Descubra os “Segredos” dos Gêmeos na Pinacoteca de São Paulo
A exposição começou no dia 15 de outubro de 2020 e vai até 22 de fevereiro de 2021:
“Vamos contar nossos “SEGREDOS”! Vamos mostrar muitos trabalhos que nunca mostramos” (Os Gêmeos)
Eles nasceram em 1974, passaram toda a infância nas ruas do tradicional bairro do Cambuci (SP), desenvolvendo um modo único de se divertir e se comunicar por meio da arte.
Com o apoio da família e o mergulho na Cultura Hip-Hop no Brasil nos anos 80, encontraram uma conexão direta com seu universo mágico, dinâmico e cheio de cores, criando um modo de se comunicar com o público. Exploravam com dedicação e cuidado as diversas técnicas de pintura, desenho e escultura. E tinham as ruas como seu lugar de estudo.
Com o passar dos anos, esse universo criado pela dupla ultrapassou as ruas, se transformando numa linguagem própria e em constante evolução, com outras referências e influenciado por novas culturas.
Estamos falando de Otávio e Gustavo Pandolfo, conhecidos mundialmente como “Os Gêmeos”, esses irmãos fascinantes que parecem ter tintas correndo nas veias tornaram-se importantíssimos para a cena cultural da cidade de São Paulo, contribuindo para a definição do estilo brasileiro nesse tipo de arte.
Hoje, são reconhecidos e admirados não só no Brasil, mas em todo o mundo por meio de suas artes, usam linguagens visuais combinadas, o improviso e seu mundo lúdico para criar intuitivamente uma variedade de projetos pelo mundo. Já realizaram inúmeras mostras individuais e coletivas em museus e galerias de diversos países, como Cuba, Chile, Estados Unidos, Itália, Espanha, Inglaterra, Alemanha, Lituânia e Japão.
Atualmente estão “em casa”, na Pinacoteca de São Paulo, com a Exposição “Segredos”. Sim, eles contam segredos jamais revelados antes na exposição. O lançamento da exposição foi um sucesso. Na Pinacoteca, além da área do octógono, a mostra ocupa um dos pátios do prédio na Praça da Luz e sete salas do 1º piso. São mais de 1.100 itens apresentados, dentre esculturas, pinturas, fotografias e desenhos. É uma viagem ao mundo das artes! Durante os meses em que a exposição estiver em cartaz, o museu será tomado pelo estilo e pela grafia inconfundível da dupla de artistas. A loja da Pina receberá um conjunto de novos produtos desenhados por eles, como canecas, camisetas e bonés. Temporariamente, o tradicional letreiro na fachada que traz o nome da instituição, criado pelo premiado designer gráfico Carlos Perrone nos anos 1990, será substituído por um luminoso desenhado especialmente pel´OSGEMEOS. Da mesma forma, as assinaturas eletrônicas dos e-mails dos funcionários do museu, que hoje trazem a logo da instituição, serão trocadas provisoriamente pela nova identidade.
A exposição tem patrocínio de Bradesco (cota Apresenta), Samsung e Grupo Boticário (cota Master), IRB Brasil RE (cota Platinum), Iguatemi São Paulo e GOL Linhas Aéreas (cota Ouro), escritório Mattos Filho, Allergan, Cielo e Comgás (cota Prata) e Havaianas (cota Bronze).
Para entender a obra de “OSGEMEOS” é necessário deixar que a razão dê lugar ao imaginário. Sentir, antes, para entender depois. Os temas de suas obras vão de retratos de família à crítica social e política. O Portal Breaking World teve a oportunidade de conversar com Os Gêmeos. Agradecemos ao Rooneyoyo e a Alessandra, assessora de imprensa dos artistas, que num esforço conjunto tornaram possível essa entrevista exclusiva. Confiram:
BW: Queria que vocês falassem um pouco da infância, da juventude e da formação de cada um… Onde cresceram? E quando tiveram contato pela primeira vez com a Cultura Hip-Hop?
Os Gêmeos: Somos do bairro do Cambuci, criados e crescidos aqui, onde tivemos pela primeira vez o contato direto com a Cultura Hip-Hop, em 1983, 1984.
BW: Quando surgiu o amor pelos elementos da Cultura Hip-Hop? Como era viver tudo isso na década de 80? Como foram aqueles anos e o crescimento de vocês dentro da cultura?
Os Gêmeos: Crescemos basicamente dentro da Cultura Hip-Hop, com amigos do nosso bairro que nos ensinaram a dançar quando tínhamos 10 anos (1984). Aí, pouco a pouco, fomos entendendo qual era a ideologia, a história, quem era quem, o respeito. Nessa mesma época, começamos a frequentar a São Bento, um encontro que acontecia aos sábados, a partir das duas horas da tarde. Era lá, no metrô São Bento, onde se reuniam todos os B-Boys e B-Girls, DJ’s, MC’s e Grafiteiros de São Paulo, onde trocava-se informações e aconteciam os famosos “rachas”, disputas de dança entre “gangs” (como eram chamadas na época). Era uma grande união, uma época mágica, de muito aprendizado, improviso, descobertas e muita consideração.
BW: Como a família e a sociedade se relacionavam com vocês? Foram alvo de preconceito ou de crítica alguma vez?
Os Gêmeos: Nossos amigos de rua eram também nossa família, nossos pais os conheciam desde pequenos, todos cresceram no bairro. Uma coisa interessante, na época, não sabemos como, nosso pai conseguiu um vídeo cassete e uma fita dos filmes Breakin e Beat Street (clássicos da época). Transformamos a casa de nossos pais em um mini cinema, toda a rua se reunia na sala (que por sinal era muito pequena), mas encontrávamos lugar para que todos pudessem ver os filmes. Logo depois de assistir repetidamente por horas íamos pra rua treinar a dança e trocar as informações que havíamos obtido nos filmes. Nunca sofremos preconceito dentro do Hip-Hop, na São Bento não tinha isso entre os artistas que frequentavam. Existia, sim, algumas vezes o preconceito dos seguranças do metrô e da polícia (que não queriam que ocupássemos aquele espaço), mas resistíamos e defendíamos o espaço que todos nós ali tínhamos conquistado no metrô para dançar, trocar informações, aprender uns com os outros, fazendo por nós mesmos e dividindo entre todos que estávamos ali, o pouco de informação que conseguíamos. Era uma época mágica, porém difícil ao mesmo tempo, com poucos recursos, nossa mídia era a rua, sentimos os resquícios do fim da Ditadura Militar, as informações chegavam atrasadas, porém chegavam e adaptávamos no jeito brasileiro de fazer… com pouco, fazer muito. Foram várias barreiras quebradas. Nós acreditamos que o lúdico do brasileiro, essa identificação com o lúdico, com a arte (em todas suas formas) a necessidade de se expressar, superava e materializava coisas incríveis nesta época, seja na dança, nas pinturas, na música, no modo de se vestir, de falar, de escrever…
BW: Existiram pessoas que foram inspiração para vocês dentro do Hip-Hop, seja no Brasil ou no exterior?
Os Gêmeos: Nós desenhamos desde os 4 anos de idade e quando conhecemos a Cultura Hip-Hop, entendemos muito cedo que o Graffiti fazia parte da cultura, como já desenhávamos, foi muito natural começar a fazer Graffiti. Quase não tinha informação quando começamos, era muito difícil de chegar, íamos nas bibliotecas nacionais pesquisar sobre o assunto e quando vieram os “Shopping Centers”, as livrarias tinham um setor de “revistas importadas”. Cruzávamos a cidade para ir ao shopping (recém inaugurado) e ficávamos buscando referência, uma fotinho sequer de algum Graffiti nas revistas. Mas a São Bento era o lugar onde todos trocavam informações, o Zelão (descanse em paz) e o Rooney eram especialistas em conseguir livros e revistas relacionados ao assunto e lá na São Bento ficávamos horas juntos observando e tentando entender o que víamos nos livros. Lembro quando o Zelão trouxe um livro chamado “Munich graffiti” e outros livros que eram referência mundial, como “Spraycanart” ou “Subwayart”. Tivemos muitas referências na época. Por exemplo, nosso irmão mais velho, Arnaldo Pandolfo, foi um dos primeiros que vimos fazer a “dança de robô” e também o primeiro a nos ensinar a desenhar perspectivas… e da parte de nossos pais, também foi muito importante essa liberdade de poder criar, estudar e materializar o que acreditávamos. Quando conhecemos o Hip-Hop, no Cambuci, também tivemos influências de amigos como a turma de Breaking “Fantastic Break” que dançavam na frente da casa de nossos pais, depois artistas como Nelson Triunfo e Funk Cia, Electric Boogues e as informações que trocávamos no metrô São Bento com todos que frequentavam lá. Por outro lado, também tinham as inspirações que vinham de fora, como videoclipes como Buffalo Gals de Malcon Mclarem, os filmes como Beat Street, Breakin, Body Rock, Style Wars, Wild Style e livros como Spraycanart e Subwayart. E, paralelo a experiência com o Hip-Hop, nós vínhamos buscando nossa linguagem para materializar o que acreditávamos com influência dos nossos sonhos, ouvindo música erudita com o nosso avô… em busca da originalidade e identidade própria.
BW: Fale um pouco sobre a “Street Warriors”, como se formou a Crew e como era o tempo que passavam juntos. Que raízes e amizades construíram em todos esses anos com a convivência?
Os Gêmeos: Street Warriors foi uma turma super importante em nossas vidas, formada por amigos como Alam Beat, Silvão, Didi, Mancão (da antiga Fantastic Break/PORTAL), Edu Barbaro (Fantastic Break/PORTAL), Paulinho de Guarulhos e agregados como Rooney e DJ Ninja. Por ter essa mistura de B-Boys de nosso bairro e de outros, naturalmente, treinávamos com eles, no nosso bairro, o Mancão e o Edu já eram nossos professores de Breaking desde 1984, original do PORTAL (turma da época). Ainda somos uma família, somos todos amigos ainda, uma época de aprendizado que levamos até os dias de hoje.
BW: O Breaking, o Graffiti, o Rap e o DJ: o que significa na vida de vocês? Teve alguma vez que foi necessário decidir apenas por um elemento? Quando e como foi esse momento?
Os Gêmeos: O Hip-Hop e seus 4 elementos, fez, faz e fará parte da nossas vidas pra sempre, nós experimentamos cada elemento, nos envolvemos 100% com cada um deles pra vivenciar isso na sua essência. Chegamos a cantar Rap em 1987, 1988 em alguns clubes, como Cadlak, Clube da Cidade, festivais como no Parque da Aclimação (organizado pelo Milton Sales MH20) enfim, tudo era muito novo. Começamos a grafitar bem no início dos anos 1980’s, começamos a dançar em 1983 e DJ no final dos anos 80’s, mas nosso forte sempre foi o desenho, por isso focamos 100% em desenhar, em pintar o que acreditávamos, em fazer arte em suas diversas linguagens e expressões, transformações, abrir portas que estavam fechadas, buscar outros horizontes, mostrar o que havíamos descoberto dentro de nossos sonhos e transformar isso em arte. Decidimos por desenhar, seguir a carreira de artistas plásticos, mas nunca deixamos a nossa paixão pela música de lado.
BW: Fale do início da caminhada de vocês no Graffiti, quais foram os maiores desafios? As lutas? Com quem aprenderam os primeiros traços? Fizeram algum curso?
Os Gêmeos: Aprendemos muito na rua, sozinhos e com amigos, trocando informações, estudando sempre, desde aquela época até os dias de hoje, experimentando coisas novas, uma auto busca espiritual. Várias pessoas que passaram por nossas vidas nos ajudaram a encontrar nosso estilo próprio, como uma auto busca, maneira de estudar e de se diferenciar dos demais. Artistas como Speto, Barry Mcgee, Vaughn Bode, Doze Green, Chintz, Loomit, foram muito importante para esse desenvolvimento. Depois de viver muito dentro do Hip-Hop e estudar a cultura, decidimos mergulhar em uma busca do estilo original, onde nós entendemos a importância de desenhar, o porquê de termos nascidos dois irmãos gêmeos com essa paixão e missão. O único curso de artes que fizemos foi na Pinacoteca do Estado em 1983, onde tivemos nosso primeiro contato com a tinta Spray. Nosso maior estudo foi em casa, no nosso quarto, na época na casa de nossos pais, que transformamos em um mini ateliê. Ali estudamos muito, muitas técnicas e estilos, até chegar onde estamos hoje. A importância desta busca de ter um estilo próprio, era típico da época, me lembro de ver o Speto falar muito sobre isso, sentávamos com o Vitche no Cambuci e ficávamos horas desenhando… Era coisa que buscávamos na época, víamos artistas como os da revista “Chiclete com Banana” como Angeli e outros, que já tinham seu estilo.
BW: Descrevam o estilo de Graffiti que vocês fazem. O que costumam abordar em suas obras?
Os Gêmeos: Nós estudamos muito, dentro dos estilos diferentes de caligrafia do Graffiti, quanto os de personagens, um mergulho no universo das caligrafias e sempre buscando uma originalidade. Passamos pelo um simples personagem pintado na rua a grandes murais e grandes laterais de prédio. O desafio sempre nos inspirou muito.
BW: Que trabalhos foram mais significativos para vocês em todos esses anos e por quê?
Os Gêmeos: Todos são significativos, desde um desenho em um papel ou um Graffiti na rua, em um trem, uma lateral de prédio. Amamos o que fazemos, somos os maiores críticos do nosso trabalho. Sempre procurando buscar um novo horizonte, uma nova ideia, um novo projeto.
BW: Quando abriram o ateliê de vocês?
Os Gêmeos: Acho que desde sempre… começou com o ateliê improvisado na casa dos pais, depois nas ruas e seguimos trabalhando nas ruas e em nosso ateliê, hoje mais elaborado. Temos a melhor equipe do mundo, somos gratos de sermos uma única família.
BW: É comum escutar que grafiteiros só se tornam conhecidos e respeitados depois que vão para fora do país. Isso é verdade? O que é ser grafiteiro no Brasil?
Os Gêmeos: Na cena do Graffiti ninguém te fala como, onde e porquê fazer, buscando uma originalidade, criando seu próprio estilo, com atitude, respeito e dedicação. Nós fazemos Graffiti desde os anos 80’s, por amor, por necessidade de se expressar, desafiar nos estilos, com quantidade e qualidade. Só quem faz Graffiti de verdade sabe o que é Graffiti, nós precisamos disso em nossas vidas. Os primeiros reconhecimentos e respeito vêm de outros grafiteiros, às vezes da sua própria turma, às vezes de turmas diferentes, que respeitam e enxergam algo novo, inovador, verdadeiro. O respeito é construído com essência, transparência, respeito, com determinação, foco, conteúdo e com história. Não precisa ir pra fora do Brasil pra ser respeitado, no Brasil e em qualquer lugar, como diz nosso amigo Rodrigo Brandão, “quem é de verdade, sabe quem é de mentira”.
BW: Qual o sentimento quando chega ao conhecimento de vocês que alguma obra de vocês foi apagada?
Os Gêmeos: Vamos fazer mais 3! Nós nunca dependemos e não vamos depender do poder público pra fazer Graffiti. Acreditamos que o Graffiti tem que estar na rua, nos trens, nos metrôs, mesmo que discriminado pelos governos, o Graffiti de verdade nunca vai parar. Todas as gestões, sempre apagaram Graffiti na cidade, isso acontece deste 1987 e vem se repetindo em todas as prefeituras.
BW: Ter suas obras reconhecidas e espalhadas pelo mundo… Como é isso? Pode falar em que países é possível ver trabalhos d’Os Gêmeos atualmente?
Os Gêmeos: Separamos nosso universo em dois, Graffiti é rua, é a liberdade de sair e fazer o que você tem em mente, respeitando o que já existe. Nós já fizemos trabalhos em mais de 70 países… entre exposições e murais às pinturas de empenas, projetos externos, bem diferente do que chamamos de Graffiti. Acreditamos que o fato da gente estar fazendo exposições pelo mundo afora abre portas para outras gerações.
BW: A Pinacoteca do Estado de São Paulo é um dos mais importantes museus de arte do Brasil. Como surgiu o convite para fazer uma exposição dentro desse espaço? Para vocês, uma exposição no Brasil tem um significado diferente do que expor no restante do mundo?
Os Gêmeos: Foi um convite do diretor Jochen. É a nossa cidade natal, estamos muito felizes em fazer essa exposição aqui em São Paulo e é uma das mais completas que já fizemos, contamos toda a nossa história. O fato de expor aqui vai abrir portas pra nova geração dentro do universo de arte contemporânea, mostrar de onde viemos, nossa essência, nossa trajetória, transitando pelas influências da música, da arte, do Hip-Hop, do Comics, enfim, é contar nessa retrospectiva a nossa história. É importante a valorização de artistas locais, que vêm de uma formação autodidata. Arte para nós é a materialização da satisfação e da insatisfação.
BW: “Segredos” é o nome da exposição que está na Pinacoteca. Porque escolheram esse nome? Falem sobre ela, quantas obras são apresentadas? Como foram os preparativos para essa exposição e quantas pessoas foram envolvidas nesse evento?
Os Gêmeos: Vamos contar nossos “SEGREDOS”! Vamos mostrar muitos trabalhos que nunca mostramos. Foi mais de um ano produzindo para essa exposição. A curadoria dos trabalhos escolhidos foi feita minuciosamente pelo Jochen e algumas por nós mesmos. Para essa exposição, foram mais de 2 anos de preparação… centenas de pessoas envolvidas.
BW: E os personagens amarelos? Quando foram criados? Porque amarelo?
Os Gêmeos: Foi no início dos anos 1990, uma auto busca espiritual, onde o AMARELO, significa luz, paz interior e é identidade própria.
BW: Em março, tudo pronto e no entanto um adiamento inesperado na véspera de inaugurar a exposição… Como foi isso e como vocês resolveram tudo e encaram essa situação?
Os Gêmeos: O mundo deu uma pausa e mudou! Está mais que na hora do ser humano se ligar no que está fazendo com o planeta, com a natureza, com o mar, céu e terra, com o próximo. Nós focamos em trabalhar em projetos futuros e também em projetos sociais. Sentimos muito pelas pessoas doentes e pelas vidas perdidas, momentos difíceis.
BW: Engajados em projetos sociais, inclusive nesse momento de pandemia, vocês não pararam… Nos contem sobre os trabalhos sociais e a ação feita em parceria com o grupo têxtil Rosset, doando 100 mil máscaras de proteção contra a Covid-19, com estampa criada por vocês? Recebemos informações que as máscaras foram distribuídas em aldeias indígenas da Amazônia, comunidades carentes do Ceará e instituições do Rio de Janeiro e de São Paulo. Nos contem como foi isso?
Os Gêmeos: Nós mantivemos nossos projetos sociais na pandemia e ampliamos mais esse horizonte. Alguns foram projetos novos, como as máscaras para combater a Covid-19, que fizemos em parceria com o Grupo Rosset e a Pinacoteca, onde foram distribuídas mais de 100 mil máscaras, metade delas foram para o Norte e Nordeste, para as comunidades ribeirinhas e aldeias indígenas (Fundação Merinda Malaquias, Associação das Mulheres Indígenas Sataré Mawe, União Amazônia Viva e muitas outras). Também fizemos algumas parcerias com o Pimpmycarroça, CUFA (Central Única de Favelas), Rappin Hood Futebol Clube, Nois por Nois, Cohab Teotônio Vilela, Agência Mae, entre muitas outras.
BW: Cestas básicas também foram mais uma iniciativa com o objetivo de ajudar o próximo. É verdade que tudo foi custeado por vocês?
Os Gêmeos: Sim, foi. Sempre procuramos fazer algo, mas durante a quarentena, focamos muito nisso e os projetos triplicaram!
BW: De onde vem essa preocupação social? Quando isso começou na vida de vocês?
Os Gêmeos: Foi a educação que nossa família nos deu, amigos e a vida dentro do Hip-Hop que nos ensinou. Começou mais ou menos em 1993, quando recolhíamos comida da feira (que existia na frente da casa de nossos pais) e fazíamos um sopão. Tínhamos um carro Variante 2, colocávamos atrás e entregávamos a sopa para os moradores de rua…
BW: Além do caos da saúde, das inúmeras mortes, o país vive também um caos político. Qual a importância e o papel do artista brasileiro diante de tudo isso? Como vocês enxergam o atual governo e a tentativa de calar os artistas?
Os Gêmeos: Nunca vão calar os artistas, a arte e a educação têm o poder de mudar! Acreditamos na força da arte e no poder da educação. É muito triste e revoltante ver o que estamos passando, total descaso e desrespeito com a Cultura. Não acreditamos nessa estrutura política, nesta máquina que foi criada e blindada por anos… Esse cenário precisa mudar.
BW: Parece que existem duas obras de vocês que são quase que o “Raio X” do Brasil. Comentem sobre elas.
Os Gêmeos: Tudo que fizemos, tem um pouco sobre o que vivemos no Brasil.
BW: Qual foi o sentimento de ter uma obra de vocês exibida em telões da Times Square, em Nova York, na fachada da Tate Modern, em Londres, no porco inflável do Roger Waters? São sonhos realizados?
Os Gêmeos: Acreditamos que quando se anda pelo certo, colhe o certo e sempre procuramos dividir, aprender, estudar, ouvir, ensinar, trocar. E quando se dedica 100% com amor, em sua arte, naturalmente, você colhe o que planta. É como se todos os artistas viessem de um planeta e cada um com uma missão aqui na Terra, e quando você encontra, parece que já os conhecia.
BW: Se pudessem voltar no tempo, fariam tudo de novo? Ou mudariam alguma coisa?
Os Gêmeos: Vivemos o hoje, somos dois caras que acreditam que a arte pode mudar as coisas para melhor. Aprendemos muito com o passado, estamos aprendendo com o presente, e aprenderemos com o futuro.
BW: Nesse período de isolamento social, vocês produziram alguma arte sobre o momento que estamos vivendo? Que reflexões são possíveis fazer? Como vocês imaginam que será o futuro?
Os Gêmeos: Nós produzimos muitos desenhos e novas ideias para futuros projetos. O futuro… trabalhamos o hoje… o futuro vai depender do que fizermos hoje, do que plantamos hoje.
BW: Que mensagens inspiradoras vocês deixariam para os artistas da nova geração?
Os Gêmeos: Acredite em seu sonho! Hoje em dia têm muitas possibilidades, nós da primeira e segunda geração do Graffiti, do Hip-Hop, lutamos pra abrir portas, principalmente dentro da arte contemporânea, foram mais de 30 anos de trabalho e abrindo várias portas pra geração de hoje. O importante é respeitar, plantar coisas boas, reconhecer quais foram suas influências e andar pelo certo.
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