INTERNACIONAL: Organizador da Porto World Battle coordena programa que ensina Breaking para crianças menos favorecidas em Portugal
“Fazer um projeto desta dimensão na cidade do Porto é uma das etapas mais importantes da minha vida.” (Max Oliveira)
Ele desde cedo sempre admirou a dança e todo tipo de movimento, como muitas crianças da sua geração, foi influenciado por Michael Jackson e Bruce Lee, mas foi somente com 18 anos, em Madri, que viu pela primeira vez B-Boys dançando e aquilo foi mágico o suficiente para mudar para sempre a sua vida.
Aprendeu os primeiros movimentos com B-Boys na Espanha. Em 2003, durante um treino com Mix e conversando com Kujo, entendeu como aplicaria a Momentum à Dança. Daí nascia o primeiro grupo profissional de Danças Urbanas em Portugal e que teria alguns dos melhores B-Boys do mundo.
A Momentum Crew foi formada por ele, Mix, Deeogo, Lagaet, Bruce, XXL, Makumba, Roberto, Mad Dog, Hercules, Nastya, Ivo, Magik e Mirre. A dança, profissionalmente, veio em 2005.
Estamos falando de Max Oliveira, fundador da Momentum Crew e organizador da Porto World Battle. Max também é professor de escola profissional de dança, dá workshops, é jurado, coreógrafo de espetáculos e produz eventos em várias partes do mundo e agora também coordena o Programa Municipal chamado “Desporto no Bairro”, que tem o objetivo de aproximar jovens em oito bairros da Cidade de Porto passando a paixão que une esse grupo e os faz dançar, com um método natural, estando na gênese do Hip-Hop, que é a rua e transmitindo bons valores aos jovens menos favorecidos os afastando do Crime.
Max conversou com o Portal Breaking World, contou um pouco da sua história de vida, falou sobre dançar na Europa, sobre programas sociais, sobre Breaking nos Jogos Olímpicos, sobre pandemia e, no final, mandou uma mensagem especial para as B-Girls e os B-Boys brasileiros.
Confira a entrevista:
BW: Queria que você falasse um pouco sobre você. Como foi sua infância e sua história com o Breaking?
Max: Eu cresci admirando a Dança e todo o tipo de movimento, desde muito cedo fui influenciado pelo Michael Jackson e mais tarde Bruce Lee, tinha uns 5 anos de idade.
BW: Quando começou o amor por esse elemento da Cultura Hip-Hop?
Max: Começou por volta dos meus 18 anos, em Madrid, quando vi pela primeira vez B-Boys dançando.
BW: Alguém te ensinou ou você aprendeu sozinho?
Max: Os primeiros movimentos aprendi junto de alguns B-Boys da Espanha, nessa altura eu vivia em Madrid. Mais tarde (por volta dos meus 20 anos) regressei de novo a Portugal e aprendi muito com o Mix da Momentum Crew, devo a minha dança essencialmente ao meu grupo.
BW: Houve dificuldades e desafios?
Max: Sim… Imensos desafios e dificuldades nunca deixaram de existir, acho que ser B-Boy é saber lidar com as dificuldades e desafios, bem como com a palavra frustração. Ainda hoje em dia, permanecem os desafios e creio que nunca irão terminar…
BW: Como sua família via essa sua relação com a dança? Você tinha apoio dos familiares?
Max: Felizmente, sempre tive muito apoio por parte da minha família. Creio que eles nunca acreditaram na viabilidade econômica da dança e que eu pudesse vencer na vida como profissional. Nesse aspecto, sempre fui muito feliz e sortudo, tenho vivências (especialmente com o meu Pai) incríveis no Universo do Breaking. Nunca tivemos dinheiro, mas tive sempre muito amor familiar.
BW: Quando começou a dançar profissionalmente? Como é viver da dança em Portugal?
Max: Profissionalmente apenas posso considerar a partir de 2005/2006. Penso que é como em todo o mundo, é extremamente difícil, duro e pouco valorizado. A Dança não é devidamente reconhecida e provoca um desgaste ultrarrápido, dificilmente conseguimos que seja verdadeiramente compensador. Na Europa, a grande luta é o custo de vida e impostos inerentes ao que conseguimos faturar com os trabalhos relacionados com a Dança.
BW: Que características profissionais um dançarino tem que ter para ser bem aceito no mundo da dança na Europa?
Max: Empenho, dedicação, profissionalismo, treino, imagem, simpatia, humildade, sentido de gestão de carreira… Fazer bons contatos, comunicar-se bem e ser capaz de manter as boas relações profissionais. Aconselho que percebam as leis locais e como tratar de pagamento de impostos, contratos e legalização de tudo o que for necessário para um futuro sólido. Não é suficiente dançar bem.
BW: Me fale um pouco da história da Momentum Crew e como é ser o fundador de uma Crew tão respeitada e conhecida?
Max: A Momentum Crew surge de treinos entre Max e Mix. Um dia treinamos com o Kujo e ele nos explicou o conceito de Momentum aplicado à Dança. Começou em Outubro de 2003 e dura até agora, e durante o percurso destes 17 anos tem como membros os B-Boys Max, Mix, Deeogo, Lagaet, Bruce, XXL, Makumba, Roberto, Mad Dog, Hercules, Nastya, Ivo, Magik, Mirre. Quanto a ser líder de uma Crew como a Momentum Crew é sentir a responsabilidade e vontade de continuar a manter o legado vivo e ser um exemplo na criação de novos líderes. Além disso, é ver os membros da Crew a tomarem um rumo, o êxito nas suas vidas próprias e a voarem.
BW: Nos conte um pouco sobre sua vida, sua formação (o que estudou). E fale sobre o seu trabalho.
Max: Estudei muitas coisas desde o ensino secundário obrigatório, passei por várias universidades no Reino Unido, Espanha e Portugal, em cursos tão diversos como Biotecnologia, Administração de Empresas, Economia e Relações Internacionais. Após ter o terceiro ano de RI e Economia, decidi fazer formações em Fitness e algumas em Dança. Fiz tudo isto até cerca dos meus 28 anos, pois não acreditava num futuro profissional com estabilidade econômica relacionado com a Dança.
BW: Você é o CEO na empresa Max Momentum Artists & Productions, participa de espetáculos, organiza eventos como a World Battle. E agora, junto com a Momentum, vão dirigir um novo programa municipal chamado “Desporto no Bairro”, como arruma tempo para tudo isso?
Max: E isso é apenas uma parte: ainda dou aulas, sou professor de escola profissional de dança, leciono workshops, sou jurado, coreógrafo de espetáculos e produtor de eventos em várias partes do mundo (risos). Como muitos grandes nomes que admiro ligados à dança, tenho que fazer tudo o que posso e bem para crescer como profissional. Neste momento, estou numa fase que já começo a selecionar o que faço e o meu desejo é cada vez fazer menos e melhor.
BW: Sobra tempo para a vida em família?
Max: Pouco, realmente muito pouco.
BW: Max, você vai coordenar esse programa, queria que você falasse sobre o “Desporto no Bairro” que vai ensinar jovens menos favorecidos a dançar Breaking em várias zonas da cidade. Qual o objetivo desse programa?
Max: O objetivo é despertar o amor pela Dança (Breaking) de forma que possa ser um caminho alternativo de vida para quem não vê a luz no fim do túnel.
BW: Como vai funcionar?
Max: Vamos estar ativamente e de forma orgânica em Jam Sessions regulares, nos diversos bairros problemáticos da cidade do Porto. Desse modo, vamos nos aproximar dos jovens e tentar passar a paixão que nos une e nos faz dançar. Com este método natural, pretendemos estar na gênese do Hip-Hop, que é a rua e transmitir bons valores, proporcionando aos jovens um caminho saudável e afastado do crime. Além disso, vamos promover um evento de Battle de arranque e no final, em dezembro, iremos fazer um espetáculo com a crew internacional Ill Abilities, os dançarinos formadores do projeto e os jovens, todos em conjunto, num espaço público do Grande Porto.
BW: Quem são os dançarinos da Momentum Crew que vão trabalhar ativamente e de que forma vão trabalhar?
Max: Temos 5 Crews trabalhando neste projeto, o que também é pioneiro em Portugal, com 10 Formadores e eu sou o Curador. Os dançarinos são XXL, Makumba, Roberto, Hércules, Mirre da Momentum Crew, Aiam da Gaiolin Roots, Found Kid da Zoo Gang, Gil da Execellence, Titas da FlyBboys e B-Girl Queen. Tal como disse, vamos trabalhar de forma muito natural e orgânica em formato de Jam Sessions de Linóleo e Boombox, sem imposição de aula, 6 horas semanais nos centros dos Bairros e depois juntar as restantes ações do projeto, tais como o evento e o espetáculo.
BW: É um programa gratuito para esses jovens? Vocês visam prepará-los para as Olimpíadas, já que o Breaking vai virar uma modalidade olímpica?
Max: Sim, é gratuito. Estes jovens não irão estar realmente prontos para as Olimpíadas, mas podem estar prontos para serem grandes B-Boys e B-Girls no futuro. Contudo, temos em mente criar “Clubs” de Breaking nos diferentes bairros e zonas do Grande Porto. Esperemos que venha a ser uma realidade próxima.
BW: Qual a sua opinião sobre o Breaking nas Olimpíadas? Muitas discussões no mundo inteiro sobre o assunto e alguns acham que é possível se perder a essência… Qual a sua opinião?
Max: Acho ótimo existirem diversas plataformas, assim existem mais opções. Eu nunca vou perder a minha essência, vou sempre defender os valores da Cultura do Breaking. Acho que apenas precisamos garantir ter comida no prato, fazendo o que mais gostamos e para isso precisamos de mais opções de vida e de plataformas válidas e os Olímpicos são uma. Mas são “apenas” uma plataforma, não podemos esquecer todas as restantes e continuar a apoiar e participar dos eventos culturais e a viver o Breaking de forma correta, que será sempre a original.
BW: Fale como você imagina que serão os B-Boys, as B-Girls e o Breaking do futuro. Com que deverão de fato se preocupar na hora se preparar?
Max: Acho que haverão B-Boys e B-Girls que apenas vão participar de eventos de caráter desportivo, outros que vão apenas participar de eventos de caráter cultural e outros que vão tentar vivenciar e aproveitar tudo o que lhes for possível. Por isso, acho que no futuro vai existir mais diversidade. O receio é que muitos dos B-Boys e B-Girls da nova geração esqueçam de estudar a Cultura e ter reconhecimento e respeito por quem aqui passou e construiu.
BW: Quem terá chance de ir para uma Olimpíada e quem não terá?
Max: Terá quem tiver uma estrutura nacional forte e organizada. Podes ser o melhor B-Boy do planeta, mas se o teu país não tiver uma boa estrutura e organização, dificilmente irás ter acesso às Olimpíadas em pé de igualdade com outras potências mundiais, sabemos que existem países que já têm o seu lugar reservado nos Jogos Olímpicos, independentemente do nível dos praticantes.
BW: Verdade que o lançamento do programa “Desporto no Bairro” foi adiado devido a pandemia e só foi lançado essa semana no dia 10? Como está a situação da Covid-19 aí?
Max: Infelizmente, verdade. Ninguém sabe, qualquer opinião é pura especulação. É viver o dia a dia e esperar o melhor, estando preparado para o pior.
BW: Que cuidados serão tomados para garantir a segurança de todas essas crianças e jovens que vão participar do programa?
Max: Uso de máscaras por parte dos formadores e jovens, álcool gel e respeito pelas distâncias de segurança.
BW: Houve uma experiência anterior com um acampamento de férias municipais, onde participaram mais de 700 crianças aí em Portugal. Quais foram os resultados?
Max: Ótimos, a nossa cidade está fazendo um trabalho social espetacular, temos a sorte de ter um Presidente que apoia e investe nos cidadãos da Cidade. O Porto é um motor exemplar de iniciativas de valor e queremos agradecer muito à Ágora Porto e à Câmara Municipal do Porto por estarem sempre na vanguarda de projetos de valor. Esperemos que inspirem outros países e autarquias a fazer o mesmo.
Max e os companheiros da Momentum Crew em momento de descontração no Rock In Rio Lisboa.
BW: Agora com o Breaking a ideia é usar esse elemento como uma poderosa ferramenta de inclusão, educação e realização pessoal? Nos fale sobre isso.
Max: É isso mesmo, o Breaking nasceu assim mesmo, é inclusivo, não reconhece barreiras nem fronteiras e permite quebrar os preconceitos sociais. Por estes motivos, vamos utilizar o Breaking como instrumento poderoso de valorização da nossa juventude, com fundamentos que se adaptam aos gostos de uma sociedade contemporânea.
BW: Max, fale sobre os efeitos positivos do Breaking sobre esses jovens e como pode mudar vidas?
Max: Em nível físico vai melhorar toda a condição deles: coordenativa, flexibilidade, controle motor, destreza, criatividade, artística, etc… em nível mental, proporciona capacidade de foco, controle de emoção, sensibilidade e promove a união, paz social e interior. Na perspectiva social, foi tudo o que descrevi na pergunta anterior, além de ainda acrescentar amor à vivência do dia a dia, nesse caso, fundamenta-se no código dos valores do Hip-Hop: Peace, Love, Unity and Having Fun [Paz, Amor, Unidade e Diversão].
BW: Como você se sente de coordenar um programa desses na sua cidade? Qual o sentimento que você tem?
Max: Muito bem mesmo, finalmente. Sentimento de felicidade, pois adoro contribuir para a minha cidade, berço que tanto adoro. Já fiz muitos projetos sociais nos Estados Unidos, Polônia, Sibéria, Cazaquistão, mas para mim o mais importante e que mais me realiza é aqui no Porto e em Portugal. Amo contribuir para Portugal e para a cidade do Porto.
BW: Como foi a reação do público, das crianças, dos jovens, quando a Momentum Crew se apresentou no Parque da Pasteleira?
Max: Incrível, estamos sendo muito bem recebidos, estão todos se divertindo imensamente e está tendo adesão e atenção dos jovens e dos moradores dos diversos bairros, que é o mais importante.
BW: O programa vai até dezembro. Existem planos de continuar no próximo ano?
Max: Pelo menos existe a intenção, esperemos que sim, seria bom para todos.
BW: Deixe uma mensagem para os B-Boys e B-Girls brasileiros que acompanham sua carreira e seu trabalho.
Max: Tenho saudades vossas (de voltar ao Brasil), vocês têm uma energia especial e que admiro muito. Felizmente, temos vários B-Boys do Brasil no momento em Portugal e na Europa, e cada vez mais são uma fonte de inspiração, pois me revejo nas dificuldades que passei outrora, quando emigrei. Tenho muitos B-Boys e B-Girls amigos e que respeito muito no Brasil. A maior mensagem é ESPALHEM AMOR PELO BREAKING e ajudem os jovens a curtir positivamente com esta Cultura.
Fotos: Arquivo Pessoal