“Sorrir: o melhor remédio para todos os males” – MC Lula fala sobre novo vídeo recheado de bom humor que fez sobre a escolha de jurados

Ele nasceu em Pernambuco, na cidade de Palmares, mas foi em São Paulo, na Zona Leste, que conheceu e se envolveu com a Cultura Hip-Hop. Estamos falando de Luiz Paulo Roberto de Oliveira, o conhecido B-Boy e MC Lula da Gang Style Crew. Ele também é o fundador do Coletivo Hip-Hop no Vagão. 

Com 29 anos, sendo 17 no Hip-Hop, Lula já passou por quase todos os elementos da Cultura de Rua. Casado com Tayná Rodrigues Rosa, que é uma das maiores incentivadoras de sua arte e do seu trabalho, Lula essa semana lançou mais um vídeo que deu o que falar, chamado “8 Jurados que você não pode contratar para o seu evento!”. Confira o bate-papo animado e descontraído que tivemos com esse mano, que também é um grande talento da cena. Viva os nossos! Viva o Hip-Hop brasileiro!

 

 

Lula e a esposa Tayná
Imagem: © Arquivo Pessoal

 

 

 

BW: Lula, queria que você me falasse seu nome de batismo, sua idade, onde nasceu e que lembranças você tem da sua infância?

 

Lula: Meu nome é Luis Paulo Roberto de Oliveira, tenho 29 anos, nasci em Pernambuco, em Palmares. Saí de lá e vim para São Matheus com 3 anos de idade, lembranças que eu tenho da minha infância é em São Matheus, as brincadeiras de criança no meio das vielas, os corre-corres de polícia e ladrão, muito futebol, jogava muita bola, trabalhava muito na sucata com os meus primos, algo que foi marcante também na minha vida. Passei por muitas enchentes, isso me marcou muito também na infância, isso acontecia muito na favela e muitas vezes ficávamos com o rodo na mão, tirando as águas e isso me marcou muito na infância.

 

BW: Quando e com que idade você teve o primeiro contato com a Cultura Hip-Hop?

 

Lula: Eu tive contato com a Cultura Hip-Hop em 2001, escutava nos CD´s do Chris Brown entre outros, assistia DVD´s, vídeo clipes, o meu primeiro contato foi com o Rap, segundo contato foi com o Graffiti, onde tive a oportunidade de ter umas aulas na escola mesmo, na Escola da Família e bem mais para frente foi a dança. Mas, antes de tudo mesmo eu tinha os meus tios que escutavam muito Rap nacional, os irmãos da minha mãe e os irmãos do meu pai e eu era muito fascinado pelo Rap mesmo. Eu via o programa da MTV onde passava muitos clipes e eu comecei a dançar Popping dentro de casa e depois eu fui treinar Breaking na Escola da Família quando eu estava em Guaianases já.

 

 

 

Primeiro o Rap, depois o Graffiti e, finalmente, o Breaking
Imagem: © The Sarará

 

 

 

BW: Fale sobre sua relação com o Breaking: onde e com quem aprendeu? Nos conte um pouco sobre sua caminhada de B-Boy junto a Gang Style?

 

Lula: Na escola que eu estudava em Guaianases tinha aquele som no intervalo, aí tinha uma galera que dançava Breaking lá e eles treinavam Breaking no fim de semana na escola e essa época aí que tinha som no intervalo, tocava muito Rap e eles também faziam rodas e dançavam Breaking e Popping. Na época, eu cheguei dançando Popping, eles me viram dançar Popping no intervalo e me chamaram para ir no fim de semana lá na Escola Joaquim Eugenio que era onde eu estudava, escola “barracão”, bem conhecida naquela região, só que no primeiro dia que eu fui eles treinavam na sala de cima e embaixo tinha jogo de tabuleiro, vôlei, ping pong e jogo de dama e eu sempre gostei muito de jogo de dama, aí eu cheguei bem cedinho para procurar a sala onde tinha dança de rua, mas eu dei de cara com o pessoal jogando dama, xadrez e eu não resisti e fiquei por lá das 11h da manhã até as 16h jogando dama e eles desceram e me encontraram jogando dama e falaram: “Pô, nós chamamos você para dançar e chega aqui e fica jogando o dia todo…”. Aí eu subi, treinei apenas uma hora com eles e, no domingo, eu voltei e treinei o dia todo! Minha vivência com a Gang Style é muito legal pois caminhamos junto há muito tempo. Eu aprendi a dançar Breaking com eles. A Gang sempre fez parte da minha vida desde o começo mesmo. Mas foi em Guaianases onde nós já tínhamos um tempo de dança, na escola, que começou o lance com a Gang, cheguei lá tinha a galera, tinha o Douglas, o Linoo e o Júlio, que é o Jab, nosso conhecido DJ e eles gostaram muito de mim. O Douglas me pegou para treinar bem mais forte e minha experiência com a Gang foi linda porquê dessa época que treinamos juntos eu entrei no grupo, aí para frente teve muita competição. Eu era um moleque, só competidor mesmo e em todos os lugares que eu ia representava a Gang, me apresentei em palcos de quermesse, festas de rua que eram Festas Black e campeonatos. Chegou uma época em que os campeonatos ocupavam muito o meu tempo e eu ficava apenas competindo!

 

BW: Quando você começou a ser MC de batalhas de Breaking? Fale dos principais eventos que participou como MC…

 

Lula: A minha primeira participação como MC eu colei num evento que era All Style e na época era para outro MC da Gang participar, mas ele não foi e eu fui no lugar dele, apresentei rapidinho umas três batalhas, me identifiquei muito com isso, a galera gostou muito do meu trabalho como MC pela minha forma diferenciada de trabalhar, pela forma de animar, de ser bem feliz, comunicativo e tiveram eventos muito legais que eu gostei de apresentar. Eu quero que essa pandemia acabe logo para voltar tudo! Os oficiais foram Arena Caieiras, que eu sou o MC oficial de lá, o Favos Battle, que é um dos primeiros eventos que eu apresentei próximo ao Parque Villa Lobos, a Batalha Final, evento que eu gostei demais do meu destaque como MC, o Breaking Ibira e eu apresentei um campeonato chamado Criança Esperança, que foi uma Seven7Smoke, sendo bem legal, eu aprendi muito nesse dia e a competição da Gang Style que é a Batalha das Gangues. E eu pretendo ver a questão das Olimpíadas, parece que vai ter espaço para os MC’s.

 

 

 

Lula e Muttley da Gang Style
Imagem: © Filhos da Rua

 

 

 

BW: Quais são as principais características que um bom MC tem que ter durante uma batalha? O que um MC não pode fazer numa batalha?

 

Lula: Nossa, é muito legal essa pergunta! Pra mim as principais características de um bom MC, que ele tem que ter na batalha é comunicação, a espiritualidade de ter um espírito bem alegre para animar a festa diante de várias situações que podem acontecer, a batalha pode não estar muito boa, o público pode não estar muito bom e o MC tem que ter foco e confiança e muita felicidade para conseguir reverter a situação… e o que o MC não pode? Ele não pode aceitar certas posturas de B-Boys, como já aconteceu em várias batalhas, tipo gestos obscenos para B-Girls, segundo, ofensas e xingamentos. Numa situação dessa eu paro a batalha e troco uma ideia. E posturas de B-Boys e B-Girls que não aceitam perder e alguns dão até vexames, que acabam desrespeitando jurados, organização e pra mim isso está na mão do MC de corrigir essas posturas.


BW: Queria que você falasse sobre o vídeo que gravou sobre as “8 características insuportáveis dos jurados de Breaking”. Como surgiu a ideia de fazer esse vídeo? Foi baseado nas suas experiências nos diversos eventos? 

 

Lula: Esse vídeo aí eu escrevi um pouco sobre ele, fui lembrando de coisas que eu passei… Porque eu sou competidor há muitos anos, tem um bom tempo que sou MC, eu defendo muito os DJ’s e existe algumas posturas de jurados que eu trabalhei, com vários deles também sendo jurado e fui me lembrando e já sofri também com atitudes erradas dos jurados. O MC sofre com alguns jurados que querem falar mais que o MC e muitas vezes tira a paciência e o brilho dos MC´s que estão trabalhando. Então, eu escrevi um pouco dessas atitudes, mas o vídeo foi freestyle, eu parei, pensei nas atitudes e fui muito “eu mesmo”, não copio ninguém, algo que destacou muito no meu vídeo que a galera falou foi a minha personalidade, eu mostrei o que eu sou. O carisma que eu tenho e que levo na dança, nas batalhas e também como ator que sou. Eu marquei e segui as posturas que eu tinha separado de cada jurado, o resto foi na hora! Eu criei na hora, sem roteiro, sem filtro, sem nada. O lugar que eu gravei é do lado da minha casa, no quintal e achei muito legal o ângulo. E vem mais partes por aí, aguardem!

 

 

 

Lula e os manos do projeto Hip-Hop no Vagão
Imagem: © Carlos G. Off

 

 

 

BW: Fale um pouco sobre cada uma dessas oito características. Você já foi vítima de alguns deles? 

 

Lula: Que da hora essa pergunta (risos). Primeiro é aquele jurado que fala muito quando está rolando as batalhas, o jurado fica falando mal da dança de um ou de outro competidor para influenciar a opinião do outro jurado. Ele fica cutucando os outros jurados para direcionar o voto deles. Segundo, são aqueles que vão virado da balada, o competidor treina para aquele evento e o jurado dorme na hora de julgar no meio das batalhas, não dava atenção, sem compromisso. Ir à balada tudo bem, agora dormir no trabalho não rola. Terceiro, são aqueles que perturbam o MC, que querem ser jurados e apresentar o evento junto. Quarto, são aqueles que comem no meio da batalha, eles olham tanto para os alimentos que perdem a batalha, acabam dando voto errado, perdendo os detalhes. A pior coisa para um competidor é ele estar dançando e os jurados não prestarem atenção e, vamos falar a verdade, vamos deixar para comer depois! Tem hora para isso, normalmente é quando o jurado chega e não na hora da batalha. Quinto, é o que enche o saco do DJ, ele quer ser jurado, ser MC e DJ e tem jurado muito chato, que quer se envolver em outras áreas que não são a dele. Já basta alguns competidores que ficam pedindo para trocar de músicas. Quando tem um cara da crew dele dançando ele quer que o DJ toque a música que o mano vai estourar. Sexto é o sabichão, é aquele que fica batendo o braço falando que tudo é roubado, copiado e isso deixa o competidor irritado com as posturas inadequadas. O sétimo é aquele que só empata, pra mim não existe empate, eles cansam os B-Boys e as B-Girls os fazendo repetir várias vezes e, por último, o espertinho, que eu já passei por isso também, fui a campeonatos que jurados não querem votar quando tem a crew dele participando e na minha opinião isso é super errado, o competidor se inscreve ali sabendo quem vai estar julgando e o jurado tem que julgar todo mundo que for competir, não tem essa que é da própria crew ou não, só que no vídeo eu fui mais além e contei algo que eu já passei, do jurado não querer julgar, mas quando chegou na final ele foi lá e votou, pois estava valendo dinheiro, viagem para fora do país, então, aí ele vai votar e no final eu fui bem original, saí gritando (risos): “Vai pagar a pizza e o litrão! Litrão! Litrão!”.

 

BW: Como você acha que os jurados deveriam ser escolhidos pelos eventos? 

 

Lula: Eu acho que deveriam ser escolhidos jurados que estão sempre na ativa, participando frequentemente de eventos, estudando e se atualizando na Cultura Hip-Hop, porque colocar jurado que está muito tempo afastado de evento e de competição é embaçado. Ele precisa entender o que o competidor está fazendo, se copiou recentemente alguém, outra coisa, tem que ter dignidade, ser justo quando tiver B-Boys da sua própria crew competindo. Você vê se o jurado é digno nessa hora, se a crew dele perde na batalha e aí ele vai lá e dá o voto a favor deles, se ele age assim é um jurado que você não precisa chamá-lo depois…

 

 

 

B-Boy e MC Lula
Imagem: © The Sarará

 

 

 

BW: No final você fala dos “jurados espertinhos”, têm muitos desses por aí? Aqueles que colocam a crew toda na premiação?

 

Lula: Têm muitos jurados espertinhos! E o pior de tudo é que existem muitas estratégias de esperteza! Tipo, no vídeo eu só coloquei um exemplo sobre as pilantragens que alguns jurados fazem em eventos. Falo da questão do amigo, ele perdeu a batalha mas ele é meu amigo, então, vou votar nele. Tem a questão do espertinho que o jurado sabe que muitas coisas que o cara fez foram erradas e ele passa por cima. Tem a questão do roubado, uma coisa é você praticar os fundamentos que você vê outros dançarinos fazerem, isso não é roubado! Outra coisa, aí sim, é você roubar a identidade daquele B-Boy ou daquela B-Girl. Exemplo: todo mundo faz aqueles Footworks das videoaulas dos caras lá de fora, isso não é roubar e sim se inspirar. Outra coisa é você roubar identidade, movimentos que só aquele dançarino faz. E que todo mundo sabe que é dele! Isso mata de verdade!

 

BW: Como foi a reação das pessoas diante do vídeo? Alguém criticou ou foram mais elogios?

 

Lula: Diante o vídeo só recebi elogios e até agora nenhuma crítica. Todo mundo gostou. As reações foram risadas e depois o pior: que é verdade! Até recebi um pedido de workshop de como fazer um vídeo desse e isso me impressionou! Mas eu estou super aberto para críticas também!

 

BW: Pretende gravar mais vídeos? Se sim, já tem algum tema em mente?

 

Lula: Pretendo gravar muito mais vídeos! Estou aberto para receber sugestões de temas. Agora, o próximo é surpresa! Convido a todos para me acompanharem nas redes sociais.


BW: Deixe uma mensagem para os leitores do Portal Breaking World?

 

Lula: Salve, leitores do Portal Breaking World, aqui vão alguns conselhos: B-Boys e B-Girls, espero que vocês peguem esse vídeo que eu fiz agora e pensem um pouquinho, muitas pessoas se identificaram com o vídeo e com as situações que eu falei. Primeiramente, eu peço que possamos valorizar mais os nossos DJ’s, porque sem eles não tem festa, nossos MC’s, respeitem os nossos jurados e nossos jurados, respeitem nossos competidores também! É algo recíproco! Os DJ´s vêm sofrendo muito! E galera, vocês que pensam em fazer vídeos do mesmo jeito ou outros vídeos, procurem ser no máximo originais e respeitosos, tá bom? Muito respeito pelo o que você vai fazer ali, para não ter uma postura errada, preconceituosa, racista, homofóbica, precisamos ter muito cuidado para não soar isso, de resto, vamos lutar para fazer o povo brasileiro sorrir, porque o meu foco é esse num momento tão difícil de pandemia e de perdas de pessoas que amamos e o momento que todo mundo está preso dentro de casa, morrendo de saudades dos eventos. Então, vamos usar a tecnologia para fazer o próximo sorrir, esse é o melhor remédio. E, por fim, boas energias atraem boas energias e más energias atraem más energias. Obrigado, Portal Breaking World, estou muito feliz de fazer parte disso!

Confira o vídeo de MC Lula

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