Ele se autodenomina o gringo mais brasileiro de todos. Nascido numa ilha do Caribe chamada Martinique e hoje morando na França, Gaëtan Rodrigo Alin, mais conhecido como B-Boy Lagaet é um dos B-Boys internacionais convidados do “Breaking do Verão”, evento que acontece neste final de semana, no Rio de Janeiro. Lagaet, esbanjando simpatia, deu uma entrevista exclusiva para o Portal Breaking World, falando sobre sua história de vida, sobre sua personalidade na dança, sobre as Crews que faz parte, rotinas de treino, referências na dança e opinou sobre o tema Breaking nas Olimpíadas e países que estão adiantados neste assunto. Ainda revelou que deseja participar das Olimpíadas de Paris 2024 e que está se preparando! Confira a entrevista mais que inspiradora que nosso portal fez com esse B-Boy singular e compartilha a partir deste momento com vocês:
BW: Queria que nos falasse um pouco de você, da sua infância, do país onde nasceu e onde foi criado?
Lagaet: Salve Galera! Antes de qualquer coisa, queria agradecer o Portal Breaking World pela oportunidade, muita satisfação e gostaria de fazer uma menção especial pelo trabalho de pesquisa, pois pelas perguntas vejo que sabem muito bem do que falam, então, muito obrigado por isso. Então, meu nome é Gaëtan Rodrigo Alin, sou mais conhecido por B-Boy Lagaet, represento The Ruggeds e Momentum Crew.
BW: Quando e como surgiu o Breaking na sua vida? Verdade que foi num momento que ainda era criança? E que depois se encantou com os movimentos de Power Move também?
Lagaet: Comecei a dançar no final dos anos 2000. Nasci em Martinique, que é uma ilha do Caribe e lá vivi até os meus 18 anos. Depois, fui viver na Europa. Mas essa ilha tem menos de meio milhão de pessoas, no ano 2000 havia pouca informação. Eu vi nos filmes e gostava muito dos movimentos de luta do Kung Fu, via mortais, capoeira e etc., mas sendo novo e não tendo informação eu não consegui desenvolver nessas coisas. Então, com 11 anos, apareceu um B-Boy chamado Magno e trouxe o Breaking para a nossa escola e foi aí que comecei a gostar, comecei com os mortais primeiro e depois com os Power Moves. Foi com o passar dos anos que fui evoluindo, pois no início eu só queria aprender alguns movimentos e nada mais. Mas, com o passar do tempo, comecei a gostar da comunidade e da Cultura Hip-Hop, apreciando muito a arte e foi aí que comecei a desenvolver mais sobre as outras artes da Cultura Hip-Hop e me aprofundei mais no meu estilo, aprendendo as bases mais de Footwork, de Top Rock, mais de criatividade, elevando mais a minha dança.
BW: Com quem aprendeu a dançar Breaking e ter essa personalidade na dança tão ímpar que o caracteriza até hoje?
Lagaet: Então, naquela época que comecei ainda não tinha internet, era pouca informação. Todos os jovens aprendiam sozinhos. E, depois, uns com os outros e começamos a fazer movimentos. Eu lembro que um cara que veio da França, veio para minha ilha e falou que viu um movimento que chamamos de “louco”, mas era o Air Flare e eu tentava fazer o “louco” sem nunca ter visto e na verdade era o Air Flare! Era uma loucura! O que me fez ganhar criatividade foram os primeiros vídeos que eu vi, que me marcaram muito, me fazendo ver que todos os caras eram diferentes, foi isso que eu me identifiquei. Eu pensei: “para ser bom e para trazer algo de especial, algo meu para essa cultura, para esse movimento, eu teria que ser diferente de todos”! E é isso que eu tento ser e aplicar até hoje. Sou diferente! Quando todos vão para uma direção, eu vou para outra, trazendo algo meu!
BW: Tornou-se membro da Crew Breaf e da companhia MD antes de se juntar às suas atuais equipes, The Ruggeds e Momentum Crew. Fale de sua experiência de fazer parte dessas equipes e como isso influenciou e ainda influencia no seu crescimento como artista?
Lagaet: A minha primeira Crew foi a Breaf Crew, essa praticamente foi um grupo de amigos que começou a treinar juntos, são os meus amigos de infância, com os quais desenvolvi os meus primeiros movimentos do Breaking e continuam a ser os meus amigos bem próximos, que eu guardo comigo até hoje. Depois, apareceu a MD Company, foi a primeira companhia onde eu dancei, graças a ela fiz os meus primeiros trabalhos, onde recebi os meus primeiros cachês e as minhas primeiras viagens no Caribe. Visitamos várias ilhas, para competir e para espetáculos, aprendi as bases da criação e de como estar em um palco. Depois, a Momentum Crew é uma história de amor, somos muito irmãos, cresci muito como pessoa, faço parte há muitos anos e foi com ela que alcancei os meus primeiros resultados internacionais e viajei pelo mundo para competições. A Ruggeds é a minha Crew mais recente, eu já era amigo de vários membros do grupo, tão próximos que foi uma transição que foi feita de uma forma natural, compartilhamos uma mesma visão do Breaking em relação a competições e espetáculos e, nos últimos anos, passei muitas coisas com eles e tempo com eles e continuo!
BW: Como são suas rotinas de treino? E o que, na sua opinião, não pode faltar para quem pretende ser um bom B-Boy ou uma boa B-Girl?
Lagaet: Quem me conhece sabe que sou uma pessoa que gosta muito de treinar, nunca perco uma oportunidade. Eu vejo o Breaking como um vídeo game, em que sou o personagem principal, como no jogo que eu quero uma roupa nova, um carro novo, uma arma nova, um poder novo, o tempo passa e seu personagem evolui, é isso, só que na vida real e com Breaking. Para ser bom se trata de amar o que nós fazemos, amar a nossa arte e fazer isso por nós mesmos, não para parecer bom para outra pessoa, então, acho essa a melhor forma de crescer. Sobre a minha rotina, quando eu era mais novo o meu treino era muito desorganizado, mas agora, com a idade (tenho 33 anos) e o conhecimento que eu tenho, tenho vários treinos diferentes, então, por norma, quando eu chego no treino eu já sei qual será o tópico do dia e o que vou treinar. Não é só o Breaking, mas preparação física, preparação cardio, funcional, entre outras preparações.
BW: Hoje em dia, quais são suas referências no Breaking?
Lagaet: As minhas referências no Breaking são as minhas Crews, as pessoas que me inspiram mais e que compartilho mais, então, são essas que me inspiram. Momentum Crew e The Ruggeds. Me inspiro bem em B-Boys e B-Girls que têm longevidade e que dançam em alto nível.
BW: Em 2011, você foi campeão na Red Bull BC One em Barcelona, em 2012 e 2013, no Raw Circles 2on2, na Bélgica. Agora, em 2021, chegou ao palco da Final Mundial do evento pela terceira vez em sua carreira. Fale um pouco desses eventos, como se preparou para eles? E como se sentiu com os resultados?
Lagaet: Falar da minha vitória em 2011 na Red Bull Barcelona, em 2012 e 2013 no Raw Circles na Bélgica, nessa época o Breaking passava na frente de tudo! Então, eu estava muito a fundo nos treinos e focado na vitória. Hoje em dia, por exemplo, eu vejo as coisas um pouco diferentes, minha vida não para por causa do evento, antes desse evento eu estava numa turnê na Suécia com a minha Crew e eu não parei tudo por causa da Red Bull, já não vejo as coisas assim, pra mim é importante viver o momento, viver a vida e dançar pra mim e, então, é isso, eu vou com esse flow. Danço pra mim e aproveito o momento ao máximo! O resultado pra mim é muito irrelevante, porque depende da visão do júri, depende se eles estão magoados, depende da música que tocar, do chão que vou dançar, então, o Breaking é muito mais importante que o resultado, o impacto que eu causo no coração das pessoas quando me veem dançar ou as pessoas que posso inspirar sobre a minha carreira. Um jovem do Caribe que nasceu numa ilha pequena sem recursos e que consegue viver da dança há mais de 20 anos. Isso é o que mais conta pra mim!
BW: Hoje, o Breaking é uma modalidade olímpica. Como você vê essa transição da Cultura para o Esporte? Que países na sua opinião saem na frente e estão mais preparados para uma realidade olímpica?
Lagaet: Sim, o Breaking é um esporte olímpico hoje em dia, eu fico feliz de ter ajudado Paris 2024 através de apresentações sobre o Breaking, debates com alguns membros do Comitê Olímpico Internacional, eu fiz a minha parte para ajudar o Breaking a entrar nas Olimpíadas. O Breaking será sempre cultural, é um desporto quando falamos da vertente competitiva, é claro que é importante um preparo para esse tipo de competição, ter fôlego, aguentar várias entradas, mas a nossa cultura vai sempre se manter viva, com ou sem as Olimpíadas. Os eventos undergrounds existirão sempre e é isso! O lado positivo disso são os jovens que vão poder viver do Breaking, na minha época os mais velhos olhavam pra mim e diziam: “isso é impossível! Acorda para a vida! Começa a estudar! E vai procurar um trabalho!”. Hoje, tudo isso caminha para virar uma profissão. No Brasil acho que isso não está tão desenvolvido, mas na França, por exemplo, tenho vários apoios do Comitê Olímpico, tenho várias marcas que trabalham comigo e isso me ajuda a viver apenas da dança e focar apenas nos treinos. Isso é ótimo e é o que desejo a todos! Essa é a parte positiva do Breaking ter entrado nas Olimpíadas! Sobre os países mais preparados, na minha opinião é a Rússia e a França, também eles estão bem à frente, mas existem outros países que estão chegando também, como Portugal. Pouco a pouco eu acho que todos os países vão alcançar isso!
BW: Em outros esportes, como Skate, Ginástica Olímpica, Natação, a nova geração está chegando com força e subindo com mais frequência aos pódios. No Breaking, na sua opinião, é possível que isso também aconteça? É importante se preparar e investir na nova geração?
Lagaet: A nova geração tem menos preocupações que os mais velhos que dançam a mais tempo, sendo jovens, são amparados pelos pais, não se preocupam com o sustento, ainda não têm filhos, nem mulher. Eles conseguem focar mais no Breaking com os apoios que existem agora, pelo menos na França conseguem alcançar resultados muito maiores.
BW: As Olimpíadas te atraem? Deseja participar delas?
Lagaet: Sim, desejo participar! Estou me preparando para isso! Principalmente porque será em Paris. Eu vivo em Paris! Seria lindo participar e alcançar bons resultados em casa!
BW: Você está no Brasil, para o evento “Breaking do Verão”, como surgiu o convite para participar e quais são suas expectativas para esse evento? O que tem feito nesses dias no Brasil? Tem algum recado para os brasileiros que vão competir e assistir o evento?
Lagaet: O Breaking do Verão está chegando! Então, foi o Pelezinho que me convidou, nos encontramos na Red Bull BC One e então ele me convidou para o evento e é uma honra para mim poder participar. Eu amo o Brasil e estou aqui todos os anos! E fico vários meses, sempre é um lugar que me sinto muito bem, adoro a galera daqui, sou sempre muito bem recebido. Será a primeira vez que participo de um evento no Brasil, já dei workshop, já fui júri, já fiz espetáculos no Rock in Rio, mas como competidor de um evento de Breaking, será a primeira vez. Estou ansioso!
BW: Fale para o Portal Breaking World quem é o B-Boy Lagaet e quais são seus planos para os próximos anos?
Lagaet: Salve Galera! Salve Portal Breaking World! Eu sou o B-Boy Lagaet da The Ruggeds e Momentum Crew, o gringo mais brasileiro de todos! Estamos juntos! Gratidão pela oportunidade! E sobre os meus planos para o futuro, fiquem atentos! Vocês vão saber! Um grande abraço!
Imagem em Destaque: Little Shao / Red Bull
VAMOS COMPARTILHAR?
E aí, gostou da matéria? Confira mais de nossas notícias!
Em sua 18ª edição, um dos mais tradicionais torneios mundiais de Breaking retorna ao Brasil depois de um ano sem acontecer por causa da pandemia. Com inscrições abertas a partir desta segunda (30), o Red Bull BC One reunirá os mais talentosos dançarinos para mais uma disputa de alto nível. As inscrições podem ser feitas por meio do site www.redbull.com.br/bcone. Para conectar os mais talentosos dançarinos do país, o evento conta com seletivas regionais, as chamadas “Cyphers” – que, neste ano, não permitirão a presença de público – nas cidades de São Paulo (SP), Fortaleza (CE), Curitiba (PR) e Brasília (DF). Os 16 B-Boys e 16 B-Girls que se destacarem nesta primeira fase se enfrentarão na Final Nacional, visando à uma vaga por categoria na etapa mundial do evento, que ocorre na Polônia, em novembro. A disputa deste ano, que conta com a participação de mais de 30 países, marca a primeira edição após a entrada oficial da modalidade no maior evento multiesportivo do mundo: as Olimpíadas. No júri da etapa nacional, conhecidos nomes avaliarão os dançarinos brasileiros, como o B-Boy Pelezinho, lenda do Breaking e figura presente na cena há mais de 20 anos; o B-Boy Neguin, colecionador de diferentes títulos mundiais; e a veterana B-Girl FabGirl. O Portal Breaking World não poderia deixar de falar sobre esse grande evento e para sabermos detalhes convidamos o B-Boy Pelezinho para mais uma animada conversa sobre a 18ª edição da Red Bull, os principais detalhes e dicas para quem pretende participar, falamos sobre Cyphers regionais, o nacional e o evento mundial, sobre o Breaking nas Olimpíadas e o recente interesse de novas marcas nesse elemento do Hip-Hop e, também, olhamos para o futuro falando da nova geração. Bom, vamos a mais essa entrevista que está show porque esse ano, segundo o Pelé, “o chão vai estalar e o bagulho será louco na BC One”.
BW: Pelezinho, o Campeonato da Red Bull BC One chega a 18ª edição. E num tempo de Pandemia! Fale um pouco da preparação desta edição, dos cuidados que estão sendo tomados e como vai acontecer em todos os estados e na final nacional e mundial… Afinal, foi um ano sem acontecer no Brasil…
Pelezinho: Sim, é a 18ª Red Bull BC One, é uma vida né? Ficamos um ano sem ter o evento devido a pandemia, mas esse ano, graças a Deus, vamos ter a oportunidade de ter a Red Bull BC One Cypher Brazil. Sim, estamos tendo todos os cuidados, em todas as cyphers os dançarinos que estiverem inscritos serão testados para Covid-19. Serão só os dançarinos, jurados, DJ’s e MC ́s e a galera que vai estar trabalhando, então, serão pouquíssimas pessoas e na parte internacional eu também acredito que será isso na final mundial. Só os dançarinos e o pessoal envolvido. Lá na Polônia, eu acredito que, por ser um país menor, a situação está controlada, pode até ter algumas pessoas assistindo, mas aqui no Brasil serão só dançarinos, DJ’s, MC’s e profissionais envolvidos.
BW: Na sua opinião, qual o nível de competidores esperado nesse evento? Pois se por um lado houve tempo para treinar, por outro houve várias dificuldades, falta de espaço, locais fechados antes usados para treinos, ausência do contato humano em outros eventos, alguns tiveram Covid-19, outros deixaram de treinar por medo de contrair a doença…
Pelezinho: Nesse tempo de pandemia foi complicado para a galera que vive da dança, que depende de eventos, de projetos, de competições, eu sei que foi difícil para muitos e ainda teve pessoas que perderam familiares, aqueles que pegaram o vírus, foi complicadíssimo. Mas teve um lado bom dessa parte, a galera teve tempo para pensar, tempo para entender o que estamos vivendo mesmo que com dificuldades. Eu acredito que muitos tiveram a possibilidade de praticar solo para poder entender alguns movimentos que eles não estavam fazendo ou que eles estavam criando uma transição, então tem esse lado e também justamente por ter ficado tanto tempo sem evento… Teve eventos on-line, mas sem dúvida é diferente! E agora com o Red Bull BC One, eu acredito que os dançarinos vão pegar todo esse tempo, toda essa energia contida e vão jogar nessas batalhas que vão ter. Então, eu acredito que o nível será alto este ano!
BW: Que exigências vão existir por parte da Red Bull para os que vão participar da Cypher e depois da nacional e do mundial? Você já falou dos testes mas serão exigidos cartão de vacina? Uso de máscaras?
Pelezinho: Em relação a competição aqui no Brasil, quem fizer o teste e estiver okay, dança! Quem der positivo, volta para casa! Vai ter um local especifico onde vai ficar a galera que vai participar e vai ser separado as meninas e depois, os meninos, para não ter aglomeração. Vai ter que usar mascara no local onde eles estiverem, mas na hora da batalha não, a não ser se o dançarino desejar usar. Em relação a Polônia, acredito que até lá alguns dançarinos já estejam com as duas doses da vacina e não terá problema.
BW: Em que local será a Cypher São Paulo?
Pelezinho: Nesse momento eu ainda não sei onde será a Cypher São Paulo. Mas logo mais já teremos as informações e as pessoas devem ficar de olho! Agora, vamos seguir com as Cyphers Fortaleza, Brasília e Curitiba.
BW: Novamente como jurado. Fale um pouco do seu critério de julgamento e os pontos que leva em consideração na hora de avaliar a performance de um dançarino? No meio do Breaking fala-se de tudo e muitas vezes de todos a afirmação que “Quando o Pelé não gosta de alguém, essa pessoa não entra!”, como você se sente quando escuta coisas assim? Que recado você daria para as pessoas que pensam assim?
Pelezinho: Você viu, né? Mais uma vez como jurado! É muita responsabilidade todos esses anos, então, eu acredito que estou fazendo um bom trabalho para ser jurado por tantos anos! Sobre os critérios, todos sabem que é musicalidade, criatividade, os movimentos bem executados, mostrando algo bonito para os jurados. São três cabeças pensando diferente, mais ao mesmo tempo, focados na dança Breaking, então, cada um sabe o que tem que fazer. O mais importante é ir lá e mostrar o porquê você está ali e o porquê você quer ser campeão, então, ganha! Quando as pessoas falam que o Pelé é isso ou aquilo: gente! Eu não sou o dono da Red Bull, eu sou só uma pessoa que tenho uma história dentro da empresa, eu fui o primeiro dançarino [brasileiro] a competir na Red Bull 2005, de lá para cá, eu tenho um contrato com a Red Bull desde 2006, então, eu fiz muitas coisas e venho fazendo ainda. Eu não sou dono da BC One e é chato quando as pessoas pensam dessa maneira, acham que eu mando em alguma coisa, mas na verdade eu procuro o melhor para a dança no Brasil, eu procuro ajudar da melhor forma e quando tem o período que vai acontecer o Red Bull BC One, procuramos as melhores situações para poder realizar o evento, porquê o evento é para dançarinos e dançarinas e, frisando mais uma vez, eu não sou o dono da Red Bull. E o mais importante de tudo isso é o respeito e a consideração que a empresa Red Bull tem por mim.
BW: No passado, você organizou uma edição da Red Bull “Under My Wing”, focado nos jovens, existe o desejo de fazer novamente, já que a nova geração em todo o mundo cada vez está chegando mais nova e com toda força? Nas Olimpíadas, por exemplo, no Skate tivemos um pódio com nossa Rayssa e mais duas meninas que tinham menos do que 17 anos. E no Breaking também se levanta uma nova geração forte, com pouca idade, sim, mas com muito talento, vigorosa em todo o mundo, seria o momento de olhar para o futuro e fazer uma nova edição?
Pelezinho: Sobre o Red Bull Under My Wing, poxa, eu lembro até hoje, foi um dos projetos mais incríveis que eu tive a possibilidade de participar, de ajudar a criar um formato um pouco amplo, porque na época ele era voltado só para workshop e aí eu lembro que, quando chegou o projeto, chegou o convite, eu achei interessante acrescentar mais coisas, na época, porque realmente descobrimos novos talentos e 16 jovens talentos e aquilo foi incrível, foi de onde saiu o Leony, praticamente até então o Leony nunca tinha saído de Belém, ele era do Projeto Curumim e eu gostaria muito, mas muito mesmo, que tivesse uma nova edição aqui no Brasil. Poderia ser com o Neguin, pegando a história do Leony, mas o importante era ter novamente e principalmente agora, num momento como esse de Breaking nas Olimpíadas, dentro de uma pandemia, entender tudo o que essa garotada nova está passando, está vivendo, eu gostaria muito que voltasse esse projeto. Na época, só foi o Lilou que tinha feito. O que foi feito aqui comigo no Brasil foi mais amplo, eu lembro que quando eu peguei, falei: será que eu posso trazer para a minha cidade? Mostrar para eles onde tudo começou? Mostrar a minha parte dentro do Breaking? Foi um baita projeto!
BW: Depois de Tóquio, das Paralimpíadas, o foco agora é Paris 2024. E o Breaking é a bola da vez! O que você acha de outras marcas e outros energéticos neste momento estarem se aproximando da Cultura Hip-Hop e do elemento Breaking? Como a Red Bull vê isso?
Pelezinho: Sobre as Olimpíadas de Paris, já estão aí, são praticamente 3 anos. Já deu para perceber que eles vão focar bastante no Breaking, até devido as transições que eles estão querendo, que é mais a garotada, os jovens e queira ou não, na hora que a galera que não está acostumada com o Breaking ver aqueles movimentos que a gente faz, que consegue ver o mundo de ponta-cabeça (sic), o mundo girando, será demais! Desde o início, quando eu recebi as informações, eu sempre fui a favor do Breaking nas Olimpíadas, portas vão se abrir, como você mesmo, em relação às marcas. Poxa, é importante, né? Eu sei que agora vai abrir aquele leque grandão, as pessoas oportunistas para poder mostrar suas empresas, que eu que tenho mais de 20 anos dançando penso: Por quê essas marcas não poderiam ter chegado antes? Mas tudo bem, está tudo certo! A cena da dança agradece! Eles estão chegando agora! E sobre as marcas de energéticos, a Red Bull praticamente é a pioneira! Porque vem desde 2001 voltada ao Breaking! Só espero que isso tudo dure, né? Que não seja apenas uma onda! Uma pequena onda! Espero que seja uma grande onda e consiga carregar muitas pessoas. E como algumas pessoas sabem, até dançarinos que são patrocinados por outra marca de energético competem na Red Bull BC One, então, quem defende seu patrocínio a galera da Red Bull não implica, respeita, será que nos outros eventos aí se tiver eles vão também respeitar? Então, já fica essa ideia minha aí para a galera que está chegando agora de outros energéticos pensar… Respeita nossa história! Respeita nossa Cultura!
BW: Na final mundial na Polônia teremos B-Boys e B-Girls brasileiros convidados diretos a participar?
Pelezinho: Sobre o campeonato mundial eu não tenho a informação se terá algum brasileiro convidado direto, mas quem sabe né? A Red Bull sempre gosta de fazer aquele suspense e é até bom, porque a galera fica toda elétrica. Mas esse ano aqui no Brasil o bicho vai pegar! Na final nacional eu tenho certeza que o coro vai comer! (risos).
BW: A Cypher São Paulo acontece no dia 2/10 e a final nacional no dia 3/10. Olhando a proximidade das datas, isso não interfere no rendimento dos dançarinos?
Pelezinho: Cypher São Paulo dia 2 de outubro, onde vai ter aquela galera, os inscritos e no dia 3 de outubro, no dia seguinte, a final nacional. Então, quem passou, quem sem classificou, quem veio de outras Cyphers classificados, eu não vejo problema nenhum de quem está em São Paulo participar num dia e depois no outro e outra, o lado bom, serão dois dias ali e aquela adrenalina e tal. Para quem não lembra, o Leony saiu do Brasil, foi para o Japão, chegou num baita fuso horário, ganhou lá de todos os B-Boys que tinha, não dormiu direito, adrenalina estava a milhão, foi para o evento versus Taisuki, abriu o evento, fez as três entradas dele, não ganhou do Taisuki, agora, para e pensa, eu nunca escutei ele falar que estava cansado… Só uma dica que eu dou para a galera: aproveita esses dois dias, principalmente quem estiver participando da eliminatória São Paulo, se motiva nesse dia, não vem falar que está cansado, cai para dentro!
BW: Que recado você mandaria, que dicas você daria para todos que já se inscreveram ou que ainda vão se inscrever nesta 18ª edição?
Pelezinho: A dica que eu dou para quem se inscreveu ou que ainda vai se inscrever para participar das Cyphers regionais e a nacional: galera, aproveita esse momento que a gente tem, de realizar o Red Bull BC One esse ano! Muitas pessoas têm o sonho de participar desse evento. Faça por você e faça pela sua história, se é isso que você quer, então faça de verdade! Porque talvez você pegou a vaga de uma pessoa que estava querendo muito participar, essa é a minha dica. Com certeza, muitas pessoas vão ficar de fora por não ter conseguido fazer a inscrição a tempo por causa da pandemia!
O nome que consta na certidão de nascimento é Alex José Gomes Eduardo, ele não poderia ser mais brasileiro. Nasceu numa família alegre de sambistas e capoeiristas em São José do Rio Preto, interior de São Paulo.
Da infância guarda boas lembranças das feijoadas e dos churrascos em família. Criado pela avó, matriarca da família, o menino que não tinha tênis, mas que desde pequeno já mostrava habilidades diferentes e muito especiais, a famosa estrelinha no meio da testa que alguns carregam para esse mundo, filho de mestre de capoeira era bom nos movimentos do corpo e também no futebol, por isso recebeu o apelido de “Pelezinho”, mas seu destino não foi escrito num campo de futebol e nem jogando capoeira mas sim nas ruas.
As rodas que frequentava eram outras, as de Breaking, onde sua grandeza foi reconhecida e conquistada, sendo ponte para o resto do mundo.
Numa entrevista super especial e exclusiva ao Portal Breaking World, B-Boy Pelezinho, que esta semana se posicionou sobre o assunto “Breaking nas Olimpíadas”, contou sua história de vida, suas experiências, conquistas no Breaking, falou sobre a pandemia, sobre amigos que sente saudades, sobre o futuro e mostrou sua preocupação com a nova geração de B-Boys e B-Girls.
Hoje fora das competições, porém comprometido com o Breaking pelo resto da vida, ele sempre lembra: “O Breaking mudou a minha vida e pode mudar de muitas pessoas”.
Com vocês: Pelezinhoooooooo!
BW: Você é de São José do Rio Preto, correto? Queria que você nos contasse: como foi sua infância, sua adolescência e sua vida em família? Que lembranças boas guarda dessa época? Foi uma vida tranquila ou difícil?
Pelezinho: Sim, eu sou de São José do Rio Preto, nascido e criado lá. Eu venho de uma família de sambistas e capoeiristas, eu lembro que, principalmente nos finais de semana, nós tínhamos aquele momento familiar, que tinha música, almoço, churrasco, feijoada. Na infância era bem tranquilo! A minha avó é que era a matriarca da família, ela cuidava de todos! Eu fui criado pela minha avó. Mas a minha família sempre foi aquela família animada! Tenho boas recordações!
BW: E na adolescência, como foi? Quando e como teve o primeiro contato com a Cultura Hip-Hop? O que te chamou atenção nessa cultura?
Pelezinho: Na adolescência, foi um pouquinho mais complicado. Eu saí de casa cedo, era muito jovem e eu conheci o Breaking por meio de um amigo, ele esta numa Cypher aqui no centro da cidade e, na verdade, eu achei que fosse uma roda de capoeira e quando cheguei vi que era uma roda de Breaking e eu fiquei encantado com aquilo. Logo depois, ele fez uma performance na minha escola e foi quando ele me convidou, disse que eu tinha uma facilidade para dançar, a minha família era do samba, então, achava que eu teria muita facilidade. E me fez um convite para treinar na casa dele, isso foi em 1995 ou 1996. E desde então, eu tenho uma história dentro do Breaking.
BW: Com que idade você saiu de São José do Rio Preto? O que sentiu quando chegou em São Paulo?
Pelezinho: Na verdade, eu só sai da casa da minha avó quando eu fui para São Paulo. Na primeira vez foi para um evento de dança, foi aquele choque com a cidade grande, de conhecer mais a galera da dança, porque eu só ficava no interior. Mas quando eu cheguei no evento achei incrível, quando eu vi todas as Crews de São Paulo reunidas. Me lembro que quando os caras chegavam, eles já chegavam batalhando e eu pensei: “puxa, vou voltar para casa e treinar muito, pois eu não quero mais que esses caras fiquem me zoando na dança não…”.
BW: Mas quando houve aquela decisão mesmo em relação ao Breaking? Tipo: “É isso que eu quero para a minha vida”? Porque afinal, você cresceu no meio do samba e da capoeira e também era bom no futebol, daí o nome Pelezinho. Mas quando ficou claro que era o Breaking?
Pelezinho: Em relação ao futebol, foram os amigos do meu bairro que me deram esse apelido na época da escola, porque eu não era o craque e tal (risos), mas jogava bem. E o Breaking eu peguei gosto pela dança, pelos treinos e era algo incrível que eu estava vivendo, eu gostava muito de praticar. As informações já estavam começando a chegar de alguns eventos, surgia alguns convites e comecei a gostar muito do que eu estava vivendo.
BW: Você teve apoio da família quando decidiu se dedicar à dança?
Pelezinho: Naquela época, minha avó não tinha informação, ela estava meio preocupada de eu ficar pela rua, ficar dançando no coreto da cidade com uns caras… Então, eu não tive um apoio, demorou um tempo para que ela entendesse o que eu estava fazendo, mas natural, às vezes eram costumes daquela época, estamos falando de 1995, não existia informação direito como se tem hoje. Realmente ela se preocupou, achando que eu iria por um caminho errado, mau. Mas eu insisti muito e hoje ela fala: “Meu neto é um exemplo!”.
BW: Fale da relação da Capoeira e do Breaking na sua vida. Um completou o outro?
Pelezinho: A relação minha com a Capoeira foi dentro de casa, né? Meu tio era mestre de Capoeira, meu pai era mestre de Capoeira e eles tinham a academia deles e tal e eu fui influenciado, porque eu nasci naquele meio. No meio das músicas, no meio da Capoeira… E eu acredito que a Capoeira tem muita ligação com o Breaking, vários movimentos são semelhantes, tem musicalidade e quando eu comecei a dançar Breaking, realmente alguns movimentos do Breaking foi muito fácil de aprender graças à Capoeira. Eu tive bastante facilidade para aprender o Breaking, claro que teve alguns movimentos que tinham uma dificuldade a mais, porém, falando de equilíbrio, de firmeza, de movimentação de giro, para mim foi mais fácil, então, resumindo, eu fui influenciado pelo meu pai e pelo meu tio, eu só pratiquei a Capoeira por um determinado tempo, eu não peguei corda, não segui da forma que tinha que ser, mas eu tenho um baita respeito pela Capoeira e ela foi fundamental na minha adolescência.
BW: Houve pessoas na dança que o ensinaram e o ajudaram e que também foram inspiração e referência para você? Parece que teve um B-Boy que você admirava muito e tinha o desejo de um dia conhecê-lo pessoalmente. Quem era? E de que país ele é? Esse encontro já aconteceu?
Pelezinho: Ah, sim! Eu falo que no Breaking eu tive essas pessoas, primeiro o amigo que me convidou para praticar na casa dele, depois umas outras pessoas da época, que hoje já nem praticam mais, mas eu tenho, sim. Quando eu vi esse cara dançando, ele se chama B-Boy Remind, um dos fundadores da Style Elements Crew, da Califórnia. Quando esse cara apareceu para nós nos eventos nos Estados Unidos, o Battle of the Year, foi um dos primeiros vídeos que eu vi dele, eu vi o estilo dele dançando e eu acredito que ele mudou todo o cenário da dança, principalmente no Breaking pois ele introduziu um estilo mais carismático, envolvendo alguns passos de House e eu gostei muito disso. E eu tenho um sonho de conhecê-lo. Até hoje eu viajei o mundo e não tive a chance de conhecê-lo, conheci alguns membros da Crew dele, mas ainda não o conheci. E um dia ainda eu vou conhecê-lo, se Deus quiser!
BW: Quando começou a participar e ganhar eventos de Breaking? Que eventos foram especiais para você, antes da Red Bull, é claro? Que conquistas foram memoráveis?
Pelezinho: Eu participei de muitos eventos na minha vida! Mas, um dos que eu mais gostei, foi um que era relacionado a esportes radicais, ele foi feito dentro do Ibirapuera e eu fui campeão do 1vs1, tiveram outros eventos que eu não ganhei, mas foram muito legais. Uma vez eu estava de jurado na Batalha Final e aí eu fiz uma batalha muito memorável. Estava eu e Chaveirinho, nós batalhamos por um bom tempo dentro do evento e aí, depois, nós acabamos fazendo vários trabalhos pelo Brasil, a gente era meio que inimigo antes do BC One, mas claro, o maior reconhecimento internacional foi o Red Bull BC One de 2005.
BW: Sim, falando do ano de 2005, como chegou na final mundial da Red Bull, que aconteceu na Alemanha? Como foi aquela sua primeira viagem para fora do país e o que sentiu naqueles minutos que teve que representar o Brasil numa terra tão distante e diferente?
Pelezinho: Quando eu fui convidado pela Red Bull BC One, eu não tinha noção do que poderia acontecer… Claro que alguns B-Boys que estavam ali eu já via pela fita k-7, pelos DVD´s que já estavam rolando, então, tinha B-Boys que eu admirava, o Lilou já estava despontando na Europa e quando eu cheguei na semifinal, pra mim foi uma batalha apenas, só que eu só fui entender a proporção do que aconteceu comigo quando eu retornei para o Brasil, depois da repercussão que teve e a vivência que eu tive lá na Alemanha, em 2005, foi incrível, pois era tudo novidade pra mim, então, foi a primeira vez que eu saí para fora do país, um evento como aquele, era a segunda edição dele, deu um ‘boom’ na dança… Então, pra mim, foi muita experiência, aqueles 5 dias que eu fiquei em Berlim foi só aprendizado, uma bagagem incrível para poder entender o que poderia vir logo em seguida. Na final mundial em 2006, no Brasil, eu já estava classificado nesse período, eu fui conhecido mundialmente mesmo eu não sendo o campeão, porque na época ainda existia primeiro, segundo, terceiro e quarto lugar. Esses quatro eram classificados automaticamente para o próximo ano, então pra mim foi incrível!
BW: Falando ainda de 2005, como foi batalhar com o B-Boy italiano Cico?
Pelezinho: Então, a minha primeira batalha foi com o Cico, um cara que estava se destacando muito pelos Power Moves que ele vinha fazendo e, principalmente, o Giro de Mão, ali foi uma grande pressão. Como foi a primeira batalha minha, num palco daquele, numa estrutura daquela, pra mim ali foi difícil de verdade! Depois que eu passei do Cico, fui passando… aí eu cheguei na semifinal com o Hong 10, ali eu já estava mais confortável, mas ao mesmo tempo, né [sic], tive alguns errinhos, acabei esquecendo um movimento. O Hong 10 ganhou de mim naquela noite e ele fez a final com o Lilou.
BW: O que sentiu e como foi a sensação de ter chegado tão perto de vencer o mundial? Fale da repercussão de ser o primeiro brasileiro a participar de uma final mundial? Isso fez diferença na sua vida?
Pelezinho: Eu, naquela época, na hora que eu perdi, eu falei: “Nossa! Puxa! Eu quase fui para a final!”. Então, deu aquela frustradinha no momento, mas na verdade, como tinha terceiro e quarto, eu nem pensei muito! Eu só fui pensar mais quando retornei ao Brasil, realmente passou um tempo até a galera descobrir, porque naquela época as informações não chegavam como hoje, que você pode ver ao vivo, demorava um tempinho para chegar as informações dos eventos. O You Tube estava começando, pelo menos para nós aqui do Brasil, aí depois que a galera descobriu, saiu o DVD, aí a repercussão foi uma loucura! A prova disso que até hoje as pessoas lembram, pessoas que não são da dança, pessoas que me encontram na rua, sempre tem um que lembra e fala que assistiu o DVD da Red Bull BC One.
BW: Pelezinho, depois você já viajou para muitos países pelo mundo. A ginga do B-Boy e da B-Girl do Brasil é um diferencial? O que os gringos esperam ver quando tem um B-Boy brasileiro ou uma B-Girl do Brasil numa competição?
Pelezinho: Desde quando os brasileiros começaram a competir no circuito europeu e, principalmente, nesse período de 2005 pra cá, é natural os gringos verem algo diferente, então, eu cheguei com um pouco mais de movimentos acrobáticos, misturando tudo com Power Move, enfim! Aí depois apareceu Neguin, então a galera sempre espera que o brasileiro chegue com um movimento diferente, mas o mais importante é cada dançarino ter o seu próprio estilo, a galera tem que pensar que o nosso passaporte é brasileiro, temos que mostrar o nosso cotidiano… É o que eu falo, a dança já foi criada pelos caras lá de fora, já tinham movimentos criados, é necessário cada um mostrar de onde vem, qual é o seu estilo de dança, a sua marca, então isso é importante.
BW: Como foi sua entrada na Tsunami All Stars e na Red Bull BC One All Stars? Fale da sua experiência dentro dessas Crews?
Pelezinho: Então, sobre a Tsunami All Stars, na verdade, nós a criamos porque na época teve um evento em São Paulo e nós queríamos batalhar e nesse período, Kokada estava sem Crew, eu estava em show com Marcelo D2, Katatau também estava praticamente sem Crew e aí nós participamos de um campeonato em São Paulo. E o Aranha era próximo de nós, porque quando o Chaveiro viajava, o Aranha cobria ou vice-versa, na época do show com Marcelo D2. Aí nós entramos em cinco no campeonato e ganhamos! E depois ficou aquela história que sempre que nós nos encontrávamos em São Paulo, dançávamos juntos e tal, aí o Katatau dançava com o Chaveiro em alguns lugares, o Aranha junto e aí nós só reunimos a Crew quando teve o convite para disputar o R16 na Coreia, quando chegou o convite dos coreanos que eram os ‘managers’ e aí foi quando o Neguin já estava próximo do Katatau, eu convidei o White e o Chuchu e montamos a Crew, aumentamos a Crew e aí participamos do R16, ficamos entre os finalistas e foi esse processo na criação da Tsunami. E o Red Bull BC One All Stars eu participei de duas turnês pela Red Bull Internacional para levar o que o Red Bull BC One estava fazendo, então, fizemos Austrália (2008), Índia (2009) e dali surgiu uma ideia, começamos a conversar com uma manager e aí demos a ideia de criar um time dentro da Red Bull e então criamos o Projeto Red Bull All Stars. Eu ajudei a criar esse projeto, eu, o Lilou e a manager e hoje está aí um dos melhores times que tem no mundo, onde estão os melhores dançarinos do mundo. Atualmente, eu não estou no time para competição, porque eu já sai do circuito de competição já tem um tempo, mas o time está aí, eu ajudei a criar e tenho muito orgulho disso.
BW: Falando um pouco mais sobre quem fazia parte da Tsunami, queria que você falasse de sua proximidade ao Kokada, que era alguém que, sem dúvida, escreveu uma história de muito valor no Breaking e tinha uma personalidade muito singular, deixando um enorme vazio quando partiu aos 35 anos, vítima de uma meningite, em 2012.
Pelezinho: Falar do Kokada pra mim é prazeroso! Porque nós vimemos juntos um período de conquistas, vou lembrar do Kokada lá atrás, quando eu fui para são Paulo a primeira vez, o Kokada já era já o grande B-Boy Kokada junto com o Careca da Detroit Breakers. O Kokada já fazia shows, ele era famoso pelo Brasil todo! E quando eu tive a oportunidade de conhecê-lo, de virar amigo dele e surgiu a história de montarmos a Tsunami, eu o chamava de “mentor”, porque era ele que cuidava das coisas da Crew e, assim, nós vivemos muitas coisas! Kokada teve a sorte de viajar também e de competir, mas no período que ele estava fazendo as coisas não existia muita informação, naquela época então, o momento que o cara estava não existia o contato do Brasil com o pessoal de fora, então, alguns gringos começaram a vir para o Brasil e justamente nesse momento nós estávamos juntos realizando sonhos, mesmo sendo de cidades diferentes. O Kokada foi incrível! O legado que ele deixou está ai e ninguém nunca vai esquecer! Ele era mesmo difícil, era um cara mais complicado (risos), ele tinha o jeitão dele, o gênio dele sempre foi forte, só que nós nos entendíamos muito bem quanto viveu conosco. Mas ele vive em nossos corações! E ele era uma baita de uma pessoa! Até hoje ele faz muita falta! E eu acredito que nos sonhos dele eu o ajudei também, tanto que a primeira viagem dele internacional para o evento R16 fomos eu, ele, Chaveiro, Katatau, Aranha, o Neguin e fizemos parte de uma geração, mas Kokada veio primeiro que nós e é isso! Muita saudade!
BW: Voltando um pouco no tempo, Pelezinho, numa outra entrevista você falou que quando começou a dançar não tinha um tênis… Décadas depois, você foi convidado para assinar um tênis junto com o Sandro Dias e, na ocasião, você falou que queria ver o Breaking e o Skate nas Olimpíadas de Paris 2024. Hoje, creio que você tenha vários tênis e o Breaking está nas Olimpíadas. Se sente realizado?
Pelezinho: Verdade, eu não tinha tênis para dançar, passei por essa dificuldade! Eram tempos bem diferentes! Mas quando eu recebi o convite do Sandro Dias para poder participar do projeto que ele estava iniciando, que ele queria ir pelo lado da cultura, da dança e ele me convidou para fazer a Colab, puxa, eu nunca imaginei isso na minha vida e aí foi quando eu falei numa entrevista que passou um filme na minha cabeça, quando ele me ligou para me convidar, ele era o dono da marca e eu aceitei na hora. Ele tinha um sócio, mas eu aceitei na hora! Hoje eu tenho um tênis assinado, modelo 1, já tem um projeto do modelo 2, já era para ter saído ano passado. Sim, graças a Deus hoje eu tenho muitos tênis (risos) e sobre as Olimpíadas é uma coisa que nós não imaginávamos que pudesse acontecer, ter o Breaking nas Olimpíadas. Eu sou a favor! Eu acho que está aí, já está concretizado, eu acredito que é mais uma porta se abrindo dentro do cenário da dança mundial, muitas pessoas terão oportunidades. Eu sei que aqui no Brasil têm acontecido muitas conversas, mas as coisas negativas devemos deixar para trás e pegar as coisas positivas das pessoas que têm o mesmo interesse, que isso possa trazer mais informação para quem não tem e isso vai agregar muito para a nova geração. Eu costumo falar para a galera que não é porque eu não tive lá atrás que eu deva embarreirar a nova geração, eu sou a favor mesmo do Breaking nas Olimpíadas e fiquei muito feliz!
BW: Falando sobre as Olimpíadas e sobre toda a discussão em volta desse assunto, fale sobre suas impressões sobre esse elemento do Hip-Hop virar um esporte olímpico. Na sua opinião, estamos preparados para viver isso? Normalmente atletas olímpicos levam anos se preparando para uma participação numa Olimpíada. E nós, como estamos? Ao seu ver, temos B-Boys e B-Girls brasileiros prontos e bem preparados para brigar por uma medalha olímpica?
Pelezinho: Espero que com toda essa situação que está acontecendo, que o Brasil possa ter representante em 2024, porque já não teve nos Jogos da Juventude, espero que as pessoas se organizem, fazendo a sua parte e quem estiver no comando que faça de verdade, que pense no Breaking, na dança Breaking e não no próprio bolso. Pelo amor de Deus! Estamos em 2021, estamos dentro de uma pandemia, muitas coisas mudaram, muitas não serão mais a mesma coisa! Então, por favor! Precisamos fazer de verdade e principalmente para a nova geração! Olha, sendo bem sincero sobre o que vem acontecendo no Brasil, eu ando observando, não tenho participado de muitos bate-papos que estão tendo pelas redes sociais, só participei de duas que eu achei interessante e no meu olhar, o Brasil já está começando atrasado, porque eu já vou entrar: desde os Jogos da Juventude e dos simulados que tiveram na China e o Brasil não estava ali como convidado, então, estamos começando tarde, porque precisamos preparar, tem que ter mesmo toda uma estrutura, eu sei que as pessoas vão fazer do modo deles. Mas preparados na parte de dança: Sim! Temos B-Boys e B-Girls que possam disputar medalhas para o Brasil, mas tudo depende de toda a estrutura e logística que será montada aqui no Brasil, de como será, se vai convidar os B-Boys e as B-Girls direto ou se vai fazer etapas. Então, dando uma resumida, eu acho que já estamos atrás dos outros países: o Japão já tem o time pronto, a Holanda praticamente também, a França, EUA, a China… E o Brasil ainda não está! Quem estiver na frente tem que fazer de verdade! E resolver tudo o mais rápido possível, porque esse ano já descartamos praticamente, então, só sobra 2023 e 2024. Porque até o processo todo ser feito com a estrutura… Estou falando da minha visão como dançarino e como produtor e criador de eventos. Essa é a minha opinião!
BW: Verdade que você se posicionou sobre o assunto e agora faz parte da Confederação Brasileira de Breaking (CBRB). Você gostaria de falar sobre isso?
Pelezinho: Eu tive uma conversa com o Rooneyoyo e juntamente com o HP, estamos nos posicionando para participar junto com o Rooneyoyo, porque eu acho que juntos podemos conduzir coisas melhores para a nova geração.
BW: Falando sobre sua experiência como jurado… Hoje em dia, Pelezinho, você participa de muitos eventos. O que você gosta de ver numa batalha e o que você acha inaceitável na mesma?
Pelezinho: Sobre as batalhas, como jurado eu gosto de ver aqueles B-Boys e B-Girls que mostram movimentos, que sejam completos: musicalidade, criatividade, movimentos básicos. Mas eu gosto sempre daqueles dançarinos que percebemos aquela vontade de competir, que vai lá, que expressa a dança dele, que mostra movimentos surpreendentes sem errar, porque tem movimentos que jurado pega erros. Enfim, eu gosto dos completos no Breaking! Gosto de ver movimentos diferentes e interessantes para julgar, porque o nível da batalha fica avançado. E coisa que eu detesto ver é a má vontade de alguns dançarinos quando estão em competição, tem dançarino que parece que não está a fim… Aí eu pergunto: “Por que participou, então? Por que se inscreveu?” E outra coisa é essa história de questionar jurado, no passado já questionei também, só que eu acho desnecessário hoje em dia, de tanta informação que temos, nós precisamos respeitar os jurados que estão sentados ali, porque têm uma bagagem, então vamos respeitar. As pessoas precisam entender que numa competição estão sujeitos a serem julgados, então, vai lá, treina e seja o mais transparente possível para o jurado e mostra o porquê quer ser campeão!
BW: Com a pandemia e todo o isolamento necessário, o que você tem feito? O que acha das batalhas on-line? É uma tendência?
Pelezinho: Sobre a pandemia, eu acredito que foi um aprendizado para várias pessoas, estamos nela ainda! Nesse período eu tive que me reinventar, me readaptar a essa realidade que estamos vivendo. Sobre as batalhas on-line, claro que não é a mesma coisa, não é a mesma energia, de estar ali na Cypher, naquele calor todo, mas é um meio de manter a galera em atividade, em competição, até mesmo dando suporte para eles, porque teve alguns eventos on-line bacanas! Pela produção, pelo o que fizeram e acabou ajudando vários B-Boys e B-Girls, então, eu sei que isso pode continuar. Alguns eventos vão manter on-line e a pandemia é uma coisa muito triste, que ninguém imaginou que ia passar nesse plano de vida, mas ela é um aprendizado para muitas pessoas e quem não se adaptar, nem imagino o que vai fazer da vida.
BW: Você tem uma frase célebre: “O Breaking salvou a minha vida”. Comente a importância do Breaking como ferramenta de transformação.
Pelezinho: Sobre o que eu falo do Breaking ter mudado a minha vida, realmente ele mudou, ele fez uma transformação tremenda! Eu fiz coisas que eu jamais imaginei que eu iria fazer! Por meio da minha dança, eu viajei praticamente o mundo todo e sou uma pessoa conhecida através do Breaking. Financeiramente foi bom pra mim, consegui ter algumas coisas, mas o que eu mais falo é que nada disso teria acontecido se não fosse a minha vontade, a determinação que eu tive e toda a história que eu tenho há mais de 20 anos dentro do Breaking. Então, quem quer alguma coisa, principalmente dentro do Breaking, a galera nova, da nova geração, que vocês têm tudo, rápida informação, eventos, então aproveitem, porque na minha época que eu comecei a dançar nós não tínhamos nada disso! Aproveitem as oportunidades! Porque as poucas que eu tive aproveitei todas! E corri muito atrás! E foi nisso que o Breaking mudou a minha vida e pode mudar de outras pessoas também.
BW: Hoje quem é o Pelezinho? Você pensa em um dia parar de dançar?
Pelezinho: Pelezinho hoje é essa pessoa aí que a galera está vendo, que o Breaking deu uma visão de transformação e também de ajudar, porque o que venho fazendo hoje em dia é ajudar a cena, principalmente o Breaking. E sobre parar de dançar, eu não me vejo parando, como vou parar algo que amo fazer? É natural com o tempo desconectar algumas coisas, eu não me vejo competindo mais, mas eu adquiri uma bagagem que posso ajudar a nova geração aqui no Brasil.
BW: Para finalizar essa entrevista, que conselhos você daria para a nova geração de B-Boys e de B-Girls?
Pelezinho: Respeitem as oportunidades que vocês têm agora, se desejam competir, treinem para isso e aproveitem as oportunidades, que façam isso de verdade! Para aqueles que desejam uma vida de atleta, principalmente agora que têm vários eventos, Olimpíadas: se preparem! Nunca esqueçam que a nossa dança é uma cultura e se você desejar, pode viver como um dançarino atleta também, você pode se dedicar, você pode praticar, você pode se proteger. Se eu tivesse a mentalidade que eu tenho hoje, com certeza eu teria competido por mais tempo, eu também poderia ter evitado algumas lesões, porque é natural, somos seres humanos e não somos máquinas e, devido alguns anos repetindo movimentos, é natural ter um desgaste, só que de alguns anos para cá, já podemos proteger isso, então, vá atrás de uma pessoa que possa te dar uma educação física como dançarino, para que você possa ter sua vida como dançarino e, se desejar, como atleta também. Respeitem e aproveitem o que vocês têm hoje, pois tudo está mais fácil!
Fotos: Arquivo Pessoal / Red Bull Content Pool (Fabio Piva, Yassine Alaoui, Dimitri Crusz) Vídeos gentilmente cedidos pela Red Bull
Pelezinho comemora seus 20 anos de dança
B-Boys Pelezinho, Lil G e Kokada no projeto "B-Boys In Motion" - 2011
Pelezinho: #RespeitaOBreaking
Pelezinho além de B-Boy é MC, jurado e produtor
Pelezinho e o tênis com sua assinatura
Neguin e Pelezinho: geração de vencedores
Pelezinho, Lilou e Neguin
Red Bull BC One All Stars
"Mister" Kokada, Lilou e Pelezinho
Tsunami All Stars
Pelezinho
VAMOS COMPARTILHAR?
E aí, gostou da matéria? Confira mais de nossas notícias!