A mistura na medida certa entre o novo e o antigo é a marca do dono da festa, nas pickups: DJ MF
Luciana Mazza
Ele esteve recentemente comandando as batalhas mais brabas da Red Bull BC One no Brasil e, também, B-Boys e B-Girls que desejam treinar ao som deste mestre das pickups podem encontrá-lo no Streetopia, quase todas as quintas à tarde, em São Paulo. O Portal Breaking World teve o privilégio de conversar com o DJ MF e trazer um pouco de suas vivências e opiniões ao longo da sua caminhada. Leia a entrevista:
BW: Carlos Augusto Soares, conhecido no mundo artístico como DJ MF. Queria que nos contasse um pouco sobre sua infância, onde nasceu e cresceu e que lembranças tem dessa época?
MF: Nasci e cresci em Pirituba, me lembro que era rua de terra, gostava de ficar brincando na rua… tinham as festas da família, já tinha um primo que tocava… na época, usava dois toca-fitas… rolava muito Samba, Samba-Rock e Funk [original].
BW: Quando teve o primeiro contato com a Cultura Hip-Hop? Quando nasceu o amor pelos toca-discos?
MF: A Cultura Hip-Hop entrou na minha vida de uma forma tão natural que nem me lembro… quando eu era criança, passava o filme “Break Dance” na Sessão da Tarde. Como falei no começo, meu primo foi a primeira referência de discotecagem (mas ele usava toca-fitas!), quando vi um clipe do Gang Starr, o DJ Premier fazendo scratches, na hora vi que eu queria tocar daquele jeito, um tempo depois, fui no show do Racionais MC’s, o KL Jay apavorou… pensei: quero ser uma mistura de KL Jay e DJ Premier!
BW: Quem eram os grandes DJ’s quando começou? Quem foram suas referências? Se inspirou ou recebeu apoio de alguns deles?
MF: Conheci Grand Master Nice (da Black Mad) falei que queria ser DJ, ele começou a me mostrar várias músicas… falava que DJ tem que conhecer música… por último, não menos importante, conheci o DJ Ninja, que me ensinou sobre técnicas. Depois, tive contato com KL Jay, ele ajudou muito também.
BW: Verdade que também começou em bailes de bairro, tocando com equipamentos emprestados? Quais foram as maiores dificuldades nessa época?
MF: Comecei tocando nas festas de garagem, com dois aparelhos 3 em 1… depois, um amigo comprou um equipamento de DJ, mas era o mais simples, a casa dele entrou em reforma e deixou tudo comigo… sorte que a reforma demorou (risos).

Imagem: ® Rafael Berezinski
BW: Fale de suas experiências fora do Brasil, nos conte um pouco da sua caminhada e de sua carreira internacional?
MF: Tive o privilégio de ir para 11 países… alguns deles foram mais de 3 vezes… comecei pela América Latina, depois Europa e Ásia (e pretendo ir além!).
BW: MF, a mistura feita com muita harmonia, das músicas novas e das antigas, é uma característica do seu trabalho. Fale um pouco como você faz a seleção dessas músicas, que no fim agradam tanto quem está na pista?
MF: Quando toco em festa vou muito pelo momento… sempre penso em algo, depois mudo na hora (risos).
BW: Tocar em batalhas, para B-Boys e B-Girls e comandar grandes eventos como você fez recentemente na Red Bull BC One é um trabalho que tem suas complexidades? O que jamais pode acontecer quando se está à frente de eventos como esses? Existem aquelas músicas mais esperadas? E as menos desejadas no gosto da galera?
MF: Tocar em grandes eventos de Breaking é uma responsabilidade enorme… lida com o sonho de competidores… não podemos perder a concentração… no caso da BC One têm as músicas próprias, por uma questão de direitos autorais… são mais de 1.000 músicas… tento escolher as melhores no meu conceito.

BW: Gostaria que você falasse da importância do trabalho dos DJ´s dentro da Cultura Hip Hop. Falando de valorização, no Brasil você acha que os DJ´s são valorizados como deveriam?
MF: Começando que foi um DJ que fez a festa e o outro deu o nome de Hip-Hop… e os B-Boys e B-Girls mantiveram com força… acho que o Brasil não valoriza a Cultura DJ… têm alguns eventos que sim… mas, de um modo geral, não… temos o Erick Jay, multicampeão e as marcas preferem colocar influencers para tocar (Não são todas! Mas a maioria).
BW: Onde está Pelezinho está o DJ MF! Nos fale dessa amizade e dessa parceria que vem dando tão certo ao longo dos anos. Quantos anos são de amizade e de trabalho?
MF: Minha amizade com Pelezinho veio do trabalho… pegamos uma sequência de trabalho juntos e nasceu a amizade… ele hoje é como um irmão… em casa, minha família tem ele como parte dela: mãe, irmã, tios e primos. O Pelezinho não mistura as coisas, se eu errar, sou cobrado! A amizade continua, mas não me chama mais para trabalhar. Quem conhece ele tá ligado!
BW: Fale de suas produções. Está trabalhando em algo novo?
MF: Estava sim, mas meu computador deu pau, perdi tudo!
BW: MF, cada profissão com o passar do tempo tem suas dores… que dores normalmente sentem os DJ’s?
MF: DJ’s sentem dores nas costas e, alguns, tendinite, por isso precisam se cuidar.

Imagem: ® Arquivo Pessoal
BW: O Breaking vive uma realidade olímpica. Tocar como DJ numa olimpíada seria algo que você gostaria de vivenciar?
MF: Sempre gostei de esportes, pratiquei vários… acompanho vários também… meu sonho era ir para uma Olimpíada como atleta… como DJ seria incrível!
BW: Que mensagem você deixaria para os DJ´s que estão começando e para todos os leitores do Portal Breaking World?
MF: Amem o que vocês fazem, respeitem e queiram sempre evoluir… terão momentos difíceis, mas não desistam.

- Imagem: ® Arquivo Pessoal
- Imagem: ® Julio Nery
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