Atletas brasileiros ficam fora do pódio no mundial da WDSF e perdem na competição de crew na Battle Pro
Enquanto o final de semana foi festivo para alguns países, como Estados Unidos, Japão, Alemanha, Cazaquistão e, claro, França, que assumiram o papel principal na história do Breaking como modalidade olímpica e já começaram a levar para casa medalhas de ouro, prata e bronze, o Brasil, coadjuvante dessa história, não teve muitos motivos para comemorar.
A delegação brasileira de Breaking embarcou para a França no último dia 30, para competir no primeiro torneio internacional como modalidade olímpica. O evento era o World Breaking Championship (WBC), primeiro campeonato oficial 1×1 (um contra um), produzido pela Breaking For Gold da WDSF (World Dance Sport Federation), que aconteceu no Théâtre du Châtelet, em Paris, no dia 4 de dezembro.
Para quem desconhece, o World Breaking Championship é um campeonato que acontece na China, na cidade de Nanquim. Porém, por causa da pandemia, a competição foi levada para a Europa. O torneio é uma qualificação para o campeonato mundial da IWGA (Internacional World Games Association), que acontece no Alabama (EUA), em julho de 2022 e que faz parte do ranking mundial que soma pontos para a qualificatória olímpica Paris 2024.
Para essa viagem, foram indicados (não houve seletivas) e escolhidos pelo Conselho Nacional de Dança Desportiva (CNDD) e seus diretores de Breaking os atletas: as mineiras Isabela Rocha, conhecida como B-Girl Itsa e Nathana Venâncio (B-Girl Nathana), que é uma das apostas da Everlast; o paulista Luan Carlos dos Santos (B-Boy Luan San) e, por último, o mineiro Gilberto Araújo, conhecido como B-Boy Rato, que substituiu em cima da hora o B-Boy Ratin, que já tinha sido divulgado no flyer do evento, porém não participou.
Na véspera do evento, frases de efeitos e fotos nos principais pontos turísticos da França não faltaram nas redes sociais dos atletas e do próprio Conselho Nacional de Dança Desportiva, que inclusive chegou a postar que “os atletas brasileiros estavam preparados e bem vestidos para o WDSF World Breaking Championship!”. B-Girl Nathana ainda postou: “Todo esforço tem a sua recompensa”. Recompensa essa que não veio, nem para ela e nem para a maioria dos atletas escolhidos pela CNDD, pois na competição feminina, ambas as brasileiras não avançaram para a fase eliminatória. Nathana ficou na fase preliminar (filtro), Itsa foi eliminada na fase de grupos pela B-Girl Jilou, da Alemanha.
No masculino, B-Boy Rato perdeu na fase de grupos. Ele caiu na chave dos B-Boys Shigekix, do Japão e Phil Wizard, do Canadá. Ambos estão entres os melhores do mundo e o canadense, inclusive, foi vice-campeão do Red Bull BC One deste ano.
O B-Boy Luan San foi o que teve melhor performance do time e avançou um pouco mais no evento. Chegou nas quartas de final, onde ele competiu com o B-Boy Gun, da Rússia. Na semifinal, enfrentou o estadunidense Victor, sendo derrotado por 2 rounds a 0. Na briga pelo terceiro lugar, Luan ficou de fora do pódio, perdendo para Amir, atual campeão do Red Bull BC One e ganhador da medalha de bronze do mundial. Vale lembrar que na primeira edição do mundial da WDSF, que aconteceu em 2019, o B-Boy Luan San foi o único brasileiro presente, terminando na 23° posição.
O torneio deu premiação de 1.900 euros para o vencedor, 1.500 para o vice, 500 para terceiro, 400 para quarto e quinto lugar e 300 até o oitavo lugar.
No dia seguinte (5), o time brasileiro ainda participou de mais uma competição na França, a 20° edição da Battle Pro, na categoria Crew vs Crew. Além dos 4 atletas, complementaram o “Team Brazil” os B-Boys Mixa, Migaz, Dinho Still, Bokão (Vinicius Manzon) e Bispo Street Breakers. O resultado não foi diferente e nem favorável ao Brasil, perderam a disputa para a Last Squad da França, não avançando no evento.
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Diante do anúncio da inserção do Breaking nos Jogos Olímpicos de Paris, a serem realizados em 2024, muitas pessoas têm se questionado: afinal, o Breaking é dança ou esporte?
Como diz Arthur Schopenhauer: “Todo homem toma os limites de seu próprio campo de visão como os limites do mundo”. Em outras palavras, nos limitamos muito com aquilo que conhecemos, aprendemos e vivenciamos ao longo da vida. Como o Breaking nunca foi reconhecido como um esporte antes, para alguns, isso é imutável.
Mas, vamos lá, partimos do ponto inicial, o que é cultura e o que é esporte?
No dicionário, cultura é traduzida como um conjunto de conhecimentos, costumes, crenças, padrões de comportamento, adquiridos e transmitidos socialmente, que caracterizam um grupo social. Já o esporte, é definido como qualquer prática metódica, individual ou coletiva, de jogo ou qualquer atividade que demande exercício físico e destreza, com fins de recreação, manutenção do condicionamento corporal e da saúde e/ou competição.
Ok, nada melhor do que consultar o pai dos burros, e confirmar que o Breaking tem todas essas características, assim como outras danças esportivas existentes, que já participam há anos do The World Games (Jogos Mundiais), como a Valsa, Tango, Cha Cha Cha, Samba Internacional, entre outros.
O Breaking é dança e sempre será dança, pois, a definição de dança é um conjunto de movimentos corporais ritmados acompanhados de música. Torná-la uma modalidade esportiva não muda sua característica, ela continua sendo dança e parte da Cultura Hip-Hop.
Se analisarmos do ponto de vista técnico, o Breaking sempre foi esporte, pois uma das principais características é a competitividade, seja ela premiada ou não, pois faz parte da essência do Breaking “rachar” e os “rachas” nada mais são do que competições, elas só não têm júri com formação de arbitragem, podium e medalhas.
A grosso modo, quando competimos é esporte. Quando ela é apresentada sem finalidade competitiva, ela é dança/cultura, não tem nada a ver com dançar sem música ou fazer movimentos acrobáticos. Aliás, é bom falar sobre isso também, pois mesmo antes de virar modalidade esportiva, muitos têm preferência por treinar e desenvolver movimentos mais acrobáticos, mas isso não os fazem menos B-Boys/B-Girls do que os demais. Cultura é isso, é o respeito com o próximo, é entender que cada um tem uma história diferente, conheceu o Breaking de forma diferente e optou por estilos que mais se identificam dentro daquilo que conhecem. Não tem certo ou errado, tem a visão, a vivência e escolha de cada um.
Breaking é dança, cultura e esporte. Agora, participará de um tal de Jogos Olímpicos, mas isso não muda nada do que foi construído até hoje, o trabalho social para empoderamento de crianças e jovens que cresce ano após ano em cada canto do planeta e transforma vidas; as lutas pelas igualdades raciais, sociais e de gênero; o portal de acesso à cultura e às artes para os menos favorecidos; os eventos na quebrada; a grande família e comunidade Hip-Hop em todo o mundo, onde você pode chegar em qualquer lugar e ser recebido por quem nunca viu na vida, mas que te acolhe porque você é do Hip-Hop; porque tem em comum uma cultura que não vê cor, religião, classe social ou qualquer diferença, mas que aproxima pessoas e as une em torno de algo maior.
Quem quiser ganhar medalhas, participar do ranking e eventualmente competir nas Olimpíadas, terá que se filiar à órgãos específicos para a finalidade e participar dos campeonatos credenciados, caso contrário, você pode continuar dançando aonde quiser, competindo em batalhas não relacionadas ao Breaking nas Olimpíadas. Seus treinos, suas habilidades, seu campo de trabalho e sua história não irão mudar, assim como não mudou nas danças que se tornaram modalidade esportiva e nem nos esportes que tem uma cultura por trás de suas histórias.
A título informativo, para reflexão, o Brasil é um dos países mais ineficientes na aplicação de recursos destinados ao esporte. Esse levantamento foi realizado pelo consórcio SPLISS (Sports Policy Leading to International Sporting Success), um modelo de avaliação para mensurar o sucesso na gestão esportiva, em especial, a de alto rendimento, criado por pesquisadores em 2006 e utilizado em todo o mundo.
Foram definidos nove pilares para avaliação, e, no último levantamento, o Brasil só alcançou resultados relevantes no suporte financeiro, mostrando a necessidade e importância de uma gestão esportiva eficiente no Brasil.
O que isso tem a ver? Para aqueles que acreditam que o Breaking como modalidade esportiva deixará os dançarinos milionários e garantirá o futuro de todos, se engana. No pilar 5 – suporte para carreira e aposentadoria de atletas, temos um dos piores resultados, além do pilar 6 – instalações esportivas, que não chega a 15% do ideal.
Em resumo, não vai ser o esporte que vai mudar o Breaking, mas o Breaking sim pode mudar o esporte com a capacidade de alcance, experiência em gestão sustentável e criação de políticas públicas.
Sabe a Rayssa Leal? Aquela skatista de 13 anos que ganhou a medalha de prata nas Olimpíadas de Tóquio? Pois é, ela teve sua vida transformada graças ao esporte e alimentou o sonho de milhares de crianças e jovens em todo o mundo. O Breaking pode fazer o mesmo na vida de muitas pessoas, dar uma direção, um caminho, trazer oportunidades e mudar vidas. Porque não apoiar? Mas, pesquise muito antes de prestar apoio a qualquer organização que aparecer na sua frente. Infelizmente, há organizações oportunistas, que nem sequer têm vivência no Breaking e querem nos representar. Outras ainda que estão criando comissões de atletas e fazendo convites diretos prometendo vagas nas Olimpíadas, sendo que nada disso é válido. E alguns piores, que prometem a atletas e empresas uma visibilidade de marca que não podem garantir. Enfim, pesquisem, não apenas a idoneidade dessas organizações, mas quem está por trás delas, seus históricos como produtores, agentes, empresários e artistas. Investiguem e tenham certeza de entregar o seu nome, sua carreira e sua reputação para não cair nas mãos daqueles que nunca fizeram nada por ninguém, porque fariam agora? Questionem, afinal, você, eu, e todos que vivem o Breaking somos importantes e responsáveis pelo nosso futuro.
Estamos de olho!
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“Eu percebi que o Brasil não me oferecia muita coisa e resolvi me projetar para fora, onde a minha arte é mais valorizada! ” (B-Boy Neguin)
Ele é de Cascavel, Paraná, mas hoje mora em New York e se considera um mensageiro da Cultura Hip-Hop e da arte. Com 33 anos, é considerado um dos melhores B-Boys do mundo. Conhece mais de 141 países e já participou de mais de 100 campeonatos internacionais, sendo o único latino-americano e brasileiro a conquistar o cinturão de campeão da Red Bull BC One. Também coleciona outros títulos, destaque para: UBC Championship em Las Vegas, Unbreakable, Freestyle Session e Outbreak Europe. Foram vários mundiais 1 vs 1, onde foi o único brasileiro a alcançar esses títulos até hoje. Trabalhou com grandes nomes internacionais como Fergie, Gwen Stefani, Sean Paul, Justin Timberlake, Paul McCartney e Missy Elliot. Estamos falando de Fabiano Carvalho Lopes, mais conhecido na cena e no resto do mundo como Neguin. O nosso Neguin do Brasil! O Portal Breaking World bateu um papo com ele e hoje apresentamos com exclusividade para vocês:
BW: Queria que você falasse como foi sua infância. O que gostava de fazer quando criança e que lembranças tem dessa época? Foram tempos difíceis ou tranquilos?
Neguin: Minha história começa em Cascavel, no Paraná, eu comecei na capoeira aos três anos de idade. E, depois de 10 anos praticando capoeira, me interessei em aprender uma cultura diferente, então, eu despertei o interesse e comecei a praticar a Cultura Hip-Hop. Eu pratiquei todos os elementos da Cultura Hip-Hop, mas o que eu mais me destaquei foi o Breaking, devido eu já ter toda essa filosofia e conhecimento da capoeira. Então, eu mesclei as duas artes que englobam várias artes em uma só e a partir dali dei início a uma nova trajetória dentro da Capoeira e do Breaking, onde sou reconhecido mundialmente hoje. Mas, nesse período de criança, da infância, eu me envolvi também com outras atividades, o skate, o jiu-jitsu, sempre me envolvi com artes, pinturas. Sempre fui um menino voltado a aprender coisas novas que me inspiravam artisticamente. Sim, foram tempos difíceis devido ao nosso país não proporcionar apoio e nada, eu vim de família super humilde, que sempre apoiaram a minha arte, mas financeiramente sempre houve um obstáculo de viajar, ir para outros estados para poder competir, mas foi uma infância muito saudável, curti muito e ainda curto. Hoje estou com 33 anos, mas eu ainda me sinto aquele moleque de 13…
Mesclando capoeira e jiu-jitsu ao Breaking, ele se tornou um dançarino completo e conquistou o mundo
BW: Quando você disse: “É isso que eu quero para minha vida”? A capoeira, o jiu-jitsu vieram antes da paixão pela dança?
Neguin: Foi quando eu terminei o ensino médio e a capoeira e o jiu-jitsu chegaram antes do Breaking, sim. Eu terminei o ensino médio, comecei a trabalhar, eu teria a capacidade de ser um gerente numa empresa mas não foi isso que eu escolhi, pois a minha arte sempre falou mais forte e eu me joguei, peguei a primeira oportunidade e saí para fora do país, como competidor de Breaking e aproveitei essa oportunidade e me destaquei, a partir dali eu já fiz o meu cartão de visita, as pessoas identificaram o meu talento e eu comecei a viajar para outros países, em princípio para competir e, obviamente, eu comecei a ministrar palestras, workshops e tal, e surgiram outras coisas como Cirque du Soleil, comecei a trabalhar com a Madonna e minha carreira teve uma projeção rápida, ainda nos meus 19 e 20 anos.
BW: Verdade que você sofreu grandes influências dos seus irmãos que dançavam e faziam ensaios em casa? O que eles dançavam? Nos fale um pouco dessa convivência com os irmãos e como passou a entender a dinâmica da música e da dança?
Neguin: Sim, os meus irmãos dançavam o estilo deles de “club”, os “flashbacks” e foi minha irmã que me introduziu na capoeira. A minha família sempre me inspirou na arte, mas o estilo de dança deles era de passinho e tal, mas o que me influenciou bastante foram as músicas que eles escutavam na época. Escutavam flashbacks e as músicas mais clássicas e obviamente passando pelo Techno e música eletrônica. Eu cresci ouvindo música eletrônica e mesmo quando eu comecei a praticar o Breaking eu ia também nas festas raves, então, a música eletrônica sempre esteve presente dentro do meu estilo.
BW: Nos fale um pouco sobre inspirações… houve pessoas que te inspiraram na dança? Queria que você falasse também da fusão de Breaking, capoeira, movimentos acrobáticos, jiu-jitsu. No Breaking houve movimentos mais difíceis de aprender ou você sempre teve facilidade em todos?
Neguin: As inspirações, como qualquer arte que você aprende no início, lógico que tem várias inspirações, várias pessoas que são referência na modalidade, então, as minhas maiores inspirações foram vários dançarinos. Ken Swift, K-Mel, os membros da minha equipe, Pelezinho, antes de o conhecer eu já admirava bastante o trabalho dele e a minha mesclagem com a capoeira é um complemento, toda movimentação da capoeira introduzida no Breaking é uma característica minha e vice-versa e o Breaking sim, tem o grau de dificuldade mais difícil que a capoeira, mas um complementa o outro e a dedicação em cada movimento e cada etapa dentro do que você pratica acaba se adaptando e desenvolvendo uma movimentação nova. Enfim, um complementa o outro.
141 países, mais de 80 competições internacionais, vários títulos mundiais: este é o Neguin do Brasil!
BW: Fale dos principais eventos que participou e que foram especiais para você?
Neguin: Eu participei de mais de 100 campeonatos internacionais, eu sou o único latino-americano, o único brasileiro a ser campeão mundial do Red Bull BC One, eu sou o campeão de 2010, também ganhei outro mundial chamado UBC Championship, em Las Vegas e ainda Unbreakable, Freestyle Session e Outbreak Europe. Foram vários mundiais 1 vs 1, eu fui o único brasileiro a alcançar esses títulos. No Brasil, participei de vários também menores, mas o início da minha carreira como competidor já me destaquei mais nos eventos internacionais, então, uma vez que eu entrei no circuito internacional, as batalhas foram em todos os continentes e eu já viajei a 141 países e dentro desse número, pelo menos nuns 80 eu estive competindo.
BW: Neguin, viver da dança é um desafio? Recentemente vi um depoimento seu onde dizia que você conheceu o mundo através da dança e da Cultura Hip-Hop. Que dicas você dá para quem pretende viver da dança?
Neguin: Sempre será um desafio como artista ter obstáculos a serem enfrentados. Primeiramente, você tem que acreditar na sua arte, ser bom naquilo que você faz, se dedicar, porque nada na vida vem fácil, é muita dedicação, muita disciplina e é preciso ter foco, ser focado nessa arte e ver o que o mundo te oferece para facilitar esse espaço para você, no meu caso era sempre difícil, mas eu pensava “eu vou me preparar para quando rolar a oportunidade eu estar pronto, então, o que vou precisar? Vou precisar do e-mail? Vou! Vou precisar falar inglês? Opa, não falo inglês, então, vou praticar inglês, não vou ficar no Facebook falando com as garotinhas. Eu vou afiar o meu inglês para que eu esteja preparado para viajar para o exterior”. Então, é uma questão de preparação! Falar inglês, estudar a sua arte! Ter todo o conhecimento para investir na sua arte, no seu talento, aproveitando as oportunidades que virão e a partir dali ter o que chamamos de sucesso! Para chegar no sucesso, precisa valorizar a sua arte e estudar muito!
BW: Atualmente, onde você mora? Como foi sair da sua terra e viver em outro país, com outro idioma e outros costumes? Como foi essa transição e adaptação?
Neguin: Atualmente, eu moro em New York, essa cidade sempre foi a minha base, eu morei na Califórnia um tempo, mas atualmente eu moro em New York. Com as viagens que eu fazia como competidor, através das minhas viagens com a dança, com a capoeira e o jiu-jitsu, eu percebi que era o lugar que eu me identifico muito, é um local onde as oportunidades estão aqui para tentar! Tanto New York como São Paulo não é nada fácil, é o mesmo perrengue e a mesma correria, porém, eu sempre gostei da Cultura Hip-Hop e como nasceu lá e a Cultura House Dance no contexto geral, New York despertou essa minha possibilidade de viver lá, então, me projetei para viver naquele local e já tem 12 anos que moro lá. Não me lembro muito das dificuldades do início, mas olha, eu não olhei para trás não! Eu percebi que o Brasil não me oferecia muita coisa e resolvi me projetar para fora, onde a minha arte é mais valorizada!
A busca pela valorização de sua arte o levou para fora do Brasil
BW: Parece que você conseguiu rapidamente se conectar com as pessoas certas, trabalhando com celebridades como Madonna, Fergie, Gwen Stefani, Sean Paul, Justin Timberlake, Paul McCartney and Missy Elliot. Nos conta como tudo aconteceu?
Neguin: O meu talento sempre se destacou de uma certa forma, as redes sociais também, a internet facilita esse traslado, o network com as pessoas que eu conheci. Eu já estava morando em New York quando a Madonna assistiu um vídeo que mostraram para ela e ela ficou sabendo que eu estava em New York, ela foi no clube onde eu estava e falou: “eu quero ir lá ver quem é esse cara e vou conhecê-lo”. Na verdade, a Madonna foi até uma festa onde eu estava dançando em pessoa, você vê como em New York tem uma realidade bem diferente, a celebridade, a ícone da música pop chegou lá na festa, como uma cidadã comum, né? Ninguém olhou para ela como celebridade e a partir dali eu comecei a trabalhar com ela, aí a história vai muito mais a fundo. O meu network sempre foi voltado a estar em lugares e representar bem quem eu sou, representar a minha imagem, representar o Brasil, eu acho que isso reflete em todos os meios, seja num show, seja num vídeo. Seja na rede social.
BW: Falando especificamente da Madonna, nos conte sobre o tempo que dançou e trabalhou com a Rainha do Pop. Como foi essa oportunidade e o que lembra desse período?
Neguin: Eu conheci a Madonna em 2009, então, eu fiquei de 2009 até 2014, foram 5 anos, eu desenvolvi trabalhos com ela como performance, como coreógrafo nas turnês e acabei também ficando com ela! Eu tive um “affair” com ela também, durante um ano, poucas pessoas sabem disso, mas aconteceu, foi uma coisa bem saudável, um relacionamento saudável, teve toda a dinâmica, a gente ainda conversa, ultimamente pouco, faz muitos anos que não nos vemos, mas sempre trocamos ideia pela internet, mas foram 5 anos de trabalho e tive essa experiência muito legal.
Neguin e Madonna (ao centro): 5 anos de trabalho e 1 ano de “affair” com a Rainha do Pop
BW: E o Cirque du Soleil? Fale como surgiu o convite e como foi essa experiência?
Neguin: O Cirque du Soleil desenvolvo trabalhos com eles desde 2008, mas eu sempre trabalhei com eles num formato de fazer shows de viagens e turnês e não num lugar fixo em Las Vegas, então, sempre fiz shows em Andorra, na Europa, no México onde eles me chamavam. Aí eu ia fazia um mês, às vezes ou uma semana. Ou shows específicos numa reunião ou num evento, então, eu sempre trabalhei em turnê com o Cirque du Soleil. Isso aconteceu em 2010, 2014, 2016, ou seja, sempre estou fazendo shows com eles. Então, o meu relacionamento é desde 2008!
BW: Em 2010, como você mesmo falou, você foi o único latino-americano, único brasileiro a vencer o Red Bull BC One, que é um dos maiores campeonatos 1vs 1 do mundo. E as pessoas o têm como referência. O que na sua opinião foi determinante para esse sucesso?
Neguin: A diferença é nítida, se eu cheguei lá é porque eu sou autêntico através da minha arte de representar quem eu sou e o que eu aprendi, nesse caso, a capoeira misturando e tendo uma identidade específica, não sendo igual a todos. Eu não sou que nem o europeu, asiático ou americano. Eu tenho características brasileiras! Afrodescendente, toda a mistura que o Brasil nos oferece, então, isso caracterizou muito o meu estilo, o meu talento. E seu eu cheguei lá foi porquê eu busquei isso! Eu passei as dificuldades, superei todos os obstáculos e foquei naquilo, o foco e a disciplina ajudaram que eu alcançasse o que alcancei. Então, se eu consegui, qualquer um pode conseguir também! Basta ter esses princípios para ser autêntico, original e ter foco e força na disciplina!
Campeão da Red Bull BC One 2010: único latino-americano a conquistar o mais cobiçado título da categoria
BW: Bom, atualmente o assunto que mais se fala aqui no Brasil entre B-Boys e B-Girls é o fato do Breaking ter entrado para os Jogos Olímpicos. O que acha sobre isso? Na sua opinião temos B-Boys e B-Girls preparados para competir de igual para igual com outros países e trazer uma medalha olímpica para o Brasil? O que acha do nível dos nossos B-Boys e B-Girls atualmente?
Neguin: Essa é uma conquista extremamente importante, não que o Breaking precise das Olimpíadas, mas com certeza nessa nova plataforma, que são os jogos olímpicos, isso vai fazer com que as pessoas que não conhecem o Breaking vão ter uma visão de conhecer um pouco mais, então, isso veio para somar. Referente ao Brasil, somos um dos povos mais reconhecidos no circuito mundial, eu acredito que os brasileiros têm sim um grande potencial de trazer medalhas e representar mas vai ter que correr atrás, bastante, porque têm outros países que já são maiores potências, ter mais disciplina, ter mais apoio. Tipo a Rússia, a China e, então, para os brasileiros, acho que vão precisar continuar praticando e estudando, ter todo esse lado de ajuda, de tentar ajudar o país o melhor possível com toda a minha bagagem como competidor, mas é isso… As Olimpíadas eu apoio totalmente, porque o Breaking não é um esporte apenas, é uma cultura, mas também somos atletas, querendo ou não, então, seja um campeonato da Red Bull BC One, seja nas Olimpíadas ou numa batalha da esquina o Breaking vai estar presente em todas as plataformas e torcemos para que os brasileiros tenham grande destaque e nos representem bem e esperamos também que o Brasil apoie um pouco mais seus competidores, seus atletas! Vamos ver o que rola…
BW: Para finalizar, queria que falasse sobre o Programa da MTV “De férias com o Ex” que participou recentemente. Foi desafiador?
Neguin: A participação veio através de um convite logo em novembro, e eu resolvi participar porque eu não estou viajando muito, então, estou disponível e usei o programa como uma forma de experiência nova para mim e ao mesmo tempo representar o que eu faço dentro de um ambiente que é bem diferente do que eu faço, então, entrei lá como atleta e toda a minha vida, style, que tem esse lado de curtição, foi uma experiência muito boa para mim e vamos ver agora como vai ser, eles vão lançar essa semana, por ser um programa editado espero que a repercussão da minha imagem seja bem positiva e que tragam novos públicos e pessoas que não me conheciam e passem a me conhecer vendo o que faço artisticamente.
BW: Que mensagem você deixaria para todos os B-Boys e B-Girls que curtem o seu trabalho?
Neguin: A mensagem que eu deixaria é gratidão! Eu tento sempre inspirar essas pessoas e cada um ensina um (risos), então, eu acho que se eu posso inspirar milhares de pessoas, que as pessoas que se inspiram em mim possam fazer o mesmo! A minha mensagem é que estamos todos num mesmo barco, somos todos mensageiros da arte e da Cultura! Abraço a todos!
Fotos: Arquivo Pessoal
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“O acordo ressalta o compromisso do WDSF em dar à comunidade do Breaking as melhores plataformas possíveis para mostrar seus talentos, ao mesmo tempo que ajuda a impulsionar seu desenvolvimento em todo o mundo” (Shawn Tay)
A World DanceSport Federation (WDSF) anunciou a assinatura de uma parceria de quatro anos com a Red Bull GmbH.A aproximação visa promover o desenvolvimento do Breaking em sua jornada olímpica, incluindo o lançamento do “WDSF Breaking for Gold World Tour” que começa em 2021.
A colaboração pretende criar grupos de trabalho dedicados, envolvendo a comunidade do Breaking e a introdução de projetos de desenvolvimento projetados para crescer o Breaking globalmente, com foco particular nos países em desenvolvimento e aqueles com pouca ou nenhuma experiência anterior com o Breaking competitivo.
Mais detalhes vão ser anunciados nas próximas semanas, conforme a evolução da parceria. “O acordo ressalta o compromisso do WDSF em dar à comunidade do Breaking as melhores plataformas possíveis para mostrar seus talentos, ao mesmo tempo que ajuda a impulsionar seu desenvolvimento em todo o mundo”, disse o presidente do WDSF Shawn Tay. “Com a experiência, o know-how e a rede que a Red Bull e a WDSF trazem para a mesa, estamos entusiasmados com o futuro do Breaking como parte do Movimento Olímpico.”
O Comitê Olímpico Internacional (COI) incluiu oficialmente o Breaking no programa de esportes para os Jogos Olímpicos de Paris 2024, isso aconteceu em dezembro de 2020, após sua estreia bem recebida nos Jogos Olímpicos da Juventude em Buenos Aires 2018. Em 2019, o WDSF World Breaking Championships foi realizado com sucesso em Nanjing, China, com a próxima edição marcada para acontecer neste verão, se a pandemia permitir.
Apesar da pandemia, o Breaking continua crescendo e sua popularidade vem aumentando, sendo incluido nos programas dos Jogos Asiáticos e Jogos Mundiais de 2022 e nos Jogos Olímpicos da Juventude de 2026, entre outros.
Foto: Divulgação Red Bull
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“As festas de 1970 foram incríveis, você nunca sabia o que iria acontecer, mas nós sempre soubemos que seria emocionante.” (Mr. Freeze)
Em 20 anos de jornalismo, já tive a honra de entrevistas, algumas com celebridades do Show Business, do mundo do esporte e da arte. Mas quando o papo é com uma lenda mundial que fez parte da criação de uma arte legítima que se espalhou pelo mundo todo, atraindo milhares de seguidores até hoje, conhecida como Hip-Hop, é necessário ouvir muito mais do que falar…
B-Boys e B-Girls: o Portal Breaking World tem o prazer de apresentar a entrevista com o Mr. Freeze, um papo reto, diretamente de New York para o Brasil.
Para quem não sabe, Mister Freeze nasceu em New York, morou na França e se mudou para o Bronx quando tinha apenas sete anos, exatamente quando a Cultura Hip-Hop estava ganhando vida. Ele começou a dançar Breaking, criou o movimento “Freeze” e logo foi convidado para se juntar ao mundialmente famoso Rock Steady Crew. Fez filmes, documentários e shows por todo o mundo.
Atualmente com 58 anos, dono de uma personalidade incrível e de uma humildade exemplar, ele fala sobre sua história, suas opiniões. Sobre o Breaking nas Olimpíadas, sobre sua experiência como homem de marketing e aconselha a nova geração sobre o futuro. Confiram a entrevista:
BW: Marc Lemberger, do South Bronx, New York, mas para o resto do mundo uma lenda chamada Mr. Freeze. Queria que você falasse sobre sua infância e vida familiar, que lembranças você tem dessa época?
Mr. Freeze: Nasci em New York, em 7 de setembro de 1963, filho de Renee e de Isidore. Meus pais decidiram voltar para Paris quando eu era pequeno, mas meu pai procurava trabalho em New York. Tive uma infância magnífica em Paris, mas um dia, meu pai falou à minha mãe que iríamos voltar para New York e que iríamos viver lá uns cinco anos, que ele ganharia muito dinheiro e depois poderíamos voltar para Paris. O problema é que ele nunca ganhou dinheiro, então, nunca mais voltamos à Paris. Fui criado no bairro do Bronx, perto do Yankee Stadium, na Avenida Anderson, 1130. Foi ali que dei meus primeiros passos como um menino e, depois, como um B-Boy.
Nascido em New York, Mr. Freeze teve sua infância em Paris. Após retornar aos EUA conheceu o Breaking, sem saber que iria se tornar uma lenda viva do Hip-Hop
BW: Quando e como você conheceu toda a arte que acontecia nas ruas?
Mr. Freeze: A primeira vez que encontrei a verdadeira arte e cultura de rua foi nos meados dos anos 70, com todos os grafiteiros e DJs que estavam na rua e iam junto para as festas de dança.
BW: Na época em que você começou, você sabia que estava participando do nascimento de uma cultura, de uma arte legítima que se espalharia pelo mundo?
Mr. Freeze: Quando comecei, nunca, em meus sonhos mais loucos, pensei que a cultura que vi crescer iria se tornar o que é hoje a maior indústria lucrativa de maior sucesso do planeta.
BW: Fale do tempo que você morou em Paris? O que aconteceu durante esse tempo?
Mr. Freeze: Morar em Paris não trouxe nada para a minha vida. A minha vida nas ruas no Bronx é que acabou trazendo minhas habilidades performáticas para as ruas de Paris. Sempre que voltava para visitar minha família, sempre assistia a grandes artistas de rua em um bairro de Paris, foi lá que dei meu primeiro passo como um Street Mime.
Mr. Freeze se tornou B-Boy em 1970 e ganhou o mundo com sua arte
BW: Quando você realmente começou a dançar e como foi esse encontro com a dança?
Mr. Freeze: Meus primeiros passos como um B-Boy foram em 1970, eu sempre seguia pessoas tocando música na esquina, um dia o círculo esquentou e um senhor pulou muito alto e, então, se colocou em uma pose que agora conhecemos como “Freeze”. A partir daí, outra pessoa faria uma pose, mover o Footwork para outra pose, para outra e outra, que foi a primeira vez que eu realmente me apaixonei pela dança, porque ela evoluiu para algo diferente. Rápido encaminhando para anos depois, sou contrariado por um grupo de dançarinos que se aproximou de mim quando me viu dançando na rua com um Boombox, eles me perguntaram se eu queria batalhar, eu disse a eles: “Com certeza!”, e eles começaram a batalha. Havia um jovem, Sr. Ed, que pulou em um círculo, um pequeno cavalheiro latino, as letras em suas costas diziam “sete pecados capitais”, foi a primeira vez que realmente vi os fundamentos da dança que conhecemos agora como Breaking. Este homem me hipnotizou completamente e foi nesse momento que soube que tinha que aprender esta dança.
BW: O ano de 1970 foi marcado pelo nascimento da Cultura Hip-Hop, do Breaking e das festas denominadas “Block Partys”. Fale sobre a importância dessas festas, o que aconteceu nelas e quem compareceu?
Mr. Freeze: As festas de 1970 foram incríveis, você nunca sabia o que iria acontecer, mas nós sempre soubemos que seria emocionante. Foi a primeira vez que vimos o grande mago DJ Theodore, o primeiro a tocar nas mesas giratórias para DJ Kool Herc, derrotar seus incríveis “break beats” para B-Boy; a roda se expandindo e sabendo que estávamos prestes a ver algo especial; aqueles tempos eram confiáveis porque nada havia sido criado, mas tudo o que você via era autêntico, estava sendo criado na frente de seus olhos.
BW: Era possível ficar parado ouvindo “Sex Machine”, “Just Begun” ou “Apache”? Fale sobre a energia dessas músicas?
Mr. Freeze: Era algo louco. A música “Sex Machine”, quando tocava, ninguém ficava parado, todo mundo enlouquecia!
Ao som de James Brown e outros hits, Mr. Freeze conta que “todo mundo enlouquecia, era impossível ficar parado”
BW: Como era ser um B-Boy no seu tempo? O que era inaceitável nas rodas de Breaking?
Mr. Freeze: Durante os nossos dias, a regra número um era não copiar movimentos de ninguém, era completamente inaceitável fazer os movimentos de outra pessoa, você seria visto como um ladrão, em outras palavras, no vocabulário de Breaking. Naquela época, todo mundo era extremamente criativo e original.
BW: Em 1977 nascia a Rock Steady Crew, correto? É verdade que você era o único B-Boy branco? Você chegou a sofrer algum preconceito por ser branco entre a grande maioria de negros?
Mr. Freeze: Provavelmente fui o único B-Boy branco, embora não possa dizer 100% com certeza isso, porque não busquei em toda New York, mas sem dúvida era o mais conhecido, em todos os bairros predominantemente negros. Fui excluído não porque eu era branco, mas porque eu era extremamente bom no que fazia, minha reputação como um B-Boy me seguia por toda parte. É por isso que eu não tive problemas e estava completamente à vontade, quando se trata de qualquer tipo de arte, as pessoas não se prendiam em raças e cor de pele.
BW: Como surgiu a Rock Steady Crew? Houve alguma rivalidade importante entre as crews?
Mr. Freeze: Eu pertenci à segunda geração da Rock Steady Crew, nós somos os que realmente tornaram o nome famoso na época, não existiam muitas crews de Breaking, então, éramos praticamente os melhores, a única referência que existia era o Dynamic Roccus do Queens e, depois, veio os Floor Masters.
Mr. Freeze fez parte da lendária Rock Steady Crew
BW: Quando e como foram criados os famosos “Freezes” que estão incorporados no Breaking hoje e fazem parte da dança de qualquer breaker do mundo?
Mr. Freeze: Todos nós tínhamos nossa próprias minas de Freezes, as paradas eram extremamente rápidas. Ao longo dos anos, os freezes tornaram-se mais complexos e pareciam lindos em comparação com o que fazíamos na nossa época.
BW: O Rock Steady Crew teve grande exposição na imprensa. Fale sobre esse relacionamento.
Mr. Freeze: Quando começamos a fazer filmes e documentários, a imprensa estava muito interessada em nós, era algo novo e fresco e isso nos fez conhecidos em todo o mundo.
BW: Na década de 1980, filmes como “Flashdance” foram revolucionários. Conte-nos sobre isso e também sobre sua participação neste filme e em outros como “Style Wars”, assim como anúncios e shows. Foi um momento memorável e importante?
Mr. Freeze: Honestamente, a coisa mais memorável que já fizemos foi o filme “Flashdance”. Lembro-me de sentar na Broadway ao lado de Crazy Legs e quando nos vimos na tela, não pudemos acreditar… quando a apresentação aconteceu, apesar de a imprensa estar em cima de nós, foi provavelmente um dos melhores sentimentos que qualquer um de nós já sentiu em nossas vidas e nunca o esqueceremos.
A inesquecível cena com o guarda-chuva no filme “Flashdance” (assista no vídeo ao final da matéria)
BW: Como foi dançar para a Rainha da Inglaterra com o Rock Steady Crew? E como surgiu esse convite? O que você sentiu naquele momento?
Mr. Freeze: Eu infelizmente estava fazendo minha própria turnê em outras partes do mundo, não participei junto com a Crew desse encontro. Lamentável!
BW: Além do Breaking, você também caminha pelo mundo do marketing, conte-nos um pouco sobre sua experiência e sobre o UBC “The Ultimate B-Boy Championship”. É verdade que, em 2010, o evento inaugural juntou mais de 23.000 participantes no MGM Grand Garden Arena e foi coberto e televisionado pela ESPN? Como está o evento atualmente? Fale sobre os principais objetivos e metas do evento com os jovens. E quem pode participar?
Mr. Freeze: Sim! O principal objetivo da UBC é legitimar os meninos como profissionais reconhecidos, como o UFC tem feito para os lutadores, é meu sonho de vida poder levar isso para a comunidade de B-Boys.
BW: Mr. Freeze, como você vê os B-Boys e B-Girls de hoje? E os eventos que existem atualmente? Todos os dias, meninos e meninas de todo o mundo chegam mais jovens no Breaking. Muita coisa mudou do seu tempo para hoje? O que foi positivo e o que foi negativo?
Mr. Freeze: A diferença é que antes fazíamos puramente porque era emocionante criar algo todos os dias, agora é estritamente feito para competir. Eu sei que é uma nova era e é possível que todos gostem de como as coisas acontecem atualmente, mas eu simplesmente não consigo vê-los gostando por muito tempo se sua intenção for estritamente e apenas tentar ganhar dinheiro e vencer competições.
Em 2010 o UBC reuniu mais de 23 mil pessoas no MGM Grand Garden Arena
BW: Neste ano, o Breaking passa a fazer parte dos Jogos Olímpicos. O que você acha disso? Combinar cultura com esporte? Na sua opinião, o que podemos esperar do futuro?
Mr. Freeze: Eu e minha família nos encontramos com o Comitê Olímpico Internacional, fomos para a Suíça. Pode acontecer de duas maneiras: número um, os espectadores assistirem os meninos girando suas cabeças e dizerem que eles são lindos; espero que o Comitê Olímpico use todos os antigos da dança para que tenha algo a ver com a criação do Breaking, para a história do Breaking possa ser conhecida e para que possam explicar o significado de como tudo aconteceu.
BW: Em toda a sua vida como breaker, já viajou por diversos países e também pela América do Sul. Você já conheceu o Brasil?
Mr. Freeze: Infelizmente, nunca fui ao Brasil e adoraria ir um dia com minha família. Acontece que eu fazia Jiu-Jitsu brasileiro e aprendi com uma das famílias mais conhecidas do Brasil, os Gracies. Eu conheci alguns B-Boys incríveis vindos do Brasil.
BW: O Mr. Freeze ainda dança? O que tem feitos nos últimos anos?
Mr. Freeze: Sinceramente, parei de dançar anos atrás. Tenho um negócio aqui em New York. Ainda estou tentando fazer do UBC um sucesso para que o Breaking esteja em todo o mundo e forme dançarinos profissionais pagos, como disse antes, como atletas.
Mr. Freeze fez Jiu-Jitsu com a família Gracie e gostaria de conhecer o Brasil
BW: Na sua opinião, para onde vai a Cultura Hip-Hop?
Mr. Freeze: A Cultura Hip-Hop, pelo menos aqui em New York, é completamente inexistente da maneira que acontecia e conhecíamos no passado, simplesmente não acontece mais, entretanto, em outras partes do mundo pode ser diferente. Pode ser que ainda aconteça… O futuro é incerto… Eu sinto que não existe mais aqueles dias que eu vivi. Eu sei que é uma época completamente diferente do que as pessoas vivem agora.
BW: Que mensagem você deixaria para a nova geração de B-Boys e B-Girls? Que conselho você gostaria de transmitir a eles?
Mr. Freeze: Meu conselho para a geração jovem é curtir, dançar e se divertir com isso, não o faça estritamente para competir, para ganhar um prêmio, encontre “Jams” onde tenham grandes músicas e DJ´s, teste-se contra grandes dançarinos. E muito obrigado por me permitir responder tantas perguntas magníficas!
Fotos: Arquivo Pessoal
Mr. Freeze e Crazy Legs no filme "Flashdance". Assistam o vídeo:
Mr. Freeze e Sérgio Valente
Mr. Freeze e Rock Steady Crew
E as Block Partys eram demais!
Mr. Freeze refaz a famosa coreografia de "Flashdance"
Memorabília autografada do filme "Flashdance"
E o "Freeze" do Mr. marcou a história do Breaking
Pop Master Fable e Mr. Freeze
Mr. Freeze e Pop Master Farsel
Mr. Freeze ainda garoto na França, antes da mudança para Nova Iorque
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Itsa revive trajetória na série e fase em que optou pela dança como profissão
Apaixonada por dança desde criança, Isabela Rocha, hoje conhecida como a B-Girl Itsa, não imaginava que sua paixão pelo Breaking viraria, de fato, uma profissão. Ela mostrava talento vencendo batalhas locais de dança e chamava a atenção de muita gente com seu gingado único, mas sua família sonhava mesmo em vê-la em um emprego estável e tradicional.
Quebrando preconceitos e barreiras, apostou todas as fichas na dança, tornando-se campeã brasileira de Breaking, bailarina na mais famosa companhia do mundo, o Cirque du Soleil, e sendo postulante do país nos Jogos Olímpicos, em Paris-2024. As nuances desse momento-chave na vida de Itsa são tema de um dos episódios da segunda temporada de “Until 18 – O Momento de Decisão”, disponível gratuitamente pela Red Bull TV, por meio do link www.redbull.com.br/until18.
“Quando comecei a dançar, descobri que posso ter atitude, posso ser quem eu quero ser”, afirma Itsa. “Ter a minha história nessa série, que foge de padrões e estereótipos, é bem importante para a sociedade, inclusive para as próximas gerações saberem que podem buscar o lugar e a posição (profissional, ideológica, artística) que quiserem. Todos temos o direito de criar e expressar a arte que sentimos e vivemos”, finaliza.
Ao longo do episódio, Itsa narra os seus dramas, dificuldades, batalhas diárias e, principalmente, o momento simbólico em que lutou pelo seu sonho e alcançou seus objetivos, transformando-se em artista do Cirque du Soleil e sendo uma das expoentes do Breaking no país, modalidade que estreará no maior evento multiesportivo do mundo, em Paris, no ano de 2024.
Além da mineira, outros personagens também contam as suas histórias na série ‘Until 18 – O Momento da Decisão’, como a vitoriosa e jovem skatista Yndiara Asp; o youtuber Flakes Power; o comentarista de games Gustavo Melão; o ciclista campeão mundial Henrique Avancini e a tricampeã mundial de Kitesurf Bruna Kajiya. O conceito do projeto é brasileiro e foi dirigido por Isadora Canela e Hugo Haddad.
B-Girl Itsa foi campeã brasileira de Breaking na Red Bull BC One, em 2019 e é bailarina do Cirque du Soleil
Sobre a série
A série “Until 18 – O Momento de Decisão” reúne atletas, artistas e personalidades de destaque em profissões pouco comuns para relembrar como eles lidaram com as decisões profissionais no final da adolescência e desbravaram um novo caminho na passagem para a vida adulta. Na temporada de estreia, a história da cantora Tássia Reis, do skatista Sandro Dias e do atleta de e-sports Yoda, entre outros. A recém-lançada segunda temporada já está disponível na Red Bull TV, com relatos de nomes como a skatista Yndiara Asp, do ciclista Henrique Avancini e da dançarina de Breaking Itsa.
Sobre a Red Bull TV
A Red Bull TV é um canal global de entretenimento digital com programação disponível a qualquer hora e em qualquer lugar. Combinando eventos ao vivo, uma extensa biblioteca On Demand e os melhores momentos de eventos que incluem esportes, festivais de música, séries originais, longas-metragens e documentários. A Red Bull TV oferece uma experiência de visualização envolvente pelo site redbull.tv, assim como em seu aplicativo ou via Smart TV.
Fotos: Divulgação Red Bull TV
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Planejamento, disciplina, foco e estratégia são fundamentais na vida de quem deseja ser um campeão, garante B-Boy Bart
Ele nasceu no Ceará, quando criança teve contato com muitos movimentos por meio do Kung Fu e da Capoeira. Aprendeu também a ter disciplina e flexibilidade desde cedo. Mas foram os pulos feitos na areia improvisada que pedia aos vizinhos que o fizeram se aproximar do Breaking.
Mateus Melo (22), conhecido como B-Boy Bart, hoje é um dos nomes mais cogitados para representar o Breaking brasileiro nas Olimpíadas de Paris, em 2024.
Ele compara a dança a um grande jogo de xadrez e afirma que, além de ter um corpo preparado, é necessário ter estratégias, planejar ações para se chegar no objetivo que se deseja.
O Portal Breaking World teve o prazer de conversar com ele na primeira semana do ano de 2021. E olha, aperte os cintos pois esse B-Boy não dança, ele voa! Fique por dentro do que rolou nessa conversa:
BW: Queria que você falasse um pouco da sua infância, onde e como foi? Como era o Mateus criança?
B-Boy Bart: Eu sempre me movimentei muito quando criança! Tive muito contato com os movimentos. Fui muito influenciado pelo meu pai, que era do Kung Fu e também pela Capoeira. Dessa época, eu ganhei a disciplina e a flexibilidade. Conheci a Capoeira foi na curiosidade mesmo. Fiquei num grupo chamado Zumbi por menos de 1 ano. Aí eu entrei em outro grupo, porquê a minha vontade era pular e nesse outro grupo eu conheci pessoas que pulavam muito. Quando começava a passar cordas, essas coisas, eu saía pois não era o meu foco.
O menino que começou dando os primeiros saltos no “areião” ganhou o mundo com seu talento
BW: Quando você teve o primeiro contato com a Cultura Hip-Hop? Como surgiu o Breaking na sua vida?
B-Boy Bart: Eu e alguns meninos da minha idade jogávamos sempre futebol e teve um dia, um iluminado que apareceu, um bêbado e ele disse que ia mostrar umas coisas que nós não sabíamos fazer e deu um mortal! Lógico que, como ele estava muito bêbado, caiu, mas depois daquilo nós falamos: “Nossa, é isso!”. Aí começamos pegar areia de um canto e de outro, de um vizinho aqui, de outro ali, para poder treinar mortal. Eu deveria ter uns 10 anos. Tudo isso aconteceu em Fortaleza. Passado algum tempo, eu me mudei. Meu pai ficou desempregado, nós vendemos a casa, fomos morar em outro bairro perto da Serrinha e lá, quando eu cheguei, eu não estudava, devido a problemas com papéis e tal… E, na verdade, eu também não queria naquela época. Então, eu e meus irmãos ficamos sem estudar um tempo. Meu irmão sempre existiu e esteve presente na minha vida! No mortal, na capoeira, em todos os momentos. E aí, chamei ele e disse que deveríamos ir atrás, naquele bairro, de algum lugar que tivesse Breaking, pois não poderíamos ficar parados. Então, descobrimos o “Programa Escola Aberta”, foi ali que tudo começou. Era como se abrisse a escola no final de semana, jovens e crianças podiam ter contato não só com o Breaking, mas com o Totó (Pebolim) e várias brincadeiras de criança. Eu ia pelo Breaking mesmo. Mas eu ia olhar. Eu sempre fui assim, de olhar primeiro, de observar, ver como é a movimentação, treino em casa e depois fazia fora. Mas foi após o meu filho nascer e eu me ver sem estrutura que realmente eu vi que aquilo era pra mim. Eu sempre tive disciplina, desde cedo e quando meu filho nasceu eu vi que precisava fazer alguma coisa, então, foquei no que eu mais gostava, que era dançar. E, em 2015, comecei a participar de muitos eventos, o primeiro evento foi o “Intime”, da Igreja Bola de Neve, “1vs1”, que dava vaga para um outro evento em Exu, em Pernambuco, com tudo pago. Eu ganhei e fui para lá. E isso foi muito marcante, a primeira vez que participei, ganhei e fui para uma outra cidade que ganhei também. Então, eu vi que era isso mesmo que eu deveria escolher na minha vida. Em 2015, eu saí ganhando todos os eventos. Eu tinha apenas 16 anos.
BW: Houve pessoas que foram referências para você na dança? Alguém te ensinou a dançar Breaking?
B-Boy Bart: Que me ensinou a dançar, não. Existiram aquelas pessoas que me davam um toque, falavam de um movimento… Agora, um treinador, não! Inspiração? Desde 2005, o Pelezinho foi um furacão que aconteceu.
BW: Como sua família via a sua relação com o Breaking? Você teve apoio da família?
B-Boy Bart: No começo, não tanto. Para eles, eram só pulos. Eles não tinham noção no que ia dar tudo isso. Só tiveram quando eu comecei a competir e ganhar! Mas, também, eles não falavam nada, mas para eles era perda de tempo.
A influência do Kung Fu e da Capoeira foram fundamentais para a criação do estilo próprio de dança do B-Boy Bart
BW: No tempo de aprendizado do Breaking houve dificuldades ou movimentos mais difíceis de aprender? Quais? Como foi a sua preparação para chegar onde chegou?
B-Boy Bart: Tiveram momentos que realmente foram mais chatos, principalmente nos freezes. Toda pessoa que dança Breaking tem um lado mais forte, no meu caso, foi fazer os movimentos nos dois lados. Para passar de um lado que era mais forte para o outro foi trabalhoso, porque até eu poderia ficar torto fazendo os movimentos só de um lado. Essa transição de aprender fazer as coisas para os dois lados foi muito chata, mas necessária. Tipo Chair, doía muito! Na hora do treino eu não sentia, mas depois doía muito! Mas eu precisava chegar no meu objetivo.
BW: Em outras danças é bem normal escutar os dançarinos falando de dor aqui e dor ali. Meio que faz parte da vida do dançarino… Como você vê isso?
B-Boy Bart: Sim, a dor caminha junto e faz parte da vida de quem dança. Sempre que um B-Boy ou uma B-Girl ganha um evento, você vai ver depois: parece que houve um esgotamento. Toda hora tem dor e tem que dançar sempre mais do que dança. É real! É necessário superar os limites para ser campeão! A dor significa muitas vezes que você está chegando perto dos seus objetivos!
BW: A maioria dos seus movimentos são de impacto, de poder. Como você prepara o seu corpo para isso?
B-Boy Bart: Eu treino normalmente com a galera do meu grupo e também treino com a galera de outros grupos. Mas penso que o que me diferencia é que eu já chego no treino treinado. E saio do treino ainda tem mais um pouquinho de treino. O Breaking é o meu estilo de vida. Eu acordo cedo, faço alongamento. Dia sim, outro não, eu corro. Eu sou vegetariano, comecei com vegano três anos atrás. Antes dos eventos, fazer a dieta vegana ajuda muito! A diferença no rendimento é muito rápida, esse tipo de comida traz leveza, mais explosão, define muito mais a musculatura. Mas de vez em quando podemos sair um pouco disso e comer coisas boas, merecemos isso (risos). Mas nunca antes de evento.
Bart e Leony se tornaram grandes amigos e têm representado o Brasil em diversos torneios internacionais
BW: Em 2018, você foi campeão brasileiro do Red Bull BC One, nos conte o que você sentiu naquele momento que saiu o resultado? Passou um filme na cabeça? Para você já era algo esperado?
B-Boy Bart: Esperado não era, mas eu tinha uma intuição que poderia acontecer e quando aconteceu, eu falei: “Caramba eu vou para Zurique!”, e pensei, “vamos ver o que é o Breaking do outro lado do mundo”. Naqueles dias, a Europa estava com muito Breaking! Para mim, batalhar com outras pessoas, até com a dança maior que a minha, me levou para um outro nível. Foi algo empolgante demais! Eu treinei com eles, eu comi com eles e o Leony estava lá comigo, me motivando, naquele evento ele foi Top 16. Então, ele falava: “Vamos lá, falta mais um!”. Ele é um cara muito amigo, humilde e ele fez eu me sentir mais seguro, porque eu estava em outro país, só tinha ele, então, ele me dava força. Tinha também Pelezinho e Neguin, mas não estavam perto, não tinha como ter uma conexão.
BW: Bart, você tem a experiência de ser dançarino da internacional Flying Steps. Como foi sua entrada na companhia? Fale um pouco do tempo junto com os outros dançarinos, dos ensaios, dos espetáculos antes da pandemia e o que você faz para atingir o seu melhor desempenho.
B-Boy Bart: Sim, eu trabalho com eles e com uma outra da Alemanha. Quando comecei, eu já cheguei chegando, tinha 45 shows para fazer. Nesse mundo, tem uma séria de coisas, tinha uma orquestra tocando ao vivo, tinha bonecos gigantescos, tivemos 1 mês e meio para criar tudo. Era de segunda a sábado, de 8h até 19h ensaiando. Nesse tempo, eu não falava muito inglês, mas depois de 1 semana, eu me virei e ainda eu morava com três deles, então, nós só pensávamos na dança, no espetáculo e no que íamos fazer. E isso me ensinou muito a ser regrado, a ter paciência com processos de montar movimentos. Eu consegui trazer isso também para o meu Breaking. Pra mim também! Eu estava treinando para batalhas futuras e estava mesclando tudo. A experiência foi muito boa! Foram 45 espetáculos e muito ensaio. Foi um grande aprendizado, único na minha vida, que guardo até hoje.
BW: Você falou que muita coisa você levou para o seu Breaking. Qual a importância de diversificar movimentos, de buscar algo novo e trazer coisas diferentes para as sessions?
B-Boy Bart: É muito importante você ter um arsenal gigantesco de movimentos. Porque você mostra confiança, atitude e personalidade na dança. Hoje já se olha a execução dos movimentos nos eventos. Com a possibilidade de você colocar tudo que traz na dança, você chega mais perto do ser original, mostrando variações.
Na Europa, 45 shows, ensaios e muita experiência (na foto o espetáculo com a Flying Steps)
BW: Em 2019, você participou do mundial da Red Bull em Mumbai, na Índia, junto com mais 2 brasileiros. No seu caso, você foi convidado pela organização a entrar diretamente na decisão, como um dos finalistas ‘wildcards’ do evento. Como foi sua participação? Nos fale sobre o resultado e suas impressões.
B-Boy Bart: Três semanas antes desse evento, eu tinha participado de um outro na Bélgica e eu já sabia que estaria no Top 16 da Red Bull em Mumbai, em 2019. E eu tinha que destruir na Bélgica para eu chegar em Mumbai. E foi o que aconteceu, eu cheguei na final na Bélgica e foi totalmente gratificante, muita gente assistiu e aquilo levantou o meu astral. E cheguei na Red Bull mais tranquilo, estava tudo muito fresco na minha cabeça, por mais que a pressão seja muito, mais muito grande mesmo… a pressão psicológica é muito alta, mas eu me senti bem. Cheguei lá, perdi para o Killa Kolya na semifinal, no ano de 2018 eu ganhei dele. Então, eu cheguei na semifinal achando que ia para a final, pois eu já tinha ganhado dele. Eu perdi, mas nós estamos ainda no 1 a 1 (risos). Ainda tem muita coisa pela frente na próxima para ganhar!
BW: E falando de tempo… Que tempo sobra para sua família? Você tem filho! Como administra tudo isso?
B-Boy Bart: É um mix de coisas! Nem todos os dias são iguais e fazemos o estilo brasileiro mesmo (risos). Eu tento estar com a minha família e ao mesmo tempo treinar. Meu filho tem 5 anos e é bem tranquilo. Deus mandou a criança perfeita para mim! (risos). Quando ele vê que cheguei de viagem, sempre vem “papai, trouxe alguma coisa para mim?”, ele já pratica alguma coisa de capoeira, mas no tempo dele…
BW: Bart, muitos B-Boys e B-Girls brasileiros não vivem da dança. Que conselhos você pode dar para quem pretende viver da dança?
B-Boy Bart: Planejamento. Planejamento é tudo! Saber o que você vai fazer, como você vai ganhar dinheiro e manter o foco. Tem que participar de eventos, afinal, eventos são vitrines. Você tem que batalhar. Planejar o seu ano tipo um ano antes. É algo fundamental!
Em 2018, Bart chegou na semifinal da Red Bull BC One, na Índia, disputando com Killa Kolya uma vaga na final
BW: O que você tem feito em todo esse tempo de pandemia? Como tem treinado? Como acha que será o “novo normal” da vida de um B-Boy ou de uma B-Girl pós-pandemia?
B-Boy Bart: Eu tento fugir da depressão, tento me manter feliz. Estou no Brasil, em Fortaleza, morando com a minha noiva, continuo treinando dia após dia, colocando minha mente em outras coisas, como redes sociais, YouTube, navegando e estudando áudio visual, cuidando da minha casa e treinando mortal.
BW: Sim, falando sobre o mortal, é verdade que os gringos quando veem os brasileiros dançando, eles aguardam o mortal? Como uma marca nossa?
B-Boy Bart: Eu acho que é porquê temos muitos B-Boys capoeiristas. Isso é Brasil! Eles já esperam por causa disso, seja como Pelezinho, Neguin ou Bart. Eles sabem que com nós é mais embaixo (risos).
BW: Muito tem se falado de Breaking nas Olimpíadas. O que você acha sobre isso? Algumas pessoas criticam e falam da possibilidade de se perder a essência da cultura por ser, agora, também um esporte. Como você vê isso?
B-Boy Bart: Eu vejo como uma evolução, na verdade, não acho que seja positivo e nem negativo, é somente algo do mercado. Isso já vem acontecendo tem muito tempo. O R16, todos esses eventos que tem, são em ritmo de Olimpíada, de ranking. Existe o ranking de B-Boys tem muito tempo. A Olimpíada entrou para apimentar ainda mais a competição. Acho que nada vai mudar… Como no futebol existem pessoas que jogam pelada e existem pessoas que jogam nos mundiais. Então, acho que vai melhorar muita coisa!
Para Bart, os brasileiros são fortes candidatos a medalhas nas Olimpíadas de Paris 2024
BW: Como você imagina que será para um B-Boy ou uma B-Girl dançar numa Olimpíada? Como a nova geração deve se preparar para isso?
B-Boy Bart: Aqui nós somos ainda muito samba. Estamos ainda presos em algumas perguntas: tem isso? Tem aquilo? Tem incentivo? O pessoal lá fora está se preparando, enquanto aqui temos que ser competidor e também ensinar, talvez isso aconteça com a nova geração… Será que respondi essa pergunta?!?
BW: Bart, seu nome tem sido lembrado o tempo todo na imprensa e nas grandes mídias. Então, vou direto ao ponto: Você se sente preparado para representar o Brasil numa Olimpíada e trazer uma medalha para casa?
B-Boy Bart: Estou sim! (risos). Eu venho me preparando para isso. Vejo o Breaking como um jogo de xadrez, tem que usar a cabeça e muita estratégia. O momento conta muito! Mesmo que eu não tenha treinado no dia anterior, eu não fico mais do que uma semana sem treinar. Nas oportunidades, precisamos estar “okay” e eu estou preparado!
BW: Na sua opinião, temos mais brasileiros preparados para o pódio?
B-Boy Bart: Sim, temos! O Brasil é potente no Breaking, todo brasileiro tem uma chavezinha que mostra algo a mais.
Foco, concentração, determinação, planejamento: “Estou pronto para as Olimpíadas!”
BW: Quais são seus planos para o futuro?
B-Boy Bart: Praticar Breaking, participar de eventos, voltar a fazer shows na Europa e me manter preparado para as Olimpíadas! O meu foco agora é esse! Estou rezando para que tudo volte ao normal.
BW: Que mensagem você deixaria para os B-Boys, B-Girls do Brasil? E o que você diria para a nova geração do Breaking que o tem como uma grande referência?
B-Boy Bart: Nossa, que pergunta! Preciso pensar… Complicado inspirar as pessoas… Penso que o Breaking deva ser passado para a nova geração, quanto mais passado, mais vamos fortalecer o Brasil. Mas aconselho que tenham planejamento, que sejam persistentes e teimosos, sempre treinar além do que já existe e do que se vê: é isso!
Fotos: Arquivo Pessoal
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O Comitê Olímpico Internacional (COI) confirmou nesta segunda-feira (7) a entrada do Breaking, do Skateboard, da Escalada e do Surfe como esportes olímpicos em 2024, nas Olimpíadas de Paris.
O Breaking será a primeira disciplina de “Dance Sport” a aparecer em Jogos Olímpicos, após sua estreia bem-sucedida nos Jogos Olímpicos da Juventude (YOG) em Buenos Aires, Argentina, em 2018. “Hoje é uma ocasião histórica não apenas para B-Boys e B-Girls, mas para todos os dançarinos ao redor do mundo”, disse o presidente da World Dance Sport Federation – WDSF, Shawn Tay. “O WDSF não poderia estar mais orgulhoso de ter o Breaking incluído em Paris 2024 e agradecemos a todos que ajudaram a tornar isso possível: o Conselho Executivo do COI, os organizadores de Paris 2024, a equipe do WDSF e, o mais importante, a própria comunidade do Breaking. Foi um verdadeiro esforço de equipe chegar a este momento e vamos redobrar nossos esforços na preparação para os Jogos Olímpicos, para garantir que a competição de Breaking em Paris 2024 seja inesquecível.”
A decisão de incluir o Breaking em Paris 2024 foi feita hoje pelo Conselho Executivo do COI em sua reunião final de 2020. A competição em Paris 2024 contará com 16 B-Boys e 16 B-Girls competindo em batalhas 1vs1. O Conselho Executivo também aprovou Skateboarding, Escalada Esportiva e Surf para o programa de esportes da XXXIII Olimpíada, que está programada para acontecer na capital francesa de 26 de julho a 11 de agosto de 2024.
Os organizadores de Paris 2024 propuseram os quatro esportes em resposta a um novo nível de flexibilidade concedido às cidades-sede dos Jogos Olímpicos, para incentivar a inovação no programa olímpico. As cidades-sede, começando com Tóquio 2020, têm a opção de sugerir novos esportes e eventos para inclusão em sua edição dos Jogos que não vinculem os futuros anfitriões dos Jogos. “É com imensa alegria e um toque de alívio que recebemos este evento e esta decisão”, disse Mounir Biba, um B-Boy francês e embaixador do Breaking, que foi juiz do YOG de Buenos Aires. “É um grande passo e um momento histórico. Começando do nada há 50 anos, o Breaking foi construído por conta própria, mas agora encontrou uma família. Resta-nos cumprir a honra que nos foi concedida, mas estou totalmente confiante de que o faremos. Existem muitas pessoas apaixonadas em todo o mundo, fazendo um trabalho incrível todos os dias para nutrir e preservar a cultura. O percurso desportivo em que vivemos só vai reforçar a posição que sempre defendi, ou seja, de que somos atletas! Elogio à disposição dos organizadores de Paris 2024, o trabalho do WDSF e a escolha do COI de incluir nosso esporte nos Jogos Olímpicos de Paris. Nos vemos em 2024 para um grande show”, conclui.
A decisão de hoje do COI reconhece o apelo mundial e o crescimento do Breaking, exemplificado pelo sucesso dos três eventos de Breaking nos Jogos Olímpicos da Juventude 2018 na Argentina, onde mais de 30.000 pessoas compareceram cada dia para ver a competição. Desde então, a jornada olímpica de Breaking mudou cada vez mais. O WDSF World Breaking Championship 2019, realizado em Nanjing, China, foi saudado como um grande sucesso. Mais de 150 B-Boys e B-Girls de 66 países, incluindo alguns dos maiores nomes do Breaking, competiram no evento. A edição de 2020 do campeonato, também marcada para Nanjing, foi adiada para 2021 como resultado da pandemia. O Breaking chamou a atenção na primeira edição dos Jogos Urbanos Mundiais (WUG) em setembro de 2019, em Budapeste, Hungria, e está programado para deixar sua marca na próxima edição dos Jogos Mundiais também, programados para julho de 2022 em Birmingham, Alabama, EUA. Em dezembro de 2019, o COI confirmou que o Breaking retornaria para os próximos Jogos Olímpicos da Juventude de Verão em Dakar, Senegal. Originalmente programado para 2022, o Dakar YOG foi adiado no início deste ano para 2026, devido a pandemia pelo novo coronavírus.
A notícia foi comentada por alguns B-Boys e B-Girls espalhados pelo mundo:
B-Boy Lil Zoo (MAR): “Fazer parte dos Jogos é algo lindo. Isso agrega mais valor à dança para pessoas que não a conhecem. Isso traz muitas oportunidades e patrocinadores. Estou muito feliz e mal posso esperar.”
B-Girl Kastet (RUS): “Acho que o fato do Breaking se tornar parte dos Jogos Olímpicos é uma boa oportunidade de crescer. Minha dica para vencer é ter a mente aberta, estar aberto à cena e estar ciente de suas fraquezas. Apenas seja verdadeiro com quem você é.”
B-Girl Mess (NED): “Quando eu comecei o Breaking, ninguém acreditava que era algo sério. Se você assistir hoje em dia, pode ver o nível de Breaking – o quão alto ele se desenvolveu por meio de movimentos incríveis e uma abordagem muito artística. Tornou-se uma arte, tornou-se um esporte e uma cultura global. Tudo é possível e você pode se desenvolver como um artista incrível, um atleta incrível.”
B-Boy Kid Karam (GBR): “Se eu fosse representar meu país nos Jogos, seria muito impressionante. Representar um lugar como aquele onde tem uma grande identidade e o público em geral, poder se envolver e ver o que fazemos – seria uma coisa incrível. Ficaria honrado com isso e adoraria fazer isso.”
B-Boy Shigekix (JPN): “É uma coisa tão incrível que Breaking vai ser um dos esportes nos Jogos olímpicos. Se eu for capaz de representar meu país, gostaria de dar o meu melhor e mostrar tudo o que puder. ”
B-Girl Madmax (BEL): “Eu estou dançando Breaking desde os 14 anos e nunca esperei que um dia pudesse representar a Bélgica nos Jogos. Se eu tiver sorte e me sair bem nos próximos anos, talvez um dia eu tenha a chance. Vamos!”
O assunto também foi comentado em Portugal e no Brasil:
Max Oliveira (POR): “Será importante existir uma estrutura nacional forte e organizada. Podes ser o melhor B-Boy do planeta, mas se o teu país não tiver uma boa estrutura e organização, dificilmente irás ter acesso às Olimpíadas em pé de igualdade com outras potências mundiais, sabemos que existem países que já têm o seu lugar reservado nos Jogos Olímpicos, independentemente do nível dos praticantes.”
Rooneyoyo (BRA) Presidente da Confederação Brasileira de Breaking – CBRB: “Aguardamos por 4 anos este anúncio e por fim chegou em um momento delicado politicamente, devemos acreditar firmemente no objetivo e avançarmos nas negociações propositivas e de políticas públicas para o esporte da nossa categoria, não faltarão esforços para isso da confederação. Agora é hora de trabalhar sério e mostrar do que o brasileiro é capaz.”
B-Boy Leony (BRA): “Agora só depende de nós, brasileiros, se organizar para representar o Brasil lá.”
A nova geração de B-Boys e B-Girls também opinam:
B-Girl Angel do Brasil: “É muito bom receber essa notícia! Esse ano tive boas oportunidades no E-Fise Montpellier Honor, na França e em eventos internacionais. Estou me preparando todos os dias para grandes eventos. Com determinação, dedicação, é possível chegar lá.”
B-Boy Maguila (BRA): “Eu acho uma ideia boa, por que o Breaking vai ser mais reconhecido e também praticado. Eu gostaria muito de participar.”
B-Boy Richard (BRA): “Eu acho muito bom. Eu gostaria de participar, a esperança é a última que morre.”
B-Boy Eagle (BRA): “O Breaking agora faz parte dos Jogos Olímpicos e isso é muito bom. Gosto da cultura, da essência, mas também gosto da modernidade e da possibilidade de representar o meu pais durante as Olimpíadas.”
B-Girl Aninha (BRA): “Achei muito interessante, isso será uma chance para todos nós de sermos reconhecidos.”
O Portal Breaking World se alegra em poder dar essa notícia e cobrir todas as notícias sobre os Jogos Olímpicos, além de ouvir os B-Boys e B-Girls. Também torcemos para que haja mais entendimento e uma melhor organização. E, claro, muitos brasileiros preparados para subir no pódio!
Fotos: Arquivo Pessoal / Divulgação
B-Boy Bart
B-Boy Leony
B-Girl Angel do Brasil e FabGirl
B-Boy Maguila
B-Boy Eagle
B-Boy Richard
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O Breaking virando modalidade Olímpica irá proporcionar boas oportunidades para a cena, que sempre foi vista como marginalizada no Brasil. Se não for trabalhado seriamente e por pessoas competentes, nada vai mudar e a tendência é se tornar como muitas modalidades olímpicas, na qual os atletas passam por muitas necessidades financeiras e acabam abandonando a carreira profissional. Ter uma equipe unida, experiente, igualdade de recursos para todas regiões, implantar um projeto de disseminação para todo o país nas periferias ou em escolas públicas, que se encontram grandes talentos e criar um centro de treinamento com profissionais capacitados: o Brasil poderá se tornar referência nessa modalidade.
Os organizadores do “Paris 2024” disseram que seu objetivo era incluir “modalidades que podem ser compartilhadas nas mídias sociais, que são um meio de se locomover, formas de expressão, estilos de vida por direito próprio, praticadas todos os dias, nas ruas e em outros lugares”.
Por que vai se tornar um esporte olímpico?
Breaking é uma arte e nunca vai deixar de ser, mas também não podemos negar que seus adeptos têm característica atlética, o desempenho físico é fundamental para se tornar uma B-Girl/B-Boy de alto nível, além das competições serem muito semelhantes com campeonatos esportivos oficiais. Sua dimensão criativa e artística torna essa dança alegre, original e atrativa para o público de todas as faixas etárias.
“Breaking nos Jogos Olímpicos” chegaria a mais pessoas, as crianças e jovens estariam mais interessados nos eventos a nível cultural e esportivo, consequentemente o apoio da família. Assim, o Breaking trará um impacto positivo cultural e esportivo, o que promoverá seu desenvolvimento e disseminação a nível global.
O Breaking tem seus valores que levaram a uma modalidade “sustentável e socialmente responsável”, que não exigem instalações permanentes; é culturalmente relevante para a França, que consta mais de 1 milhão de dançarinos, segundo os organizadores de Paris 2024.
É tradição. A cada edição dos Jogos Olímpicos, o país anfitrião incorpora novas modalidades ao Jogos. Paris 2024 incluíram Surfe, Escalada Esportiva, Skate e o Breaking. Essas modalidades foram uma grande estratégia do Comitê Organizador, em prol de rejuvenescer seu público e conectar-se com os esportes de sucesso em todo o mundo para trazer para os Jogos uma dimensão mais urbana, esporte natural, mais artística. O “OCOG” fez sua escolha entre uma lista de 37 esportes reconhecidos pelo COI, com a restrição de não exceder 10.500 atletas, o que limitaria as chances de esportes coletivos e não envolveria novas construções de equipamentos de longa duração, enquanto atrai as gerações mais jovens e contribuía com o meio ambiente.
O programa olímpico já está saturado de esportes inconvenientes, que não são massificados, que não vendem ingressos, que não têm uma legião de fãs. Mas que continuam lá por tradição. Vide Pentatlo Moderno, Nado Sincronizado e tantos outros. Só as modalidades “fixas” usam mais de 10 mil das 10.500 credenciais de atletas, teto por edição. Sobram 500 vagas, que o COI e os organizadores de Paris-2024 tentam otimizar. O Breaking terá 16 competidoras B-Girls e 16 competidores B-Boys a partir dos 16 anos de idade, não tendo idade máxima, porém todos os competidores precisarão estar federados e ranqueados, no total, 32 atletas, que é pouco mais que o tamanho de um único time de beisebol, formado por 24 atletas. A modalidade Breaking representa um investimento menor em comparação com outras modalidades.
Uma das obsessões das cidades que sediam os Jogos Olímpicos é a infraestrutura: muitas instalações e ginásios sendo abandonados depois dos jogos e as novas modalidades inclusas não terão esse imenso prejuízo para o cofre público e também irão chamar a atenção da mídia mundial, atraindo uma legião de fãs, seja com a venda de ingressos, seja pela televisão ou pelas redes sociais.
Por mais artístico e espetacular que seja, o Breaking atende a todos os critérios impostos pelo COI, cerca de quarenta. Para integrar a lista de esportes reconhecidos, precisa de regras bem explicadas, de uma federação presente em pelo menos quatro continentes.
Um teste já foi feito, muitíssimo bem sucedido. O Breaking foi disputado nas Olimpíadas da Juventude de Buenos Aires, no ano de 2018. A competição aconteceu em uma estrutura montada no Parque Madejos, um dos locais mais movimentados e de atmosfera jovem da capital Argentina. Lá foram disputadas também as modalidades de Escalada, Basquete 3×3 e BMX Freestyle: essas duas disciplinas vão estrear em Tóquio-2020/21. Paris, referência mundial em turismo, sabe cuidar do visitante como ninguém. A candidatura já foi desenhada para que as competições ocorram em locais já de intenso fluxo de pessoas, integrando as competições com a cidade e seu entorno. A Olimpíada de Paris tem tudo pra ser a mais legal da história dos jogos.
A competição de Breaking em Paris será organizada pela World Dance Sport Federation (WDSF), que é reconhecida pelo COI há mais de 20 anos como a entidade responsável pela dança esportiva mundial. Especialista principalmente na dança de salão, seja clássica ou em ritmos latinos, ela agora terá que se renovar para abraçar melhor o Breaking e não fazer mudanças bruscas, para não descaracterizar a dança e sua essência, acredito que não vai se descaracterizar e sim acrescentar novos formatos de competição, com boas estruturas e um olhar a mais para as B-Girls e B-Boys.
Esse é o desafio dos próximos quatros anos, dar um caráter esportivo, organizado, para o que historicamente é arte, é cultura. Da mesma forma, os atletas que quiserem competir em Paris, terão que se federarem. É um processo longo, no qual ambos ganham. Ganha o movimento olímpico, cada vez menos careta. Ganha o Breaking, com visibilidade e reconhecimento.
Há um único motivo para que o COI não avance com o Breaking para Paris2024. É a não organização de competições oficiais, não é à toa que a WDSF teve que organizar às pressas o primeiro mundial “oficial” no ano de 2019, contudo se a WDSF não se unir e apoiar os eventos já existentes, mostrará que a modalidade não estará preparada para se migrar aos Jogos Olímpicos. É preciso existir uma base sustentável. Eles esperam criar uma base que torne essa modalidade bem-sucedida a longo prazo.
O formato de “batalhas”, no qual os participantes eliminam seus oponentes para avançar a fase seguinte em uma competição, bem como a atmosfera festiva, vibe nas cyphers e durante as batalhas, contribui para a popularidade dos eventos de Breaking no cenário internacional e essas características são importantes para o COI
Critérios de julgamento
Baseado nos Jogos da Juventude (Buenos Aires 2018). Como foi um evento teste e bem sucedido, toda a competição foi um laboratório para que a entidade responsável, WDSF, pudesse apresentar o projeto para que o Comitê Organizador de Paris2024 aprovasse o Breaking como modalidade Olímpica, desde piso, formato das batalhas, quantidade de competidores (as), arbitragem (jurados) e o sistema de arbitragem foram à teste. A WDSF lançou seu manual de regras e regulamentos oficiais para os Jogos Olímpicos da Juventude de 2018, em Buenos Aires. Este manual inclui o sistema de julgamento que poderá ser usado em Paris 2024, é claro com reajustes.
Irei apresentar o formato que foi utilizado nos Jogos Olímpicos da Juventude em 2018.
Niels “Storm” Robitzky e Kevin “Renegade” Gopie, duas figuras respeitadas na cena, no manual informa que eles foram os mentores na criação do sistema de julgamento. Ao ver imagens do sistema, ele ainda possui “falhas” perceptíveis que o tornam mais um trabalho em andamento do que um produto final, contudo ao passar do tempo será bem mais fácil de trabalhar com esse sistema.
Eles o chamam de “Trivium Value System”, um nome que sugere os três principais critérios do sistema: Corpo, Alma e Mente. Seguindo os critérios atuais, serão compostos da seguinte forma:
Corpo, Qualidade Física: composto por Técnica (20%), Variedade (13,33%);
Alma, Qualidade Interpretativa: composta por Performance (20%), Musicalidade (13,33%);
Mente, Qualidade Artística: composta por Criatividade (20%), Personalidade (13,33%).
Cada juiz move seis controles deslizantes em um tablet portátil para classificar os atletas (B-Girl/B-Boy) em cada um desses critérios. Também existem outros fatores, como escorregões ou falhas, que podem afetar as pontuações.
B-Girls/B-Boys são avaliados por entradas, sendo duas entradas mais um intervalo de 1min30seg e mais duas entradas. As pontuações são calculadas e exibidas por meio de um sistema digital desenvolvido por “and8”: vence uma batalha quem marcar mais pontos somadas as 4 entradas, veja a imagem abaixo da tela do dispositivo portátil de um juiz (jurado):
O que será avaliado: técnica, variedade de movimentos e ou passos, musicalidade, criatividade, execução, personalidade entre outros. Algumas faltas que poderão tirar pontos ou até mesmo eliminar da competição: “Bite” (risos), erros, contato intencional e desrespeitar ao oponente, nesses dois últimos terão 3 advertências para assim ser decretada a eliminação da competição.
Não existe um código preciso para os movimentos que o dançarino fará: ele é completamente livre. O Breaking tem uma grande parte artística, que é obviamente levada em consideração pelos jurados em cada um dos critérios avaliados mencionados acima.
A WDSF irá lançar um curso de arbitragem até final do ano de 2021, um grande avanço para o Breaking e assim acabar com a famosa “panela” que existe, seguindo o sistema das outras modalidades esportivas, os árbitros também poderão ser ranqueados.
Para conquistar uma vaga nos Jogos Olímpicos 2024
O Comitê Olímpico Internacional (COI) fornecerá à WDSF as diretrizes do sistema de qualificação em 2022 (as diretrizes são as mesmas para todos os esportes nas Olimpíadas e cada Federação internacional deve adaptar o sistema de qualificação de acordo com a especificidade de seu esporte), então, caberá ao WDSF propor o formato de qualificação para o Paris 2024, que deverá ser aprovado pelo COI antes de ser oficialmente publicado. Provavelmente haverá entre 4 a 6 eventos de Breaking renomados que serão parceiros para as qualificações, parecido como foi a qualificação para os Jogos Olímpicos da Juventude 2018. Então só teremos 100% de certeza de como e quais eventos irão dar vaga para o tão sonhado ouro olímpico após a divulgação oficial do COI que está prevista pós os jogos de Tóquio. Outro ponto que a WDSF irá fazer é um sistema de ranking, tendo como exemplo outras modalidades esportivas, as B-Girls/B-Boys não necessariamente precisarão ser campeões desses campeonatos, o importante é estar ranqueado entre os 16 “melhores” do mundo, conquistando pontos nos campeonatos, pegando colocações como primeiro, segundo, terceiro e quarto…
O Breaking brasileiro tem nível elevado, que são capazes de conquistarem as medalhas, o nosso principal obstáculo é a falta de estrutura, planejamento e financeiro. Muitos desses dançarinos(as) (atletas) têm outros trabalhos para se manterem, diferente de outros países como EUA, Rússia, Japão, Coréia e muitos países europeus, na qual os dançarinos (as) vivem do Breaking, têm boas estruturas, treinadores e patrocínios. Para concluir, gostaria de entrar em um assunto: muitos estão falando que ginastas iam se migrar para o Breaking… eles até podem, mas pouco provável que irão conseguir uma vaga olímpica, pois os ginastas treinam sistematicamente desde crianças e o Breaking é totalmente oposto, o Breaking em primeiro lugar é uma arte, é livre, cada dançarino (a) tem seu estilo, carisma, criatividade, flavor, com a vibe do público, interpretar seu sentimento conectado com as músicas e com o DJ, um ginasta não tem essas características, que são fundamentais para a formação de uma B-Girl/B-Boy, pois isso acaba sendo natural para quem é da cena, e serão avaliados por B-Boys e B-Girls experientes que conhecem a nossa dança como ninguém, então, não se preocupem com isso e trabalhem para que o Breaking do Brasil seja bem representado.
A WDSF (World Dance Sport Federation) e a Federação Chinesa de Dança Esportiva anunciaram que o Campeonato Mundial de Breaking será realizado em 20 de junho de 2021. A competição estava originalmente programada para ocorrer em agosto de 2020, mas foi adiada devido à pandemia do novo coronavírus. Foi decidido que o campeonato permanecerá no Lishui Sports Center, na cidade chinesa de Nanjing.
“O sucesso do “Breaking World Championships” de 2019, em Nanjing, nos dá grande confiança em nossos anfitriões chineses, que pretendem organizar um evento ainda mais espetacular no próximo ano. A saúde dos competidores, organizadores e fãs continua sendo nossa principal prioridade, é claro, e estamos comprometidos em trabalhar com os organizadores locais para garantir as melhores e mais seguras condições possíveis. A WDSF continuará monitorando a situação do coronavírus em todo o mundo e seguindo as recomendações do Comitê Olímpico Internacional, da Organização Mundial da Saúde e do governo chinês em relação à organização da competição”, disse o presidente da WDSF, Shawn Tay.
Informações detalhadas sobre os prazos atualizados e os procedimentos de qualificação serão anunciados nos próximos meses. A japonesa B-Girl Ami e B-Boy Menno, da Holanda, são os atuais detentores dos títulos mundiais feminino e masculino, tendo triunfado em Nanjing no ano passado.
O Breaking está previsto para se tornar um esporte olímpico nos Jogos de 2024, em Paris.
Fotos: Divulgação
B-Boy Menno conquista mais um campeonato
B-Girl Ami em ação no Campeonato Mundial de Breaking da WDSF
B-Girl Ami foi a grande vencedora do feminino
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