos
BW: O que hoje significa o Breaking na sua vida? Quais são seus planos para o futuro e seus sonhos?
Aninha: Pra mim significa tudo, o Breaking faz parte de mim, é uma dança que me faz sentir leve e contente. Ainda não me decidi o que eu realmente quero para o meu futuro, mas sei que o Breaking continuará sendo o meu hobby.
BW: Deixe uma mensagem para os leitores do Portal Breaking World que estão lendo essa entrevista…
Aninha: E aê galera? Continue se esforçando e dando o melhor de si pelo o que você gosta, desistir jamais, persistir sempre! Um abraço para todos!
Fotos: Arquivo Pessoal/The Sarará
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