“Se conectar com cada arte é o início de tudo”
“É como se fosse um nascimento, é necessário conectar com cada arte, muitas vezes precisamos criá-la mentalmente para facilitar o desenvolvimento. Eu particularmente acho muito interessante quando posso ir mexendo e mexendo até deixar a escultura de um jeito que me traga uma satisfação…”. Essas são as palavras do escultor e também B-Boy Patrício Cordeiro, que também é licenciado em Artes Visuais e Arquitetura Urbanística. O Portal Breaking World encomendou uma escultura de um menino que chamamos “B-Boy Eagle e o Flare”, essa estátua foi feita em três meses por Patrício e atualmente está na Casa de Cultura Urbana Street House, em São Paulo. A escultura mostra todo o esplendor e perfeição desse artista, que faz parte da grande família Hip-Hop brasileira. Confira a entrevista:
BW: Queria que você nos falasse um pouco sobre a sua história. Nome completo, idade, cidade onde nasceu e vida em família.
Patrício: Sou Patrício Cordeiro Silva, escultor, licenciado em Artes Visuais e Arquiteto Urbanista, comecei em um projeto social chamado Escola de Arte Sacra, junto com mais alguns amigos. Desde então não parei mais, me tornei arte-educador, comecei a ministrar oficinas em diversos lugares e sempre buscando maneiras de ampliar os horizontes.
BW: Como conheceu e se interessou pela Cultura Hip-Hop? Por que elementos já passou?
Patrício: Eu tive contato com o Hip-Hop na cidade de Santana de Parnaíba, era muito forte o movimento lá, na época, o termo movimento era bem comum de ser usado, a cultura urbana era muito forte lá, eu já praticava capoeira e quando eu ia para a escola via sempre B-Boys treinando, o que me chamou muita atenção, o Hip-Hop me ajudou muito no sentido de me sentir mais realizado, como se eu fizesse parte de algo muito bom eu tinha muito orgulho em fazer parte em ser do Hip-Hop. Quando mudei pra Pirapora eu já ouvia muito Rap, já fazia uns grafites e apesar de me aprofundar muito na questão de conhecer a respeito de todos os elementos eu acabei optando pelo Breaking. Comecei treinar com mais alguns amigos e montamos um grupo o Conexão B-Boys, nós treinávamos muito power move era o que mais gostávamos, na cidade a cultura Hip-Hop teve um ápice grande, muitos jovens treinavam e a gente se encontrava sempre aos domingos no Baile pra Rachar. Meu interesse mesmo foi porque o Hip-Hop elevou muito minha autoestima, eu sou de família humilde, eu posso dizer que continuo sendo do Hip-Hop, eu amo essa cultura.
BW: Verdade que no passado você chegou a ser B-Boy? Fale um pouco da sua relação com a Detroit Breakers? E sobre sua amizade com Danzinho e os outros nomes da Crew?
Patrício: Na verdade eu continuo sendo B-Boy, não treino com a mesma frequência mas sempre que dá tento fazer um treininho, a paixão pelo Breaking é muito grande, sempre que tenho oportunidade eu danço, é difícil deixar de ser B-Boy, o ser B-Boy é um estilo de vida, você adquire vários hábitos que leva pra vida, na antiga com meus amigos a gente treinava muito tempo, às vezes mais que seis horas por dia, éramos fascinados de verdade, sonhávamos em aprender cada movimento o Breaking realmente precisa muito empenho, nossa rotina era fazer escultura, escola e treino, o Matéria Rima era um grupo que desenvolvia um trabalho muito forte de Hip-Hop em Barueri, então, para buscar mais conhecimento nós íamos pra lá, foi onde conheci o Guinho e Danzinho feras no Power Move, logo após, o Matéria Rima veio pra Pirapora, fazer um trabalho na Delegacia e começamos a frequentar, foi um baita projeto que acolheu muitos jovens, com o Matéria Rima na cidade o Hip-Hop ficou mais divulgado, os jovens conheceram melhor os fundamentos, na Detroit eu fiz mais trabalhos de escultura mesmo, minha ligação é mais com o Danzinho, ele sempre pegou trabalhos comigo, então, temos uma parceria, sempre que fiz eventos por aqui o Danzinho sempre fortaleceu e vice-versa. Eu conheço os integrantes antigos de vídeo mesmo, como Careca e Kokada, que admiro!
BW: Quando você começou especificamente a fazer esculturas e peças de arte? Onde e com quem aprendeu?
Patrício: Eu estava em um projeto da Guarda Mirim, trabalhava cuidando de carro aos finais de Semana e nesse mesmo Projeto iniciou um curso de escultura, eu fui porque meus amigos foram e também por gostar de aprender coisas novas, esse projeto ficou muito conhecido, o Escultor Murilo Sá foi nosso mestre, com ele aprendi muito e no mesmo projeto dei aula por mais de 10 anos. O objetivo da Escola de Arte Sacra era realmente esse, que a gente aprendesse e tivéssemos uma fonte de renda, Pirapora vem muito turista religioso, hoje eu faço menos arte Sacra, diversifiquei bastante meu trabalho.
BW: Verdade que você tem um ateliê e dá aulas? Onde fica? Nos conte sobre o seu trabalho e sua rotina!
Patrício: Eu tenho alguns locais onde produzo e atualmente tenho um ateliê pequeno, mas ainda não é do jeito que pretendo, logo realizo esse sonho, as aulas durante a pandemia eu parei, mas meu forte eram as aulas e encomendas. Como em 2020 tivemos essa fase pandêmica, consegui um trabalho em um ateliê em Indaiatuba onde produzo esculturas para decoração. Paralelo a esse trabalho eu sigo com as encomendas, as aulas me ensinaram muito a me relacionar com as pessoas e muitas outras coisas, os meus alunos me ajudaram muito e sempre estão me incentivando, eu tinha alunos particulares e grupos em projetos de Prefeitura, já puder passar um pouco do que aprendi para muitas pessoas, é muito gratificante compartilhar o conhecimento, pretendo voltar com as aulas em breve quando eu tiver um espaço bacana. Atualmente, minha maior rotina é meu trabalho, estou muito focado, eu trabalho durante o dia e à noite nas encomendas, estou sempre nas esculturas, nessa pandemia fiquei recluso somente a fazer meu trabalho, quando possível treino em casa. É importante tirar mais horas para lazer e se dedicar a outras coisas, logo incremento melhor essa rotina!
BW: Fale um pouco sobre as peças mais curiosas que já esculpiu. E também sobre as mais difíceis… Quanto tempo em média se leva para fazer uma escultura?
Patrício: Meu trabalho é muito diversificado, mas geralmente as pessoas pedem coisas não tão diferentes, não consigo dizer uma muito curiosa, já teve umas bem elaboradas, metade rosto do esposo e metade do rosto esposa, com pés e mãos ligados a um coração através de fios, essa achei interessante, a mais difícil estou fazendo agora, ela tem 2 metros, ela é difícil por conta da estrutura e do movimento que necessita ter, ela ficará exposta no Trianon MASP, é um trabalho que mostrará um pouco do meu trabalho. O tempo de cada escultura depende bastante, algumas são bem rápidas, é como se fosse um nascimento, a gente precisa se conectar com ela, muitas vezes precisamos já criar ela mentalmente para facilitar o desenvolvimento. Eu, particularmente, acho muito interessante quando posso ir mexendo e mexendo até deixar a escultura de um jeito que me traga uma satisfação, mas ultimamente estou sempre com o prazo curto, as pessoas começaram a me pedir mais trabalho, antes quase não tinha… uma peça de 30 cm é possível fazer em 1 mês dependendo da complexidade.
BW: Que materiais são mais fáceis de trabalhar e que materiais são mais difíceis?
Patrício: Atualmente muitos escultores usam clay, eu prefiro e gosto de usar argila, eu posso dizer que tenho uma certa intimidade com a argila, a partir da argila é possível reproduzir e fazer em diversos materiais, em mármore e pedra eu acredito ser mais complexo, pela questão que necessita ser tudo mais técnico, porém, facilita quando o escultor já desenvolve o protótipo antes em um material mais maleável, a questão da dificuldade nos materiais eu diria que seriam os mais rígidos, madeira, pedra e mármore, até porque não utilizo a técnica, mas tem gente que domina e acha não tão difícil.
BW: Recentemente você fez uma escultura de um menino B-Boy fazendo o movimento Flare para a Casa de Cultura Urbana Street House, de São Paulo. Nos conte como foi feito essa peça do princípio até os retoques finais… Quanto tempo levou para ficar pronta? Quais foram as maiores dificuldades nessa peça? Fale sobre o que achou do resultado final…
Patrício: Essa Escultura foi um desafio, eu levei mais que o tempo esperado por conta de outros trabalhos, eu usei argila para modelar e o mais difícil foi o equilíbrio, a peça se sustenta em apenas uma mão, eu usei uma referência, mesmo assim não foi o objetivo deixar igual, após a modelagem eu tirei o molde em gesso, dividi a peça em vários pedaços, fundi com fibra de vidro e novamente juntei todas as partes, fiz todos os retoques e pintei, eu levei cerca de 3 meses, mas não trabalhei todos os dias, sempre à noite e final de semana. Referente ao resultado final eu sempre acho que poderia ter ficado melhor, cada peça me faz querer que tenha sido melhor, eu acredito que as pessoas gostaram, fiquei bem feliz em fazer!
BW: Fale o que você acha sobre a valorização dos artistas no Brasil, que dificuldades você tem como artista e como tem vivido nesse tempo de pandemia…
Patrício: Ser artista é um caminho longo e que você precisa ter coragem pra seguir, não só no Brasil, em muitos outros países têm muitas dificuldades para o artista, eu acredito que no Brasil está melhorando, eu acredito muito no que faço, eu tenho conseguido bons resultados com a minha arte, mas já passei fases bem difíceis, nunca deixei de acreditar, a pandemia no sentido de trabalho foi muito bom, a demanda aumentou demais, precisei recusar alguns serviços, torço que continue assim!
BW: Quais são seus planos para o futuro e que mensagem gostaria de deixar para os leitores do Portal Breaking World?
Patrício: Busco evoluir em todos os aspectos da minha vida e expandir muito mais meu trabalho, ensinar às crianças e jovens para que possam conhecer mais sobre arte e quem sabe até se tornarem escultores. Eu só posso agradecer ao Portal Breaking World pela oportunidade de falar um pouco sobre meu trabalho, fico muito feliz, ainda mais por ser um veículo que fortalece muito o Breaking, muito grato e desejo que vocês continuem firmes e fortes com esse trabalho de divulgação da cena Breaking, divulgando os talentosos B-Boys e B-Girls, enfim o Hip-Hop!