Sou B-Girl e eu posso!
O chão vai estalar: está chegando a nova geração do Breaking.
Com cara de brava, com uma força que parece não caber dentro de uma garotinha de 10 anos, Chaya Gabor, mais conhecida no circuito de campeonatos de Breaking como B-Girl Angel do Brasil, sempre gostou de batalhas!
O que muitos não sabem é que a maior delas foi assim que chegou ao mundo e o prêmio foi a própria vida. Com um passado ligado a muitos fios, incubadora, balão de oxigênio e muitas orações, foram assim os primeiros meses da vida dessa B-Girl, marcada pela prematuridade extrema, Chaya nasceu com 850 gramas, ficando internada numa UTI Neo Natal por muitos dias, tendo sobrevivido a 2 paradas cardiorrespiratórias. Angel é um milagre vivo! Após sua alta médica, teve apneia da prematuridade, necessitando de monitoramento contínuo e utilização de oxímetro em seu primeiro ano de vida, ela esquecia-se de respirar mas não deixava de batalhar pela vida jamais.
Seu nome significa “Presente de Deus” e segundo sua família, sempre representou isso na vida de todos que a conhecem. Sua emocionante história virou até um livro chamado “Gerando Milagres”.
Passadas todas as tempestades e incertezas, Angel começou a dançar, no início por uma indicação médica, já que não gostava de nadar. Primeiro no Ballet, depois, acompanhando o irmão, B-Boy Eagle (13), já com quase 4 anos trocou o Ballet por algo bem radical, o Breaking, onde se encontrou.
Curada por Deus e abraçada pela Cultura Hip-Hop, a menina que é bem conhecida na cena, nas redes sociais e na imprensa, tem despontado como um grande nome da nova geração do Breaking. Só no Instagram tem mais de 2000 seguidores que acompanham seu dia a dia, os campeonatos que participa e suas vitórias. Recentemente, ganhou o primeiro lugar na qualificatória brasileira do Festival de Dança “All Dance”, o que garantiu uma vaga no mundial que acontece agora em Setembro. Com uma personalidade forte e marcante na hora da dança, é carinhosamente chamada por seu treinador Eder Devesa de “Senhorita Power Move”. Leia a entrevista:
BW: Fale um pouco sobre você, sobre sua história?
B-Girl Angel: Meu nome é Chaya Gabor, tenho 10 anos. Nasci bem antes do tempo que os médicos e minha mãe esperavam. Nasci com 850 gramas e quase morri. Isso me fez ficar no hospital muito tempo com minha mãe até eu ganhar peso e ficar boa dos meus problemas respiratórios. Mamãe diz que foram muitos dias, onde muitas pessoas oraram pela minha vida. Para alguns, sou um milagre, parei duas vezes de respirar. Lutei para viver, essa foi minha primeira batalha. E minha mãe até escreveu um livro contando a minha história.

BW: Quando você começou a dançar Breaking e quem te ensinou?
B-Girl Angel: Acho que comecei a dançar Breaking dentro da barriga da minha mãe (risos). Nessa época, minha mãe trabalhava com alguns Rappers e quando eles começavam a rimar em shows, eu me mexia muito em sua barriga, às vezes ela não conseguia nem andar. Mas aprender dançar mesmo comecei aos 2 anos no Ballet, com a tia Luciana Amâncio, no litoral de São Paulo, meu irmão também dançava, fazíamos sapateado juntos. Até que um dia conhecemos o Zeca Break, foi ele quem nos ensinou os primeiros movimentos do Breaking e nos fez amar essa cultura. Tenho muito carinho pelo Zeca.
BW: Você tem referências no Breaking?
B-Girl Angel: Sim, algumas: B-Girl Mini Japa, B-Boy Ruddy, B-Girl Ayumi, B-Boy Lilou, B-Boy Menno, B-Boy Bruce, B-Boy Issei, B-Boy André Herculess, B-Boy Dynabeat, B-Boy Vapor, todos os meninos da minha Crew, meu coach B-Boy Dunda e meu irmão.

BW: Quem te treina hoje?
B-Girl Angel: É o Eder do Breaking Combate, já estamos juntos há 2 anos. Gosto muito dele, já faz parte da minha família. Ele me chama de “Senhorita Power Move” (risos).
BW: Tiveram movimentos que foram mais difíceis de aprender, que levaram mais tempo?
B-Girl Angel: Sim, tiveram e têm até hoje! Mas Breaking é repetição. E de tanto repetir, aprendemos.
BW: Sua família sempre apoiou a sua dança? Como é sua vida em família?
B-Girl Angel: Sempre! Minha mãe e o meu pai sempre nos apoiaram demais! Os meus avós também! Todos são grandes incentivadores da nossa arte.
BW: Quando começou a ir para campeonatos? Qual foi o primeiro campeonato que você foi?
B-Girl Angel: Foi em 2017. O primeiro campeonato que eu participei foi o “Rival vs Rival”. Depois, o “Master Crews” e não parei mais de participar de campeonatos. Eu gosto muito de competir! É um momento que me sinto bem e tranquila, pois estou fazendo o que mais gosto.
BW: E qual foi o primeiro que você ganhou? Qual foi a sensação de levantar o primeiro troféu? Você guarda esse troféu até hoje?
B-Girl Angel: Acho que o primeiro que eu ganhei foi em Juquitiba. Foi muito bom ganhar o primeiro troféu e foi contra o meu irmão (risos). O troféu faz parte da minha coleção e está na estante até hoje!
BW: Me fale um pouco da sua rotina de treinos. Que horas e quantas vezes na semana você treina e com quem?
B-Girl Angel: Treino quase todos os dias, às vezes até final de semana e os meus treinos são divididos. Dura em média umas 3 horas.
BW: É fácil ser B-Girl e uma boa aluna na escola? Os colegas e os professores pedem para você dançar para eles na escola?
B-Girl Angel: Não é fácil. Sim, sempre pediram, principalmente nos eventos da escola. Os colegas também, na hora do recreio. E até ensinava para alguns.
BW: Fale um pouco sobre a sua Crew?
B-Girl Angel: Eu faço parte da Dream Kids Brazil, que é uma Crew formada por crianças e juntos somos uma família. Somos treinados pelo B-Boy Dunda. Na Crew somos B-Boy Sonek, B-Boy Marcin, B-Boy Samukinha, B-Boy Eagle e eu.
BW: O que você sente quando você dança? O que se passa na sua cabeça?
B-Girl Angel: Liberdade e felicidade de poder sempre ser eu na minha dança. De ter a minha personalidade. Me sinto muito bem. Admiro muita gente, mas não quero ser os outros, eu quero ser eu. Lembro que no passado, por algum tempo, treinei com um professor que usava as crianças e não respeitava isso e transformava todos os alunos em seus bonecos de imitação. E até hoje é assim. É só olhar para eles, são os meninos e meninas do B-Boy fulano, que dançam igual a ele! Não quero ser conhecida desta forma. Eu não gosto disso! Eu sou a B-Girl Angel!
BW: Uma das suas principais características é a cara de brava dentro das rodas? Você é brava?
B-Girl Angel: Nas batalhas e nas rodas sou concentrada. Mas não sou brava!
BW: Para você o que é o Breaking? O que ele representa na sua vida?
B-Girl Angel: Breaking é a minha vida! Depois de Deus, foi o Breaking que me curou dos meus problemas respiratórios.
BW: Você se acha competitiva? O que te deixa muito irritada durante uma batalha de Breaking?
B-Girl Angel: Sim, sou bastante! Pessoas que parecem presas, repetitivas e que têm movimentos sujos.
BW: Nos campeonatos que você compete contra adulto, você acha que já deixou de ganhar algum pelo fato de ser criança? Acha que as crianças são valorizadas nos eventos?
B-Girl Angel: Não me lembro, mas acho que aqui no Brasil, os eventos não valorizam as crianças como lá fora! Meu irmão foi para a Europa no ano passado e as crianças eram reconhecidas nos grandes eventos. Mesmo tendo adultos também! Se a criança for melhor que o adulto deve ganhar!
BW: O que você se sente quando você não ganha ou perde? Consegue lidar bem com isso?
B-Girl Angel: Me sinto normal, faz parte ganhar e perder. Quando eu não ganho porque errei, na hora fico aborrecida, sim. Mas, quando sei que fui bem e não ganhei porque houve panela acho feio para quem senta na cadeira de jurado. Se um dia for convidada para ser jurada, jamais quero participar de coisas assim.
BW: Além da dança, o que mais você gosta de fazer?
B-Girl Angel: Eu gosto de rimar, gosto de Batalhas de Rima! Gosto de ir na São Bento, gosto de desenhar, de ver vídeos de dança e de como construir as coisas.
BW: Quais são os seus maiores sonhos na dança? Onde quer chegar?
B-Girl Angel: Meu sonho é morar e dançar fora do país. É ser completa na dança, eu sou B-Girl e eu posso!
BW: Tiveram muitas crianças que começaram na mesma época que você e hoje já não dançam mais. Você alguma vez pensou em desistir de dançar?
B-Girl Angel: Não vou desistir da minha vida. O Breaking é a minha vida.
BW: O que você acha da possibilidade de poder participar de uma Olimpíada?
B-Girl Angel: Acho muito bom! Mais uma grande oportunidade para a minha geração.
BW: Fale sobre os eventos que já participou.
B-Girl Angel: Em 2019, fui a primeira criança a chegar na final do Prêmio Sabotage, 1º lugar na Batalha Final Kids e 3° lugar na Batalha Final de B-Girls. 1° lugar Batalha de Juquitiba, participei de Rival Vs Rival (SP), Breaking Combate (SP), 2° lugar no Peruíbe Dance Festival (SP), Master Crews (SP), BreakSP Battle, B-Boy World Classic (SP), Nike Battle Force na Streetopia (SP), 2º lugar São Matheus Break, 1º lugar Fábricas de Cultura (SP), Ar Dance (Peruíbe/SP), 2° lugar na Tattoo Week (SP), Festival Santos Café (Santos/SP), R16 (SP), Tropical Battle (RJ), Battle Kids Argentina, Quando as Ruas Chamam (DF), Red Bull BC One Camp Brazil, Campeã da Quebrada Viva Battle, 1° lugar no Arte Breaking, 2º lugar no São Vicente Festival, 1° lugar na modalidade Kids do All Dance Brazil 2020.
BW: Como foi ganhar a vaga para o mundial no All Dance World?
B-Girl Angel: Foi bem especial! Treinamos durante meses a coreografia “Anjo do Breaking” e o resultado foi a resposta a um bom trabalho feito. Vou lutar pelo mundial também!
BW: Quem é a Angel?
B-Girl Angel: B-Girl Angel do Brasil sou eu! Fora das batalhas sou a Chaya!
BW: Que mensagem você deixaria para outras crianças que pensam em começar no Breaking?
B-Girl Angel: Venha logo dançar e conhecer essa cultura!
Fotos: Arquivo Pessoal/The Sarará/Willian Machado/Man/Fernando Ferreira
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- B-Girl Angel do Brasil
- B-Girl Angel do Brasil
- B-Girl Angel do Brasil
- B-Girl Angel do Brasil no "Rival vs Rival"
- B-Girl Angel do Brasil na "Tropical Battle"
- B-Girl Angel do Brasil na "World B-Boy Classic"