Back Spin Crew: 35 anos dividindo conhecimento e multiplicando talentos
Foi no Metrô São Bento, porque não dizer, no “Templo da São Bento”, em São Paulo, coração cultural do Brasil, onde aconteciam as batalhas de dança de rua e as trocas de ideias sobre o Breaking e as origens da Cultura Hip-Hop, que até então eram desconhecidas. Foi ali, que foram criados os alicerces que fariam da São Bento hoje o “Berço do Hip-Hop no Brasil”.
Nesse cenário, de dias que jamais deveriam ter passado para os amantes da cultura de rua, nascia a “Back Spin Crew”, sendo a união de três coletivos de B-Boys: “Dragon Break” (Hélio, Cícero, Thaíde, Mario e Marcão), “Furious Break” (formado por Marcelinho e Geléia) e “Fantastic Duo” (com Gema e Tatu), além de mais dois B-Boys, Jeferson e Fernando, que frequentavam os encontros e treinos na época.
A história da “Back Spin” se mistura com a história do Hip-Hop brasileiro, passando pela arte e pela educação, por meio dos trabalhos que foram desenvolvidos, a consagrando como uma das equipes de maior prestígio e respeito na cena.
“O tempo passava e nós nem sabíamos que estávamos escrevendo história. Naquela época as coisas eram mais difíceis, porém, nós tínhamos muita vontade de passar conhecimento e multiplicar talentos”, palavras de Marcelinho Back Spin, 35 anos depois, ao conversar com o Portal Breaking World sobre a história da crew.
Confira a conversa:
BW – No final dos anos 80 a São Bento virou um point onde todos que respiravam a Cultura Hip Hop no Brasil. Foi nessa efervescência que surgiu a Back Spin?
Marcelinho – Em 1983, foi a explosão do Street Dance no mundo. Aqui no Brasil, aconteceu em 1983: o primeiro filme foi o “Flash Dance” e nós tínhamos o “Funk Cia.” que era um grupo profissional e que levou isso para a rua, para a 24 de Maio. Naquela época, existiam vários grupos, entre eles, o “Electric Boogie”, o “Gang de Rua” e o “Dragon Breakers” se destacaram, no ano de 1984. E, em 1985, meio que varreram essas coisas e trataram como uma moda, mas eu nunca acreditei que aquilo fosse apenas uma moda e, graças a Deus, não só eu pensava dessa forma, mas outros dançarinos, assim como eu, queriam continuar. Então, um dançarino da “Furious Breakers”, que era da minha turma lá do “Pazzine”, de Taboão da Serra, que se chamava Dante, ele trabalhava de office-boy, falando com o Luizinho, que era irmão do João Breaking, o Luizinho falou: “Olha, nós estamos começando um point lá no Metrô Estação São Bento”. No sábado seguinte, nós já estávamos lá com a nossa turma, com boombox e tudo e aí nós conhecemos a cena, que tudo estava começando ali. Não eram muitos, mas a cada semana chegavam novas pessoas e onde nós sabíamos que tinha um foco de alguém dançando, dávamos um toque, chamando para conversar e para ir para a “São Bento”. Foi assim que o movimento da São Bento naturalmente começou e foi se desenvolvendo. E onde se falava de Hip-Hop em São Paulo era na São Bento. Na São Bento pulsava o Electro Funk, Hip-Hop, Miami Bass, músicas que só se ouvia nos “boomboxes”, que ficam em torno das rodas de dança. Era fantástico! Nós íamos para os bailes sim, mas no sábado à tarde nós estávamos na São Bento, era sagrado! Então, foi assim que a São Bento se constituiu. Era uma oportunidade, onde nós trocávamos ideia sobre a cultura que estava nascendo e sempre um ou outro trazia informações. Havia uma troca, os rachas aconteciam, mas nós conseguimos conviver, então, era um ambiente de resistência, estávamos fazendo aquilo que gostávamos e o Hip-Hop começou a fazer parte da nossa vida, do nosso estilo de vida e aí foi quando eu conheci o Thaíde, que tinha mudado de “Dragon Breakers” para “Back Spin” e ele convidou eu e Geleia para entrarmos na “Back Spin” e aí a “Back Spin” foi se formando nessa articulação que a “Dragon Breakers” fazia. Thaíde, Cícero, o Mario, eram pessoas que começaram e que depois nós fomos fortalecendo até chegar com Thaíde e DJ Hum, desenvolvendo música, participando do primeiro disco de Hip-Hop no Brasil e a “Back Spin” participou dessas turnês e pôde difundir mais ainda a dança e a cultura de rua por onde passou.
BW – Na época imaginavam que essa crew seria o início, seriam pioneiros na história do Breaking no Brasil?
Marcelinho – Na verdade nós estávamos na rua dançando, indo para os bailes, curtindo o Hip-Hop, construindo. Todo mundo da crew fazia um pouco de cada coisa: o Thaíde escrevia letras de Rap, a gente contribuía, ele já mandava a rima, o DJ Hum já fazia scratch, o Fernando da Back Spin fazia Graffiti, Geleia fazia camisetas, então, nós desenvolvíamos as coisas naturalmente e ninguém imaginava como seria, só seguíamos em frente, tentando fazer o melhor possível nas condições que nós tínhamos. Então, muito diferente do mundo de hoje, onde as coisas estão todas globalizadas, naquela época não tinha tecnologia, as coisas eram mais difíceis, porém, nós tínhamos muita vontade, então caminhamos muito pela cidade, dançávamos muito pelas ruas, Parque do Ibirapuera, a São Bento e vários outros lugares, não tínhamos noção que a história estava sendo escrita naquele momento.
BW – E como foi nos anos 90? A São Bento recebia não apenas o Breaking, mas outros estilos de dança de rua, fale um pouco sobre isso.
Marcelinho – Depois nos anos 90, no início, alguns da “Back Spin”, dessa primeira formação, começaram a seguir outros caminhos, casaram, outros deram um tempo e assim por diante, coisas naturais da vida e, eu e Gema, ainda ficamos, quando no início dos anos 90, resistindo nos treinos e começamos a trabalhar com Thaíde e DJ Hum, a partir daí, nos intensificamos na busca de ter uma nova formação, pessoas para continuar e foram surgindo vários nomes a partir desse trabalho que eu comecei a desenvolver em Diadema, as oficinas culturais de Hip-Hop e daí eu fui conhecendo na própria São Bento também. A “Back Spin” sempre teve essa responsabilidade, essa alegria de poder dizer que as gerações foram construídas, nós não deixamos a “Back Spin” parar e isso foi uma força do coletivo e de persistência. O nosso estilo é Breaking, Popping, Locking, Soul… quando falamos da questão anterior, que era um point dos B-Boys e das B-Girls, sim, sempre foi mais dos Poppers também, que era outra dança de rua que já existia naquela época. A mídia nos anos 80 rotulou como “Breakdance”, mas na verdade o que fazíamos era uma dança de rua construída nesse conceito de união. Então, a história da “Back Spin” passa também pela arte-educação, trabalho que desenvolvemos desde 93 e que formou multiplicadores na própria Back Spin e esses formaram outros multiplicadores, usando o Hip-Hop como uma ferramenta para discutir educação com os jovens e variados temas, que fazem parte do cotidiano da periferia e só quem está lá sabe dessas necessidades. A “Back Spin” se capacita também nessa questão, então, temos uma responsabilidade em todos os trabalhos que fazemos e isso é uma coisa normal dentro do grupo, que vem sendo trabalhado já há muitos anos.
BW – Quais eram as principais crews brasileiras rivais da época?
Marcelinho – Se falar da época da São Bento, as crews rivais eram “Back Spin”, “Crazy Crew”, “Street Warriors”, “Nação Zulu”, “Fantastic Force” e várias outras que chegavam a cada ano. No final dos anos 80, já tinham outras turmas chegando. Mas a principal rival da “Back Spin” foi a “Crazy Crew”, nós rachamos e batalhamos muitas vezes, mas era muito legal e hoje todos somos amigos, curtimos a São Bento juntos, aquela época foi muito boa e divertida.
BW – Como a sociedade via os B-Boys naquela época? Como era vista a Cultura Hip-Hop? Existiam muitos problemas com a polícia?
Marcelinho – Olha, nós tivemos problemas sim, foi na época da ditadura militar, nós éramos enquadrados pelos “pés de pato”, que eram justiceiros típicos da ditadura, eles eliminavam pessoas, quanto menos periféricos existissem, para eles era melhor. Eles identificavam muito pela roupa, pois os dançarinos de rua daquela época tinham o visual muito próximo do “função”, que nós vínhamos dessa linha da função, visual da quebrada, de quem curtia os bailes e nos bailes, às vezes, nós sofríamos na saída, tomávamos enquadros, sempre houve essa perseguição social. Era aquela visão do opressor: eliminar os oprimidos que, segundo eles, atrapalhavam as suas vidas.
BW – Brigas de gangues eram comuns também no Brasil?
Marcelinho – As gangues da São Bento eram diferentes, eram gangues de dança. Diferente do que existia no exterior.
BW – As informações que vinham de fora, do que vinha acontecendo em Nova York, no Bronx, como isso refletia na vida de vocês?
Marcelinho – As informações demoravam a chegar, eram poucas, tinham algumas revistas, que nós procurávamos. Lembro que o Gema trampava numa livraria, então, sempre que saía alguma revista com alguma informação nova, nós traduzíamos e perguntávamos o que se desejava saber, era muito nessa troca. Lembro que no começo dos anos 90, um dançarino que era do Chile, ele trouxe umas fitas de um pessoal dançando na Europa, isso nos anos 90, pois nos anos 80 era o filme “Beat Street” que fazia história e que vamos falar daqui a pouco. Mas eram os vídeos clipes, as coisas curtas, então, as informações eram raras. Quando começaram a chegar essas fitas da Europa, era a época da “Batalha do Ano” na Alemanha, evento que acontece há muito tempo e é um grande evento do Breaking! E começaram a chegar as informações que existia também uma resistência lá na Europa, pessoas dançando e isso alegrou muito a gente, estimulou muito o movimento e algumas coisas que os caras estavam fazendo nas rodas inspirou muito uma geração que estava chegando no ano de 1992.
BW – Defina: o que é Breaking para você? Compare o que se fazia naquela época com o que se faz hoje. Muita coisa mudou?
Marcelinho – Breaking para mim é um estilo de vida! Temos que viver isso, mas sem esquecer as raízes: quem são os criadores, como foi a história e curtir a Cultura Hip-Hop. Curtir essa vibe de estar com o “boombox” na rua, fazendo um footwork, dançando com o seu estilo próprio, tendo o seu estilo próprio, a diferença é que naquela época a gente não conhecia os fundamentos dessa dança. Na Europa, esse conhecimento chegou antes daqui, os americanos também interagiram mais lá, o movimento foi muito mais rápido lá. Quando chegou o movimento aqui eles já estavam voando lá! Aqui no Brasil tinha muita gente boa, porém, não tínhamos informação e isso começou a chegar nos meados dos anos 90, cada coisa teve sua época e cada um tem uma forma de ver as coisas. Eu, por exemplo, gosto de hoje, mas gostava de ontem também. Mas vejo que é importante a evolução e tudo que está acontecendo hoje! Mesmo que às vezes algo não pareça correto no olhar de alguém.
BW – E fale sobre o filme “Beat Street”, foi importante para os B-Boys na década de 80?
Marcelinho – O “Beat Street” foi um divisor de águas, em 1983 nós vimos o “Flash Dance”, ali foi o primeiro impacto, mas quando nós vimos o “Beat Street”, só quem estava naquela época para sentir. Foi incrível! Lógico que não mostrava a cultura na realidade, foi pesquisado em cima de coisas que aconteciam com a cultura, mostrava “New York City Break” e mostrava toda aquela vibe que rolava nos EUA, então, nós íamos para o cinema e ficávamos em várias sessões repetidas, para entender como os caras faziam aquela dança e tentávamos fazer também. O “Beat Street” foi o clássico do Hip-Hop. Ele apresentou na época a Cultura Hip-Hop com seus elementos, então a importância foi tremenda! Faltam palavras para medir coisa tão importante.
BW – Marcelinho, fale um pouco da “Primeira Mostra de Hip-Hop Nacional” e do trabalho que foi feito posteriormente, em formato de oficinas culturais. O que foi possível construir após isso?
Marcelinho – A primeira mostra aconteceu no final de 1992, foi uma ideia que tive quando percebi que muitos dançarinos não estavam colando mais na São Bento, outros tinham virado DJ´s, que é uma coisa natural que acontece no movimento, porém, aquilo enfraqueceu. Por um tempo, fiquei pensando: “o que está acontecendo?”. E aí comecei a comentar com algumas pessoas a possibilidade de fazermos um encontro e alguns acharam que eu estava viajando, foi quando eu conversei com o Alam Beat, ele já topou logo de primeira, aí começamos articular para que esse evento acontecesse e nós nunca tínhamos feito algo igual. E aí o DJ Hum apresentou para nós uma pessoa que era do “Instituto da Mulher Negra” e eles deram o apoio total para esse encontro, mediando com o Metrô na época. Eles autorizaram, deram suporte de mídia e de estrutura para podermos produzir a mostra. Eu, o André e o Alam Beat. Nós corremos muito e as pessoas que estavam na “Back Spin”, o Gema, o “Jabaquara Breakers”, a “Street Warriors”, “Os Gêmeos”, “Thaíde e DJ Hum”, todo mundo apoiou esse encontro e nós colocamos 40 turmas para dançar nesse dia, lá inclusive tinham pessoas de fora de São Paulo, o pessoal do Espírito Santo, o “Vitória Breakers” veio de lá, nós mandamos um telegrama na época! Inclusive alguns anos atrás eu fui fazer um workshop lá e na hora que eu estava fazendo o trabalho o dançarino de lá trouxe o telegrama que eu e André enviamos e foi incrível. Colocamos muita gente para assistir, deu uma boa repercussão na mídia, foi muito proveitoso e uma oportunidade para muitos dançarinos que nunca tinham subido no palco e eu considero que foi um marco dos novos dançarinos que estavam chegando na São Bento. Depois dali, muita gente começou a colar na São Bento e foi muito proveitoso e nessa época, também, começaram as oficinas em Diadema, como eu já tinha dito e tudo isso somou na nossa caminhada. Foi no dia 13 de março de 1993.
BW – Naquela época, a presença das mulheres no Breaking era comum? Como as B-Girls eram tratadas nas crews e o que mudou com o passar dos anos?
Marcelinho – Na “Back Spin” nos anos 1980 temos a Kika, que dançava conosco. No final dos anos 80 a Celina, a Fernanda e a Reka, nós sempre tivemos respeito com a presença das mulheres no grupo e no movimento. Hoje, na “Back Spin” tem a Drika, tem a Cris, tem a Carol e a B-Girl Andressa, essa tradição se mantém e não apenas só na dança mas no Graffiti, DJ’s e MC’s e nas outras danças também. É a força da mulher na Cultura Hip-Hop!
BW – Em 2017, o Hip-Hop brasileiro chorou a partida precoce do B-Boy Banks. Fale um pouco sobre ele, sobre o legado que deixou para a cultura e sobre sua importância dentro da Back Spin.
Marcelinho – B-Boy Banks conheci em 1992, ele já era um dançarino de rua e trouxe no corpo a Capoeira, que foi herdado do próprio pai. Pegava as coisas com muita facilidade, tinha muita agilidade e eu fui apresentado a ele pelo Cícero, ele promoveu um encontro numa escola, eu fui, aí depois eu o convidei para treinar junto comigo no Ibirapuera, me lembro como se fosse hoje, num domingo pela manhã, ele dava aquele salto dele único Banks, o “Salto Banks” e a partir dali nós começamos a construir uma história. Em 1994, ele passa a ser meu parceiro nos shows de “Thaíde e DJ Hum” e a partir dali nós construímos uma história muito bonita, coreográfica, de estilos, de resistência juntos no palco, nas rodas por onde nós passávamos e ele contribuiu muito nas oficinas de Diadema e, depois, fizemos parcerias na “Casa do Hip-Hop”, viajamos, construímos a “Back Spin”, ele sempre esteve na articulação, depois, já no ano 2000, por uma questão que o impedia de dançar, ele se reinventou, virou um poeta e o legado dele é toda a articulação que já estava no sangue dele, a dança e a humildade, os ensinamentos que ele deixou para muitos e a semente que ele plantou da poesia dentro do Hip-Hop foi algo incrível. O Banks foi e é um irmão!
BW – Sobre outras formações da “Back Spin”, da geração mais nova, que critérios vocês usam para escolher novos B-Boys e B-Girls que vão integrar a crew?
Marcelinho – Bom, isso é uma coisa que eu já herdei da primeira formação da “Back Spin”: nós sempre tivemos muitas pessoas conosco! Tínhamos uma turma muito grande na primeira formação e sempre foi assim. E essas coisas foram acontecendo naturalmente. Nos anos 90, por exemplo, a entrada do Banks que era da rua, o Andrezinho, depois com as oficinas o Casper e a Drika, a volta do Geleia, eram sempre as pessoas que estavam próximas, éramos dançarinos que tínhamos um olhar para o Hip-Hop muito parecido, respeito pelo Hip-Hop, pelas pessoas, a dança, a arte que cada um faz. Deus deu um talento para cada um de nós e este talento não pode ficar guardado, fechado! Ele tem que ser multiplicado, então, a “Back Spin” tem isso! Hoje eu olho para tudo e vejo com muita alegria toda essa história nossa! Porque eu sei que vai continuar. Então, o respeito é a palavra chave na nossa crew.
BW – Sobre os inúmeros eventos que acontecem atualmente de Breaking, o que acha de seus critérios e formas de julgamento?
Marcelinho – Eu vejo da seguinte forma: na nossa época, nós gostaríamos que todas essas coisas que acontecem hoje, a estrutura, seria bom que nós tivéssemos naquela época também, poderíamos ter desenvolvido mais. Eu vejo a nova geração de dançarinos com muita alegria porque são incríveis, tanto de Breaking como de Popping, de Locking, de House e de outros, temos inúmeros dançarinos fantásticos e os eventos cada vez mais vão evoluindo. Alguns têm muito respeito com a cultura, outros não, outros são só para ganhar dinheiro e ainda tem aqueles para fazer os dois, vai ganhar dinheiro e garante a resistência de algum grupo. Vamos imaginar que os jovens dos anos 80 tinham poucas opções, quase nenhuma de atividade cultural na quebrada… Quando explode o Street Dance, se abrem muitas portas e com o desenvolvimento do Hip-Hop a partir de 1993, com as oficinas em Diadema, que foram pioneiras, começou a existir um espaço para o jovem poder participar de encontros culturais, de articulação social e do próprio Hip-Hop enquanto linguagem artística, buscando as nossas raízes. O próprio Hip-Hop nacional tem a sua identidade há muito tempo, quando descobrimos o Hip-Hop começamos a fazer sua relação com a cultura popular aqui no Brasil. A própria Capoeira tem uma contribuição fundamental no desenvolvimento do Breaking também, tanto que muitos dos nosso B-Boys brasileiros são destaque lá fora porque têm essa herança da Capoeira no próprio corpo e várias outras manifestações que as pessoas misturam há muito tempo. O Hip-Hop abriu esse espaço para termos voz, para sermos protagonistas das nossas ideias e sonhos.
BW – O que acha da profissionalização do Breaking? Hoje é possível trabalhar e viver da dança no Brasil?
Marcelinho – Olha, eu vivo há muito tempo da Dança e do Hip-Hop, desde os anos 90. Hoje isso é mais possível ainda, temos dançarinos morando até fora do Brasil, outros têm o seu próprio estúdio, outros trabalham em espetáculos, alguns são arte-educadores, isso já é uma realidade.
BW – Como você imagina que será o futuro do Breaking no Brasil?
Marcelinho – O futuro já chegou, tanto no Breaking, como no Popping, no Locking e as outras variadas danças de rua que existem, elas estão acontecendo! As pessoas estão cada vez dançando melhor, estão desenvolvendo métodos novos de ensinar. Tem muita coisa boa para o futuro!
BW – Quais são os planos futuros da “Back Spin” para os próximos anos?
Marcelinho – Continuar dançando! Desenvolvendo Breaking, Popping, Locking, Hip-Hop, DJ, Graffiti, Rap, passando para frente, para as novas gerações, o conhecimento sobre a história do Hip-Hop nacional e as origens da cultura, das suas danças, produzir shows, espetáculos, oficinas, mas principalmente, dar continuidade, sempre respeitando a todos, a cultura como uma fonte de trabalho, conhecimento, de desenvolvimento pessoal e coletivo.
BW – Que conselho daria para a nova geração de B-Boys e B-Girls?
Marcelinho – É amar aquilo que faz, ser honesto com aquilo que está fazendo, respeitar as pessoas, ensinar com amor e não guardar para si o talento, mas dividir e multiplicar. É isso!
Sobre Marcelinho Back Spin:
Ele faz parte da geração que iniciou as danças de rua em São Paulo, em l983, dançando Popping e Breaking. Articulador do movimento cultural Hip-Hop, em l985 começou os encontros de dança de rua, na “Estação São Bento do Metrô”, onde o movimento ganhou força e se tornou o “Berço do Hip-Hop no Brasil”. Nos anos 1990/2000, foi dançarino e coreógrafo da dupla pioneira “Thaíde & DJ Hum” e um dos fundadores da equipe pioneira de dança de rua “Back Spin Crew”.
Agradecemos ao fotógrafo Cadu Barbosa por ceder gentilmente algumas fotos dessa matéria. As outras são do Arquivo Pessoal de Marcelinho Back Spin.