Aconteceu no último final de semana, em Barueri, o Festival de Artes e Empreendedorismo Urbano (FAEU), com total sucesso de público e apoio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, Proac-Editais e da Secretaria de Cultura e Turismo de Barueri. O FAEU foi um festival multicultural que fortaleceu a economia criativa dos empreendedores do setor de cultura urbana, Hip-Hop, streetwear e também dos artistas como B-Girls, B-Boys, grafiteiros, DJ’s e MC’s da Grande São Paulo. O evento se expressou por meio de múltiplas linguagens artísticas e apresentou um setor em constante crescimento com características alternativas ligadas à cultura urbana, sendo palco para novos talentos, abriu espaços para novas ideias e tendências nas áreas das artes, música, dança, moda e gastronomia, ofereceu oportunidade aos artistas participantes e marcas independentes que puderam promover, comercializar e viabilizar as suas criações.
Visào parcial do público presente, com várias famílias prestigiando o festival.
Quem desejava conhecer mais sobre a Cultura Hip-Hop e sobre seus elementos pode aproveitar a grande oportunidade! O primeiro dia do festival (22) foi de aprendizado, dedicado aos Workshops. Dentro do Espaço Cultural Luiz Fernandes, que fica na Aldeia de Barueri, diversos artistas de vários cantos do Brasil e até de fora compareceram e participaram das palestras oferecidas gratuitamente. Nomes como João Carlos, coach esportivo do Atleta Campeão, B-Boy Jonasflex, B-Boy Pulga, o MC Nauí e Ale, da FMS, foram os nomes convidados a palestrar e dividir suas vivências com os participantes.
João Carlos, do Atleta Campeão e os participantes da palestra “Escute a batida do seu coração”.
No dia seguinte (23), o tempo amanheceu bonito no Parque Municipal Dom José e quem gosta e pratica o Breaking ou quem desejava conhecer mais sobre essa nova modalidade olímpica de Paris 2024 não ficou de fora! O evento começou às 13h com os filtros e batalhas de B-Boys, depois, veio um desfile de marcas urbanas, em seguida, a competição Kids, com a presença de crianças que são a esperança do Breaking brasileiro nos próximos Jogos da Juventude e nas Olimpíadas, depois veio a disputa de B-Girls, mostrando a força das mulheres brasileiras dentro da Cultura Hip-Hop e do Esporte Urbano e por fim, a Batalha de MC´s, que finalizou o evento com chave de ouro. No total, foram mais de 200 participantes, entre B-Boys, B-Girls e Kids. Os grandes campeões do evento foram: No Kids, em 1º lugar a B-Girl Angel do Brasil (12), que com uma personalidade forte e com uma presença marcante na competição agitou o público presente. Angel, que treina em Barueri e tem apoio da cidade, já coleciona prêmios nacionais e internacionais. Em 2020, ficou em 2º lugar no E-Fise Montpellier, da França e em 2021, em 1º lugar no All Dance Brazil. Em 2022, começou o ano sendo homenageada pelo Prêmio Arte em Movimento e agora o 1º lugar no Breaking Combate. Angel faz parte da Dream Kids Brazil. Nas B-Girls, a grande vencedora foi a paraense Mayara Colins, conhecida como Mini Japa, que em 2018 ganhou a Red Bull BC One Cypher Brazil e representou o país no mundial da Suíça. Japa faz parte da Amazon Crew. Nos B-Boys, o vencedor foi o mineiro Gilberto Araújo, mais conhecido como B-Boy Rato, que até pouco tempo morava no exterior e tem se destacado em grandes eventos no cenário nacional e internacional. Julgando essa competição, estavam os dançarinos: B-Boy Kustelinha, da Bauru Breakers, B-Girl Lu, da Afrobreak e o B-Boy JonasFlex. da Supreme Boyz Crew. E comandando a festa DJ Conrado e Anderson BBMCs.
Campeões do Breaking Combate 2022: B-Girl Angel do Brasil (Categoria Kids – Barueri/SP), B-Girl Mini Japa (Categoria B-Girls – Belém/PA) e B-Boy Rato (Categoria B-Boys – Uberlândia/MG)
Na batalha de rimas, o vencedor da noite foi o MC Big Mike, que no final de 2021 foi um dos 3 grandes ganhadores da BDA 5 anos. O evento foi apresentado por Bob 13. E na difícil tarefa de julgar os competidores: MC Nauí, de Brasília e o MC Koel, de São Paulo deram conta de escolher os campeões.
MC Big Mike foi o campeão do MC Combate em uma final disputadíssima.
O Festival de Artes Urbanas e o Breaking Combate ainda tiveram o apoio do Portal Breaking World, que foi a mídia oficial do evento, da Associação Raso da Catarina, da Street House Cultura e Esportes Urbanos, da Urban Roosters e da Monster Energy. E registrando o evento, o fotógrafo The Sarará.
Outro grande destaque do evento foi o grafiteiro Sotaq, que em sua arte fez uma homenagem durante o evento a Cindy Campbell e seu irmão, o grande DJ jamaicano Kool Herc, considerado o “Pai do Hip-Hop”.
O grafiteiro Sotaq e o mural em homenagem a Cindy Campbell e Kool Herc, precursores do movimento Hip-Hop mundial.
São de Eder Devesa e de Chalana, organizadores do Festival de Artes Urbanas e do Breaking Combate, as palavras: “O evento foi um sucesso! Mais uma edição que superou a nossa expectativa, depois de alguns anos sem a realização do Breaking Combate devido a pandemia, sentimos no olhar, na vibração das B-Girls, B-Boys e do público, nesse dia incrível, a alegria das pessoas. Foi um reencontro épico, divertido e, claro, os combates pegaram fogo, tivemos combates de alto nível nas três modalidades, Baby, B-Girl e B-Boy. Recebemos participantes de vários estados e até de fora do país, isso foi muito gratificante, reunir todos os elementos do Hip-Hop em um só evento não é fácil e isso aconteceu, celebrar essa cultura serve como combustível para seguirmos em frente e a cada edição melhorar…”.
A nova geração foi destaque no evento, mostrando que o futuro do Breaking já está presente e chega com tudo!
Estiveram prestigiando o evento o Secretário de Cultura e Turismo de Barueri Jean Gaspar e alguns jornalistas que já acompanham as edições do Breaking Combate.
Foi difícil apagar as luzes e desmontar o piso de madeira, sabendo que por ali passaram tantos artistas singulares. O evento foi contagiante e a sensação é de dever cumprido! E sabem de uma coisa? Queremos mais!
Fotos: The Sarara e Cadu Barbosa
Galeria dos Campeões 2022
B-Girl Angel do Brasil mostra o cinturão que conquistou na competição, na categoria Kids, representando a cidade de Barueri/SP
MC Big Mike mandou bem nas rimas e conquistou vaga e passagens para competição internacional da FMS
B-Girl Mini Japa foi o destaque na categoria B-Girls, levando o cinturão para o Pará
B-Boy Rato conquistou o primeiro lugar na categoria B-Boys, levando o cinturão para Minas Gerais
Um carro estacionado, segundo a polícia, de forma irregular, foi o estopim para uma confusão que terminou com a prisão do cantor MC Salvador da Rima, na tarde deste sábado (27) na zona leste de São Paulo.
Em vídeos que estão circulando pela internet, o artista e um amigo aparecem sendo rendidos por PMs e depois agredidos com mata-leão e chutes.
Tudo começou porque um dos policiais multou o carro que estava estacionado em frente à casa de Salvador.
Ao questionar o motivo da multa, o artista teria discutido com um policial, que deu voz de prisão por desobediência.
Testemunhas contaram, ainda, que a esposa do cantor também foi agredida.
O vídeo, publicado no Instagram do MC Jeh da 6, amigo de Salvador, mostra o MC retirado da própria residência por PMs, já com a camisa rasgada.
Durante a detenção, ele é chutado, imobilizado e enforcado.
A prisão aconteceu por volta das 12h, mas, Salvador só chegou à 67º DP por volta das 13h40, com escoriações no corpo.
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) disse que já está apurando o caso.
O rapper Salvador da Rima é autor de hits como “Vergonha Pra Mídia” e “Outfit Valioso”, que contam com mais de 200 milhões de visualizações no YouTube.
Foto: Reprodução
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As batalhas de rima sempre foram nas ruas, estações e praças, locais típicos de encontros de equipes e crews. Mas, com esse momento de quarentena, elas foram para um local totalmente diferente: a internet.
Aliás, diferente em partes, elas já estavam na internet. Canais como Batalha da Aldeia (SP), Batalha do Tanque (RJ) e outras com nomes conhecidos nacionalmente, já batiam números absurdos no YouTube e outras plataformas de vídeo, chegando diversas vezes na guia em alta, tornando as batalhas cada vez mais famosas.
Com o coronavírus e a proibição de eventos com aglomeração, as batalhas foram obrigadas a ficar somente no meio on-line, o que tirou aquele visual de roda na praça que todos estavam acostumados a ver. Apesar disso, batalhas com um pouco mais de estrutura logo se organizaram e começaram as edições on-line, que nesse momento, inclusive, abriram algumas opções que talvez não foram pensadas antes por que não havia necessidade.
Agora podemos fazer uma batalha on-line entre pessoas de estados diferentes sem que necessitem se deslocar por terra ou ar, assim tendo maior disponibilidade de horário. A organização também será completamente diferente quanto a sorteio e votação – não tínhamos experiências em votações on-line, todas as batalhas que partiram para uma versão on-line tiveram que se esforçar para aprender e, com isso, também vieram alguns pontos negativos, que é o motivo de um número muito baixo se arriscarem nessas edições: a estrutura.
As organizações não têm um orçamento para se bancarem; podemos chutar que menos de 5% das batalhas têm uma renda que pague as contas e possa ser investida em um escritório ou QG e isso dificulta muito com um país com péssima internet, planos às vezes com valores altos e locais que você só pode optar por uma operadora.
Esse problema de estrutura, também é somado ao problema de que boa parte dos MCs também não possuem uma internet rápida ou boa para acompanhar a live. O atraso e falhas entre beat e rima dificultam e atrapalham o MC, deixando a batalha às vezes desinteressante e difícil de acompanhar.
No entanto, isso não está fazendo com que as batalhas diminuam, e sim aumentem, porque se tem uma coisa que as organizações e MCs estão com saudade é da vibração da plateia numa Punch ou Fatality daqueles.
OPINIÃO MC
Afro Max: “tudo sempre tem prós e contras. O MC sente falta das batalhas, isso faz parte da vida dele, não é mais um hobby, mesmo com toda dificuldade de itinerário, locomoção, acesso, muitos querem a volta das batalhas. Em contrapartida, por questões de saúde e segurança, o retorno presencial nos locais destinados não é uma opção. As batalhas on-line têm sido a forma mais segura de darmos continuidade aos trabalhos.
Claro que a energia não é a mesma, a adrenalina não é a mesma, mas cada um luta com a arma que tem, cada um rima com a batida que tem.
Então, ainda assim, a internet tem sido o meio mais seguro e mais viável a ser usado”.
OPINIÃO ORGANIZAÇÃO
Aqui vai uma dica de estrutura e organização para quem ainda não desenvolveu a sua batalha on-line:
Primeiramente, faça! Mesmo com pouca estrutura, porque essas coisas vão se ajustando com o tempo, vocês vão se acostumando e melhorando a cada edição.
Tenha um notebook.
Faça ligações para os MCs por Google Meet (gratuito e sem limitação de tempo).
Deixe somente os áudios dos MCs ativos, para que fique mais leve a transmissão e mantenha apenas equipe e MCs na sala de bate papo – sempre lembrando de só deixar ativo o microfone de quem está rimando.
Muitos estão utilizando YouTube ou Twitch como plataforma de transmissão, mas ambas têm maneiras complicadas de fazer a votação, muitas precisando de aplicativos ou softwares externos, já o Facebook dá opção de fazer enquetes durante a transmissão, direto no chat ou mesmo em cima da imagem da transmissão.
Foto: Fotomontagem BW
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“O Rap é um dicionário da vida. Ele te dá uma visão ampla de tudo. É sentimento e lógica.” (MC Ryan)
“Se você ama essa cultura, como eu amo essa cultura, diga Hip-Hop, Hip-Hop” ou “Cachorro sapeca mijou no hidrante, o que vocês querem ver? Sangue!”. São com essas frases que começam as “Batalhas de MC’s” no litoral de São Paulo. Um encontro de todos, do antigo com o novo, fazendo uma verdadeira renovação cultural. Mas desde cedo aprendem que o Hip-Hop não é moda e que é necessário ter personalidade e criatividade, fazendo as próprias rimas. As decoradas não são bem-vindas. A cada dia a nova geração chega e acontece com mais força, escrevendo assim seu nome na história.
Mostrar a nova geração da Cultura Hip-Hop, esse também é um dos compromissos do Portal Breaking World, afinal, eles são o futuro e a continuidade da cultura. Nesta matéria, conversamos com o MC Ryan, da cidade de Itanhaém, que foi visto por muito tempo como o menorzinho das Batalhas de MC’s, mas hoje o menino com 15 anos mostra nessa entrevista que ser MC é muito além de segurar um microfone: é necessário ter conhecimento, flow, uma boa métrica, se afastar das drogas, ter sonhos e saber onde deseja chegar. Se liga na entrevista:
BW – Ryan, queria que você falasse um pouco de você e da sua família.
MC Ryan – Eu sou o Ryan da Silva, na rima MC Ryan, tenho 15 anos, moro no litoral de São Paulo, em Itanhaém. Sou filho de uma enfermeira e a profissão do meu pai não sei, pois não tive convivência com ele. Tenho uma irmã chamada Tamires que é técnica em enfermagem.
BW – Nos conte quando e como surgiu o interesse pela rima que é feita por MC’s?
MC Ryan – Bom, a minha família tem diversos gostos musicais, mas Rap quem escutava era minha irmã e meu tio, mas o interesse surgiu realmente quando eu tinha 13 anos, eu ia numa praça e lá rolava Batalha de MC’s. Aqui, nessa época, em Itanhaém, tinha o Big Mike que estava rimando aqui na Cabuçu, aí eu vi aquilo e gostei muito. Cheguei em casa e comecei a pesquisar sobre o assunto, sobre Batalhas de MC’s, foi aí que eu comecei a ver uns garotos da minha idade, o Thiago, o Leozinho, tudo novinho, rimando, aí eu comecei a assistir muita batalha e me espelhei nisso. Eu queria fazer aquilo também. Até que no meio do ano eu já estava fazendo “freestyle” e comecei a rimar na internet por meio de um programa que várias pessoas, de várias batalhas, que até vários MC’s que são famosos começaram lá, e que se chama “Radical”. Aí eu comecei a batalhar, os caras falavam que eu batalhava bem. Mas o primeiro contato que eu tive com uma batalha de fato, ao vivo e em cores, fora do mundo virtual, foi na “Batalha do Secreto”, que acontecia sexta-feira, mas que eu por ser menor de idade tinha muitos problemas por causa do horário, minha mãe ficava preocupada de eu voltar tarde para casa. Mas, mesmo assim, teve um dia que eu fui lá, batalhei e ganhei! Sendo essa a primeira vez que fui campeão numa batalha de rima.
BW – Como você aprendeu a rimar? Rimar não é algo fácil, a pessoa tem que ter a resposta certa na hora certa e pensar muito rápido. Alguém te ajudou nisso ou te ensinou?
MC Ryan – Bom, eu não vou dizer que aprendi de primeira, eu tive muita dificuldade no começo. Eu era um tipo de MC que mandava muito suporte, falava várias vezes “Tá ligado”, “Mano”, mas eu já me sentia chocado pelo simples fato de estar ali rimando, já me sentia feliz. Mas realmente não era fácil, eu tive muita dificuldade no começo de encaixar as rimas no beat, de ter a métrica certa e conseguir pensar numa resposta, mas quando você está rimando e está batendo de frente com um outro MC, parece que sua mente fica automática, o cara manda um ataque e você já tem a resposta. Eu não tive muita ajuda de ninguém. Me lembro que eu conheci o Chad, mas nessa época eu já sabia rimar e ele também sabia. A minha primeira batalha depois que eu ganhei a do Secreto foi eu vs Chad MC, ele me levou para batalhar, mas antes pediu que eu mostrasse o que eu sabia. Então, nós rimamos, os amigos dele gostaram e aí ele me levou em outras batalhas e disse que eu era cria dele (risos), aí eu fui aos poucos me destacando. Mas ajuda de MC’s eu nunca tive, eu sempre fui muito independente. Eu colocava o beat em casa e ia encaixando palavra por palavra.
BW – Alguns MC’s falam que leem dicionário para poder aumentar o vocabulário. Você faz isso?
MC Ryan – Eu não leio muito dicionário não. Mas ajuda, muita gente usa. Eu comecei a batalhar em 2018, nessa época o povo já falava que eu rimava bem. Falavam que eu deveria continuar e aí eu fui me aprofundando nisso.
BW – Onde você mora sempre participou das principais batalhas da cidade. Me fale dessas batalhas? E das principais dificuldades enfrentadas por MC’s que moram em cidades pequenas?
MC Ryan – As principais que eu conheço eram: A “Batalha da Praça”, “Batalha da Consciência”, “Batalha do Secreto”, “Batalha da Pista” e a “Batalha do Quadrado”. Nessa última, vários MC’s conhecidos já encostaram lá. Sobre as dificuldades de morar numa cidade pequena, bate às vezes um desânimo. Mas não só por ser pequena, mas muitas vezes pela falta de apoio das pessoas, da família, tem muita gente que acha que Rap não é futuro, que não dá dinheiro. E realmente, em cidade pequena não rende muito, aqui tem poucos eventos, nenhum apoio, mas no meu caso eu pretendo sair de Itanhaém, ir para outros estados, aqui tem bastante dificuldade. Na caminhada de MC’s você é desmotivado até mesmo por outros MC’s que acompanham o seu progresso, por exemplo, eu fui muito desmotivado pela minha idade, em 2018 eu comecei a me destacar, o povo já falava: “é o menorzinho das batalhas”. Eu já era conhecido e por causa disso gerou um conflito de outros MC’s comigo. Muitas pessoas chegavam a falar que eu ganhava por causa da minha torcida, mas não era por isso, eu me esforçava bastante, ficava rimando por horas, rimando em aplicativos, só para fazer o melhor na batalha.
MC Ryan campeão da “Batalha da Praça”, em Itanhaém (2019)
BW – Você falou de apoio. A sua família apoiava sua arte ou não?
MC Ryan – Minha família é um caso complicado (risos). Nem sempre eles me apoiaram, começaram mais me apoiar agora. Minha mãe no início olhava meio torto para mim. Eu nasci em São Paulo, morava numa favela, em São Paulo as coisas eram bem diferentes, tinha gente desde pequena indo para o lado errado das coisas e a minha mãe veio para Itanhaém por causa disso. Ela queria uma vida melhor e mais segura para a gente. Ela falava que eu tinha que estudar, que Rap não dava futuro para ninguém, que isso deveria ser um hobby para mim. Mas, na minha visão, nunca foi assim, eu sempre enxerguei o Rap como uma forma de se expressar, eu sou uma pessoa muito complicada, eu reflito muito sobre várias coisas, sobre eu mesmo. Mas agora ela fica feliz por mim, acha que é uma coisa bacana de se fazer porque ela me vê feliz, tanto que no evento do “Prêmio Sabotage” que eu me inscrevi esse ano, ela estava me apoiando. Ela hoje me diz que eu tenho que mostrar a todos o meu trabalho de uma forma diferenciada. Minha avó me apoia muito, às vezes ela muda de lado (risos), mas ela tem alguns motivos e no final das contas eu sei que ela quer o melhor pra mim. Mas quando eu pegar mais fama eu vou lançar uns sons.
BW – Já se sentiu preterido por ser criança?
MC Ryan – Sim, quando existe uma criança numa batalha, normalmente as pessoas não olham como MC e vão te olhar como criança. Mas eu vou falar… Eu nunca rimei decorada numa batalha, sempre improvisei e me esforcei, o meu freestyle sempre foi muito agressivo. Mas sempre teve muito preconceito. Tiveram várias batalhas que eu arranquei grito e aí uma torcida veio falar que eu ganhei as pessoas porque era criança. E isso desmotiva quem é novo! Eu acho esse negócio de preconceito pela idade muito errado!
BW – Nas batalhas existe uma divisão entre batalha de tema e de sangue. De qual você gosta mais?
MC Ryan – De conteúdo de batalha entre conhecimento e sangue eu prefiro sangue, porque conhecimento é basicamente para você testar sua cultura, o que você sabe. A batalha de sangue já é bate volta a pessoa rima com o que desejar, tem “gastação”, eu sou mais de sangue pois é mais liberado.
BW – Nas batalhas rola de tudo, às vezes xingamentos a familiares e outras coisas. Já aconteceu, depois da batalha, de ficar aquele “climão”? Ou quando termina a batalha acaba tudo e as coisas voltam ao normal?
MC Ryan – Sobre os desentendimentos nas batalhas, realmente tem MC’s que um esculacha a família do outro e isso gera brigas. Antes eu era um garoto que falava muito de pederastia, mas com o passar do tempo comecei a usar mais ideologia. Na verdade, eu não era pederasta, apenas rimava em cima do assunto que outros estavam rimando. Mas esse clima depende muito da energia da plateia. Os MC’s também julgam muito o outro pela classe social, às vezes alguns me chamavam de boy, mas ninguém sabe do meu passado, não sabem do esforço que eu tenho que fazer para ser alguém na vida, que minha mãe teve. Minha mãe levantava todos os dias às 3 horas da madrugada para ir trabalhar em São Paulo, mesmo morando aqui no litoral. Hoje, por exemplo, ela foi num dia e só volta no outro. Isso é perigoso e exaustivo, ela é uma grande batalhadora, uma guerreira e eu a amo demais! E por classe social eles nem sabem que eu morava dentro de uma favela e não conhecem a minha história. Mas não ligo para isso!
BW – Na sua opinião, o que é necessário para um MC ser considerado bom?
MC Ryan – Muitos acham que a gastação é uma forma de freestyle, mas eu não concordo não. A essência de um bom MC é ele ter um bom conteúdo nas batalhas. Não ficar falando de pai, de mãe, ter uma mente aberta, ter poesia na cabeça, ter pensamento grande, tem que ser esforçado, tem que ser competitivo e tem que ter amor pelo que faz.
BW – No meio das batalhas rola muita droga? Como você faz para fugir disso?
MC Ryan – Olha, para mim nunca fez sentido as drogas. Eu sempre tive cabeça, desde pequeno eu já tinha uma noção do que eram as drogas. Noção do que era certo ou errado. Tanto que minha mãe não me deixava ir nas batalhas, às vezes, por medo. Pelo simples fato da pessoa usar droga ela já é horrível, está se autodestruindo e desses eu mantenho distância, tendo plena consciência de que aquilo não é certo. Eu nunca tive atração por droga nas batalhas, diversas vezes já trombei com vários MC’s que estavam drogados e muita gente bêbada e isso atrapalha na batalha, algumas vezes chegam pessoas embriagadas atrapalhando e um amigo, o Dodô, que era o responsável pela batalha tomava atitude, dava bronca, mas muitas situações as pessoas não respeitam, às vezes você está batalhando e o cara joga bafo na sua cara de maconha, isso é o cúmulo da falta de respeito ou coisa assim e isso gera conflito. Minha mãe embaçava muitas vezes de eu ir em batalhas por isso, ela sabia que no centro, de sexta-feira, tinha muita gente embriagada, muitas drogas e ela tinha medo do que poderia acontecer. Mas muitas vezes eu insisti e fui. Mas tem que ter cabeça para sair fora dessas coisas!
BW – Entre os MC’s famosos, qual você mais se identifica? E você falou que estava gravando alguma coisa em estúdio, pode falar sobre isso?
MC Ryan – Hoje em dia têm bastante MC’s que eu acho que não tem muito conteúdo, mas que chama a atenção da galera. Mas tem dois que mais me identifico: um é o Dudu MC, ele tem um ótimo flow, conteúdo, a métrica como ele manda as rimas, ele tem toda uma habilidade, aquilo surge naturalmente e o outro é o Thiago MC, que agora foi mais para o Trap, mas gosto muito dele. Assistindo ele batalhando e o Dudu são inspiração! Inclusive muitas pessoas veem semelhança entre eu e o Thiago. Sobre as gravações, eu tenho gravado algumas coisas pelo celular, usando aplicativos profissionais que são usados em estúdios, tem masterização e outros recursos. Eu estou querendo aprender mais sobre esses aplicativos e lançar algumas coisas. Nessa quarentena tenho feito isso.
BW – Quais são seus planos e sonhos para o futuro?
MC Ryan – Meus planos para o futuro é viajar para o Espírito Santo e ir na batalha do “Oh Shit”, em Registro, e lançar um som no estúdio! E se tornar um MC conhecido! E eu ainda quero, quem sabe, lançar um Trap com o Dudu. Esse moleque é muito bom! Ah também quero ser um jogador profissional de “FreeFire” (risos).
BW: O que significa o Rap na sua vida?
MC Ryan – Essa pergunta foi impactante (risos). O Rap é a vida, é o sentimento para mim, é a lógica de tudo. Ele diferencia aquilo que eu vivo nas convivências, no passado. Ele é aquilo que contraria todo o julgamento, o preconceito, o racismo, ele diferencia tudo, é o modo de você viver a vida com mais respeito. Ele é um dicionário da vida. Ele te dá uma visão ampla que temos que ter em relação às pessoas que estão à nossa volta. Existem pessoas que são muito preconceituosas! Esse negócio de preconceito de idade ou qualquer outro tipo de preconceito, uma pessoa que pensa assim, não sabe o que é Rap. O Rap é onde somos todos iguais!
Fotos: Arquivo Pessoal
MC Dodô e MC Ryan na final da "Batalha da Consciência"
MC Ryan na "Batalha da Consciência"
MC Ryan duelando com MC Bob Leal na "Batalha da Consciência"
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