A beleza da Cultura Hip-Hop eternizada através das lentes de Little Shao

Luciana Mazza

 

“Queria mostrar ao mundo a beleza de nossa cultura. No meu ambiente, meus pais e amigos nunca levaram o Breaking a sério, então, eu encontrei uma maneira de mostrar a eles que éramos super-heróis” (Little Shao)



Ele é de família vietnamita mas nasceu em Paris, cidade conhecida como a capital europeia da Arte ou Cidade das Luzes, que durante séculos e até hoje ainda recebe de braços abertos as mentes mais complexas, iluminadas, incríveis e brilhantes nas diversas vertentes das artes. Thinh Souvannarath, mais conhecido como Little Shao, escreveu seu nome na história mostrando toda sua paixão pelo Breaking através de seus cliques, evidenciando a beleza da Cultura Hip-Hop e dos seus elementos. Desde o início, esteve totalmente envolvido na cena underground. Passou toda a infância nos subúrbios de Paris, onde conheceu o Hip-Hop. Aos 14 anos começou no Breaking. Entrava em batalhas e também fotografava e testemunhava os principais eventos de Breaking. À medida em que se aprofundou, sentiu que havia falta de documentação fotográfica. Naquele momento, começou a analisar todas as fotografias que tinha tirado ao longo da sua caminhada. Decidiu que queria mostrar a sua visão da cena. Queria produzir registros de Breaking melhores do que qualquer outra coisa que já tinha sido feito na vida e levar a fotografia de dança para outro nível. Uau! E não é que ele conseguiu?! Essa semana durante a Red Bull BC One em São Paulo, o Portal Breaking World teve a oportunidade de conversar com Shao e apresentar para vocês, breakers, essa entrevista exclusiva e super especial, confira abaixo:

 

BW: Eu gostaria que você nos falasse sobre suas origens, onde você nasceu e cresceu. O que veio primeiro em sua vida, o amor pela fotografia ou o amor pelo Breaking? Quando e como isso aconteceu?

 

Little Shao: Minha origem é vietnamita, mas nasci em Paris, França, depois que meus pais se mudaram para lá para trabalhar. Eu cresci em bairros difíceis, mas meus pais me mantiveram muito focado na escola, mesmo que eu passasse todas as minhas noites e fins de semana brincando ao ar livre. Eu tinha um grande interesse em tudo, como esportes, vários jogos e atividades que me levaram a me apaixonar por Breaking, por volta de 1997. Esta foi definitivamente minha primeira paixão e a fotografia veio mais tarde, como um suporte para isso, como uma forma de arte que era fortemente ligada à dança, para captar e hipnotizar esta cultura. Isso acontece especialmente porque senti que queria mostrar ao mundo a beleza de nossa cultura. No meu ambiente, meus pais e amigos nunca levaram o Breaking a sério, então, eu encontrei uma maneira de mostrar a eles que éramos super-heróis… (risos).

 

 

 

Francês de família vietnamita, Little Shao se tornou referência na fotografia
Imagem: ®Arquivo Pessoal

 

 

 

BW: Houve referências ou alguma pessoa especial na dança ou na fotografia que o encorajou a continuar e fazer o que faz com tanta perfeição e excelência? 

 

Little Shao: Acho que minhas referências estavam realmente fora do nosso mundo da dança. Lembro que minha referência era Davehill, um fotógrafo que tinha um render específico de fotografia que se aproximava da pintura, da publicidade. Claro que mais tarde, quando vi as imagens do Red Bull BC One, sonhei em me tornar fotógrafo um dia para este evento e adicionar minha visão a ele, trazendo minha visão a bordo. Acho que minha perseverança, trabalho duro e mentalidade B-Boy me fizeram querer ser o melhor.

 

BW: Quando você decidiu se dedicar totalmente à fotografia? Foi difícil escolher entre o Breaking e a fotografia? 

 

Little Shao: Em 2007, terminei meus estudos na Escola de Negócios de Paris, com especialização em Finanças. Comecei a trabalhar como consultor no mercado de bolsa de valores e foi realmente o momento em que não consegui encontrar tempo e motivação para praticar, para manter meu nível de Breaking no topo da batalha, então, fiz a escolha preguiçosa de fotografar mais batalhas de Breaking. Essa foi uma maneira de eu permanecer na minha paixão. A fotografia começou a ganhar força para mim entre 2010 e 2012, decidi mudar completamente e me dedicar como fotógrafo profissional em 2012. Todas as minhas escolhas sempre foram difíceis, mas segui meu coração.

 

 

 

O B-Boy que virou fotógrafo mundialmente reconhecido
Imagem: ® Arquivo Pessoal

 

 

 

BW:  Ser um B-Boy te ajuda a entender e capturar melhor os momentos e sentimentos de cada dançarino que você fotografa?


Little Shao: Sim, claro! Isso ajuda na sua conexão com as pessoas, as formas, os códigos que a gente tem na cultura é superimportante. Quando eu estava dançando, sempre fui superexigente com minhas formas e meu estilo, então, acho que queria refletir isso nas minhas fotos, é claro.

 

BW:  A ausência de registros como documentação fotográfica de Breaking o motivou a intensificar seu trabalho, mostrar tudo o que aconteceu e sua visão da cena? 

 

Little Shao: Sim, naquela época a internet não era o que é hoje, então, acho que era mais fácil não ser mimado e era mais fácil para mim desenvolver minha visão, porque como um B-Boy você sempre quer ser único, não copiar as pessoas. Graças aos meus estudos e dinâmica na escola, por volta de 2005/2006, minha atenção já estava em torno das plataformas sociais, então, eu meio que usei isso para divulgar minhas fotos e documentar nossa cultura.

 

 

 

Little Shao na Red Bull BC One Camp Brazil 2022
Imagem: ® The Sarará

 

 

 

BW: Aqui no Brasil temos bons fotógrafos, mas as condições de trabalho ainda são muito difíceis para a grande maioria. Como estão as coisas no país em que você mora? Conte-nos sobre sua rotina de trabalho, reconhecimento, valorização profissional e, claro, amor pela fotografia?

 

Little Shao: Ser artista é difícil também no meu país por causa dos números. Eu sinto que temos um acesso mais fácil a equipamentos e tecnologia, mas porque todos podem ter, traz muita competição e para poder viver como artista você realmente precisa ser o melhor. Quando você tem muita concorrência e fotógrafos, o valor cai. Lutei muito pelo meu reconhecimento e valorização profissional, por ter uma forte estratégia de marketing. A chave é como fazer as pessoas entenderem sobre seu custo, sua qualidade, seu profissionalismo e experiência.

 

BW: Como começou sua jornada na fotografia? Em todos esses anos, houve alguma foto especial que ficou imortalizada em sua carreira? Você pode falar sobre eles? 

 

Little Shao: Comecei a fotografar muitos retratos para dançarinos franceses. Esses dançarinos começaram a viajar muito e usaram minhas fotos para se comunicar, o que me levou a ser convidado como fotógrafo para grandes eventos. Acho que, quando fiz o Urban Dance Camp, achei uma boa ideia fazer fotos criativas misturando dançarinos de todos os ambientes. Misturei bailarinos de coreografias famosas com breakers, com dançarinos de street style, etc… essas fotos viralizaram nas redes sociais porque eu trouxe um estilo diferente, com fotos que chamaram a atenção das pessoas. A estreia do Juste também foi um grande evento que cobri e me ajudou muito. Alguns anos depois, todos esses dançarinos começaram a dançar e coreografar grandes artistas da música, foi quando tive a chance de clicar e colaborar com Justin Bieber, Madonna, etc… 

 

 

 

B-Boy Leony, campeão da Red Bull BC One Cypher Brazil 2022
Imagem: ® Little Shao

 

 

 

BW: Como você vê o fato do Breaking se tornar um esporte olímpico? Teremos clicks de Little Shao nas Olimpíadas de Paris? 

 

Little Shao: Sim, eu escutei que meu nome foi cogitado para ser o fotógrafo principal de Breaking nas Olimpíadas, mas nada é certo, então, eu tenho que verificar esse ponto (risos). Nunca sabemos o que pode acontecer… você pode ser o melhor, mas se um amigo do amigo do organizador estiver por perto, essa pessoa pode ser recomendada e não você. Mas para ser honesto, eu ficaria super-honrado de registrar o primeiro evento de Breaking nas Olimpíadas, especialmente porque é na minha cidade! Mas eu acho que o Red Bull BC One é o melhor evento para fotografar.

 

BW: Você já esteve no Brasil outras vezes? O que você acha do nosso país?

 

Little Shao: Acho que essa é a minha 6ª ou 7ª vez… vim muito para o Rio e esta é apenas a minha segunda vez em São Paulo. Eu realmente amo este país. Minha primeira vez aqui foi na final mundial do Red Bull BC One, em 2012, e foi um choque para mim. Foi a minha melhor experiência. Eu já atirei com a minha câmera em muitos brasileiros (risos).

 

 

 

B-Boy Menno, campeão mundial da Red Bull BC One 2017
Imagem: ® Little Shao

 

 

 

BW: Esta semana aconteceu um workshop no Red Bull BC One aqui em São Paulo, conte-nos sobre o que apresentou aos brasileiros…

 

Little Shao: Fiz o possível para compartilhar minhas motivações e inspirar as pessoas. Se eu consegui apenas dar um vislumbre de motivação que tenho em minha alma para eles, então foi um sucesso!

 

BW: Qual é a sua mensagem para as pessoas que amam seu trabalho e o têm como referência?

 

Little Shao: Sem Arte, a vida é seca! (risos)

 

 

 

A editora do portal Breaking World, jornalista Luciana Mazza e o fotógrafo Little Shao na Red Bull BC One 2022
Imagem: ® Breaking World

 

 

Imagem em destaque: ®Piltosh

 

 

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