Churcks MC lança música “Vida de B-Boy” e homenageia Breakers de todo o Brasil: ¨B-Boy é Super-Herói que sem asas pode voar”
O bagulho ficou doido quando, no final do mês de maio, o B-Boy e Rapper Lucas Lameu, mais conhecido como “Churcks MC”, estreou no YouTube mais um vídeo, dessa vez chamado “Vida de B-Boy”. Depois de uma década sem ninguém escrever sobre o assunto, Churcks resolveu quebrar o silêncio e fazer uma homenagem a todos que têm o Breaking Beat vivo em suas veias.
Para quem não sabe, Lameu nasceu na cidade do interior de São Paulo chamada Assis, conta que começou a dançar Breaking aos 14 anos, mas que só se dedicou à dança um ano depois, quando passou a treinar todos os dias. Sem apoio dentro de casa, Lameu cresceu compreendendo que o Hip-Hop sempre foi visto como algo que não garantia futuro. O tempo passou e hoje a realidade é diferente, ele conta: “Minha mãe gosta do que faço, apoia e entende que foi a cultura que me salvou… Eu, junto com minha crew “Flava Rockers”, já viajamos para diversos campeonatos, ganhamos vários prêmios, tivemos nessa caminhada vitórias e derrotas. Já viajei pra alguns países da América Latina, como Chile, Bolívia, Peru e já rodei uma grande parte desse Brasil junto com a minha crew, dançando. Comecei a fazer rimas entre 2008 e 2010, sempre se inspirando muito em Racionais, Sabotage, Doctor MC’s, Thaíde, Cyphers Hills, Tribe Called Cast, Fushiniks, entre outros Raps nacionais e internacionais, que usávamos junto aos ‘breaking beats’ para dançar nosso B-Boying em cima deles”, e continua, “o Breaking foi o caminho para o B-Boy de Assis chegar também no rap. Na ocasião, rappers como Emicida se destacavam nas Batalhas de MC em São Paulo”. Por meio de um PC bem antigo, nascia um novo MC, o “Churcks”, que começou a curtir essas rimas, a arte da improvisação, até começar a fazer freestyles entre amigos. Foi quando ao mesmo tempo, começou também a ganhar destaque na cena da dança, “se jogando” pelo Brasil e pelo mundo afora. Indo residir então na Capital Paulista, um novo momento começava e com ele algumas dúvidas. Ele lembra: “Comecei a ganhar destaque na cena do Breaking nacional e fiquei dividido, por anos o Breaking sempre gritou mais alto dentro de mim, mas eu nunca deixei de rimar com os parceiros em rodas, entre eu e meus manos, eu sempre estava ali rimando, eles sempre falavam que eu tinha talento e até participei em algumas batalhas de rimas. Mas foi no final do ano de 2019, após todo esse tempo de vivência dentro da cena Hip-Hop, que eu decidi trazer a todos esse meu velho (e novo ao mesmo tempo) sonho de adolescente, pois foi isso que me fez chegar até aqui, tudo que eu vivi ou que eu vi em algum momento, passei a transformar em rima, não faço nada mais que isso… Isso aconteceu quando se foi um conhecido meu que também fazia rimas no final do ano passado, o “Mineiro”, ele era jovem e sonhador, assim como eu, a maldade do mundo e uma doença que mata milhares nessa Terra, levando muitos à depressão, foi o caso dele, o que o levou num trágico dia a tirar a própria vida. Nessa hora eu tive a certeza que não podia esperar mais pra fazer a minha arte! Pois quanto tempo ainda tenho? Quantas vezes vivi uma realidade que não era o que eu queria, drogas, festas, crime, não era isso que me preenchia, era bom na hora, mas o outro dia sempre eu ali sozinho e o Hip-Hop foi, literalmente, o que me salvou e fez possível eu estar aqui hoje”, emociona-se o MC.
Em janeiro, Churcks gravou o primeiro trabalho solo, intitulado “Grana”, música feita por ele mesmo, que conta sua realidade vivendo em São Paulo, onde é possível fazer dinheiro, participar de muitas festas, rolês e relações, que são vazias, mas ao mesmo tempo, segundo o MC, são necessárias para sobreviver na louca “Selva de Pedra” paulistana!
Em seguida, lançou mais seis trabalhos autorais. O último, com grande repercussão, foi uma homenagem feita à propria mãe e às milhares de mães pelo mundo que criam seus filhos sozinhas e não falham nunca na missão. Ele comenta: “Trabalho lindo e feito de coração! A música fala sobre minha história e a de muitos nesse mundão, fala sobre ser criado só pela mãe, uma mulher preta que, sozinha, criou dois filhos, eu e meu irmão Douglas Albert, que tem Síndrome de Down, fala sobre a força da mulher em nunca abandonar a missão de ser mãe. Acredito que bastante gente se identifique, pois são muitos que se encontram sem o nome do pai no RG e que foram criados por uma mulher forte, que não falhou, seja mãe ou avó, mas a mulher mãe para mim é outro nível. O clipe foi gravado tudo em casa mesmo, gravado e produzido por um casal de amigos da cidade de Jales, interior de São Paulo (GG-One Bergamo e Renuza Gonçalves)”.
E agora, o som “Vida de B-Boy”, que Lameu explica: “É uma homenagem a todos que realmente amam essa arte e além disso, é uma forma de levantar a bandeira do Hip-Hop, pois os MC’s da atualidade esquecem muitas vezes dos valores reais dessa cultura e a dança, o Breaking, é um elemento importantíssimo dentro da cultura. O Hip-Hop tem 4 elementos: DJ, Graffiti, B-Boying e MC… Essa música já foi tocada em países como Chile, Argentina, Dinamarca, Espanha e Portugal, acredito que as pessoas estão ouvindo esse, como outros trabalhos, pois eles se sentem representados, sentem verdade no que eu canto e isso faz eles se inspirarem de certa forma, pois é isso que me fez chegar até aqui. No Brasil, hoje ainda sofremos um certo preconceito em questão à dança, por mais que cada vez estejamos inclusos em lugares aonde antes não imaginávamos frequentar, acredito que o Breaking ainda merece mais valor, cachês maiores, apoios, investimentos, eu acredito que é um dos movimentos mais reais da cena. Então, porque não podemos ser valorizados igual a maioria das outras artes ou esportes urbanos? Para mim, meus manos que estão fora do país são a prova do quanto é possível crescer e buscar novos caminhos, novas vivências com a dança, conheço pessoas que de fora do país ajudam suas famílias e porque no Brasil não valorizamos dessa forma? Outra questão que abordo é a importância de ter um estilo próprio, não só na dança, mas isso serve para a vida, tudo que você faz querendo ser o outro te prejudica em poder atingir aquilo que você mesmo pode ser, acho que a arte, a dança em si, especificamente, é algo único, algo muito íntimo e quanto mais natural você for, melhor resultado você pode dar dentro de uma batalha, cypher ou qualquer lugar que vá mostrar sua arte”.
Confira a letra da música na íntegra:
VIDA DE B-BOY
Como não vou falar do que me fez tá aqui
O Breaking fez ser quem eu sou em forma de freeze
Inspiração traz Motivação,
Motivação a criação,
Treino a evolução,
Hip-Hop é união, ou não?
Lembro quantas vez eu já sorri
Como tanto lembro toda vez que eu já chorei
Lembro como se fosse hoje tudo que eu vivi
2006 em Tarumã o primeiro evento que eu participei
Ouvi falarem que o Breaking morreu
É porque o Breaking não tá sempre na sua TV
Pergunta pro Sinistro se o Breaking morreu
Quem conhece ele já sabe o que ele vai te responder
Hip-Hop é que faz viver, Hip-Hop no trem é o primeiro de SP
Meus manos que tão na Europa são prova que Breaking te faz vencer
E eu a prova que quem dança também faz R-A-P
Mestre Thaíde já falou e eu repito
“Quando eu quero alguma coisa eu vou atrás
E vou te dar um conselho, não duvide de mim…”
Sabe porquê?
Refrão (2x)
Porque eu sou B-Boying, sou B-Boying,
Sob o solo Flava destrói
As barreiras, sempre eu esquivo
Break Beat é o que me mantém vivo
(Declamação)
A dança é uma linguagem universal.
Você pode encontrar alguém de outro país,
Não trocarem uma maldita palavra
E ainda assim dançar a noite toda…
São 15 anos de vivências, uma longa caminhada
Viagens sem volta eu me joguei na parada
Rodoviárias nem sei, lugares onde passei
Amigos que conheci, títulos que eu ganhei
Cada passo dessa arte me fascina
Cada batalha sempre uma nova adrenalina
Eu sou exatamente aquilo que sente ao me ver dançar
B-Boy é super-herói que sem asas pode voar
Seja estudante, nunca o mestre, Breaking é pra todos
Ken Swift te disse, da forma que é mais profunda
Quem não entende nossa arte diz que somos loucos
Os loucos que mantém a cena mais viva que nunca
Refrão (4x)
Porque eu sou B-Boying, sou B-Boying,
Sob o solo Flava destrói
As barreiras, sempre eu esquivo
Break Beat é o que me mantém vivo
(Declamação)
Quando você está na roda tudo é perfeito
O sentimento de cada batida
A música começa a vibrar através de você
O tempo deixa de existir
E aquele momento você deixa a sua alma junto à música
É sua vez, é sua essência em forma de dança
E não há problema em querer ser tão bom quanto alguém
Mas cada pessoa tem um estilo
E você não pode encontrar o seu estilo
Se estiver ocupado tentando ser outra pessoa…
(Declamação)
Salve Flava Rockers
Salve a todas B-Girls e B-Boys que já conheci
Salve Nelson Triunfo
Salve Thaíde
Salve Banks
É a essência de vocês que me fez chegar até aqui
Gratidão a todo a toda nação Hip-Hop
Um salve verdadeiro, Churcks MC.
Assista o vídeo clipe:
https://www.youtube.com/watch?v=a1iKz2DUuAo
E o futuro já começou para Churcks MC que conta que, além do amor que tem pelo Hip-Hop, todo o corre e a motivação de sua vida e de seu trabalho têm um nome especial: “Davi Silva”, filho do MC, que tem apenas 3 anos e mora longe, em Macapá. Seu foco é dar uma condição melhor para o pequeno e poder vê-lo mais vezes, pois sente muita falta dele. Churcks está preparando mais três musicas e já adianta em primeira mão os nomes para o Portal Breaking World: “O Melhor de Mim”, “Até Quando” e “Break Hit”. Ele finaliza: “Estou trabalhando como nunca, sei que jamais vou deixar minha essência de lado, humildade e muita fé que as coisas vão acontecer! Eu acredito que o Hip-Hop ainda vive, e eu sou prova disso!”.