B-Girl Maia: Personalidade não falta a essa B-Girl

“Dançamos aquilo que somos” (B-Girl Maia)


Ela nasceu em Brasília, no Distrito Federal, no meio de artistas. Na infância jogava futebol, subia em árvores, brincava de pique-esconde. Não era raro dentro de casa os saraus que sua mãe fazia. Nesses eventos bem vivos na memória, ela tinha a oportunidade de conhecer e conviver com outros artistas, o que a influenciou desde pequena. Além disso, conviveu com o circo, com o teatro e com a música. O primeiro contato com a Cultura Hip-Hop foi por meio da irmã, que cantava Rap, o Breaking veio depois de um evento e de ser orientada pelo B-Boy Katatal.

Sim, estamos falando da Maia, a B-Girl que participou de várias batalhas na Europa em 2019 e 2020. Em 2019, esteve no “Festival I Love Hip-Hop”, na Holanda, participou da batalha de B-Girl 1×1 e foi convidada para a batalha de crew junto com a equipe do B-Girl Session (B-Girl Pauline, B-Girl Vanessa, B-Girl Bo, B-Girl Chica e B-Girl Camine). Com isso, participou da “Outbreak’, “Festival Free Spirit” e chegou na final do “The Notorious IBE” na Top Rock Battle. Em 2020, esteve em Praga no “The Legits Blast”, antes da pandemia, e no mesmo ano conseguiu conhecer o evento “Concrete Jam” na Suíça e o “Queen Of The Floor” na Dinamarca. Agora, neste último mês, no Brasil, participou do Breaking Street Battles, em São Paulo, onde foi a campeã na categoria B-Girls. A mina é braba! Vamos conhecê-la um pouco mais?

BW: Queria que você nos contasse onde nasceu, em que cidade cresceu e que lembranças tem da infância e da vida em família…

Maia: Eu nasci e cresci em Brasília, no Distrito Federal. Na minha infância, me lembro de jogar muito futebol, brincar de pique-esconde e subir em árvores, além disso, por fazer parte de uma família com muitos artistas, sempre tive muito contato com circo, teatro e música através do trabalho do meu pai e irmãos e, também, assistindo a outros artistas que se apresentavam nos saraus que minha mãe fazia em casa.

 

 

De Brasília para o mundo: B-Girl Maia competiu no Brasil e em grandes eventos na Europa – Foto: © Mirley Allef


BW: Quando teve o primeiro contato com a Cultura Hip-Hop? E o Breaking como surgiu na sua vida? Alguém na sua família dançava?

Maia: Meu primeiro contato com a Cultura Hip-Hop foi através da minha irmã que canta Rap, já tinha visto ela cantando algumas vezes na infância, mas teve um dia que ela me deu um CD com gravações de músicas dela e outro com músicas do Racionais MC’s e, nessa época, eu ouvia muito esses dois CDs. Depois disso, na adolescência, o Breaking começou a aparecer na minha vida através de lugares que eu frequentava e que tinham pessoas dançando, amigos que dançavam também e eu sempre achei muito incrível, tiveram até algumas vezes que fui em treinos para aprender, mas sempre sentia que não me ensinavam muita coisa. Daí tiveram dois acontecimentos que realmente fizeram a diferença, um deles foi um evento de Breaking 2×2 que aconteceu no meu bairro e que havia uma dupla de B-Girls muito maravilhosa, e poder assisti-las batalhando me inspirou profundamente, o outro fator foi ter conhecido, pouco tempo depois, o B-Boy Katatal, um grande amigo e principal responsável pela minha iniciação no Breaking, foi ele quem acreditou em mim e me deu base para seguir dançando.

BW: Alguém te ensinou a dançar Breaking? Você teve referências dentro da dança?

Maia: Quem me ensinou a dançar Breaking, primeiramente, foi o B-Boy Katatal, em 2010. Nessa época, minhas principais referências eram aqueles que eu via dançando no treino, no Encontro de B-Boys e B-Girls do Conic e em eventos aqui em Brasília mesmo.

BW: Como mulher, dançando Breaking, sofreu algum tipo de preconceito? Como sua família e as pessoas que estavam à sua volta viram sua ligação com a Cultura Hip-Hop e com o elemento Breaking?

Maia: Como mulher dançando Breaking não me lembro de sofrer preconceito na família ou nos lugares onde frequentava, pelo contrário, eu conhecia muita gente que curtia Hip-Hop, inclusive vizinhos. Minha família também recebeu bem e meu pai até já foi em alguns eventos aqui em Brasília assistir as batalhas.

 

 

O contato com a Cultura Hip-Hop foi por meio da irmã, que canta Rap – Foto: © Bruno Cavalcanti

 


BW: No Breaking houve movimentos mais difíceis de aprender? Quais você teve mais facilidade e mais dificuldade?

Maia: O mais difícil no Breaking para mim foi encontrar a minha personalidade dentro dos movimentos, foi um processo longo, muito particular e que continua em desenvolvimento, acredito que a gente dança aquilo que somos, e vendo dessa maneira me percebo nessa mutação e evolução enquanto pessoa e B-Girl todo o tempo. Em questão de movimentações específicas, acho que tive e tenho ainda algum tipo de facilidade para os movimentos, tudo vai depender também do que é o meu foco no momento, talvez para alguns freezes e footworks preciso de um pouco mais de dedicação, e os movimentos que tive mais facilidade, principalmente no começo, foram aqueles de maior flexibilidade.

BW: Como normalmente é sua rotina de treinos?

Maia: Treino sempre pelas manhãs, dia sim e dia não.

BW: Em que ano começou a competir? Houve eventos que foram especiais? Pode falar um pouco sobre eles…

Maia: Minha primeira competição foi em 2011 junto com a crew da qual eu fazia parte na época, depois disso competi poucas vezes até que, em 2015, fui morar em São Paulo, lembro que depois de pouco tempo que havia chegando lá, fui participar da minha primeira batalha e ganhei e naquele momento foi muito significativo para mim e para o caminho que eu estava buscando com a minha mudança para aquela nova cidade. Na minha opinião, todos os eventos são especiais de alguma maneira, porque sempre aprendo e vivo momentos especiais através da Cultura, alguns me marcaram de maneiras diferentes, um deles foi o “Battle In The Cypher” que pra mim é um dos melhores eventos do mundo por ter fortemente esse compromisso com a Cultura Hip-Hop, oferecendo uma programação de muito conteúdo, vivências e informação, para além da competição de Breaking; e outro evento foi o “Queen Of The Floor” na Dinamarca em 2020, porque eu tive a oportunidade de viver e ser parte de um momento histórico, ganhando a primeira batalha de B-Girls do país, foi uma experiência incrível, e nessa viagem também tive a oportunidade de conhecer muitas B-Girls e B-Boys que eu respeito e admiro, como o casal B-Girl Karen e B-Boy Katatal, e também B-Boy Machine, B-Boy Blanka, B-Girl Paulina e B-Boy Zoopreme.

BW:  Se divertir, curtir, competir, ganhar e perder como você administra todos esses sentimentos na hora que entra numa battle?

Maia: Acho que o que me ajuda a administrar meus sentimentos na hora de entrar numa batalha é me conectar com o meu propósito naquele momento, porque independente do resultado, o que eu realmente avalio comigo mesma, depois, é se realmente consegui atingir aquilo que eu gostaria, e que nem sempre está no resultado de quem julga.

 

 

 

Conexão com propósito: para Maia mais importante que o resultado é a autoavaliação – Foto: © Bruna Ferreira

 


BW: Você faz parte do grupo “Rede B-Girls do Brasil”, nos fale da importância desse grupo para as meninas do Breaking.

Maia: Acredito muito na força que é esse grupo e essa rede de contato entre as B-Girls do Brasil, porque mesmo sabendo que somos minoria dentro da Cultura, através do grupo nos enxergamos muitas e nos sentimos parte, nos identificamos com as histórias umas das outras, compartilhamos assuntos do universo B-Girling que, na grande parte dos lugares que frequentamos, não temos esse espaço de troca e tudo isso fortalece muito a cena das mulheres no Breaking, pois através da Rede podemos incentivar a iniciação e permanência de muitas B-Girls dentro da Cultura.

BW: Você já competiu fora do país, nos conte suas experiências?

Maia: Sim, participei de batalhas na Europa em 2019 e 2020, e também agora em 2021 de forma on-line. Em 2019, estive no “Festival I Love Hip-Hop”, na Holanda, onde pude participar da batalha de B-Girl 1×1 e ainda fui convidada para a batalha de crew junto com a equipe do B-Girl Session (B-Girl Pauline, B-Girl Vanessa, B-Girl Bo, B-Girl Chica e B-Girl Camine). Nesse mesmo ano participei da “Outbreak’, “Festival Free Spirit” e cheguei na final do “The Notorious IBE” na Top Rock Battle, foi super especial e na final me lembro de ver todas as B-Girls do público atrás de mim me apoiando. Em 2020, estive em Praga no “The Legits Blast”, antes da pandemia, e no mesmo ano ainda consegui conhecer o evento “Concrete Jam” na Suíça, evento muito bom e produzido no meio de um parque e o “Queen Of The Floor” na Dinamarca.

BW: Breaking nas Olimpíadas… O que você pensa sobre isso?

Maia: Para mim, o Breaking nas Olimpíadas ainda é um caminho desconhecido, mas, por enquanto, tenho tentado ver como mais uma oportunidade de visibilidade para a cena e mais um possível caminho a seguir através do formato “competições”. Minha insegurança está em não saber como a nossa cultura será apresentada nesse espaço olímpico, pois não entendo o Breaking como um esporte e sei o quanto somos potentes enquanto Cultura Hip-Hop e apenas não desejo que isso seja perdido ou diminuído a competições.

BW: O que você tem feito na pandemia?

Maia: Tenho trabalhado muito de forma on-line, escrevendo e realizando projetos para editais, montando trabalhos no formato de audiovisual, treinando, estudando bastante e produzindo mensalmente o “Encontro On-line de B-Girls do Brasil”, espaço de troca e acolhimento de B-Girls.

 

 

 

B-Girl Maia competindo na categoria B-Girling da Breaking Street Battle – Foto: © Reprodução Street House

 


BW: Recentemente, você participou do “Breaking Street Battle” em São Paulo, passando por várias meninas e foi a ganhadora. O que achou do evento?

Maia: O evento foi bem legal e teve um formato diferente dos eventos on-line que têm acontecido nos últimos tempos, gostei da proposta de montar uma batalha através de vídeos já pré-prontos e ir montando as chaves através de sorteio e votação ao vivo.

BW: Quais são seus planos para o futuro?

Maia: No momento, confesso que tem sido difícil fazer muitos planos futuros, mas tenho estudado e treinado bastante para melhorar cada dia mais a minha dança e meu fazer artístico, estou com projetos de desenvolvimento de um espetáculo solo e planos também de viajar para fora novamente, assim que possível.

BW: Deixe um recado para os leitores da Breaking World?

Maia: Seja incrível, se olhe com carinho e respeito e saiba enxergar suas fraquezas e suas potências, se alimente bem, faça as coisas por você, seja sensível para o mundo, passe menos tempo no celular e viva o presente das coisas, assuma seus erros e aprenda com eles, olhe mais para si e o mais importante, não deixe de sonhar jamais, tudo é possível e impossível a gente só vai saber se tentar fazer acontecer e, na maior parte das vezes, o caminho do sonho vale muito mais do que chegar lá.

Foto em destaque: © Mirley Allef

 

 

B-Girl Maia foi a campeã da Breaking Street Battle, que faz parte do projeto “Expo Hip-Hop On-Line” – Foto: © Reprodução Street House

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