O mano é Flex e sonha em ainda viver da dança
Luciana Mazza
Ele nasceu na Paraíba, na cidade de João Pessoa, mas foi em 2005, com apenas 12 anos, que após assistir um DVD de um campeonato de Breaking decidiu se dedicar de corpo e alma a esse elemento da Cultura Hip-Hop. Cresceu praticando saltos mortais, plantando bananeiras e se dedicando aos movimentos flexíveis, o que o levou a ser um dos caras mais flexíveis do Brasil, claro que estamos falando do Jonas Flex. Neste último mês, ele esteve em São Paulo como jurado e palestrante do campeonato Breaking Combate, onde falou de assuntos bem importantes como viver da dança, lesões e oportunidades para dançarinos. Jonas está de malas prontas para a Europa, onde pretende passar uns 40 dias participando de campeonatos, como World Breaking Classic, The Notorious I.B.E e Outbreak. O Portal Breaking World correu e levou aquele papo com esse mano que, sem dúvida, é uma referência não só na dança, mas na conduta dentro da cena. Confira a entrevista:
BW: Queria que você nos falasse um pouco da sua infância, onde nasceu e cresceu e que lembranças tem dessa época?
Jonas Flex: Nasci e cresci na Paraíba, na cidade de João Pessoa, no bairro do Geisel, toda minha infância foi cercada de aventuras, dentro do meu bairro, andando de bicicleta, soltando pipa, jogando bola, praticando saltos mortais e “plantando bananeira”.
BW: Quando teve contato pela primeira vez com a Cultura Hip-Hop? O que mais te chamou a atenção?
Jonas Flex: Desde criança eu sempre tive contato o Hip-Hop, na música e Graffiti e depois de alguns anos, com 12 anos de idade, tive meu primeiro contato com o Breaking, através de um DVD, onde assim que assisti me identifiquei com aqueles movimentos, pois sempre achei que meu corpo pedia isso.
BW: E com o Breaking? Quem foram suas referências e com quem aprendeu a fazer seus primeiros movimentos? Alguém te ensinou? Em que ano foi isso?
Jonas Flex: Minha primeira referência foi o DVD do Red Bull BC One 2005, após assistir eu fui atrás de pessoas que dançavam no meu bairro e acabei encontrando algumas pessoas que estavam iniciando e outras que já dançavam, assim fui criando conexões e comecei a praticar cada dia mais.
BW: Quando começou a se envolver com o Breaking, você teve apoio da sua família?
Jonas Flex: No início não tive tanto apoio, eu era muito novo e ainda estava no ensino fundamental e minha mãe disse que “eu só podia dançar se eu fosse aprovado e no dia que eu reprovasse nunca mais eu colocaria a mão no chão para dançar”, aí, desse jeito, eu me dediquei muito aos meus estudos e consegui finalizar ensino fundamental, médio e superior sem reprovar nenhuma vez, sendo assim, ganhei a confiança dos meus pais e com o tempo eles começaram a me apoiar muito e valorizar o que eu fazia. Hoje eu sou formado em Licenciatura em Dança pela UFPB (universidade Federal da Paraíba).
BW: E de onde vem tanta flexibilidade nos movimentos?
Jonas Flex: Quando iniciei no Breaking, eu me identifiquei com os movimentos flexíveis, me alonguei muito junto com o professor de ginástica, que me auxiliava nos alongamentos e me fazia ir além dos meus limites. Sempre achei que seria o cara mais flexível do mundo, mas aí eu alonguei tanto que quase me machucava e resolvi diminuir no alongamento para não ter um problema no futuro, mas ainda fiquei muito flexível até os dias de hoje, ultimamente tenho alongado apenas para manter o que eu já tenho.
BW: Com que idade começou a competir no Breaking? Fale um pouco das principais vitórias e dos principais eventos por onde passou.
Jonas Flex: Minha primeira batalha foi com 13 anos de idade, eu dançava Breaking há menos de um ano, foi uma experiência incrível, mas não me dei bem em relação a vitória, mas me dei bem com a experiência que adquiri, que foi essencial para minha evolução como dançarino, até que o tempo foi passando e fui ficando em vários pódios de terceiro, segundo e primeiro lugar. Ganhamos 5 vezes o Giga B-Boys/B-Girls em Pernambuco, ganhamos 4 vezes o EDCRA na cidade de Exu (PE), ficamos 3 vezes em segundo lugar no Festival Cearense de Hip-Hop em Fortaleza (CE), já participei de vários Red Bull BC One Cypher Brasil, já participei de eventos internacionais como Unidisputed, Crashfast, BBIC no The Notorious IBE Holanda, Breaking It Up Hungria, Outbteak Eslováquia.
BW: Recentemente, você esteve em um grande evento aqui em São Paulo e, numa roda de conversa, falou sobre viver do Breaking aqui no Brasil. Queria que nos contasse a sua experiência, se alguém te apoiou financeiramente, patrocinou e que conselhos você daria para quem pretende viver da dança?
Jonas Flex: Esse é um dos assuntos mais complicados e delicados para mim, pois viver bem trabalhando com dança aqui onde eu moro em João Pessoa, para mim foi e ainda está sendo impossível, tive que buscar outros meios para conseguir realizar “meus sonhos” e pagar meus boletos. Abri uma empresa e hoje trabalho com moda Street Wear, mas para quem realmente quer viver da dança, eu aconselho se dedicar bastante, mas sempre ter dois caminhos, para caso um caminho não dê certo, você tenha o outro, assim transformando os dois caminhos em um e não se tornar um “dançarino frustrado”.
BW: Nos últimos anos vivemos muitas mudanças, o Breaking virou uma modalidade olímpica. Como você vê todas essas mudanças, cultura versus esporte e a forma que vem sendo trabalhado no Brasil. Olhando o cenário mundial estamos preparados para subir num pódio?
Jonas Flex: O Breaking nos Jogos Olímpicos é de extrema importância, pois trará muita visibilidade e valorização para o Esporte/Dança, gerando emprego e patrocínio de grandes empresas para os B-Boys/B-Girls, sendo assim, alcançaremos o tão sonhado “Viver bem de dança no Brasil” algo que eu espero dizer um dia, hoje é possível para mim.
BW: Verdade que esse ano você vai para fora? Quais são seus planos? Por que países pretende passar? E por quanto tempo pretende ficar fora do Brasil?
Jonas Flex: Vou passar 40 dias na Europa, onde estarei participando de vários eventos, como World Breaking Classic, The Notorious I.B.E e Outbreak e, claro, fazendo aquele network, criando uma conexão com novos amigos e aprendendo um pouco da cultura de cada país que estarei passando.
BW: Jonas, você é um B-Boy bem experiente e já gravou vários tutoriais que têm ajudado B-Boys e B-Girls espalhados pelo Brasil. Outro assunto que você tocou na roda de conversa no evento aqui em São Paulo, foi sobre o “perigo das lesões”. Nos fale um pouco sobre esse assunto e se existe uma forma de se cuidar mais e de diminuir os riscos?
Jonas Flex: Esse é um assunto que eu posso falar, pois sou a prova viva. Infelizmente, para quem não sabe, eu sempre eu fiz Street Show, por 10 anos, como dependente, para completar minha renda, ou seja, se eu não dançasse no semáforo de trânsito e na orla da praia, eu ficaria sem dinheiro para se manter, o que foi um pensamento muito triste da minha parte, pois poderia ter pego outro trabalho para poupar meu corpo; no semáforo de trânsito eram, em média, 80 entradas com flares e handhops e isso foi desgastando meu corpo, principalmente a virilha, pois o corpo não aguentou o excesso de exercício físico. Hoje eu evito dançar sem me alongar ou aquecer, para não me lesionar. Muitas vezes você vai em um shopping ou algum passeio e as pessoas falam “Faz um flare aí, ou dá uma entrada para eu gravar” e, assim, na emoção, você acaba fazendo e aquilo pode te custar uma lesão crônica ou tão demorada que pode durar anos e nunca mais ser o mesmo corpo, eu fiquei lesionado da minha virilha por 7 anos, isso tudo porque eu fazia o Street Show na orla de praia sem me alongar e acabei adquirindo essa lesão, e olha que em 2014 eu era um dos caras mais flexíveis do Brasil, mesmo assim não teve jeito, a lesão ficou até 2021 e hoje estabilizou 90%, mas depois de passar por vários médicos, fisioterapia, nada dava jeito, até que desisti de tudo e deixei ver até onde ia e acabou melhorando, talvez por sorte (risos tristes).
BW: Em alguns eventos, você tem dançado de luva devido a um suor excessivo nas mãos. Na medicina, isso é chamado de Hiperidrose, é isso? Talvez você não seja o único que passa por esse problema. Pode explicar um pouquinho da sua experiência, do que acontece com você e quais as alternativas para resolver isso?
Jonas Flex: Para quem não sabe, eu tenho esse problema de Hiperidrose, que é um suor excessivo nas mãos, isso me atrapalhou desde o início quando comecei a dançar Breaking, vários eventos eu deixei de participar devido o piso ser muito liso e não dar para mim. Perdi as contas de quantas vezes eu caí ou deixei de fazer meus movimentos devido o piso liso, até que eu fui para o evento Red Bull BC One Fortaleza 2021, onde estava super preparado, com várias entradas e movimentos para ganhar e acabei escorregando no piso e não consegui desenvolver como eu gostaria. Após sair de lá, muito triste, eu fui atrás de um método para solucionar o meu problema, o que eu já deveria ter corrido há muito tempo, tentei várias coisas, como pó magnésio, gesso, entre outros e nada deu certo. Então, fui atrás de uma luva que não deixasse escorregar e fosse confortável para eu dançar. E resolvi meu problema, por enquanto, porém, pretendo fazer essa cirurgia para parar de suar, ela no particular passa de R$ 20.000,00, mas estarei buscando pelo SUS aqui na minha cidade e espero conseguir o mais rápido possível, além disso, eu tenho Ceratocone, um problema de vista que deforma a córnea e fiz a cirurgia de um olho e ainda falta o outro, depois disso estarei 100% para me dedicar ainda mais ao meu Breaking.
BW: Quais são seus planos para o futuro?
Jonas Flex: Meus planos para o futuro, é conseguir viver bem da dança, algo que no fundo eu ainda acredito que será possível, mas também se não der certo, continuarei firme e forte com meu Breaking e trabalhando na minha área de empreendedorismo e me dedicando ao máximo como sempre fui.
BW: Deixe uma mensagem para os leitores do Portal Breaking World?
Jonas Flex: Deixo meu agradecimento ao Portal Breaking World, por poder contar um pouco da minha história, também agradeço a todos vocês que tiraram um tempinho para ler mais sobre mim, que nós do Breaking e da dança no geral, nunca venham a desistir de sonhar, mas nunca fiquem apenas no sonho, vamos realizar, novos tempos estão por vir, foco no trabalho.
Imagem em destaque: Jonas Flex / Arquivo Pessoal