B-Boy Lagaet: No Brasil, participa do evento “Breaking do Verão”
Ele se autodenomina o gringo mais brasileiro de todos. Nascido numa ilha do Caribe chamada Martinique e hoje morando na França, Gaëtan Rodrigo Alin, mais conhecido como B-Boy Lagaet é um dos B-Boys internacionais convidados do “Breaking do Verão”, evento que acontece neste final de semana, no Rio de Janeiro. Lagaet, esbanjando simpatia, deu uma entrevista exclusiva para o Portal Breaking World, falando sobre sua história de vida, sobre sua personalidade na dança, sobre as Crews que faz parte, rotinas de treino, referências na dança e opinou sobre o tema Breaking nas Olimpíadas e países que estão adiantados neste assunto. Ainda revelou que deseja participar das Olimpíadas de Paris 2024 e que está se preparando! Confira a entrevista mais que inspiradora que nosso portal fez com esse B-Boy singular e compartilha a partir deste momento com vocês:
BW: Queria que nos falasse um pouco de você, da sua infância, do país onde nasceu e onde foi criado?
Lagaet: Salve Galera! Antes de qualquer coisa, queria agradecer o Portal Breaking World pela oportunidade, muita satisfação e gostaria de fazer uma menção especial pelo trabalho de pesquisa, pois pelas perguntas vejo que sabem muito bem do que falam, então, muito obrigado por isso. Então, meu nome é Gaëtan Rodrigo Alin, sou mais conhecido por B-Boy Lagaet, represento The Ruggeds e Momentum Crew.
BW: Quando e como surgiu o Breaking na sua vida? Verdade que foi num momento que ainda era criança? E que depois se encantou com os movimentos de Power Move também?
Lagaet: Comecei a dançar no final dos anos 2000. Nasci em Martinique, que é uma ilha do Caribe e lá vivi até os meus 18 anos. Depois, fui viver na Europa. Mas essa ilha tem menos de meio milhão de pessoas, no ano 2000 havia pouca informação. Eu vi nos filmes e gostava muito dos movimentos de luta do Kung Fu, via mortais, capoeira e etc., mas sendo novo e não tendo informação eu não consegui desenvolver nessas coisas. Então, com 11 anos, apareceu um B-Boy chamado Magno e trouxe o Breaking para a nossa escola e foi aí que comecei a gostar, comecei com os mortais primeiro e depois com os Power Moves. Foi com o passar dos anos que fui evoluindo, pois no início eu só queria aprender alguns movimentos e nada mais. Mas, com o passar do tempo, comecei a gostar da comunidade e da Cultura Hip-Hop, apreciando muito a arte e foi aí que comecei a desenvolver mais sobre as outras artes da Cultura Hip-Hop e me aprofundei mais no meu estilo, aprendendo as bases mais de Footwork, de Top Rock, mais de criatividade, elevando mais a minha dança.
BW: Com quem aprendeu a dançar Breaking e ter essa personalidade na dança tão ímpar que o caracteriza até hoje?
Lagaet: Então, naquela época que comecei ainda não tinha internet, era pouca informação. Todos os jovens aprendiam sozinhos. E, depois, uns com os outros e começamos a fazer movimentos. Eu lembro que um cara que veio da França, veio para minha ilha e falou que viu um movimento que chamamos de “louco”, mas era o Air Flare e eu tentava fazer o “louco” sem nunca ter visto e na verdade era o Air Flare! Era uma loucura! O que me fez ganhar criatividade foram os primeiros vídeos que eu vi, que me marcaram muito, me fazendo ver que todos os caras eram diferentes, foi isso que eu me identifiquei. Eu pensei: “para ser bom e para trazer algo de especial, algo meu para essa cultura, para esse movimento, eu teria que ser diferente de todos”! E é isso que eu tento ser e aplicar até hoje. Sou diferente! Quando todos vão para uma direção, eu vou para outra, trazendo algo meu!
BW: Tornou-se membro da Crew Breaf e da companhia MD antes de se juntar às suas atuais equipes, The Ruggeds e Momentum Crew. Fale de sua experiência de fazer parte dessas equipes e como isso influenciou e ainda influencia no seu crescimento como artista?
Lagaet: A minha primeira Crew foi a Breaf Crew, essa praticamente foi um grupo de amigos que começou a treinar juntos, são os meus amigos de infância, com os quais desenvolvi os meus primeiros movimentos do Breaking e continuam a ser os meus amigos bem próximos, que eu guardo comigo até hoje. Depois, apareceu a MD Company, foi a primeira companhia onde eu dancei, graças a ela fiz os meus primeiros trabalhos, onde recebi os meus primeiros cachês e as minhas primeiras viagens no Caribe. Visitamos várias ilhas, para competir e para espetáculos, aprendi as bases da criação e de como estar em um palco. Depois, a Momentum Crew é uma história de amor, somos muito irmãos, cresci muito como pessoa, faço parte há muitos anos e foi com ela que alcancei os meus primeiros resultados internacionais e viajei pelo mundo para competições. A Ruggeds é a minha Crew mais recente, eu já era amigo de vários membros do grupo, tão próximos que foi uma transição que foi feita de uma forma natural, compartilhamos uma mesma visão do Breaking em relação a competições e espetáculos e, nos últimos anos, passei muitas coisas com eles e tempo com eles e continuo!
BW: Como são suas rotinas de treino? E o que, na sua opinião, não pode faltar para quem pretende ser um bom B-Boy ou uma boa B-Girl?
Lagaet: Quem me conhece sabe que sou uma pessoa que gosta muito de treinar, nunca perco uma oportunidade. Eu vejo o Breaking como um vídeo game, em que sou o personagem principal, como no jogo que eu quero uma roupa nova, um carro novo, uma arma nova, um poder novo, o tempo passa e seu personagem evolui, é isso, só que na vida real e com Breaking. Para ser bom se trata de amar o que nós fazemos, amar a nossa arte e fazer isso por nós mesmos, não para parecer bom para outra pessoa, então, acho essa a melhor forma de crescer. Sobre a minha rotina, quando eu era mais novo o meu treino era muito desorganizado, mas agora, com a idade (tenho 33 anos) e o conhecimento que eu tenho, tenho vários treinos diferentes, então, por norma, quando eu chego no treino eu já sei qual será o tópico do dia e o que vou treinar. Não é só o Breaking, mas preparação física, preparação cardio, funcional, entre outras preparações.
BW: Hoje em dia, quais são suas referências no Breaking?
Lagaet: As minhas referências no Breaking são as minhas Crews, as pessoas que me inspiram mais e que compartilho mais, então, são essas que me inspiram. Momentum Crew e The Ruggeds. Me inspiro bem em B-Boys e B-Girls que têm longevidade e que dançam em alto nível.
BW: Em 2011, você foi campeão na Red Bull BC One em Barcelona, em 2012 e 2013, no Raw Circles 2on2, na Bélgica. Agora, em 2021, chegou ao palco da Final Mundial do evento pela terceira vez em sua carreira. Fale um pouco desses eventos, como se preparou para eles? E como se sentiu com os resultados?
Lagaet: Falar da minha vitória em 2011 na Red Bull Barcelona, em 2012 e 2013 no Raw Circles na Bélgica, nessa época o Breaking passava na frente de tudo! Então, eu estava muito a fundo nos treinos e focado na vitória. Hoje em dia, por exemplo, eu vejo as coisas um pouco diferentes, minha vida não para por causa do evento, antes desse evento eu estava numa turnê na Suécia com a minha Crew e eu não parei tudo por causa da Red Bull, já não vejo as coisas assim, pra mim é importante viver o momento, viver a vida e dançar pra mim e, então, é isso, eu vou com esse flow. Danço pra mim e aproveito o momento ao máximo! O resultado pra mim é muito irrelevante, porque depende da visão do júri, depende se eles estão magoados, depende da música que tocar, do chão que vou dançar, então, o Breaking é muito mais importante que o resultado, o impacto que eu causo no coração das pessoas quando me veem dançar ou as pessoas que posso inspirar sobre a minha carreira. Um jovem do Caribe que nasceu numa ilha pequena sem recursos e que consegue viver da dança há mais de 20 anos. Isso é o que mais conta pra mim!
BW: Hoje, o Breaking é uma modalidade olímpica. Como você vê essa transição da Cultura para o Esporte? Que países na sua opinião saem na frente e estão mais preparados para uma realidade olímpica?
Lagaet: Sim, o Breaking é um esporte olímpico hoje em dia, eu fico feliz de ter ajudado Paris 2024 através de apresentações sobre o Breaking, debates com alguns membros do Comitê Olímpico Internacional, eu fiz a minha parte para ajudar o Breaking a entrar nas Olimpíadas. O Breaking será sempre cultural, é um desporto quando falamos da vertente competitiva, é claro que é importante um preparo para esse tipo de competição, ter fôlego, aguentar várias entradas, mas a nossa cultura vai sempre se manter viva, com ou sem as Olimpíadas. Os eventos undergrounds existirão sempre e é isso! O lado positivo disso são os jovens que vão poder viver do Breaking, na minha época os mais velhos olhavam pra mim e diziam: “isso é impossível! Acorda para a vida! Começa a estudar! E vai procurar um trabalho!”. Hoje, tudo isso caminha para virar uma profissão. No Brasil acho que isso não está tão desenvolvido, mas na França, por exemplo, tenho vários apoios do Comitê Olímpico, tenho várias marcas que trabalham comigo e isso me ajuda a viver apenas da dança e focar apenas nos treinos. Isso é ótimo e é o que desejo a todos! Essa é a parte positiva do Breaking ter entrado nas Olimpíadas! Sobre os países mais preparados, na minha opinião é a Rússia e a França, também eles estão bem à frente, mas existem outros países que estão chegando também, como Portugal. Pouco a pouco eu acho que todos os países vão alcançar isso!
BW: Em outros esportes, como Skate, Ginástica Olímpica, Natação, a nova geração está chegando com força e subindo com mais frequência aos pódios. No Breaking, na sua opinião, é possível que isso também aconteça? É importante se preparar e investir na nova geração?
Lagaet: A nova geração tem menos preocupações que os mais velhos que dançam a mais tempo, sendo jovens, são amparados pelos pais, não se preocupam com o sustento, ainda não têm filhos, nem mulher. Eles conseguem focar mais no Breaking com os apoios que existem agora, pelo menos na França conseguem alcançar resultados muito maiores.
BW: As Olimpíadas te atraem? Deseja participar delas?
Lagaet: Sim, desejo participar! Estou me preparando para isso! Principalmente porque será em Paris. Eu vivo em Paris! Seria lindo participar e alcançar bons resultados em casa!
BW: Você está no Brasil, para o evento “Breaking do Verão”, como surgiu o convite para participar e quais são suas expectativas para esse evento? O que tem feito nesses dias no Brasil? Tem algum recado para os brasileiros que vão competir e assistir o evento?
Lagaet: O Breaking do Verão está chegando! Então, foi o Pelezinho que me convidou, nos encontramos na Red Bull BC One e então ele me convidou para o evento e é uma honra para mim poder participar. Eu amo o Brasil e estou aqui todos os anos! E fico vários meses, sempre é um lugar que me sinto muito bem, adoro a galera daqui, sou sempre muito bem recebido. Será a primeira vez que participo de um evento no Brasil, já dei workshop, já fui júri, já fiz espetáculos no Rock in Rio, mas como competidor de um evento de Breaking, será a primeira vez. Estou ansioso!
BW: Fale para o Portal Breaking World quem é o B-Boy Lagaet e quais são seus planos para os próximos anos?
Lagaet: Salve Galera! Salve Portal Breaking World! Eu sou o B-Boy Lagaet da The Ruggeds e Momentum Crew, o gringo mais brasileiro de todos! Estamos juntos! Gratidão pela oportunidade! E sobre os meus planos para o futuro, fiquem atentos! Vocês vão saber! Um grande abraço!
Imagem em Destaque: Little Shao / Red Bull