Em sua 18ª edição, um dos mais tradicionais torneios mundiais de Breaking retorna ao Brasil depois de um ano sem acontecer por causa da pandemia. Com inscrições abertas a partir desta segunda (30), o Red Bull BC One reunirá os mais talentosos dançarinos para mais uma disputa de alto nível. As inscrições podem ser feitas por meio do site www.redbull.com.br/bcone. Para conectar os mais talentosos dançarinos do país, o evento conta com seletivas regionais, as chamadas “Cyphers” – que, neste ano, não permitirão a presença de público – nas cidades de São Paulo (SP), Fortaleza (CE), Curitiba (PR) e Brasília (DF). Os 16 B-Boys e 16 B-Girls que se destacarem nesta primeira fase se enfrentarão na Final Nacional, visando à uma vaga por categoria na etapa mundial do evento, que ocorre na Polônia, em novembro. A disputa deste ano, que conta com a participação de mais de 30 países, marca a primeira edição após a entrada oficial da modalidade no maior evento multiesportivo do mundo: as Olimpíadas. No júri da etapa nacional, conhecidos nomes avaliarão os dançarinos brasileiros, como o B-Boy Pelezinho, lenda do Breaking e figura presente na cena há mais de 20 anos; o B-Boy Neguin, colecionador de diferentes títulos mundiais; e a veterana B-Girl FabGirl. O Portal Breaking World não poderia deixar de falar sobre esse grande evento e para sabermos detalhes convidamos o B-Boy Pelezinho para mais uma animada conversa sobre a 18ª edição da Red Bull, os principais detalhes e dicas para quem pretende participar, falamos sobre Cyphers regionais, o nacional e o evento mundial, sobre o Breaking nas Olimpíadas e o recente interesse de novas marcas nesse elemento do Hip-Hop e, também, olhamos para o futuro falando da nova geração. Bom, vamos a mais essa entrevista que está show porque esse ano, segundo o Pelé, “o chão vai estalar e o bagulho será louco na BC One”.
BW: Pelezinho, o Campeonato da Red Bull BC One chega a 18ª edição. E num tempo de Pandemia! Fale um pouco da preparação desta edição, dos cuidados que estão sendo tomados e como vai acontecer em todos os estados e na final nacional e mundial… Afinal, foi um ano sem acontecer no Brasil…
Pelezinho: Sim, é a 18ª Red Bull BC One, é uma vida né? Ficamos um ano sem ter o evento devido a pandemia, mas esse ano, graças a Deus, vamos ter a oportunidade de ter a Red Bull BC One Cypher Brazil. Sim, estamos tendo todos os cuidados, em todas as cyphers os dançarinos que estiverem inscritos serão testados para Covid-19. Serão só os dançarinos, jurados, DJ’s e MC ́s e a galera que vai estar trabalhando, então, serão pouquíssimas pessoas e na parte internacional eu também acredito que será isso na final mundial. Só os dançarinos e o pessoal envolvido. Lá na Polônia, eu acredito que, por ser um país menor, a situação está controlada, pode até ter algumas pessoas assistindo, mas aqui no Brasil serão só dançarinos, DJ’s, MC’s e profissionais envolvidos.
BW: Na sua opinião, qual o nível de competidores esperado nesse evento? Pois se por um lado houve tempo para treinar, por outro houve várias dificuldades, falta de espaço, locais fechados antes usados para treinos, ausência do contato humano em outros eventos, alguns tiveram Covid-19, outros deixaram de treinar por medo de contrair a doença…
Pelezinho: Nesse tempo de pandemia foi complicado para a galera que vive da dança, que depende de eventos, de projetos, de competições, eu sei que foi difícil para muitos e ainda teve pessoas que perderam familiares, aqueles que pegaram o vírus, foi complicadíssimo. Mas teve um lado bom dessa parte, a galera teve tempo para pensar, tempo para entender o que estamos vivendo mesmo que com dificuldades. Eu acredito que muitos tiveram a possibilidade de praticar solo para poder entender alguns movimentos que eles não estavam fazendo ou que eles estavam criando uma transição, então tem esse lado e também justamente por ter ficado tanto tempo sem evento… Teve eventos on-line, mas sem dúvida é diferente! E agora com o Red Bull BC One, eu acredito que os dançarinos vão pegar todo esse tempo, toda essa energia contida e vão jogar nessas batalhas que vão ter. Então, eu acredito que o nível será alto este ano!
BW: Que exigências vão existir por parte da Red Bull para os que vão participar da Cypher e depois da nacional e do mundial? Você já falou dos testes mas serão exigidos cartão de vacina? Uso de máscaras?
Pelezinho: Em relação a competição aqui no Brasil, quem fizer o teste e estiver okay, dança! Quem der positivo, volta para casa! Vai ter um local especifico onde vai ficar a galera que vai participar e vai ser separado as meninas e depois, os meninos, para não ter aglomeração. Vai ter que usar mascara no local onde eles estiverem, mas na hora da batalha não, a não ser se o dançarino desejar usar. Em relação a Polônia, acredito que até lá alguns dançarinos já estejam com as duas doses da vacina e não terá problema.
BW: Em que local será a Cypher São Paulo?
Pelezinho: Nesse momento eu ainda não sei onde será a Cypher São Paulo. Mas logo mais já teremos as informações e as pessoas devem ficar de olho! Agora, vamos seguir com as Cyphers Fortaleza, Brasília e Curitiba.
BW: Novamente como jurado. Fale um pouco do seu critério de julgamento e os pontos que leva em consideração na hora de avaliar a performance de um dançarino? No meio do Breaking fala-se de tudo e muitas vezes de todos a afirmação que “Quando o Pelé não gosta de alguém, essa pessoa não entra!”, como você se sente quando escuta coisas assim? Que recado você daria para as pessoas que pensam assim?
Pelezinho: Você viu, né? Mais uma vez como jurado! É muita responsabilidade todos esses anos, então, eu acredito que estou fazendo um bom trabalho para ser jurado por tantos anos! Sobre os critérios, todos sabem que é musicalidade, criatividade, os movimentos bem executados, mostrando algo bonito para os jurados. São três cabeças pensando diferente, mais ao mesmo tempo, focados na dança Breaking, então, cada um sabe o que tem que fazer. O mais importante é ir lá e mostrar o porquê você está ali e o porquê você quer ser campeão, então, ganha! Quando as pessoas falam que o Pelé é isso ou aquilo: gente! Eu não sou o dono da Red Bull, eu sou só uma pessoa que tenho uma história dentro da empresa, eu fui o primeiro dançarino [brasileiro] a competir na Red Bull 2005, de lá para cá, eu tenho um contrato com a Red Bull desde 2006, então, eu fiz muitas coisas e venho fazendo ainda. Eu não sou dono da BC One e é chato quando as pessoas pensam dessa maneira, acham que eu mando em alguma coisa, mas na verdade eu procuro o melhor para a dança no Brasil, eu procuro ajudar da melhor forma e quando tem o período que vai acontecer o Red Bull BC One, procuramos as melhores situações para poder realizar o evento, porquê o evento é para dançarinos e dançarinas e, frisando mais uma vez, eu não sou o dono da Red Bull. E o mais importante de tudo isso é o respeito e a consideração que a empresa Red Bull tem por mim.
BW: No passado, você organizou uma edição da Red Bull “Under My Wing”, focado nos jovens, existe o desejo de fazer novamente, já que a nova geração em todo o mundo cada vez está chegando mais nova e com toda força? Nas Olimpíadas, por exemplo, no Skate tivemos um pódio com nossa Rayssa e mais duas meninas que tinham menos do que 17 anos. E no Breaking também se levanta uma nova geração forte, com pouca idade, sim, mas com muito talento, vigorosa em todo o mundo, seria o momento de olhar para o futuro e fazer uma nova edição?
Pelezinho: Sobre o Red Bull Under My Wing, poxa, eu lembro até hoje, foi um dos projetos mais incríveis que eu tive a possibilidade de participar, de ajudar a criar um formato um pouco amplo, porque na época ele era voltado só para workshop e aí eu lembro que, quando chegou o projeto, chegou o convite, eu achei interessante acrescentar mais coisas, na época, porque realmente descobrimos novos talentos e 16 jovens talentos e aquilo foi incrível, foi de onde saiu o Leony, praticamente até então o Leony nunca tinha saído de Belém, ele era do Projeto Curumim e eu gostaria muito, mas muito mesmo, que tivesse uma nova edição aqui no Brasil. Poderia ser com o Neguin, pegando a história do Leony, mas o importante era ter novamente e principalmente agora, num momento como esse de Breaking nas Olimpíadas, dentro de uma pandemia, entender tudo o que essa garotada nova está passando, está vivendo, eu gostaria muito que voltasse esse projeto. Na época, só foi o Lilou que tinha feito. O que foi feito aqui comigo no Brasil foi mais amplo, eu lembro que quando eu peguei, falei: será que eu posso trazer para a minha cidade? Mostrar para eles onde tudo começou? Mostrar a minha parte dentro do Breaking? Foi um baita projeto!
BW: Depois de Tóquio, das Paralimpíadas, o foco agora é Paris 2024. E o Breaking é a bola da vez! O que você acha de outras marcas e outros energéticos neste momento estarem se aproximando da Cultura Hip-Hop e do elemento Breaking? Como a Red Bull vê isso?
Pelezinho: Sobre as Olimpíadas de Paris, já estão aí, são praticamente 3 anos. Já deu para perceber que eles vão focar bastante no Breaking, até devido as transições que eles estão querendo, que é mais a garotada, os jovens e queira ou não, na hora que a galera que não está acostumada com o Breaking ver aqueles movimentos que a gente faz, que consegue ver o mundo de ponta-cabeça (sic), o mundo girando, será demais! Desde o início, quando eu recebi as informações, eu sempre fui a favor do Breaking nas Olimpíadas, portas vão se abrir, como você mesmo, em relação às marcas. Poxa, é importante, né? Eu sei que agora vai abrir aquele leque grandão, as pessoas oportunistas para poder mostrar suas empresas, que eu que tenho mais de 20 anos dançando penso: Por quê essas marcas não poderiam ter chegado antes? Mas tudo bem, está tudo certo! A cena da dança agradece! Eles estão chegando agora! E sobre as marcas de energéticos, a Red Bull praticamente é a pioneira! Porque vem desde 2001 voltada ao Breaking! Só espero que isso tudo dure, né? Que não seja apenas uma onda! Uma pequena onda! Espero que seja uma grande onda e consiga carregar muitas pessoas. E como algumas pessoas sabem, até dançarinos que são patrocinados por outra marca de energético competem na Red Bull BC One, então, quem defende seu patrocínio a galera da Red Bull não implica, respeita, será que nos outros eventos aí se tiver eles vão também respeitar? Então, já fica essa ideia minha aí para a galera que está chegando agora de outros energéticos pensar… Respeita nossa história! Respeita nossa Cultura!
BW: Na final mundial na Polônia teremos B-Boys e B-Girls brasileiros convidados diretos a participar?
Pelezinho: Sobre o campeonato mundial eu não tenho a informação se terá algum brasileiro convidado direto, mas quem sabe né? A Red Bull sempre gosta de fazer aquele suspense e é até bom, porque a galera fica toda elétrica. Mas esse ano aqui no Brasil o bicho vai pegar! Na final nacional eu tenho certeza que o coro vai comer! (risos).
BW: A Cypher São Paulo acontece no dia 2/10 e a final nacional no dia 3/10. Olhando a proximidade das datas, isso não interfere no rendimento dos dançarinos?
Pelezinho: Cypher São Paulo dia 2 de outubro, onde vai ter aquela galera, os inscritos e no dia 3 de outubro, no dia seguinte, a final nacional. Então, quem passou, quem sem classificou, quem veio de outras Cyphers classificados, eu não vejo problema nenhum de quem está em São Paulo participar num dia e depois no outro e outra, o lado bom, serão dois dias ali e aquela adrenalina e tal. Para quem não lembra, o Leony saiu do Brasil, foi para o Japão, chegou num baita fuso horário, ganhou lá de todos os B-Boys que tinha, não dormiu direito, adrenalina estava a milhão, foi para o evento versus Taisuki, abriu o evento, fez as três entradas dele, não ganhou do Taisuki, agora, para e pensa, eu nunca escutei ele falar que estava cansado… Só uma dica que eu dou para a galera: aproveita esses dois dias, principalmente quem estiver participando da eliminatória São Paulo, se motiva nesse dia, não vem falar que está cansado, cai para dentro!
BW: Que recado você mandaria, que dicas você daria para todos que já se inscreveram ou que ainda vão se inscrever nesta 18ª edição?
Pelezinho: A dica que eu dou para quem se inscreveu ou que ainda vai se inscrever para participar das Cyphers regionais e a nacional: galera, aproveita esse momento que a gente tem, de realizar o Red Bull BC One esse ano! Muitas pessoas têm o sonho de participar desse evento. Faça por você e faça pela sua história, se é isso que você quer, então faça de verdade! Porque talvez você pegou a vaga de uma pessoa que estava querendo muito participar, essa é a minha dica. Com certeza, muitas pessoas vão ficar de fora por não ter conseguido fazer a inscrição a tempo por causa da pandemia!
O nome que consta na certidão de nascimento é Alex José Gomes Eduardo, ele não poderia ser mais brasileiro. Nasceu numa família alegre de sambistas e capoeiristas em São José do Rio Preto, interior de São Paulo.
Da infância guarda boas lembranças das feijoadas e dos churrascos em família. Criado pela avó, matriarca da família, o menino que não tinha tênis, mas que desde pequeno já mostrava habilidades diferentes e muito especiais, a famosa estrelinha no meio da testa que alguns carregam para esse mundo, filho de mestre de capoeira era bom nos movimentos do corpo e também no futebol, por isso recebeu o apelido de “Pelezinho”, mas seu destino não foi escrito num campo de futebol e nem jogando capoeira mas sim nas ruas.
As rodas que frequentava eram outras, as de Breaking, onde sua grandeza foi reconhecida e conquistada, sendo ponte para o resto do mundo.
Numa entrevista super especial e exclusiva ao Portal Breaking World, B-Boy Pelezinho, que esta semana se posicionou sobre o assunto “Breaking nas Olimpíadas”, contou sua história de vida, suas experiências, conquistas no Breaking, falou sobre a pandemia, sobre amigos que sente saudades, sobre o futuro e mostrou sua preocupação com a nova geração de B-Boys e B-Girls.
Hoje fora das competições, porém comprometido com o Breaking pelo resto da vida, ele sempre lembra: “O Breaking mudou a minha vida e pode mudar de muitas pessoas”.
Com vocês: Pelezinhoooooooo!
BW: Você é de São José do Rio Preto, correto? Queria que você nos contasse: como foi sua infância, sua adolescência e sua vida em família? Que lembranças boas guarda dessa época? Foi uma vida tranquila ou difícil?
Pelezinho: Sim, eu sou de São José do Rio Preto, nascido e criado lá. Eu venho de uma família de sambistas e capoeiristas, eu lembro que, principalmente nos finais de semana, nós tínhamos aquele momento familiar, que tinha música, almoço, churrasco, feijoada. Na infância era bem tranquilo! A minha avó é que era a matriarca da família, ela cuidava de todos! Eu fui criado pela minha avó. Mas a minha família sempre foi aquela família animada! Tenho boas recordações!
BW: E na adolescência, como foi? Quando e como teve o primeiro contato com a Cultura Hip-Hop? O que te chamou atenção nessa cultura?
Pelezinho: Na adolescência, foi um pouquinho mais complicado. Eu saí de casa cedo, era muito jovem e eu conheci o Breaking por meio de um amigo, ele esta numa Cypher aqui no centro da cidade e, na verdade, eu achei que fosse uma roda de capoeira e quando cheguei vi que era uma roda de Breaking e eu fiquei encantado com aquilo. Logo depois, ele fez uma performance na minha escola e foi quando ele me convidou, disse que eu tinha uma facilidade para dançar, a minha família era do samba, então, achava que eu teria muita facilidade. E me fez um convite para treinar na casa dele, isso foi em 1995 ou 1996. E desde então, eu tenho uma história dentro do Breaking.
BW: Com que idade você saiu de São José do Rio Preto? O que sentiu quando chegou em São Paulo?
Pelezinho: Na verdade, eu só sai da casa da minha avó quando eu fui para São Paulo. Na primeira vez foi para um evento de dança, foi aquele choque com a cidade grande, de conhecer mais a galera da dança, porque eu só ficava no interior. Mas quando eu cheguei no evento achei incrível, quando eu vi todas as Crews de São Paulo reunidas. Me lembro que quando os caras chegavam, eles já chegavam batalhando e eu pensei: “puxa, vou voltar para casa e treinar muito, pois eu não quero mais que esses caras fiquem me zoando na dança não…”.
BW: Mas quando houve aquela decisão mesmo em relação ao Breaking? Tipo: “É isso que eu quero para a minha vida”? Porque afinal, você cresceu no meio do samba e da capoeira e também era bom no futebol, daí o nome Pelezinho. Mas quando ficou claro que era o Breaking?
Pelezinho: Em relação ao futebol, foram os amigos do meu bairro que me deram esse apelido na época da escola, porque eu não era o craque e tal (risos), mas jogava bem. E o Breaking eu peguei gosto pela dança, pelos treinos e era algo incrível que eu estava vivendo, eu gostava muito de praticar. As informações já estavam começando a chegar de alguns eventos, surgia alguns convites e comecei a gostar muito do que eu estava vivendo.
BW: Você teve apoio da família quando decidiu se dedicar à dança?
Pelezinho: Naquela época, minha avó não tinha informação, ela estava meio preocupada de eu ficar pela rua, ficar dançando no coreto da cidade com uns caras… Então, eu não tive um apoio, demorou um tempo para que ela entendesse o que eu estava fazendo, mas natural, às vezes eram costumes daquela época, estamos falando de 1995, não existia informação direito como se tem hoje. Realmente ela se preocupou, achando que eu iria por um caminho errado, mau. Mas eu insisti muito e hoje ela fala: “Meu neto é um exemplo!”.
BW: Fale da relação da Capoeira e do Breaking na sua vida. Um completou o outro?
Pelezinho: A relação minha com a Capoeira foi dentro de casa, né? Meu tio era mestre de Capoeira, meu pai era mestre de Capoeira e eles tinham a academia deles e tal e eu fui influenciado, porque eu nasci naquele meio. No meio das músicas, no meio da Capoeira… E eu acredito que a Capoeira tem muita ligação com o Breaking, vários movimentos são semelhantes, tem musicalidade e quando eu comecei a dançar Breaking, realmente alguns movimentos do Breaking foi muito fácil de aprender graças à Capoeira. Eu tive bastante facilidade para aprender o Breaking, claro que teve alguns movimentos que tinham uma dificuldade a mais, porém, falando de equilíbrio, de firmeza, de movimentação de giro, para mim foi mais fácil, então, resumindo, eu fui influenciado pelo meu pai e pelo meu tio, eu só pratiquei a Capoeira por um determinado tempo, eu não peguei corda, não segui da forma que tinha que ser, mas eu tenho um baita respeito pela Capoeira e ela foi fundamental na minha adolescência.
BW: Houve pessoas na dança que o ensinaram e o ajudaram e que também foram inspiração e referência para você? Parece que teve um B-Boy que você admirava muito e tinha o desejo de um dia conhecê-lo pessoalmente. Quem era? E de que país ele é? Esse encontro já aconteceu?
Pelezinho: Ah, sim! Eu falo que no Breaking eu tive essas pessoas, primeiro o amigo que me convidou para praticar na casa dele, depois umas outras pessoas da época, que hoje já nem praticam mais, mas eu tenho, sim. Quando eu vi esse cara dançando, ele se chama B-Boy Remind, um dos fundadores da Style Elements Crew, da Califórnia. Quando esse cara apareceu para nós nos eventos nos Estados Unidos, o Battle of the Year, foi um dos primeiros vídeos que eu vi dele, eu vi o estilo dele dançando e eu acredito que ele mudou todo o cenário da dança, principalmente no Breaking pois ele introduziu um estilo mais carismático, envolvendo alguns passos de House e eu gostei muito disso. E eu tenho um sonho de conhecê-lo. Até hoje eu viajei o mundo e não tive a chance de conhecê-lo, conheci alguns membros da Crew dele, mas ainda não o conheci. E um dia ainda eu vou conhecê-lo, se Deus quiser!
BW: Quando começou a participar e ganhar eventos de Breaking? Que eventos foram especiais para você, antes da Red Bull, é claro? Que conquistas foram memoráveis?
Pelezinho: Eu participei de muitos eventos na minha vida! Mas, um dos que eu mais gostei, foi um que era relacionado a esportes radicais, ele foi feito dentro do Ibirapuera e eu fui campeão do 1vs1, tiveram outros eventos que eu não ganhei, mas foram muito legais. Uma vez eu estava de jurado na Batalha Final e aí eu fiz uma batalha muito memorável. Estava eu e Chaveirinho, nós batalhamos por um bom tempo dentro do evento e aí, depois, nós acabamos fazendo vários trabalhos pelo Brasil, a gente era meio que inimigo antes do BC One, mas claro, o maior reconhecimento internacional foi o Red Bull BC One de 2005.
BW: Sim, falando do ano de 2005, como chegou na final mundial da Red Bull, que aconteceu na Alemanha? Como foi aquela sua primeira viagem para fora do país e o que sentiu naqueles minutos que teve que representar o Brasil numa terra tão distante e diferente?
Pelezinho: Quando eu fui convidado pela Red Bull BC One, eu não tinha noção do que poderia acontecer… Claro que alguns B-Boys que estavam ali eu já via pela fita k-7, pelos DVD´s que já estavam rolando, então, tinha B-Boys que eu admirava, o Lilou já estava despontando na Europa e quando eu cheguei na semifinal, pra mim foi uma batalha apenas, só que eu só fui entender a proporção do que aconteceu comigo quando eu retornei para o Brasil, depois da repercussão que teve e a vivência que eu tive lá na Alemanha, em 2005, foi incrível, pois era tudo novidade pra mim, então, foi a primeira vez que eu saí para fora do país, um evento como aquele, era a segunda edição dele, deu um ‘boom’ na dança… Então, pra mim, foi muita experiência, aqueles 5 dias que eu fiquei em Berlim foi só aprendizado, uma bagagem incrível para poder entender o que poderia vir logo em seguida. Na final mundial em 2006, no Brasil, eu já estava classificado nesse período, eu fui conhecido mundialmente mesmo eu não sendo o campeão, porque na época ainda existia primeiro, segundo, terceiro e quarto lugar. Esses quatro eram classificados automaticamente para o próximo ano, então pra mim foi incrível!
BW: Falando ainda de 2005, como foi batalhar com o B-Boy italiano Cico?
Pelezinho: Então, a minha primeira batalha foi com o Cico, um cara que estava se destacando muito pelos Power Moves que ele vinha fazendo e, principalmente, o Giro de Mão, ali foi uma grande pressão. Como foi a primeira batalha minha, num palco daquele, numa estrutura daquela, pra mim ali foi difícil de verdade! Depois que eu passei do Cico, fui passando… aí eu cheguei na semifinal com o Hong 10, ali eu já estava mais confortável, mas ao mesmo tempo, né [sic], tive alguns errinhos, acabei esquecendo um movimento. O Hong 10 ganhou de mim naquela noite e ele fez a final com o Lilou.
BW: O que sentiu e como foi a sensação de ter chegado tão perto de vencer o mundial? Fale da repercussão de ser o primeiro brasileiro a participar de uma final mundial? Isso fez diferença na sua vida?
Pelezinho: Eu, naquela época, na hora que eu perdi, eu falei: “Nossa! Puxa! Eu quase fui para a final!”. Então, deu aquela frustradinha no momento, mas na verdade, como tinha terceiro e quarto, eu nem pensei muito! Eu só fui pensar mais quando retornei ao Brasil, realmente passou um tempo até a galera descobrir, porque naquela época as informações não chegavam como hoje, que você pode ver ao vivo, demorava um tempinho para chegar as informações dos eventos. O You Tube estava começando, pelo menos para nós aqui do Brasil, aí depois que a galera descobriu, saiu o DVD, aí a repercussão foi uma loucura! A prova disso que até hoje as pessoas lembram, pessoas que não são da dança, pessoas que me encontram na rua, sempre tem um que lembra e fala que assistiu o DVD da Red Bull BC One.
BW: Pelezinho, depois você já viajou para muitos países pelo mundo. A ginga do B-Boy e da B-Girl do Brasil é um diferencial? O que os gringos esperam ver quando tem um B-Boy brasileiro ou uma B-Girl do Brasil numa competição?
Pelezinho: Desde quando os brasileiros começaram a competir no circuito europeu e, principalmente, nesse período de 2005 pra cá, é natural os gringos verem algo diferente, então, eu cheguei com um pouco mais de movimentos acrobáticos, misturando tudo com Power Move, enfim! Aí depois apareceu Neguin, então a galera sempre espera que o brasileiro chegue com um movimento diferente, mas o mais importante é cada dançarino ter o seu próprio estilo, a galera tem que pensar que o nosso passaporte é brasileiro, temos que mostrar o nosso cotidiano… É o que eu falo, a dança já foi criada pelos caras lá de fora, já tinham movimentos criados, é necessário cada um mostrar de onde vem, qual é o seu estilo de dança, a sua marca, então isso é importante.
BW: Como foi sua entrada na Tsunami All Stars e na Red Bull BC One All Stars? Fale da sua experiência dentro dessas Crews?
Pelezinho: Então, sobre a Tsunami All Stars, na verdade, nós a criamos porque na época teve um evento em São Paulo e nós queríamos batalhar e nesse período, Kokada estava sem Crew, eu estava em show com Marcelo D2, Katatau também estava praticamente sem Crew e aí nós participamos de um campeonato em São Paulo. E o Aranha era próximo de nós, porque quando o Chaveiro viajava, o Aranha cobria ou vice-versa, na época do show com Marcelo D2. Aí nós entramos em cinco no campeonato e ganhamos! E depois ficou aquela história que sempre que nós nos encontrávamos em São Paulo, dançávamos juntos e tal, aí o Katatau dançava com o Chaveiro em alguns lugares, o Aranha junto e aí nós só reunimos a Crew quando teve o convite para disputar o R16 na Coreia, quando chegou o convite dos coreanos que eram os ‘managers’ e aí foi quando o Neguin já estava próximo do Katatau, eu convidei o White e o Chuchu e montamos a Crew, aumentamos a Crew e aí participamos do R16, ficamos entre os finalistas e foi esse processo na criação da Tsunami. E o Red Bull BC One All Stars eu participei de duas turnês pela Red Bull Internacional para levar o que o Red Bull BC One estava fazendo, então, fizemos Austrália (2008), Índia (2009) e dali surgiu uma ideia, começamos a conversar com uma manager e aí demos a ideia de criar um time dentro da Red Bull e então criamos o Projeto Red Bull All Stars. Eu ajudei a criar esse projeto, eu, o Lilou e a manager e hoje está aí um dos melhores times que tem no mundo, onde estão os melhores dançarinos do mundo. Atualmente, eu não estou no time para competição, porque eu já sai do circuito de competição já tem um tempo, mas o time está aí, eu ajudei a criar e tenho muito orgulho disso.
BW: Falando um pouco mais sobre quem fazia parte da Tsunami, queria que você falasse de sua proximidade ao Kokada, que era alguém que, sem dúvida, escreveu uma história de muito valor no Breaking e tinha uma personalidade muito singular, deixando um enorme vazio quando partiu aos 35 anos, vítima de uma meningite, em 2012.
Pelezinho: Falar do Kokada pra mim é prazeroso! Porque nós vimemos juntos um período de conquistas, vou lembrar do Kokada lá atrás, quando eu fui para são Paulo a primeira vez, o Kokada já era já o grande B-Boy Kokada junto com o Careca da Detroit Breakers. O Kokada já fazia shows, ele era famoso pelo Brasil todo! E quando eu tive a oportunidade de conhecê-lo, de virar amigo dele e surgiu a história de montarmos a Tsunami, eu o chamava de “mentor”, porque era ele que cuidava das coisas da Crew e, assim, nós vivemos muitas coisas! Kokada teve a sorte de viajar também e de competir, mas no período que ele estava fazendo as coisas não existia muita informação, naquela época então, o momento que o cara estava não existia o contato do Brasil com o pessoal de fora, então, alguns gringos começaram a vir para o Brasil e justamente nesse momento nós estávamos juntos realizando sonhos, mesmo sendo de cidades diferentes. O Kokada foi incrível! O legado que ele deixou está ai e ninguém nunca vai esquecer! Ele era mesmo difícil, era um cara mais complicado (risos), ele tinha o jeitão dele, o gênio dele sempre foi forte, só que nós nos entendíamos muito bem quanto viveu conosco. Mas ele vive em nossos corações! E ele era uma baita de uma pessoa! Até hoje ele faz muita falta! E eu acredito que nos sonhos dele eu o ajudei também, tanto que a primeira viagem dele internacional para o evento R16 fomos eu, ele, Chaveiro, Katatau, Aranha, o Neguin e fizemos parte de uma geração, mas Kokada veio primeiro que nós e é isso! Muita saudade!
BW: Voltando um pouco no tempo, Pelezinho, numa outra entrevista você falou que quando começou a dançar não tinha um tênis… Décadas depois, você foi convidado para assinar um tênis junto com o Sandro Dias e, na ocasião, você falou que queria ver o Breaking e o Skate nas Olimpíadas de Paris 2024. Hoje, creio que você tenha vários tênis e o Breaking está nas Olimpíadas. Se sente realizado?
Pelezinho: Verdade, eu não tinha tênis para dançar, passei por essa dificuldade! Eram tempos bem diferentes! Mas quando eu recebi o convite do Sandro Dias para poder participar do projeto que ele estava iniciando, que ele queria ir pelo lado da cultura, da dança e ele me convidou para fazer a Colab, puxa, eu nunca imaginei isso na minha vida e aí foi quando eu falei numa entrevista que passou um filme na minha cabeça, quando ele me ligou para me convidar, ele era o dono da marca e eu aceitei na hora. Ele tinha um sócio, mas eu aceitei na hora! Hoje eu tenho um tênis assinado, modelo 1, já tem um projeto do modelo 2, já era para ter saído ano passado. Sim, graças a Deus hoje eu tenho muitos tênis (risos) e sobre as Olimpíadas é uma coisa que nós não imaginávamos que pudesse acontecer, ter o Breaking nas Olimpíadas. Eu sou a favor! Eu acho que está aí, já está concretizado, eu acredito que é mais uma porta se abrindo dentro do cenário da dança mundial, muitas pessoas terão oportunidades. Eu sei que aqui no Brasil têm acontecido muitas conversas, mas as coisas negativas devemos deixar para trás e pegar as coisas positivas das pessoas que têm o mesmo interesse, que isso possa trazer mais informação para quem não tem e isso vai agregar muito para a nova geração. Eu costumo falar para a galera que não é porque eu não tive lá atrás que eu deva embarreirar a nova geração, eu sou a favor mesmo do Breaking nas Olimpíadas e fiquei muito feliz!
BW: Falando sobre as Olimpíadas e sobre toda a discussão em volta desse assunto, fale sobre suas impressões sobre esse elemento do Hip-Hop virar um esporte olímpico. Na sua opinião, estamos preparados para viver isso? Normalmente atletas olímpicos levam anos se preparando para uma participação numa Olimpíada. E nós, como estamos? Ao seu ver, temos B-Boys e B-Girls brasileiros prontos e bem preparados para brigar por uma medalha olímpica?
Pelezinho: Espero que com toda essa situação que está acontecendo, que o Brasil possa ter representante em 2024, porque já não teve nos Jogos da Juventude, espero que as pessoas se organizem, fazendo a sua parte e quem estiver no comando que faça de verdade, que pense no Breaking, na dança Breaking e não no próprio bolso. Pelo amor de Deus! Estamos em 2021, estamos dentro de uma pandemia, muitas coisas mudaram, muitas não serão mais a mesma coisa! Então, por favor! Precisamos fazer de verdade e principalmente para a nova geração! Olha, sendo bem sincero sobre o que vem acontecendo no Brasil, eu ando observando, não tenho participado de muitos bate-papos que estão tendo pelas redes sociais, só participei de duas que eu achei interessante e no meu olhar, o Brasil já está começando atrasado, porque eu já vou entrar: desde os Jogos da Juventude e dos simulados que tiveram na China e o Brasil não estava ali como convidado, então, estamos começando tarde, porque precisamos preparar, tem que ter mesmo toda uma estrutura, eu sei que as pessoas vão fazer do modo deles. Mas preparados na parte de dança: Sim! Temos B-Boys e B-Girls que possam disputar medalhas para o Brasil, mas tudo depende de toda a estrutura e logística que será montada aqui no Brasil, de como será, se vai convidar os B-Boys e as B-Girls direto ou se vai fazer etapas. Então, dando uma resumida, eu acho que já estamos atrás dos outros países: o Japão já tem o time pronto, a Holanda praticamente também, a França, EUA, a China… E o Brasil ainda não está! Quem estiver na frente tem que fazer de verdade! E resolver tudo o mais rápido possível, porque esse ano já descartamos praticamente, então, só sobra 2023 e 2024. Porque até o processo todo ser feito com a estrutura… Estou falando da minha visão como dançarino e como produtor e criador de eventos. Essa é a minha opinião!
BW: Verdade que você se posicionou sobre o assunto e agora faz parte da Confederação Brasileira de Breaking (CBRB). Você gostaria de falar sobre isso?
Pelezinho: Eu tive uma conversa com o Rooneyoyo e juntamente com o HP, estamos nos posicionando para participar junto com o Rooneyoyo, porque eu acho que juntos podemos conduzir coisas melhores para a nova geração.
BW: Falando sobre sua experiência como jurado… Hoje em dia, Pelezinho, você participa de muitos eventos. O que você gosta de ver numa batalha e o que você acha inaceitável na mesma?
Pelezinho: Sobre as batalhas, como jurado eu gosto de ver aqueles B-Boys e B-Girls que mostram movimentos, que sejam completos: musicalidade, criatividade, movimentos básicos. Mas eu gosto sempre daqueles dançarinos que percebemos aquela vontade de competir, que vai lá, que expressa a dança dele, que mostra movimentos surpreendentes sem errar, porque tem movimentos que jurado pega erros. Enfim, eu gosto dos completos no Breaking! Gosto de ver movimentos diferentes e interessantes para julgar, porque o nível da batalha fica avançado. E coisa que eu detesto ver é a má vontade de alguns dançarinos quando estão em competição, tem dançarino que parece que não está a fim… Aí eu pergunto: “Por que participou, então? Por que se inscreveu?” E outra coisa é essa história de questionar jurado, no passado já questionei também, só que eu acho desnecessário hoje em dia, de tanta informação que temos, nós precisamos respeitar os jurados que estão sentados ali, porque têm uma bagagem, então vamos respeitar. As pessoas precisam entender que numa competição estão sujeitos a serem julgados, então, vai lá, treina e seja o mais transparente possível para o jurado e mostra o porquê quer ser campeão!
BW: Com a pandemia e todo o isolamento necessário, o que você tem feito? O que acha das batalhas on-line? É uma tendência?
Pelezinho: Sobre a pandemia, eu acredito que foi um aprendizado para várias pessoas, estamos nela ainda! Nesse período eu tive que me reinventar, me readaptar a essa realidade que estamos vivendo. Sobre as batalhas on-line, claro que não é a mesma coisa, não é a mesma energia, de estar ali na Cypher, naquele calor todo, mas é um meio de manter a galera em atividade, em competição, até mesmo dando suporte para eles, porque teve alguns eventos on-line bacanas! Pela produção, pelo o que fizeram e acabou ajudando vários B-Boys e B-Girls, então, eu sei que isso pode continuar. Alguns eventos vão manter on-line e a pandemia é uma coisa muito triste, que ninguém imaginou que ia passar nesse plano de vida, mas ela é um aprendizado para muitas pessoas e quem não se adaptar, nem imagino o que vai fazer da vida.
BW: Você tem uma frase célebre: “O Breaking salvou a minha vida”. Comente a importância do Breaking como ferramenta de transformação.
Pelezinho: Sobre o que eu falo do Breaking ter mudado a minha vida, realmente ele mudou, ele fez uma transformação tremenda! Eu fiz coisas que eu jamais imaginei que eu iria fazer! Por meio da minha dança, eu viajei praticamente o mundo todo e sou uma pessoa conhecida através do Breaking. Financeiramente foi bom pra mim, consegui ter algumas coisas, mas o que eu mais falo é que nada disso teria acontecido se não fosse a minha vontade, a determinação que eu tive e toda a história que eu tenho há mais de 20 anos dentro do Breaking. Então, quem quer alguma coisa, principalmente dentro do Breaking, a galera nova, da nova geração, que vocês têm tudo, rápida informação, eventos, então aproveitem, porque na minha época que eu comecei a dançar nós não tínhamos nada disso! Aproveitem as oportunidades! Porque as poucas que eu tive aproveitei todas! E corri muito atrás! E foi nisso que o Breaking mudou a minha vida e pode mudar de outras pessoas também.
BW: Hoje quem é o Pelezinho? Você pensa em um dia parar de dançar?
Pelezinho: Pelezinho hoje é essa pessoa aí que a galera está vendo, que o Breaking deu uma visão de transformação e também de ajudar, porque o que venho fazendo hoje em dia é ajudar a cena, principalmente o Breaking. E sobre parar de dançar, eu não me vejo parando, como vou parar algo que amo fazer? É natural com o tempo desconectar algumas coisas, eu não me vejo competindo mais, mas eu adquiri uma bagagem que posso ajudar a nova geração aqui no Brasil.
BW: Para finalizar essa entrevista, que conselhos você daria para a nova geração de B-Boys e de B-Girls?
Pelezinho: Respeitem as oportunidades que vocês têm agora, se desejam competir, treinem para isso e aproveitem as oportunidades, que façam isso de verdade! Para aqueles que desejam uma vida de atleta, principalmente agora que têm vários eventos, Olimpíadas: se preparem! Nunca esqueçam que a nossa dança é uma cultura e se você desejar, pode viver como um dançarino atleta também, você pode se dedicar, você pode praticar, você pode se proteger. Se eu tivesse a mentalidade que eu tenho hoje, com certeza eu teria competido por mais tempo, eu também poderia ter evitado algumas lesões, porque é natural, somos seres humanos e não somos máquinas e, devido alguns anos repetindo movimentos, é natural ter um desgaste, só que de alguns anos para cá, já podemos proteger isso, então, vá atrás de uma pessoa que possa te dar uma educação física como dançarino, para que você possa ter sua vida como dançarino e, se desejar, como atleta também. Respeitem e aproveitem o que vocês têm hoje, pois tudo está mais fácil!
Fotos: Arquivo Pessoal / Red Bull Content Pool (Fabio Piva, Yassine Alaoui, Dimitri Crusz) Vídeos gentilmente cedidos pela Red Bull
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Pelezinho
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Conhecer o passado e respeitar quem o escreveu é um dever e uma sábia decisão de quem pretende viver o verdadeiro Hip-Hop ou falar em nome dele.
A História dessa cultura não é uma lista de nomes, datas e feitos de pessoas antigas, mas sim um registro de homens e mulheres desbravadores que abriram caminhos, criaram pontes onde não existiam, enfrentaram preconceitos, quebraram tabus, resistiram a tudo e a todos, erraram e acertaram para que hoje tudo fosse diferente.
Como certa vez disse Afrika Bambaataa: “O Hip-Hop é conhecimento, cultura, entendimento, autoconhecimento, conhecimento sobre os outros”.
O Portal Breaking World acredita na verdade dessas palavras e teve a honra de conversar essa semana com “O Guardião” da história do Hip-Hop brasileiro.
Queridos leitores, convidamos a todos para esse incrível bate-papo com Rooneyoyo, onde falamos do passado, do presente e do futuro.
Está pronto para essa conversa? Então senta que lá vem história…
BW: Rooney, queria que você falasse um pouco da sua infância, da adolescência e como era seu relacionamento com sua família. Quem era o Rooney nessa época, o que pensava e sonhava?
Rooneyoyo: Eu nasci debaixo da ponte, no Bixiga (risos), como brinca minha mãe até hoje, porque foi demolido e virou um elevado naquela região. Costumava sair cedo de casa e só voltava à noite, jogava bola, andava de Skate, bicicleta, patinete, pula-pula, corda, brincava com o que meus amigos emprestavam. Alguns brinquedos eram feitos por mim, tais como: carrinhos de rolimã, que eram construídos com restos de madeira que pedia nas oficinas e que achava em terrenos baldios; pipas, com papel de pão e vareta de bambu que encontrava na rua; taco, feito de madeira de construção; bolinhas de gude, feito à mão lixado de epóxi, além disso, fazia rolos e trocava por figurinhas para poder bater. Na adolescência, para levantar um dinheiro, fazia pulseirinhas artesanais com nomes personalizados de linha de tricô, pranchinhas de surfe como pingente de acrílico, que achava na rua, aprendi olhando os artesãos de rua. Mas, a minha paixão era jogar botão de mesa que fazia com tampa de relógio, fui campeão paulista quando tinha uns 14 anos. Nessa época, ia para o centro da cidade a pé, entrava nos condomínios comerciais perguntando se havia relojoaria para pedir vidro de relógio riscado e adesivo da empresa, que também colecionava, com o troco do pão juntava e comprava adesivo dos times e números à base de água e colava nestas tampas e pintava com tinta de guache escolar ou esmalte, escondido da minha mãe. Aos 16, conheci o Break e também o ioiô, numa promoção de refrigerante e treinava mesmo fora da temporada, quando chegou a promoção, em 1998, comecei a participar das competições de bairro e intimava os campeões da época, até que um deles me deu “uma lavada”. A partir daí, comecei a treinar mais e um colombiano me ensinou uns truques, fui convidado a participar de uma competição interna no fim da promoção e ganhei o título de “Internacional Champion Yo-Yo” da Russel Company, fui convidado a viajar com a Cia. de Yo-Yo, ou seja, minha infância dura até hoje (risos). Nesta época, recebi vários apelidos: Ninaco, Tanajura, Pé na Cova, Índio, Tijelinha, Tripa, Zé ou Zé Ricardo mesmo, cada lugar que frequentava tinha um apelido, pois não ficava em casa, vivia procurando algo para fazer e andava demais e a cada período eu tinha um ciclo de amizade para poder usufruir do que eles tinham para oferecer. Sobre pensamentos e sonhos ao decorrer da entrevista vocês vão conhecer.
BW: Quando teve o primeiro contato com a Cultura Hip-Hop? O que te chamou atenção nessa cultura?
Rooneyoyo: Em 1983, vieram uns promotores do SENAC na minha escola, oferecendo apostilas para vender e quem comprasse ganhava a inscrição do curso de datilografia gratuita, minha mãe meio que me obrigou a fazer o curso e eu tinha que ir a pé para o centro, na Rua 24 de Maio, fazer o tal curso depois da escola, entre agosto e dezembro, muitas vezes antes de começar o curso tinha umas rodas no centro. Era muito comum na época, com capoeiristas, puladores de círculo de facas, jogadores de bolinha da sorte. Em meados de outubro vi uma roda diferente, eram os dançarinos de “Breakdance”, vi um monte de meninos dançando ao som de um rádio gravador (boombox) pequeno, a mesma dança que assistia nos programas de TV e dos videoclipes, pois raramente passava algo interessante para mim, o encantamento foi imediato, fazia curso 2 vezes por semana, saía da escola e corria para o centro, para ver se encontrava esta roda de novo, para tentar aprender algo, enturmei-me e vi a Gênesis do que hoje chamamos de Hip-Hop se formar em São Paulo, de lá para cá tudo virou História e hoje profissão.
BW: Quem eram suas referências? Que elementos fizeram toda a diferença na sua vida? Com quem você aprendeu?
Rooneyoyo: Minhas referências eram os dançarinos da Rua 24 de Maio com a Rua Dom José de Barros, mas não sabia o nome de quase ninguém, até começar a ouvir quando um chamava o outro pelo apelido, eram alguns artistas dos videoclipes da época de 1983 e quando vieram os filmes em 1984, aí perdi a linha mesmo. Na época, não tínhamos conhecimento dos elementos artísticos que conhecemos. A “Febre Breakdance” tomou conta de mim, após a chegada dos filmes no Brasil, achava que tinha que fazer tudo para ser reconhecido dentro da Cultura, comecei dançando, depois fazia uns desenhos e pintava em roupas e vez ou outra um traço no muro devido a falta de grana para tintas, mais tarde, conheci o Rap, pouco antes de ir para a São Bento, em 1985 e, na sequência, tive a oportunidade de conhecer os equipamentos de DJ. Lembrando que estive presente na 24 de Maio, no aniversário de São Paulo na Praça da Sé, em 1984, no “Festival de Break”. Ver os caras que eram meus amigos indo para a novela “Partido Alto”, da TV Globo, assistir os filmes “Breakin” e “Beat Street” no cinema e, em seguida, frequentar o Boulevard da São Bento, isso foi uma “lobotomia” (risos). O aprender foi natural com todos que convivi, mas o principal era que tínhamos que ter uma Gangue, a minha era a AclimaçãoBreaker´s, com Hamilton, Eu (Ninaco), o Marcelo Gueta e seu irmão mais novo Guetinha, treinávamos no parque da Aclimação, no centro, me aproximei do Andrezinho (ALAM Beat), que era amigo do Mancão do Cambuci, treinávamos no meio da semana, durante a noite. Logo, nos encontramos enquanto irmãos e viramos da Família Street Warriors. Nesta época, conheci Tico e Teco (OsGemeos), nós trocávamos desenho pela janela, pois a mãe deles não deixava eles dançarem conosco naquele horário, além disso, com frequência o ALAM Beat me chamava para treinar na Pompéia, na casa de uns amigos que tinham uma garagem de azulejo, com Faustinho (Falecido) e Gula, a gente frequentava os bailes de matinê aos domingos, mas raramente entrava, pois não tínhamos grana para frequentar, às vezes entrava escondido, cerca de meia hora antes de fechar, assim conheci o Jack (MCJack) no clube A Ponta, no Tatuapé e revezava os treinos de domingo, quando ia ao Parque do Ibirapuera, lá treinava uma gangue de manhã em um período e no outro período vinham outras gangues diversas, ou seja, ficava de manhã até o fim da tarde, para aproveitar, sem comer e a pé (risos).
BW: Outra paixão foi o ioiô, que deu significado ao seu nome, Rooneyoyo. Fale um pouco dessa outra paixão.
Rooneyoyo: O nome “Rooneyoyo” tem vários significados, bora lá: Rooney foi o Heliobranco que me apelidou, na época das visitas à casa do DJ Ninja com a Rádio NWBass, para poder mixar num racha, simulávamos uma rádio fictícia e eu gostava muito de Gangsta Rap e meu apelido no disco Radicais do Peso ficou “Gang$taRooney”, o nome foi inspirado no Filme “Action Jackson” um Blacksploitation (filmes feitos por e para negros americanos) onde tinha um personagem tipo Robin Hood Urbano do Gueto, o porquê fica por conta da imaginação do leitor… (nada a declarar); Rooneyoyo foi a junção do nome porque alguns me chamavam de Yo-Yo também e outros me chamavam de Rooney Yo-Yo e juntei tudo para ser único nas buscas na internet. Então, tenho vários personagens e moldo conforme a necessidade.
BW: Onde tudo começou para os B-Boys e B-Girls de São Paulo? Fale sobre o Marco Zero e sobre a pedra que até hoje tem o seu nome.
Rooneyoyo: Em São Paulo, as coisas foram simultâneas em vários bairros, pois os clipes começavam a ser exibidos com cenas de “Breakdance” (a febre) de 1983 a 1985, os dançarinos eram oriundos de grupos de dança dos Bailes Blacks, mas a Rua 24 de Maio com a Dom José de Barros nos deu a explosão midiática que as pessoas conhecem da História da Gênesis do Hip-Hop de São Paulo e mesmo sem saber a nomenclatura correta, os programas de auditório passavam as disputas semanalmente e durante meses. Quando falamos de B-Boys e B-Girls o prisma muda, pois naquela época só vi uns três dançarinos irem para o chão, os movimentos eram simples. Depois do clipe do Break Machine e os filmes Breaking e Beat Street, a dança melhorou um pouco, em relação às mulheres não vi nenhuma, somente fui vê-las fazer uma entrada nos encontros da São Bento e creio que por volta de 1987, nós temos um grande vácuo na cena feminina. A participação delas foi intensificada após os encontros da B-Boys Battle Party, de 1998 em diante. O Breaking de hoje é diferente do que vimos no início, para entendê-lo, necessita-se compreender o contexto de cada época. Anos depois, no ano de 2014, Nelson Triunfo com apoio do ALAM Beat leva um projeto na Secretaria de Cultura e aprova um evento em homenagem aos tempos primórdios e eu fui carinhosamente homenageado pelo Mestre Nelson Triunfo, a quem sou muito grato pela sua contribuição pela arte e cultura.
BW: Você é considerado um dos pioneiros do Hip-Hop no Brasil, são quantos anos envolvidos com o Hip-Hop? Nos conte como tudo começou aqui no Brasil e como era viver a Cultura Hip-Hop na década de 80?
Rooneyoyo: Eu datei minha participação quando frequentei a Rua 24 de Maio com Dom José de Barros em agosto de 1983 em diante, quando fazia um curso de datilografia ali no Senac. Como já destaquei, este período chamávamos de “Break” ou “Breakdance” o que conhecemos hoje de Cultura Hip-Hop. Nessa época, tudo era muito orgânico e presencial, não havia internet, telefone de fácil acesso, as informações eram disseminadas via TV, rádio, jornal, revista, vinil, k7. As Informações eram raríssimas, para se ter uma foto de dança, tinha que comprar a revista para ter acesso ao conteúdo. Quando me perguntam sobre a década, foram sete anos de evolução, pesquisa, visitas em lojas de disco para busca dos conteúdos, mas nem sempre comprávamos, olhávamos revistas em bancas de jornais para saber se tinha alguma informação nas revistas, ia em laboratórios médicos e entrava nos consultórios para ficar folheando página por página para ver se achava algo que interessava, ia em bibliotecas todos os dias para folhear os jornais do dia na seção de cultura, para saber se sairia algo naquele dia, isso era interminável. Nos encontrávamos no Boulevard da Estação de Metrô São Bento para ver o que cada um trazia de informação e ficávamos olhando por horas e discutindo teorias sobre matérias, fotos, roupas, etc. Faço isso até hoje (risos).
BW: Que boas lembranças você tem dessa época, como era a vibe de quem dançava?
Rooneyoyo: É interessante lembrar dessa época para resgatar as memórias, principalmente porque se não revivermos e contarmos nossa história, ninguém o fará, vivemos em um país que invisibiliza as nossas histórias, apreciá-las ou respeitá-las não é cultural, principalmente por ser uma cultura marginalizada. Esse período foi incrível, principalmente porque estávamos inventando o nosso jeito de fazer arte e a cultura com todas as suas camadas, que muda de lugar para lugar. Minha energia sempre foi de troca de informação, militância, de luta, de abertura de espaço, estávamos no pós-ditadura e a dança também era um aprendizado constante, todo dia aprendíamos coisas novas. A dança moldou meus pensamentos e por ela tenho feito reflexões e construído caminhos em prol de comunidade, como não tínhamos nada de referência, (re)criávamos, faço isso até hoje, se não tínhamos uma roupa a fazíamos, se não tínhamos um som, montávamos. Então, a vibe era se reinventar.
BW: O Breaking da sua época era diferente da forma que é dançado hoje? Que diferenças você pode citar entre os B-Boys e B-Girls da sua época e os de hoje?
Rooneyoyo: É de fato diferente, já na nomenclatura, no conceito e na equidade de gênero, primeiro porque estávamos em uma bolha da moda e tudo era ditado pela TV, jornal e algumas revistas, a era “Breakdance” de 1983 a 1985. Depois temos a época dos que resistiram e suavizaram a inserção e o acesso à informação da nova geração, pois as informações foram chegando aos poucos, as descobertas e estudos sobre o que vivíamos, eram moldados à nossa realidade e foi se transformando no que todos vivenciam hoje, um exemplo disso é o termo B-Girl, que não existia, pois na época todos dançavam o “Breakdance” que hoje conhecemos como Popping, Waving, Tuttting, Robbot, alguns passos de Locking misturados com algo de Breaking. Sobre as B-Girls, só as vi depois de 1987 e elas estavam vinculadas por serem namoradas de algum Breaker que frequentava aquele espaço. Alguém precisa me rememorar, se alguma delas foi lá só para dançar o Breaking e algumas se tornaram MC em meados de 1987/1988. Havia também uma época que todos eram denominados de B-Boy, o B-Boy que tocava era o DJ, o B-Boy que grafitava, era o grafiteiro. Nossa dança, era coreografada ou muito improvisada e sempre fora do ritmo, outro detalhe que mudou muito também para melhor, claro e para corrigir isso, tivemos brigas homéricas de conceitos e provar, algo que demorava, pois os documentos e vídeos com informações não estavam ao alcance dos dedos como é hoje, mas dávamos mais valor a cada momento.
BW: Fale um pouco da Street Warriors, se não me engano foi fundada em 1983, correto? Como era o relacionamento com a sua Crew?
Rooneyoyo: Essa parte da História é linda, pois somos uma família até hoje e para entender isso tive que rever com nossos personagens da época, pois foi uma junção de várias gangues e grupos de dança. Em 1983, no Cambuci, formou-se o P.O.R.T.A.L., que era como chamamos hoje de guarda-chuva de tudo isso e podemos começar com a Star Break do ALAM Beat, Didi, Gula e Faustinho, que virou Zulu On A Time Bomb com ALAM Beat, Didi e Silvão que virou B-Boys City Breakers com a entrada do Raul (ex Funk & Cia), Deley (ex Os Cobras) e Paulinho. Gula e Faustinho (Falecido) montaram a Duck Rockers, a Fantastic Break do Cambuci com Edinho, Mancão, Fubá, Edu “O Bárbaro”, Bulldog, Luciano e Aninha; o Tico e Teco (Os Gêmeos) eram Cambuci Breakers, mas também eram B-Boys Due (nosso grupo de grafiteiros), eu, Tico e Teco e quando iam cantar Rap eram MC Due e, para finalizar a família, a minha Gangue Aclimação Breakers que eram, eu (Ninaco), Hamilton, Gueta e Guetinha, muitos grupos da época mudavam de nome para entrar em concursos. Isso tudo acontecia em 1 ano, ou seja, tem grupo que não durou 2 meses, até que o Mancão e o ALAM Beat com Silvão fundam a Street Warriors e DJ Carlão (Ninja) foi convidado para ser o DJ do grupo. A data é comemorada todo segundo fim de semana de dezembro junto com o P.O.R.T.A.L no Cambuci.
BW: Você foi um dos caras que fez os primeiros eventos de Breaking com público abrangendo todos os estados. Fale um pouco dessa vida como organizador de eventos em todos esses anos. O que foram as festas chamadas B-Boys Party, que aconteceram na Avenida Rio Branco?
Rooneyoyo: Eu virei organizador, como pode perceber nas falas anteriores, porque não tinha ninguém que fizesse a produção e também porque tenho sede de ver as coisas acontecerem. Via eventos competitivos acontecendo no exterior pelas revistas e VHS trazidas por amigos que viajavam para o exterior e pensei: “vou fazer isso igual”. Na época, eu tinha uma loja de roupas de Hip-Hop voltada para o nosso público e usava o lucro da loja para subsidiar e promover estas festas. Foi como tudo começou, mandando cartas pelo correio, colocava anúncios em revistas especializadas e quando respondiam, os convidava, fiz muita feira de moda fora de São Paulo, quando vinham ao meu balcão de vendas itinerante (estande) comprar alguma peça, já pegava contato e com certeza iriam receber um convite pelos Correios. A B-Boys Battle Party era uma festa mensal que promovíamos nos clubes do centro da cidade daquela época, entre 1998 até 2001, alugávamos o local e trazíamos os equipamentos. Tudo devido a julho de 1998, quando os encontros da Estação São Bento do Metrô foram proibidos, pois estavam mudando para um lado mais comercial com lojas e não queriam nosso povo lá, tentamos ir para a rua em outros pontos e não vingou, foi aí que decidimos fazer estes encontros, uma vez por ano fazia o B-Girls Battle Party, onde descobri uma mina, a DJ Nice, que competia no DMC (competição de DJs Nacional), ela gostava de Break Beat Europeu, uma parte da festa era comandada por elas; uma vez ao ano também fazíamos a Batalha Final, uma competição de coreografias e no final tinham batalhas de grupo. Os anos foram passando e fui mudando regras e categorias, hoje temos o foco voltado em competições de alto rendimento.
BW: A primeira “Batalha do Ano” que levou 3 mil pessoas aconteceu em qual ano? Como foi esse evento?
Rooneyoyo: Nosso primeiro evento da Batalha aconteceu em 1999, como fazíamos as festas mensais com batalhas individuais, de duplas, misto, de Old School vs New School (acima de 30 anos versus abaixo de 14 anos), B-Girls Battle, pensamos: vamos fazer a B-Boys Battle Party Annual Contest, com o nome Batalha do Ano que foi um desastre comercial em um negócio mal elaborado com o B.O.T.Y mundial, mas o público veio em massa. Tentamos mais um ano, mas para arrumar patrocínio era muito difícil, pois levar até quatorze pessoas para a Alemanha era oneroso e comercialmente inviável, mudamos o nome que segue até hoje, Batalha Final. Creio que este público de 3 mil seja em 2004, no Parque Dom Pedro, na antiga fábrica da Comgás, um espaço com 11 mil metros quadrados e dezenas de espaços, criamos uma sala onde só tocava Funk Style, creio ser a primeira deste gênero, um ambiente de 1.200 m², onde forramos com Madeirit branco para o Breaking, tivemos 17 DJs, em um pico totalmente abandonado, lembro que até os Guardas da Polícia Metropolitana ajudavam a segurar as escadas pros Pichadores e Grafiteiros fazerem seus trabalhos, ali nosso público dos 2 dias atingiu cerca de 8 mil pessoas, 3 mil no sábado e 5 mil no domingo. Foi assustador ver aquele mundaréu de gente em um pico sem nenhuma estrutura, mas era uma época Roots mesmo, fazíamos as coisas com muito amor, paixão, hoje somos mais comerciais, seguimos regras e leis, outros tempos.
BW: Fale sobre sua experiência como DJ e quando fez a escolha de parar de dançar e se dedicar a essa carreira? Estar nas pick-ups é melhor do que estar nas rodas?
Rooneyoyo: O ser DJ era uma época que achava que tínhamos que ser tudo para ser da cultura, adoro música e adorava ver como os DJ´s faziam para mixar, achava aquilo mágico, os toca discos eram um sonho de consumo distante. Então, comprava os discos, ouvia, lia, traduzia, copiava as roupas, ficava tentando entender porque das correntes, dos chapéus, das marcas, ficava horas decifrando fotos e encartes. Conheci o DJ Carlão no Cambuci, ele me mostrou um som, o Love Master Ace com a música Diseases e o refrão parecia que ele falava Ninja, foi aí que o batizei com seu apelido, DJ Ninja. Na casa dele aprendi a mixar, cortar, fazer back to back, alguns poucos scratchs, mas demorei muito para ter meu primeiro set de DJ e não escolhi parar de dançar, tenho problema na coluna, sinto dores e fui diminuindo minha ação como dançarino gradativamente, na real sempre quis dançar Popping, mas não tenho essa aptidão e fui parar no chão mesmo. E não tem comparação uma arte com outra, estar nos toca discos comandando um evento ou festa é diferente de estar nos palcos ou numa roda (Cypher) como dançarino. Gosto de tudo, então, pulo esta decisão.
BW: Você esteve fora do país algumas vezes, nos conte sobre suas experiências e sobre grandes amizades que fez pelo mundo.
Rooneyoyo: Todo ser humano tem que se oportunizar a sair de seu bairro, município, estado e país, trocar experiências ou vivenciar outras culturas, estudar para poder entender, respeitar para poder se posicionar, cultivar seres com propósitos parecidos, ser respeitado e ser verdadeiro com sua essência, olhando de fora parece algo surreal conhecer seus ídolos, mas criar seu conceito dentro de outra cultura traz verdade no seu eu, faz ser respeitado pelos criadores de uma arte que pode ser usada para o bem. Fazer amizades pelo mundo é algo que me faz bem, traz paz, faz o mundo ficar pequeno. Nada é impossível.
BW: Tocar na São Bento tem algum significado especial para você? De onde saíram os nomes DJ Naja e O Guardião?
Rooneyoyo: Sim, tocar ali, onde eu aprendi a estudar, pesquisar, me moldou para ser o que sou hoje, é impagável. Me fez entender quem eu sou e porque estou na Cultura. A.G. Naja, A. G. era o Assistente Geral do DJ Ninja, da época do disco do Hip-Hop Cultura de Rua, da Dupla MC Jack e DJ Ninja. Eles tinham muitas colagens e intervenções durante o show, não dava tempo de fazer tudo sozinho, eu tinha que ser preciso, tinha que ser dinâmico, segurava os discos, fazíamos shows com vinil e eu era como um Roadie, um faz tudo do grupo. O apelido Naja foi para combinar foneticamente com o nome do Ninja. O Guardião veio após uma palestra sobre a evolução disso ou evolução daquilo sobre Hip-Hop, mas poucos defendiam a raiz da cultura, sabemos que um povo sem passado é um povo sem História. Fui para casa pensativo e irritado, então adotei este codinome como simbologia de ser um cara que respeita a raiz, como tenho muito material da “Febre Breakdance” é como se fosse um ancião, quando alguém precisa de uma informação, procuro as referências que tenho para contribuir.
BW: Em sua caminhada, você ajudou muitos B-Boys e B-Girls a encontrarem seu próprio caminho. Em recente evento a B-Girl Miwa falou justamente da gratidão que tinha a você! Na sua visão, quais são as maiores dificuldades hoje na vida de um B-Boy ou de uma B-Girl?
Rooneyoyo: Creio muito no ajudar sem olhar a quem, mas lógico, com o passar do tempo você aprende a ajudar a quem quer ser ajudado e hoje estou bem seletivo, pois muitas pessoas acabam se aproximando para tirar proveito da sua boa vontade e você vai perdendo a fé nas pessoas, justamente por causa dos mal-intencionados e muita gente deixa de ser beneficiada por isso, e todos perdem. É um assunto delicado e muito pessoal, a Miwa que você citou é uma mulher inteligente e dedicada, na época vi um potencial circunstancial diferente e foi uma troca mútua de trabalho e conhecimento, tinha minhas ideias e ela fome de fazer algo importante para ela e pra Cultura, tenho esse olhar de perceber o potencial em algumas pessoas, umas dão muito certo outras não, devido a fatores variados, os que dão certo ficam para a História, os que dão errado dá vontade de desistir de tudo, porque são pessoas que te traem e não entendem o quão profundo é ser leal e respeitar sua criação intelectual. Isso vem acontecendo com mais frequência, alguns querem ser você sem viver a sua experiência, os valores de hoje são fúteis e sem pudor, cada vez eu vejo menos pessoas criativas e sem propósitos longínquos, são imediatistas, isso não é bom para ninguém. Não há dificuldades se fizer um planejamento, mas para isso o dançarino precisa entender e respeitar vários níveis de ação global. Estamos falando de Brasil? Aqui estamos muito à frente dos nossos vizinhos, porém, sonhando errado. É fácil, falando de competições, derrotar o mundo todo com nossa aptidão corpórea, mas não respeitam as hierarquias e conhecimentos dos mais velhos e se baseiam em pessoas erradas, apoiam um desconhecido que nunca fez nada pela sua categoria em detrimento de achar que é seu concorrente. Muitos criam mecanismos abstratos e temporários, isso não funciona e vai dar errado. Se não unir a categoria, nunca dará certo e tem um monte de gente indo no caminho errado, porque é o mais curto, dificuldade haverá sempre, devido às escolhas egoístas.
BW: Das festas de B-Boys Party na Rio Branco diretamente para o futuro. Hoje falamos de Olimpíada e você é o Vice-Presidente da Federação Paulista de Breaking e Presidente da Confederação Brasileira de Breaking. Você imaginava no passado que o Breaking chegaria a virar uma modalidade olímpica? O que acha sobre o fato do Breaking ter sido indicado como mais uma modalidade olímpica? É possível com toda essa evolução que se perca a essência desse elemento como muitos temem?
Rooneyoyo: Já tive esta conversa com Crazy Legs em 1999, quando o trouxemos, em um dos jantares parece que tivemos a mesma sensação e desejo de ver o Breaking competitivo nas Olimpíadas, porque falamos da abertura nas Olimpíadas de 1984 nos EUA, justo na febre do “Breakdance” e ficamos imaginando como seria, foram horas discutindo conceitos, pois eles são os criadores e nós consumidores, então, até ele entender a ótica de quem não vive nos Estados Unidos da América, que eles estão em um país corporativo e nós em um país assistencialista e isso não é fácil. Mas, não imaginava de fato que isso aconteceria. Hoje tenho um pensamento crítico muito profundo sobre este assunto, creio que é cedo para essa admissão da nossa modalidade, pois o mundo todo precisaria ter uma política pública voltada para o esporte e um apoio mais forte em todos os países, o que ninguém percebe é que temos uma disparidade cruel e injusta, enquanto Europa e Ásia gasta cerca de 6 milhões de reais para fazer um evento de um final de semana, nós aqui, por exemplo, não conseguimos captar recursos na casa dos 50 mil reais para um evento, muito menos nossos vizinhos Sul e Centro Americanos, Africanos e Oceania, para que estejamos entre os 64 países como consta na proposta para o COI. Politicamente é um evento para envaidecer o capitalista eurocêntrico. Para mudar a ótica da nossa categoria, agora falando dos brasileiros, precisam entender que temos um plano, mas sem adesão não vai funcionar. O que vejo é daqui uns anos, não termos brasileiros competindo pela falta de escolhas coerentes e assertivas neste momento, pois um erro pode frustrar toda uma geração e teremos um delay como estamos tendo no futebol. Conversamos com um dos colaboradores da elaboração das regras para as competições da modalidade, o Storm, apontei várias incongruências na competição, mas como disse, politicamente e esportivamente vai sim perder a essência como muitos temem. Creio que quem gosta da arte como cultura deve continuar fazendo como sempre fizeram e quem tem o foco Olímpico deve procurar focar. Daqui 20 anos teremos dois tipos de dança e como irei continuar fazendo as duas danças, a do Hip-Hop e a Olímpica, não tenho este problema. As pessoas vão ter que aprender a separar isso no conceito desde o início, hoje a confusão está estabelecida, Breakers formados em Educação Física criticam as competições de alto rendimento, mas aceitam ser produtores e jurados de competições de empresas que trabalham com o esporte de alto rendimento. Competidores atuais da modalidade, dançam, competem e julgam competições de alto rendimento e são contra as competições Olímpicas, o dinheiro compra as pessoas, mas não admitem que o fazem. Por isso, digo que não vai dar certo se não entrarem num consenso. O que eu vejo é medo de se assumirem publicamente, pois ser de uma Federação ou estar em uma Confederação dá trabalho, custa caro e é muita responsabilidade, as pessoas não sabem como funciona, não querem aprender e se dar o trabalho de criar algo que não existe. Repetindo, as pessoas não querem trabalhar para criar algo inexistente, querem o produto pronto para consumo, para poderem criticar em vez de aderir e ajudar a realizar.
BW: Com o advento das Olimpíadas o que muda na vida daqueles que pretendem de fato se tornarem atletas olímpicos? O que essa nova geração de B-Boys e B-Girls pode esperar?
Rooneyoyo: Sempre acreditei que tudo pode ser bom, vai mudar a vida de quem ingressar neste foco Olímpico, não só para o Atleta Dançarino, mas para todos que se envolverem, ainda vão abrir caminho para outros profissionais da categoria como comissão técnica, profissionais da saúde, entre outros, mas para que isto dê certo aqui no nosso país teremos que mudar nossa cultura do pensamento, cultura de postura, cultura do estudar, pesquisar, respeitar e nossa política tem que mudar para um campo diferente do que temos hoje, a política do assistencialismo, a política de dar migalhas popularmente falando. Isso nunca funcionou em nenhum país do mundo. O esporte pode mudar isso, melhorar a vida dos brasileiros, mas a política tem que mudar também, a mudança deve demorar uns 50 anos ou umas três gerações, ou seja, não veremos isso acontecer. Mas, vou dar um voto de esperança e fazer um apelo para quem ler esta entrevista, vamos nos unir pela causa juntos ou iremos sempre brigar entre nós e não vamos chegar a lugar algum.
BW: No último ano você realizou a Batalha Final em alguns lugares como no Shopping Tatuapé e no Centro Esportivo Tietê, na Virada Esportiva. Como foram esses eventos?
Rooneyoyo: Desde o início as Batalhas que fazemos são tematizadas, cada ano criamos um conceito e aplicamos nas peças publicitárias e tentamos envolver os participantes para este universo lúdico que nos possibilita viajar dentro da arte. Não fizemos nada novo, porém inédito em São Paulo, entrar em um Shopping e executar um evento com todas as exigências e prazos cumpridos, além de participar de uma Virada Esportiva, com a Secretaria Municipal de Esportes, só mostra o quanto nós amadurecemos profissionalmente e estamos preparados para assumir responsabilidades internacionais com todas as exigências Olímpicas. Executar eventos com apoio governamental é sempre uma roleta russa, exige um grau de flexibilidade de alto nível mental. Nunca é fácil depender e assumir a responsabilidade com as leis que temos, a burocracia não ajuda, os prazos são curtos para uma execução com excelência. Mas, concluímos e superamos a expectativa das metas impostas pelo grupo de trabalho. Com o orçamento que tínhamos foi planejado 4 eventos e executamos um total de 7, incluindo a contrapartida e com uma ação social de doação de reciclagem dos banners que sempre ficam inutilizados, ajudando uma comunidade de mulheres de vulnerabilidade social. Foi emocionante concluir e conseguir este feito dentro da realidade imposta.
BW: Com a pandemia, muitos planos mudaram na vida das pessoas. Em muitos casos, foi necessário uma readaptação. O que você tem feito? É verdade que está trabalhando num novo modelo de evento? Pode falar sobre ele? Quando será e de que forma será?
Rooneyoyo: Essa pandemia nos atrasou 2 anos de planejamento, li e estudei muito e fiquei pensando como poderia mudar parte desta realidade atual. Tínhamos planejado um Brasileiro e um Sul-Americano para este ano, mas seguindo as normas e decretos da OMS (Organização Mundial de Saúde), tivemos que nos adaptar e voltar à realidade imposta. Então, vamos fazer um evento semipresencial, com a participação somente dos competidores, DJ, MC e produção reduzida, sem público, para isso criamos um programa de TV On-Line, com um conceito Cibernético e Eletrônico com o piso individual e com o distanciamento social necessário. Teremos um sistema de julgamento presencial com um aplicativo digital com desenvolvimento de inteligência artificial, muito parecido com o que vai ser usado se aprovado no futuro Olímpico, ou seja, quem participar desta competição já irá sentir a emoção de como será daqui alguns anos. A Batalha Final ocorrerá em breve. Sobre o que eu tenho feito desde março, estudando, consegui ler 19 livros e 8 dissertações de mestrado de amigos, escrevi um texto para um livro que será publicado em breve pelo Os Gêmeos, falando da parte do Rap brasileiro e a correção cronológica do mesmo. Já era para a exposição “Segredos” deles, que será exibida na Pinacoteca, em São Paulo, estar aberta ao público e deve abrir em outubro, tem obras minhas feitas na época que trocávamos desenhos pela janela, não posso dar spoiler mas quem for irá entender este universo do Hip-Hop da sua raiz até o lado mais comercial e aqui fica meu convite para a visita. Dica: comprem o livro e os brindes, vai virar item de colecionador. É isso, estou fazendo algo produtivo, sendo eu e aproveitando para pesquisar mais, pois tenho novidades para lançar em breve, muitos acontecimentos artísticos.
BW: Na sua opinião, o que você acha dos eventos on-line que têm acontecido e como acredita que será a vida futura de B-Boys e B-Girls com esse fator de risco, o novo coronavírus? Que desafios terão que ser enfrentados ao seu ver?
Rooneyoyo: É fato que gostaríamos de ter público presente, mas a pandemia mudou nossas realidades, adaptar faz parte da continuidade. Estou acompanhando alguns eventos on-line e só me mostra o que não fazer, pois conceitualmente estão executando de maneira emotiva, tendenciosa, faz com que desmotivem alguns dançarinos e isso não é bom, por outro lado é importante ter alguns eventos neste conceito, faz com que motivem os dançarinos continuarem treinando, um paradoxo e vejo também muitos competidores com o propósito sem planejamento assertivo e isso é um erro que pode custar caro, procurar uma assessoria seria um bom caminho para melhoria de alguns produtores, uma agenda coletiva poderia ser algo construtivo. Essa doença (Covid-19) é implacável e invisível, os cuidados para com os participantes diretos e indiretos têm que ser levados à sério, temos que aprender a conviver remotamente e conviver conosco sozinhos, este é o maior desafio que enfrentaremos.
BW: Quem é hoje o Rooneyoyo? Qual o legado que pretende deixar para as gerações futuras? E o que significa o Hip-Hop na sua vida?
Rooneyoyo: O Guardião hoje é um cara mais tranquilo e focado em fazer algo que o deixe feliz e em paz. Vai continuar lutando e brigando pelo que acredita, causas que ache importantes, têm muitos sonhos a serem realizados, ideias para tirar do papel e realizar. Um ser pensante e pulsante. O legado é algo que depende de quem vai receber, pois o imediatismo faz parecer inútil o lapidar do tempo, quem dá valor a arte sabe que já cumpriu mais do que prometeu para si próprio, daqui para a frente as ideias estão implementadas e outras podem surgir. Hip-Hop é algo espiritual e orgânico, só vivendo pra sentir e entender.
Fotos: Cadu Barbosa, Willian Machado, 77Produz, DMC e Arquivo Pessoal.
O B-Boy
O Grafiteiro
O DJ
O MC
Rooneyoyo "O Guardião"
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