De Flash Break para Jabaquara Breakers, uma família unida por meio da dança e do tempo
“Naquela época tudo era diferente, as Crews eram algo que, se mexesse com um integrante, era como mexer com enxame de abelhas: todos iam para cima. E a Jabaquara Breakers tinha fome e sede de racha…” (B-Boy Tripa – Jabaquara Breakers)
Dançar Breaking? Aprender seus fundamentos? Hoje, numa simples busca pela internet, numa passagem rápida nos vídeos do YouTube ao alcance de qualquer pessoa e seus dedos, é possível por meio de tutoriais de inúmeros B-Boys espalhados pelo mundo aprender e aperfeiçoar vários movimentos. Não conseguiu pegar um movimento? É só retroceder o vídeo e começar do zero. Mas nem sempre foi assim, conta o B-Boy Tripa, da pioneira Jabaquara Breakers: “Éramos bem jovens, porém muito ligados à música, costumávamos andar com pessoas mais velhas que nos encaminharam nos bailinhos dos vizinhos e nos trouxeram a ver vídeos e filmes e um programa que chamava Realce, se não estou enganado e num desses vídeos, vimos uma “dança diferente, tipo que mexe com a gente”, um clip do Michael Jackson fazendo aqueles passos tipo robô, era algo surpreendente… foi quando vimos o filme “Beat Street”, aqueles caras fazendo aqueles passos com alegria e suavidade e ao mesmo tempo com muita raiva, com vontade de vencer… nossa, relatar isso me faz viajar no tempo, onde entrava na primeira seção do cinema e só saía na última (naquela época isso era possível) vendo e revendo o filme “Beat Street” e tentando fazer alguns passos no corredor, o “Breaking” era uma febre. No começo, nem sabíamos o que era B-Boy, éramos mesmo conhecidos como os meninos que dançam Breaking ou dança Robozinho, esta evolução e conhecimento veio anos depois e o nossos grandes desafios era mesmo dançar e sermos melhores no que fazíamos, mostrando que o Breaking e a Cultura Hip-Hop nada tinha a ver com uma febre, mas com uma cultura cada dia mais sólida…”.
O Portal Breaking World, mesmo nesses tempos difíceis de pandemia não pára e conversar com a Crew Jabaquara Breakers foi uma viagem ao túnel do tempo, confira tudo que rolou na entrevista:
BW: Queria que vocês nos contassem quando e como surgiu a Crew Jabaquara Breakers? Que tempos eram? Como a sociedade via a Cultura Hip-Hop e seus elementos? Vocês sofreram muito preconceito?
Jabaquara Breakers: Acreditamos que a Jabaquara Breakers surgiu como todas as outras Crews; éramos bem jovens, porém, muito ligados à música, costumávamos andar com pessoas mais velhas que nos encaminharam nos bailinhos dos vizinhos e nos trouxeram a ver vídeos e filmes e um programa que chamava Realce, se não estou enganado, e num desses vídeos vimos uma “dança diferente, tipo que mexe com a gente”, um clip do Michael Jackson fazendo aqueles passos tipo robô, era algo surpreendente… foi quando vimos o filme “Beat Street”, aqueles caras fazendo aqueles passos com alegria e suavidade e, ao mesmo tempo, com muita raiva, com vontade de vencer… nossa, relatar isso me faz viajar no tempo, onde entrava na primeira seção do cinema e só saia na última (naquela época isso era possível) vendo e revendo o filme “Beat Street” e tentando fazer alguns passos no corredor. Fantástico, isso 83, 84 e como todas as Crews tínhamos o nome americanizado de Flash Break, neste momento não sabíamos que o “Breaking” fazia parte de uma Cultura chamada Hip-Hop, somente mais para frente, depois de muitas pesquisas, vimos a ter esta informação. E também não tivemos preconceito ainda nesta época, pois o “Breaking” era uma febre. Tanto que, em 1984, teve o primeiro festival de “Breaking” na Praça da Sé, onde participamos e conhecemos uma pessoa que gostou tanto da nossa dança que nos fez um convite para fazermos shows no Interior de São Paulo e Sul de Minas, viajamos por diversas cidades como Bauru, Agudos, Machado, Poços de Caldas, etc., éramos uma celebridade, porém muito pequenos. E, sim, depois que a febre do “Breaking” passou, tivemos que suportar muitos preconceitos, mas superamos todos com muita sabedoria.
BW: Onde vocês se encontravam, se reuniam para dançar e treinar?
Jabaquara Breakers: Por muitos anos, treinamos na estação Conceição do Metrô, tínhamos também um local que era nosso QG, que carinhosamente chamávamos de “Byongo”, neste local estiveram gente de todo o Brasil e do exterior também, até um b-boy da Rock Steady Crew esteve lá, passou o famoso e conhecido mundialmente o grafiteiro Eduardo “Kobra”, que era um integrante da Jabaquara Breakers e treinamos também no Ibirapuera, no final dos anos 80, começo dos anos 90, tínhamos também um espaço nos domingos no Centro Cultura do Jabaquara, onde existe até hoje o “Sítio da Ressaca”, conhecido como acervo afro-brasileiro, administramos muitas aulas de Graffiti, Breaking, Discotecagem e Posicionamento de Palco, trouxemos muitos artistas neste espaço, como Dona Ivone Lara, grupos de Rap como Filosofia de Rua, Black Panters, entre outros, muitos subiram no palco pela primeira vez aqui. E realizamos a primeira festa em São Paulo, direcionada exclusivamente para a Cultura Hip-Hop, para B-Boys e B-Girls mesmo, onde só se tocou músicas para se dançar Breaking, na Sede do Acadêmico.
BW: Quem foi o fundador do grupo? Como era ser B-Boy naqueles dias? Quais eram os grandes desafios?
Jabaquara Breakers: Tivemos como fundador o Paulo (Baleia), Moisés (Guetho), o Rogério (Tripa), Vandervam (Nego), Reginaldo (Neno) e o famoso DJ Maguila (R.I.P.), com o nome de “Flash Break”, porém, no começo dos anos 90 sentimos a necessidade de trocar o nome por um nome nacional, por ter muitos B-Boys vindos de outros estados e regiões e, nesta transição, tivemos como referência para decidir o nome o “Quilombo do Jabaquara”, que existiu no “Sítio da Ressaca”, já que estávamos estudando muito para realizarmos nossas palestras nas escolas, casa de cultura, éramos os únicos na época a fazer este trabalho e somaram aos nomes já mencionados o do Júlio (PEX) e do Eduardo (DJ Edu), para se tornar a Jabaquara Breakers conhecida hoje. No começo, nem sabíamos o que era B-Boy, éramos mesmo conhecidos como os meninos que dançam Breaking ou dançam Robozinho, esta evolução e conhecimento veio anos depois e o nossos grandes desafios eram mesmo dançar e ser melhores no que fazíamos.
BW: Como se aprendia a dançar Breaking na época de vocês? Vocês recebiam influências do que acontecia fora do país? Como as informações chegavam?
Jabaquara Breakers: Como já disse anteriormente, não tínhamos nenhum conhecimento, a não ser o que víamos na TV ou vídeos, principalmente alguns que meu patrão naquela época trazia dos EUA para mim, então, pegávamos o vídeo-cassete, instalávamos na garagem da minha casa e apertávamos o play (risos), mas nunca dava para pegar na primeira vez, então, voltávamos a fita por diversas vezes, até pegar o passo pretendido. Era bem difícil, não havia internet, as informações eram de B-Boy para B-Boy mesmo e acabávamos machucando muito por treinar, às vezes, do jeito errado. As Crews residentes da São Bento, Back Spin, Street Warriors, Crazy Crew e Nação Zulu, tinham mais informações e, por isso, eram bem respeitados, mas estavam no estúdio gravando o LP “Cultura de Rua” onde tivemos, juntos com a Fantastic Force, de se envolver mais na Estação São Bento e, por sinal, um dos discos mais importantes direcionados ao Hip-Hop no Brasil.
BW: Havia muita rivalidade entre as Crews brasileiras? Jabaquara Breakers, Street Warrios, Back Spin e muitas outras. Como era essa relação entre as Crews? Existia aquela Crew que era a grande rival de vocês?
Jabaquara Breakers: Sim, existia muita rivalidade, sim, todas queriam sair vencedoras de suas batalhas e a Jabaquara Breakers não era diferente, porém, havia muito respeito também e desde que começamos a fazer nossos trabalhos de palestras, éramos visto com outros olhos e muitas das Crews vieram a nos ver como referência nacional e acho que não tinha uma Crew em especial como rival, mas sim, tivemos momentos únicos. Acho que um racha com a Red Crazy Crew de Santos, que até nas lentas não paramos de dançar e outra foi no Palmeiras, com um público de 10 mil pessoas, onde chegamos todos de agasalho e fomos invadindo a roda e batalhamos com todos ali presentes, terminando o racha em cima do palco, foi épico! (Ficou parecendo o grande racha do filme “Beat Street”). E, também, não posso deixar de dizer sobre o famoso Club House, em Santo André, pois ali sempre que possível, nas horas vagas, estávamos lá, pois sabíamos que além das músicas boas ali tocadas, teria algum “Break” para racharmos, lembrando que nestas épocas diferenciamos os B-Boys, hoje popularmente ditos como dançarinos de Breaking aéreo ou Breaking de chão.
BW: Onde aconteciam as batalhas de Breaking? E o que se mostrava nas rodas? Que movimentos eram mais comuns naquela época e mostravam conhecimento e habilidade de um B-Boy?
Jabaquara Breakers: Naquela época tudo era diferente, as Crews eram algo que, se mexesse com um integrante, era como mexer com enxame de abelhas: todos iam para cima! E a Jabaquara Breakers tinha fome e sede de racha, pra nós não tinha lugar, qualquer lugar era lugar (risos) e por ser diferente dos dias de hoje, começando pelos abrigos, tínhamos no grupo especialistas em cada movimento, era desta forma as batalhas, então, a gente já se conhecia e sabia os movimentos de cada um, então os rachas acabavam, tipo, quem fazia mais voltas nos movimentos, tipo, nas tartarugas, moinhos de vento e giros de cabeça, bem diferente dos Power Move dos dias de hoje, eram poucos dançarinos que faziam todos os movimentos com perfeição.
BW: Nos fale da formação do Jabaquara Breakers. São os mesmo B-Boys desde a década de 80? Ou já tiveram várias gerações? Fale também das ações sociais que já tiveram envolvidos?
Jabaquara Breakers: Não tem como falar da formação da Jabaquara Breakers, pois já chegamos a ter com palestrantes, grafiteiros, MC’s, DJ’s, B-Boys e B-Girls mais de 70 integrantes e, costumamos dizer, uma vez Jabaquara sempre será um Jabaquara, uma família verdadeiramente, passaram diversas pessoas, onde cada um foi seguindo seus caminhos, mas somos orgulhosos de saber que passaram aqui no grupo grafiteiros como Kobra, o Cyracks, ator como Da Antiga, que fez o filme “Profissão MC”, entre muitos outros e temos até hoje contatos e respeito um pelo outro e sempre nos ajudando. Agora, falar de obras sociais, isto é impossível, pois fazemos até hoje, basta saber de uma necessidade de alguém que já estamos lá para ajudar de alguma forma, temos integrantes que frequentam a Cracolândia, mesmo nos dias de hoje, com pandemia e tudo; nos anos 90, fizemos tanto show de graça, por simplesmente sabermos que era para um orfanato ou um asilo, era e é o nosso prazer fazer o social, está em nosso sangue, na nossa alma.
BW: No Jabaquara Breakers tinham também B-Girls?
Jabaquara Breakers: Sempre tivemos B-Girls no grupo e ainda as tínhamos como grande representantes das mulheres, dávamos toda força, física e moral para elas. Fomos os únicos a se apresentar no Festival da São Bento com uma Crew só de mulheres, as Jabaquara Breakers Girls e isso incentivou várias meninas a dançarem, também formamos outros grupos de garotas em outras regiões. Saíram até na revista Carícia e várias reportagens de jornais e, até hoje, são chamadas para falarem destas proezas e como é ser mulher no mundo do Hip-Hop.
BW: Quem são hoje os Jabaquara Breakers? Qual a atual formação?
Jabaquara Breakers: A Jabaquara Breakers hoje praticamente são as mesmas pessoas, porém, cada um leva sua vida normalmente, temos muitos espalhados por todo o Brasil e pelo mundo, como disse anteriormente, temos B-Boys do Ceará, Minas, Goiânia, por isso fica meio difícil de unirmos todos como antigamente, porém, cada um representante, faz o que pode e da maneira que pode, principalmente pelo social, numa palavra de conforto ou numa cesta básica, por exemplo. Somos uma família unida e pronta para ajudar.
BW: De 1983 aos dias de hoje, muita coisa mudou no Breaking? Quais as mudanças que vocês reconhecem como positivas e quais acham que foram negativas?
Jabaquara Breakers: Na vida, tudo muda… quando você nasce, não sabe andar, não sabe falar, etc., e, aos poucos, você começa a dar as primeiras engatinhadas, as primeiras passadas e o Breaking é a mesma coisa, no começo apenas dançava Breaking, depois, descobrimos que era uma dança que fazia parte da Cultura Hip-Hop, tivemos que estudar e muito para saber e ter o conhecimento do que era esta cultura, porém, não tínhamos meios para isso, informações eram precárias, batalhamos muito para obter tal conhecimento, não tinha internet, não tínhamos dinheiro, dançávamos na rua para arrecadar alguns trocados para comprar pilhas para o Box e filmes, para tirar algumas fotos, tanto que nem isso era tão importante para nós naquela época, pois mal tínhamos condições de ter uma câmera fotográfica e, quando tínhamos, teria que arrecadar mais dinheiro para revelar o filme. Os dias de hoje são outras realidades, temos internet, celulares que fazem vídeos e fotos, muito melhores do que no passado e, se não ficar boa, tira de novo, não custa nada… não vou enumerar as mudanças, mas acredito eu que a maior mudança eram as dificuldades que tínhamos em conseguir as coisas, de ter conhecimento e, hoje, é tudo mais simples, mais prático, está tudo aí pronto, vimos sim evolução na dança, nas técnicas, etc., mas, no geral, a dificuldade de antes era conseguir conhecimento. E as negativas, acho que é está facilidade de conseguir as fotos, informações disso ou daquilo, tudo se acha na internet, lembro que para eu aprender a fazer o moinho de vento, um B-Boy na época me disse, mostrando seus ferimentos no ombro e lombar: “quando você estiver com estes hematomas, você volta aqui para falar comigo!”. Olha só a situação e hoje basta digitar, não precisa nem ser no computador, no celular mesmo, em qualquer lugar e perguntar como fazer o moinho de vento. Pronto! Vai estar lá toda informação técnica, com câmera lenta e posições. Fácil não? E isso deixa muitos B-Boys preguiçosos em procurar e ter maior conhecimento de como surgiu isso ou aquilo.
BW: Vocês também frequentavam a São Bento? O que significa aquele local para vocês?
Jabaquara Breakers: Sim, não só frequentamos como também por algum tempo fomos responsáveis por ela, com uma autorização por escrito da diretoria do Metrô, pois sempre fomos recebidos ali como invasores e, por muitas vezes, fomos expulsos do local, os B-Boys não eram bem vindos ali. Ajudamos na realização do Festival São Bento, juntamente com as outras Crews. A São Bento é como o quintal de minha casa, a São Bento não era naqueles tempos um mar de rosas, como é nos dias de hoje, por ali vimos acontecer muitas coisas e evitamos muitas coisas também, tiveram muitas discussões, muitas brigas e até separação, onde veio a nascer a Praça Roosevelt, que foi frequentada pela Jabaquara Breakers também, mas a São Bento é um local sagrado, pois todos queriam conhecer e pisar naquele lugar, seja do Brasil ou do exterior, ali era e é mágico, é contagiante, pois ali trocávamos ideias, conhecimento, informações, mas tinha um detalhe: somente era trocado se alguém tivesse algo a nos oferecer também, senão ficava guardado à sete chaves, éramos infantis e egoístas (risos), isso acontecia com todo mundo, ninguém dava sem receber algo em troca. Mas, com o tempo, isso foi mudando e as nossas mentes foram se abrindo, transformando, e começamos a entender que teríamos que dividir e passar conhecimento, pois isso era a Cultura Hip-Hop que todos ali estavam envolvidos, por diversas vezes ficamos ali, até altas horas da noite, trocando ideias, era algo que só quem viveu sabe do que eu estou falando. A São Bento foi um grande aprendizado nas nossas vidas, como pessoas mesmo, pois íamos bem pequenos se divertir como uma criança vai a um parque infantil e, ao passar dos anos, descobrimos que ali era uma escola, uma faculdade de conhecimento e vendo hoje, olhando para trás, descobrimos que somos todos ali uma grande família e a São Bento os nossos pais.
BW: Como vocês veem o Breaking de hoje em dia? Os grandes eventos? Os movimentos que são feitos hoje, tanto por B-Boys como por B-Girls espalhados pelo mundo? O que acham da nova geração, que cada dia chega mais cedo nas rodas?
Jabaquara Breakers: Nossa, hoje tem movimentos que nem no sonho achávamos que era possível realizar, mas é a evolução, é a modernidade, existe no mercado inúmeros eventos, alguns feitos por pessoas aproveitadoras e outros não, porém, devemos nos lembrar de onde veio o Breaking, qual foi sua origem e no que ele faz parte. Nós viemos do começo, somos um “Old School”, as nossas origens sempre prevalece, sempre dançamos por respeito de gostar e amar a Cultura Hip-Hop e hoje muitos nem conhecem a Cultura Hip-Hop, dançam por três, quatro, cinco anos apenas para ganhar dinheiro e não por amor! É importante, sim, começar a dançar cedo, sua evolução acontece mais cedo, é como uma criança recém-nascida que antigamente levava uma semana ou duas para abrir os olhos, hoje eles já nascem de olhos abertos, quase falando e o Breaking também é assim, já começam cedo a despertar para a dança e sobre as B-Girls sempre fomos a favor delas dançarem, elas são capazes de fazer os mesmos movimentos dos homens.
BW: Em 2019, o Comitê Olímpico internacional recomendou a inclusão do Breaking nas Olimpíadas de Paris em 2024. Então, começou uma discussão sobre o assunto por aqueles que são contra, alegando que poderia perder a essência da cultura e por outros, na maioria mais jovens, que veem como algo positivo, sendo mais uma grande oportunidade de mostrar a cultura das ruas para a sociedade e mudar conceitos errados. O que vocês pensam sobre isso?
Jabaquara Breakers: A modernidade existe e está aí, tudo evolui, os verdadeiros B-Boys da Old School sempre vão levar na sua mente de onde veio e porque existem as batalhas, lembrando que veio dos guetos dos EUA, das rivalidades das gangues, já os mais jovens não estão interessados em ter este conhecimento e vão olhar mais para o lado financeiro, esportivo e de fama, pouco provável que irão se lembrar que o Breaking faz parte de uma cultura linda chamada Hip-Hop. Não generalizando.
BW: O Breaking continua salvando vidas? O que o Breaking significa na vida de vocês?
Jabaquara Breakers: Sim, com certeza, não só o Breaking, mas a Cultura Hip-Hop salva vidas ou, pelo menos, muda! Tenho vários exemplos sobre isso, tanto que minha vida foi mudada, que estou hoje eu B-Boy Tripa aqui, participando desta entrevista… Olha meu amigo, irmão Kobra, começou na Jabaquara Breakers e hoje é conhecido mundialmente, olha Os Gêmeos, Racionais MC’s, Doctor’s MC’s, poderia citar vários nomes, vários B-Boys que dançam pelo mundo representando o Brasil, como Pelezinho, Katatau, entre muitos outros, a sua filha que é uma B-Girl nos representando também, o que seria dela se não fosse uma B-Girl? O espaço está aí, basta ter inteligência e vontade de vencer que algo você poderá produzir na Cultura Hip-Hop, seja grafitando, seja rimando, seja escrevendo, seja dançando, fotografando, discotecando ou produzindo…
BW: Como vocês imaginam que será o futuro da Cultura Hip-Hop e de seus elementos?
Jabaquara Breakers: O que imaginamos é que um dia a Cultura Hip-Hop seja vista como uma cultura que veio para mudar a vida de muita gente, pois nos dias atuais muita gente não acredita na beleza desta cultura, porém, sabemos que ela é responsável por muitos não estarem nas ruas, roubando ou algo parecido, ela abriu as portas de muitos empregos, hoje dentro da cultura temos pessoas que trabalham com roupas, com vídeo e fotografia, são escritores, artistas plásticos, produtores musicais, grafiteiros, rappers, MC’s, B-Boys e B-Girls! Ufa! É tanta coisa! Onde estaria todo este pessoal empregado? O que fariam de suas vidas?
BW: Todos do Jabaquara Breakers ainda dançam? Vocês pensam em parar?
Jabaquara Breakers: Na verdade, hoje não dançamos mais, a grande maioria está acima dos 50 anos (risos), o que fazemos é se divertir com o que conseguimos fazer nos dias de hoje e não pretendemos parar, pois sempre estamos aprendendo algo e também passando nossos conhecimentos com nossa vivência.
BW: Cite, por favor, 10 nomes que na opinião de vocês fizeram toda a diferença na história do Breaking brasileiro?
Jabaquara Breakers: Nossa! Aí fica complicado, pois podemos deixar alguém de importância fora e não queremos ser injustos, podemos dizer que tiveram vários B-Boys em anos e em momentos e tempos diferentes, de muita importância e por todo o Brasil.
BW: Que mensagem vocês deixariam para a nova geração de B-Boys e de B-Girls?
JB: Estudem e lutem pelos seus ideais e seus objetivos e seus sonhos serão realizados. Não posso deixar de mencionar que nos anos 90 ganhamos todos os prêmios possíveis, tivemos o privilégio de dançar em quase todas as redes de televisão, termos conhecido a Rock Stead Crew, que foi nossa grande inspiração e sermos inspiração para muitos, tivemos umas das nossas letras de música publicadas no primeiro livro do gênero “ABC RAP”, fomos os primeiros grupos de rua a participar do ENDA, temos o orgulho de termos sido reconhecidos como a verdadeira escola do Hip-Hop.
Fotos: Arquivo Pessoal