Para a nova geração, sangue nos olhos não falta na hora de uma batalha
“Meu sonho é ir para fora apontar o dedo na cara dos gringos”
(Richard Benicios)
A nova geração pede licença para passar. Eles dão show de energia, de vitalidade e de superação. Superam os problemas e não perdem tempo com os dilemas. São o futuro! Cada dia chegam mais novos na cena, cheios de sonhos conquistam desde cedo o seu espaço. “O Breaking é minha vida”, afirma Richard Benicios, conhecido no meio dos breakers como B-Boy Richard e entre os B-Boys tem quem diga que “o garoto é zica!”.
Carismático mas competitivo, Richard nasceu em São Paulo e mora em Perus. Sangue nos olhos não falta na hora de uma batalha! Ele começou a dançar em 2016, quando tinha apenas 10 anos, participou e ganhou vários campeonatos nacionais. Hoje, o menino se diz esforçado, dedicado à dança.
Ele conversou com o portal Breaking World, sendo o primeiro B-Boy Kids que entrevistamos. Adoramos o bate-papo e agora temos a felicidade de compartilhar com todos vocês:
BW – Quando você começou a dançar e que idade tinha?
Richard – Comecei a dançar em 2016. Eu tinha 10 anos!
BW – Onde e com quem você aprendeu os primeiros movimentos de Breaking?
Richard – O primeiro movimento foi com o B-Boy Thiaguin do CB Boys dentro da Casa do Hip-Hop, em Perus.
BW – Tiveram movimentos que foram mais difíceis de aprender? Que levaram mais tempo?
Richard – Sim, teve sim. O “flare” foi o pior, o que levou mais tempo para conseguir fazer.
BW– Na sua casa é só você que dança? Você tem apoio da sua família?
Richard – Sim, minha família sempre me apoiou. Somos 7 irmãos, tenho um irmão que dançava mas que deu um tempo. Agora, sou apenas eu que danço.
BW – Quando você começou a ir para campeonatos? Qual foi o primeiro campeonato que você foi?
Richard – Eu comecei a ir para campeonatos em 2016 mesmo, me lembro que o primeiro que fui foi a B-Girl Toquinha e o B-Boy Fominha que ganharam.
BW – E qual foi o primeiro que você ganhou?
Richard – Foi o Kids do “Rival vs Rival”, em 2017.
BW – Qual foi a sensação de levantar o primeiro troféu? Você guarda os troféus?
Richard – O primeiro que eu ganhei, no “Rival vs Rival” foi emocionante. Nossa, só de levantar o primeiro troféu eu quase chorei! Eu guardo todos os meus troféus como recordação, para quem sabe um dia mostrar para os meus filhos como eu dançava!
BW – No Breaking tiveram pessoas que foram inspiração para você?
Richard – Eu admiro vários, tenho alguns amigos que admiro muito! Seria injusto falar nomes. Mas todos aqueles que me ensinaram eu admiro, se não fosse por eles eu não saberia o que estaria fazendo até hoje.
BW – Me fale um pouco da sua rotina de treinos. Quantas vezes você treina na semana? E que horas você estuda?
Richard – Eu estudo pela manhã e treino todos os dias da semana na parte da noite.
BW – É fácil ser um bom B-Boy e um bom aluno na escola?
Richard – Nossa, é muito louco! É bom ser B-Boy, mas ser bom aluno não sou muito não. Sou sincero.
BW – Os colegas e os professores sabem que você dança? Eles te pedem para dançar na escola?
Richard – Nessa escola que estou agora até que não. Mas na outra que estudava, todo mundo pedia para eu dançar!
BW – Na sua opinião é importante para uma criança que é B-Boy ou B-Girl estar numa crew?
Richard – Sempre é bom estar numa crew, você se sente numa família! E isso é importante, pois um ajuda ao outro, tanto na dança como na vida.
BW – O que você sente quando você dança? O que se passa na sua cabeça?
Richard – É uma energia tão boa! É muito bom dançar! Passa naquele momento várias coisas boas na minha cabeça. É quando eu fico mais feliz! Eu sinto que nunca vou parar!
BW– Para você o que é o Breaking? O que ele representa na sua vida?
Richard – O Breaking é a minha salvação! Representa tudo!
BW – Você se acha competitivo? O que te deixa muito irritado durante uma batalha de Breaking?
Richard – Sim, sou muito competitivo, mas o que me irrita muito é quando alguém bate no meu braço. Não gosto, eu acho isso muito feio.
BW – Nos campeonatos que você compete contra adultos, você acha que já deixou de ganhar algum pelo fato de ser criança? Acha que as crianças são valorizadas nos eventos?
Richard – As crianças não são muito valorizadas, tem muitos eventos que não rola “Kids”… Por mim, deveria ter muito mais eventos “Kids”.
BW – O que você sente quando você não ganha? Consegue lidar bem com isso?
Richard – Quando eu não ganho, eu fico meio triste, mas depois eu penso: “terá próxima vez e eu vou pegar esse cara na próxima!” (risos). Na próxima batalha, eu vou lá e ganho. Isso que é o mais legal do Breaking.
BW – Além da dança, o que mais você gosta de fazer?
Richard – Além da dança eu gosto de jogar bola e empinar pipa.
BW – Quais são os seus maiores sonhos na dança? Onde quer chegar?
Richard – Meu maior sonho é dançar fora do Brasil, para rachar com os gringos. Eles são bons, mas nós brasileiros somos…! Meu sonho é ir para fora, apontar o dedo na cara dos gringos.
BW – Tiveram muitas crianças que começaram na mesma época que você e que hoje já não dançam mais. Você alguma vez pensou em desistir de dançar?
Richard – Sim! Tiveram bastante crianças que começaram junto comigo e depois pararam por causa de droga ou por causa de outras fitas. Eu não cheguei a pensar em desistir, mas fiquei um mês sem dançar por causa de preguiça mesmo. Aí eu pensei: “Mano, eu vou ficar aqui parado sem fazer nada?”, então respondi, “Não. Eu vou dançar Breaking!”.
BW – O que você acha do Breaking no Brasil e do Breaking que você vê em outras partes do mundo?
Richard – Eu acho que os brasileiros são muito bons. Mas tenho vontade de dançar lá fora, sim! Eu não pago muito pau para os gringos.
BW – Recentemente, você foi jurado mirim. Como foi estar no outro lado? Quais são os seus critérios de julgamento?
Richard – Sim, eu fui jurado mirim no “Batalha SP” que a B-Girl Bia organiza e foi muito bom! Pois fiquei com a responsabilidade do racha na minha mão. O meu critério de julgamento é tudo: Top-Rock, Footwork, Freeze, Power Move, música e finalização.
BW– Quem é o Richard hoje?
Richard – O Richard é um menino bastante esforçado que gosta de dançar Breaking. É isso.
BW – Que mensagem você deixaria para outras crianças que pensam em começar no Breaking?
Richard – O que vocês estão esperando? Bora dançar Breaking! Breaking é vida!
Fotos: The Sarará, Marcus Vinicius e Arquivo Pessoal