Dynamic Breakers do litoral de São Paulo comemora 28 anos
“Nos ajudamos na vida pessoal, nos treinos, visando o crescimento. A união é tanta que nossas esposas se tornaram amigas e confidentes, sem ao menos fazer parte do Hip-Hop.” (B-Boy Luciano)
Eles estão na estrada desde 1992, surgiram da junção das Crews Beat Crazy com alguns integrantes da Demo Boys e da Red Crazy Crew. São uma das Crews mais antigas do litoral de São Paulo ainda em atividade, sendo referência na região.
Colecionam títulos de alguns eventos que ganharam em Itanhaém, Guarujá, São Sebastião, Praia Grande, Santos, em São Paulo e também em outros estados. Esse ano, completam 28 anos e o Portal Breaking World não poderia deixar de registrar isso.
Num bate papo bem descontraído com o B-Boy Dog e com alguns membros da Dynamic Breakers, contamos a história dessa Crew que tem quase 3 décadas de muito Breaking e união! Leiam, aprendam e se inspirem:
BW: Queria que falassem em que ano, como e em que local surgiu a Crew? Quem foi o fundador da Dynamic Breakers?
Dynamic Breakers: Foi no final de 1992 que surgiu a Dynamic, após a junção das crews “Beat Crazy” com alguns integrantes de outras Crews denominadas “Demo Boys” e “Red Crazy Crew”, após a aparição dos mesmos em um baile na Zona Noroeste, em Santos. Não digo que houve um fundador, mas sim, uma união entre as três Crews já existentes.
BW: Falem um pouco dos B-Boys que participaram da primeira formação e dos que participam até hoje. Verdade que tem B-Boys de Santos, São Vicente, Praia Grande e Guarujá? Como aconteceu essa união para formar a Crew?
Dynamic Breakers: Bom, muitos passaram pela Dynamic porque ficaram encantados com a dança que trazíamos, a uniformidade (pois todos eram identificados por agasalhos e cores específicos) e a união do grupo. No princípio, eram executados os primeiros movimentos, digo, os “tradicionais” do Breaking, que ao passar dos anos foram sendo aprimorados, evoluídos, até chegar aos tempos atuais. Antigamente, não existia nem celular, as informações eram precárias e aprendemos “na raça”, muitos traziam a flexibilidade no corpo de outras artes, como por exemplo, a capoeira. Sobre a formação antiga, a concentração de B-Boys eram de Santos (Beat Crazy) e São Vicente (que eram da antiga Red Crazy) mas, hoje em dia, com a difusão da internet e a divulgação através dos projetos sociais realizados pela Dynamic, a Crew passou a ser um ícone do Hip-Hop na Baixada, passando a ter integrantes de outras cidades. Quando a Dynamic surgiu, no começo dos anos 90, começa uma nova fase do Breaking do litoral, era uma rapaziada muito boa que já estavam à frente do seu tempo, com estilo e movimentos avançados e isso foi passado de geração à geração nestes 28 anos de (re) existência. B-Boys da primeira classe: Raul, Laerte, Toninho, Vai Vai, Fábio, Tibo, Gilson Preá, Bundinha, Almir, Koke, Cabelinho, Lúcio, Alex, Laércio, Bigu, Simon, Buiu, Zulu, Zoio do Jabaquara, Binga, Tiziu, Marcelo, Valtinho, Tera, Biá, Rodrigo, Zoio Branco.
B-Boy Cachorrão: Infelizmente, não pude conviver com os B-Boys da primeira geração. Porém, pude treinar e fazer parte da segunda geração e absorver conhecimento, aprendendo junto com eles os novos conceitos, podendo passar algo para as próximas gerações.Temos B-Boys de várias cidades, por ser uma Crew acolhedora, que dá oportunidade para quem quer crescer na área do Hip-Hop.
BW: Como surgiu o nome Dynamic Breakers? De quem foi a ideia?
Dynamic Breakers: O nome da Crew foi criada por uma ideia que o Japonês teve através de uma Revista de Breaking (a única encontrada na época), que havia uma matéria falando sobre a Dynamic Rockers dos Estados Unidos, mas estava com o nome errado, sendo impresso como “Dynamic Breaks” achei o máximo e logo levei a ideia para aprovação dos demais e assim permaneceu até hoje.
BW: A Crew tem B-Girls? Se a resposta for positiva, quem são? Caso não, foi uma escolha não ter B-Girls? Por quê?
Dynamic Breakers: A Dynamic nunca teve uma figura feminina, infelizmente, mas deixamos claro que abolimos qualquer tipo de discriminação, sendo que o projeto desde sempre até os dias de hoje é voltado a ensinar crianças, mulheres ou qualquer tipo de gênero ou raça, incentivando participarem e conhecerem o universo da dança.
BW: Nos contem sobre a caminhada da Dynamic Breakers no litoral. Falem também dos principais eventos que participaram e ganharam em todos esses anos no litoral e fora do litoral.
Dynamic Breakers: Na formação atual, ganhamos muitos títulos nas cidades do litoral: Itanhaém, Guarujá, São Sebastião, Praia Grande e Santos. Também, muitos títulos importantes em São Paulo e outros estados, a Crew sempre se destacou nos eventos, quando estamos reunidos, treinando para participar das batalhas, a energia de todos é incrível e triplica na hora do confronto, mesmo muitos trabalhando, estudando e tendo seus deveres com a família, conseguimos evoluir e manter um nível muito bom, tanto pessoal como de Crew. Na nossa história são mais de 100 prêmios em eventos, os que marcaram em uma visão geral: Batalha Final, Master Crews, Finais Red Bull BC One, Breaking Combate, Battle Of The Year Brazil, Festidança, Top 8 Freestyle Session America Latina, Arena Caieiras, Battle Café, Old School Battle, Aniversário Casa do Hip-Hop Diadema, Inter Itu, Rival vs Rival, Racha na Arena, Rio H2K Festival Internacional de Dança, Festival de Dança de Joinville, Se Vira Nos 30, Just Debout, Meeting, Passo de Arte e muitos outros não menos importantes.
BW: Como são os treinos de vocês? Quantas vezes por semana treinam? Como estão se organizando e que cuidados estão tendo nos treinos em tempo de pandemia?
Dynamic Breakers: Os treinos, na maioria das vezes, são bem concentrados e ao mesmo tempo divertidos, cada um tem um foco quando se trata de seus treinos individuais, mas quando se trata de treino de coreografias para apresentações e competições, mudamos completamente e focamos no conjunto, para criar novas coreografias mas sem perder o intuito da diversão, que é o importante, pois temos trabalhos e compromissos pessoais, não vivemos da dança, então, o treino acaba sendo uma válvula de escape para nos encontrar, treinar e descontrair. Nestes tempos de pandemia, cada um estava treinando na sua casa e no seu espaço, nosso local de treino foi liberado há pouco tempo e estamos retomando o ritmo com todas as precauções.
BW: Esse ano vocês completam 28 anos de Crew. Mudou muita coisa de 1992 para 2020 no Breaking? Vocês são os mais antigos do litoral de São Paulo ainda atuantes?
Dynamic Breakers: Muita coisa mudou em se falando da Dynamic de 1992 para 2020, forma de treinar, posturas, exemplos a dar dentro da Cultura. Antes éramos mais jovens com amor e diversão, hoje temos uma visão mais forte dentro da Crew e precisamos ser mais atenciosos para formar mais gerações e deixar um bom legado. Já o Breaking, vai estar sempre em evoluções, hoje a cena é priorizada nas batalhas, fazendo que as Crews treinem muito para ter o menor erro, além da busca de cuidar do corpo para ter melhor desempenho, hoje o individualismo conta muito. Sobre ser os mais antigos, sim eu considero a Crew uma das mais antigas e em grande atividade dentro das batalhas Brasil afora.
BW: Existem alguns projetos da Dynamic Breakers como a “Jam de Danças Urbanas”? Nos conte sobre isso…
Dynamic Breakers: Existe o carro-chefe, que é o “Projeto Dynamic”, fizemos grandes ações no litoral, atuando com aulas na Escola da Família, Oficinas Culturais PAGU e Oficinas Culturais Armazém 7, onde conseguimos criar mais adeptos da dança Breaking em Santos e região. Hoje, além do trabalho social, conseguimos propor entretenimento para os dançarinos de todas as vertentes, agregando e fortalecendo as Danças Urbanas com as Jams, Batalhas, Workshops e Cyphers de Rua, assim movimentamos e criamos o máximo de opções para a dança na cidade, além de ajudar os eventos locais de alguma forma com pisos, equipamento de DJ e qualquer tipo de assessoria.
BW: Como é a relação entre os participantes da Crew? É uma relação de família?
Dynamic Breakers: Sim, é uma relação de família, de cuidado um com o outro. Tentando ao máximo estar próximos, independente de treinos, campeonatos, etc. Nos ajudamos em vida pessoal, nos treinos, visando o crescimento pessoal e como B-Boy. A união é tanta que nossas esposas se tornaram amigas e confidentes, sem ao menos fazer parte do ramo do Hip-Hop. A relação é como uma família, existem sim pequenas divergências, o que é normal, porém, fazemos de tudo para nos alinharmos e estarmos juntos, sempre lutaremos para não perder um membro sequer da Crew.
BW: É verdade que já existiu ou existe uma rixa entre os B-Boys de São Paulo e do litoral? Por que acham que isso rola?
Dynamic Breakers: Rixa talvez no passado, por ainda estarmos presos nessas coisas de territórios, coisas de gangues, mas com o passar dos anos o Hip-Hop ajudou a mudar, mas não era uma coisa pesada, pois sempre prevaleceu a união dos B-Boys, isso é fato.
BW: Já se sentiram discriminados por serem do litoral?
Dynamic Breakers: Nunca nos sentimos discriminados no litoral ou em qualquer outra região, a Dynamic sempre foi bem recepcionada e somos bem receptivos, nesse tempo fizemos grandes amizades em todo canto do país.
BW: O que aprenderam em todos esses anos? Estão prontos para mais 28 anos?
Dynamic Breakers: Aprendemos que os nossos esforços até aqui valeram a pena e sim, estamos prontos para mais 28 anos no mínimo, contaremos com a nossa experiência para ajudar os jovens e a energia deles para nos manter ativos.
BW: O que significa o Breaking na vida de vocês?
Dynamic Breakers: Breaking nos faz nos sentir completo, tudo que treinamos, que buscamos se realiza, não é um sonho de vida e sim uma realidade na nossa vida, nos sentimos felizes e queremos que todos tenham o mesmo sentimento. O Breaking faz parte da vida dos integrantes da Crew, salvou muitos de caminhos sem volta, ajudou na formação pessoal e profissional, mesmo trabalhando em outras áreas o Breaking é nosso estilo de vida!
BW: 28 anos de Crew… É verdade que houve uma comemoração presencial, mesmo nesse tempo de pandemia? Como foi?
Dynamic Breakers: Fizemos um encontro de 28 anos, com as gerações que fizeram parte da história e poucos convidados, o lugar era espaçoso e conseguimos manter o mínimo de distanciamento e uso de máscaras, sendo tiradas para dançar e, graças a Deus, nestes tempos de pandemia não tivemos casos de Covid-19 dentro da Crew.
BW: Que mensagem deixariam para aqueles que estão lendo essa entrevista?
Dynamic Breakers: Que a nossa trajetória sirva de inspiração a todas gerações de B-Boys e a nossa arte de dançar leve felicidade a todos!
Conheça as formações da Crew:
1ª Geração: Raul, Laerte, Bim, Toninho, Vai Vai, Fábio, Tibo, Gilson Preá, Bundinha, Almir, Koke, Cabelinho, Lúcio, Alex, Laércio, Bigu, Simon, Buiu, Zulu, Zoio do Jabaquara, Binga, Tiziu, Marcelo, Valtinho, Tera, Biá, Rodrigo e Zoio Branco.
2ª Geração: Doguinho, Cleyton, Zoinho, Eudoxo, Alex, Ley, Paulinho, Mauricio, Jhon, Xand, Frágil e Diego.
Geração atual: Cachorrão, Zoio, Daniel, Jadiel, Luciano, Teddy, Carlos, Robson, Sullivan, Duh, Black, Tony, Bruno Ayres, Rafael, Cello, Luan, Ivan, Liuky e Silvio.
[ Foto em destaque: Juntos, membros das 3 gerações da Crew na confraternização de 28 anos da Dynamic Breakers, em Santos, litoral de SP ]
Fotos: Arquivo Pessoal/William Machado