Breaking nas Olimpíadas
O Breaking virando modalidade Olímpica irá proporcionar boas oportunidades para a cena, que sempre foi vista como marginalizada no Brasil. Se não for trabalhado seriamente e por pessoas competentes, nada vai mudar e a tendência é se tornar como muitas modalidades olímpicas, na qual os atletas passam por muitas necessidades financeiras e acabam abandonando a carreira profissional. Ter uma equipe unida, experiente, igualdade de recursos para todas regiões, implantar um projeto de disseminação para todo o país nas periferias ou em escolas públicas, que se encontram grandes talentos e criar um centro de treinamento com profissionais capacitados: o Brasil poderá se tornar referência nessa modalidade.
Os organizadores do “Paris 2024” disseram que seu objetivo era incluir “modalidades que podem ser compartilhadas nas mídias sociais, que são um meio de se locomover, formas de expressão, estilos de vida por direito próprio, praticadas todos os dias, nas ruas e em outros lugares”.
Por que vai se tornar um esporte olímpico?
Breaking é uma arte e nunca vai deixar de ser, mas também não podemos negar que seus adeptos têm característica atlética, o desempenho físico é fundamental para se tornar uma B-Girl/B-Boy de alto nível, além das competições serem muito semelhantes com campeonatos esportivos oficiais. Sua dimensão criativa e artística torna essa dança alegre, original e atrativa para o público de todas as faixas etárias.
“Breaking nos Jogos Olímpicos” chegaria a mais pessoas, as crianças e jovens estariam mais interessados nos eventos a nível cultural e esportivo, consequentemente o apoio da família. Assim, o Breaking trará um impacto positivo cultural e esportivo, o que promoverá seu desenvolvimento e disseminação a nível global.
O Breaking tem seus valores que levaram a uma modalidade “sustentável e socialmente responsável”, que não exigem instalações permanentes; é culturalmente relevante para a França, que consta mais de 1 milhão de dançarinos, segundo os organizadores de Paris 2024.
É tradição. A cada edição dos Jogos Olímpicos, o país anfitrião incorpora novas modalidades ao Jogos. Paris 2024 incluíram Surfe, Escalada Esportiva, Skate e o Breaking. Essas modalidades foram uma grande estratégia do Comitê Organizador, em prol de rejuvenescer seu público e conectar-se com os esportes de sucesso em todo o mundo para trazer para os Jogos uma dimensão mais urbana, esporte natural, mais artística. O “OCOG” fez sua escolha entre uma lista de 37 esportes reconhecidos pelo COI, com a restrição de não exceder 10.500 atletas, o que limitaria as chances de esportes coletivos e não envolveria novas construções de equipamentos de longa duração, enquanto atrai as gerações mais jovens e contribuía com o meio ambiente.
O programa olímpico já está saturado de esportes inconvenientes, que não são massificados, que não vendem ingressos, que não têm uma legião de fãs. Mas que continuam lá por tradição. Vide Pentatlo Moderno, Nado Sincronizado e tantos outros. Só as modalidades “fixas” usam mais de 10 mil das 10.500 credenciais de atletas, teto por edição. Sobram 500 vagas, que o COI e os organizadores de Paris-2024 tentam otimizar. O Breaking terá 16 competidoras B-Girls e 16 competidores B-Boys a partir dos 16 anos de idade, não tendo idade máxima, porém todos os competidores precisarão estar federados e ranqueados, no total, 32 atletas, que é pouco mais que o tamanho de um único time de beisebol, formado por 24 atletas. A modalidade Breaking representa um investimento menor em comparação com outras modalidades.
Uma das obsessões das cidades que sediam os Jogos Olímpicos é a infraestrutura: muitas instalações e ginásios sendo abandonados depois dos jogos e as novas modalidades inclusas não terão esse imenso prejuízo para o cofre público e também irão chamar a atenção da mídia mundial, atraindo uma legião de fãs, seja com a venda de ingressos, seja pela televisão ou pelas redes sociais.
Por mais artístico e espetacular que seja, o Breaking atende a todos os critérios impostos pelo COI, cerca de quarenta. Para integrar a lista de esportes reconhecidos, precisa de regras bem explicadas, de uma federação presente em pelo menos quatro continentes.
Um teste já foi feito, muitíssimo bem sucedido. O Breaking foi disputado nas Olimpíadas da Juventude de Buenos Aires, no ano de 2018. A competição aconteceu em uma estrutura montada no Parque Madejos, um dos locais mais movimentados e de atmosfera jovem da capital Argentina. Lá foram disputadas também as modalidades de Escalada, Basquete 3×3 e BMX Freestyle: essas duas disciplinas vão estrear em Tóquio-2020/21.
Paris, referência mundial em turismo, sabe cuidar do visitante como ninguém. A candidatura já foi desenhada para que as competições ocorram em locais já de intenso fluxo de pessoas, integrando as competições com a cidade e seu entorno. A Olimpíada de Paris tem tudo pra ser a mais legal da história dos jogos.
A competição de Breaking em Paris será organizada pela World Dance Sport Federation (WDSF), que é reconhecida pelo COI há mais de 20 anos como a entidade responsável pela dança esportiva mundial. Especialista principalmente na dança de salão, seja clássica ou em ritmos latinos, ela agora terá que se renovar para abraçar melhor o Breaking e não fazer mudanças bruscas, para não descaracterizar a dança e sua essência, acredito que não vai se descaracterizar e sim acrescentar novos formatos de competição, com boas estruturas e um olhar a mais para as B-Girls e B-Boys.
Esse é o desafio dos próximos quatros anos, dar um caráter esportivo, organizado, para o que historicamente é arte, é cultura. Da mesma forma, os atletas que quiserem competir em Paris, terão que se federarem.
É um processo longo, no qual ambos ganham. Ganha o movimento olímpico, cada vez menos careta. Ganha o Breaking, com visibilidade e reconhecimento.
Há um único motivo para que o COI não avance com o Breaking para Paris2024. É a não organização de competições oficiais, não é à toa que a WDSF teve que organizar às pressas o primeiro mundial “oficial” no ano de 2019, contudo se a WDSF não se unir e apoiar os eventos já existentes, mostrará que a modalidade não estará preparada para se migrar aos Jogos Olímpicos. É preciso existir uma base sustentável. Eles esperam criar uma base que torne essa modalidade bem-sucedida a longo prazo.
O formato de “batalhas”, no qual os participantes eliminam seus oponentes para avançar a fase seguinte em uma competição, bem como a atmosfera festiva, vibe nas cyphers e durante as batalhas, contribui para a popularidade dos eventos de Breaking no cenário internacional e essas características são importantes para o COI
Critérios de julgamento
Baseado nos Jogos da Juventude (Buenos Aires 2018). Como foi um evento teste e bem sucedido, toda a competição foi um laboratório para que a entidade responsável, WDSF, pudesse apresentar o projeto para que o Comitê Organizador de Paris2024 aprovasse o Breaking como modalidade Olímpica, desde piso, formato das batalhas, quantidade de competidores (as), arbitragem (jurados) e o sistema de arbitragem foram à teste. A WDSF lançou seu manual de regras e regulamentos oficiais para os Jogos Olímpicos da Juventude de 2018, em Buenos Aires. Este manual inclui o sistema de julgamento que poderá ser usado em Paris 2024, é claro com reajustes.
Irei apresentar o formato que foi utilizado nos Jogos Olímpicos da Juventude em 2018.
Niels “Storm” Robitzky e Kevin “Renegade” Gopie, duas figuras respeitadas na cena, no manual informa que eles foram os mentores na criação do sistema de julgamento. Ao ver imagens do sistema, ele ainda possui “falhas” perceptíveis que o tornam mais um trabalho em andamento do que um produto final, contudo ao passar do tempo será bem mais fácil de trabalhar com esse sistema.
Eles o chamam de “Trivium Value System”, um nome que sugere os três principais critérios do sistema: Corpo, Alma e Mente.
Seguindo os critérios atuais, serão compostos da seguinte forma:
Corpo, Qualidade Física: composto por Técnica (20%), Variedade (13,33%);
Alma, Qualidade Interpretativa: composta por Performance (20%), Musicalidade (13,33%);
Mente, Qualidade Artística: composta por Criatividade (20%), Personalidade (13,33%).
Cada juiz move seis controles deslizantes em um tablet portátil para classificar os atletas (B-Girl/B-Boy) em cada um desses critérios. Também existem outros fatores, como escorregões ou falhas, que podem afetar as pontuações.
B-Girls/B-Boys são avaliados por entradas, sendo duas entradas mais um intervalo de 1min30seg e mais duas entradas. As pontuações são calculadas e exibidas por meio de um sistema digital desenvolvido por “and8”: vence uma batalha quem marcar mais pontos somadas as 4 entradas, veja a imagem abaixo da tela do dispositivo portátil de um juiz (jurado):
O que será avaliado: técnica, variedade de movimentos e ou passos, musicalidade, criatividade, execução, personalidade entre outros. Algumas faltas que poderão tirar pontos ou até mesmo eliminar da competição: “Bite” (risos), erros, contato intencional e desrespeitar ao oponente, nesses dois últimos terão 3 advertências para assim ser decretada a eliminação da competição.
Não existe um código preciso para os movimentos que o dançarino fará: ele é completamente livre. O Breaking tem uma grande parte artística, que é obviamente levada em consideração pelos jurados em cada um dos critérios avaliados mencionados acima.
A WDSF irá lançar um curso de arbitragem até final do ano de 2021, um grande avanço para o Breaking e assim acabar com a famosa “panela” que existe, seguindo o sistema das outras modalidades esportivas, os árbitros também poderão ser ranqueados.
Para conquistar uma vaga nos Jogos Olímpicos 2024
O Comitê Olímpico Internacional (COI) fornecerá à WDSF as diretrizes do sistema de qualificação em 2022 (as diretrizes são as mesmas para todos os esportes nas Olimpíadas e cada Federação internacional deve adaptar o sistema de qualificação de acordo com a especificidade de seu esporte), então, caberá ao WDSF propor o formato de qualificação para o Paris 2024, que deverá ser aprovado pelo COI antes de ser oficialmente publicado. Provavelmente haverá entre 4 a 6 eventos de Breaking renomados que serão parceiros para as qualificações, parecido como foi a qualificação para os Jogos Olímpicos da Juventude 2018. Então só teremos 100% de certeza de como e quais eventos irão dar vaga para o tão sonhado ouro olímpico após a divulgação oficial do COI que está prevista pós os jogos de Tóquio. Outro ponto que a WDSF irá fazer é um sistema de ranking, tendo como exemplo outras modalidades esportivas, as B-Girls/B-Boys não necessariamente precisarão ser campeões desses campeonatos, o importante é estar ranqueado entre os 16 “melhores” do mundo, conquistando pontos nos campeonatos, pegando colocações como primeiro, segundo, terceiro e quarto…
O Breaking brasileiro tem nível elevado, que são capazes de conquistarem as medalhas, o nosso principal obstáculo é a falta de estrutura, planejamento e financeiro. Muitos desses dançarinos(as) (atletas) têm outros trabalhos para se manterem, diferente de outros países como EUA, Rússia, Japão, Coréia e muitos países europeus, na qual os dançarinos (as) vivem do Breaking, têm boas estruturas, treinadores e patrocínios.
Para concluir, gostaria de entrar em um assunto: muitos estão falando que ginastas iam se migrar para o Breaking… eles até podem, mas pouco provável que irão conseguir uma vaga olímpica, pois os ginastas treinam sistematicamente desde crianças e o Breaking é totalmente oposto, o Breaking em primeiro lugar é uma arte, é livre, cada dançarino (a) tem seu estilo, carisma, criatividade, flavor, com a vibe do público, interpretar seu sentimento conectado com as músicas e com o DJ, um ginasta não tem essas características, que são fundamentais para a formação de uma B-Girl/B-Boy, pois isso acaba sendo natural para quem é da cena, e serão avaliados por B-Boys e B-Girls experientes que conhecem a nossa dança como ninguém, então, não se preocupem com isso e trabalhem para que o Breaking do Brasil seja bem representado.
Fotos: Reprodução/Divulgação Olympic/Reprodução BreakingForGold