Mais de um ano se passou desde que a cidade entrou em estado de alerta e foi decretado o primeiro lockdown por conta da pandemia do coronavírus, que ainda iria tomar proporções inimagináveis.
Já esperávamos ter resultados negativos comparados a outros países mais desenvolvidos, pelo nosso histórico de governo, mas não tínhamos parado para pensar no quanto isso poderia nos afetar: no trabalho, nas relações pessoais, nas finanças e na saúde.
Ninguém estava preparado para isso, muito menos a nossa cultura, que, em tempos normais já sobrevivia com muita dificuldade. Não tínhamos ideia de quanto tempo isso iria durar e nem sabíamos o quanto um evento presencial faria falta.
Estar a 300 metros do local do evento, já ouvir o som de longe e, com a proximidade, sentir adrenalina, ansiedade e sentimento de alegria por estar presente no evento, tão esperado, por você e por muitos. Pensado e organizado por um grupo de pessoas, que há meses planejam esse acontecimento, contratam pessoas, empregam parentes, abrem espaço para os pequenos empreendedores vender seus “panos”, seus produtos, gerando renda para várias famílias. Situações tão normais no dia a dia que nunca paramos para refletir a importância deles. Rever amigos, ver inimigos, dançar, conversar, observar o tênis do colega, a jaqueta style que o outro está usando, as novas tatuagens daquele outro B-Boy, aquele casal de B-Boy/B-Girl que está sempre junto… passar raiva com os jurados desqualificados, o evento que não valoriza o DJ e tocou as músicas de uma mixtape baixada da internet pelo pen drive… mesmo dos piores eventos sentimos falta.
Isso, infelizmente, tem desencadeado uma série de preocupações com a saúde psicológica e física dos nossos colegas.
Sem eventos para ir, lugares para treinar, sem poder viajar, muitos têm passado os dias e noites presos à uma das drogas mais prejudiciais para a nossa saúde: a internet.
Com a ociosidade, veio a ansiedade. E com a ansiedade, a falta de empatia. Ah, a tal falta de empatia que mais nos separou do que em qualquer outro momento da história.
Todos já com os nervos à flor da pele, muitos desempregados, outros que perderam familiares ou amigos para a Covid-19, devastados, com o psicológico abalado, aí veio o anúncio: O BREAKING FOI OFICIALMENTE CONFIRMADO PARA AS OLIMPÍADAS DE 2024.
Alguns ficaram felizes, encontraram nesse anúncio um pouco de esperança e motivação. Outros, ficaram indignados com o fato do Breaking ser incluído em uma modalidade esportiva. Não precisa ser gênio para saber qual foi o resultado disso, muita discussão e mais falta de empatia tomou conta das redes sociais.
Oportunistas se fizeram presentes imediatamente, mesmo aqueles que tinham se declarado contra o Breaking nas Olimpíadas, brigaram por postos de poder para liderar o comitê representativo nacional.
Enquanto estes brigam sem nem saber por quem ou por quê, os números no país continuam crescentes e a previsão de retomada cada vez mais distante.
Antes de sermos artistas, somos seres humanos, somos seres humanos, SOMOS SERES HUMANOS. Precisamos ter mais HUMANIDADE, mais EMPATIA e mais CONSCIÊNCIA da REALIDADE que estamos vivenciando.
Amamos o Breaking, vivemos o Breaking, mas há questões mais emergentes que precisam da nossa energia e do nosso tempo, de todos que estão saudáveis e podem ajudar. O futuro está à frente, o presente é HOJE, e hoje muitas pessoas precisam de ajuda – ajuda para comer, ajuda para superar uma depressão, ajuda para enfrentar crises familiares, ajuda para se levantar.
Sejamos mais humanos e menos egoístas.
Assisti uma série recentemente de dança e uma frase se destacou “por mais que estejamos todos competindo uns com os outros, tenhamos nossas diferenças, sejamos inimigos, ainda estes são os únicos que me entendem, porque eles vivem o que eu vivo e sabem das dores, das dificuldades, da luta”. É isso, no fim, estamos todos no mesmo barco, somos iguais.
O que você tem feito por você nesse último ano? E, o que você tem feito pelos outros nesse último ano?
Que não percamos nunca nossa essência e que sempre nos lembremos da nossa história, da nossa cultura, que prega PAZ, AMOR, UNIÃO E DIVERSÃO.
This is Hip-Hop!
Fotos: Reprodução
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Médicos alertam que a nova variante é mais grave, rápida e letal entre jovens: “É preciso parar os eventos presenciais!”
O estado de São Paulo registrou nesta semana 61.064 óbitos e 2.093.924 casos confirmados durante toda a pandemia. Entre o total de casos diagnosticados de Covid-19, 1.852.904 pessoas estão recuperadas, sendo que 229.822 foram internadas e tiveram alta hospitalar.
As taxas de ocupação dos leitos de UTI são de 70% só na Grande São Paulo e 69,7% no Estado. O número de pacientes internados é de 14.809, sendo 8.042 em enfermaria e 6.767 em unidades de terapia intensiva, conforme dados desta semana. Hoje, os 645 municípios têm pelo menos uma pessoa infectada, sendo 625 com um ou mais óbitos. Em todo o país são 10.869.227 casos, 9.647.550 recuperados e 262.770 mortes. Em todo o mundo são 116.463.253 casos, 65.805.310 recuperados e 2.586.760 mortes.
Mesmo com o início da vacinação, os números ainda são alarmantes! O Brasil registrou 1.498 novas mortes por Covid-19 ontem (06), com uma média de 1.455 óbitos pela doença nos últimos sete dias, após bater o recorde de mortes por Covid-19 em um intervalo de 24 horas por dois dias consecutivos, o patamar mais alto desde o início da pandemia, foram registradas 10.183 mortes nos últimos sete dias, com isso, a média móvel de óbitos bateu um novo recorde pelo oitavo dia seguido!
Somente na cidade de São Paulo, já são 6 hospitais com 100% de ocupação de leitos de UTI para Covid-19, a taxa geral de ocupação na capital paulista chegou a 77% ontem, sendo que a rede privada varia de 80% a 99% dos leitos de UTI ocupados.
Diante dessa realidade, um dos segmentos mais afetados pela Covid-19 foi o mercado de eventos. O setor registrou prejuízo de R$ 270 bilhões com a pandemia do novo coronavírus, entre março e dezembro do ano passado. As perdas levaram ao desemprego de 3 milhões de pessoas. O segmento representa 13% do Produto Interno Bruto (PIB) e tem 60 mil empresas que dependem diretamente da realização de eventos para funcionar, além de 2 milhões de microempresários. A solução? A retomada, sem dúvida, é algo desejado por organizadores de eventos para amenizar os prejuízos, no entanto, como pensar no retorno quando a Covid-19 ainda é a grande vilã do mundo e desafia a humanidade?
A vacina chegou, mas o isolamento social ainda é uma das medidas preventivas para conter a aglomeração de pessoas e, assim, evitar a proliferação do novo coronavírus. E aí perguntamos: Como será o futuro dos eventos? Quando, com segurança, será possível retornar? Será que podemos voltar aos eventos presenciais ou teremos um futuro de eventos híbridos e on-line?
A verdade é que o futuro dos eventos está sendo construído agora, baseado em experiências do que dá certo e do que não dá! Muitas respostas ainda não existem! Mas se adaptar pode significar a sobrevivência dos negócios!
Analisando essa difícil situação, o Portal Breaking World, que é voltado para a Cultura Hip-Hop e para os seus elementos, resolveu procurar e escutar a opinião de alguns organizadores de eventos reconhecidos e de credibilidade no Breaking que acontecem no nosso país e saber o que pensam e o que andam fazendo…
Começamos conversando com o produtor de eventos Alan Jhone, mais conhecido como B-Boy Papel, de Brasília. Nascido e criado em Ceilândia, formado em Marketing, ele desde 2012 organiza o Quando as Ruas Chamam, sendo um dos grandes eventos expressivos da Cultura Hip-Hop no Brasil, um catalisador e formador de B-Boys e B-Girls, o evento reúne a nova geração e também os mais conhecidos dançarinos do país em suas competições. Ele explica que, em Brasília, a situação em relação à Covid-19 continua complicada, com alto índice de contaminação e de mortes, sendo que Ceilândia é onde tem o maior número de infectados e mortes no Distrito Federal. Um dos motivos é o fato de ser a maior população entre as regiões administrativas do DF, sendo mais de 500.000 pessoas, sem falar nos problemas com a saúde e a falta de leitos para os doentes. São dele as palavras: “A situação ficou séria aqui em Brasília, mas no meu caso, depois que eu organizei toda a parte de pós-produção em 2019, eu peguei o tempo livre e me dediquei em estudos, para fazer algumas provas e como eu já tinha o projeto que seria realizado em 2020 devidamente aprovado, tudo muito certinho, eu já estava com a edição do festival garantida, então, tive liberdade para focar em alguns estudos e olha, eu dei muita sorte, pois não tive nenhum prejuízo financeiro relacionado a essa edição de 2020, porque eu não tinha começado o processo de produção do evento. Eu tinha o planejamento de começar os preparativos no mês de maio de 2020 e aí nos deparamos com a situação da pandemia que estourou em todos os lugares. No estudo pra mim foi complicado, pois eu tive que me distanciar das aulas presenciais e acabou me atrapalhando nisso, mas, felizmente, com os prejuízos relacionados ao evento eu não tive. Mas corremos sérios riscos, tenho a certeza que muitos parceiros de outros projetos estavam com eventos em andamento e tiveram prejuízos gigantescos. Agora é tempo de reinventar, eu continuo me dedicando aos estudos, conseguimos nos movimentar e apresentar a 7ª edição do festival, que foi devidamente aprovada, com a pontuação máxima no edital que ele concorreu, então, nós temos garantido para o futuro mais duas edições do festival. Mesmo no meio da pandemia não deixamos de olhar com carinho por ele e conseguimos mais essa vitória de ter duas edições garantidas! Inclusive, estamos divulgando isso em primeira mão para o Portal Breaking World. Ultimamente, além de estudar, eu tenho cuidado da minha mãe que faz parte do grupo de risco e tenho refletido muito sobre o futuro, porque nós que somos da cultura sempre temos uma vida instável, sem muita garantia, então, eu penso que nós da cultura precisamos pensar mais em como atingir essa estabilidade, para não ter mais esses baques que tivemos, por exemplo, com a pandemia e também venho pensando muito nas alternativas para o futuro, eu sou um cara proativo, inquieto, gosto de pensar longe. Até o momento não temos a intenção de realizar o Quando As Ruas Chamam numa edição on-line, isso fugiria muito do evento. Eu acho que o negócio é esperar e voltar quando for possível com chave de ouro, recebendo todos, creio que o formato on-line seria muito complicado. O Quando As Ruas Chamam tem um lance de encontro de pessoas que vêm de várias quebradas e que podem trocar experiências e nós queremos que isso seja presencial, estamos com uma energia para produzir uma festa linda no momento seguro! O momento ainda é bastante delicado, os índices de infectados ainda são altíssimos, eu penso que as pessoas que precisam fazer seus eventos e aquelas que não podem esperar, devem buscar fazer da forma mais segura possível, cuidando dos nossos com responsabilidade para que nenhum irmão pegue esse vírus maldito. Planos para o futuro é ver alguns outros projetos que eu tenho guardado saírem do papel, como tem sido muito gratificante ver o Quando as Ruas Chamam”, conclui.
Da cidade do poder para o sul do país, procuramos o Pedrinho Festa, organizador da Battle In The Cypher, que é um dos eventos de Hip-Hop mais tradicionais da América Do Sul e já tem 12 edições. O Battle In The Cypher recebe dançarinos de até 10 países diferentes por edição e anualmente tem pré-edições em países como Uruguai, Paraguai e Argentina, além de outras regiões do país. O evento tem uma programação de diversas atividades que não apenas focam numa premiação, mas sim numa construção dentro da cultura Hip-Hop. A maior importância dele se dá pelo formato que prioriza todos os elementos do Hip-Hop. Pedrinho Festa conta: “A última edição foi a edição on-line, em 2020, fora isso tivemos a edição dos 10 anos, em 2019… E sim, logo após ela, já começamos a projetar o ano posterior, tanto que tínhamos organizado edições em 2020 na Paraíba, Santa Catarina, Uruguai e Paraguai antes da pandemia, o evento já estava extremamente estruturado com diversas pré-edições realizadas, passagens compradas, datas, patrocínios, etc., já marcados. Estávamos com um projeto de captação em Mecenato aprovado, que expirou o prazo devido a pandemia. Apesar de termos tido alguns gastos, não tivemos o orçamento comprometido, pois conseguimos reverter muitos de nossos gastos, como de passagens. A nossa principal atitude foi buscar realizar de maneira on-line, mas que tivesse da mesma forma a cara do evento. Até mesmo para poder contratar os mesmos profissionais que estavam no evento e de alguma forma foram impactados com os cancelamentos de datas em 2020. Então, o fizemos de maneira on-line, mas buscamos um formato estilo festival, mantendo as atividades do BITC como a festa Hasta La Cypher, o Graffiti, os workshops e palestras, a batalha de DJs… O Battle nunca foi só uma batalha, o nosso grande desafio foi levar essa essência para o mundo digital. Em 2021, o evento tem data para acontecer: de 29 de março a 4 de abril. Será físico, ainda estamos aguardando para saber se será com público reduzido ou apenas com participantes. Resolvemos fazer agora, pois conseguimos passar um projeto importante de incentivo, com apenas 4 meses de realização e sabemos que muitas pessoas da nossa cultura estão precisando trabalhar, inclusive por isso buscamos contratar um grande número de artistas e trabalhadores da cultura Hip-Hop! Tempos difíceis, mais fácil sentar e lamentar. Sabe aquela gana de fazer a parada acontecer? Bom, a gente tem ela desde algum tempo… Às vezes, passa um filme na cabeça, de como tudo era e mesmo assim acontecia, as pessoas, no fim é tudo sobre energia, sobre as pessoas, sobre o que podemos proporcionar para as coisas serem melhores. Battle In The Cypher nunca foi só um evento, é um ideal, é um compromisso, uma retribuição. É o que somos!”.
De Bento Gonçalves direto para o Rio de Janeiro, a conversa foi com a carioca Sabrina Vaz, mais conhecida como B-Girl Savaz, uma das diretoras do evento Tropical Battle, que acontece presencialmente nos próximos dias 6 e 7 de março, realizado de forma independente, tem o apoio da comunidade Cantagalo-Pavão-Pavãozinho, onde a dança é uma importante ferramenta de transformação social. A ideia do evento nasceu em 2015, dentro de uma Crew só de mulheres, na verdade a primeira Crew de mulheres do Rio de Janeiro, que é a Manifesto B-Girls Crew, que sempre foram protagonistas de ações ligadas ao Hip-Hop carioca. Hoje, a Manifesto B-Girls Crew não existe mas a amizade entre as meninas continua! O Tropical Battle é um evento muito importante para o Rio de Janeiro, porque tem o objetivo de trazer a essência do Breaking carioca, que segundo ela não é muito identificado no Rio. Savaz conta: “Desde então, nós temos visto que influenciamos a cena com a valorização do B-Boy e da B-Girl, com premiações altas, todas as edições foram memoráveis. Até o Tropical Beneficente que fizemos para ajudar a B-Girl Branca na compra de uma cadeira de rodas ou patrocínio para as meninas irem para outros eventos, todas as edições foram especiais, a última que fizemos, em 2020, um pouco antes da pandemia, foi especial, nessa edição tivemos alguns percalços, mas aprendemos, não tivemos nem um pós-produção, porque estava tudo muito corrido, terminamos o evento e já estourou uma pandemia. Nem acreditávamos que ia rolar a edição de 2021, foi um momento de repensar a vida, o evento nunca teve patrocínio, foi do nosso bolso, as meninas foram fazer trem e metrô para ganhar dinheiro para fazer o evento, eu tive que pagar muitas contas do meu bolso. Mas Deus tem provido as coisas e está aí a edição de 2021, depois que estourou a pandemia, em 2020, nós ficamos aliviados por ter conseguido fazer um pouco antes a edição de 2020 e não estávamos comprometidos com a edição de 2021, porque nós não temos verba. Então, foi graças a Lei Aldir Blanc que está sendo possível realizar a edição de 2021, os prejuízos que eu tive em 2020 foram mais pessoal, porque nós não estávamos muito bem organizados, eu precisei tirar dinheiro do meu bolso e quando recebemos a grana da Aldir Blanc, deu para pensar na edição de 2021. Sobre se reinventar, nós nunca encaramos o evento como algo profissional ou um empreendimento. Agora que o evento está começando a ser feito por uma equipe específica, estamos começando a olhar para o evento com um olhar de empreendedorismo, nós estamos precisando nos organizar, sendo um divisor de águas. Tenho escrito editais. Não gostamos de eventos on-line, acreditamos que se perde muita coisa, já tem gente fazendo eventos on-line, se perde muito o “flevo” [sic] mas as nossas eliminatórias estão sendo on-line, quando pensamos no evento achávamos que tudo estaria bem melhor, já conversamos com a equipe que se for necessário cancelar o evento faremos. Todos os eventos aqui no Rio de Janeiro estão acontecendo, estamos providenciando os protocolos de segurança, o purificador de ar para grandes espaços, álcool, mascaras, tudo… como estamos fazendo por um edital do governo, temos com que arcar, então, precisamos apenas ver se vamos conseguir manter as datas por causa da pandemia ou não. Os cuidados não são suficientes, estamos tomando alguns cuidados aprovados pela lei, mas não é suficiente, mas uma coisa que tem me dado paz nesse momento é que tem muita gente que está precisando desse trabalho. Colocamos uma premiação alta, as atividades são gratuitas e as inscrições são R$5,00. Nossos planos para o futuro é fazer um planejamento que o Tropical Battle aconteça todos os anos. O Breaking é algo bastante resistente, ele vai continuar! Estamos acostumados a treinar sozinhos! Acredito que os eventos on-line vão morrer e só ficarão no on-line os grandes eventos que também vão fazer. O Breaking é vida!”.
Saindo da Cidade Maravilhosa e chegando em São Paulo, no coração cultural do Brasil, falamos com um dos pioneiros de eventos de Breaking no Brasil. Rooneyoyo, que é o criador da Batalha Final, evento que nasceu das festas da B-Boys Battle Party, que eram mensais quando Rooney ainda tinha loja na Galeria do Rock/Hip-Hop, no centro da cidade. A primeira Batalha Final foi em 1999, com 26 grupos, com shows e batalhas de grupo, era um evento itinerante e anual. Como B-Boy e Rapper, ele queria ver as coisas acontecendo e ninguém fazia nada, então chamou o DJ Ninja e falou que queria fazer festas mensais para tocar os discos e reunir os amigos, foi aí que tudo começou e virou o que é hoje. Ele fala: “Nossa última edição foi em 2019, foi espetacular, no aniversário de 20 anos, com 7 eventos, 1 a cada 15 dias, fizemos dentro das favelas e dentro do Shopping, utilizando as modalidades que viriam a se tornar olímpicas, com as regras e piso, som, tempo, tudo como se fosse lá, me diverti e fizemos um trabalho lindo, com uma equipe maravilhosa. Na verdade, eu já tinha programado eventos até 2028, como fazemos isso todos os anos, temos um modus operandi bem organizado, buscar recurso, reestruturamos o que temos e colocamos o evento na rua. É logico que sempre mudamos algo, para nos atualizar, mas nossa metodologia vem funcionando tem alguns anos, pois nossa equipe, repito, é ótima! Com a chegada da pandemia, cancelar foi um terror, muitos contratos cancelados, foi frustrante, mas temos que entender que a saúde de todos ainda é mais importante, eventos fazemos aos montes. Era hora de salvar vidas e proteger, foi o que pensamos. Estávamos com o conceito de 2020 pronto, artes prontas, apoios e patrocínios, tudo arranjado. Já estava comprometido financeiramente para a edição de 2020, investimos antecipadamente para adiantar nosso cronograma e deixar tudo no jeito para dedicarmos e focarmos em atender os competidores. Para que todos entendam, nos 20 anos da BF, durante o evento, eu tive um sonho e começamos a desenvolver as artes para a edição de 2020. Financeiramente tivemos prejuízos, ficamos praticamente 5 meses sem trabalho, depois, entrou umas coisas on-line e parou. Então, nos reunimos virtualmente e pensamos que não adiantava correr riscos, hoje, como presidente da Confederação Brasileira de Breaking [CBRB] não poderia colocar os breakers e produção em risco. Atualmente, paramos tudo, estamos trabalhando virtualmente e produzindo conteúdo para, quando estivermos livres para executar eventos, estarmos muito mais prontos que antes. Estamos em luto diário, com familiares e amigos falecendo, um após o outro, então decidimos não fazer nada muito barulhento, estamos lidando com a perda e pensando no futuro. Não estamos felizes, mas temos que seguir em frente e honrar os que ficaram no caminho. Para fazer eventos como tenho visto alguns por aí não me agrada e penso que a falta de estrutura e conceito desmotiva os que levam isso com amor e carinho, muito à sério, então, estamos aguardando o tempo certo para podermos fazer algo para deixar a marca. Conseguimos fazer isso com o DMC Brasil 2020, que foi um sucesso on-line. Com a Batalha Final, não tivemos apoio, então, estamos aguardando o que virá com esta vacina. O momento é incerto, governo irresponsável e alguns indo na onda… e o resultado está visível, triste e calamitoso. Com falta de leitos em hospitais, falta de oxigênio e cemitérios lotados. Sobre a volta de alguns eventos nesse momento, sou suspeito para falar, pois também sou produtor de eventos, não é porque optamos por não fazer que quem faz on-line está errado, só não gosto de alguns conceitos, mas presencial, não concordo e acho uma irresponsabilidade de quem faz e de quem participa. Não é momento para isso! Tenho visto muitos eventos on-line e presenciais com nenhuma segurança de fato, então, a resposta é não, continuo achando uma irresponsabilidade social. O Hip-Hop salva vidas e não leva elas para a tumba!”.
Outro grande evento organizado pelos produtores culturais B-Boy Dunda e B-Girl Lana, o Breaking Combate, em São Paulo, concorda com Rooneyoyo e faz coro, são deles as palavras: “Ainda não é o momento de realizar eventos presenciais. As medidas de distanciamento social devem ser respeitadas até que as atividades presenciais voltem a ser liberadas. Cabe a nós, cidadãos, respeitarmos as normas sanitárias e buscarmos formas alternativas de entrega cultural para a população. O uso de máscara, álcool em gel e lavagem das mãos não são suficientes para proteger as pessoas em meio a grandes aglomerações e, por isso, os eventos presenciais devem ser evitados. O Breaking Combate é uma celebração da cultura Hip-Hop, com foco principal na dança Breaking. Proporciona intercâmbio cultural entre os adeptos da cultura Hip-Hop a sua primeira edição foi em 2009. Nas duas primeiras edições, o evento chamava-se “Carapicuíba Battle”, porém, devido à grande dificuldade de realizar qualquer ação voltada para a cultura Hip-Hop na cidade de Carapicuíba, modificamos o nome do evento para “Breaking Combate” para assim podermos realizá-lo em outros locais”. Eles lembram: “Todas as edições foram especiais, porém, um destaque maior para a edição de 2013, que foi a primeira que trouxemos jurados internacionais, workshops, viagem totalmente paga como premiação dos vencedores e a oportunidade de poderem representar o Brasil em eventos internacionais. Foi realmente incrível receber em nosso evento B-Boys e B-Girls de todo o Brasil e também de alguns países estrangeiros e ter cobertura da mídia televisiva. A última edição aconteceu em 2017. Na ocasião, já prevíamos não realizar as edições de 2018 e 2019 por estarmos focados em outros projetos. O planejamento era retornar com o Breaking Combate 2020, mas, como todos sabemos, a pandemia chegou e todos os planos foram cancelados. Quando a pandemia teve início estávamos na fase de planejamento do evento e, por sorte, não tivemos prejuízos financeiros. O projeto da 6ª edição do Breaking Combate já estava aprovado e sendo planejado, com previsão para acontecer em agosto de 2020, quando estourou a pandemia e tudo foi cancelado. Foi assustador, mas entendemos que, com uma pandemia acontecendo, qualquer evento cultural ou esportivo deixa de ser prioridade. O lado bom das situações adversas é justamente sermos forçados a pensar fora da caixa e nos adaptar à nova realidade. Na produção de eventos não é diferente. A impossibilidade de realizar eventos presenciais e necessidade de evitar aglomerações, abriu um leque de novas oportunidades e formatos a serem explorados. Sobre o futuro, desejamos realizar a 6ª edição do Breaking Combate em 2021, após a liberação dos eventos presenciais ou semipresenciais pelas autoridades sanitárias. Optamos por aguardar e, no momento certo, realizaremos o evento da melhor forma possível, sem expor os artistas e público a riscos”, finalizam.
Ainda em São Paulo, fomos conversar com Thiago Vieira, que é B-Boy há 14 anos e arte-educador formado em Educação Física. Integrante da Crew Guetto Freak desde 2012, Thiago faz produção cultural desde o mesmo período, porém, mais sazonal. No conhecido evento Breaking Ibira, ele foi integrar a produção a partir de 2018, o evento já tem 6 anos, idealizado pelo B-Boy Mion. Foi ele quem fez as primeiras batalhas, cyphers e marcava treinos também. Na primeira batalha que Thiago foi, recebeu o convite para ser jurado, em 2014 mesmo. “E era ali no entorno do MAM (Museu de Arte Moderna), aí em determinado momento houve o contato das educadoras do museu e a partir daí começaram a abrir o espaço e oferecer estrutura de som, etc. Naquele momento, no parque, rolava muito os famosos rolezinhos…”, Thiago conta, “Sempre que realizávamos uma edição, logo em seguida fazíamos uma reunião para fazer uma avaliação e pensar numa próxima, mas no geral todas as edições foram pensadas no início do ano e, dependendo da situação, poderiam mudar de posição no cronograma ou não, na última edição de 2019, que foi a batalha de crews, nós encerramos e fomos para um rodízio de comida japonesa (risos), fomos comemorar e os planos para o ano de 2020 ficaram para janeiro. Num ano normal, a primeira edição é em março. Quando foi anunciada a pandemia, nós estávamos com quase tudo pronto pra primeira edição do ano, poucos dias depois cancelamos e ai não teve o que fazer naquele momento, só parar e avisar o público. O Breaking Ibira tem parceria com o MAM, as atividades deles pararam e consequentemente as nossas também, houve um prejuízo financeiro, principalmente para a equipe que trabalha, que sempre fecha muito com a gente e do dia pra noite perderam parte dos rendimentos, depois de um tempo, como não parecia que a coisa ia se normalizar tão cedo, passamos a nos reunir para encontrarmos uma solução, mas não foi possível fazer muita coisa, algo que tenho dito com relação a pandemia é que os trabalhadores da cultura foram os primeiros a pararem e provavelmente serão os últimos a voltarem, a sociedade não vê cultura como essencial, mesmo que assista séries e filmes todo dia, trabalhe ouvindo música e dance quando está feliz. Discutimos bastante sobre novas possibilidades, primeiro, fizemos um workshop on-line e depois fizemos a batalha, o objetivo inicial era gravarmos e depois lançar on-line, mas no fim, a melhor ideia foi o Mini Doc Breaking Ibira 6 Anos e ficamos muito satisfeitos com o resultado! Eu fui bastante afetado pela pandemia, 80% de todos os meus rendimentos foram afetados, bem complicado, mas não senti que devia entrar em pânico, aproveitei para estudar e fiz muito isso e graças ao “tempo” que tive, concluí outra graduação e já tenho outros projetos em mente, nesse sentido a pandemia ajudou a clarear os pontos onde tem que focar para manter estabilidade, não que ela seja real, não se pode ser estável sempre, mas é possível se planejar. A edição de novembro inicialmente seria on-line, mas seria gravada e os B-Boys batalhando no presencial, nas batalhas onde cada dançarino ou dançarina responde de casa, a gente observou bastante o que estava rolando e não sentimos que estava desenvolvendo bem, pois tem várias limitações, uma delas é a qualidade da conexão, a outra é que uma batalha de Breaking on-line perde um fator que é importantíssimo, que é a energia trocada, para mim é como uma luta de MMA on-line, numa batalha de Breaking você que está lá sente, o público sente, a intenção, a energia do B-Boy ou da B-Girl, se está com vontade de botar fogo, se está com medo, indiferente, arrogante… e o B-Boy ou a B-Girl que responde é diretamente afetado por essa energia e ele pode responder! É isso que deixa a batalha interessante. Então, nós fizemos uma edição em novembro, presencial, num momento em que os números da pandemia tinham caído muito, mas mesmo assim foi complicado, teve gente que tirou a máscara, se abraçou… no calor da batalha a galera esquece… eu particularmente não julgo, tem gente que anda de ônibus ou trem lotado todo santo dia, como dizer para ela que a única medida de distanciamento social possível é justamente o lazer dela? Não posso falar nada dela, mas nós, Breaking Ibira, não faremos presencial ainda, não vamos incentivar ninguém a se arriscar… pela nossa experiência, vimos que era difícil a galera manter 100% dos cuidados, não dava para contar com isso, particularmente, até acho que as medidas juntas são relativamente efetivas, mas não acho que serão seguidas. É difícil estabelecer parâmetros dentro de uma situação tão incerta, no geral o plano principal é voltar… mas quando tiver menos risco, sendo início de ano, pensar em como queremos continuar é fundamental, temos muito mais limitações agora e sabemos o que não queremos, temos uma ideia do que queremos. Batalhas? Sem público, on-line, sim, mas quem está batalhando tem que estar frente a frente apenas com uma imagem de qualidade, sem aqueles cortes de conexão que acabam com a experiência. No momento, estamos mais propensos a dar continuidade ao Mini Doc Breaking Ibira. Acredito que a vida será mais on-line, estudar será mais on-line, trabalhar será mais on-line; alguns eventos que tiverem sucesso nas lives vão permanecer no formato, mas vai sobreviver e permanecer aqueles que tiverem uma estrutura excelente, internet de altíssima velocidade, equipe rápida e eficiente; e as situações mistas, eventos transmitidos mas que também têm público presente e a questão da inserção do termo esporte ou “esportivização” [sic] vai estar cada vez mais em discussão, talvez isso afete os eventos, mas ainda não dá para falar. Sair ou não pra treinar, eu não estou indo treinar, mas sei que treinar pode ser parte da sobrevivência, da paz interior, portanto, não o julgo se estiver no corre, mas lembre-se de manter o distanciamento, se possível treine só com sua Crew ou, melhor ainda, só com um amigo ou amiga. Que Deus nos proteja e que venham dias melhores pra todos nós!”.
Então, o que podemos esperar do futuro? E o que temos de concreto?
Então, o futuro dos eventos será on-line?
Para alguns profissionais do ramo de eventos, talvez o futuro será compósito. Trabalhar de forma mais ampla a experiência dos eventos. O fato é que não existe uma receita de bolo.
Um dos novos produtos em tempos de pandemia é o evento híbrido. Combinando atividades presenciais, para um público reduzido e streaming, com possibilidade de transmissão ao vivo para milhares de pessoas, o formato configura uma tendência. “Diante dos desafios do setor, os eventos híbridos tornaram-se a melhor alternativa para o momento atual”, afirma Marceli Oliveira em uma entrevista recentemente publicada. Superintendente do complexo Expo D. Pedro, um dos maiores espaços multiuso para eventos do interior de São Paulo, ela garante que os eventos híbridos vêm transformando a interação do público. Não mais em grandes espaços, mas acomodado em estúdios e salas menores, com todo o protocolo de segurança contra o novo coronavírus, o participante tem a oportunidade de experienciar presencialmente o evento. A transmissão por streaming permite que se participe remotamente.
Outra vantagem do novo formato é sua capacidade para atender de pequenos a grandes eventos. A infraestrutura dedicada a este formato permite se adequar ao número de participantes e às necessidades de cada evento. “O evento híbrido foi uma forma que o setor encontrou de se reinventar para apresentar novas soluções para as necessidades do cliente”.
Na agenda 2020 do Complexo, 30% dos eventos presenciais migraram para híbridos, destaca Marceli Oliveira. “Este fato nos surpreendeu de forma muito positiva”, afirma. Os presenciais, de acordo com a superintendente, mantêm-se de forma linear e crescente para os próximos anos. “Mas os eventos híbridos conquistaram seu lugar como produto em nosso portfólio, investimos em soluções e infraestrutura. Internet de qualidade é prioridade, completa. Se adaptar é a palavra dos próximos dias meses ou até anos!”.
Um alento neste momento de crise a Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc (Lei nº 14.017, de 29 de junho de 2020) que repassou mais de R$ 3 bilhões de recursos federais para ações emergenciais do setor cultural em estados e municípios. Segundo a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, “foram repassados no estado um total de R$ 264,5 milhões para 4.095 projetos culturais aprovados e contratados nas 25 linhas do ProAC Editais LAB. Com isso, em 2020, foram concluídas as etapas necessárias para assegurar a destinação por meio da Lei Aldir Blanc, de R$ 272.165.500,00 ao setor cultural e criativo de São Paulo. Ao todo, o Governo do Estado recebeu R$ 281.838.497,67 do Governo Federal, sendo R$ 264.155.074,63 relativos à cota original do Estado e R$ 17.683.423,04 relativos à reversão de valores não utilizados por municípios. O índice de execução, portanto, foi de 100% do valor recebido inicialmente e de 96,9% do total recebido”.
Após a polêmica gerada com o setor cultural depois do anúncio da suspensão do ProAC Expresso ICMS e a criação de uma nova linha de editais denominada ProAC Expresso ICMS, a assessoria de imprensa da secretaria informou que “sobre o incentivo fiscal por fomento direto, o Governo do Estado de São Paulo vai substituir o ProAC Expresso ICMS (programa de incentivo fiscal à cultura) por um programa de fomento direto a projetos culturais com recursos orçamentários, o ProAC Expresso Direto, mantendo o mesmo valor (R$ 100 milhões) e adotando normas e procedimentos semelhantes. Não haverá perda para o setor cultural e criativo. A medida valerá para 2021, 2022 e 2023 e foi tomada para enfrentar o déficit fiscal gerado pela crise da pandemia do coronavírus. O decreto orçamentário com este valor será publicado em breve. Posteriormente sairá o regulamento do novo ProAC Expresso Direto, a ser elaborado pela Comissão de Análise de Projetos (CAP) da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, que será a instância de análise e seleção de projetos. Será feita uma consulta pública para que a sociedade civil possa enviar contribuições. Os proponentes que tiverem projetos selecionados receberão os recursos diretamente. Com isso, o Governo do Estado de São Paulo reafirma seu compromisso com a valorização da cultura e o estímulo ao desenvolvimento do setor cultural e criativo. O ProAC Expresso Editais e o Programa Juntos Pela Cultura serão mantidos e também terão em 2021 recursos em patamar semelhante ao de 2020”.
O Portal Breaking World indagou sobre as perspectivas da pasta para o setor cultural em 2021, principalmente no que diz respeito ao cenário pós-imunização. São do Secretário de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, Sérgio Sá Leitão, as palavras: “Para 2021, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa trabalhará para a manutenção, o aperfeiçoamento e a ampliação do trabalho realizado pelas instituições culturais do ecossistema de cultura do Governo do Estado de São Paulo, que conta com cerca de sessenta instituições, espaços culturais e corpos artísticos como os Museus, Fábricas de Cultura, Oficinas Culturais, OSESP, Cia de Dança SP, Sala São Paulo, Teatro Sérgio Cardoso, entre outras. Além disso, teremos o ProAC Expresso Direto, o ProAC Expresso Editais e o Juntos pela Cultura, programas de fomento, que em 2019 tiveram um valor recorde, batido em 2020 e que esperamos bater em 2021, até porque é um investimento público que se tornou ainda mais fundamental diante do quadro da crise. E temos algumas novidades previstas como a criação de três novas Fábricas de Cultura, em Ribeirão Preto, em Heliópolis, na capital e em Iguape, na região do Vale do Ribeira, parte do programa Vale do Futuro; a reabertura do Museu da Língua Portuguesa e seguimos a todo vapor com o restauro e a ampliação do Museu do Ipiranga que será reaberto para a população em setembro de 2022. Sobre a retomada das atividades culturais, continuaremos seguindo todas as exigências, orientações e protocolos preconizados pela Organização Mundial da Saúde e pelo Centro de Contingência da Covid-19 do Governo do Estado de São Paulo. Este ano, tudo que faremos será on-line e, na medida das possibilidades, presencial. Afinal de contas, a pandemia continua aí e precisamos continuar tomando todos os cuidados até que haja a vacinação em massa da população. Mas este ano, a previsão é que todas as nossas atividades, os nossos programas e ações passem a ser híbridos: presenciais e on-line.”, conclui.
Para Zé Renato, produtor cultural que participa dos Fóruns Emergenciais Municipal e Estadual de São Paulo e integrou o grupo de trabalho da sociedade civil para implementação da Lei Aldir Blanc junto à secretaria de cultural da capital paulista, a Lei Aldir Blanc foi importante para que as pessoas tenham algum recurso, mesmo que parco, para sobreviver nestes tempos de pandemia. Ele explana: “Ao mesmo tempo que chegou em pessoas que nunca tiveram oportunidade ou acesso, ainda teve processos de inscrições complexos, mecanismos de comunicação com a sociedade falhos ou inexistentes, e não fosse a organização da sociedade civil no sentido de realizar uma busca ativa e tutoriais de saneamento de dúvidas, o impacto seria ainda menor do que foi. Seria melhor se os governos tivessem ouvido a sociedade civil na criação de inscrições simplificadas, sem burocracia, com ampla divulgação e pontos de apoio para inscrição e atendimento de um número muito maior de contemplados, com valores menores, melhor distribuídos. Tudo isto era possível, mostramos caminhos, e o poder público se negou a ouvir, na maior parte de seus aspectos. Ao mesmo tempo que, cotidianamente, recebemos mensagens de agradecimentos de coletividades que só conseguiram por causa das ações coletivas que a sociedade civil realizou e que terão acesso, neste momento, aos recursos, muitos deles pela primeira vez na vida”, para o produtor, os critérios utilizados para seleção dos projetos foram “frágeis, quando se pensa num auxilio emergencial. Na implementação da lei, na maior parte dos lugares, levou-se para a Lei Emergencial de Auxílio imediato a mesma lógica meritocrática dos editais concorrenciais usados habitualmente pelo poder público. Poderia ser mais simples e ousado, como por exemplo, a partir de um cadastro comprovando atuação na área a pessoa receber um recurso emergencial e ponto. Qualquer coisa além disso, no momento pandêmico, mostra-se concorrencial”, conclui.
Sobre a retomada pós-pandemia, Zé Renato declara: “Acho muito difícil voltarmos a uma possibilidade de atuação regular no ano de 2021, face o recrudescimento da pandemia e a péssima gestão da crise realizada pelo governo brasileiro. Para a sobrevivência do setor cultural ainda dependeremos do uso da verba da lei emergencial, que na maior parte dos lugares foram pagas apenas no final do ano ou estão sendo pagas no começo deste, e da ampliação desse tipo de ação, seja por nova aplicação de recursos do Fundo Nacional de Cultura, na atuação de Estados e Municípios em legislações próprias de auxilio emergencial e outras ações do gênero, pois neste ano não teremos uma atuação regular dos nossos pares”. Sobre os eventos on-line, o produtor opina: “Eu acho que chegaram para ficar, terão seu espaço, mesmo que não prioritário, como aconteceu em 2020. Ainda que tenha sido do ponto de vista estético bastante questionável os resultados, em minha opinião, pois na maioria das vezes apresentou-se coisas adaptadas e não criadas para o modelo on-line, ao longo do ano acabaram aparecendo algumas iniciativas que apontaram para uma “criação para este modo de troca”, com resultados interessantes. Por isso, acho que ainda teremos um caminho a percorrer até entender que tipo de ações podem ser para este modo on-line e o que tem potência para este canal. Acho que será assunto para anos ainda.”, finaliza.
Para os infectologistas e médicos que estão na linha de frente de combate a Covid-19, só existe uma forma de deter esse vírus, que é respeitando o isolamento social. Explicam: “Eventos têm alto potencial de transmissão da Covid-19. Entram na categoria conhecida como “super spreader”, ou supertransmissores. Ao longo da pandemia, cientistas se debruçaram sobre o fenômeno dos indivíduos ou eventos que têm um papel decisivo em espalhar a doença”. Dr. Joaquim Keller, que no passado era B-Boy, explana: “Cada vez que um evento acontece, mesmo com todos os cuidados recomendados, temos uma explosão de novos casos. Precisamos parar agora para prosseguir lá na frente. Acho que alguns organizadores de eventos deveriam pensar sobre suas responsabilidades nisso tudo, pensar em algumas coisas, como melhor que dar uma oportunidade para o próximo pagar as contas é garantir que ele esteja vivo no futuro. Estamos lidando com novas variantes que não conhecemos, mas que sabemos que são mais graves, rápidas e letais entre jovens, não temos mais espaços nos hospitais e nas UTIs, sejam públicos ou privados. Sem falar nos jovens assintomáticos que estão espalhando as variantes! Quando uma pessoa resolve fazer um evento, uma festa ou aglomerar, ela se torna responsável por cada vida ali presente. A pergunta é: queremos ser responsáveis pela morte dos nossos amigos e irmãos? Se o Hip-Hop é vida, porquê estamos caminhando para a morte? Que consciência estamos tendo em relação a esse assunto? As vacinas chegaram, mas ainda temos apenas 3% da população brasileira vacinada! A minha opinião é que reflitam, se cuidem e cuidem do próximo. E permaneçam vivos!”.
Observação: No dia do fechamento dessa matéria, recebemos a informação que os organizadores do Battle In The Cypher, que acontece de 29 de março a 4 de abril, optaram por realizar o evento no formato virtual. A decisão foi de fazer um encontro mais seguro, diante do contexto atual da pandemia pelo coronavírus no Rio Grande do Sul e no Brasil. No Rio de Janeiro, o evento Tropical Battle, que está acontecendo nesse momento, devido ao Decreto 48.573 cancelou os workshops presenciais, a tradicional Cypher no Arpoador e a batalha de iniciantes acontece no domingo, junto com a principal. Apenas competidores poderão estar presentes no local, acompanhantes não poderão entrar e nem público expectador.
Fotos: Arquivo Pessoal / Reprodução
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O nome que consta na certidão de nascimento é Alex José Gomes Eduardo, ele não poderia ser mais brasileiro. Nasceu numa família alegre de sambistas e capoeiristas em São José do Rio Preto, interior de São Paulo.
Da infância guarda boas lembranças das feijoadas e dos churrascos em família. Criado pela avó, matriarca da família, o menino que não tinha tênis, mas que desde pequeno já mostrava habilidades diferentes e muito especiais, a famosa estrelinha no meio da testa que alguns carregam para esse mundo, filho de mestre de capoeira era bom nos movimentos do corpo e também no futebol, por isso recebeu o apelido de “Pelezinho”, mas seu destino não foi escrito num campo de futebol e nem jogando capoeira mas sim nas ruas.
As rodas que frequentava eram outras, as de Breaking, onde sua grandeza foi reconhecida e conquistada, sendo ponte para o resto do mundo.
Numa entrevista super especial e exclusiva ao Portal Breaking World, B-Boy Pelezinho, que esta semana se posicionou sobre o assunto “Breaking nas Olimpíadas”, contou sua história de vida, suas experiências, conquistas no Breaking, falou sobre a pandemia, sobre amigos que sente saudades, sobre o futuro e mostrou sua preocupação com a nova geração de B-Boys e B-Girls.
Hoje fora das competições, porém comprometido com o Breaking pelo resto da vida, ele sempre lembra: “O Breaking mudou a minha vida e pode mudar de muitas pessoas”.
Com vocês: Pelezinhoooooooo!
BW: Você é de São José do Rio Preto, correto? Queria que você nos contasse: como foi sua infância, sua adolescência e sua vida em família? Que lembranças boas guarda dessa época? Foi uma vida tranquila ou difícil?
Pelezinho: Sim, eu sou de São José do Rio Preto, nascido e criado lá. Eu venho de uma família de sambistas e capoeiristas, eu lembro que, principalmente nos finais de semana, nós tínhamos aquele momento familiar, que tinha música, almoço, churrasco, feijoada. Na infância era bem tranquilo! A minha avó é que era a matriarca da família, ela cuidava de todos! Eu fui criado pela minha avó. Mas a minha família sempre foi aquela família animada! Tenho boas recordações!
BW: E na adolescência, como foi? Quando e como teve o primeiro contato com a Cultura Hip-Hop? O que te chamou atenção nessa cultura?
Pelezinho: Na adolescência, foi um pouquinho mais complicado. Eu saí de casa cedo, era muito jovem e eu conheci o Breaking por meio de um amigo, ele esta numa Cypher aqui no centro da cidade e, na verdade, eu achei que fosse uma roda de capoeira e quando cheguei vi que era uma roda de Breaking e eu fiquei encantado com aquilo. Logo depois, ele fez uma performance na minha escola e foi quando ele me convidou, disse que eu tinha uma facilidade para dançar, a minha família era do samba, então, achava que eu teria muita facilidade. E me fez um convite para treinar na casa dele, isso foi em 1995 ou 1996. E desde então, eu tenho uma história dentro do Breaking.
BW: Com que idade você saiu de São José do Rio Preto? O que sentiu quando chegou em São Paulo?
Pelezinho: Na verdade, eu só sai da casa da minha avó quando eu fui para São Paulo. Na primeira vez foi para um evento de dança, foi aquele choque com a cidade grande, de conhecer mais a galera da dança, porque eu só ficava no interior. Mas quando eu cheguei no evento achei incrível, quando eu vi todas as Crews de São Paulo reunidas. Me lembro que quando os caras chegavam, eles já chegavam batalhando e eu pensei: “puxa, vou voltar para casa e treinar muito, pois eu não quero mais que esses caras fiquem me zoando na dança não…”.
BW: Mas quando houve aquela decisão mesmo em relação ao Breaking? Tipo: “É isso que eu quero para a minha vida”? Porque afinal, você cresceu no meio do samba e da capoeira e também era bom no futebol, daí o nome Pelezinho. Mas quando ficou claro que era o Breaking?
Pelezinho: Em relação ao futebol, foram os amigos do meu bairro que me deram esse apelido na época da escola, porque eu não era o craque e tal (risos), mas jogava bem. E o Breaking eu peguei gosto pela dança, pelos treinos e era algo incrível que eu estava vivendo, eu gostava muito de praticar. As informações já estavam começando a chegar de alguns eventos, surgia alguns convites e comecei a gostar muito do que eu estava vivendo.
BW: Você teve apoio da família quando decidiu se dedicar à dança?
Pelezinho: Naquela época, minha avó não tinha informação, ela estava meio preocupada de eu ficar pela rua, ficar dançando no coreto da cidade com uns caras… Então, eu não tive um apoio, demorou um tempo para que ela entendesse o que eu estava fazendo, mas natural, às vezes eram costumes daquela época, estamos falando de 1995, não existia informação direito como se tem hoje. Realmente ela se preocupou, achando que eu iria por um caminho errado, mau. Mas eu insisti muito e hoje ela fala: “Meu neto é um exemplo!”.
BW: Fale da relação da Capoeira e do Breaking na sua vida. Um completou o outro?
Pelezinho: A relação minha com a Capoeira foi dentro de casa, né? Meu tio era mestre de Capoeira, meu pai era mestre de Capoeira e eles tinham a academia deles e tal e eu fui influenciado, porque eu nasci naquele meio. No meio das músicas, no meio da Capoeira… E eu acredito que a Capoeira tem muita ligação com o Breaking, vários movimentos são semelhantes, tem musicalidade e quando eu comecei a dançar Breaking, realmente alguns movimentos do Breaking foi muito fácil de aprender graças à Capoeira. Eu tive bastante facilidade para aprender o Breaking, claro que teve alguns movimentos que tinham uma dificuldade a mais, porém, falando de equilíbrio, de firmeza, de movimentação de giro, para mim foi mais fácil, então, resumindo, eu fui influenciado pelo meu pai e pelo meu tio, eu só pratiquei a Capoeira por um determinado tempo, eu não peguei corda, não segui da forma que tinha que ser, mas eu tenho um baita respeito pela Capoeira e ela foi fundamental na minha adolescência.
BW: Houve pessoas na dança que o ensinaram e o ajudaram e que também foram inspiração e referência para você? Parece que teve um B-Boy que você admirava muito e tinha o desejo de um dia conhecê-lo pessoalmente. Quem era? E de que país ele é? Esse encontro já aconteceu?
Pelezinho: Ah, sim! Eu falo que no Breaking eu tive essas pessoas, primeiro o amigo que me convidou para praticar na casa dele, depois umas outras pessoas da época, que hoje já nem praticam mais, mas eu tenho, sim. Quando eu vi esse cara dançando, ele se chama B-Boy Remind, um dos fundadores da Style Elements Crew, da Califórnia. Quando esse cara apareceu para nós nos eventos nos Estados Unidos, o Battle of the Year, foi um dos primeiros vídeos que eu vi dele, eu vi o estilo dele dançando e eu acredito que ele mudou todo o cenário da dança, principalmente no Breaking pois ele introduziu um estilo mais carismático, envolvendo alguns passos de House e eu gostei muito disso. E eu tenho um sonho de conhecê-lo. Até hoje eu viajei o mundo e não tive a chance de conhecê-lo, conheci alguns membros da Crew dele, mas ainda não o conheci. E um dia ainda eu vou conhecê-lo, se Deus quiser!
BW: Quando começou a participar e ganhar eventos de Breaking? Que eventos foram especiais para você, antes da Red Bull, é claro? Que conquistas foram memoráveis?
Pelezinho: Eu participei de muitos eventos na minha vida! Mas, um dos que eu mais gostei, foi um que era relacionado a esportes radicais, ele foi feito dentro do Ibirapuera e eu fui campeão do 1vs1, tiveram outros eventos que eu não ganhei, mas foram muito legais. Uma vez eu estava de jurado na Batalha Final e aí eu fiz uma batalha muito memorável. Estava eu e Chaveirinho, nós batalhamos por um bom tempo dentro do evento e aí, depois, nós acabamos fazendo vários trabalhos pelo Brasil, a gente era meio que inimigo antes do BC One, mas claro, o maior reconhecimento internacional foi o Red Bull BC One de 2005.
BW: Sim, falando do ano de 2005, como chegou na final mundial da Red Bull, que aconteceu na Alemanha? Como foi aquela sua primeira viagem para fora do país e o que sentiu naqueles minutos que teve que representar o Brasil numa terra tão distante e diferente?
Pelezinho: Quando eu fui convidado pela Red Bull BC One, eu não tinha noção do que poderia acontecer… Claro que alguns B-Boys que estavam ali eu já via pela fita k-7, pelos DVD´s que já estavam rolando, então, tinha B-Boys que eu admirava, o Lilou já estava despontando na Europa e quando eu cheguei na semifinal, pra mim foi uma batalha apenas, só que eu só fui entender a proporção do que aconteceu comigo quando eu retornei para o Brasil, depois da repercussão que teve e a vivência que eu tive lá na Alemanha, em 2005, foi incrível, pois era tudo novidade pra mim, então, foi a primeira vez que eu saí para fora do país, um evento como aquele, era a segunda edição dele, deu um ‘boom’ na dança… Então, pra mim, foi muita experiência, aqueles 5 dias que eu fiquei em Berlim foi só aprendizado, uma bagagem incrível para poder entender o que poderia vir logo em seguida. Na final mundial em 2006, no Brasil, eu já estava classificado nesse período, eu fui conhecido mundialmente mesmo eu não sendo o campeão, porque na época ainda existia primeiro, segundo, terceiro e quarto lugar. Esses quatro eram classificados automaticamente para o próximo ano, então pra mim foi incrível!
BW: Falando ainda de 2005, como foi batalhar com o B-Boy italiano Cico?
Pelezinho: Então, a minha primeira batalha foi com o Cico, um cara que estava se destacando muito pelos Power Moves que ele vinha fazendo e, principalmente, o Giro de Mão, ali foi uma grande pressão. Como foi a primeira batalha minha, num palco daquele, numa estrutura daquela, pra mim ali foi difícil de verdade! Depois que eu passei do Cico, fui passando… aí eu cheguei na semifinal com o Hong 10, ali eu já estava mais confortável, mas ao mesmo tempo, né [sic], tive alguns errinhos, acabei esquecendo um movimento. O Hong 10 ganhou de mim naquela noite e ele fez a final com o Lilou.
BW: O que sentiu e como foi a sensação de ter chegado tão perto de vencer o mundial? Fale da repercussão de ser o primeiro brasileiro a participar de uma final mundial? Isso fez diferença na sua vida?
Pelezinho: Eu, naquela época, na hora que eu perdi, eu falei: “Nossa! Puxa! Eu quase fui para a final!”. Então, deu aquela frustradinha no momento, mas na verdade, como tinha terceiro e quarto, eu nem pensei muito! Eu só fui pensar mais quando retornei ao Brasil, realmente passou um tempo até a galera descobrir, porque naquela época as informações não chegavam como hoje, que você pode ver ao vivo, demorava um tempinho para chegar as informações dos eventos. O You Tube estava começando, pelo menos para nós aqui do Brasil, aí depois que a galera descobriu, saiu o DVD, aí a repercussão foi uma loucura! A prova disso que até hoje as pessoas lembram, pessoas que não são da dança, pessoas que me encontram na rua, sempre tem um que lembra e fala que assistiu o DVD da Red Bull BC One.
BW: Pelezinho, depois você já viajou para muitos países pelo mundo. A ginga do B-Boy e da B-Girl do Brasil é um diferencial? O que os gringos esperam ver quando tem um B-Boy brasileiro ou uma B-Girl do Brasil numa competição?
Pelezinho: Desde quando os brasileiros começaram a competir no circuito europeu e, principalmente, nesse período de 2005 pra cá, é natural os gringos verem algo diferente, então, eu cheguei com um pouco mais de movimentos acrobáticos, misturando tudo com Power Move, enfim! Aí depois apareceu Neguin, então a galera sempre espera que o brasileiro chegue com um movimento diferente, mas o mais importante é cada dançarino ter o seu próprio estilo, a galera tem que pensar que o nosso passaporte é brasileiro, temos que mostrar o nosso cotidiano… É o que eu falo, a dança já foi criada pelos caras lá de fora, já tinham movimentos criados, é necessário cada um mostrar de onde vem, qual é o seu estilo de dança, a sua marca, então isso é importante.
BW: Como foi sua entrada na Tsunami All Stars e na Red Bull BC One All Stars? Fale da sua experiência dentro dessas Crews?
Pelezinho: Então, sobre a Tsunami All Stars, na verdade, nós a criamos porque na época teve um evento em São Paulo e nós queríamos batalhar e nesse período, Kokada estava sem Crew, eu estava em show com Marcelo D2, Katatau também estava praticamente sem Crew e aí nós participamos de um campeonato em São Paulo. E o Aranha era próximo de nós, porque quando o Chaveiro viajava, o Aranha cobria ou vice-versa, na época do show com Marcelo D2. Aí nós entramos em cinco no campeonato e ganhamos! E depois ficou aquela história que sempre que nós nos encontrávamos em São Paulo, dançávamos juntos e tal, aí o Katatau dançava com o Chaveiro em alguns lugares, o Aranha junto e aí nós só reunimos a Crew quando teve o convite para disputar o R16 na Coreia, quando chegou o convite dos coreanos que eram os ‘managers’ e aí foi quando o Neguin já estava próximo do Katatau, eu convidei o White e o Chuchu e montamos a Crew, aumentamos a Crew e aí participamos do R16, ficamos entre os finalistas e foi esse processo na criação da Tsunami. E o Red Bull BC One All Stars eu participei de duas turnês pela Red Bull Internacional para levar o que o Red Bull BC One estava fazendo, então, fizemos Austrália (2008), Índia (2009) e dali surgiu uma ideia, começamos a conversar com uma manager e aí demos a ideia de criar um time dentro da Red Bull e então criamos o Projeto Red Bull All Stars. Eu ajudei a criar esse projeto, eu, o Lilou e a manager e hoje está aí um dos melhores times que tem no mundo, onde estão os melhores dançarinos do mundo. Atualmente, eu não estou no time para competição, porque eu já sai do circuito de competição já tem um tempo, mas o time está aí, eu ajudei a criar e tenho muito orgulho disso.
BW: Falando um pouco mais sobre quem fazia parte da Tsunami, queria que você falasse de sua proximidade ao Kokada, que era alguém que, sem dúvida, escreveu uma história de muito valor no Breaking e tinha uma personalidade muito singular, deixando um enorme vazio quando partiu aos 35 anos, vítima de uma meningite, em 2012.
Pelezinho: Falar do Kokada pra mim é prazeroso! Porque nós vimemos juntos um período de conquistas, vou lembrar do Kokada lá atrás, quando eu fui para são Paulo a primeira vez, o Kokada já era já o grande B-Boy Kokada junto com o Careca da Detroit Breakers. O Kokada já fazia shows, ele era famoso pelo Brasil todo! E quando eu tive a oportunidade de conhecê-lo, de virar amigo dele e surgiu a história de montarmos a Tsunami, eu o chamava de “mentor”, porque era ele que cuidava das coisas da Crew e, assim, nós vivemos muitas coisas! Kokada teve a sorte de viajar também e de competir, mas no período que ele estava fazendo as coisas não existia muita informação, naquela época então, o momento que o cara estava não existia o contato do Brasil com o pessoal de fora, então, alguns gringos começaram a vir para o Brasil e justamente nesse momento nós estávamos juntos realizando sonhos, mesmo sendo de cidades diferentes. O Kokada foi incrível! O legado que ele deixou está ai e ninguém nunca vai esquecer! Ele era mesmo difícil, era um cara mais complicado (risos), ele tinha o jeitão dele, o gênio dele sempre foi forte, só que nós nos entendíamos muito bem quanto viveu conosco. Mas ele vive em nossos corações! E ele era uma baita de uma pessoa! Até hoje ele faz muita falta! E eu acredito que nos sonhos dele eu o ajudei também, tanto que a primeira viagem dele internacional para o evento R16 fomos eu, ele, Chaveiro, Katatau, Aranha, o Neguin e fizemos parte de uma geração, mas Kokada veio primeiro que nós e é isso! Muita saudade!
BW: Voltando um pouco no tempo, Pelezinho, numa outra entrevista você falou que quando começou a dançar não tinha um tênis… Décadas depois, você foi convidado para assinar um tênis junto com o Sandro Dias e, na ocasião, você falou que queria ver o Breaking e o Skate nas Olimpíadas de Paris 2024. Hoje, creio que você tenha vários tênis e o Breaking está nas Olimpíadas. Se sente realizado?
Pelezinho: Verdade, eu não tinha tênis para dançar, passei por essa dificuldade! Eram tempos bem diferentes! Mas quando eu recebi o convite do Sandro Dias para poder participar do projeto que ele estava iniciando, que ele queria ir pelo lado da cultura, da dança e ele me convidou para fazer a Colab, puxa, eu nunca imaginei isso na minha vida e aí foi quando eu falei numa entrevista que passou um filme na minha cabeça, quando ele me ligou para me convidar, ele era o dono da marca e eu aceitei na hora. Ele tinha um sócio, mas eu aceitei na hora! Hoje eu tenho um tênis assinado, modelo 1, já tem um projeto do modelo 2, já era para ter saído ano passado. Sim, graças a Deus hoje eu tenho muitos tênis (risos) e sobre as Olimpíadas é uma coisa que nós não imaginávamos que pudesse acontecer, ter o Breaking nas Olimpíadas. Eu sou a favor! Eu acho que está aí, já está concretizado, eu acredito que é mais uma porta se abrindo dentro do cenário da dança mundial, muitas pessoas terão oportunidades. Eu sei que aqui no Brasil têm acontecido muitas conversas, mas as coisas negativas devemos deixar para trás e pegar as coisas positivas das pessoas que têm o mesmo interesse, que isso possa trazer mais informação para quem não tem e isso vai agregar muito para a nova geração. Eu costumo falar para a galera que não é porque eu não tive lá atrás que eu deva embarreirar a nova geração, eu sou a favor mesmo do Breaking nas Olimpíadas e fiquei muito feliz!
BW: Falando sobre as Olimpíadas e sobre toda a discussão em volta desse assunto, fale sobre suas impressões sobre esse elemento do Hip-Hop virar um esporte olímpico. Na sua opinião, estamos preparados para viver isso? Normalmente atletas olímpicos levam anos se preparando para uma participação numa Olimpíada. E nós, como estamos? Ao seu ver, temos B-Boys e B-Girls brasileiros prontos e bem preparados para brigar por uma medalha olímpica?
Pelezinho: Espero que com toda essa situação que está acontecendo, que o Brasil possa ter representante em 2024, porque já não teve nos Jogos da Juventude, espero que as pessoas se organizem, fazendo a sua parte e quem estiver no comando que faça de verdade, que pense no Breaking, na dança Breaking e não no próprio bolso. Pelo amor de Deus! Estamos em 2021, estamos dentro de uma pandemia, muitas coisas mudaram, muitas não serão mais a mesma coisa! Então, por favor! Precisamos fazer de verdade e principalmente para a nova geração! Olha, sendo bem sincero sobre o que vem acontecendo no Brasil, eu ando observando, não tenho participado de muitos bate-papos que estão tendo pelas redes sociais, só participei de duas que eu achei interessante e no meu olhar, o Brasil já está começando atrasado, porque eu já vou entrar: desde os Jogos da Juventude e dos simulados que tiveram na China e o Brasil não estava ali como convidado, então, estamos começando tarde, porque precisamos preparar, tem que ter mesmo toda uma estrutura, eu sei que as pessoas vão fazer do modo deles. Mas preparados na parte de dança: Sim! Temos B-Boys e B-Girls que possam disputar medalhas para o Brasil, mas tudo depende de toda a estrutura e logística que será montada aqui no Brasil, de como será, se vai convidar os B-Boys e as B-Girls direto ou se vai fazer etapas. Então, dando uma resumida, eu acho que já estamos atrás dos outros países: o Japão já tem o time pronto, a Holanda praticamente também, a França, EUA, a China… E o Brasil ainda não está! Quem estiver na frente tem que fazer de verdade! E resolver tudo o mais rápido possível, porque esse ano já descartamos praticamente, então, só sobra 2023 e 2024. Porque até o processo todo ser feito com a estrutura… Estou falando da minha visão como dançarino e como produtor e criador de eventos. Essa é a minha opinião!
BW: Verdade que você se posicionou sobre o assunto e agora faz parte da Confederação Brasileira de Breaking (CBRB). Você gostaria de falar sobre isso?
Pelezinho: Eu tive uma conversa com o Rooneyoyo e juntamente com o HP, estamos nos posicionando para participar junto com o Rooneyoyo, porque eu acho que juntos podemos conduzir coisas melhores para a nova geração.
BW: Falando sobre sua experiência como jurado… Hoje em dia, Pelezinho, você participa de muitos eventos. O que você gosta de ver numa batalha e o que você acha inaceitável na mesma?
Pelezinho: Sobre as batalhas, como jurado eu gosto de ver aqueles B-Boys e B-Girls que mostram movimentos, que sejam completos: musicalidade, criatividade, movimentos básicos. Mas eu gosto sempre daqueles dançarinos que percebemos aquela vontade de competir, que vai lá, que expressa a dança dele, que mostra movimentos surpreendentes sem errar, porque tem movimentos que jurado pega erros. Enfim, eu gosto dos completos no Breaking! Gosto de ver movimentos diferentes e interessantes para julgar, porque o nível da batalha fica avançado. E coisa que eu detesto ver é a má vontade de alguns dançarinos quando estão em competição, tem dançarino que parece que não está a fim… Aí eu pergunto: “Por que participou, então? Por que se inscreveu?” E outra coisa é essa história de questionar jurado, no passado já questionei também, só que eu acho desnecessário hoje em dia, de tanta informação que temos, nós precisamos respeitar os jurados que estão sentados ali, porque têm uma bagagem, então vamos respeitar. As pessoas precisam entender que numa competição estão sujeitos a serem julgados, então, vai lá, treina e seja o mais transparente possível para o jurado e mostra o porquê quer ser campeão!
BW: Com a pandemia e todo o isolamento necessário, o que você tem feito? O que acha das batalhas on-line? É uma tendência?
Pelezinho: Sobre a pandemia, eu acredito que foi um aprendizado para várias pessoas, estamos nela ainda! Nesse período eu tive que me reinventar, me readaptar a essa realidade que estamos vivendo. Sobre as batalhas on-line, claro que não é a mesma coisa, não é a mesma energia, de estar ali na Cypher, naquele calor todo, mas é um meio de manter a galera em atividade, em competição, até mesmo dando suporte para eles, porque teve alguns eventos on-line bacanas! Pela produção, pelo o que fizeram e acabou ajudando vários B-Boys e B-Girls, então, eu sei que isso pode continuar. Alguns eventos vão manter on-line e a pandemia é uma coisa muito triste, que ninguém imaginou que ia passar nesse plano de vida, mas ela é um aprendizado para muitas pessoas e quem não se adaptar, nem imagino o que vai fazer da vida.
BW: Você tem uma frase célebre: “O Breaking salvou a minha vida”. Comente a importância do Breaking como ferramenta de transformação.
Pelezinho: Sobre o que eu falo do Breaking ter mudado a minha vida, realmente ele mudou, ele fez uma transformação tremenda! Eu fiz coisas que eu jamais imaginei que eu iria fazer! Por meio da minha dança, eu viajei praticamente o mundo todo e sou uma pessoa conhecida através do Breaking. Financeiramente foi bom pra mim, consegui ter algumas coisas, mas o que eu mais falo é que nada disso teria acontecido se não fosse a minha vontade, a determinação que eu tive e toda a história que eu tenho há mais de 20 anos dentro do Breaking. Então, quem quer alguma coisa, principalmente dentro do Breaking, a galera nova, da nova geração, que vocês têm tudo, rápida informação, eventos, então aproveitem, porque na minha época que eu comecei a dançar nós não tínhamos nada disso! Aproveitem as oportunidades! Porque as poucas que eu tive aproveitei todas! E corri muito atrás! E foi nisso que o Breaking mudou a minha vida e pode mudar de outras pessoas também.
BW: Hoje quem é o Pelezinho? Você pensa em um dia parar de dançar?
Pelezinho: Pelezinho hoje é essa pessoa aí que a galera está vendo, que o Breaking deu uma visão de transformação e também de ajudar, porque o que venho fazendo hoje em dia é ajudar a cena, principalmente o Breaking. E sobre parar de dançar, eu não me vejo parando, como vou parar algo que amo fazer? É natural com o tempo desconectar algumas coisas, eu não me vejo competindo mais, mas eu adquiri uma bagagem que posso ajudar a nova geração aqui no Brasil.
BW: Para finalizar essa entrevista, que conselhos você daria para a nova geração de B-Boys e de B-Girls?
Pelezinho: Respeitem as oportunidades que vocês têm agora, se desejam competir, treinem para isso e aproveitem as oportunidades, que façam isso de verdade! Para aqueles que desejam uma vida de atleta, principalmente agora que têm vários eventos, Olimpíadas: se preparem! Nunca esqueçam que a nossa dança é uma cultura e se você desejar, pode viver como um dançarino atleta também, você pode se dedicar, você pode praticar, você pode se proteger. Se eu tivesse a mentalidade que eu tenho hoje, com certeza eu teria competido por mais tempo, eu também poderia ter evitado algumas lesões, porque é natural, somos seres humanos e não somos máquinas e, devido alguns anos repetindo movimentos, é natural ter um desgaste, só que de alguns anos para cá, já podemos proteger isso, então, vá atrás de uma pessoa que possa te dar uma educação física como dançarino, para que você possa ter sua vida como dançarino e, se desejar, como atleta também. Respeitem e aproveitem o que vocês têm hoje, pois tudo está mais fácil!
Fotos: Arquivo Pessoal / Red Bull Content Pool (Fabio Piva, Yassine Alaoui, Dimitri Crusz) Vídeos gentilmente cedidos pela Red Bull
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Planejamento, disciplina, foco e estratégia são fundamentais na vida de quem deseja ser um campeão, garante B-Boy Bart
Ele nasceu no Ceará, quando criança teve contato com muitos movimentos por meio do Kung Fu e da Capoeira. Aprendeu também a ter disciplina e flexibilidade desde cedo. Mas foram os pulos feitos na areia improvisada que pedia aos vizinhos que o fizeram se aproximar do Breaking.
Mateus Melo (22), conhecido como B-Boy Bart, hoje é um dos nomes mais cogitados para representar o Breaking brasileiro nas Olimpíadas de Paris, em 2024.
Ele compara a dança a um grande jogo de xadrez e afirma que, além de ter um corpo preparado, é necessário ter estratégias, planejar ações para se chegar no objetivo que se deseja.
O Portal Breaking World teve o prazer de conversar com ele na primeira semana do ano de 2021. E olha, aperte os cintos pois esse B-Boy não dança, ele voa! Fique por dentro do que rolou nessa conversa:
BW: Queria que você falasse um pouco da sua infância, onde e como foi? Como era o Mateus criança?
B-Boy Bart: Eu sempre me movimentei muito quando criança! Tive muito contato com os movimentos. Fui muito influenciado pelo meu pai, que era do Kung Fu e também pela Capoeira. Dessa época, eu ganhei a disciplina e a flexibilidade. Conheci a Capoeira foi na curiosidade mesmo. Fiquei num grupo chamado Zumbi por menos de 1 ano. Aí eu entrei em outro grupo, porquê a minha vontade era pular e nesse outro grupo eu conheci pessoas que pulavam muito. Quando começava a passar cordas, essas coisas, eu saía pois não era o meu foco.
BW: Quando você teve o primeiro contato com a Cultura Hip-Hop? Como surgiu o Breaking na sua vida?
B-Boy Bart: Eu e alguns meninos da minha idade jogávamos sempre futebol e teve um dia, um iluminado que apareceu, um bêbado e ele disse que ia mostrar umas coisas que nós não sabíamos fazer e deu um mortal! Lógico que, como ele estava muito bêbado, caiu, mas depois daquilo nós falamos: “Nossa, é isso!”. Aí começamos pegar areia de um canto e de outro, de um vizinho aqui, de outro ali, para poder treinar mortal. Eu deveria ter uns 10 anos. Tudo isso aconteceu em Fortaleza. Passado algum tempo, eu me mudei. Meu pai ficou desempregado, nós vendemos a casa, fomos morar em outro bairro perto da Serrinha e lá, quando eu cheguei, eu não estudava, devido a problemas com papéis e tal… E, na verdade, eu também não queria naquela época. Então, eu e meus irmãos ficamos sem estudar um tempo. Meu irmão sempre existiu e esteve presente na minha vida! No mortal, na capoeira, em todos os momentos. E aí, chamei ele e disse que deveríamos ir atrás, naquele bairro, de algum lugar que tivesse Breaking, pois não poderíamos ficar parados. Então, descobrimos o “Programa Escola Aberta”, foi ali que tudo começou. Era como se abrisse a escola no final de semana, jovens e crianças podiam ter contato não só com o Breaking, mas com o Totó (Pebolim) e várias brincadeiras de criança. Eu ia pelo Breaking mesmo. Mas eu ia olhar. Eu sempre fui assim, de olhar primeiro, de observar, ver como é a movimentação, treino em casa e depois fazia fora. Mas foi após o meu filho nascer e eu me ver sem estrutura que realmente eu vi que aquilo era pra mim. Eu sempre tive disciplina, desde cedo e quando meu filho nasceu eu vi que precisava fazer alguma coisa, então, foquei no que eu mais gostava, que era dançar. E, em 2015, comecei a participar de muitos eventos, o primeiro evento foi o “Intime”, da Igreja Bola de Neve, “1vs1”, que dava vaga para um outro evento em Exu, em Pernambuco, com tudo pago. Eu ganhei e fui para lá. E isso foi muito marcante, a primeira vez que participei, ganhei e fui para uma outra cidade que ganhei também. Então, eu vi que era isso mesmo que eu deveria escolher na minha vida. Em 2015, eu saí ganhando todos os eventos. Eu tinha apenas 16 anos.
BW: Houve pessoas que foram referências para você na dança? Alguém te ensinou a dançar Breaking?
B-Boy Bart: Que me ensinou a dançar, não. Existiram aquelas pessoas que me davam um toque, falavam de um movimento… Agora, um treinador, não! Inspiração? Desde 2005, o Pelezinho foi um furacão que aconteceu.
BW: Como sua família via a sua relação com o Breaking? Você teve apoio da família?
B-Boy Bart: No começo, não tanto. Para eles, eram só pulos. Eles não tinham noção no que ia dar tudo isso. Só tiveram quando eu comecei a competir e ganhar! Mas, também, eles não falavam nada, mas para eles era perda de tempo.
BW: No tempo de aprendizado do Breaking houve dificuldades ou movimentos mais difíceis de aprender? Quais? Como foi a sua preparação para chegar onde chegou?
B-Boy Bart: Tiveram momentos que realmente foram mais chatos, principalmente nos freezes. Toda pessoa que dança Breaking tem um lado mais forte, no meu caso, foi fazer os movimentos nos dois lados. Para passar de um lado que era mais forte para o outro foi trabalhoso, porque até eu poderia ficar torto fazendo os movimentos só de um lado. Essa transição de aprender fazer as coisas para os dois lados foi muito chata, mas necessária. Tipo Chair, doía muito! Na hora do treino eu não sentia, mas depois doía muito! Mas eu precisava chegar no meu objetivo.
BW: Em outras danças é bem normal escutar os dançarinos falando de dor aqui e dor ali. Meio que faz parte da vida do dançarino… Como você vê isso?
B-Boy Bart: Sim, a dor caminha junto e faz parte da vida de quem dança. Sempre que um B-Boy ou uma B-Girl ganha um evento, você vai ver depois: parece que houve um esgotamento. Toda hora tem dor e tem que dançar sempre mais do que dança. É real! É necessário superar os limites para ser campeão! A dor significa muitas vezes que você está chegando perto dos seus objetivos!
BW: A maioria dos seus movimentos são de impacto, de poder. Como você prepara o seu corpo para isso?
B-Boy Bart: Eu treino normalmente com a galera do meu grupo e também treino com a galera de outros grupos. Mas penso que o que me diferencia é que eu já chego no treino treinado. E saio do treino ainda tem mais um pouquinho de treino. O Breaking é o meu estilo de vida. Eu acordo cedo, faço alongamento. Dia sim, outro não, eu corro. Eu sou vegetariano, comecei com vegano três anos atrás. Antes dos eventos, fazer a dieta vegana ajuda muito! A diferença no rendimento é muito rápida, esse tipo de comida traz leveza, mais explosão, define muito mais a musculatura. Mas de vez em quando podemos sair um pouco disso e comer coisas boas, merecemos isso (risos). Mas nunca antes de evento.
BW: Em 2018, você foi campeão brasileiro do Red Bull BC One, nos conte o que você sentiu naquele momento que saiu o resultado? Passou um filme na cabeça? Para você já era algo esperado?
B-Boy Bart: Esperado não era, mas eu tinha uma intuição que poderia acontecer e quando aconteceu, eu falei: “Caramba eu vou para Zurique!”, e pensei, “vamos ver o que é o Breaking do outro lado do mundo”. Naqueles dias, a Europa estava com muito Breaking! Para mim, batalhar com outras pessoas, até com a dança maior que a minha, me levou para um outro nível. Foi algo empolgante demais! Eu treinei com eles, eu comi com eles e o Leony estava lá comigo, me motivando, naquele evento ele foi Top 16. Então, ele falava: “Vamos lá, falta mais um!”. Ele é um cara muito amigo, humilde e ele fez eu me sentir mais seguro, porque eu estava em outro país, só tinha ele, então, ele me dava força. Tinha também Pelezinho e Neguin, mas não estavam perto, não tinha como ter uma conexão.
BW: Bart, você tem a experiência de ser dançarino da internacional Flying Steps. Como foi sua entrada na companhia? Fale um pouco do tempo junto com os outros dançarinos, dos ensaios, dos espetáculos antes da pandemia e o que você faz para atingir o seu melhor desempenho.
B-Boy Bart: Sim, eu trabalho com eles e com uma outra da Alemanha. Quando comecei, eu já cheguei chegando, tinha 45 shows para fazer. Nesse mundo, tem uma séria de coisas, tinha uma orquestra tocando ao vivo, tinha bonecos gigantescos, tivemos 1 mês e meio para criar tudo. Era de segunda a sábado, de 8h até 19h ensaiando. Nesse tempo, eu não falava muito inglês, mas depois de 1 semana, eu me virei e ainda eu morava com três deles, então, nós só pensávamos na dança, no espetáculo e no que íamos fazer. E isso me ensinou muito a ser regrado, a ter paciência com processos de montar movimentos. Eu consegui trazer isso também para o meu Breaking. Pra mim também! Eu estava treinando para batalhas futuras e estava mesclando tudo. A experiência foi muito boa! Foram 45 espetáculos e muito ensaio. Foi um grande aprendizado, único na minha vida, que guardo até hoje.
BW: Você falou que muita coisa você levou para o seu Breaking. Qual a importância de diversificar movimentos, de buscar algo novo e trazer coisas diferentes para as sessions?
B-Boy Bart: É muito importante você ter um arsenal gigantesco de movimentos. Porque você mostra confiança, atitude e personalidade na dança. Hoje já se olha a execução dos movimentos nos eventos. Com a possibilidade de você colocar tudo que traz na dança, você chega mais perto do ser original, mostrando variações.
BW: Em 2019, você participou do mundial da Red Bull em Mumbai, na Índia, junto com mais 2 brasileiros. No seu caso, você foi convidado pela organização a entrar diretamente na decisão, como um dos finalistas ‘wildcards’ do evento. Como foi sua participação? Nos fale sobre o resultado e suas impressões.
B-Boy Bart: Três semanas antes desse evento, eu tinha participado de um outro na Bélgica e eu já sabia que estaria no Top 16 da Red Bull em Mumbai, em 2019. E eu tinha que destruir na Bélgica para eu chegar em Mumbai. E foi o que aconteceu, eu cheguei na final na Bélgica e foi totalmente gratificante, muita gente assistiu e aquilo levantou o meu astral. E cheguei na Red Bull mais tranquilo, estava tudo muito fresco na minha cabeça, por mais que a pressão seja muito, mais muito grande mesmo… a pressão psicológica é muito alta, mas eu me senti bem. Cheguei lá, perdi para o Killa Kolya na semifinal, no ano de 2018 eu ganhei dele. Então, eu cheguei na semifinal achando que ia para a final, pois eu já tinha ganhado dele. Eu perdi, mas nós estamos ainda no 1 a 1 (risos). Ainda tem muita coisa pela frente na próxima para ganhar!
BW: E falando de tempo… Que tempo sobra para sua família? Você tem filho! Como administra tudo isso?
B-Boy Bart: É um mix de coisas! Nem todos os dias são iguais e fazemos o estilo brasileiro mesmo (risos). Eu tento estar com a minha família e ao mesmo tempo treinar. Meu filho tem 5 anos e é bem tranquilo. Deus mandou a criança perfeita para mim! (risos). Quando ele vê que cheguei de viagem, sempre vem “papai, trouxe alguma coisa para mim?”, ele já pratica alguma coisa de capoeira, mas no tempo dele…
BW: Bart, muitos B-Boys e B-Girls brasileiros não vivem da dança. Que conselhos você pode dar para quem pretende viver da dança?
B-Boy Bart: Planejamento. Planejamento é tudo! Saber o que você vai fazer, como você vai ganhar dinheiro e manter o foco. Tem que participar de eventos, afinal, eventos são vitrines. Você tem que batalhar. Planejar o seu ano tipo um ano antes. É algo fundamental!
BW: O que você tem feito em todo esse tempo de pandemia? Como tem treinado? Como acha que será o “novo normal” da vida de um B-Boy ou de uma B-Girl pós-pandemia?
B-Boy Bart: Eu tento fugir da depressão, tento me manter feliz. Estou no Brasil, em Fortaleza, morando com a minha noiva, continuo treinando dia após dia, colocando minha mente em outras coisas, como redes sociais, YouTube, navegando e estudando áudio visual, cuidando da minha casa e treinando mortal.
BW: Sim, falando sobre o mortal, é verdade que os gringos quando veem os brasileiros dançando, eles aguardam o mortal? Como uma marca nossa?
B-Boy Bart: Eu acho que é porquê temos muitos B-Boys capoeiristas. Isso é Brasil! Eles já esperam por causa disso, seja como Pelezinho, Neguin ou Bart. Eles sabem que com nós é mais embaixo (risos).
BW: Muito tem se falado de Breaking nas Olimpíadas. O que você acha sobre isso? Algumas pessoas criticam e falam da possibilidade de se perder a essência da cultura por ser, agora, também um esporte. Como você vê isso?
B-Boy Bart: Eu vejo como uma evolução, na verdade, não acho que seja positivo e nem negativo, é somente algo do mercado. Isso já vem acontecendo tem muito tempo. O R16, todos esses eventos que tem, são em ritmo de Olimpíada, de ranking. Existe o ranking de B-Boys tem muito tempo. A Olimpíada entrou para apimentar ainda mais a competição. Acho que nada vai mudar… Como no futebol existem pessoas que jogam pelada e existem pessoas que jogam nos mundiais. Então, acho que vai melhorar muita coisa!
BW: Como você imagina que será para um B-Boy ou uma B-Girl dançar numa Olimpíada? Como a nova geração deve se preparar para isso?
B-Boy Bart: Aqui nós somos ainda muito samba. Estamos ainda presos em algumas perguntas: tem isso? Tem aquilo? Tem incentivo? O pessoal lá fora está se preparando, enquanto aqui temos que ser competidor e também ensinar, talvez isso aconteça com a nova geração… Será que respondi essa pergunta?!?
BW: Bart, seu nome tem sido lembrado o tempo todo na imprensa e nas grandes mídias. Então, vou direto ao ponto: Você se sente preparado para representar o Brasil numa Olimpíada e trazer uma medalha para casa?
B-Boy Bart: Estou sim! (risos). Eu venho me preparando para isso. Vejo o Breaking como um jogo de xadrez, tem que usar a cabeça e muita estratégia. O momento conta muito! Mesmo que eu não tenha treinado no dia anterior, eu não fico mais do que uma semana sem treinar. Nas oportunidades, precisamos estar “okay” e eu estou preparado!
BW: Na sua opinião, temos mais brasileiros preparados para o pódio?
B-Boy Bart: Sim, temos! O Brasil é potente no Breaking, todo brasileiro tem uma chavezinha que mostra algo a mais.
BW: Quais são seus planos para o futuro?
B-Boy Bart: Praticar Breaking, participar de eventos, voltar a fazer shows na Europa e me manter preparado para as Olimpíadas! O meu foco agora é esse! Estou rezando para que tudo volte ao normal.
BW: Que mensagem você deixaria para os B-Boys, B-Girls do Brasil? E o que você diria para a nova geração do Breaking que o tem como uma grande referência?
B-Boy Bart: Nossa, que pergunta! Preciso pensar… Complicado inspirar as pessoas… Penso que o Breaking deva ser passado para a nova geração, quanto mais passado, mais vamos fortalecer o Brasil. Mas aconselho que tenham planejamento, que sejam persistentes e teimosos, sempre treinar além do que já existe e do que se vê: é isso!
Fotos: Arquivo Pessoal
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Durante um evento, uma voz feminina se faz ouvir… “Não precisa nos incluir, a gente sempre esteve aqui. Pois na verdade sempre estivemos na cena, às vezes não muito respeitadas, às vezes sem espaço, sem voz. Mas sempre estivemos presentes. Nos fortalecemos entre nós e onde pisa uma mulher, pisam várias outras juntas, os degraus mudaram e nós aprendemos a subir e a levar muitas com a gente. Acredito que quando pararmos de entender o Breaking como algo masculino, teremos uma evolução!”, essa declaração saiu da incrível fotógrafa Bruna Ferreira que é o rosto, o corpo e o coração do “Coolture Trip”. Sua fotografia inspira, emociona e apresenta a Cultura Hip-Hop de uma forma singular. Da máquina fotográfica, Bruna fez suas asas e voou bem longe… Confira a entrevista:
BW: Queria que você falasse um pouco da sua história, onde nasceu, como foi sua infância e quando teve o primeiro contato com a Cultura Hip-Hop?
Bruna: Bem, eu sou do interior do Rio Grande do Sul, da cidade de São Borja, fronteira com a Argentina e com 11 anos vim morar em Bento Gonçalves, a 100 quilômetros da capital, Porto Alegre. Minha infância foi muito boa, graças a Deus e ao empenho dos meus pais nunca nos faltou nada, família sempre unida, valores, respeito e educação estiveram sempre presentes na nossa casa. Na fronteira as oportunidades, principalmente de trabalho, para os meus pais ficaram escassas e Bento sempre teve muito trabalho devido as indústrias instaladas aqui. Minha madrinha já morava na cidade e nos abriu as portas para essa nova vida, buscando uma melhor qualidade de vida, estudos e oportunidades para a família viemos então eu, meus pais e minha irmã no ano de 2009.
BW: Que elementos da cultura no início te chamaram mais atenção
Bruna: Conhecer e me envolver em arte e cultura não era algo que eu almejava quando criança, não tinha referências na família e quando via algo “artístico” na TV, era legal mas algo que pra mim não era alcançável, ou pelo menos não tinha essa visão de querer/poder ser “artista”. E quando me mudei, logo que entrei na escola fiz parte de projetos sociais no contra turno escolar, o que me possibilitou ter acesso a música, dança, teatro… Na escola de ensino fundamental que eu frequentava, a arte era muito incentivada, principalmente a dança e todos os anos o grupo de Breaking “Elemente B Crew”, muito significativo na história do Breaking da cidade, fazia apresentações e trazia pessoas de fora pra dançar para o pessoal que assistia um espetáculo de dança feito pelos alunos, por causa desse espetáculo aonde as turmas tinham que montar coreografias e etc., a gente consumia dança o ano inteiro, isso nos incentivava a pesquisar e assistir vídeos, estudar, etc. E por meio dessas artes conheci o Hip-Hop, uma amiga frequentava um estúdio de dança da cidade onde estava instalada a Nest Panos e a maioria dos B-Boys da cidade treinava e se reunia, esses mesmos que se apresentavam na escola e frequentando o estúdio pude ver a estética do Graffiti, saber que dentro do Hip-Hop se subdividiam outras danças e outras formas de expressão que não só a dança.
BW: Pessoas te influenciaram a se envolver com a cena?
Bruna: Logo que eu conheci o Hip-Hop entrei pra um estúdio de dança, depois desenvolvi mais o Breaking, inclusive fazia aulas com o Pedrinho, também fazia Graffiti, mas depois que decidi ficar na fotografia abandonei os outros elementos (risos). Desde o início eu tive muita influência, da escola do ensino fundamental, das pessoas que eu conheci que tinham o gosto pela dança em comum, comecei a fazer aula e as amizades aumentaram. Então, no meio que eu estava, meus amigos todos tinham envolvimento com o estúdio, com a dança, com “função e furdunço” (risos) então, meio que era inevitável seguir esse caminho.
BW: Como sua família via o seu contato com a Cultura Hip-Hop? Eles apoiavam?
Bruna: Logo depois que saí do projeto social comecei a trabalhar com teatro, com 14 anos. Então meus pais viam a arte com outros olhos, eu apresentava espetáculos em grandes feiras, participei de festivais de teatro, escolas e trabalhei 4 anos como atriz profissional no passeio turístico bem conhecido aqui de Bento, que é a “Maria Fumaça”, um trem a vapor que oferece um passeio turístico apresentando em pequenos espetáculos de arte a história da região dentro dos vagões. Comecei no Hip-Hop na verdade dançando, dancei em companhias e depois fui para o Breaking em um curto período, fiz Graffiti, até me encontrar na fotografia. Eu comecei a trabalhar com 12 anos e nunca precisei ajudar meus pais financeiramente, além de admirarem o que eu fazia, esse foi também um suporte, muitas vezes eu tinha despesas com as viagens, figurinos etc. e conseguia pagar com meu dinheiro e sempre fui muito responsável, então, eles sempre permitiam minha participação em viagens e qualquer ação que envolvesse arte. Por ser menina, sempre há um maior cuidado, mas eles confiaram em mim e sabiam que eu confiaria neles para me auxiliar em qualquer problema, acho que esse foi o maior suporte deles que eu tive.
BW: Quando surgiu o interesse e o amor pela fotografia?
Bruna: Na verdade, o interesse por fotografia veio porque um amigo meu, o Igui, que também frequentava a Vico (na época eu treinava na Vico também) comprou uma câmera, e às vezes levava pra cypher. Pra matar treino eu pedia emprestada (risos) e ficava tirando foto ao invés de treinar (mais risos). Olhava uns vídeos no YouTube de fotografia, mas por não ter referências de fotógrafos, eu não conhecia nenhum, achava tudo muito inacessível, equipamentos muito caros e só não levava adiante a ideia de seguir. Na época eu já me envolvia com a Nest e despertou o interesse de usar a fotografia, não só pra fazer fotos dos momentos de descontração, mas também pra loja, para colocar na internet a foto dos produtos e eu usava uma digital da minha mãe, aquelas tipo TekPix (risos), daí levava pra loja, acabava fazendo algumas fotos dos treinos e assim, em 2015, o William me presenteou com a primeira câmera, chorei muito por dois motivos: porque eu sempre choro e também porque não esperava mesmo, fiquei muito feliz. A maior surpresa foi que eu não sabia nem ligar a tal câmera (risos) porque era de uma marca diferente da do Igui e então no outro dia comecei a estudar e pensei: agora que eu tenho as ferramentas preciso aprender esse negócio.
BW: Onde e com quem aprendeu a fotografar?
Bruna: Fiz muitos workshops, aqui na minha região tem fotógrafos muito bons e bem famosos na verdade, que sempre abriam turmas para aulas e eu sempre que podia estava. Fazia cursos sobre fotografia de casamento e aplicava tudo em Breaking.
BW: Fotografar B-Boys e B-Girls, fazer fotografia urbana é diferente de fotografar outras coisas? Exige um conhecimento diferenciado para fotografar dançarinos?
Bruna: Os workshops que eu fiz, nenhum falava sobre dança nem nada parecido com a estética que temos no Hip-Hop, mas me ajudou muito em questão técnica, de edição das imagens, então, na minha cabeça eu aprendia tudo e convertia pra minha vivência. Com certeza é muito diferente e nosso meio carece de pessoas com competência aliada à vivência da parada, que ensine fotografia com técnica e com direção, com objetivo em Breaking, em Graffiti, em Hip-Hop. Pra não ter hoje que percorrer todo caminho que eu percorri. Sempre que possível a gente faz workshops aqui pra molecada e inclusive a Ramoni está dando uns passinhos agora na fotografia e tal, por causa dessas oportunidades. Workshop de fotografia não é barato e se a gente puder se fortalecer pra somar, melhor ainda.
BW: Me fale um pouco do seu trabalho junto ao Coletivo Nest Panos. Desde quando você caminha junto e o que faz dentro do coletivo?
Bruna: Eu entrei pra Nest ali por 2012 eu acho, sou péssima com datas, o cara que sabe todas as datas na Nest é o Pedrinho (risos). Eu comecei na loja, gravando DVD de evento tipo BOTY, vídeo aula do Focus, documentários tipo “The Freshest Kids”, que a Nest distribuía para a gurizada nos eventos e vendia a R$5,00 pra geral. Depois, fui evoluindo (risos), cuidava do stand nos eventos, fazia umas fotos dos produtos com a câmera digital da minha mãe mesmo, fui estudando, comecei a fazer fotos mais legais, então montamos o e-commerce no site, fazia as matérias, comecei a fazer parte da organização dos eventos e no mais aonde eu podia ajudar, eu estava envolvida. Hoje faço parte da manutenção do site, gerencio o sistema da loja, produzo todo o material de fotografia da marca, faço parte da produção dos eventos e dobro roupas muito bem. O meu cargo oficial é fazer o que precisa ser feito (risos).
BW: No seu perfil do Facebook está escrito “Projeto de Vida – Coolture Trip”. Fale sobre esse projeto.
Bruna: Coolture Trip é meu projeto de vida pois foi o que eu escolhi pra dar sentido a ela. Não está à venda, se eu tiver grana ou não, ele vai existir igual, é algo que eu faço do fundo do coração por uma cena que eu amo, que eu acredito e que por meio do projeto eu sinto que posso contribuir para que ela seja melhor e maior.
BW: A Cultura Hip-Hop é dominada pelo sexo masculino, alguma vez se sentiu discriminada dentro da cena pelo fato de ser mulher?
Bruna: Sempre que debatemos sobre a mulher no Hip-Hop eu lembro de agradecer, pois fui acolhida num ambiente que jamais fui desrespeitada. Óbvio que meu espaço foi conquistado, nem sempre eu tinha voz, mas quando eu afirmo que tive sorte no coletivo, foi que tivemos conversas sobre o assunto e foi possível pouco a pouco muitas mudanças por meio de debates feministas, de questões muito importantes a serem levantadas e ouvidas. Acho que o principal pra mim foi ter representações femininas na cena, pois os homens ao meu redor me tratavam de igual pra igual, mas ainda eram vários homens, eu precisava de espelho, de ver outras minas pra poder me sentir parte, pra sentir que eu “poderia” ser parte e que qualquer outra mina também. Com a Coolture Trip, pelo fato do nome nem o logo ser o que a sociedade associa como “feminino”, todos os elogios são direcionados a um mano, já teve casos aonde pessoas vinham elogiar o trampo, fazer perguntas sobre ele e quando eu me apresentava Bruna, as pessoas não respondiam mais (risos). Nunca dei muita atenção a isso, me importo com o trampo tocar as pessoas e ser bom, mas com o tempo percebi que o fato das pessoas associarem o trampo automaticamente a um homem não era tão legal, eles precisavam saber que o trampo bom era de uma mulher e comecei a mostrar mais meu rosto.
BW: Vocês fizeram uma exposição no Sesc de Bento Gonçalves chamada “Rolê Coolture Trip” que não mostra apenas dança, mas toda a movimentação, todo o rolê que acontecia no meio de uma praça. Nos conte como foi a preparação do material dessa exposição até ela acontecer de fato. Nos conte essa experiência?
Bruna: O Rolê Coolture Trip foi uma das ações mais da hora que fizemos. O Pedrinho escreveu um projeto onde nos possibilitou um apoio em várias viagens, as telas foram feitas justamente pensando no transporte e durabilidade, inclusive na exposição de Esteio dois quadros ficaram expostos na área externa, como foram feitos de PVC, podem pegar chuva e sol e foi um diferencial bacana dessa expo. As fotos que compõem a expo foram as que mais tinham a ver com a ideia do rolê que é a cypher, pois quando a galera se reúne para dançar na Vico, não é só isso que acontece, a praça tem pessoas, têm crianças que geralmente interagem com a música, com a galera conversando e trocando ideia, que pega um adesivo pra levar pra casa ou que só fica olhando mesmo. São 10 obras de 1 metro quadrado mais ou menos, com a ambientação de folhas, plantas, para que trouxesse um pouco da praça para galeria. Fizemos horas e horas de viagem pra todas elas, pra São José do Rio Preto mais de 30h de carro, pro Uruguai são 12h, então rodamos alguns quilômetros para fazer a função (risos).
BW: Fale sobre o livro “Nossa Casa: Cypher Vico” lançado em 2018. O porquê desse nome e fale com detalhe dessa Cypher.
Bruna: O livro foi nossa maior realização. Depois que me interessei por fotografia, vi que fotografia e Hip-Hop não andavam tão separados assim e que inclusive tinham ótimas referências de fotógrafos e fotógrafas que foram da cena, na década de 70/80, com histórias ligadas diretamente ao Hip-Hop. Martha Cooper e Henry Chalfant com Subway Art, depois Hip-Hop Files, ajudaram a propagar o Hip-Hop para o mundo e também entender o que ele era na década de 70, logo na sequência veio Sue Kwon, Ricky Powell que faziam fotos das capas dos discos de grupos de Rap e que também foram responsáveis por nos dar dados e informações históricas quanto a vivência Hip-Hop desses ícones e enfim, a lista é grande e eu queria fazer parte dessa lista com a minha fotografia nos dias de hoje. A gente falava meio que brincando “Bah! Já pensou um livro!”, mas assim como ser fotógrafa para mim não era algo acessível, talvez eu não acreditasse muito na minha capacidade… E aí a galera do coletivo incentivou, me auxiliaram a montar um projeto e da primeira vez que enviamos ele não passou, 2017 reformulamos o projeto, a ideia amadureceu, deu tudo certo, por meio do Fundo de Cultura da minha cidade consegui a verba para a impressão do livro. 2018 executei ele entre captação e impressão no mesmo ano, e foi loucura. Eu fiz desde os textos até os vídeos (ele tem QR Codes espalhados aonde quando você escaneia com o celular tem acesso a vídeos exclusivos de quem tem o livro), a diagramação (inclusive eu aprendi a diagramar o livro 4 dias antes do prazo pra enviar ele pra editora, eu mal tomava banho, só fazia as coisas do livro), as entrevistas, as fotos… A capa e a arte do lançamento ficou por conta do Oneroc, tenho muito orgulho de quase tudo ter sido feito por mim, mas não vou repetir essa façanha (risos) foi insano o processo todo dentro de um prazo muito pequeno.
BW: Como foram as exposições? Como foi apresentar a cultura a pessoas que não conheciam a cena? De que forma foi feito isso?
Bruna: No Rolê Coolture Trip a gente passou não só por lugares familiares como a Casa do Hip-Hop de Esteio, como também pelo SESC, Dom Quixote Livraria e Casa de Criar, que são lugares que recebem artistas de diversas áreas, portanto têm um público diverso, nem sempre simpatizante de Hip-Hop. Então, a experiência mais da hora que tivemos foi apresentar cultura urbana pra pessoas que não faziam ideia de como ela é expressiva e nem de que estaríamos ocupando galerias de arte. Foi uma honra ser recebida nos lugares com carinho, apresentando a minha vida, a nossa vida. Senhorinhas compraram o livro, elogiaram muito o trabalho, assim como na Casa de Criar tivemos alunos de faculdade fazendo perguntas sobre o material das obras, também sobre técnicas de fotografia. Então foram experiências bem diversas mas ao mesmo tempo complementares: falávamos sobre o mesmo assunto sempre, mas em cada lugar ele era recebido e abordado de formas diferentes.
BW: Fale sobre o seu sentimento de levar o seu trabalho para outros estados como São Paulo e até outros países?
Bruna: Mostrar as fotografias da Vico, de Breaking para cada vez mais pessoas e cada vez mais longe é algo que me deixa realizada. Com a Nest já tive a oportunidade de rodar muitos lugares do Brasil, mas ir com a exposição da Coolture Trip é diferente, como se fosse a minha contribuição pessoal para a cena. Em outra oportunidade, já tínhamos feito dentro de um Battle in the Cypher o lançamento do livro, na Casa do Hip-Hop de Diadema, aonde eu com meus 22 anos apresentei o livro para inspirações como Rooney, o Jaspion, o Casper, em Minas Gerais tive a honra de conhecer e falar do livro pro P.MC e foi a maior responsa, nunca vou esquecer esses momentos, aonde eu com tão pouco tempo na cena pude realizar coisas significativas e apresentá-las para pessoas que eu conhecia só pelo YouTube, por documentários, tão importantes pra cena do Brasil.
BW: Vocês saíram do Brasil e foram para o Uruguai. Uau!!! Como foi levar essa exposição para outro país? Você e a B-Girl Ramoni, duas mulheres, uma ministrando workshop e outra à frente de todas as coisas. Como foi essa troca de mulheres brasileiras com mulheres uruguaias
Bruna: Meu primeiro contato com o Hip-Hop do Uruguai foi por meio da Viky, B-Girl, MC e escritora de Graffiti lá de Montevideo, que desde 2012 não falha um Battle in the Cypher aqui em Bento (risos), foi por meio dela que eu senti (e sinto até hoje) aquele orgulho de ser quem eu sou, aquela sensação de que: “eu sou porque nós somos”. Conhecer a Viky aqui, ver tudo que ela é e representa e depois ter a oportunidade de conhecer Montevideo e tantas mulheres “fodas” que tem lá, me fez ter uma ligação muito forte com a representatividade feminina na cena e fazer a exposição lá foi só uma consequência dessa ligação. As mulheres do Hip-Hop no Uruguai sempre me inspiraram desde que as conheci, e ir pra lá ou recebê-las aqui é sempre especial.
BW: Como você vê a presença das mulheres hoje dentro da Cultura Hip-Hop? O que é necessário alcançar? São vistas e respeitadas?
Bruna: Falei em uma oportunidade algo do tipo: não precisa nos incluir, a gente sempre esteve aqui. Pois na verdade sempre estivemos na cena, às vezes não muito respeitadas, às vezes sem espaço, sem voz. Mas essa ascensão feminina não é de hoje, aonde víamos uma mulher pode ter certeza que tinham várias, nem sempre com a mesma visibilidade, essa visibilidade aumentou porque nos fortalecemos, acho que como Hip-Hop aprendemos e seguimos aprendendo a olhar mais para as mulheres e por isso vemos mais. Nos fortalecemos entre nós, o que faz com que aonde uma mulher pisa, leva várias junto, os degraus mudaram e a gente aprendeu a subir e a levar outras com a gente. Acredito que quando pararmos de entender o Breaking como algo masculino, teremos uma evolução significativa na visão perante as mulheres e isso é mais difícil do que aceitá-las (risos), mas eu acredito nessa desconstrução e farei o que estiver ao meu alcance pra mudar essa percepção. Seja por meio da fotografia ou nesses lugares de fala.
BW: Quais são os planos para o futuro?
Bruna: O plano já traçado é o segundo livro (risos), nesse momento estamos montando um mini documentário que é uma releitura do Faces da Cypher de 2018 do livro, só que com todo esse “novo mundo” que a pandemia nos mostrou. Tínhamos viagens e o início das captações do segundo livro já programadas, o livro será sobre cypher também mas em escala nacional, fotografando essas cyphers independentes pelo Brasil. Mas tivemos que adiar por motivos óbvios. Já temos o primeiro roteiro programado e assim que for possível, começarão as captações, primeiro no Sul (Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina). Esse imagino ser possível com 5 anos de trabalho. Quero aproveitar bastante o processo e o tempo deverá ser estendido porque precisamos sempre captar recursos e fazer os corres de grana pra poder pagar as viagens, que deverão ser feitas para o projeto acontecer.
Fotos: Arquivo Pessoal
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Optar por sair de suas cidades no Brasil, de se afastar do aconchego da família e dos amigos para viver da profissão em outros país ou, até mesmo, para participarem de competições ou darem aula, é uma decisão difícil de se tomar, mas que tem se tornado cada vez mais comum nos últimos anos.
Um movimento lento mas constante, tem levado muitos dançarinos brasileiros de Breaking a deixar o país para investir na carreira profissional de B-Boys e B-Girls em diferentes países da Europa.
Fugindo do preconceito e da falta de perspectivas, eles cruzam o Oceano Atlântico em busca de novas oportunidades. Apesar de não existirem estatísticas oficiais que contabilizem o número destes brasileiros que vivem da dança no exterior, basta uma conversa com pessoas do meio para perceber que são muitos os que tomam essa decisão,
Essa semana conversamos com a B-Girl Paola, que junto com seu esposo B-Boy Kid Guma e o filho ainda pequeno, prepararam as malas e desembarcaram em Paris, na França.
Ela conta: “Dar um futuro melhor pro meu filho, uma qualidade de vida melhor me fez sair do Brasil”. A B-Girl confessa que sente falta de tudo e todos, menos das compras no Brasil, ela lembra que “na França com 50 euros é possível comprar bastante coisa e ainda voltar com dinheiro na bolsa”.
Confira a entrevista na íntegra que a B-Girl Paola deu ao Portal Breaking World:
BW – Queria que você falasse um pouco da sua história, onde nasceu e como foi a sua infância?
B-Girl Paola – Oi galera, meu nome é Paola, mais conhecida como B-Girl Paola, atualmente eu tenho 25 anos de idade, nasci em São Paulo, a minha infância foi com muita dificuldade, minha mãe muito trabalhadora, a minha irmã ajudou a criar a gente, nós éramos em 5 irmãos, mas éramos muito felizes, minhas brincadeiras eram jogar futebol, vôlei, empinar pipa, guerra de mamonas, carrinho de rolimã, virar estrelinhas, sempre gostei muito de me movimentar.
BW – Quando teve o primeiro contato com o Breaking? Como sua família reagiu quando você demonstrou o interesse de ser uma B-Girl? Com quem aprendeu a dançar Breaking?
B-Girl Paola – Comecei a dançar Breaking por meio de um projeto da “Escola da Família”, há 9 anos atrás. Minha família sempre me apoiou na minha carreira da dança. Minha mãe e meus irmãos sempre tiveram orgulho de mim; minha mãe, minha rainha, sempre me motivava a evoluir, a melhorar minha dança, mas no caminho encontrei pessoas que testavam a minha fé, dizendo que dançar era coisa de gente que não tinha o que fazer, que a dança não tinha futuro, pessoas que me aconselharam a parar de treinar certos movimentos no Breaking porque era coisa de homem, então, eu segui em frente e provei o contrário.
BW – Conte um pouco da sua caminhada como B-Girl no tempo que morou no Brasil. Que eventos participou aqui e fora?
B-Girl Paola – Por meio do Breaking eu tive oportunidades de trabalhar com pessoas reconhecidas na cena e fazer clips com Guizmo e Flash Zoom, na França e comerciais … Alguns trabalhos com Rashid, Nelson Triunfo, Mr. Kokada, já participei de eventos mas por enquanto nenhum fora, aguardo ansiosamente pelo primeiro “Camp” aqui fora.
BW – O Breaking é praticado por muitos homens, alguma vez se sentiu discriminada por ser mulher? Ou desrespeitada?
B-Girl Paola – Já me senti desvalorizada, porque a cena muitas vezes é machista e não percebe ou se percebe não quer mudar… Premiações menores, pressão por parte dos B-Boys para você entrar na cypher ou rachar contra outra B-Girl, ser comparada com homem (risos), desculpe, isso me faz rir.
BW – Acha que no Brasil os eventos valorizam as mulheres da cena? O que na sua opinião poderia ser diferente?
B-Girl Paola – Alguns eventos no Brasil foram feitos para B-Girls, mas poucos, né? Então, a maioria dos eventos não tem uma estrutura cabível ou não quer ter também o trabalho, eu acho, porque não reconhecem a força da B-Girl, o que desmotiva muitas meninas a continuarem… Uma estrutura justa em ambas as partes seria o certo!
BW – Você é casada com um B-Boy. Algumas B-Girls que são casadas com B-Boys relatam que sempre foram conhecidas como a mulher do B-Boy “Fulano” ou “Ciclano” e não por sua própria história ou por seu próprio nome na dança. Alguma vez você sentiu isso?
B-Girl Paola – Interessante essa pergunta, porque eu fui num campeonato uma vez e um B-Boy me apresentou para os amigos dele assim: “essa daqui é a esposa do Kid Guma”, eu mal esperei ele terminar de falar e já disse: “esposa do Kid Guma, não! B-Girl Paola! Não me apresente sobrepondo um homem para me fazer mais forte. Eu realmente não preciso, eu sou!”. Então, se você é B-Girl e um B-Boy ou qualquer outra pessoa te apresentar como “a esposa do Fulano”, você se impõe na hora e se apresenta como você se considera!
BW – Você já sofreu algum tipo de assédio dentro de eventos? O que você acha sobre esse assunto que muitas B-Girls relatam? Que conselhos daria?
B-Girl Paola – Todas as mulheres de alguma forma já sofreram assédio, o mal do homem é pensar que é superior. Essa é uma coisa que eu nunca vou entender, essa superioridade que os homens inverteram a respeito de si próprios.
BW – O que a fez sair do Brasil e se mudar para a França? O que foi para você ser B-Girl no Brasil?
B-Girl Paola – O que me fez mudar foi dar um futuro melhor pro meu filho, uma qualidade de vida melhor e também conhecer outras culturas, outras línguas. Ser B-Girl no Brasil é de certo modo normal, porque eu nasci aí enfrentando tudo para conseguir continuar, depois que eu vim para a França, eu percebi o quanto é difícil ser B-Girl no Brasil. Digo pela estrutura, pela qualidade de vida, acaba sendo muitas vezes cansativo porque além de ser B-Girl tem gente que é mãe, pai, que é obrigado a tomar rumos diferentes da dança.
BW – Como tem sido a vida de B-Girl em outra terra, ainda mais em tempo de Covid-19? E que desafios tem enfrentado?
B-Girl Paola – Quando eu cheguei na França, deu um mês e começou a Covid, então, todos os eventos foram cancelados. Viemos com Apolo, então, tivermos o triplo do cuidado. Como ficamos parados, deu uma desanimada, estava longe de amigos, em outro país e em quarentena. Ainda assim, no meio da Covid, consegui fazer um trabalho com um Rapper famoso aqui na França, o Guizmo. Agora que a pandemia passou por aqui e voltou tudo ao normal, estamos de volta com projetos, trabalhos e diversão.
BW – Você tem um filho pequeno, como consegue fazer todas as coisas? Ser B-Girl, ser esposa, ser mãe?
B-Girl Paola – Para ser B-Girl mesmo (digo treinar, sempre ir nos campeonatos, sair) a primeira palavra é força! Tem que ter força de vontade, não é fácil ser mãe, imagine treinar e ainda ser esposa, são duas pessoas diferentes que tenho que conviver e para cada uma delas…
BW – Na França você tem amizades com outras B-Girls?
B-Girl Paola – Tenho amizade com algumas B-Girls da América Latina que moram aqui e tenho falado com algumas que me inspiram.
BW – Como você analisa o nível em termos de competição das B-Girls brasileiras e as restantes de outras partes do mundo? Estamos num bom nível ou falta alguma coisa para termos boas representantes?
B-Girl Paola – O nível de B-Girls no Brasil é ótimo, só precisa de mais oportunidades para B-Girls mostrarem seu profissionalismo.
BW – O que significa o Breaking na sua vida? Já deu tempo de sentir saudade do Brasil? O que sente mais saudade e o que não sente falta?
B-Girl Paola – Significa liberdade, amor e paz. Significa manter o equilíbrio comigo mesma, significa identidade! Sim, deu tempo de sentir muita saudade de casa (risos) mas tenho meus objetivos, tenho uma vida cujo futuro depende de mim que é meu filho. Sinto falta de tudo e todos “menos de fazer compras (risos), aqui com 50 euros você compra bastante e ainda sobra”.
BW – O que tem feito na França? Quais são seus planos para o futuro?
B-Girl Paola – Passei pelo período da quarentena aqui, agora que acabou a quarentena, já posso participar de campeonatos e dar aulas. No futuro, quero ajudar as B-Girls que têm o sonho de competir fora, dar a elas um acesso.
BW – Que conselho você daria para as B-Girls da nova geração?
B-Girl Paola – Se estiver cansada pare, se dê um tempo, mas não desista, continue em movimento, sempre em movimento.
Fotos: Arquivo Pessoal
Paula está ansiosa em participar de um "Camp" na Europa
B-Girl Paola
B-Girl Paola passou a quarentena em Paris e agora se adapta ao "novo normal" europeu
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“A dieta do pobre é não morrer de fome. A fome foi muito presente na minha vida por muitos anos.” (B-Boy Till)
Ele é de Quintino Cunha, bairro que fica em Fortaleza, no estado do Ceará. De uma família humilde, teve uma vida difícil, o que não o impediu de correr atrás dos próprios sonhos.
Foi com a mãe que também foi pai que aprendeu a ler por meio de uma cartilha, sendo o único da família a terminar o ensino médio. Sua paixão sempre foi a capoeira, mas foi por intermédio do Breaking que criou asas e voou de encontro aos próprios sonhos, ganhando a etapa nordestina do “Red Bull BC One” e, depois, a “Cypher Brasil”, numa disputa emocionante que pegou fogo em uma das noites mais frias paulistanas em 2019, o que o levou em seguida para a Índia, junto com mais dois brasileiros, B-Boy Bart e B-Girl Itsa, representando o Brasil.
Sem dúvida, ele escreveu o nome na história e está entre os melhores B-Boys brasileiros! Estamos falando de Francisco Cleiton Verçosa, da Perfect Style Crew ou, somente, Till. O Portal Breaking World teve a satisfação de conversar com ele e abordar vários assuntos sobre a vida e a dança do atual campeão da “Red Bull Cypher Brasil”.
Veja a entrevista na íntegra:
BW – Fale sobre a sua infância, onde nasceu e foi criado, sobre a sua família. Quando você teve o primeiro contato com a Cultura Hip-Hop?
Till – Eu sou de uma família humilde, que sempre lutou pela sobrevivência do cotidiano. Nascido em Fortaleza-CE, no bairro Quintino Cunha. Na minha infância, no período de 1 a 4 anos, lembro que nunca ficávamos no mesmo lugar, minha mãe, sendo pai e mãe para nós (4 filhos – 3 homens e 1 mulher). Nunca consegui estudar direito. Já morei em vários lugares de Fortaleza, chegando a morar até em um interior próximo à cidade. Itaitinga para ser exato. Esse foi um lugar onde passei muitos anos de necessidade, mesmo com casa própria. Até voltar para Fortaleza e, desde então, sempre morar de aluguel. Desde quando morávamos juntos, meus irmãos, minha mãe, minha tia e eu e várias outras pessoas, incluindo uma prima minha, sempre foi uma luta cansativa e sempre via o resultado da mãe no final do dia antes de irmos dormir. Aprendi a ler em casa com a minha mãe, com uma cartilha do ABC. Depois mudamos para Antônio Bezerra-CE, que é onde vivi o restante da “infância” e quase toda a minha vida até hoje. Estudei, único da família a terminar o ensino médio e sempre buscando algo melhor por meio da arte para minha mãe e tia, que moram comigo. Meus irmãos estão cada um em suas casas, com seus parceiros. Atualmente, tenho 25 anos e em 4 dias faço 26.
BW – É verdade que sua paixão pelo Breaking começou quando assistiu a uma apresentação na escola onde seu sobrinho estudava? Conte como foi isso.
Till – Um certo dia levei meu sobrinho para a escola, para praticar o Hip-Hop e, quando vi, me apaixonei. Na época, tinha 14 anos e já praticava capoeira, que também amo.
BW – Com que idade começou a dançar Breaking? Alguém te ensinou? Quem eram suas referências?
Till – Comecei com 14 anos. No Breaking era muito difícil ter uma didática de como compartilhar o Breaking/Hip-Hop para os demais aqui na minha cidade, sinto que no meu começo muitas pessoas não me passavam bases, steps, movimentos, porque viam uma capacidade, uma força de vontade tão grande de querer entender/aprender aquilo que estava vendo, que isso causou inveja em algumas pessoas próximas. E isso me atrapalhou muito. Tive muitos incentivadores, mas hoje vejo que eram aproveitadores do meu talento. Mas, apesar disso, sou muito grato a todos que já passaram pela minha trajetória de vida. E deixo bem claro do quão sou grato. Há uns 9 anos, achava que só existiam competições, cyphers, outros treinos, só no exterior. Se a galera fosse menos egoístas na época, talvez, meu Breaking seria mais aproveitado, como faço hoje em dia e, quem sabe, minhas condições estariam até melhores. Mas Deus sabe o que faz.
BW – Li que antes do Breaking outra paixão era a capoeira. Acredita que o fato de você ser capoeirista o ajudou no Breaking?
Till – A capoeira te ensina muita coisa, sem ela, não teria a disciplina mental e corporal que tenho hoje. Sem falar da flexibilidade que adquiri, praticando-a.
BW – Fale sobre o seu gosto por desafios e todo o preparo físico necessário para se alcançar um bom rendimento.
Till – Sempre gostei de desafios para aprender algo novo. E por isso, exploro todo meu corpo, além de exercita-lo, para deixá-lo inteligente, possível para fazer o que eu penso ou vejo de novo.
BW – Nos conte como são seus treinos, quantas horas e quantos dias da semana dedica a isso?
Till – A meta é treinar todos os dias, mas, agora, estou na fase adulta e tenho prioridades, como, por exemplo, ganhar dinheiro para pagar as contas do fim do mês, então, não tem como me empenhar todos os dias só no meu Breaking, apesar de também ser meu trabalho. Mas amo treinar e gosto de dar o meu máximo todas as vezes que treino.
BW – Procura manter alguma alimentação especial?
Till – Costumo falar que a dieta do pobre é não morrer de fome. Porque a fome foi muito presente na minha vida por muitos anos. Eu deixei de comer algumas coisas por falta de condições e porque também faziam mal à minha saúde, tipo, refrigerantes, salgados, pizza, guloseimas, e etc. Só não deixei completamente, porque como disse, como tudo, mas amo treinar muito.
BW – Você trabalha com dança e dá aula na sua cidade? Fale desse trabalho.
Till – Atualmente trabalho na empresa “Beach Park” com a função de animador/bailarino e com o meu Breaking, passando workshops e julgando eventos. Gosto de ser digital influencer no Instagram, que é onde consigo me comunicar com todo mundo.
BW – O que passou pela sua cabeça quando decidiu concorrer na “Red Bull”? Achou que chegaria onde chegou?
Till – Quando participei da “Red Bull” pela primeira vez, achei que os jurados sempre me dariam uma chance de mostrar o meu potencial. Fui treinando. Sem pretensão nenhuma de passar ou ser melhor que ninguém, apenas mostrar algo massa e movimentações originais minhas para a galera e, no final, tudo deu certo. Fui para o mundial!
BW – Como foi no dia da “Cypher Brasil”? Deu nervosismo ou aquele frio no estômago? Ou você se sentiu confiante?
Till – Estava chateado porque cheguei durante o evento. Cheguei 20h no sábado, o evento sempre começa na sexta e vai até o domingo. Bateu o nervosismo, o lugar era horrível de respirar, passei mal na semifinal, contra o participante Onnurb, ele também. Então, foram turbilhões de coisas ruins, mas aguentei e firme em Deus. No final, tudo deu certo!
BW – Na sua opinião, o que o levou a ser o campeão da “Cypher Brasil”? Na final, você e o Ruddy, dois grandes B-Boys brasileiros, como foi esse momento?
Till – Eu estava apostando na minha originalidade e o Ruddy na dele, então, eu acho que essa confiança de si próprio é que nos faz acreditar que podemos, sim, chegar lá e representar. O Ruddy já é veterano, muita experiência e viagens para o exterior. A minha ali ia ser a primeira. Mas deu certo, acho que só em eu ter chegado na final estava ótimo.
BW – Teve muita comemoração no Nordeste quando saiu o resultado? Qual foi a reação da família e de amigos?
Till – A reação é sempre não acreditar no que tá acontecendo. Mas esse era meu objetivo e consegui concluí-lo. E fiquei tranquilo, mas por dentro muito feliz. Pelo que eu vi de algumas pessoas, feliz e outras confesso que não entendi muito bem. Não sei, talvez, pensavam que eu teria novas atitudes por ter vencido esse evento. Mas estranhei a forma de me tratar, positiva e negativa. Eu estou tranquilo, o que mudou foi eu ficar mais conhecido para mais pessoas, alcançar mais pessoas e ganhar mais seguidores do Instagram. Só isso, e muito grato só por isso!
BW – Conte como foi na Índia, como foi competir com alguns dos melhores B-Boys do mundo?
Till – A Índia é um país forte em personalidades e culturas. Pessoas muitos gentis, comidas muito apimentadas, sem carne, sem o meu costume de arroz e feijão todo dia. Estranhei um pouco a alimentação, o clima, mas gostei. Eu estava sem grana nenhuma, então, não pude aproveitar muita coisa.
BW – É verdade que os estrangeiros, quando pensam em brasileiros dançando Breaking, esperam ver movimentos como o mortal, entre outros de Power Move, por causa da imagem que o Neguin fez lá fora?
Till – Acredito que o B-Boy Neguin acreditou no que ele tinha e mostrou, mas já é do brasileiro lançar nas battles movimentação como backflip (mortal para trás) e outros que lembram a capoeira, mas tem outros tipos de B-Boys no Brasil. Então, acho que os gringos devem pensar bem antes de deduzir que tal B-Boy faça tal coisa, porque existe vários outros “flava” no Brasil. Não só na técnica, mas no style também. Eu amo treinar os dois !
BW – O que mudou na sua vida depois dessa experiência? Quais são seus planos para o futuro?
Till – O que mudou foi que eu tive minha primeira viagem para o exterior e foi para Mumbai, na Índia e mais seguidores no Instagram. Tirando isso, nada. Mas, também, acreditaria que haveria algum tipo de apoio ou patrocínio, mas nada.
BW – O que você diria para B-Boys e B-Girls da nova geração que sonham em chegar onde você chegou?
Till – Digo-lhes a vocês que querem chegar onde cheguei, que treinem bastante sem se importar com a opinião do outro, seja a disciplina e estude bastante, independente de sua classe social. Cuide do seu corpo e objetive as suas conquistas.
Fotos: Arquivo Pessoal
B-Boy Till
B-Boy Till
B-Boy Till com amigos e familiares
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