Gigante gentil: ele conquistou o Brasil e o mundo acreditando e expressando sua personalidade por meio da dança
Luciana Mazza
Ele nasceu em Caxias, que é um município no estado do Maranhão, no Meio-Norte do Brasil. Morou parte na roça e outra parte na cidade. Mas foi quando mudou para Brasília, onde mora até hoje, que teve o primeiro contato com a Cultura Hip-Hop por meio do Rap, que escutava na rádio e também com o Breaking, por meio de um conhecido da família, depois pela internet e com pessoas que praticavam o Breaking nos arredores de Brasília. Estamos falando de Mirley Allef Santos Carvalho, na cena conhecido como B-Boy Allef ou Allef The Deep. Quem esteve na última Red Bull BC One Cypher Brasil, que aconteceu em São Paulo, pode acompanhar de perto sua espetacular participação na semifinal, numa batalha com o B-Boy Bart e na final, contra o B-Boy Leony, conquistando o público presente. Fora dos palcos e longe das competições Allef, que é um gigante na dança e também na gentileza, transbordando calmaria, mostrou sua personalidade reflexiva, gentil e tranquila ao conversar com o Portal Breaking World e declarou que o “segredo” do seu sucesso não foi sobre defender o próprio estilo, mas também sobre mostrar para o mundo que se alguém acredita no que é, acredita na própria personalidade e consegue expressar isso dentro da arte, é possível alcançar o mundo! Confira essa primeira entrevista do ano no Portal Breaking World, na íntegra:
BW: Queria que você nos falasse um pouco da sua infância, onde nasceu e cresceu. E que lembranças tem dessa época? Você é o único artista da sua família?
Allef: Nasci em Caxias, no estado do Maranhão, tive uma boa infância, morava parte na roça e parte na cidade, estava sempre brincando na rua e ajudando minha família nos trabalhos,
minha família é totalmente evangélica, então, eu também estava sempre acompanhando (principalmente minha avó) na igreja e cultos, tenho boas lembranças dessa época. Mas, hoje em dia, não sigo nenhuma religião, moro em Brasília (DF) e sou o único artista da minha família.

Imagem: ® Reprodução
BW: Quando teve contato pela primeira vez com a Cultura Hip-Hop? Verdade que conheceu o Breaking aos 14 anos por meio de um rapaz que cuidava das plantas da sua mãe? Como foi isso? O que mais te encantou ou te chamou a atenção?
Allef: Meu primeiro contato com a Cultura Hip-Hop foi quando eu mudei do Maranhão para Brasília, através das músicas que passavam na rádio, os Rap’s que as pessoas escutavam na rua e mais, depois através desse rapaz que, na verdade, ajudava a capinar o lote na casa da minha tia e mãe e que um dia fez um movimento pra me impressionar e isso me encantou, na hora eu quis também ter esse poder de fazer esses movimentos com o corpo, então comecei a treinar e hoje eu tenho essa percepção de que o que realmente me encantou aquele dia foi a possibilidade de encantar as pessoas com o movimento, o corpo, a dança.
BW: Como continuou o aprendizado? Onde aprendeu de fato os primeiros movimentos da dança? Teve alguém que te ensinou cada movimento?
Allef: Mais tarde eu continuei o aprendizado pesquisando na internet e foi assistindo vídeos que eu acabei aprendendo todos os movimentos básicos da dança. Depois, encontrei lugares e pessoas que praticavam nos arredores de Brasília e comecei a treinar junto.
BW: Em que ano começou a competir? De todos os eventos que participou até hoje tiveram aqueles que foram especiais, que marcaram sua vida? Pode falar desses eventos?
Allef: Com um ou dois anos de dança eu participei da minha primeira batalha, mas quando eu decidi focar em batalhas mesmo foi por volta de 2014, com 6 anos de dança, foi uma época que estavam acontecendo muitas batalhas de Top Rock em Brasília, eu acompanhei muitos B-Boys que eram mesmo apaixonados por essa parte do Breaking e isso me motivou a focar em batalhas de Top Rock e, nesse foco, fiquei até por volta de 2018, que foi quando eu participei do meu primeiro BC One Cypher Brazil, que aconteceu no Rio Grande do Sul e me classifiquei para a final nacional, que acabei sendo finalista e ali que eu enxerguei a minha potência em batalhas individuais e, a partir disso, decidi focar no 1vs1 e hoje, estou onde estou. Falando dos eventos atuais, o que marcou a minha vida foi a minha participação no The Notorious IBE Undisputed 2022.
BW: Allef, você vem nos últimos anos se destacando em vários eventos nacionais e internacionais e, esse ano de 2022, chegou na final da Red Bull BC One Cypher Brazil. Passou na semifinal pelo B-Boy Bart e depois competiu com o B-Boy Leony, à essa altura, a maioria do público presente já torcia e vibrava com a sua dança. Defender o seu estilo é um dos segredos do seu sucesso?
Allef: Acredito que o “segredo” do meu sucesso não é só sobre defender meu estilo, mas também sobre mostrar para o mundo que se você acredita em quem você é, acredita na sua personalidade e consegue expressar isso dentro da sua arte, você pode alcançar o mundo através da plataforma que é, ser você dançando Breaking.

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BW: Alguma vez sofreu preconceito por ser diferente de todos na dança?
Allef: Com certeza, principalmente e infelizmente no Brasil, a gente vive em um país preconceituoso e isso reflete e atrasa muito a nossa cena, o preconceito e o mal julgamento é uma das coisas que eu profundamente luto pra que acabe na cena do Breaking brasileiro, quando os brasileiros deixarem de julgar e falar mal de quem é diferente (que são todos, por que ninguém é igual) ou de quem tá conquistando algo, a cena do Breaking brasileiro vai avançar décadas à frente, nós somos um país continental, uma nação gigantesca, imagina se todos se apoiassem?
BW: O que você sente quando entra numa batalha? É o Allef que está ali ou existe um personagem criado para aquele momento? Fale um pouco sobre a sua dança e o que tenta passar sempre que participa de algum evento? Vale destacar a recente batalha entre você e o Lussy Sky, onde vocês deram um show não só de Breaking, mas de performance artística durante a competição. Fale sobre esse momento?
Allef: Quando eu entro numa batalha eu sinto o meu mais profundo eu, pronto pra deixar minha mensagem através da minha dança. Não tenho nenhum personagem, é sempre o meu eu mais verdadeiro em palco e campo de batalha. A batalha com o Lussy Sky, foi uma brincadeira, a gente já faz essa brincadeira de lutar em “slow motion” sempre que se encontra, quando ele viu que iria batalhar comigo ele veio até mim e disse que era um orgulho fazer uma batalha comigo e iria dar o melhor, eu também fiquei muito feliz em saber que ia batalhar com ele e entreguei meu melhor naquela batalha, durante o round final, ele começou a brincar e me chamar pra esse “slow motion fight”, eu percebi e entrei na brincadeira, foi totalmente uma cena de improviso, a gente estava mais preocupado em entregar nosso melhor um pro outro, pro público e pra nós mesmos, esse show que fizemos foi o resultado de tudo isso.
BW: O Breaking agora virou uma modalidade olímpica, como você vê essa mistura cultura e esporte? Na sua opinião, como será no futuro tudo isso?
Allef: Falando de cultura e esporte eu ainda não me sinto como um atleta, acho que tenho muito mais uma personalidade artística do que “atlética”, sabe? Mas eu admiro muito e quero ser mais inspirado por isso. E eu acho que as olimpíadas nos deram mais uma plataforma para fazer o Breaking, mais motivação pra muitos e mais algumas oportunidades, o futuro disso tudo é o futuro e isso é imprevisível, o “Breaking olímpico” é muito novo, então, só o que podemos prever é o que estamos vendo agora, uma nova oportunidade e muitas pessoas motivadas por essa nova oportunidade.

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BW: Você passa uma tranquilidade, uma calmaria quando compete, isso ajuda na sua dança? Como são as rotinas dos seus treinos?
Allef: Isso me ajuda muito! Eu, por exemplo, não sou uma pessoa apressada, barulhenta, estressada… sou bem calmo, silencioso, tranquilo e junto disso aprecio muito dançar Breaking com a minha personalidade. E essa personalidade só me dá vantagem e tempo pra reproduzir meus movimentos, expressar meu eu na minha dança e transmitir essa calma.
BW: Além da dança, você também é “film maker” e fotógrafo da cena de Hip-Hop. Como consegue fazer tudo junto?
Allef: Trabalho muito, trabalho muito mesmo e organizo meu tempo pra que durante o dia eu sempre consiga ter tempo pra trabalhar, estudar, editar meus vídeos e praticar meu Breaking.
BW: Recentemente, você esteve fora do Brasil junto com a Maia. Nos fale um pouquinho dessa vivência, como foi essa viagem fora do Brasil?
Allef: A viagem foi incrível, eu com a Maia nos organizamos muito bem, na parceria a viagem acaba ficando mais “prática” pois a gente se ajuda muito e conseguimos aproveitar de todas as experiências e oportunidades que fizemos acontecer e que apareceram na nossa frente.
BW: Quais são os planos para o futuro?
Allef: Tenho muitos planos pros próximos anos, mas os planos que eu tenho mais expectativa são para esse ano de 2023 e que já estão se concretizando, não posso dizer agora, mas em breve todos vão saber.
BW: Deixe uma mensagem para todos que curtem a sua dança…
Allef: Olhe pra você, ame você, mude você, escute e siga os bons conselhos de quem você gosta ou ama e se torne melhor do que você é todos os dias, acredite que dançar e se inspirar no que você é e no que você gostaria de ser no futuro, é o melhor caminho pra se encontrar.
Dê o seu melhor pro mundo, apoie as pessoas que você admira e as pessoas que você não admira não precisa fazer nada, lembre-se que quando falamos de Breaking, todos que vivem nessa cultura estão no mesmo barco. Sinta um abraço.
Imagem em destaque: B-Boy Allef – ® Reprodução
- Allef x Bart na Red Bull BC One
- Allef e Maia: parceria na vida e no Breaking
- B-Boy Allef