Guia Antiassédio no Breaking: O primeiro passo para uma mudança
Você já ouviu falar em assédio no Breaking? Provavelmente não, afinal, não falamos sobre esse e outros importantes temas relacionados a violências no Breaking.
Mas sim, eles existem e estão presentes nos eventos, nos treinos, na internet e em todo lugar.
Tudo começou após a publicação da renomada B-Girl alemã Jilou [na foto em destaque] publicar um desabafo em seu blog sobre os assédios sofridos ao longo de todos os anos na dança e afirmar: “Eu sei que não sou a única a passar por isso”.
A “Rede Bgirls do Brasil”, que hoje conta com mais de 150 mulheres de todo o país, discutiu o tema e descobriu por meio de trocas de experiências e de uma pesquisa realizada em junho de 2020 pela B-Girl do Rio de Janeiro Amanda Baroni, que a maioria delas já sofreu algum tipo de assédio no Breaking e, boa parte, não soube identificar no momento ocorrido e quando perceberam o ato, não souberam o que fazer. No total, 47 B-Girls de diversos estados do Brasil foram escutadas.
Com base nessas informações, ficou clara a necessidade urgente de criar um material de conscientização e orientação sobre o assédio. Surgiu então o “Guia Antiassédio no Breaking”, um manual didático, de fácil leitura, prático e compacto.
“Esse guia chegou num melhor momento, após décadas de violência na cena do Breaking, nós Mulheres, LGBTQI+ e outras pessoas, podem identificar as violências que sofreram e buscar ajuda e recursos para não silenciar a Cultura da Violência” – comenta Lucilene Santos (B-Girl Lu Afrobreak – arte educadora, pesquisadora e produtora cultural), ao se sentir contemplada, já que o estudo e todo o conteúdo foram dirigidos para todos.
Em menos de uma semana da publicação do material, a repercussão foi muito além do esperado, graças às redes sociais e a união de B-Girls e B-Boys, que reconhecem a importância do tema e a necessidade de compartilhamento desse conteúdo.
Infeliz coincidência, na mesma semana da publicação, um membro de um importante grupo de Rap brasileiro foi acusado de assédio a uma menor de idade em São Paulo, o que trouxe o tema à tona, criando interesse de outros elementos do Hip-Hop em utilizar o guia para consulta.
No guia, além de esclarecimentos sobre todos os principais tipos de assédios, é possível encontrar informações para os B-Boys e público em geral sobre como evitar o assédio, para produtores culturais sobre o que podem fazer para colaborar para gerar uma mudança significativa e onde procurar ajuda, com links de instituições responsáveis de acolhimento em todo o território nacional.
“Nunca paramos para entender o porquê muitas meninas param de dançar, agora sabemos um dos motivos, um dos principais, na verdade” – comenta Amanda Baroni e ainda acrescenta: “A maior parte do assédio é reproduzida pelos B-Boys, mas é importante que as B-Girls saibam o que fazer e os B-Boys, por sua vez, entendam que são parte da solução para reverter esse quadro no Breaking”.
O coletivo prevê uma série de ações de conscientização e, inclusive, a tradução do guia em outros idiomas para compartilhamento em todo o mundo.
Fotos: Sueliton Lima, Reprodução (Imagem em Destaque)