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Breaking World 2020 12 28 Street Breakers 05
28 de dezembro de 2020

Street Breakers Crew, a história contada de irmãos para irmãos

“Entender que o sucesso do coletivo é melhor que o individual, pois cria uma base de sustentação” (Street Breakers)  

 

 

Conhecer o passado para viver o presente e escrever o futuro é fundamental, contar a história das Crews e sua importância na Cultura Hip-Hop e na vida de cada indivíduo, seja B-Boy, B-Girl, DJ ou MC, tem sido para o Portal Breaking World um desafio, mas também um privilégio. 

Toda obra jornalística são registros, documentos de grande valor, pois traz comportamentos e construções históricas do passado que são permanentes. Eternizar esses registros para as novas gerações é um legado do nosso Portal. Cumprindo essa missão, hoje temos o prazer de apresentar para vocês, queridos leitores, a entrevista que fizemos com a Street Breakers, que é uma das Crews mais antigas em atividade no país, sem dúvida eles fazem parte da primeira geração do Hip-Hop no Brasil. 

Esse ano, a SB completou 31 anos. Falamos sobre o início, sobre a formação da Crew, sobre as festas,  opiniões, algumas polêmicas, claro, falamos sobre a Master Crews, sobre a nova geração, sobre as Olimpíadas e muito mais. Ficou curioso sobre o que esse pessoal de peso tem para contar? Então, não perca mais tempo e confira a entrevista na íntegra:

 

 

BW: A Street Breakers é uma das Crews mais antigas do país, correto? Queria que nos contasse quando e como surgiu a Crew? Que tempos eram? Como a sociedade via a Cultura Hip-Hop e seus elementos?

 

SB: A Street Breakers Crew nasceu em 1989. É uma das mais antigas “em atividade”, visto que, infelizmente, muitas pararam ou interromperam suas movimentações. Abrigou em suas gerações todos os elementos básicos da Cultura Hip-Hop. Sua ideologia sempre foi de multiplicar essa cultura e sua ideologia positivista. Éramos um grupo de jovens que decidiu fazer desta manifestação seu lar e seu “Life Style”. A SB nasceu em um período difícil para a Cultura Hip-Hop, havia passado o modismo do início, com filmes nos cinemas (Beat Street – 1984) e competições em programas de TV. O Breaking foi o elemento que proporcionou este estouro midiático no mundo e no Brasil, mas passado isto veio o preconceito. Não éramos aceitos nem em bailes. Éramos expulsos só por estar dançando Breaking. Graffiti era caso de polícia, nossas músicas eram de “bandido”. Começamos a ser vistos como uma subcultura ou menos que isso. Afinal, foram as classes menos favorecidas que deram continuidade a tudo isso, neste pós modismo. Mas, voltando à Crew, esta época também fortaleceu nossa ideologia enquanto coletivo. Sempre almejamos ser como uma família, cuidar dos nossos e ajudar a comunidade que nos cerca. O aprendizado além de meios formais foi importante e a persistência foi uma constante.

 

 

 

A Street Breakers, fundada em 1989, é uma das mais antigas Crews em atividade

 

 

 

BW:  Quem foi o fundador do grupo? Como era ser B-Boy naqueles dias? Quais eram os grandes desafios?

 

SB: Trabalhamos com a ideia de coletivo em tudo que fazemos, não houve somente um fundador. São eles Bispo Sb, Fukão, Wantuir, Wellington, Neguinho, Sandro, Jardel. Gosto da pureza e inocência do início. Não havia competições, apenas os rachas. Poucos se apresentavam. Sucesso era ser reconhecido pelos seus companheiros de cultura. Nossa sede era no Largo do Carrão, à vista de todxs [sic], então, é como se nos apresentássemos para os pedestres e veículos diariamente. Sempre havia o responsável por dar atenção a quem perguntava sobre o que estávamos fazendo e era mais uma oportunidade de multiplicar o nosso conceito de Hip-Hop, ou ver nascer mais um “Hip-Hoper”. Curioso é que, nesta época, já tínhamos a certeza absoluta de que o que fazíamos deveria ser por amor e não por dinheiro, que era mais uma consequência do que uma meta. Na atualidade, continuamos firmes com essa concepção. Hip-Hop é pra quem ama. Sempre haverá aqueles que conseguirão um sucesso financeiro e também é legal isso. Mas Hip-Hop não é algo que você faz, é algo que você é.

 

 

BW:  Como surgiu o nome Street Breakers? Quem deu esse nome ?

 

SB: Surgiu através do Wellington e resumindo a história… foi aceito pelos demais. Street é rua, Breakers é “quem quebra, detona”. Tinha aquela aura da época, em que os nomes, a maioria, eram quase referência a algo mágico, super, guerreiro. Ser Street Breakers é “quebrar” conceitos errados, é pensar e agir além, quebradores, destruidores, mas ajudar na construção de algo melhor e não se constrói nada de cima, é da base, das ruas.

 

 

BW:  Nos fale da formação do SB. São os mesmo B-Boys desde a década de 80? Ou já tiveram várias gerações? A Crew também tinha mulheres?

 

SB: Somos uma crew que mantém seus membros por muito tempo. Afinal, não tiramos ninguém da Crew, é a pessoa quem sai. Todo voto tem o mesmo peso. Nossa formação atual é Mr-Fe, B-Girl Nitro, Sutra SB, Puber SB, Delog, Alisson “Tokuoshi”, John Facility, Marina “Mary D.”, Mike Knight e Bispo SB. Com relação às outras gerações, também tivemos a B-Girl Rose, Árabe, Magrão, Perneta, Vagão, Giuliano Gema, Cudis, Andrezinho, Bad, Kase Kreator, DJha, King Stone, Nari, Energy… depois de 31, esperamos ter citado todxs [sic]. Era muito difícil ser B-Girl, pois além de todas as dificuldades e preconceitos já citados, era visto como uma dança quase que exclusivamente masculina por leigos. Existir na SB, uma B-Girl como a Nitro, que dança desde 1992 (28 anos), passando por duas gestações e com todos os problemas que só nós sabemos, é motivo de orgulho. Apesar de considerarmos ela a B-Girl mais antiga em atividade, gostaríamos de aproveitar e parabenizar a todas, sem exceção. Aquelas que foram as primeiras, as que mais competiram fora do país, as que mais ensinaram, ou aquelas que só dançaram alguns meses, nunca competiram ou estão começando agora. O mais importante é se manterem unidas, a sociedade já as separa o suficiente.

 

 

BW: Como se aprendia a dançar Breaking na época de vocês? Vocês recebiam influências do que acontecia  fora do país? Como as informações chegavam?

 

SB: O aprendizado na década de 80 era através do que víamos nos filmes, documentários e vídeo-clipes. Não havia academias ou local de aprendizado. Na verdade, isso acontecia em relação à toda cultura. Não vou dizer que nunca houve alguém que tinha mais recursos e tenha viajado para os EUA, mas isso não chegava até nós. Fundamento, na época, era todo movimento “comum”, aquele que todos faziam nos filmes. Mas o mais importante era ser único, fazer um movimento que outros não conseguiam, inventar algo. Outros conceitos como técnica, musicalidade, cuidados com o corpo, foram adaptados de outras danças/culturas com mais tempo de existência. Era uma época de traduzir textos de revistas “gringas” com um dicionário de papel na mão. De buscar informações em uma foto somente. A geração dos anos 90 no Brasil (coincide com o começo da popularização da internet), em nossa opinião, foi a que mais estudou e procurou informações sobre histórico da Cultura, sobre conceitos técnicos, escreveu livros, fez documentários e procurou, reivindicou a aceitação profissional em escolas, casas de cultura e espaços diversos. Luta esta que ainda continua árdua até hoje. Também nesta geração tivemos acesso a vários precursores da nossa cultura, ou pesquisadores e praticantes de outros países, aumentando ainda mais nossas informações.

 

 

 

O “Master Crews” foi reconhecido como um dos maiores eventos de Breaking do Brasil

 

 

 

BW: Havia muita rivalidade entre as Crews brasileiras? Como era essa relação entre as Crews? Existia aquela Crew que era a grande rival de vocês?

 

SB: Sinceramente, conosco não, tínhamos sim um histórico de admiração e amizade pela lendária Crazy Crew e treinamos muito com o Mistério e o Sandrão. Isso se estendeu para a Nação Zulu, do atual DJ Zulu, pois ambas eram da Zona Leste [de São Paulo]. Ao invés de virarmos rivais das Crews com quem tínhamos “racha”, acabamos chegando na São Bento, depois do importante pacto de não agressão entre as Crews. Então, até hoje existe amizade com a Back Spin Crew (Marcelinho, Geléia, Casper…), Street Warriors (André, Edu…), Fantastic Force (Minu, B-Girl Baby, Tchelo…), Jabaquara Breakers (Pex, Tripa…), Guetto Freak, Break Mania Renegados, Suburban Breakers, Style Crew… tanta gente que veio depois, perdão por tantos que não citamos. Com a chegada da nova fase de competições e dos prêmios nos anos 2000, houve muitas disputas. Mas é um bom momento para afirmarmos que nosso respeito se estende a todas as Crews, sem exceção. Não é fácil ser uma Crew no Brasil, quando a música pára, a cypher fecha, devemos focar nos maiores rivais em comum que temos, que são a intolerância, o preconceito. Entender que somos uma forma de expressão que nem deveria existir se dependesse de governos e políticos, talvez ajude neste entendimento.

 

 

BW:  Em que local vocês se reuniam para dançar e para trocar ideias?

 

SB: Nós éramos do Largo do Carrão (Zona Leste), antigo local da Crazy Crew. Ficamos anos lá. Depois, fomos para a Praça Princesa Isabel, pois alguns da Crew mudaram para o centro. Atualmente, estávamos nos reunindo em dois locais: no Tamanduateí, em um espaço do Metrô/Trem e, aos sábados, na sede do CEDECA Sapopemba, onde o Bispo está há 21 anos com ações culturais e sociais. Mas, durante a pandemia, preferimos nos manter em casa, em treinos individuais, exceção a quem mora junto com outros integrantes.

 

 

BW: Onde aconteciam as batalhas de Breaking? E o que se mostrava nas rodas? Que movimentos eram mais comuns naquela época e mostravam conhecimento e habilidade de um B-Boy? 

 

SB: As batalhas de Breaking, na década de 80 e 90, aconteciam em qualquer lugar que B-Boys e B-Girls imaginassem (risos). Exemplos: nos intervalos entre as exibições do filme Beat Street (era possível ficar assistindo várias vezes o filme sem sair da sala); nas sedes das Crews, lembro de um especial na Praça de São Mateus, sede do pessoal da São Mateus Break; na estação São Bento; na Avenida São João; nos salões, nos bailes. Houve uma época em que era permitido (Projeto Radial, Clube das Cidade, Santana Samba, Salão do Flor de Mogi, A Ponta, Terraço, Love Story da João XXlll, etc) em qualquer espaço público, até no asfalto (risos). Houve a época em que toda a batalha parecia um pouco com o filme Beat Street, pois era referência pra todos. Então, tinham aqueles mais ao estilo da crew New York City Breakers, com ênfase nos Spins/Power Moves e aqueles mais ao estilo Rock Steady Crew, com acrobacias, mas também com muito Footwork. Por mais que a dança Breaking seja uma coisa só, haviam os modismos normais em qualquer cultura. Houve a geração Beat Street, a geração Power Move (movimentos acrobáticos para ambos os lados), depois veio uma geração Foundation (pesquisa em fundamentos e o que definia esta dança), “geração dos flex”, “dos tricks”, até chegar aos dias atuais, com mais mescla. Mas nós nos definimos como Two Styles. Estudávamos os fundamentos e mantínhamos um treino forte também em “Spins” e inovações. É um pensamento que mantemos nos dias atuais, acompanhado da busca do “movimento criativo”.

 

 

BW:  Na década de 80, vocês criaram a SB Revista. Nos fale desse veículo de comunicação? Ainda existe? Quem era responsável por ele?

 

SB: A Revista SB foi uma criação do Bispo SB e do Mr-Fe, era uma revista que falava de Cultura Hip-Hop, não somente de Breaking. A provocação inicial veio da B-Girl Nitro, que sugeriu que fizéssemos um fanzine falando da Cultura Hip-Hop. Então, existiu antes uma SBZine. Eles (Nitro e Mr-Fe) estavam morando em Maringá nesta época. Basicamente o Bispo cuidava das matérias escritas e o Mr-Fe diagramava. A finalização era feita em Maringá e o lançamento era em São Paulo. Esta revista não existe mais. Ela seguia um dos ideais básicos da Crew, que era fazer algo que não existia na época e em prol da cultura. Com a chegada da internet, outras formas de distribuir informações foram possíveis e mais acessíveis.

 

 

 

A Street Breakers além de participar de batalhas tem vários projetos sociais

 

 

 

BW:  Vocês também, em 1997, faziam festas para B-Boys. Como eram essas festas? O que rolava?

 

SB: As festas que começaram com o propósito de unir as pessoas e fazer o lançamento da Revista SB. Os participantes recebiam uma revista quando entravam no evento. Mas a motivação disto foram as primeiras festas de Breaking, que começaram com o Marcelinho BSC, o Alam Beat (Street Warriors) e o Banks, em 1996. Quando eles pararam, nós e Os Gêmeos começamos. Eles tinham uma revista também, a Fiz Graffiti Attack. Nossa primeira festa tinha motivos de orgulho, como uma batalha anunciada em flyer colorido (no Hip-Hop só havia divulgação em preto e branco na época); Super Sonic B-Boys x Street Breakers Crew, feita no centro de São Paulo, no salão América Graffiti. B-Boys e B-Girls de várias partes se reuniam para dançar, compartilhar informações, articular. Vamos lembrar que ainda sofríamos com o preconceito de sermos expulsos de outros locais, estes encontros foram de extrema importância e motivaram outros a fazerem o mesmo em outros estados.

 

 

BW:  Em 1998 começaram o CInB (Campeonato Individual Brasileiro de Breaking), que em 2001 teve uma edição histórica no SESC Itaquera, com cerca de 3.000 pessoas. Como era esse campeonato? Como funcionava e qual eram as regras para participar? Verdade que nele se misturava todos os elementos da Cultura Hip-Hop?

 

SB:O CInB era nosso campeonato individual. Por quê não unir as pessoas em uma competição, que fosse ao mesmo tempo um encontro de Cultura Hip-Hop? Fazíamos eliminatórias e os ganhadores se encontravam na final. A competição seguia em sistema de pirâmide e o método de julgamento era entrada por entrada com os mesmos critérios técnicos que são usados hoje no regulamento do Master Crews. Também foi uma realização do Bispo SB e do Mr-Fe com colaboração da Crew toda. Bispo: “Lembro que mandamos projetos para vários locais e todos negaram. Tínhamos economizado dinheiro pro evento, já tínhamos latas de tinta spray, equipamentos, a ideia era não depender de ninguém. Sem local pra fazer, o Mr-Fe resolveu enviar o projeto pro SESC, sem esperanças mesmo, só porque era o único lugar que faltava tentar, e eles abraçaram. Foi bonito demais. Teve batalhas de MCs lendárias, performances de DJS, batalhas de Breaking, o Graffiti com um mural enorme, as 3 quadras do SESC Itaquera lotadas…

 

 

BW: Em 2002, nascia o Master Crews. Sem dúvida, um dos maiores eventos de Breaking já feitos no Brasil. Como surgiu o Master Crews? Qual era o objetivo do evento? Qual foi o maior número de público já reunido nesse evento e em que ano isso aconteceu? E, pensando no futuro: o Master Crews continua? Existem planos futuros?

 

SB: O Master Crews inicialmente seria uma Jam, com competições de Crews. Queríamos sair do formato individual competitivo e estimular as Crews, bases organizacionais da nossa Cultura. De novo, haveriam várias Jams e vários ganhadores que se encontrariam em uma final. Entretanto, a cada festa o evento enchia mais e vinham Crews, B-Boys e B-Girls de outros estados. A própria Cultura Hip-Hop abraçou o evento e o impulsionou. A ideia nunca foi ser o maior, mas o que trata a Cultura com mais respeito, não dever premiações, nem nenhum pagamento, ter cuidado com as locações, proporcionar banheiros limpos, uma alimentação acessível, com opções saudáveis como as veganas. Resumindo, tratar as pessoas com respeito, não é público somente, são irmãos e irmãs da nossa Cultura. As pessoas confundem contagem de público com “grandeza”, nosso maior público com o Master Crews foi por volta de 5.000 pessoas, mas não é isso que o define. Por exemplo, fizemos 2 anos de “Tenda B-Boys” em evento da AMBEV (GAS Festival 2008 e 2009) com público rotativo de milhares de pessoas e fizemos uma competição de Breaking dentro de uma das edições do Lollapalooza Brasil. Mas quando a gente olha para eventos como “Batalha da Amizade”, “Batalha no Topo”, “CelebraCrew”, Rival x Rival” e tantos outros pelo Brasil, esses sim impulsionam, fomentam e multiplicam nossa Cultura. Voltando a falar do Master, nossas últimas edições foram de 3 dias de evento, contando palestras, oficinas, competições, apresentações, Graffiti. O domingo sendo sempre na Casa das Caldeiras, mas pouca gente sabe que o projeto do Master inclui 6 meses de Oficinas de Produção de Eventos e Breaking antes ou depois do evento principal. Além de vir depois das edições mensais e totalmente gratuitas da “For Fun Party”. E sim, teremos Master Crews nos próximos anos. Como na maior parte das edições era custeado pela bilheteria e nossos bolsos, tivemos dificuldades financeiras em alguns anos, mas decidimos que é preciso continuar. Em 2020, no meio da pandemia, resolvemos não optar pelo formato de competições on-line. Preferimos focar em outras ações, planejamento, articulações e ajudas, distribuir cestas básicas e realizar formações pareceu o certo a fazer neste momento. Afinal, não somos somente Master Crews. É importante relatar que outros integrantes da Crew são idealizadores e realizam eventos e ações que são apoiados pelos demais. B-Girl Nitro e Sutra são realizadores do Breaking The Floor, Puber é realizador do OUC (Original Urban Culture), entre outras realizações. John e Alisson são realizadores do Three Points junto com Future K. BispoSB realiza individualmente o Festival SanRafa. Alisson já realizava eventos no Nordeste antes de entrar na SB. Delog realiza ações de Graffiti, Lettering e trabalhou junto ao artista Doze Green. Sutra e Mr-Fe também atuam na área do Graffiti. Bispo SB e Mr-Fe são sócios na Spray Studio Produções.

 

 

BW: Nos fale das várias ações sociais, palestras que a Street Breakers faz o ano todo. O que são os Encontros Urbanos?

 

SB: Encontros Urbanos é um projeto de apresentações culturais que proporcionam um encontro entre a Cultura Hip-Hop e outras manifestações artísticas. Começou em 2007, no Teatro Sérgio Cardoso, quando proporcionamos o “encontro” de várias Crews e coletivos e nos apresentamos com o Instituto Afrika Viva, da mestra Fanta Konatê. Em 2020, no mês do Hip-Hop, nosso encontro foi conosco, com nossa trajetória, um momento de olhar pro passado e repensar o futuro. Através de seus membros a Street Breakers Crew é parceira  de ONGs como do CEDECA Sapopemba (Monica Paião Trevisan). São ações de oficinas culturais, oficinas de produção, encontro de jovens, Sarau da Nova, encontros de Cultura Hip-Hop, encontro de Danças Urbanas, debates, intervenções sociais na comunidade, visita a famílias, mapeamento de risco social… muita coisa feita já. Existem ações em muitos outros locais e estados também, através de oficinas, palestras, doações, Graffitis e outros elementos da Cultura. Lembrando que para nós, a ação social mais importante é aquela que você faz sem ser contratado para tal. Apesar do Bispo SB, por exemplo, ter dado aulas na Fundação Casa (e isso é importante também), ele foi contratado para tal, são as realizações continuadas em cada comunidade feitas independente de recursos que vão fazer a diferença. Talvez seja um defeito nosso não divulgar tanto essas ações.

 

 

BW:  De 1980 aos dias de hoje muita coisa mudou no Breaking? Quais as mudanças vocês reconhecem como positivas e quais acham que foram negativas?

 

SB: Positivas: a busca de mais informações, fundamentos, técnicas, história, estudos em geral, que gerou uma evolução. Por causa disto vemos nossos B-Boys e B-Girls em grandes apresentações, grupos renomados, ministrando aulas e palestras. Negativas: muitos não entendem que a competição é apenas uma face de tudo que somos. Ao mesmo tempo em que a competitividade nos impulsiona, ela pode ser negativa também. Mesmo diante de um resultado duvidoso, outras competições virão, outros juradxs [sic], vitórias e derrotas. Não gosta do júri, não concorda com as regras? Não participe. O pior para um evento é estar vazio. Somos Hip-Hop e somos da arte também, existe vitória em fazer outras coisas como dar aulas, palestras, se apresentar.

 

 

BW: Como vocês veem o Breaking de hoje em dia? Os grandes eventos? Os movimentos que são feitos hoje tanto por B-Boys como por B-Girls espalhados pelo mundo? O que acham da nova geração, que a cada dia chega mais cedo nas rodas?

 

SB: O Breaking é evoluir sem perder a conexão com suas bases e com sua história. A cada novo movimento criado e novo B-Boy/B-Girl que surge, comemoramos. Vemos a conexão entre as coisas “novas” e os fundamentos. Sem um Chair Freeze não existiria Air Chair. A fusão entre Footworks, Spin Moves, Freezes é muito interessante, torna as sequências mais longas. É mais uma opção. Apesar de gostarmos daquele Freeze que realmente “pára”. Para nós, a interação com a música é muito importante e isto evoluiu, mas não somente seguir os efeitos, interagir com a música toda, ter junto aquele Flow, Flava, “ter um sabor” diferente em cada apresentação. Ver crianças na dança é motivo de alegria, a integrante mais jovem da SB tem 11 anos, B-Girl Mary D., existe um belo futuro pela frente. Desejamos, entretanto, que os responsáveis por essa nova geração se preocupem com a formação geral destes diamantes brutos. Não coloquem muita pressão, expectativas, cada coisa vem no seu tempo e de uma forma diferente para cada um, queremos eles e elas por muito tempo na Cultura Hip-Hop.

 

 

 

A última edição do Master Crews (2018) reuniu milhares de breakers na Casa das Caldeiras. Há planos para o retorno do evento após a pandemia.

 

 

 

BW: Em 2019, o Comitê Olímpico Internacional recomendou a inclusão do Breaking nas Olimpíadas de Paris, em 2024 e, agora, em 2020, foi confirmado. Então, começou uma discussão sobre o assunto por aqueles que são contra, alegando que poderia perder a essência da Cultura e por outros, na maioria mais jovens, que veem como algo positivo, sendo mais uma grande oportunidade de mostrar a cultura das ruas para a sociedade e mudar conceitos errados. O que vocês pensam sobre isso?

 

SB: As pessoas inverteram as coisas. Quem precisa do Breaking e outras manifestações jovens pra acessar os jovens é a organização chamada “Olimpíadas”. O Breaking já organiza grandes eventos e competições, grandes marcas já apoiam eventos pelo mundo afora. Esquecem que nossa arte já é presente na mídia, filmes e propagandas. Na nossa opinião, é mais um local que conseguimos acessar por merecimento, mas se não formos organizados, corremos o risco de ver empresas, federações e instituições lucrando, enquanto continuamos nas periferias com o tênis rasgado. Agora já é oficial, o que não é oficial é nossa articulação coletiva. Conseguimos fazer muito em pequenos grupos, Crews, mas é necessário uma união nacional pra brigarmos por nossa arte. E também, o foco principal não pode ser o dinheiro, tem que ser expandir nossa cultura mais e acessarmos os mais vulneráveis. O assunto Olimpíadas tem que sair do campo da “opinião” e entrar no campão da “articulação”. Empresas já lucram pelo mundo com a manifestação Breaking e a maioria nem percebe. Não somos contra o Breaking nas Olimpíadas, mas entendemos que, como isso vai acontecer tem que ser decidido por B-Boys e B-Girls. Reafirmamos que persistiremos, como sempre. Quando a Olimpíada acabar ainda seremos Street Breakers Crew, e sabemos que a maioria das Crews do Brasil também vai continuar. Não perderemos nossa Cultura, não é uma medalha que te faz mais B-Boy ou B-Girl.

 

 

BW: O Breaking continua salvando vidas? O que o Breaking significa na vida de vocês?

 

SB: Muitas pessoas têm uma visão quase religiosa e usam esta frase, em relação à Cultura Hip-Hop mesmo. Concordando ou não com o formato da afirmação, a verdade inegável é que os membros das Crews, posses, coletivos, B-Boys, B-Girls, Writers, DJs, MCs, Cultura Hip-Hop em geral, são adeptos da ideologia da cultura de paz e positividade, acreditam em melhorar a comunidade em que vivem através de suas ações, na pandemia ficou evidente as ações em prol de alimentos, roupas, recursos, lives, quando na própria casa destas pessoas faltava o básico. Temos muito orgulho de nossa cultura e do que ela realiza na vida das pessoas. Street Breakers é uma Crew que se organiza em formato de família, um ajuda o outro, a outra e multiplicamos para nossas famílias de sangue e comunidade. Mas são ações pensadas, não é só dar o peixe… conhecimento é como comida, não se deve negar.

 

 

BW:  Como vocês imaginam que será o futuro da Cultura Hip-Hop e de seus elementos?

 

SB: Difícil falar sobre futuro. Mas, modismos vêm e vão, existe uma essência que deve ser mantida para que a continuidade seja possível. O Hip-Hop se adaptou a muitas mudanças que aconteceram no mundo. Achamos também que o Hip-Hop interferiu no mundo. Nas roupas é fácil notar, o que era antes e o que foi depois da década de 80. A visão do DJ enquanto “criador musical” veio da Cultura Hip-Hop. No Brasil, o Hip-Hop contagia outras artes, quando a pessoa quer uma mensagem mais consciente procura um Rapper ou MC. O Graffiti agora está em prédios e em grandes exposições, o Breaking nas Olimpíadas, filmes. Pode parecer pouco, mas achamos que a melhor coisa que vai acontecer é que o Hip-Hop vai existir e resistir a qualquer grande distorção em sua essência.

 

 

BW:  Que mensagem vocês deixariam para a nova geração de B-Boys e de B-Girls?

 

SB: A evolução está no conhecimento. Precisam aprender sobre seu corpo e sua mente. Pesquisar formas de serem melhores que antes, pesquisar sua cultura, sua história. É um processo que nunca pára, sejam eternos aprendizes, curiosidade é a base da formação. Entender que o sucesso do coletivo é melhor que o individual, pois cria uma base de sustentação. Paz, União, Consciência, Atitude e sem esquecer a Diversão. E nunca recusem uma boa Cypher!

 

 

Fotos: Arquivo Pessoal

 

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