Quem esteve no Streetopia, que fica próximo da Avenida Paulista, coração cultural do Brasil, neste último final de semana ou acompanhou as diversas lives, entre elas a do Portal Breaking World, pode testemunhar que: “O bagulho foi louco!”. Expressão muito usada dentro da Cultura Hip-Hop para expressar algo que foi muito bom e com o astral lá em cima. Depois de passar por Curitiba (PR), Fortaleza (CE) e Brasília (DF), um dos maiores campeonatos mundiais de Breaking, o Red Bull BC One, neste último final de semana aterrissou em São Paulo, reunindo toda a galera, da nova geração aos Old School, na cidade que é indiscutivelmente o berço do Breaking Brasileiro.
No dia 29, aconteceu a Cypher São Paulo que foi a última seletiva regional, onde B-Boys e B-Girls passaram por um filtro. De lá, saíram quatro finalistas – dois da categoria feminina e dois da masculina, os ganhadores foram B-Boy Zym e B-Girl Dedessa, que garantiram a vaga na final nacional do Red Bull BC One, que aconteceu no domingo (31), quando, então, os 32 melhores B-Boys e B-Girls do país se enfrentam numa competição insana e com total participação do público presente para conseguir o título de campeão e campeã nacional. Os campeões foram B-Boy Leony e B-Girl Maia, ambos conseguiram a vaga para representar o Brasil em Nova Iorque na etapa mundial, que acontece no dia 12 de novembro. B-Boy Leony, que se tornou tetracampeão, declarou em entrevista: “O tetracampeonato veio agora, em 2022. O tempo todo estava com meu filho na cabeça e isso me deu mais força”, diz o paraense, pai do pequeno João Miguel, de dois anos. “Treinei muito para chegar até aqui e agora só quero comemorar”, completa. Maia, que no ano de 2021 chegou na semifinal, também se pronunciou: “Ano passado não teve público e este ano a energia da galera me contagiou. Fui de coração aberto, me diverti e em nenhum momento fiquei pensando em ganhar”, concluiu agora a campeã.
Vale também destacar a diferenciada e incrível participação do B-Boy Allef, que ganhou na semifinal do B-Boy Bart e depois foi para a final com o B-Boy Leony, conquistando a torcida do público presente! Que chegaram a pedir um terceiro round na semifinal!
Paralelo às competições, aconteceram nos três dias de evento muitas emoções no Red Bull BC One Camp Brazil, um evento com programações bem variadas, que convidou todo o público presente para uma verdadeira imersão no mundo da Cultura Hip-Hop. Na programação, houve muitas cyphers com participação de várias gerações do Breaking nacional, exposição fotográfica e de jaquetas com a reconhecida fotógrafa Martha Cooper, famosa por fotografar a arte urbana de Nova Iorque desde a década de 70, quando a Cultura Hip-Hop nasceu nos subúrbios nova-iorquinos, após seis anos de sua última passagem pelo país. Em parceria com o artista visual catarinense Wagner Wagz, as obras da fotógrafa fizeram parte de uma exposição durante os três dias de evento, onde foram estampadas em jaquetas confeccionadas e pintadas artesanalmente por Wagz.
Também houve workshops nacionais e internacionais, como do conhecido B-Boy Lilou, da B-Girl Sarah Bee, DJ Kapela e do importante fotógrafo Little Shao.
Além disso, oficinas de dança, batalhas “Bonnie & Clyde”, que pegou fogo entre a dupla carioca B-Girl Savaz e B-Boy Adriano e a dupla nordestina B-Girl Lorinha e B-Boy Suicida.
Também teve a diferente “Batalha do Chinelo”, criada pelo B-Boy Pelezinho para o evento IBE, na Holanda, a Batalha do Chinelo rolou pela segunda vez no Brasil. Os participantes não podiam deixar o chinelo sair do pé enquanto dançam Breaking. E quem levou a melhor na parada foi o B-Boy Bart.
E a incrível batalha de exibição entre duas grandes crews do mundo, a Squadron Crew, diretamente do sul da Califórnia e a brasileira Tsunami All Stars. Essa foi a chance de ver alguns dos melhores B-Boys do mundo em ação, em uma batalha de exibição em que eles mostraram o melhor que sabem fazer. Do lado da equipe californiana Squadron Crew estiveram Luigi, Phil, Pnut e Stripes. Do outro lado, Bart, Neguin, Allmax e Sinistro representaram a força brasileira pela Tsunami All Stars.
O evento no Brasil foi um sucesso, deixando um gostinho de “queremos muito mais”! E agora, o que acontece com os brasileiros que ganharam a Red Bull BC One 2022?
Bom, o próximo desafio é a Last Chance Cypher, onde Leony e Maia lutam por uma vaga na Final Mundial do Red Bull BC One 2022, que acontece dia 12 de novembro, em Nova York. Existem duas formas de fazer parte da competição: a primeira é por convite e a segunda é vencendo a Last Chance Cypher, que é disputada por campeões nacionais do mundo todo.
Todos os anos, alguns breakers são escolhidos pelo seu excelente nível e peso na cena do Breaking. Esses B-Boys e B-Girls fazem parte automaticamente dos 16 participantes da Final Mundial. Pode ser que, dos 16 competidores, em um ano tenha apenas uma ou duas vagas remanescentes, mas esse número pode até quadruplicar dependendo do número de breakers convidados. Estamos na torcida pelos nossos representantes!
O Portal Breaking World agradece a todos que acompanharam as transmissões nesses três dias! Estamos juntos família! E a Red Bull BC One pelo respeito com a imprensa e pela oportunidade de mais uma vez registrar esse evento espetacular.
Imagem em destaque: ® Breaking World
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“O último brasileiro e sul-americano que ganhou o mundial da Red Bull BC One foi o B-Boy Neguin, há 11 anos.”
Aconteceu neste último final de semana, na quinta-feira (4), a Last Chance da Red Bull BC One e no sábado (6) a grande Final Mundial da Red Bull BC One. O evento aconteceu na Ergo Arena, em Gdańsk, na Polônia, onde os brasileiros B-Boy Xandin, de Anápolis, Goiás e a B-Girl Itsa, mineira que foi duas vezes ganhadora da Cypher Brasil (2019 e 2021), foram eliminados na primeira etapa (filtro). B-Boy Bart, que foi direto como wildcard (convidado) deixou o evento nas quartas de final. Ele declarou para uma equipe da TV Globo: “O plano que eu elaborei, não consegui executar aqui. Eu errei na terceira entrada, mas estou contente com o que eu fiz. Agora, é seguir em frente. Já estou pensando no que está por vir”.
No caso de Itsa e Bart, a situação foi quase um repeteco do que já tinha acontecido em 2019, antes da pandemia, em Mumbai, na Índia, evento onde B-Boy Menno se tornou o primeiro tricampeão do campeonato mundial de Breaking Red Bull BC One. Bart participou também da E-Battle em 2021, onde perdeu para o B-Boy Lee, da Holanda.
Vale lembrar que o primeiro B-Boy brasileiro a participar do mundial da Red Bull BC One foi o B-Boy Pelezinho, em 2005, em Berlim, Alemanha, mas a última vez que o Brasil trouxe para casa o cinturão do mundial da Red Bull BC One foi com o B-Boy Neguin, em 2010, em Tóquio, no Japão. Neguin até hoje é o único B-Boy brasileiro e latino-americano a conseguir esse feito, que já tem 11 anos!
Esse ano, o Last Chance foi a última etapa do evento de Breaking da Red Bull rumo à classificação para a final, que aconteceu no sábado (6), onde os melhores B-Boys e B-Girls do mundo se enfrentaram.
Da Last Chance, as 4 B-Girls que ganharam a vaga foram: Vavi, da Rússia, Ayumi, do Japão, Fenny, da França, e Stefani, do Reino Unido. Entre os B-Boys: Lee, dos Países Baixos, Nori, do Japão, Amir, do Cazaquistão e Johnny Fox, da Espanha garantiram seus lugares na final.
Para se qualificar para a Final Mundial do Red Bull BC One, competidores de mais de 60 eventos classificatórios em 30 países competiram pela oportunidade de representar sua nação ao lado de uma linha de 24 convidados curinga. Este ano, a Final Mundial do Red Bull BC One contou com uma lista completa das 16 meninas, foi a primeira vez desde o início do evento que isso acontece!
A lista final dos 16 primeiros da Final Mundial do Red Bull BC One incluiu: B-Boys Sunni (Reino Unido), Zoopreme (Dinamarca), Lagaet (França), Thomaz (Polônia), TawfiQ (Holanda), Xak (Espanha), Wild Jerry (Bielo-Rússia), Shigekix (Japão), Phil Wizard (Canadá), Flea Rock (EUA), Bart (Brasil), Gun (Rússia), Lee (Holanda), Nori (Japão) e Johnny Fox (Espanha).
Nas B-Girls foram: B-Girl Logistx (EUA), Sidi (Grécia), San Andrea (França), Madmax (Bélgica), Paulina (Polônia), Ami (Japão), Kastet (Rússia), Yell (Coreia do Sul), Ayumi (Japão), Fanny (França), Luma (Colômbia), Ram (Japão), Carito (Argentina), Nadia (Reino Unido) e Vavi (Rússia), que lutaram pelo título de campeã mundial.
Numa final emocionante, os grandes ganhadores da Red Bull BC One de 2021 foram: entre as mulheres, B-Girl Logistx dos EUA, ela derrotou a B-Girl Vavi, da Rússia, na final, para se tornar a mais jovem B-Girl a vencer o Mundial da Red Bull BC One, mostrando que não tem como negar que a nova geração tem pressa de chegar e conquistar os pódios mais altos do planeta. São de Logistx as palavras: “Isso é um sonho. Eu literalmente imaginei esse momento tantas vezes. Red Bull BC One é algo que sempre quis ganhar. Eu sinto que não é apenas o cinturão, não é apenas o título, mas o que eu sou, o que represento no chão, os valores e a moral. Obrigado a todos pela energia.”, conclui.
Seu nome de nascimento é Logan Edra, mais conhecida como Logistx, nasceu e foi criada na Califórnia. Ela é uma Red Bull BC One All Star, um membro da equipe do Underground Flow e do Breaking MIA. Como uma artista muito bem articulada, coreógrafa, ela partiu de Cyphers de rua para teatros lotados, televisão, telas e alguns dos palcos mais respeitados em todo o mundo. Logistx adora articular questões sociais e suas próprias emoções por meio de peças de dança. Uma grande conquista em sua carreira de sucesso veio quando ela ganhou o solo de Silverback Open B-Girl 2018. Naquela noite, ela derrotou Sarah Bee da França, duas vezes campeã solo B-Girl do Outbreak Europe, Kate, a então campeã mundial da Red Bull BC One, Ami e B-Girl Jilou, da Alemanha. Depois de sua vitória explosiva, a cena mundial de Breaking conheceu o poder dessa menina, de repente todos sabiam o nome de Logistx.
Ela também venceu a batalha júnior de Seven to Smoke no Radikal Forze Jam, de 2019, em Cingapura e apresentou sua peça solo, Pain is Reality, na Convenção Anual de Breaking, em Londres, Inglaterra. Ela, então, voltou para Los Angeles e no showcase de dança “Arena LA” apresentou a peça solo, Who You Are, que foi coreografada pelo vencedor do Emmy, B-Boy D-Trix. Após sua apresentação, Logistx realizou uma batalha de exibição contra o Red Bull BC One All Stars, com sua equipe Underground Flow e quando a batalha terminou, Ronnie pegou o microfone e disse a Logistx, na frente de todo o público, que o BC One All Stars queria convidá-la para se juntar a eles como seu mais novo e mais jovem membro da tripulação. Este ano é sua segunda aparição depois de 2019.
Entre os B-Boys, o grande ganhador foi o B-Boy Amir, que dominou a batalha contra Phil Wizard, um B-Boy canadense conhecido por seu estilo único, para se tornar o primeiro breaker do Cazaquistão a vencer a Final, ele daclarou: “Eu senti o poder em minha alma e em minha mente. E estou feliz por poder mostrar esse poder aqui, naquele palco”. Originário do Cazaquistão e agora morando na Rússia, Amir tem firmemente colocado seu nome no cenário internacional de última hora, desde a vitória da batalha solo Legits Blast Praga, em 2020, e depois em 2021 na Unbreakable Solo Battle. Com um estilo de Breaking extremamente imprevisível, musical e contundente, o cinturão do Mundial da Red Bull BC One foi dele!
A Red Bull BC One 2021 pós-pandemia foi um sucesso! O nível de dançarinos foi bem elevado! O evento é uma das maiores e mais prestigiadas competições de Breaking individual do mundo, reunindo todos os anos milhares de espectadores e telespectadores on-line.
O Portal Breaking World transmitiu ao vivo a Final Mundial e agradece mais uma vez a oportunidade de participar da cobertura desse grande evento!
Hoje é comemorado o Dia do Breaking, em São Paulo, o dia foi criado pelo vereador Milton Ferreira (Podemos) em 2017, por meio da PL 253, promulgada a Lei 16.753, de 13/11/2017.
Mas o Breaking vem muito antes disso… é um elemento da Cultura Hip-Hop que nasceu no Bronx, em Nova Iorque, com os fundadores da dança, na década de 70. Era algo que aparecia nas festas. A palavra “B-Boying” significa a manifestação corporal do Hip-Hop. Não eram só os pés, mãos em movimento, eram usadas todas as partes do corpo. Cabeça, pescoço, mas intelecto e também caráter.
O Breaking nunca foi moda, mas uma arte legítima!
Os B-Boys comiam, bebiam, respiravam e pensavam “B-Boying”. Toda vez que se escutava “Sex Machine”, “Just Begun”, “Apache”, que era hino, era possível ver a música ser sentida nos corpos, fazendo esses meninos dançarem, tratava-se de algo mágico, que apenas a música e sua energia faz com as pessoas. Na verdade, foi a música que fez desenvolver todos os estilos e movimentos. O Breaking é Hip-Hop puro!
Ken Swift uma vez disse: “O Breaking começou com uns poucos irmãos e irmãs que não se importavam com o que as pessoas pensariam de seus movimentos”. Eram meninos sem dinheiro, que moravam nos guetos, no meio do ambiente urbano. Nas festas, a pessoa entrava fazendo pose, depois descia ao chão. E se os movimentos fossem bons, se formava uma roda em volta para que outro pudesse também entrar e desafiar o mano na dança. A palavra B-Boy veio de Kool Herc, deveria ter representado o Bronx, na verdade era “Breaking Boys”. Quando a galera estava “Breaking” nas festas, significava que estavam procurando confusão, eram “Breaking Boys” e “Breaking Girls”. Breaking vem da terminologia de rua. A pergunta: “Por que você está Breaking?”, significava “Por que você está fazendo coisas fora do normal?”. Estar zangado era estar “Breaking”, ou seja, nos dias de hoje seria “estar bravo, estar chutando o balde!”. Essa se tornou uma expressão oficial quando Kool Herc usou. Os B-Boys eram “os meninos que quebravam” e as B-Girls eram “as meninas que quebravam”, não tinha nenhuma ligação e não veio dos breaks no disco, como muitos pensam. Esses meninos e meninas desciam até o chão e giravam, foram os primeiros a fazer isso. Alguns chegavam nas festas com charutos e casacos compridos: eles arrebentavam! Dançavam em cima de cimento.
Desde a criação do Breaking, a dança possibilitou que muitos jovens se distanciassem da violência, juntando-se em Crews para dançar e trocar vivências. Quando chegou ao Brasil na década de 1980, não foi diferente. Muitos encontraram no Breaking motivações e objetivos para tocar a vida! Muitos saíram da droga e da marginalidade graças ao Breaking! O Breaking sempre representou vida! 51 anos depois do início do movimento, muita coisa mudou sim, no dia 4 de dezembro de 2020, o Comitê Olímpico Internacional (COI) confirmou a inclusão do Breaking no programa dos Jogos Olímpicos de Paris-2024. Novos ventos parecem soprar nas rodas de Breaking, mas a essência deve continuar!
O Portal Breaking World, para comemorar esse dia, destaca nesta matéria com orgulho alguns nomes de B-Boys e B-Girls que levaram no passado e continuam levando o nome do nosso país para os quatro cantos do mundo. Desejamos a todos os B-Boys e B-Girls de todas as gerações muita luz e muita dança! Confiram:
Pelezinho: O nome que consta na certidão de nascimento é Alex José Gomes Eduardo, ele não poderia ser mais brasileiro. Nasceu numa família alegre de sambistas e capoeiristas em São José do Rio Preto, interior de São Paulo. Da infância guarda boas lembranças das feijoadas e dos churrascos em família. Criado pela avó, matriarca da família, o menino que não tinha tênis, mas que desde pequeno já mostrava habilidades diferentes e muito especiais, a famosa estrelinha no meio da testa que alguns carregam para esse mundo, filho de mestre de capoeira era bom nos movimentos do corpo e também no futebol, por isso recebeu o apelido de “Pelezinho”, mas seu destino não foi escrito num campo de futebol e nem jogando capoeira, mas sim nas ruas. As rodas que frequentava eram outras, as de Breaking, onde sua grandeza foi reconhecida e conquistada, sendo ponte para o resto do mundo. Foi o primeiro brasileiro a participar da competição que em poucos anos se firmaria como uma das maiores de Breaking do planeta, o Red Bull BC One. Pelezinho agarrou firme a chance e teve seu talento reconhecido internacionalmente. Hoje, é membro da Red Bull BC One All Stars, equipe internacional composta por artistas e dançarinos que representam os melhores da cena. Atualmente fora das competições, continua comprometido com o Breaking pelo resto da vida, ele sempre lembra: “O Breaking mudou a minha vida e pode mudar de muitas pessoas”.
Kokada: Maurício Araújo de Souza, conhecido na cena Hip-Hop como B-Boy Kokada morreu aos 35 anos, no dia 21 de dezembro de 2012. Um dos mais talentosos B-Boys que o Brasil já teve. “Mr. Kokada”, como também era conhecido, começou a dançar em 1993 na Estação São Bento, participou de vários campeonatos nacionais e internacionais. Durante os 16 anos atuando na cena B-Boying, ficou conhecido não só no Brasil, como também em todo o mundo. Kokada também era MC e integrante da Tsunami All Stars Crew. Conhecido como “Mestre do Power Move Brasileiro”, Kokada possui um currículo invejável e era considerado o primeiro B-Boy a ganhar fama mundial antes do YouTube, além de ser lembrado por sua habilidade de realizar movimentos para ambos os lados, cujo grau de dificuldade o tornava ainda mais único. De personalidade forte, impactou a cena com a sua presença.
Neguin: Neguin nasceu e foi criado no Paraná. Durante sua infância, foi influenciado pela capoeira, música e artes e acabou apaixonado pela dança. Atualmente, além de fazer parte do time da Red Bull BC One All-Stars, ele é o único latino-americano com o título de campeão mundial e o dançarino que mais carrega títulos em competições internacionais como Red Bull BC One, UBC Championship, Unbreakable, Freestyle Session, Outbreak Europe e outros.
Luka: Ele nasceu no bairro do Tatuapé, mas sua infância foi na Vila Curuçá, em São Miguel Paulista. Seu sonho, como a maioria dos meninos brasileiros, era ser jogador de futebol, sempre incentivado pela família. Começou a jogar com apenas 4 anos. Depois, conheceu a capoeira, onde no primeiro dia se identificou, sentindo-se em casa e livre. Durante anos, jogava futebol e fazia capoeira. Mas foi em 2006, com apenas 12 anos, que mergulhou de corpo e alma no Breaking. Sua evolução foi rápida! Foi o futebol e a capoeira que lhe deram a base para tudo, confessa que sem eles não teria a dedicação e foco que tem hoje. Foram nessas artes que aprendeu a ser persistente, paciente e dedicado. Os primeiros passos de Breaking deu na própria sala da casa onde morava, vendo um DVD da Red Bull BC One, onde tentava copiar os movimentos, o pai também tinha coleção de discos em casa, cresceu escutando alguns clássicos do Hip-Hop, a música sempre foi presente em sua vida. O menino ganhou idade, conquistou seu espaço, aprendeu a dançar no meio da pressão e sobreviver às críticas, resolveu viver sua própria vida, da sua forma e aprendeu que o segredo sempre foi focar no presente, no agora, plantar as sementes para colher no futuro com muita paciência e dedicação. Recebeu influência de grandes nomes do Breaking e participou de vários eventos naturais e internacionais. Em 2014, assinou o contrato com o Cirque de Soleil e foi morar fora do pais, onde tem se destacado. São de Lukas as palavras: “No Cirque eu tive essa oportunidade, de poder acordar todos os dias e fazer o que mais amo. Treinar, dançar e inspirar as pessoas. No show, todos nós artistas, através da sua especialidade, inspiramos o público a viver a vida com amor e que tudo vai melhorar. Sobre o Breaking, atualmente vem fazendo parte de empresas e eventos grandes, procurem se valorizar e entender o business por trás dos eventos e trabalhos. Como se comportar, aprender a falar outras línguas, principalmente o inglês. Se hoje o B-Boy brasileiro tem uma oportunidade, tem que saber conversar e negociar. Muitos da nova geração têm o sonho de viver de eventos e batalha, mas não podem esquecer que temos outros caminhos e oportunidades para viver e se expressar através da dança. Cada dia mais estamos evoluindo, o mundo está em constante crescimento, novos talentos e oportunidades. Precisamos acompanhar esse processo de mudança. Quem acompanhar essa evolução, não só do movimento, mas da cultura em si, são aqueles que irão colher bons frutos. A nossa ação precisa ser aplicada no nosso momento presente, no agora. Não adianta querer ser um bom B-Boy ou B-Girl, ser campeão, fazer parte de grandes eventos e projetos, se não estiver preparando e vivendo o dia-a-dia. Não vamos esquecer o poder de cura e mudança de vida que a nossa dança pode trazer na vida das pessoas, como inspiração. Quando dançar, mostre o seu espírito em sua maneira única. Não coloque rótulos na sua dança, pois dançar é infinito e cada movimento é uma nota na música. Repare que quando você dança de mente livre, você entra na zona e em uma dimensão diferente. Essa é sua essência e verdade. Busquem isso e sigam a sua jornada, sem olhar pra trás. O que passou, passou. Continuem evoluindo, estudando e vivendo”.
FabGirl: Ela começou a dançar aos 18 anos e enfrentou o machismo inerente à cena, abrindo caminhos que permitiram que essa revolução feminina acontecesse no País. “É mais uma conquista de muita resistência e luta”, diz Fab. As primeiras referências de dança da FabGirl vieram da televisão. “Quando eu era novinha, eu gostava de Jennifer Lopez, Madonna e Beyoncé, queria dançar aquelas coreografias”, lembra. Mas o que fez FabGirl se apaixonar mesmo pela dança foi ver uma B-Girl de seu bairro dançando. “Fiquei encantada, nunca tinha imaginado uma mulher fazendo aquilo”. No dia seguinte, FabGirl foi a um ensaio de Breaking e pediu para os caras lhe ensinarem alguns passos. “Eles me falaram que Breaking não era dança de mulher”, relembra a B-Girl. “Foi sempre difícil esse espaço dentro da cena”. FabGirl não se deixou abalar e, em 2003, criou a BSBGirls, primeira crew do Distrito Federal formada só por mulheres. Além de liderar o grupo, a dançarina, coreógrafa e pesquisadora se destacou pelos vários títulos conquistados, foi a primeira brasileira a representar o país no campeonato mundial We B-Girlz, na Alemanha, por dois anos consecutivos. Sua carreira lhe rendeu um lugar no time de jurados do Red Bull BC One. “B-Girls jovens estão vendo mulheres em posição de liderança e ter referências é motivador”.
Bart: Ele nasceu no Ceará, quando criança teve contato com muitos movimentos por meio do Kung Fu e da Capoeira. Aprendeu também a ter disciplina e flexibilidade desde cedo. Mas foram os pulos feitos na areia improvisada que pedia aos vizinhos que o fizeram se aproximar do Breaking. Mateus Melo (22), conhecido como B-Boy Bart, hoje é um dos nomes mais cogitados para representar o Breaking brasileiro nas Olimpíadas de Paris, em 2024. Já participou de muitos eventos nacionais e internacionais. Ele compara a dança a um grande jogo de xadrez e afirma que, além de ter um corpo preparado, é necessário ter estratégias, planejar ações para se chegar no objetivo que se deseja. Sobre as Olimpíadas, fala: “Eu vejo como uma evolução, na verdade, não acho que seja positivo e nem negativo, é somente algo do mercado. Isso já vem acontecendo tem muito tempo. O R16, todos esses eventos que tem, são em ritmo de Olimpíada, de ranking. Existe o ranking de B-Boys tem muito tempo. A Olimpíada entrou para apimentar ainda mais a competição. Acho que nada vai mudar… Como no futebol existem pessoas que jogam pelada e existem pessoas que jogam nos mundiais. Então, acho que vai melhorar muita coisa!”.
Nathana: Ela nasceu em Uberlândia, perdeu o pai com 5 anos em um acidente, mas sempre teve o amor e o carinho da mãe. Começou a dançar com 16 anos e não parou mais. Na sua caminhada, enfrentou preconceitos pelo fato de ser mulher e até escutou comentários que fariam muitas pessoas desistirem da própria dança. Mas ela não! Nathana Vieira Venancio, ou B-Girl Nathana, como é conhecida na cena, sempre foi forte e usou o comentário negativo para crescer e evoluir na própria dança. Sendo uma verdadeira inspiração para quem pretende ir longe no Breaking. Ela participou da E-Battle da Red Bull BC One e vem participando, mesmo em tempo de pandemia, de muitos eventos internacionais. Faz parte de 3 Crews que são We Can Do It B-Girls, da qual é uma das fundadoras, Rock Niggaz e Gangsta Squad, Nathana declara: “As pessoas da minha crew são as minhas inspirações, elas sempre me motivam e falam daquilo que preciso melhorar, críticas construtivas, a importância de ter pessoas lado a lado com você é grande, ter essa ajuda e companheirismo é muito válido, as meninas sempre estão a me passar energias positivas, enfim, sou muito grata a todos da Crew.”
Leony: Ele nasceu em Belém, capital do estado do Pará, que é uma cidade portuária e a porta de entrada para a região do Baixo Amazonas do Brasil. Sempre morou no bairro do 40 Horas. Como todo menino, quando pequeno gostava de jogar bola e brincava na rua até altas horas da noite. Hiperativo, não parava nem um minuto sequer. O que nunca lhe faltou foi energia! Sendo o mais velho dos filhos de Dona Elizete, foi criado com suas irmãs por sua mãe sozinha, mulher guerreira, como ele mesmo relata com orgulho. Aos 12 anos de idade, por influência de um primo próximo, conheceu o Hip-Hop, se apaixonando no primeiro momento pelo movimento Head Spin [Giro de Cabeça], começando sua caminhada de sucesso no Breaking, passando a competir em 2012. Mas foi em 2013 e 2016 que conquistou o título de Melhor B-Boy do país. E, em 2017, foi tricampeão do Red Bull BC One no Brasil. Segundo B-Boy Pelezinho, que foi um dos jurados do evento que deu o segundo título para Leony, ele começou a se destacar por sua autenticidade. Na época, Pelezinho declarou: “sabe muito bem combinar os movimentos. Sua habilidade é impressionante, por isso mereceu mais uma vez o título”. O tempo passou muito rápido e foi generoso com o B-Boy, que gosta de saborear açaí com mortadela em Belém, o consagrando como um dos maiores nomes da sua geração no Breaking, mas também trouxe responsabilidades por ser um B-Boy mundialmente conhecido.
Miwa: B-Girl desde 1999, diretora do grupo de Breaking feminino Bonnitas Crew e da Hotstepper B-Girls, foi uma das primeiras B-Girls brasileiras a ganhar reconhecimento no exterior. Campeã das competições “Sudaka 2007” (Chile), “El Rey del Seven 2 Smoke 2009” (Venezuela) e “KB Battle Original Flavor 2013” (Israel), Miwa também levou para casa o terceiro lugar na “Eurobattle 2008” (Portugal) e o vice-campeonato na competição de trio de B-Girls “UK Bboy Championships 2010” (Inglaterra). Em 2008, participou do Battle of the Year. Como produtora, realizou o primeiro festival feminino de Hip-Hop “FNMH2 Festival” (São Paulo, 2013 e 2014) e é responsável pelo “Elas por Elas” (2012), primeiro documentário brasileiro sobre mulheres no Hip-Hop.
Klesio: Ele é de Brazlândia, cidade satélite de Brasília e começou a dançar Breaking com 13 anos. Não teve uma infância fácil, escondido do pai e da mãe, usava um pedaço do colchão para colocar na touca de giro, para não machucar a cabeça na hora de fazer o Head Spin. O menino cresceu e evoluiu rápido, sendo o ganhador da Batalha Final em 2009, evento tradicional de Breaking que abriu portas para sua carreira na dança, mas foi com 22 anos que ficou conhecido mundialmente, sendo um dos finalistas da mundial do evento “Red Bull BC One”, realizado no Rio de Janeiro (RJ) em dezembro de 2012, o que o fez ser notícia em toda a grande imprensa brasileira. Na ocasião, Klesio batalhou com o Mounir, da França e foi considerado um dos 8 melhores B-Boys do mundo. Ele ainda foi o vencedor do reality show “Vai Dançar”, da Multishow. Hoje mora na Polônia e já ganhou diversas premiações para o Brasil.
Itsa: Com apenas 20 anos, a B-Girl Itsa venceu a etapa nacional do Red Bull BC One e depois foi para Mumbai, na India. “Foi o momento mais marcante da minha carreira”, diz. Itsa faz parte de uma safra de dançarinas que está se unindo cada vez mais para fazer barulho na cena Breaking. “As mulheres farão parte de um cenário que tenha consciência e respeito da sua existência e da sua história no Hip-Hop como civilização”, afirma. “Tem que haver um interesse dos B-Boys em estudar, questionar e aprender com as mulheres da cena.”
Till: O cearense Cleiton Verçosa, 26, conhecido no mundo do Breaking como B-Boy Till, é forte candidato para representar o verde-e-amarelo nas Olimpíadas. Talento e experiência em competições não falta para o dançarino. Membro do grupo Perfect Style Crew, Till disputou o evento Red Bull BC One Cypher Fortaleza nos anos de 2014, 2018 e 2019, sendo campeão da etapa nos dois últimos anos. A seletiva estadual serve como qualificação para o Red Bull One Cypher Brazil, que reúne os vencedores de cada um dos estados brasileiros. Em 2019, foi campeão e garantiu sua participação no Red Bull BC One — o campeonato mundial.
Mini Japa: A paraense Mayara Colins, conhecida como Mini Japa, saiu vencedora da arena montada no prédio do Red Bull Station, em 2018. Foi para a Suíça em setembro e representou o Brasil no mundial do Red Bull BC One. Nascida e criada no bairro Terra Firme, em Belém, Mayara há mais de oito anos se dedica aos movimentos e acrobacias do Breaking. Atualmente, a dançarina faz parte da Amazon Crew, um celeiro de talentos da dança no Norte do país, da qual também faz parte o B-Boy Leony Pinheiro, que já foi tricampeão brasileiro do Red Bull BC One Cypher Brazil.
Luan: Luan Carlos dos Santos é natural de Bauru (SP), disputou a final mundial em Paris. Foi vencedor da final do Red Bull BC One Latin America, em 2014 e finalista do Red Bull BC One World Final. Foi eleito o melhor B-Boy da América Latina e venceu a Red Bull BC One E-Battles em 2018.
Paola: Ela é paulista, mas atualmente mora na França com a família e é uma das B-Girls mais vigorosas do nosso país. Por meio do Breaking teve oportunidade de trabalhar com pessoas reconhecidas na cena e fazer vídeo clipes com Guizmo e Flash Zoom, na França e comerciais. Além de alguns trabalhos com Rashid, Nelson Triunfo, Mr. Kokada.
E o Breaking continua…
A nova geração que representa o Brasil no exterior chega cada vez mais forte:
Sonek: De Catalão direto para o mundo, B-Boy Sonek é considerado o “Príncipe do Power Move Brasileiro” da nova geração: com apenas 10 anos, ele ganhou o 1° lugar na Eurobattle Kids e foi vice-campeão mundial na Power Move Battle. Hoje, com 18 anos, continua treinando e faz parte da Dream Kids Brazil.
Marcin: Também de Catalão, com apenas 15 anos já esteve em Portugal, na França e no Chile. Foi tricampeão da Brazil Batlle Pro e também premiado no Dance Summer Camp, em Portugal.
B-Girl Angel do Brasil: De São Paulo, com apenas 10 anos foi vice-campeã no mundial E-fise Montpellier na França, 2° lugar no Battle Kids Argentina e ficou no Top 10 no Breaking Kids Champion, na Rússia. Também faz parte da Dream Kids Brazil.
Eagle: Foi vice-campeão no B de Dança em Braga, Portugal e ficou entre os Top 16 na Porto World Battle, também em Portugal.
Fotos: Arquivo Pessoal / Reprodução
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“O sertanejo [nordestino] é, antes de tudo, um forte.” (Euclides da Cunha)
O nordeste, ao contrário do que muitos possam pensar, é um celeiro de talentos, rico na diversidade de sua cultura, história, terra de gente forte, com sangue nos olhos, que não tem medo de dias difíceis e desafios. Seus problemas e dilemas foram retratados em alguns textos e canções que foram eternizados, ganharam o mundo. Quem nunca escutou Asa Branca: “Quando olhei a terra ardendo; Qual fogueira de São João; Eu perguntei a Deus do céu; Ai, Por que tamanha judiação…”, música de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga, ou, “Nordeste Independente”, composição de Bráulio Tavares e Ivanildo Vilanova. “Já que existe no sul esse conceito, que o nordeste é ruim, seco e ingrato; Já que existe a separação de fato, é preciso torná-la de direito. Quando um dia qualquer isso for feito; Todos dois vão lucrar imensamente começando uma vida diferente de que a gente até hoje tem vivido; Imagina o Brasil ser dividido e o nordeste ficar independente; Dividindo a partir de Salvador o nordeste seria outro país; Vigoroso, leal, rico e feliz; Sem dever a ninguém no exterior…; Tem o pão repartido na metade; Tem o prato na mesa, a cama quente; Brasileiro será irmão da gente; Vai pra lá que será bem recebido; Imagina o Brasil ser dividido; E o nordeste ficar independente…”.
Composta pelos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe, a região Nordeste “antes de tudo um forte”, assim foi descrita por Euclides da Cunha, se tornando um canalizador de movimentos culturais e talentos.
Nessa atmosfera, a Cultura Hip-Hop chegou para ficar e fazer a diferença na vida de muitos nordestinos, na década de 1980 quase tudo era visto por meio de revistas, filmes e vídeos que vinham de fora do país, nessa época não existia internet. Existia, sim, algumas festas que as pessoas frequentavam e dançavam, ali começava uma história, uma movimentação que nunca seria passageira, no final dos anos 80, 90 já era possível ver na cena vários breakers espalhados na região.
O tempo passou, hoje o nordeste continua sendo o berço de muitos talentos e tem motivos de sobra para se orgulhar disso, na Cultura Hip-Hop a história se repete e não deixa nada a dever a qualquer outra região. Se você é daqueles que torce o nariz quando encontra numa roda um B-Boy ou uma B-Girl do nordeste, talvez você precise rever seus conceitos e tomar cuidado para não levar um couro na cypher.
Nomes como o do cearense Mateus Melo, conhecido como Bart e Francisco Cleiton Verçosa, o B-Boy Till, estão entre os nomes dos melhores B-Boys brasileiros, destaques na cena nacional e mundial do Breaking. “Vem conhecer, saber o porquê que sempre vamos defender essa terra tão querida de brilhantes artistas e rico em culturas e festivais. Conhecer as deliciosas comidas típicas nordestinas. Tenho certeza que você pode mudar sua visão em relação a minha terra”, declara Till, atual campeão da Red Bull BC One Cypher Brasil. Nascido em Fortaleza (CE), começou a dançar Breaking aos 14 anos e também nessa idade já praticava a capoeira, o amor pela Cultura Hip-Hop surgiu a partir do momento que começou a entender o que era o real Hip-Hop, assistindo vídeos, conversas com os “Old School”.
Conta que teve grandes referências em Fortaleza, onde aprendeu a dançar. São dele as palavras: “A cultura é muito importante na minha vida e acredito que na vida de muitos periféricos que nem eu. A Capoeira e a Cultura Hip-Hop salvam vidas, sim! Eu sou a prova disso! Na minha vida já tiveram algumas pessoas com aquele desconforto de querer se sobressair sobre mim ou aquele preconceito de nos tratar como minoria. Mas tudo bem, é vácuo para essas pessoas ou papo reto quando tiver face a face. Gosto de dialogar e falar o quanto não me importo com o que o fulano acha de mim e do meu nordeste, que por sinal, venhamos e convenhamos é maravilhoso. Pessoas preconceituosas, racistas, marxistas, homofóbicos, esses tipinhos sabe?! Qual o problema de cuidar da própria vida? Seu preconceito não mudará nada do quão eu não me importo e sei que muitos nordestinos também não. Respeito hoje, respeito amanhã e respeito sempre”, conclui Till.
Para Ivis Love, que é paraibano, B-Boy e Arte-Educador desde 2012 e trabalha com uma metodologia própria de ensino, desenvolvendo material digital, como treinamentos e conteúdos digitais de Design como forma de informação sobre a Cultura Hip Hop, o foco é priorizar a vivência de cada criança, adolescente e adulto, tentando assim ampliar o universo do Breaking.
O Nordeste é a região mais rica culturalmente do Brasil e até do mundo. Ele relata: “Com variedades pouco conhecidas pelos B-Boys e B-Girls do nosso país, a realidade nunca foi enxergar a pobreza, até por que o povo não tinha e muitos ainda não têm outra perspectiva de mundo, só resta viver como dá. Toda cultura dá um sentido para a vida, em todos os sertões se tem culturas populares fortes, que são seguidas como religião. E são muito mais além do que se pode descrever. O Hip-Hop, de fato, sempre salvou vidas de inúmeras formas, temos consciência que a juventude é facilmente iludida pelo injusto sonho alimentado de ser atleta e no nordeste temos muitos nomes que se deram bem, e inúmeros com muito potencial que não conseguiram, graças ao gritante distanciamento social e divergência de classes que existe em nosso país. Posso dizer que o Hip-Hop veio como uma válvula de escape, uma oportunidade de ver o mundo de outra forma, um incentivo para buscar outros idiomas, outros povos, outros costumes, onde se educou como sermos melhores em casa, como poderíamos ser alguém diferente do que a sociedade impõe e ainda sim levar sustento para nossa casa. Creio que assim pudemos ter um diferencial e quebra de preconceitos”.
O contato de Ivis com a cultura vem de muito tempo, ele conta que teve o real entendimento que o verdadeiro Hip-Hop se trata da cultura do povo, trabalhou com cultura popular nordestina desde os 15 anos, porém, com 18 anos teve de fato o que considera o primeiro contato com o Breaking, por meio do saudoso B-Boy Banks da “Back Spin Crew”.
Segundo Ivis foi amor instantâneo, quando o Banks falou palavras que o fizeram enxergar as coisas de forma diferente, pois havia sido expulso do local onde já havia Breaking em Campina Grande-PB. E foi quando Banks o convenceu que poderia sim ser B-Boy, falando que não era o que se fazia, era como fazia e pela causa que se fazia. E então, diante disso, se comprometeu a ser um B-Boy verdadeiro e levar essa mensagem pelo resto de sua vida. Ele declara: “Não tive professores de Breaking, aprendi sozinho, olhando e querendo fazer, referências para mim foram meu mestre de Frevo (Alexandre Felizardo) e Banks (primeiro a me falar sobre Breaking de verdade). Me orgulho por ter começado aqui, amo saber bem de cada cultura a que faço referência em minha dança, tem ciência da cultura local, me faz sentir-me muito mais pertencente e representante do local de onde sou, Nordeste, Brasil. Desafios são vários, posso citar alguns: distância e custo de viagens para o Sudeste, onde acontece, infelizmente, uma centralização de recursos e eventos de qualidade; outra dificuldade que eu vejo, é uma constante falta de união entre os estados nordestinos na atualidade, em relação a eventos e ações, a competitividade se tornou algo forte, quase nunca positiva por aqui. Eu tenho muitas amizades que nasceram dentro de competições, creio que uma outra dificuldade aqui é causada muitas vezes por “nós” mesmos, quando não se valoriza a história do local, quando não se busca conhecer e dar continuidade. Nordeste é forte e tem gente que não sabe disso, e quem sabe muitas vezes quer tirar vantagem em cima das demais pessoas. Eu vejo uniões por diversas coisas na rede social, mas que na prática nunca aconteceram, encontros de final de semana, não se transformam em ações diárias e essa é a dificuldade para nossa cultura no Nordeste. Fazer com que nos eduquemos, não para sermos mais do que outras pessoas, mas sim para nos unirmos mais com a comunidade, com o povo. Hip-Hop é povo e não evento! É importante entender que a força e o talento do Nordestino sempre estiveram presentes em competições e eventos pelo Brasil e mundo, pois bem lá atrás, o B-Boy Chimbade de Recife (PE) vivia na Europa, onde ensinava passos da dança frevo para europeus que valorizavam demais as danças nordestinas”, explana Ivis.
E continua: “Falando de competição, em 2007, a Nação Break de Recife (PE), mostrou com apenas 7 B-Boys, tendo dormido na rua um dia antes da competição, que tinham muito mais a oferecer, sendo classificados nos shows da BOTY Brazil do ano. Em 2009, o Nordeste teve 4 B-Girls nas finais da BOTY América do Sul, em Campinas (SP). Em diversos outros anos o Nordeste teve B-Boys campeões em competições diversas pelo Brasil e fora do país e B-Girls em destaque por todo o território nacional. O preconceito existe e a xenofobia também na cena brasileira. Piadas idiotas, costumes em ridicularizar as falas e erroneamente falarem sobre seca e dificuldades. Infelizmente, as pessoas em nossa cena costumam lutar por uma causa só, se não as afeta, deixam passar, mas no Hip-Hop não deveria existir isso. E, por isso, não compareço em diversos eventos do nosso pais que não sejam realizados por uma organização de respeito. Se eu pudesse falar algo para todos diria: Curem-se, estudem, se achar que já sabem muito, estudem mais, sejam mais humanos, e parem de ser idiotas… Gostaria de ver a cena no Nordeste se fortalecer, todos por todos, valorização dos diversos valores que têm aqui presentes, pessoas com conhecimento, com potencial, pessoas de diversas áreas, capazes de atribuir muito valor em diversos segmentos da cena. Gostaria de ver a cena nordestina não parando no tempo, não se tornando corruptiva, sendo cada vez mais Hip-Hop como referências que já tem. Gostaria muito que as coisas não se limitassem apenas a capitais, que as pessoas que difundem cultura pudessem fazer por mais pessoas e localidades e não guardassem apenas para interesses próprios. Gostaria de ver a região Nordeste unida, valorizando e sendo valorizada, não apenas por títulos, mas por tudo que temos de qualidade”, conclui.
Do Maranhão, a B-Girl Elly faz coro com Ivis e acrescenta: “Eu gostaria que os meus irmãos B-Boys e irmãs B-Girls da cultura tivessem mais visibilidade e oportunidades para mostram todo o seu talento país afora. Aqueles que criticam nossa terra, que possam estar vindo conhecer de perto a maravilha que é o Nordeste. Somos humildes e acolhedores…”.
Elly, na cena, é conhecida como B-Girl Llys. Nascida em São Luis (MA), onde ficou até os 22 anos, depois se mudou para Brasília (DF). Llys conheceu o Hip-Hop quando tinha apenas 13 anos, por meio de filmes e pessoas que já dançavam e também dançava na igreja que frequentava. Fez parte de duas crews: “Resistência X” e “Plano B”. O amor pelo Breaking surgiu quando tinha 16 anos. O breaking marcou sua vida de uma forma especial. Conheceu por meio de um amigo B-Boy. Desde então, nunca mais abandonou o estilo que a desafia todos os dias. Uma grande referência para Llys é o próprio esposo, que também é B-Boy, além de outros B-Boys “Old School” e algumas B-Girls.
São dela as palavras: No Maranhão e em todo o nordeste, há muitos locais que não têm uma boa acessibilidade, apoio e investimento. Então, os jovens ficam à mercê de duas coisas: do crime e das facções. O Hip-Hop em si trabalha nessa área, leva acolhimento e disciplina, paz e união, fazendo com que os jovens comecem a ver na dança um refúgio para seguir um caminho melhor. Temos bons B-Boys e boas B-Girls nos representando, o Till ter ganhado a Cypher Brasil foi um salto muito grande para a visibilidade do Nordeste na cena. Muito importante esse acontecimento. Assim como ele, há dançarinos muito talentosos que não têm tantas oportunidades de mostrar isso afora. Para nós, mulheres, além do preconceito na cena o nosso maior desafio tem sido com o machismo e também o assédio dentro do Breaking”, finaliza.
Michelle Arcanjo, B-Girl de Salvador, concorda e declara: “O machismo na nossa terra é muito forte! É uma luta diária! Precisamos nos impor e fazer o que temos que fazer, meter as caras, ficar atenta sobre a questão do assédio, existe muito pouca escuta dos B-Boys em relação a pautas femininas no Nordeste. Ser B-Girl no Nordeste não é fácil. No Nordeste é algo bem desafiador, porque primeiro não há muito reconhecimento, falo mais ainda da Bahia, que são menos conhecidas. Tem menos visibilidade. Pela dificuldade que temos de sair daqui e ir para outros estados para participar de eventos, até mesmo pela questão financeira, e aí acabamos não sendo vistas e nem conhecidas. Mas isso tem se modificado principalmente agora em tempo de pandemia, que as pessoas estão mais conectadas na internet, do surgimento da “Rede de B-Girls”, então, observamos que esse intercâmbio tem favorecido a comunicação e o conhecimento entre os estados. O maior desafio de ser nordestina é vencer essas questões da própria sobrevivência e estar ativa dentro do movimento”.
Michelle passou a maior parte da vida morando numa cidade que fica na região metropolitana chamada Simões Filho. Seu contato com a Cultura Hip-Hop começou na escola de dança da “Fundação Cultural do Estado da Bahia”. Começou a dançar por meio das danças acadêmicas, então, foi por meio do Ballet Clássico e da Dança Moderna, que costumava frequentar e fazer aula, que conheceu uma B-Girl que se chamava B-Girl Pink, ela a convidou para uma aula de Breaking. Michelle já tinha, na época, 19 anos e aí esse foi o primeiro contato com esse elemento. Também teve contato com o Hip-Hop por meio de filmes, na mesma época de 2008, 2009, assistia muito filmes de dança, então, via muita coisa de Hip-Hop nesses filmes, mas levar o Breaking a sério foi mesmo em 2010.
O amor pela Cultura Hip-Hop surgiu nas aulas de Breaking que frequentava no Pelourinho. Começou aprendendo com a B-Girl Pink, mas seu mentor foi o B-Boy Índio Medeiros, que hoje não está mais ativo na cena. Michelle se inspirava muito neles, atualmente suas referências são FabGirl, B-Girl Pekena, B-Girl Jaque, B-Boy Sabota, B-Boy Insano, B-Boy Jessé, de Alagoas e B-Boy Fabrício, de Belo Horizonte. Sobre os desafios da região, são da B-Girl Michelle, que faz parte da “Soul´ta Crew”, as palavras: “Em Salvador, nós temos uma condição de extrema pobreza nas comunidades e é inevitável falar como a Cultura Hip-Hop tem um papel importante na conscientização de quem somos e onde estamos nessa pirâmide social, trazendo possibilidade de crescimento para que a pessoa possa sobreviver não apenas de suas áreas, mas de outras também, que permeiam os movimentos culturais, como a produção cultural e tudo o mais. Mas a maior contribuição da Cultura Hip-Hop é tirar as pessoas de condições de violência, de criminalidade e realmente tem salvo vidas neste sentido. Outro problema é a xenofobia muito presente, eu percebo isso, até porque B-Boys e B-Girls de outros estados subestimam muito o B-Girling Nordestino e falo de algo que tenho propriedade para falar, porém, eu vejo muito mais isso na Bahia do que em outros estados do Nordeste. Eu já escutei piadinha, sim, por ser da Bahia, quando viajei no Centro-Oeste eu escutei muitas coisas, de ser preguiçosa, enfim, estereótipos que atribuem a baianos e que são mentirosos e também piadinhas machistas em relação à mulher nordestina. Eu nunca me senti diminuída, porque eu sempre fui muito de dar a cara à tapa. Mas eu já fui constrangida dentro de cyphers em relação a fazer alguns movimentos para validar a minha dança, de ter que validar o que eu faço tendo referência de B-Girls de outros estados e isso foi bem chato. Mas seguimos firme nas nossas metas, as mulheres brasileiras no Breaking são muito batalhadoras e cada vez mais organizadas e isso tem sido um diferencial na cena. Para quem discrimina o Nordeste eu digo: venham ver o que nós temos, a nossa criatividade, é uma grande besteira a discriminação. Toda discriminação é algo muito burro! Perdemos força com isso, quando poderíamos estar ganhando força e o que mais gostaria de ver na cena em relação ao Nordeste é um verdadeiro intercâmbio onde um pudesse aprender com os outros!”, conclui a B-Girl.
Para o casal David Anderson e Vanessa, bem presentes na cena do Breaking nacional, mais conhecidos como B-Boy Suicibreak e B-Girl Lora, os nordestinos, mesmo com toda dificuldade, vêm derrubando barreiras e conquistando seus espaços. Eles garantem que ser B-Boy e B-Girl no Nordeste é muito bom, contam que a população incentiva sempre, passando positividade, as vivências que acontecem com o Breaking sempre são muito boas, mas lamentam sobre as dificuldades com patrocínios e apoio de órgãos públicos e privados para representar o estado em outras regiões.
Declararam: “O Nordeste, principalmente o Ceará, está crescendo muito na cena Breaking. Ano passado tivemos vários representantes na “Cypher Red Bull” e dois B-Boys cearenses na Índia, na “Last Chance”: B-Boy Till e B-Boy Bart. Aos poucos, tudo começa a mudar com os espaços conquistados por nordestinos, o preconceito existe, já escutamos algumas coisas, têm muitos Raps feitos por nordestinos que falam sobre esse preconceito. Essa situação, de certa forma, não nos atinge, pois aqui aprendemos a dar a volta por cima”.
Suicibreak é nascido em Fortaleza (CE), seu primeiro contato com o Hip-Hop foi na infância, escutava Rap nacional. Na escola, a professora de artes fez um estudo sobre o Hip-Hop, onde então conheceu um pouco sobre o assunto, depois, viu um treino de Breaking no bairro e achou “muito massa”, na feira encontrou um DVD de uma competição de breaking, “Red Bull BC One 2005”, então, no ano 2008, procurou alguns B-Boys da cidade e começou a aprender o máximo com eles e até hoje vem vivendo essa cultura.
Lora também nasceu em Fortaleza (CE), seu primeiro contato com a cultura Hip-Hop foi na escola, tinha 14 anos. Atualmente, representando o Nordeste, vem fazendo várias viagens. Sua presença dentro dos eventos vem sendo destaque, com algumas conquistas de vários títulos dentro da cultura, tanto no Nordeste como no resto do país. Foi Campeã na categoria B-Girl no evento “True Floor”, no ano de 2018, em Goiânia (GO); 1º Lugar na categoria B-Girl no evento “Fendafor”, no ano de 2018 em Fortaleza (CE); 2º Lugar na categoria B-Girl, na “Batalha do Cerrado”, no ano de 2018, em Jataí (GO). Seus corres para estar em outros eventos, em outros estados, foi difícil. Enfrentou diferentes climas, teve que se adaptar para os treinos, já viajou para São Paulo (SP), Uberlândia (MG), Goiânia (GO), Rio Grande do Sul e Brasília (DF).
Atualmente, eles contam o que andam fazendo: “Estamos treinando, aprendendo novos conteúdos para futuras competições, estamos fazendo “Street Shows” na cidade, participando de eventos on-line, organizando o nosso grupo “É Nois Crew” e esperando a pandemia passar para retomarmos as atividades por completo”, concluem.
O nordeste resiste e persiste, possui quase 50 milhões de habitantes e é a região geográfica do Brasil com o maior número de estados. Suas festas populares, danças, folguedos, crenças, mitos, comida, artesanatos e principalmente seus talentos, mostram que o nordeste é rico! E pobre é o preconceito! Como diz Rapadura Xique-Chico na música “Nordeste me veste”, que começou na cena dançando Breaking e depois foi rimar: “O nordeste é poesia; Deus quando fez o mundo fez tudo com primazia; formando o céu e a terra cobertos com fantasia”. Ele, em uma das estrofes, manda o recado: “… Minhas irmãs, meus irmãos; Se assumam como realmente são; Não deixem que suas matrizes, que suas raízes morram por falta de irrigação. Ser nortista e nordestino meus conterrâneos; Num é ser seco nem litorâneo. É ter em nossas mãos um destino, nunca clandestino para os desfechos metropolitanos…”.
Fotos: Arquivo Pessoal
B-Boy Till
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B-Girl Llys
B-Girl Llys
B-Boy Ivis Love
B-Boy Ivis Love
B-Boy Suicibreak e B-Girl Lora nas comemorações de 25 anos da Casa do Hip Hop em Diadema (SP)
B-Girl Lora (esquerda) e B-Boy Pelezinho (direita)
B-Girl Lora, B-Boy Suicibreak e a "É Nois Crew"
B-Girl Lora
B-Girl Michelle
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