Esta semana o Rio de Janeiro voltou a sediar, mais uma vez, a Gymnasiade, Olimpíada do Desporto Escolar, que reuniu mais de 2 mil estudantes atletas da categoria sub-15 de 46 países de todos os continentes. O Breaking foi uma das modalidades e claro que o Portal Breaking World esteve presente para cobrir o evento e acompanhar de perto o desempenho de uma nova geração pequena no tamanho ou na idade, mas gigante no talento. A maioria dos atletas filiados na CNDD que foram convocados pela CBDE foram os medalhistas da categoria Kids do Primeiro Campeonato Oficial de Breaking Como Esporte, que aconteceu no ano passado, realizado pelo Conselho de Dança Desportiva.
Coletiva de Imprensa
No dia 18 aconteceu a coletiva de imprensa, o presidente da Confederação Brasileira do Desporto Escolar (CBDE) e vice-presidente da Federação Internacional do Desporto Escolar (ISF em inglês), Antônio Hora Filho, declararou que se forem computadas também todas as equipes de trabalho, as pessoas que acompanham os atletas e familiares, o evento teria envolvido mais de 4 mil pessoas. São dele as palavras: “Nós somos esporte, mas não só esporte. Somos esporte educacional. Nós utilizamos do esporte como uma ferramenta de formação da cidadania e de educação”.
A maior delegação foi a do Brasil, com 404 membros, sendo 323 estudantes atletas – 161 mulheres e 162 homens -, o que para Antônio Hora Filho resulta das ações pró equidade desenvolvidas pela entidade. “Significa dizer que a política de equidade da CBDE vem trazendo efeitos benéficos para a nossa sociedade, incluindo a mulher definitivamente no esporte”.
Hora Filho lembrou que essa é também a maior delegação que o Brasil já apresentou em edições da Gymnasiade. A expectativa do dirigente é garantir um bom resultado. “Nas últimas Gymnasiades sub-18, o Brasil, desde 2013, sempre figura entre os três países com maior número de medalhas no cômputo geral. A nossa expectativa nesse ano foi estar no topo do quadro geral de medalhas, competimos em solo brasileiro, com todo o clima e a torcida. Os atletas não tiveram problemas de adaptação ao clima e pressão psicológica. A nossa delegação esteve bastante numerosa. Nós acreditamos que o Brasil pode voltar ao topo do quadro geral de medalhas. Essa é uma boa perspectiva para que as próximas gerações olímpicas sejam um reflexo dessas competições escolares”, disse o presidente da CBDE.
Depois do Brasil, a China é a delegação com maior número de integrantes com mais de 200 componentes. O Chile é a terceira, com 164 membros, e os Estados Unidos com 122 inscritos.
Na primeira edição do evento no Brasil, em 2013, a sede foi Brasília. Naquela edição, os estudantes atletas eram da categoria sub-18. “Não podemos esquecer que é do esporte educacional que surgirão os talentos, e nós temos exemplos recentes. A nossa medalhista da ginástica Rebeca [Andrade], que ganhou medalha de ouro nas Olimpíadas, a primeira medalha internacional que ela ganhou foi em 2013 quando realizamos o Gymnasiade sub-18 em Brasília, e ela se iniciando na sua vida esportiva ganhou a sua primeira medalha internacional na mesma prova que seis anos depois se transformou em campeã olímpica. No desporto escolar, formar atletas é importante, mas formar cidadãos é muito mais importante”, disse Hora Filho.
Para o presidente da Federação Internacional do Desporto Escolar (ISF), o francês Laurent Petrynka, a participação dos estudantes atletas é mais do que representar a própria modalidade esportiva. “Quando você compete nos eventos da ISF, não está apenas representando o seu esporte, está representando a sua família, a sua cultura, o seu potencial”, disse, acrescentando que uma das razões da ISF em organizar essas competições é desenvolver nos estudantes os verdadeiros valores olímpicos.
Cerimônia de Abertura
A ministra do Esporte, Ana Moser, esteve na cerimônia de abertura no domingo (20). A mascote dessa vez foi um pássaro carioca, chamado Rio, que teve o nome escolhido em uma consulta entre os participantes. A ISF U15 Gymnasiade 2023 apresentou 18 modalidades: tiro com arco, atletismo, badminton, basquete 3×3, boxe, caratê, dança esportiva, esgrima, ginástica artística, ginástica rítmica, judô, orientação, natação paralímpica, natação, tênis de mesa, tae-kwon-do, wrestling e xadrez.
As competições foram realizadas na quinta-feira (24) e na sexta-feira (25), com encerramento do evento no sábado (26). O retorno das delegações para os seus países está previsto para os dias 27 e 28.
As provas foram disputadas nas arenas cariocas 1 e 2, no Centro Olímpico de Tênis e Vila Olímpica, instalados no Parque Olímpico da Barra da Tijuca; na Arena da Juventude, no Complexo Esportivo de Deodoro; e no Complexo Esportivo da Universidade da Força Aérea (Unifa), em Sulacap. Todos esses equipamentos estão na zona oeste da cidade.
O secretário de estado de Esporte e Lazer do Rio de Janeiro, Rafael Picciani, incentivou a presença do público lembrando que os ingressos para assistir as competições eram grátis. “A grande oportunidade de convidar a população para vir vibrar e assistir esses atletas competindo. Muitos deles, quando competem fora do Rio, não têm oportunidade de levar um parente para assisti-los, pelo custo, dificuldade logística e pelo calendário. Essa foi uma grande oportunidade de vermos esses atletas competindo e de trazer para perto a comunidade esportiva que o Rio de Janeiro possui, e mais uma vez ocupar essas arenas olímpicas, daquilo de mais marcantes que nós temos que é a alegria e a receptividade do povo brasileiro”, disse.
Como foi a chegada da delegação de Breaking?
A Delegação Brasileira Sub 15 composta pelos atletas B-Girl Angel do Brasil (13), B-Girl Mary D (14), B-Boy Samukinha (14) e B-Boy Pablo (13) chegaram ao evento na véspera da Competição (21), enfrentaram alguns problemas como cobrança de taxas aéreas indevidas, atraso na hospedagem, mudança de dias e horários de competições, chão impróprios que causaram feridas e lesões nos atletas, manifestações no meio da competição de alguns responsáveis por atletas que verificaram que alguns nomes não constavam como escritos para competir e ainda mudança de hotel. Problemas diversos onde alguns foram solucionados e outros não. Tirando um pouco do brilho do evento! Uma pena pelo tamanho e importância da Gymnasiade e pelo o que significa eventos desse porte para a nova geração de atletas brasileiros
E a Competição?
Mesmo com todas as dificuldades enfrentadas no Rio de Janeiro pela seleção Sub 15 na Competição o Brasil despontou nas primeiras colocações do mundial, confira:
B-Girl Mary D ficou em3° lugar no individual de B-Girls e na dupla mista;
B-Boy Samukinha em 4° lugar no individual de B-Boys e em3° lugar na dupla mista;
B-Girl Angel do Brasil em 4° lugar no individual de B-Girls e em 4° lugar de duplas mistas;
B-Boy Pablo 5° lugar no individual de B-Boys e 4°na dupla mista
O evento continua até o dia 26 de agosto. A Gymnasiade é organizada pela ISF em parceria com a CBDE, com apoio do Sesc Rio; da Federação de Esportes Estudantis do Rio de Janeiro (FEERJ); do governo do estado do Rio de Janeiro, por meio da Secretaria de Estado de Esporte e Lazer; e do governo federal, por meio do Ministério do Esporte.
Fotos: Breaking World
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Foi com essa energia do bem que Denílson Alves dos Santos (26), de Guaianazes, zona leste de São Paulo, na Cultura Hip-Hop conhecido como B-Boy Baby, conversou com o Portal Breaking World, falando de sua história e caminhada no Breaking e na vida!
Nesse papo falou sobre família, Breaking cultura e esporte, sobre grandes eventos do passado, essência, referências, treinos, lesões e principalmente a respeito de ser manter estável, psicologicamente, emocionalmente e financeiramente! “O mundo precisa de pessoas boas e o resto é consequência” é dele essa reflexão que desejamos que inspire você, leitor, a ser sempre pelo certo, pelo bem, nunca desistindo dos seus sonhos. Continuar é o foco, por mais difíceis que as coisas possam parecer! Fé no corre!
Confira essa entrevista que acabou de sair do forno:
BW: Queria que você nos falasse seu nome completo, idade e nos contasse um pouco da sua infância: onde nasceu e cresceu? Foi uma infância tranquila ou houve dificuldades? Que lembranças tem dessa época?
Baby: Eu sou Denílson Alves dos Santos, tenho 26 anos. Sou de Guaianazes, zona leste de São Paulo. Minha infância foi tranquila em alguns aspectos, foi uma infância bem vivida. Eu brinquei bastante, tive muitas amizades, joguei muita bola, andei muito de bicicleta. Brincava bastante com as brincadeiras da época que tinha, mas também houve dificuldades, sim. Eu sou de uma família humilde, periférica, mas meus pais nunca deixaram faltar nada, porque os meus pais sempre fizeram correria para ter. Meu pai é pedreiro e a minha mãe cuidava da casa. Eu tenho uma irmã autista, então, essa minha irmã depende muito da minha mãe. As duas são bem grudadas, tenho irmãos também. Então, foi bacana o tempo da escola, mas eu não tinha uma autoestima muito legal, por ser um preto e tal, sofri muito bullying com o cabelo que eu tenho. Mas foi na minha infância que eu conheci o Breaking!
BW: Como foi isso? Quando surgiu o amor pelo Breaking? Onde aprendeu? Teve alguém que te ensinou os primeiros movimentos?
Baby: A partir daí comecei a ter minha personalidade e escolher esse caminho. Eu conheci a Cultura Hip-Hop entre 2008 e 2009, foi por meio do DVD Red Bull BC One 2005 muitas pessoas começaram através desse DVD, tinha um amigo meu que tinha um irmão que dançava Breaking e esse amigo nosso trouxe esse DVD para gente e através daí começou o encanto pelo Breaking. Fomos para rua tentar fazer os passos iguais dos dançarinos dessa época, que são conhecidos hoje mundialmente e até então encontrávamos uma divulgação aqui numa escola do meu bairro, onde estava acontecendo aulas de Hip-Hop e aí foi o meu primeiro contato com o Breaking e com os fundamentos, com pessoas me ensinando, foi a partir daí e até hoje essa pessoa que me ensinou os primeiros passos, o B-Boy Jean, até hoje somos muito amigos, somos da mesma crew e através daí eu fui tendo outros mestres. Fui conhecendo outras pessoas e outros lugares de treino. E assim foi fluindo!
BW: Existiram pessoas que foram referência na dança para você aqui ou fora do país?
Baby: Sim, existiram diversas referências para iniciar minha carreira e de início como foi pelo DVD da Red Bull daquela época, tiveram algumas pessoas, eu sempre gostei de coisas de flexibilidade, gostava do Lilou. No Brasil, tive muitas referências com o pessoal da Gangstyle, que era uma crew de muita referência, inclusive eu fiz parte dessas crew também. O Lula foi uma referência. O B-Boy Megaman foi uma grande inspiração, no início e até hoje.
BW: Na sua família você é o único que dança? Teve apoio da família quando começou a dançar?
Baby: Na verdade não. Quando eu comecei o meu irmão Denis também estava lá no Brasileiro, nós começamos juntos, na mesma época, então, vivemos os mesmos momentos e hoje em dia ele continua dançando, somos da mesma crew, moramos juntos e continuamos dançando até hoje. Referente ao apoio, na época, né, por ser algo novo e por eu vir de uma família antiga que não tinha muita informação, eu era proibido de treinar pelo meu pai. Eu ia treinar escondido às vezes, sabe? Eu dançava escondido porque o Breaking não tinha como, eu estou aqui até hoje. Com o tempo, fui recebendo apoio, no decorrer dos anos fui envelhecendo, meu pai foi vendo que não era exatamente isso que ele pensava. Na época, falava de Hip-Hop pensava na rua, em coisas erradas. Mas isso era falta de informação que depois chegou.
BW: De onde surgiu o nome Baby que você usa até hoje na dança?
Baby: Esse apelido é bem antigo, eu era chamado de Baby bem antes de dançar, era um apelido que eu não gostava, na verdade, foi meu irmão que me apelidou com esse nome. Eu era novinho, era bem chorão, então, por causa da “Família Dinossauro” (risos) me apelidaram de “Baby”. Eu não gostava, mas ficou e está aí até hoje!
BW: Quando começou de fato a competir? Nos fale dos eventos que foram os mais especiais até hoje na sua vida e porque te marcaram…
Baby: Quando eu comecei, mesmo não tendo nível para competir, eu sempre gostei da energia da competição. Das batalhas e dos desafios! Então, eu comecei bem cedo nas batalhas, 2010 eu já batalhava! Mas as que mais me marcaram foram Rival vs Rival 2015, Master Crews, onde fomos finalistas, eu fazia parte da Gangstyle na época, foi em 2013. Mas no Rival eu competi ao lado meu irmão Smoke e tinham várias duplas de alto nível e eu lembro que enfrentamos também duplas de outros países, foi muita gente de fora, então, foi muito marcante, porque o Rival vs Rival era um evento que nós acompanhamos muito no início da nossa carreira e é um evento que sinto falta até hoje, foi importante para nossa carreira e sempre foi um evento de alto nível nacional. Tem muita história, muita trajetória e todo um emocional. Estava eu e meu irmão, então, foi um momento muito nosso! Foi bacana essa experiência!
BW: Você, Baby, sempre tem uma grande torcida nos eventos, nos fale sobre essas pessoas, sobre sua crew e como é a relação de vocês.
Baby: Sobre as torcidas, eu acho bacana! Principalmente os meus amigos, minha crew é um sentimento bem real nesse momento! Eu acredito que conheçam a minha história, talvez achem que vai chegar junto nessa energia, eu sempre busco transmitir uma boa energia em todo lugar que eu estou, então, eu não vou falar que sempre foi dessa forma, mas é uma essência que temos de amizade, muito de alegria, de festa, principalmente minha crew que acompanha o meu crescimento e ficam felizes por isso e as pessoas que são reais comigo da Cultura também ficam felizes, porque eu tenho uma trajetória no Breaking, eu já passei por diversas situações também na minha vida, então, quem conhece a minha história fica feliz quando consigo coisas! E muitos que estão no meio da bagunça viveram muitas coisas comigo, têm uma relação de amizade. Quando eu estava com o Hip-Hop no Vagão, trabalhava muito nos vagões em São Paulo, fazendo muito trabalho artístico, então, sempre tivemos uma energia alta, compartilhando boas coisas! São amizades antigas, vivemos muitas coisas juntos além do Breaking, tanto coisas boas como ruins. É uma conexão que acaba gerando num momento de alegria com amizades antigas e também amizades que chegaram agora!
BW: Como você vê os eventos que acontecem hoje em dia no Brasil? Você já competiu fora do país?
Baby: Com mais estrutura, mais oportunidades, as premiações melhoraram, mas sinto que perdeu a essência… Hoje em dia não vejo mais uma essência como antigamente, que existia muitas crews, hoje em dia não tem muitos eventos de crew, antigamente víamos as crews como família, cada família no seu canto, todo mundo com as camisas iguais, fazendo grito de guerra e isso se perdeu com o tempo, porque a estrutura, valores, não é ruim ter uma premiação alta, porque precisamos disso também para sobreviver, isso é um trabalho, que exige uma dedicação muito grande, leva anos… Mas a essência se foi um pouco e hoje é tudo diferente… Hoje é mais estrutura “hype”, mais a imagem, mas a essência real foi perdida e referente a competir fora do país, sim, já morei fora, morei em Santiago do Chile e eu competi e ganhei alguns títulos por lá. O meu primeiro título internacional foi o Surbreakers, foi bem bacana, foi em 2019, ganhamos também passagem para uma competição em Porto Rico, que não foi possível por causa da pandemia. Foi bem bacana, porque morei um ano lá e tive experiência também como arte-educador além do Breaking.
BW: Como são os seus treinos? Quantas vezes na semana e quantas horas treina? Como você descreve a sua dança?
Baby: Hoje em dia os meus treinos são mais conscientes. Eu tive algumas lesões no decorrer dos anos por falta de informação e teimosia também, confesso. Eu pratico Yoga, alongo pela manhã, faço minhas meditações, busco me centrar bastante. Também faço fortalecimentos específicos, fisioterapias com banda elástica, malho sempre, houve uma necessidade de ter um preparado de atleta, mesmo antes de ter sido anunciado como esporte olímpico, atendendo as necessidades do meu corpo. O Breaking eu treino de 2 a 3 horas, somando tudo pode dar 5 a 6 horas de trabalho corporal. Antigamente, eu me movimentava bastante, também trabalhava no vagão, fazia shows, também tinha ensaios, eu sempre busquei treinar o meu Breaking fora as outras atividades. Sempre me mantenho ativo e com os treinos em dia. Descrever a minha dança vai muito com a minha realidade de vida, as minhas dificuldades, as minhas guerras internas e busco essas inspirações da minha família. Minha maior inspiração é a minha família, pelo que os meus pais correram e eu busco muito essa questão. Às vezes treino todos os dias, ando de bicicleta e às vezes descanso.
BW: O Breaking, que sempre foi um elemento da Cultura Hip-Hop, agora também virou esporte e será a nova modalidade olímpica de Paris 2024. Você participou do Primeiro Campeonato de Breaking como Esporte da CNDD. Como você vê todas essas mudanças de cultura para esporte?
Baby: O Breaking nunca vai deixar de ser cultura, mesmo estando inserido nos jogos olímpicos, estamos nas próximas olimpíadas agora também. Eu acho que ele segue como cultura, mas expandiu para o esporte e isso é bom, porque será mais visto pela mídia, pelas pessoas antigas também que viam de uma forma ruim e agora vão entender que é algo profissional, porque quando falamos esporte mostra que é algo profissional e dentro da cultura é profissional também, então, acho que é uma boa expansão, mas ele sempre vai seguir sendo cultura, expande para o esporte e vêm as oportunidades.
BW: Na sua opinião quais são as reais chances do Brasil nas Olimpíadas de 2024? Hoje em dia seu foco são as Olimpíadas? Como tem se preparado para esse grande evento? Quais são seus planos para o futuro?
Baby: Na minha opinião o Brasil tem chance, estamos mais próximos com a organização e o top 3 que rolou na CNDD foi bom, mesmo que eu queira estar preciso entender que os que estão à frente de mim são pessoas que às vezes já percorreram o que eu estou percorrendo, é uma questão de processos, aprendizados e experiências. Mas se eu tiver oportunidade de ir, vou dar o meu máximo, hoje em dia tenho me preparado bastante, busco ser mais consciente em diversas coisas, sigo treinando, aprendendo muitas coisas e buscando novas oportunidades, apoios e cuido do meu interno, que é o mais importante. Os meus planos para o futuro são saúde minha e ao meu redor, minha família, meus pais, cuidar da saúde deles, então, essas oportunidades eu busco entregar o melhor para a minha família e isso me mantém estável. Tanto psicologicamente, quanto emocionalmente e financeiramente!
BW: Deixe uma mensagem para os leitores do Portal Breaking World e para quem acompanha a sua dança.
Baby: Primeiramente, gratidão pela oportunidade, pela consideração do meu trabalho e trajetória. Feliz em poder compartilhar um pouco da minha história com vocês, é de grande importância para mim tudo isso! Tô ligado que existem muitas pessoas que não acreditam no meu corre, até sentir minha energia e meu Breaking! Porém, sei que tenho muito o que melhorar e trabalhar na minha dança. Eu sou muito grato por aqueles que acreditam realmente nisso aqui, isso me motiva a seguir! Independentemente de qualquer situação, não deixe de acreditar no seu potencial, não… Aprenda com os seus erros, trabalhe em cima disso, escute seu coração e nutra-se com todos os aprendizados possíveis! Seja leal consigo mesmo, só você sabe o coração que você tem… A humanidade precisa de boas pessoas, foque nisso e o restante virá como consequência… Muita fé no corre!
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Aconteceu no último final de semana, no Ginásio Poliesportivo de São Bernardo do Campo (SP), o 2º World Dancer Experience. O evento foi um intensivão internacional de dança. Inscritos tinham mais de 110 dançarinos de todo o Brasil, de 15 anos de idade em diante, do nível intermediário ao profissional. Nos três dias, essas pessoas trabalharam versatilidade, musicalidade, conhecimento corporal, performance de palco, alma na dança e infinitas coreografias, onde o objetivo era elevar o trabalho artístico a outro nível. Esse ano, nomes internacionais como de Matthew Prescot da Broadway Dance Center, Katie Dablos da Step on Broadway, Ashlé Dawson e Geeg Torres, que protagonizou um dos momentos mais animados do intensivo com o Hip-Hop, trouxeram vivências incríveis e muita experiência aos dançarinos presentes. Alguns nomes nacionais, não menos importantes, também enriqueceram o evento com suas caminhadas, são eles: Jhean Alex, Zeca Rodrigues, Adriana Assaf e Li Kirsch. Nos três dias de evento, o Portal Breaking World esteve presente e pode sentir uma vibe diferente de corpos livres, dançantes, que tinham arte nas veias e que em alguns momentos do intensivo transbordavam e escorriam pelos rostos. Conversamos com o dançarino Ricardo Braune, organizador do WDE, antes do evento. Confiram a entrevista na íntegra:
BW: Há quanto tempo você dança? Qual a sua especialização?
Ricardo Braune: Eu sou Bailarino há 19 anos! Minha especialidade é Jazz Dance.
BW: Como surgiu a ideia de fazer o World Dance Experience? A que público ele é destinado?
Ricardo Braune: A ideia do evento surgiu da nossa própria necessidade de buscar conteúdos internacionais de qualidade, mas conteúdos que realmente aprofundassem e ajudassem o bailarino a ter algum tipo de transformação! Tanto é, que nós dizemos que esse evento não é um workshop e também não é um curso de férias, é uma experiência que vai levar o bailarino ou artista a uma transformação de dentro para fora! É destinado a bailarinos, professores, coreógrafos de Jazz Dance, Ballet Clássico e Hip-Hop, que queriam aprender não apenas sequências, mas que queiram ter algum tipo de transformação na vida e na carreira artística!
BW: A versatilidade na dança é algo fundamental na carreira de um dançarino?
Ricardo Braune: Na minha opinião é! Imagino que não só na minha, a versatilidade é um dos caminhos para que você tenha um corpo mais inteligente e consiga se expressar de várias formas! A versatilidade te dá muitas possibilidades no mercado e até mesmo para quem é mais especialista, ter conhecimentos de outras áreas te permite ter uma dança mais fluida!
BW: O que as companhias de dança nacionais e internacionais esperam hoje de um dançarino?
Ricardo Braune: Acho que não só nas companhias, mas em qualquer trabalho, qualquer contratante espera ter pessoas preparadas para o que vier dentro das propostas! Pessoas íntegras, dispostas e boas! Para isso, é necessário bastante disciplina, estudo, treino e dedicação! E eventos como o WDE podem ajudar muito!
BW: Fale resumidamente tudo que vai acontecer nesses três dias de evento?
Ricardo Braune: São 3 dias muito intensos, onde vamos trabalhar três temas: a Base, a Musicalidade e aquilo que chamamos de Alma! São 4 professores internacionais e 4 professores nacionais, com conteúdos exclusivos para o WDE!
BW: E os professores, como foram escolhidos?
Ricardo Braune: Selecionamos os profissionais a dedo, de acordo com os objetivos do evento! Foi feito um balanceamento entre os conteúdos para que fosse uma experiência transformadora! Ir para o exterior, ver e fazer as aulas nos EUA, conversar com inúmeros profissionais e decidir cada professor não é uma tarefa simples! Mas foram escolhidos de acordo com a característica de cada um! Principalmente pensando na questão da versatilidade!
BW: O evento conta com a presença de dançarinos de várias modalidades de dança, correto? Como acontece essa interação e até superação de um estilo clássico, por exemplo, se lançar num Hip-Hop ou alguém que é do Hip-Hop fazer o clássico?
Ricardo Braune: É exatamente essa a proposta, quem tem dificuldade em outros estilos, tem que sair da zona de conforto! Tem que se permitir sair da caixinha para poder desfrutar de uma dança mais fluida! Eu, por exemplo, me especializei em Jazz, mas acho que se eu for contar, mais no início da carreira, minha dificuldade maior era Ballet, então, eu fazia muito mais Ballet que Jazz! Ainda deveria manter essa proporção hoje, mais Ballet do que Jazz e claro que o Hip-Hop me ajudaria muito também! Mas é esse o espírito, trabalhar outras possibilidades!
BW: Quais são suas expectativas para esse evento?
Ricardo Braune: Minha expectativa é de muita energia e muita dança! O que mais importa é no final todo mundo inspirado, com sonhos e metas estabelecidas e muita vontade de realizá-los!
Quem não conhecia esse evento ou não pôde ir esse ano, fica aqui uma boa sugestão para 2023. Depois de passar 3 dias de imersão no WDE ficou um gostinho de quero mais! Lembre-se: um dançarino versátil hoje em dia é ser alguém muito valorizado pelas companhias de dança de todo o mundo e ajuda a atuar em diversos segmentos e tipos de apresentação, sendo necessário, além do amor à dança, profissionalismo, técnica, estratégias de linguagem corporal, expressões faciais, musicalidade, disciplina nos treinos, na vida, são questões que ajudam na ascensão de qualquer dançarino, seja clássico ou não. Ter uma agenda atualizada sobre os melhores eventos, como o WDE, pode ajudar muito na preparação e na formação de quem pretende viver da dança! Por isso, fique de olho no que acontece no mundo da dança à sua volta!
Imagens: ® Luciana Mazza
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Nos próximos dias 25, 28 de setembro e 7 de outubro, o grupo Funk Fockers apresenta um espetáculo de Breaking, que vai ser transmitido ao vivo . “Rotina” é o nome desse trabalho e leva a cultura Hip-Hop das ruas para o palco, misturando coreografia e audiovisual, sempre buscando novos horizontes dentro da cena.
“Existem poucos espetáculos de Breaking no país. Conseguimos de forma inédita a contemplação no edital ProAC, concorrendo com grandes companhias de dança de diversos segmentos como o balé e contemporâneo, nos permitindo colocar em prática as nossas ideias e apresentar uma obra criativa em uma narrativa atual e otimista”, comenta Allan Lopes (Mixa), diretor, B-Boy e coreógrafo. O espectador irá acompanhar o dia a dia de três entregadores de aplicativo que se preparam para curtir a primeira festa de Hip-Hop pós-pandemia.
O projeto conta com a colaboração da Fuligem Comunicação e Arte, um coletivo de artistas audiovisuais.
Conheça os artistas:
Allan Barbosa Lopes (Mixa): diretor artístico, coreógrafo , intérprete e B-Boy, no cenário Hip-Hop há quase 20 anos. É um dos fundadores da Funk Fockers, crew que foi criada em 2008. Passando por França, Dinamarca, Alemanha, Chile, Argentina, Estados Unidos e Colômbia, conquistou alguns títulos individuais e em grupo.
Bruno Siles (Onnurb): coreógrafo e intérprete, também é membro fundador do grupo Funk Fockers e dançarino de Breaking há 19 anos. Participou de competições nacionais e internacionais em vários países como Suíça, França, México e Singapura.
Thiago Antonio Alves (Thiaguin): coreógrafo e intérprete, integrante do grupo Funk Fockers, dançarino de Breaking há 18 anos, participou de um dos maiores campeonatos do mundo – The Notorious IBE, na Holanda, em 2011, como convidado especial.
Igor Goforit: DJ, MC, produtor e beatmaker desde 2000.
O projeto Rotina é realizado pela Fuligem Comunicação e Arte, Funk Fockers Crew e Governo do Estado de São Paulo, por meio do edital ProAC 03/2020 e conta com o patrocínio da Nest Panos, apoio da Strutura Contábil e Me Ghusta e produção da Oriri Agência Cultural.
Serviço:
Rotina Espetáculo de Breaking com Funk Fockers Crew 50min de duração On-line (Gratuito)
Confira o local das transmissões:
25/09/2021 às 19h Site: nestpanos.com YouTube: https://youtube.com/c/NestPanos
30/09/2021 às 19h YouTube – https://youtube.com/c/SUJO https://youtube.com/c/Funkfockers Instagram: https://instagram.com/funkfockers
Esta semana comemoramos o “Dia do Rap Nacional”, graças à Lei 13.201/2008, o Portal Breaking World, comemora esse dia apresentando uma entrevista lendária feita por nossa editora com o MC e letrista W-Yo, do grupo “RPW”, em 2009.
Sem dúvida, o Rap brasileiro é um divisor de águas, seja pelas inovações musicais ou pela capacidade de dar voz às pessoas, mostrando sua visão de mundo sobre a realidade e se fazendo visível e atuante numa sociedade que insiste em negá-la e renegá-la ao silêncio.
O grupo “RPW” cumpriu sua missão e deixou um legado para a nova geração. Obrigada Rubia, DJ Paul e W-Yo pelo trabalho de vocês. Vamos em frente, viva o Rap Nacional!
Leia a matéria:
BW – O grupo “RPW” foi criado em 1991, correto? O que faziam antes da união? Já eram amigos? Conte um pouco da história de vocês. E quando tiveram o primeiro contato com a música?
W-Yo – Nascido e criado em “Sampa” mesmo, aos 13 anos já tocava bateria em uma banda de Thrash Metal, aliás, conheci a Black Music pelo Rock (B.B. King, Louis Armstrong, Chuck Berry e outros). Aos 15 anos, na extinta casa “Toco” (Zona Leste de São Paulo), um dia, ouvi e vi o vídeo clipe traduzido do “Public Enemy – Fight the Power”, foi o que precisava. Voltei pra vila lembrando o nome do grupo, depois, conheci “Racionais MC’s” (Holocausto Urbano) e disse: É isso que quero fazer! Já tinha o dom da rima e comecei a aprimorá-la enquanto saía para pichar, de 1987 a 1992, com meus amigos, fazia Raps com os nomes dos pichadores da época. Montei meu primeiro grupo, “Crime Perfeito” e comecei a me apresentar aqui no lado oeste, aí o produtor Fabio Macari me apresentou para a Rubia e comecei a dançar para ela, logo depois, como escrevia também, ela me deixou fazer alguns backings, até adquirir independência no grupo.
BW – De quem foi a ideia de formar um grupo de Rap? Como era rimar nos anos 90? Tinha alguma diferença do que é feito hoje?
W-Yo – Sem dúvidas, o nosso primeiro hit (“Pule ou Empurre”), montamos junto com o Fabio Macari no meio da sala da minha mãe, deck de rolo, loops emendados com esmalte, quando com muita conversa o DJ Armando Martins (“Projeto Rap Brasil – Metrô FM”), começou a tocá-la. Lembro que íamos todos, cada um de um orelhão (de ficha… risos) ligar pra pedir a música, inventávamos nomes e bairros diferentes para que o som rolasse com frequência (risos e um gole na cerveja).
BW – Houve influências no trabalho de vocês? De quem ou de que grupos? O que vocês escutavam?
W-Yo – (Um gole) Sem dúvidas, RPW é original e criou o estilo “Bate-Cabeça” no Brasil pela diversidade de influências, cada um dos três veio e curtia uma época, então somamos tudo, minha contribuição veio com o Rock, Hardcore, Rap e Crossover. Como vivi a época Skate Punk no final dos anos 80, trouxe e incluí muitas influências de sons que curti e curto até hoje.
BW – No seu caso é verdade que foi pichador no passado? Que lembranças tem dessa época? Porque escolheu a sigla M.O.R.T. na época e como foi a mudança para W-Yo?
W-Yo – Legal! (risos) Então, na verdade comecei com esse vandalismo em meados de 1985/86, com canetão nos bancos de ônibus trabalhando como office-boy, depois, “evoluí” quando um amigo do colegial me levou para o “point”, na época era o Mc Donald’s do Borba Gato, lá comecei a sair para pichar com spray e me “profissionalizei” (risos). A sigla era uma música da minha banda “Madness Of Riot Testy” (cantávamos em inglês), tenho mais lembranças boas do que ruins, amigos até hoje, já com filhos e filhas como eu, na rua e madrugada aprendi muito as regras do jogo e a nota triste foi ir pra “Febem” e minha mãe me ver naqueles trajes, foi foda, jamais esquecerei. Daí, quando o W-Yo surgiu, comecei a conciliar as duas “pessoas”, sempre agradeci os pichadores, que são uma fatia grande do nosso público até hoje e tem muito pichador que me conhece mas não sabe que eu sou o W e muito rapper que pica e não sabe que eu era o M.O.R.T. (risos).
BW – O grupo teve importantes participações em grandes shows. Pode falar dessa época, dos principais eventos e baladas?
W-Yo – Poxa… (um gole)… Graças a Deus foram vários eventos e grandes shows, lembro de alguns: ser o primeiro grupo de Rap paulista a cantar no extinto “Olympia”, na abertura para o “Cypress Hill” na primeira vez que eles vieram para o Brasil, junto com o “Planet Hemp”. Ganhar o prêmio “DJ Sound Award’s 95” na categoria de melhor grupo de Rap nacional, onde uma atriz global (não lembro o nome… risos…) nos entregou o prêmio e nos divertimos muito nessa noite no “Tom Brasil”. O festival no campo de marte, “300 anos de Zumbi” com vários outros grupos. O clássico evento no extinto palco do Vale do Anhangabaú, onde caiu “mó chuva” quase no final. Participar da primeira edição do “GAS Festival” no palco Skate junto com a banda “Strike”. Cantar no “Mundial Brasileiro de Skate” no Ginásio do Ibirapuera, e assim vai…
BW – Vocês criaram o “Estilo Bate-Cabeça” no Rap Nacional, como foi isso? Explique esse estilo para quem não conhece. Receberam muitas críticas na época?
W-Yo – Sim, nós o criamos aqui no Brasil, isso foi devido a influência do grupo americano “Onyx”. Como já vim do Thrash Metal, acostumado com o fluxo entre público e artista, quando no Rap vi que na maioria das vezes, o que o MC falava, o público só confirmava, mas sem muito entusiasmo, daí pensei: Porque não fazer isso no Rap também?!? Aí quando vi o clipe da música “Slam” (“Onyx”), falei: é isso aí! Escrevi a letra de “Pule ou Empurre” no ônibus e cheguei no ensaio com base e tudo… risos… Apresentei pra Rubia e o Paul, no começo eles torceram o nariz, mas aí foram vendo que era o começo de uma nova tendência, aí começamos a fazê-la nos shows e a receptividade começou a fluir como eu queria, isso antes de gravá-la, em cima de base gringa mesmo. Demos o nome de “Bate-Cabeça” (todos pulando e se batendo no bom sentindo, mais com consciência, sem fazer disso uma briga) e a principal ideia é justamente fazer esse “funnyfluxo” divertido entre artista e público, dando chance a todos de curtirem o show, como se sentir bem. No começo houve várias críticas de resistência como: “Isso não faz parte do Hip-Hop”, “isso é só modinha, vai passar”, “o Rap não é brincadeira” e assim foi. Precisamos em uma época fazer um show com Thaíde e GOG no antigo “Santana Samba”, para apaziguar os bate-cabeças e os breakers, pois quando abria a roda, uns queriam moinho de vento e outros pular (risos). Na maioria dos shows também, tínhamos que pedir para quem fosse curtir, tomar cuidado com quem queria ficar de boa nos cantos para não dar briga, parecia manual de instrução (risos).
BW – Fale sobre a discografia do grupo, das músicas de trabalho e das participações especiais. Qual a música do “RPW” que foi mais conhecida e difundida nas rádios?
W-Yo – Orra! (dois goles grandes) Essa foi pesada heim!? (risos). “Coletânea Mov. Hip-Hop” (1992), “Pule Ou Empurre 12” (1993), “RPW… Está Na Área” (1996), “RPW Ao Vivo” (1996), “A Luta Continua, O Real Bate Cabeça” (2000) e “Talento Não Morre, Recicla” (2006). Essa é a discografia original, fora inúmeras outras coletâneas, muitos hits cravados desses álbuns e participações nas produções, como nas músicas, somam nomes de peso como: “Branco”, “Ugly C.I.”, banda “Ambulância”, banda “Calibre 12”, “DJ KLJay”, “Nill”, banda “Maguerbs”, “Thunder (ex P9)”, “DJ Cia”, “CCO” e algumas outras.
BW – Como ficou a formação do grupo depois da saída do DJ Paul? Como foi a adaptação e aceitação do público?
W-Yo – Certo, na verdade eu e a Rubia optamos por duas formações do “RPW”, a primeira forma mecânica clássica, somando nós dois e um DJ contratado. Outra é com banda nos lugares e festivais que deem estrutura para isso, achamos interessante porque o “RPW” sempre tocou em festivais e campeonatos de Skate com outras bandas e as vezes a potência do som mecânico não chegava igual acústica e agora é de igual pra igual, essa formação de peso é: Oscar Cake na bateria (banda “Calibre 12”), Ricardo Q-Pam e Tobéx, respectivamente, guitarra e baixo (banda “DeCore”). Quanto ao público, num show de estreia dessa formação na casa Hangar 110 em São Paulo, curtiram e aprovaram, pois, sempre fizemos crossovers com bandas e usamos samples sujos com guitarras.
BW – Em uma entrevista, você falou sobre “A perda do respeito da hierarquia da história pelos jovens que estão começando”. Declarou: “Isso pode prejudicá-los no futuro e pôr em vão toda a correria que foi feita por nós lá atrás. Quem está chegando agora precisa de referências, o que não está acontecendo”. Acha que esse problema ainda ocorre? Como vê o Rap que é feito hoje? O que considera bom e ruim?
W-Yo – Sem dúvidas (gole), isso ainda ocorre, pois com a facilidade que a tecnologia moderna dá às pessoas que querem fazer Rap, a maioria faz um trabalho mal elaborado e sem qualidade, na ansiedade de ter “algo gravado” e também faz o jogo da gravadora monopolizadora (105FM) a “Telefônica do Rap”, vendendo às vezes até carro ou algo assim para tocar por um mês e nisso sem perceber, cai nos braços dos mercenários, não se importando com a base sólida da história, hoje o Rap está definhado, perdido. O que era o termômetro hoje não é mais nada, os interiores paulistas e outros estados um dia debochados por muitos, crescem (como nunca pararam) e mostra à nave mãe como se pode trabalhar de uma forma humilde e sem demagogia. Bom? A internet hoje conecta Rappers do mundo todo para fazer música e eu sou prova disso, com parcerias com China, Hungria, República Dominicana, Espanha e Alemanha. Ruim? A nova rapaziada chegar agora, sem referência nacional como nós dos anos 90 temos e com isso não conseguiram dar sequência na corrida, o bastão foi passado mas caiu no chão, tocar na rádio não é ser artista (lembro do Facção: “Artistas de um mundo que não existe…”). Enfim, o Rap em São Paulo está um lixo!
BW – No passado, “Urbania” era um lugar para fazer música e rever os amigos? Comente.
W-Yo – Nossa! (outro bom gole) “Muiiiiiiiiiiiito bom” sempre falar do “Urbania”, uma casa diferenciada dos anos 90 em SP, destinada a molecada Skatista, que curtiam um bom som alternativo e queriam extravasar no fim de tarde de domingo. Foi lá que nos apresentamos a primeira vez para Skatistas de verdade, antes de gravar a “Pule Ou Empurre”, lá criamos nossa personalidade musical e nosso público direto, o alternativo. E gravando o primeiro disco (“Pule Ou Empurre”), não pensamos duas vezes no local de lançamento, a Alva Footwear e a Dekton Skates, que nos patrocinavam na época, garantiram os cem primeiros fãs a entrar de graça no pico e podendo ainda fazer uma sessão no mini ramp ao lado do palco, foi uma tarde frenética e hoje temos contato direto com esse mesmo público nos campeonatos de Skate de todos segmentos, festas de marcas, lançamentos de DVD’s, revistas do gênero e inaugurações de pistas de skate.
BW – Como você vê o movimento Hip-Hop? Acha que no caso do Rap ainda existe muito a se conquistar?
W-Yo – No caso do Brasil, sempre teremos muito a conquistar, estamos avançados até, mas o ego e o orgulho nos impede e muito de sermos muito mais fortes, nem temos noção disso.
BW – Fale sobre os clipes do grupo. Onde foram feitos e transmitidos.
W-Yo – O primeiro clipe oficial do grupo é a música “Pule Ou Empurre”, de 93, aí saíram também o “RPW Está na área”, para um programa esportivo de canal fechado e muitos outros independentes disponíveis no canal YouTube.
BW – Sobre um dos trabalhos de vocês, o que quiseram dizer com “Talento não morre, recicla”?
W-Yo – O título surgiu de uma conversa entre o grupo, e falávamos sobre a necessidade de se reciclar e renovar. Daí surgiu a frase e casou perfeitamente com o que queríamos transmitir ao nosso público. Que o talento é eterno e se renova. As participações foram do “Branco”, que somos fãs de carteirinha, na música “Estilo de Vida” e as produções dos DJ’s Cia e KLJay. Foi muito divertido e legal a gravação desse último álbum, pois tivemos experiências com produtores que nunca tínhamos trabalhado antes, estilos diferentes e amigos de longa data.
BW – Em todos esses anos, o que gostariam de esquecer para sempre?
W-Yo – Esquecer… hummm… Acredito que o estresse interno do grupo que tivemos no show de lançamento do disco “Sobrevivendo No Inferno” do “Racionais”, no “Ginásio do Corinthians”, onde o cronograma foi alterado de última hora e deixando o penúltimo bloco que eram “RPW”, “Doctor MC’s”, “Consciência Humana” e “GOG”, se não me engano, para último bloco após os shows de “Thaíde” e “Racionais”. Isso foi foda, tocar para umas 100 fiéis pessoas das 5.000 que estavam no local, com luz acesa e rapaziada desligando os cabos, afetou nosso psicológico e quase acabamos o grupo. Mas ainda bem que fomos fortes.
BW – Deixe um salve para os nossos leitores!
W-Yo – Quero agradecer ao nosso público fiel que sempre nos acompanhou, minha eterna gratidão! E pedir pras guerreiras e guerreiros do Hip-Hop que não abandonem a causa e nem deixem a cultura se perder. O futuro está nas mãos de vocês, eu em breve me aposento! Abraços! A toda equipe do portal pelo convite e atenção, importante esse trabalho continuar com personalidades da velha escola, assim os novos conseguem saber um pouco mais da história que foi feita e quem levou tapa na cara por eles, não peço amém, mais sim um pouco de respeito! A todos Skatistas, Pichadores, Grafiteiros, Tatuadores, Punks, Heavys, Darks, Surfistas, enfim, todos que direta ou indiretamente apoiam “RPW”. Aos fãs que a internet nos apresentou no mundo, como na Alemanha, Japão, China, Espanha, Hungria, Argentina, Austrália e Portugal… Qualquer dia estaremos por esses lados, U.B.C. até o fim… Abraços, beijos, muito sexo, cerveja, Skate, Rap e Hardcore, sempre!
Em 2017, depois de 25 anos de trabalho, o lendário grupo de “Bate-Cabeça” anunciou em sua “fanpage” o fim dos trabalhos, escreveram: “RPW é esse ciclo, que hoje se encerra, após 25 anos de trabalho em conjunto, companheirismo e muita vontade de mudar a vida das pessoas através da música. Se alcançamos o objetivo, não sabemos, mas com certeza a vida de Rubia, DJ Paul e W-Yo se transformaram graças a esse intenso e belo ciclo chamado RPW. E cada um levará a bagagem adquirida para seus projetos individuais daqui pra frente, sempre com muito respeito aos fãs e principalmente ao Hip-Hop, essa grande mãe que salvou e salva vidas pela arte e militância”.
Na semana do “Dia do Rap”, no ano de 2020, é uma honra para o Portal Breaking World republicar essa matéria feita por nossa editora, que na época era só uma repórter! Salve W-Yo e “RPW” pela oportunidade e vida longa ao Rap Nacional!
Fotos: Cristina Sininho Sá/Reprodução
"RPW" viajou por todo o país
W-Yo
W-Yo e Rubia
Rubia, W-Yo e DJ Paul
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O que sobra para as crianças da periferia? Os bares, as igrejas, as lajes para empinar pipas, os parques, as feiras, são os únicos locais socioculturais da quebrada, nessa realidade é um desafio não perder os jovens para o crime e tráfico.
Mano Brown, do grupo “Racionais MC´s”, já citava no Rap “Fim de Semana no Parque”: “O investimento no lazer é muito escasso e o Centro Comunitário é um fracasso, mas aí, se quiser se destruir está no lugar certo; tem bebida e cocaína sempre por perto, a cada 100, 200 metros nem sempre é bom ser esperto”.
A música de Brown retrata o perigo sempre presente nas periferias e o descaso do governo diante de tudo. Mas a terra sofrida, regada muitas vezes por sangue de culpados e inocentes, também é uma terra fértil em talentos. Exemplo é o projeto “Família UniVersos”, que começou no quintal da casa de Robertinho Filho do Céu, em São José do Rio Preto, interior de São Paulo, quando ele ensaiava seus próprios Raps, que compõe desde 2004.
Certa vez seus sobrinhos e amigos começaram a cantar suas músicas e tudo começou ali. Cansado de ver tantas crianças se perderem e morrerem cedo, naquele momento Robertinho descobriu qual seria sua missão junto aquela comunidade onde morava e até hoje não parou mais.
O Portal Breaking World conheceu Robertinho e as brilhantes crianças da “Família UniVersos” na São Bento, se encantou pelos pequenos artistas e agora resolveu contar a história desses grandes talentos. Leia a matéria abaixo:
BW – Robertinho, queria que você falasse primeiro de você e de sua caminhada na Cultura Hip-Hop. Quando se envolveu com a cultura?
Robertinho – Eu sou natural de São José do Rio Preto, sou educador social no “Céu das Artes”. Mas nas ruas sou conhecido como Robertinho Filho do Céu. Eu me envolvi com a Cultura Hip-Hop ainda criança, por intermédio de um padrasto de um amigo que me mostrou na época a música “Fim de Semana” dos Racionais MC’s. Nos dias de feira eu sempre pedia a minha mãe para comprar Fita K7 de Rap. Na escola, tinham amigos que também curtiam Rap, foi quando escutei a música do Thaíde e do DJ Hum “Nada pode me parar”. Naquela época, fui influenciado pelo Programa da MTV “Yo Raps”. Lá passavam vários clipes e comecei a conhecer outros grupos. Tive o primeiro contato com o Hip-Hop em projeto social no bairro Santo Antônio, lá comecei meu primeiro contato com o Breaking, Graffiti e em seguida o Rap. Iniciando em 2004 uma trajetória musical.
BW – Quem foram suas referências na Cultura Hip-Hop?
Robertinho – Minhas primeiras referências foram Mano Brown e Thaíde. E aqui em São José do Rio Preto foram o DJ Basim, Ana Paula e o Mano Di.
BW – Quando e como começou essa oficina de Rap junto com as crianças? Como foi o início desse trabalho? De quem foi a ideia?
Robertinho – Em agosto de 2016, fundamos o grupo musical “Família UniVersos”. Começou assim: já estávamos cansados de ver crianças e adolescentes envolvidos com o mundo do crime. Esses jovens iam presos, outros morriam muito cedo, então pensei em criar ações mais efetivas no bairro, ensaiando no quintal da minha casa. Certa vez, recebi meus sobrinhos e alguns amigos, foi nesse dia que percebi que por meio do Rap poderia iniciar um projeto social, trabalhando valores de vida e a conscientização para se ter uma vida cidadã!
BW – Como é trabalhar com crianças num projeto social independente? Fale dos principais desafios?
Robertinho – É gratificante demais doar nossas vidas por uma causa como essa. Eu falo de projeto social porque além de fazer Rap, eu trago sempre informações para esses jovens, capacitações de pessoas voluntárias, pessoas de teatro, de oratória, pessoas de outros elementos da Cultura Hip-Hop, do Breaking, do Graffiti, do DJ, então, o que eu posso agregar de conhecimento na vida deles eu faço. Hoje, nós pagamos do próprio bolso cursos de computação para alguns meninos. Então, tudo que é possível eu faço em nós por nós. É gratificante demais semear coisas boas! Na esperança que virão muitos frutos para que eles cresçam e multipliquem tudo que estão aprendendo. A maior dificuldade é a falta de apoio financeiro, porque para gravar música, para produzir beat, para gravar clipe e para ir nos eventos para cantar fora, tudo precisa de dinheiro. E às vezes não temos condição, não temos uma van. Então, o principal desafio é a falta de apoio financeiro e de ter uma estrutura melhor, ter uma aparelhagem de som e eu preciso ter um trabalho para sobreviver e ainda arrumo tempo para poder estar com os meninos. Eu gostaria de poder trabalhar integralmente com eles, mas por enquanto não tem condições.
BW – Quantas crianças estão envolvidas nesse projeto, qual a faixa etária e como funcionam as oficinas? O que você ensina exatamente nelas?
Robertinho – Hoje, o projeto conta com 15 meninos e mais 3 que já são jovens adultos, então, ao todo, são 18 e uma menina que já conhece o nosso trabalho. E a mãe dela falou que ela queria participar, então, ela vai começar a vir, porém, depois que passar a pandemia. A faixa etária é de 8 a 20 anos. Eu compartilho a minha experiência desde 2004, compartilho com eles de como eu crio as músicas, de como criar as rimas, de como cantar no ritmo certo, no compasso, na métrica e no flow e também estudar a cultura de que eles fazem parte. Então, dentro do grupo “UniVersos” nasceu a oficina e funciona no quintal de casa e quem desejar chegar é só colar, logo depois que passar o problema do coronavírus. Além de eu ensinar Rap, eu ensino os valores da vida. Acreditar em Deus, valorizar a família, estudar, trabalhar, ser luz por onde passar. O mundo precisa de pessoas que enxerguem a vida de uma forma diferente. Por isso a frase que é o lema do nosso grupo “Que a nossa vida, seja vida, na vida de outras pessoas”.
BW – Parque Cidadania, local onde há violência e tráfico de drogas, foi o local onde você começou esse trabalho. Que estratégia você desenvolveu para manter as crianças longe da vida do crime?
Robertinho – Sim, realmente Parque Cidadania é onde eu moro e onde eles moram e o índice de criminalidade é grande. Muitos chegam sem limites dentro da família deles, da educação que eles não tiveram, então, precisamos ensinar limites e regras. Não é fácil mas, graças a Deus, tem dado certo. Temos várias lutas mas fazemos a nossa parte. E a estratégia que todo educador deve ter é olhar essas crianças e esses jovens de uma forma que eles nunca foram olhados. É enxergar dentro deles e descobrir o talento, o dom o que cada um tem de melhor, qual a aptidão de cada aluno, extraindo de dentro deles o que têm de melhor. Olhar de uma forma especial para que eles se sintam especiais. E sempre mostro as consequências das escolhas. Mostrando o porquê é bom escolher, trabalhar, estudar e respeitar o próximo e não escolher o crime. E acima de tudo, de dar amor e os fazendo se sentir importantes.
BW – Explique como chegou no nome “UniVersos”? A ideia foi sua?
Robertinho – Eu não tinha nenhum nome, eu ia cantar com os meninos. Então, era Robertinho e os meninos do Rap. Pensando muito, estudando sobre nomes, orando, aí eu estava no carro curtindo o som e me veio esse nome de unir versos, unir rimas e o mundo, em todo o mundo. Então eu falei: que legal, tem duplo sentido essa palavra. E chegamos no nome “UniVersos” e o que significa é unir versos, unir rimas e cada ser humano é um universo dentro de si, vários sonhos, várias lutas, várias tristezas e várias alegrias, várias vontades. É um universo dentro de nós! Então somos a “Família UniVersos”!
BW – No ano passado, os meninos ganharam o prêmio “Nelson Seixas”, projeto que investiu cerca de R$ 1 milhão em todas as categorias premiadas de artistas residentes em Rio Preto e dava direito a gravação de um CD. Mas você conseguiu, além do CD, gravar um clipe. Nos conte: como foi tudo isso?
Robertinho – Sim, no ano passado e retrasado nós ganhamos o prêmio “Nelson Seixas”. Em 2018, nós ganhamos a gravação do CD e 2019 foi o lançamento do CD, o show de lançamento, a circulação do CD. A gravação do clipe foi o seguinte: na verdade, a premiação foi a minha história, quem ganhou foi o Robertinho e na minha história eu falo que eu fundei um grupo e coloquei os meninos todos para gravar, eu ganhei R$ 15.000,00 e investi no clipe.
BW – A música vencedora do prêmio foi “Eu Acredito”. De quem é a autoria e como foi feita? Como foi dirigir todas as vozes dessas crianças?
Robertinho – A música “Eu acredito”, eu coloquei o título do projeto, que é eu acredito que dias melhores virão, porque dentro da minha história entra o “Família UniVersos” e nessa primeira música dos meninos, que se chama “Eu acredito”, nós elaboramos juntos na oficina. Eu estimulo eles a pensar, peço para eles anotem no caderno o que têm de melhorar, as palavras foram extraídas de dentro deles, eles foram anotando e fomos colocando as palavras uma rimando com a outra e então a música nasceu em conjunto. Por ser a primeira música, teve muita opinião minha, mas hoje já temos meninos que criam sozinhos, mas eu sempre procuro caminhar com eles e dirigir todas as vozes é trabalhoso, mas graças a Deus, pelo talento dos meninos, fluiu bem, mas eu fui bem exigente com eles.
BW – Verdade que o clipe chegou a ter mais de 1 milhão de visualizações e, ainda, foi compartilhado pelo Edi Rock dos “Racionais MC’s”? Como você e as crianças se sentiram com tudo isso?
Robertinho – Sim, a música ultrapassou esse número! Mas no Facebook, várias páginas foram postando, aí o Edi Rock postou também e repercutiu bastante. A página “Raplandia” postou. Só nessa página, eu tenho os prints, nessa página foram 945 mil, depois do Edi Rock 195 mil, a página Rap Nacional, Realidade Cruel, tudo 200 mil, então, no Facebook repercutiu muito e quando o Edi Rock postou foi muito importante, todos sabem a importância dos “Racionais” na cena. Então, ter esse apoio e o olhar do Edi Rock voltado para a nossa música foi algo muito importante para nós! Isso nos incentiva e aumenta cada vez mais o nosso compromisso. Ficamos muito felizes.
BW – Ano passado vocês estiveram se apresentando na São Bento, que é o templo do Hip-Hop em São Paulo. Como foi essa experiência?
Robertinho – Foi um sonho realizado! Eu sempre falava para os meninos sobre a São Bento, falava da importância de conhecer a história do Hip-Hop, sabendo que o Rap é um elemento da Cultura Hip-Hop, então, temos que conhecer todos os elementos, passei documentários para eles falando da 24 de Maio e da São Bento, o marco zero do Hip-Hop, depois, eu passei vários vídeos, nós já sabíamos da importância e da responsabilidade de cantar naquele lugar e então tivemos o convite e a oportunidade. Alguns amigos viabilizaram as vans e fomos bem abraçados e pisar nesse território sagrado do Hip-Hop foi um sonho realizado. Lá foi onde tudo começou no Brasil.
BW – Em abril, vocês lançaram o vídeo clipe de seu primeiro single de 2020, “Foi Assim”, com produção do DJ e produtor musical paulistano Caíque, que já realizou trabalho com MV Bill, Rashid, Haikass e Projota. Como aconteceu esse encontro entre vocês? E como foi a gravação?
Robertinho – A primeira música de 2020 foi com o DJ Caíque, ele viu nosso vídeo clipe na internet e aí mandou mensagem parabenizando e pediu para saber mais do projeto e ele me explicou a forma que trabalhava, que ele só gravava o que gostava e onde via alguma coisa e aí ele decidiu gravar com os meninos, mandou os beats, eu escolhi, nós gravamos as vozes aqui e mandamos para ele. No estúdio, ele mixou e masterizou, finalizou a música em São Paulo. E aí ele decidiu gravar um clipe, porque a música era muito boa. Ele arcou com as despesas do clipe e nós fomos para São Paulo, eu corri para conseguir ajuda e consegui uma van para ir para São Paulo. Chegamos em São Paulo, gravamos o clipe e lançou no canal dele. E para mim o Caíque é dos maiores produtores de Rap do Brasil foi uma grande conquista para nós.
BW – Fale sobre o disco já lançado, que se chama “Periferia é Terra Fértil” e sobre a experiência com as plataformas de streaming de músicas?
Robertinho – Esse disco é um sonho! Era um sonho ter um CD gravado, original! Eu estendi esse sonho para os meninos, mesmo que as pessoas hoje em dia não use mais o CD físico, foi uma forma de presentear os amigos e os familiares. Tendo um CD em mãos também para vender e para divulgar mais o trabalho e a experiência foi sensacional, de poder lembrar de toda a caminhada, de todas as músicas construídas e concretizar tudo foi um sonho. E o nome “Periferia é Terra Fértil” foi porque as pessoas falam muito mal da periferia, mas tem muito mais coisas boas do que ruins. Coisas ruins tem em todos os lugares! E nós citamos na música que os maiores cantores, os maiores jogadores de futebol, nasceram na periferia. A periferia tem muitos nomes valiosos! Então, terra fértil, porque se saber semear vai dar muitos bons frutos, é necessário dar oportunidade para a periferia, existe todo um sistema que nos oprime, que nos joga só os restos, mas quando temos boas oportunidades a coisa vira e dá muitos frutos! Estou aprendendo a mexer nas plataformas, então, a experiência é muito nova ainda, mas a música tem que chegar nas pessoas, isso é que é importante.
BW – Parece que esse ano tem mais músicas para serem lançadas ainda, correto? Fale delas e também do novo single “Covid-19”?
Robertinho – Sim, tem algumas músicas prontas para serem lançadas, infelizmente, ainda não temos condições de pagar o estúdio, então, eu estou vendendo camisetas para levantar dinheiro. Temos umas 4 músicas para lançar. A situação complicou um pouco por causa da pandemia. Sobre a música “Covid-19” foi assim: uma ideia em cima da hora, cada um escreveu na sua casa e depois todos nos encontramos de máscaras e construímos juntos a música e foi importante lançar essa música da Covid, porque tem crianças e adolescentes falando sobre esse assunto e consequentemente nós fizemos a nossa parte, saiu pelo “Trilha Sonora do Gueto”, lá no canal e todos gostaram da música. Foi sensacional conseguir a tempo lançar uma música sobre esse assunto.
BW – Neste período de pandemia, como você tem trabalhado e orientado as crianças?
Robertinho – Neste momento de pandemia está bem complicado, estamos evitando reunir com os meninos, mas tem horas que não tem como. Nós temos um grupo de WhatsApp e eu sempre troco ideia por lá, sempre os estimulando a continuarem criando, estudando, pensando e quando nos encontramos trocamos ideia, mas temos evitado o contato. Tudo faço pelo WhatsApp. Nos encontramos uma vez a cada duas semanas presencialmente.
BW – O Rap salva? O que você diria para crianças que estão neste momento no mundo do crime?
Robertinho – O Rap salva, com certeza! Deus deu um dom para cada pessoa, um dom que pode ser desenvolvido, então, tem meninos que já estão mais desenvolvidos para fazer Rap, outros ainda não então trabalhando, se descobre, como é maravilhosa essa cultura e desta forma o Rap vai salvando. Deus usa esse instrumento, cada mensagem que construímos, ela faz sentido primeiro dentro de nós, depois cantamos, as pessoas se identificam, esse alguém manifesta que a música fez bem a vida dela, então, nos sentimos úteis. Ou seja, temos uma missão! E cada vez mais seguimos esse caminho, o que nos afasta do crime e para todos os meninos que se encontram no crime, nas drogas eu digo: Eu já passei por isso! Eu consegui acordar a tempo, é gostoso você se envolver no crime, nas drogas, mas chega uma hora que as consequências vão aparecer e tudo nessa vida tem consequências, boas ou ruins. Se você escolhe drogas, crime e as fitas loucas, as consequências ruins chegam, as tristezas na família, o caixão e a polícia. Então eu pergunto: Até quando vai valer a pena? O fruto vai ser de paz ou de medo e dor? Então, não compensa! A vida é valiosa demais para se perder dessa forma! Então eu falo o agora ou o eterno? Quer ficar sofrendo ou viver uma vida com paz interior? O crime não compensa!
BW – Quais são os planos da “Família UniVersos” para o futuro?
Robertinho – Os planos são concluir essas participações, eu quero conseguir estruturar o nosso projeto de uma forma que tenhamos patrocínio para conseguir praticar mais. O sonho é ter um “Instituto UniVersos” para conseguir realmente conviver com os meninos, formá-los e eles cuidarem de outras crianças que ainda vão surgir, ter vários outros cursos, atividades. Um lugar onde vamos poder todos os dias trabalhar e se reunir. Condições de gravar nossas músicas e fazer nossas apresentações e viver dos shows para impactar mais vidas.
Fotos: Arquivo Pessoal
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Para quem não sabe, antes de ser reconhecido como um dos melhores rappers da história, Tupac Shakur dançava no grupo “Digital Underground”, que foi um grupo de Rap de Oakland, Califórnia, fundado em 1987 por Gregory, Tupac Shakur e Jacobs, conhecido como “Shock-G”.
Shock-G passou a maior parte de sua juventude em Nova York, sendo fortemente influenciado pelo Funk dos anos 1970, então, começou a se envolver com música criando um estilo de Rap na West Side (Costa Oeste).
O grupo foi formado para prestar uma homenagem aos ativistas sociais do “Black Panthers” (Panteras Negras), que tinha todas as ligações com a família de Tupac.
A mãe de Tupac, Afeni Shakur, fazia parte deste famoso grupo político, um movimento que lutava contra o preconceito aos afro-americanos. Afeni estava grávida de Tupac quando foi presa. Seu padrasto, Mutulu Shakur, foi sentenciado a 60 anos de cadeia por roubar um carro e matar a vítima. Isso teve um grande impacto na vida Tupac, que cresceu sem a figura paterna ao seu lado. Nas ruas, os únicos modelos em que Tupac podia se espelhar eram os traficantes e cafetões.
No final da década de 1980, o “Digital Underground” alcança um grande sucesso com o álbum “Sex Packets”, que chega a ganhar Disco de Platina e a receber comentários positivos da crítica. Tupac também ajudava a carregar equipamentos e algumas vezes teve a chance de cantar com o grupo. Ele se tornou dançarino aos 19 anos, quando o grupo conseguiu o primeiro sucesso com “The Humpty Dance”, em 1990. A faixa chegou ao 11º lugar na parada “Hot 100” da “Billboard”, além do primeiro lugar no chart de Rap da revista.
Dono de uma carreira meteórica e de um talento único que iria impactar o mundo para sempre, suas primeiras letras eram notáveis e revelaram a tendência para sua personalidade violenta. Em uma música que fez parte da trilha sonora do filme “Nothing But Trouble” chamada “Same Song”, Tupac conheceu o sucesso pela primeira vez e não parou mais! Em 1995, o Rapper foi acusado de abusar sexualmente de uma mulher em um hotel.
Segundo Pac, a mulher, que ele havia conhecido em uma boate, teria feito sexo oral nele em plena pista de dança e teria ido com ele para um hotel por livre e espontânea vontade. Shakur disse que tudo não passou de uma armação. Em fevereiro do mesmo ano, devido a tal fato, Tupac foi sentenciado a quatro anos e meio de prisão por estupro, embora tivesse negado veementemente. Pouco depois do ocorrido, Tupac havia levado cinco tiros em um assalto ocorrido em um estúdio de Nova York. Tupac deu informações em detalhes sobre o ocorrido em uma entrevista para “Vibe”. O astro começou a cumprir sua pena no presídio de Clinton.
Pouco depois, seu multiplatinado “Me against the world” é lançado. Tupac entra para a história como o único artista a ter um álbum em primeiro nas paradas estando preso. “Este sempre será meu álbum favorito”, disse ele a uma entrevista. Enquanto os guardas provocavam na cadeia dizendo que Tupac não era mais o mesmo, ele ria e dizia: “Meu álbum é número 1 no país inteiro e apenas bateu Bruce Springsteen no topo da Billboard”. Após quase onze meses na prisão, Tupac foi liberado, logo depois de ter feito um acordo com Suge Knight, o cabeça do “Death Row Records”. Suge pagou a fiança de 1.4 milhões de dólares. Em troca, o artista deveria lançar 3 álbuns pela sua gravadora. Imediatamente após sair da prisão, Tupac começou a trabalhar em um novo álbum. Em fevereiro de 1996, ele lança seu quarto álbum, “All eyes on me”, o primeiro álbum duplo da história do Rap. O sucesso foi tremendo e vendeu mais de 9 milhões de cópias e é considerado por muitos o melhor álbum do gênero. Em meio a tanto sucesso, Tupac foi assassinado em 1996, quando saía de uma luta de seu amigo Mike Tyson.
Logo após sua morte, a “Death Row” lança o álbum “The Don Killuminati”, com o pseudônimo de “Makavell”. A capa traz um 2Pac crucificado, com uma coroa de espinhos na cabeça e um mapa das principais gangues do país. Em janeiro de 1997, a “Gramercy Pictures” lança “Gridlock’d”, um filme em que Tupac interpreta um viciado em drogas e que foi bem aceito pela crítica, recebendo inúmeros elogios. Seu último filme, “Gang Related”, seria lançado meses depois. Antes de morrer, Tupac deixou centenas de músicas gravadas na época de “Death Row”. A maioria foi lançada em álbuns póstumos como “Better Dayz”, “Until the end of time”, “Loyal to the game” e em seu último póstumo “Pac’s Life”. Tupac é o Rapper que mais vendeu álbuns na história. Sua morte até hoje continua a ser motivo de discussão, não só pela forma que foi mas principalmente no mundo das grandes gravadoras onde o artista vende mais discos morto do que vivo.
Sim, a história é estranha no entanto representativa de um dos nomes mais fortes do que chamamos de “Gangsta Rap”. Tupac era considerado um terrorista como também um dos mais promissores poetas do Hip-Hop. Tupac, que era do signo de gêmeos, tanto foi considerado um B-Boy machista como um talentoso ator. E o Rap? O Rap era sua arte, sua obra prima, o milagre poético que o mundo conheceu!
Fotos: Reprodução
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Você já ouviu falar em assédio no Breaking? Provavelmente não, afinal, não falamos sobre esse e outros importantes temas relacionados a violências no Breaking.
Mas sim, eles existem e estão presentes nos eventos, nos treinos, na internet e em todo lugar.
Tudo começou após a publicação da renomada B-Girl alemã Jilou [na foto em destaque] publicar um desabafo em seu blog sobre os assédios sofridos ao longo de todos os anos na dança e afirmar: “Eu sei que não sou a única a passar por isso”.
A “Rede Bgirls do Brasil”, que hoje conta com mais de 150 mulheres de todo o país, discutiu o tema e descobriu por meio de trocas de experiências e de uma pesquisa realizada em junho de 2020 pela B-Girl do Rio de Janeiro Amanda Baroni, que a maioria delas já sofreu algum tipo de assédio no Breaking e, boa parte, não soube identificar no momento ocorrido e quando perceberam o ato, não souberam o que fazer. No total, 47 B-Girls de diversos estados do Brasil foram escutadas.
Com base nessas informações, ficou clara a necessidade urgente de criar um material de conscientização e orientação sobre o assédio. Surgiu então o “Guia Antiassédio no Breaking”, um manual didático, de fácil leitura, prático e compacto.
“Esse guia chegou num melhor momento, após décadas de violência na cena do Breaking, nós Mulheres, LGBTQI+ e outras pessoas, podem identificar as violências que sofreram e buscar ajuda e recursos para não silenciar a Cultura da Violência” – comenta Lucilene Santos (B-Girl Lu Afrobreak – arte educadora, pesquisadora e produtora cultural), ao se sentir contemplada, já que o estudo e todo o conteúdo foram dirigidos para todos.
Em menos de uma semana da publicação do material, a repercussão foi muito além do esperado, graças às redes sociais e a união de B-Girls e B-Boys, que reconhecem a importância do tema e a necessidade de compartilhamento desse conteúdo.
Infeliz coincidência, na mesma semana da publicação, um membro de um importante grupo de Rap brasileiro foi acusado de assédio a uma menor de idade em São Paulo, o que trouxe o tema à tona, criando interesse de outros elementos do Hip-Hop em utilizar o guia para consulta.
No guia, além de esclarecimentos sobre todos os principais tipos de assédios, é possível encontrar informações para os B-Boys e público em geral sobre como evitar o assédio, para produtores culturais sobre o que podem fazer para colaborar para gerar uma mudança significativa e onde procurar ajuda, com links de instituições responsáveis de acolhimento em todo o território nacional.
“Nunca paramos para entender o porquê muitas meninas param de dançar, agora sabemos um dos motivos, um dos principais, na verdade” – comenta Amanda Baroni e ainda acrescenta: “A maior parte do assédio é reproduzida pelos B-Boys, mas é importante que as B-Girls saibam o que fazer e os B-Boys, por sua vez, entendam que são parte da solução para reverter esse quadro no Breaking”.
O coletivo prevê uma série de ações de conscientização e, inclusive, a tradução do guia em outros idiomas para compartilhamento em todo o mundo.
Fotos: Sueliton Lima, Reprodução (Imagem em Destaque)