Ele é brasileiro! E está entre os melhores DJs do mundo
Luciana Mazza
Sem patrocínio e sem mixer próprio, no DMC World, DJ Erick Jay mostra porque é um campeão e está entre os melhores DJs do mundo
O nome dele é Erick Garcia (41), na cena conhecido como o gigante DJ Erick Jay. Da zona leste de São Paulo direto para o mundo, o DJ Erick Jay, conhecido e respeitado internacionalmente, numa conversa bem sincera entrando pela madrugada com o Portal Breaking World, falou sobre patrocínio, sobre a importância do DJ na Cultura Hip-Hop, sobre persistência, foco, boicote e humilhação. Nesse bate-papo, Erick Jay também explanou sobre sua própria história, contou que começou a trabalhar com 11 anos e na Cultura Hip-Hop entrou dançando, mas logo se decidiu pela arte dos toca discos. São dele as palavras: “Gostava de ir nos bailes, ouvir os scratches nas músicas, ver os DJs tocando. Eles conduziam as pessoas, tinham as pistas nas mãos”. Jay na entrevista mostra porque é um campeão e está entre os melhores DJS do mundo. Em outubro desse ano, ele chegou na final da categoria ‘Battle for World Supremacy’ do DMC 2021 e mais uma vez foi o grande campeão. Na ocasião, devido às dificuldades ocasionadas pela pandemia, competiu com o mixer emprestado de um aluno e mesmo assim o talento venceu a dificuldade! Confira a entrevista:
BW: Erick, seu nome completo, idade, queria que você falasse um pouco da sua infância, parece que você nasceu e cresceu na Zona Leste de São Paulo. Que lembranças tem dessa época? Como era sua vida em família? Foi uma vida difícil?
DJ Erick Jay: Eu sou o Erick Garcia mais conhecido como DJ Erick Jay, sou da Zona Leste de São Paulo, tenho 41 anos de idade. Minha infância foi difícil, não foi nada fácil comecei a trabalhar cedo com 11 anos, estudava e trabalhava em ferro velho, entregava papel, cuidava de carro, entregava jornal, foi aí que aos 11 anos, a Cultura Hip-Hop entrou na minha vida. Eu comecei dançando e depois de um bom tempo que eu fui me tornar DJ. Eu vi os DJs do Hip-Hop e também da cena eletrônica. Eu dançava, então, gostava de colar nos bailes Black e nos bailes de música eletrônica, foi aí que começou minha carreira e meu foco em ser DJ, porque eu gostava muito, a forma como o DJ conduzia e tinha a pista na mão.
BW: Sua família era ligada a arte também ou não?
DJ Erick Jay: Em casa meu pai era DJ, ele tinha muitos discos, muitos VHS, muita fita gravada de músicas, ele colocava as músicas no rádio e eu cresci ouvindo música e isso ajudou muito também. Minha família sempre gostou muito de música, meu pai e minha mãe. Eu cresci ouvindo Antena 1, Alpha FM até que eu descobri a Metrô FM, que tocava Rap e eu ficava ligado nas rádios.
BW: Quando começou o seu interesse pela Cultura Hip-Hop? Quando rolou o primeiro contato com a Cultura?
DJ Erick Jay: Meu interesse pelo Hip-Hop começou aos 11 anos, eu ouvia os Raps e também gostava de dança, então, eu queria dançar Breaking, eu lembro como se fosse ontem, eu vi meu irmão assistindo um filme chamado Beat Street com os amigos na sala e eu falei: “Caramba! Que louco!”. E foi ali que começou minha paixão pela dança, pelo Breaking e mais tarde eu fui para o DJ.
BW: Você começou dançando? Era B-Boy? Nos conte isso…
DJ Erick Jay: Dentro da cultura, um dos primeiros contatos com a Cultura Hip-Hop foi com a dança, em 1991. E eu dançava mesmo, eu ia para a São Bento. Eu também ia para os bailes, dançava muito mesmo.
BW: Os bailes que você frequentava, os grandes DJs… Quais foram suas referências? E o que mais te fascinava em tudo isso? Quando decidiu de fato ser DJ?
DJ Erick Jay: Eu fui um cara privilegiado de ter crescido nos anos 90, nos bailes de equipes onde tinham vários DJs, tinha o Grandmaster Duda, o Ney, o Luciano, tinha o Mister, o Katatau, Silvinho, tinha vários… eu via os caras tocarem e queria ser igual a eles! E o domínio de pista que eles tinham eu achava louco! Eles foram minhas influências iniciais, depois vieram outras. Mas os DJs de baile foram eles! A magia que tem das mixagens não só nos bailes Black, mas nos eletrônicos também. Tinha o Marc, o Patife, tinham muitos caras que eram bons! Eu gostava muito de ver os caras tocarem, então, eu acredito que cresci na melhor época! Tudo isso me incentivou demais a ser DJ.
BW: Erick, fale da importância dos DJs entre todos os outros elementos da Cultura Hip-Hop?
DJ Erick Jay: O DJ é o principal e o primeiro elemento da Cultura Hip-Hop. O DJ tem que estar na dança, o DJ tem que estar com os MC’s, o DJ tem que estar no Graffiti, então, isso é um fato, o DJ é quem aparece primeiro na Cultura Hip-Hop, lembremos do Kool Herc. O tempo vai passando e às vezes vamos sendo menos valorizados, mas o DJ é o principal elemento da Cultura Hip-Hop.
BW: Nos conte sobre o início de sua carreira como DJ. Com quem aprendeu a arte dos toca-discos? E o que foi um diferencial na sua vida para que você chegasse onde chegou?
DJ Erick Jay: Eu comecei um pouco tarde na arte dos toca discos, no final dos anos 90 fui incentivado pelo meu professor, que era o DJ Zulu, que me ensinou todos os meus toques para eu chegar onde eu cheguei, graças ao respeito que eu tive aos DJs que vieram antes de nós, foram eles que pavimentaram a estrada para nós e eu fui longe pois sempre respeitei quem começou antes de mim. O respeito sempre será a chave para chegar em algum lugar! Desde o início foi difícil, eu comecei como DJ de quermesse, de aniversário, de casamento, como a maioria dos DJs da minha época começaram, mas depois eu quis umas paradas a mais, eu quis ir para o mundo, entrei no Hip-Hop DJ, que é feito pela 4P, no ano de 2002, que era para revelar os talentos, esse campeonato era feito pelo KL Jay e pelo Xis da 4P, evento que revelou vários talentos na história do Hip-Hop e eu fui um deles! Do Hip-Hop DJ para o mundo!
BW: Você atuou por anos como o DJ do programa Manos e Minas (TV Cultura) e o programa ‘Gringos Podcast‘, ao lado de Kamau e também do apresentador Ney Gringos. Nos fale dessa experiência?
DJ Erick Jay: Eu trabalhei durante 10 anos no Programa Manos e Minas na TV. Único programa dedicado a Cultura Hip-Hop, foi uma experiência muito legal porque eu tinha liberdade, eu que cuidava da trilha sonora do programa e tinha o meu momento também, depois, eu comecei a ser repórter, eu entrevistava a galera, foi uma experiência que me permitiu dar continuidade e aí fui convidado para ser apresentador do Gringos Podcast, que também era dedicado a galera do Hip-Hop, a experiência foi muito legal!
BW: O tempo de pandemia tem sido muito difícil para você? Verdade que um de seus alunos teve que te emprestar o mixer, que classifica como o “coração” do toca-discos, para competir no DMC World, por que você teve que vender o seu equipamento para conseguir segurar as contas?
DJ Erick Jay: Sim, no começo da pandemia eu tive que vender o meu mixer, porque eu fiquei um bom tempo sem trabalho, aí, eu entrei num campeonato para conseguir outro e nesse tempo eu treinei num mixer emprestado de um aluno meu, o Henrique! E outros DJs me emprestaram também, para que eu pudesse me dedicar, eu sei, que para alguns falaram que eu estava caído, segundo o que eu fiquei sabendo, o mal de algumas pessoas é achar que as coisas não chegam até nós! Essa minha situação serviu como inspiração, o meu caso. Eu estava sem mixer, eu peguei um mixer emprestado duas semanas e ganhei um campeonato mundial e fiquei em terceiro em outra categoria, ou seja, algo inédito sem patrocínio, sem nada mesmo, sendo on-line, que bom que para várias pessoas isso foi um incentivo e que pena que para outras, para a minoria, isso foi um motivo de sátira, falaram: “Olha o Erick Jay, teve que vender os bagulhos, está caidão… Olha, ele está quebrado!”. Pelo menos, eu pus minha família em primeiro lugar, vendi minhas coisas para ajudar minha família, meus amigos, enfim, mas faz parte, né? Mas eu ganhei um título mundial a mais para minha carreira e fiquei em terceiro no DMC World, maior campeonato de DJs do mundo e ganhei os equipamentos de volta… e aí???
BW: Hoje você é reconhecido internacionalmente. É tetracampeão mundial e está entre os melhores DJs do mundo, nos fale dos principais eventos que competiu e de suas premiações e colocações. Em especial dos últimos eventos, onde levou pela terceira vez o DMC World Supremacy 2021. Você se considera exigente consigo mesmo? Qual o segredo do seu sucesso?
DJ Erick Jay: Eu sempre gostei da competição. Sempre gostei de testar as minhas habilidades, não ser limitado, então, é por isso que gosto de competir. Campeonato é uma opção a mais que o DJ tem e participar do DMC para mim sempre foi um sonho, desde quando eu via as fitas VHS, vendo Marlboro, MC Jack e o Cuca disputarem e representarem o Brasil e depois eu tive a benção de realizar o meu sonho, quando voltou para o Brasil em 2008, 2009, que eu fui representando o Brasil durante 10 anos e nesses 10 anos eu ganhei o meu primeiro título mundial em 2016, no DMC World Supremacy, fui para a Polônia no final do ano e ainda ganhei no IDA World, que é o segundo maior campeonato de DJs, ganhei também. Em 2019, veio mais um título, o DMC on-line, eram mais de 300 DJs, passei nas eliminatórias, fui para a final e ganhei! E fui para a final mundial e fiquei em terceiro, aí agora, em outubro de 2021, ganhei mais um título pela Supremacy e fiquei em terceiro lugar no solo, coisa que só DJs da elite ficam, tipo, os DJs americanos, os japoneses, os franceses, só eles ficam, porque tem patrocínios e eu sem nada cheguei onde eles chegaram e fora outros campeonatos que participei e fui convidado, um que é em New York, esse foi muito legal, pois também fui convidado para dar uma palestra numa das maiores escolas de DJs do mundo. E eu dei um workshop lá, foi algo muito louco! Fui com o Kamau, que fala inglês muito bem e lá eu contei a realidade dos DJs daqui. Falei que aqui com um mixer compramos um carro e que não temos patrocínio. O segredo do sucesso é treinar e se dedicar! Se dedicar sempre! Estar sempre atualizado, sempre estar ligado no passado, também o foco é que é mais importante, independente das dificuldades. Eu fui boicotado, fui humilhado, até por gente da Cultura Hip-Hop, só que eu mantive o meu foco, fiquei sozinho, ninguém quis me apoiar, mas eu continuei no foco, independente da área que você atua, se você quer passar em Harvard, se quer ser o melhor advogado, tenha foco, quer ser o melhor cientista, estuda e tenha foco. Foco é tudo! Enquanto alguns se divertem, você está focado! E o tempo prova quem são as pessoas!
BW: Algumas pessoas justificam resultados negativos pela ausência de apoio e estrutura dada pelo país. Você superou tudo isso e ganhou dos gringos…. Nos fale dessa experiência de superação?
DJ Erick Jay: Ah, infelizmente as marcas não querem saber dos DJs do Brasil! Isso porque são os maiores consumidores dos produtos deles! O Brasil, por ser um país de terceiro mundo, é tirado mesmo! As coisas só mudam quando tiver um cara mesmo que seja um representante brasileiro lá no time de qualquer marca deles para falar: “não, no meu pais tem mercado, os caras compram, tem muita festa e lá tem mercado sim! O dia que tiver, aí as coisas vão mudar para os DJs daqui, caso contrário, vai passar anos e sempre vai continuar dessa forma, eu achei que quando ganhasse algum título mundial mudaria alguma coisa, mas não mudou. Presidentes das marcas sabem da nossa existência e cumprimentam a gente, nos seguem na rede social para disputar com os caras, mas não apoiam a gente! Interessante para eles são os caras que estão fora, nós não! Precisamos ser guerreiros! A nossa motivação para ganhar campeonatos tem que ser bem maior que a deles!
BW: Quais são seus planos para 2022? O que deseja ainda conquistar?
DJ Erick Jay: Em 2022 eu quero trabalhar bastante, recuperar todo o tempo perdido, quero fazer o meu disco, quero participar de campeonatos também, continuar plantando a semente, sendo influência e motivação para outros DJs que venham, para que nunca desistam dos seus objetivos, independente do que ele faça na vida, tudo que fizer, faça com dedicação, com foco!
BW: Deixe um recado para os leitores do Portal Breaking World.
DJ Erick DJ: Um grande abraço a todos os leitores do Portal Breaking World. Estamos juntos! O Breaking tem que ser também muito valorizado, também salvou muitas vidas, tirou muita gente das ruas e hoje estamos nas Olimpíadas, que passo magnifico. Abraços, é nós! (sic)
Imagem em destaque: DMC World