Vítima do descaso do sistema de saúde do Brasil, Dina Di partiu em 20 de março de 2010, depois de lutar 17 dias pela vida…
Viviane Lopes Matias, ou apenas Dina Di, nome artístico que escolheu por toda a vida, foi uma das divas do Rap nacional, ao lado de outras MC’s como Sharylaine, Rúbia e Cris SNJ.
Nascida em Campinas, ela era do grupo Visão de Rua e lançou sucessos como “Marcas da adolescência”, “Meu filho, Minhas Regras” e “Mente Engatilhada”. Começou na Cultura Hip-Hop com 16 anos, a artista, era brava, de personalidade forte. Usava roupas largas e boné, estilo comum usado por algumas mulheres do Rap nos anos 90, para diminuir os riscos de chamar atenção de forma sensual e dessa forma não serem respeitadas.
Foi por meio de um estilo bem masculino que Dina Di conquistou o espaço que pertencia às mulheres, mas que antes era ocupado por homens. Dina era MC e historiadora, nascida em Santos, entre todas as vozes femininas que se levantam, Dina Di é a mais forte, a que nunca foi esquecida, nem a morte a calou. “No passado, sem documentos, tentava provar num cartório que era ‘amásia’ para poder visitar o companheiro na cadeia. Ou, para fazer o videoclipe de “Mente Engatilhada”, foi pedir um tênis numa loja porque não tinha sapato. Tudo o que comia era arroz com feijão uma vez por dia.” – informações da Revista Época, publicada em 2002.

Dina Di deu voz a grandes debates, como ser mulher, periférica, mãe e MC em um país que desde seus primórdios menospreza todo tipo de arte produzida pelas periferias.
As narrativas de Dina também denunciavam questões sociais e revelavam fases distintas de sua vida fora dos holofotes.
Uma das poucas aparições da diva na grande imprensa foi numa entrevista à Revista Época, em 2002. Ele confidenciou: “Tô vivendo de sonho, de subir no palco. Pegar trem, ônibus, perua e cantar para verem que eu não morri. Sobrevivi a tudo e estou ali. E depois descer e não ter nem dinheiro para comer um cachorro-quente”.
Além de citar as vezes em que foi parar na Febem, de quando começou a trabalhar para sobreviver, aos sete anos de idade e da vez que fugiu de casa aos treze, Dina Di deixou explícito como estava orgulhosa em estar vivendo seus sonhos e qual era o seu propósito no Hip-Hop.

Visão de Rua e o adeus à diva!
No grupo Visão de Rua, ao lado de Lauren, Tum e DJ O.G, Dina Di lançou sua primeira música, em 1994, intitulada “Confidências de uma presidiária”.
É um relato da rotina no sistema carcerário feminino. Depois de ser detida e conhecer a realidade nas prisões, Dina Di usou a música como ferramenta de transformação social, a fim de compartilhar com outras mulheres formas mais otimistas de viver.
Na entrevista, ela contou à Época que levava seus CDs para as cadeias porque queria que suas “irmãs de cela” soubessem que podiam contar com ela. “Uma prima minha perdeu o filho dentro da prisão. Foi abortando a criança durante a noite, sem socorro. Quando a mulherada ouve as minhas músicas, sabe que não está sozinha”, destacou.
Em 1998, o grupo lançou seu primeiro álbum, o Herança do Vício (1998) e três anos mais tarde criou o segundo disco Ruas de Sangue (2001), que a fez ganhar o Prêmio Hutúz na categoria “melhor grupo feminino”. Em 2003, o Visão de Rua, que já havia se consolidado e conquistado um espaço importante na cena do Rap nacional, lançou o emblemático clipe A Noiva do Thock, que concorreu em três categorias no Hutúz. Em 2007, o grupo se dedicou ao seu último álbum, O Poder nas Mãos (2007).
Em 2008, Dina foi indicada novamente ao prêmio Hutúz como melhor álbum no ano, com “O poder nas mãos” e, na categoria “Grupo ou Artista Solo”; em 2009, foi indicada a categoria “Melhores Grupos ou Artistas Solo Feminino da década”, ganhando o troféu.
Dois anos depois, no dia 20 de março, depois de lutar 17 dias pela vida, Dina Di faleceu. Aos 34 anos, a artista contraiu uma infecção hospitalar após o parto de sua segunda filha, tendo a vida e carreira interrompidas. Após a repercussão da morte de Dina, a rapper Negra Li, uma de suas companheiras de profissão e amiga pessoal, disse que naquele dia o Rap havia se calado.
Fotos: Reprodução