Fé no corre, bondade e Breaking no coração!

Luciana Mazza



Foi com essa energia do bem que Denílson Alves dos Santos (26), de Guaianazes, zona leste de São Paulo, na Cultura Hip-Hop conhecido como B-Boy Baby, conversou com o Portal Breaking World, falando de sua história e caminhada no Breaking e na vida!

Nesse papo falou sobre família, Breaking cultura e esporte, sobre grandes eventos do passado, essência, referências, treinos, lesões e principalmente a respeito de ser manter estável, psicologicamente, emocionalmente e financeiramente! “O mundo precisa de pessoas boas e o resto é consequência” é dele essa reflexão que desejamos que inspire você, leitor, a ser sempre pelo certo, pelo bem, nunca desistindo dos seus sonhos. Continuar é o foco, por mais difíceis que as coisas possam parecer! Fé no corre!

Confira essa entrevista que acabou de sair do forno:  


BW: Queria que você nos falasse seu nome completo, idade e nos contasse um pouco da sua infância: onde nasceu e cresceu? Foi uma infância tranquila ou houve dificuldades? Que lembranças tem dessa época?

Baby: Eu sou Denílson Alves dos Santos, tenho 26 anos. Sou de Guaianazes, zona leste de São Paulo. Minha infância foi tranquila em alguns aspectos, foi uma infância bem vivida. Eu brinquei bastante, tive muitas amizades, joguei muita bola, andei muito de bicicleta. Brincava bastante com as brincadeiras da época que tinha, mas também houve dificuldades, sim. Eu sou de uma família humilde, periférica, mas meus pais nunca deixaram faltar nada, porque os meus pais sempre fizeram correria para ter. Meu pai é pedreiro e a minha mãe cuidava da casa. Eu tenho uma irmã autista, então, essa minha irmã depende muito da minha mãe. As duas são bem grudadas, tenho irmãos também. Então, foi bacana o tempo da escola, mas eu não tinha uma autoestima muito legal, por ser um preto e tal, sofri muito bullying com o cabelo que eu tenho. Mas foi na minha infância que eu conheci o Breaking!



De família humilde e periférica, Baby sofreu bullying mas o Breaking o ajudou a superar os problemas de autoestima.
Imagem: ® Arquivo Pessoal




BW: Como foi isso? Quando surgiu o amor pelo Breaking? Onde aprendeu? Teve alguém que te ensinou os primeiros movimentos?

Baby: A partir daí comecei a ter minha personalidade e escolher esse caminho. Eu conheci a Cultura Hip-Hop entre 2008 e 2009, foi por meio do DVD Red Bull BC One 2005 muitas pessoas começaram através desse DVD, tinha um amigo meu que tinha um irmão que dançava Breaking e esse amigo nosso trouxe esse DVD para gente e através daí começou o encanto pelo Breaking. Fomos para rua tentar fazer os passos iguais dos dançarinos dessa época, que são conhecidos hoje mundialmente e até então encontrávamos uma divulgação aqui numa escola do meu bairro, onde estava acontecendo aulas de Hip-Hop e aí foi o meu primeiro contato com o Breaking e com os fundamentos, com pessoas me ensinando, foi a partir daí e até hoje essa pessoa que me ensinou os primeiros passos, o B-Boy Jean, até hoje somos muito amigos, somos da mesma crew e através daí eu fui tendo outros mestres. Fui conhecendo outras pessoas e outros lugares de treino. E assim foi fluindo!

BW:  Existiram pessoas que foram referência na dança para você aqui ou fora do país?

Baby: Sim, existiram diversas referências para iniciar minha carreira e de início como foi pelo DVD da Red Bull daquela época, tiveram algumas pessoas, eu sempre gostei de coisas de flexibilidade, gostava do Lilou. No Brasil, tive muitas referências com o pessoal da Gangstyle, que era uma crew de muita referência, inclusive eu fiz parte dessas crew também. O Lula foi uma referência. O B-Boy Megaman foi uma grande inspiração, no início e até hoje. 



B-Boy Baby foi um dos destaques da última edição do Breaking Combate, um dos mais tradicionais campeonatos do país.
Imagem: ® The Sarará




BW: Na sua família você é o único que dança? Teve apoio da família quando começou a dançar?

Baby: Na verdade não. Quando eu comecei o meu irmão Denis também estava lá no Brasileiro, nós começamos juntos, na mesma época, então, vivemos os mesmos momentos e hoje em dia ele continua dançando, somos da mesma crew, moramos juntos e continuamos dançando até hoje. Referente ao apoio, na época, né, por ser algo novo e por eu vir de uma família antiga que não tinha muita informação, eu era proibido de treinar pelo meu pai. Eu ia treinar escondido às vezes, sabe? Eu dançava escondido porque o Breaking não tinha como, eu estou aqui até hoje. Com o tempo, fui recebendo apoio, no decorrer dos anos fui envelhecendo, meu pai foi vendo que não era exatamente isso que ele pensava. Na época, falava de Hip-Hop pensava na rua, em coisas erradas. Mas isso era falta de informação que depois chegou.

BW: De onde surgiu o nome Baby que você usa até hoje na dança?

Baby: Esse apelido é bem antigo, eu era chamado de Baby bem antes de dançar, era um apelido que eu não gostava, na verdade, foi meu irmão que me apelidou com esse nome. Eu era novinho, era bem chorão, então, por causa da “Família Dinossauro” (risos) me apelidaram de “Baby”. Eu não gostava, mas ficou e está aí até hoje!





BW: Quando começou de fato a competir? Nos fale dos eventos que foram os mais especiais até hoje na sua vida e porque te marcaram…

Baby: Quando eu comecei, mesmo não tendo nível para competir, eu sempre gostei da energia da competição. Das batalhas e dos desafios! Então, eu comecei bem cedo nas batalhas, 2010 eu já batalhava! Mas as que mais me marcaram foram Rival vs Rival 2015, Master Crews, onde fomos finalistas, eu fazia parte da Gangstyle na época, foi em 2013. Mas no Rival eu competi ao lado meu irmão Smoke e tinham várias duplas de alto nível e eu lembro que enfrentamos também duplas de outros países, foi muita gente de fora, então, foi muito marcante, porque o Rival vs Rival era um evento que nós acompanhamos muito no início da nossa carreira e é um evento que sinto falta até hoje, foi importante para nossa carreira e sempre foi um evento de alto nível nacional. Tem muita história, muita trajetória e todo um emocional. Estava eu e meu irmão, então, foi um momento muito nosso! Foi bacana essa experiência! 

BW:  Você, Baby, sempre tem uma grande torcida nos eventos, nos fale sobre essas pessoas, sobre sua crew e como é a relação de vocês.

Baby: Sobre as torcidas, eu acho bacana! Principalmente os meus amigos, minha crew é um sentimento bem real nesse momento! Eu acredito que conheçam a minha história, talvez achem que vai chegar junto nessa energia, eu sempre busco transmitir uma boa energia em todo lugar que eu estou, então, eu não vou falar que sempre foi dessa forma, mas é uma essência que temos de amizade, muito de alegria, de festa, principalmente minha crew que acompanha o meu crescimento e ficam felizes por isso e as pessoas que são reais comigo da Cultura também ficam felizes, porque eu tenho uma trajetória no Breaking, eu já passei por diversas situações também na minha vida, então, quem conhece a minha história fica feliz quando consigo coisas! E muitos que estão no meio da bagunça viveram muitas coisas comigo, têm uma relação de amizade. Quando eu estava com o Hip-Hop no Vagão, trabalhava muito nos vagões em São Paulo, fazendo muito trabalho artístico, então, sempre tivemos uma energia alta, compartilhando boas coisas! São amizades antigas, vivemos muitas coisas juntos além do Breaking, tanto coisas boas como ruins. É uma conexão que acaba gerando num momento de alegria com amizades antigas e também amizades que chegaram agora!


Este mês B-Boy Baby foi o campeão do RV Power, em Diadema.
Imagem: ® Breaking World




BW: Como você vê os eventos que acontecem hoje em dia no Brasil? Você já competiu fora do país?

Baby: Com mais estrutura, mais oportunidades, as premiações melhoraram, mas sinto que perdeu a essência… Hoje em dia não vejo mais uma essência como antigamente, que existia muitas crews, hoje em dia não tem muitos eventos de crew, antigamente víamos as crews como família, cada família no seu canto, todo mundo com as camisas iguais, fazendo grito de guerra e isso se perdeu com o tempo, porque a estrutura, valores, não é ruim ter uma premiação alta, porque precisamos disso também para sobreviver, isso é um trabalho, que exige uma dedicação muito grande, leva anos… Mas a essência se foi um pouco e hoje é tudo diferente… Hoje é mais estrutura “hype”, mais a imagem, mas a essência real foi perdida e referente a competir fora do país, sim, já morei fora, morei em Santiago do Chile e eu competi e ganhei alguns títulos por lá. O meu primeiro título internacional foi o Surbreakers, foi bem bacana, foi em 2019, ganhamos também passagem para uma competição em Porto Rico, que não foi possível por causa da pandemia. Foi bem bacana, porque morei um ano lá e tive experiência também como arte-educador além do Breaking. 

BW: Como são os seus treinos? Quantas vezes na semana e quantas horas treina? Como você descreve a sua dança?

Baby: Hoje em dia os meus treinos são mais conscientes. Eu tive algumas lesões no decorrer dos anos por falta de informação e teimosia também, confesso. Eu pratico Yoga, alongo pela manhã, faço minhas meditações, busco me centrar bastante. Também faço fortalecimentos específicos, fisioterapias com banda elástica, malho sempre, houve uma necessidade de ter um preparado de atleta, mesmo antes de ter sido anunciado como esporte olímpico, atendendo as necessidades do meu corpo. O Breaking eu treino de 2 a 3 horas, somando tudo pode dar 5 a 6 horas de trabalho corporal. Antigamente, eu me movimentava bastante, também trabalhava no vagão, fazia shows, também tinha ensaios, eu sempre busquei treinar o meu Breaking fora as outras atividades. Sempre me mantenho ativo e com os treinos em dia. Descrever a minha dança vai muito com a minha realidade de vida, as minhas dificuldades, as minhas guerras internas e busco essas inspirações da minha família. Minha maior inspiração é a minha família, pelo que os meus pais correram e eu busco muito essa questão. Às vezes treino todos os dias, ando de bicicleta e às vezes descanso.


Consciência para evitar lesões e evoluir sempre.
Imagem: ® Breaking World




BW: O Breaking, que sempre foi um elemento da Cultura Hip-Hop, agora também virou esporte e será a nova modalidade olímpica de Paris 2024. Você participou do Primeiro Campeonato de Breaking como Esporte da CNDD. Como você vê todas essas mudanças de cultura para esporte?

Baby:  O Breaking nunca vai deixar de ser cultura, mesmo estando inserido nos jogos olímpicos, estamos nas próximas olimpíadas agora também. Eu acho que ele segue como cultura, mas expandiu para o esporte e isso é bom, porque será mais visto pela mídia, pelas pessoas antigas também que viam de uma forma ruim e agora vão entender que é algo profissional, porque quando falamos esporte mostra que é algo profissional e dentro da cultura é profissional também, então, acho que é uma boa expansão, mas ele sempre vai seguir sendo cultura, expande para o esporte e vêm as oportunidades.

BW:  Na sua opinião quais são as reais chances do Brasil nas Olimpíadas de 2024? Hoje em dia seu foco são as Olimpíadas? Como tem se preparado para esse grande evento? Quais são seus planos para o futuro?

Baby:  Na minha opinião o Brasil tem chance, estamos mais próximos com a organização e o top 3 que rolou na CNDD foi bom, mesmo que eu queira estar preciso entender que os que estão à frente de mim são pessoas que às vezes já percorreram o que eu estou percorrendo, é uma questão de processos, aprendizados e experiências. Mas se eu tiver oportunidade de ir, vou dar o meu máximo, hoje em dia tenho me preparado bastante, busco ser mais consciente em diversas coisas, sigo treinando, aprendendo muitas coisas e buscando novas oportunidades, apoios e cuido do meu interno, que é o mais importante. Os meus planos para o futuro são saúde minha e ao meu redor, minha família, meus pais, cuidar da saúde deles, então, essas oportunidades eu busco entregar o melhor para a minha família e isso me mantém estável. Tanto psicologicamente, quanto emocionalmente e financeiramente!



Priorizar a saúde e a família para continuar tendo êxito como dançarino e atleta de Breaking.
Imagem: ® Reprodução




BW: Deixe uma mensagem para os leitores do Portal Breaking World e para quem acompanha a sua dança.

Baby: Primeiramente, gratidão pela oportunidade, pela consideração do meu trabalho e trajetória. Feliz em poder compartilhar um pouco da minha história com vocês, é de grande importância para mim tudo isso! Tô ligado que existem muitas pessoas que não acreditam no meu corre, até sentir minha energia e meu Breaking! Porém, sei que tenho muito o que melhorar e trabalhar na minha dança. Eu sou muito grato por aqueles que acreditam realmente nisso aqui, isso me motiva a seguir! Independentemente de qualquer situação, não deixe de acreditar no seu potencial, não… Aprenda com os seus erros, trabalhe em cima disso, escute seu coração e nutra-se com todos os aprendizados possíveis! Seja leal consigo mesmo, só você sabe o coração que você tem… A humanidade precisa de boas pessoas, foque nisso e o restante virá como consequência… Muita fé no corre!

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