Série “Fundamentos do Breaking” 2: O Footwork

O Breaking ao longo de seu percurso, desde sua reminiscência no Bronx, Nova Iorque, Estados Unidos, por volta da década de 1970, criado por afro-americanos e latinos, até os dias atuais, perpassa por diversas transformações em suas dimensões culturais, políticas e artísticas.
Por exemplo, podemos citar algumas dessas variações com o advento das batalhas; as mudanças nas bases estruturais de organização popular do Breaking com a institucionalização das Danças de Rua/Danças Urbanas (implicando na passagem do Breaking manifesto nos espaços públicos para locais administrados por setores privados ou em parcerias com projetos estatais); as inovações nos processos de ensino e aprendizagem na reflexão sobre a técnica da dança, entre outros aspectos significativos que representam alterações nas construções estéticas e dos fundamentos do Breaking que, por sua vez, caminham concomitantemente com as dinâmicas históricas instauradas pelo movimento Hip-Hop.
Todavia, neste momento, buscaremos abordar por meio do presente texto a discussão apenas das ressignificações do Footwork, ou seja, um estilo que partiu no início dos anos 1970, no Bairro do Bronx.
O Footwork consiste em um conjunto de movimentos com os pés, de acordo com o ritmo da música, realizando giros, chutes, golpes, rastejamento, uso dos joelhos, voltas, cruzamentos, ações concentradas em ponto fixo, múltiplas dimensões por meio dos quatro apoios (braços e pernas), em que o chão é a referência principal para o corpo dançar.
Comparado em uma citação de “A história de Chicago House e Detroit Techno” (2011) a algo como “adolescentes se enfrentam e improvisam batalhas de dança com os pés. Seus pés voam em velocidades insanas, algo como uma mistura de House Dance, Sapateados e Break Dance Footwork. Parece uma dança de outra dimensão. A música que eles dançam está relacionada ao juke, mas é muito mais espaçosa, com mais complexidade rítmica”.
Ao tornar-se uma das expressões fundamentais do Breaking, o Footwork executado pelos B-Boys e B-Girls adotam uma postura de moverem os pés, fazendo-o com habilidade, não seguindo padrões rítmicos previsíveis, mas buscando confundir seus rivais nas competições e cada vez aperfeiçoar suas criações, trazendo para cada Footwork o traço artístico daqueles e daquelas que simbolicamente modificam, agregam e exploram a vasta experiência de (re)construção da técnica da Dança.

Por exemplo, Crews e B-Boys/B-Girls que contribuíram para inovações no Footwork: Crews Rock Steady Crew, os B-Boys Ken Swift, Wicket, Flo Master, Crazy Legs, Sammy Davi Jr, Mr Wiggles, Steve (LV), Icey Ice, Baby Love, Pow Wow, entre outros e outras.
O Footwork ou Floor-Rock surge da disputa entre duas danças que o antecedem: o Top Rock (pertencente ao Bronx) e o Up Rocking (pertencente ao Brooklyn). Essas danças praticadas por gangues representavam o território de cada região da cidade de Nova Iorque. Os que praticavam o Top Rock perceberam que poderiam explorar melhor a relação do corpo com o chão, diferenciando suas manobras e inventando uma nova forma de movimentação, descobrindo que a posição baixa do corpo poderia ser ampliada para o agachamento, redefinindo, a partir disso, forma e conteúdo do dicionário da linguagem técnica do Breaking.
Pode ser considerada uma etapa cansativa o Footwork, pois exige do e da praticante pouparem seu fôlego e energia para as próximas fases da dança. Então, o B-Boy e a B-Girl possuem um desafio, que é passar pelo Footwork e prosseguir com cadência a sequência de ações que estarão por vir, compondo o todo da apresentação.
Atualmente, há disponibilidade acessível de tutoriais e vídeo-aulas sobre Footwork. O DVD do B-Boy alemão Storm é uma interessante referência de material de apoio, visto que sistematizou a técnica, desenvolvendo e explicando detalhadamente inúmeras variações para essa etapa da dança.
O festival internacional de dança Hip-Hop e Urbana, que ocorre desde 2001, o “Notorious IBE”, em sua 19° edição, no ano passado, ocorrido na Holanda, contou com uma modalidade específica do Footwork com o Foot Work Battles, contemplando e prestigiando os apreciadores dessa modalidade específica.
Outra plataforma de consulta que contém os nomes que podemos ilustrar é o blog Mundo da Dança, do idealizador Roger de Souza, que elabora um “Índice de Movimentos do Break Dance”, descrevendo uma lista básica dos movimentos do Footwork e Floor-Rocks: 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 10 e 12 Step, Zulu Spins, Kick-outs, Spindle, Swapping Shuffles, Coffe Grinder, Scissors, Belly Swim, Body Glide, Side Slide, Figure 4, CC Long, Elbo Rock, Knee Rock, 3 Step Baby Swipe, Double Leg Kicks, Spyder Style, Cork Spin, Sweep Swipes, Criss Cross Shuffle, Front Sweet Back Sweep, Back Rock, Traveling Footwork e Spyderman Footwork.
Foto: Reprodução.
