Com a palavra um DJ de Peso
“O futuro não existe. Só existe o hoje e o agora. Faço o agora se realizar.” (DJ Heliobranco)
Ele nasceu no Brás, bairro tradicional da cidade de São Paulo, teve uma infância simples, como qualquer criança da periferia, jogando futebol na rua, nos campinhos e também gostava de andar de bicicleta. Se livrou duas vezes da morte, primeiro da meningite e depois da hepatite. Morando na casa da avó, foi por meio de um tio que sempre viajava para os Estados Unidos que, sem perceber, conheceu e teve acesso ao Funk, o Soul e o Jazz, o que daria origem a trilha sonora do Hip-Hop. Mas seu primeiro contato com a faísca que acenderia o fogo para viver essa cultura diretamente foi por meio da música “Rappers Delight” de Sugarhill Gang, no início dos anos 80.
Estamos falando do DJ Heliobranco, ele não tinha ideia que tudo aquilo seria uma cultura e que se tornaria um representante dela. O Portal Breaking World teve o privilégio de bater um longo papo com esse “DJ de Peso”, que não gosta muito de entrevistas, confessa, mas que quebrou o protocolo e teve muita coisa a falar. Então, prepara-se para essa pesada entrevista! Com vocês, DJ Heliobranco no Portal Breaking World:
BW: Hélio, queria que você falasse um pouco da sua infância e da sua juventude. E que lembranças você tem dessa época? Quando você teve o primeiro contato com a Cultura Hip-Hop?
Heliobranco: Sou natural de São Paulo, nascido no Brás. Minha base até hoje é o bairro do Tremembé, localizado na zona norte da capital. Minha infância foi simples, com muitos amigos e jogos de futebol na rua e campinhos da época. Não fui diferente de muitas crianças da periferia. No início dos anos 70, passei pela epidemia de meningite que assolou São Paulo, que me atingiu e que quase me levou e, dois anos depois, de tanto andar de bicicleta nas enchentes que ocorriam no bairro, fiquei com hepatite infecciosa que novamente quase me levou. Sobrevivi e acho que já paguei contas que tinha de outras encarnações (risos). Ainda criança, vivia na casa de minha vó onde também morava meu tio. Ele estava sempre nos Estados Unidos, tendo morado lá, de onde trazia muitos discos que lá eram sucesso. Foi daí que conheci, mesmo sem ter essa consciência, da fonte que daria origem à trilha sonora do Hip-Hop – o Funk, o Soul e o Jazz. Por meio de meu tio, pude ouvir recém lançados os discos do Mandrill, Average White Band, Barry White Harold Melvin & The Blue Notes, O´Jays, Jacksons 5, Temptations, Tavares, Bob James, Cruzaders e onde tive também o primeiro contato com o som de James Brown com o disco “Hell” e de sua banda incrível, os JB´s, com o discos “Given´ Up Food For Funk”. Por causa das linhas de baixo pesadonas, gostava muito de ouvir estes discos toda vez que meu tio colocava na vitrola. Todos estes discos que ouvi quando tinha meus 8 anos, foi me presenteado por meu tio anos depois e ainda os tenho guardado na coleção até hoje. Mas meu primeiro contato com a faísca que acenderia o fogo para viver a Cultura Hip-Hop diretamente, foi por meio da música “Rappers Delight” de Sugarhill Gang, no início dos anos 80. Não tinha ideia que seria uma cultura naquele momento, para ser bem sincero, e que sequer me tornaria seu agente. Nesta época, pelo pouco acesso ao que seria Hip-Hop, pois só ouvia rádio, o que me atraía era a música e a nova forma de mensagem nela contida, que depois vim saber que era chamado de RAP.
BW: Você começou no Hip-Hop em 1985, correto? Como era ser DJ na década de 80? O que se tocava naquela época?
Heliobranco: Não é que comecei em 1985. Eu me dei conta disso nesta época, pelo envolvimento que tinha com a música. Eu tocava os discos que tinha na época – Afrika Bambaataa, Kurtis Blow, Sugarhill Gang, Grandmaster Flash – em festinhas de aniversário de familiares e amigos. Lógico que olhavam torto, mas como sempre fui “marrento”, para evitar bate boca, acabavam aceitando (risos).
BW: Como a sociedade via os DJ´s? Como era a vibe das festas e dos eventos?
Heliobranco: A cena dos DJ´s na década de 80 era muito seleta e elitista. Os DJ´s eram idolatrados, tanto pela Cultura “Discotheque”, vinda de New York e, também, pelo surgimento de rádios de Hip-Hop nos Estados Unidos, mais especificamente em New York, como a Kiss FM e a WBLS, dos famosos DJs Red Alert e Mr. Magic, respectivamente. DJ´s brasileiros se firmaram lá, como Tuta Aquino e Julinho Mazzei, onde lançaram verdadeiras obras de arte em vinil com sua série “Big Apple”, lançados por seu label “J&T”. Aqui no Brasil, conheci muito da trilha sonora do Hip-Hop pelas mãos dos DJ´s que tocavam na Band FM – 96,1, dentro dos programas diários com convidados, chamado “Mix Disco Ban”. Muitos DJ´s de renome tocaram lá, com destaque para Sylvio Muller e Iraí Campos e DJ´s das equipes de festas como “Furacão 200”, “Sunshine”, “Pop Corn”, “Toco”, entre outras.
BW: Que estrutura você tinha para trabalhar?
Heliobranco: Eu não tinha equipamento nenhum, era tudo tocado no famoso “3 em1” da casa em que eu estava e sem sequer ter ideia do que seria “mixagem” de uma música para outra. Eu colocava o disco pra tocar, esperava acabar a música e aí trocava os discos.
BW: Sua família te apoiava na sua profissão?
Heliobranco: Minha família nunca se envolveu ou deu qualquer pitaco no que eu fazia ou faço até hoje. Eles só observam e, claro, dão seu apoio indiretamente.
BW: Você fez algum curso para aprender o ofício de DJ ou foi tudo na cara e na coragem?
Heliobranco: Eu nunca fiz curso para DJ´s, mesmo porquê estes cursos surgiram mais seriamente no início dos anos 90, com a chegada do campeonato de DJ´s chamado DMC e eu já estava na pista antes disso. Em 1987, eu conheci um DJ, que na época tinha acabado de participar da mais respeitada coletânea de Rap brasileiro “Hip-Hop Cultura de Rua” e que nesta época também era famoso, por trabalhar com o famoso DJ Armando Martins da equipe de bailes Circuit Power, tocando na inesquecível rádio Brasil 2000. O nome deste DJ era DJ Ninja. Ele me deu os primeiros toques e direcionamentos sobre noção de compasso e principalmente de batidas por minuto (BPM) que a música possui e que é primordial para que possamos fazer uma boa mixagem sem distorcer a harmonia da música acelerando ou reduzindo muito seu “bpm”. A partir das dicas do DJ Ninja, comecei a me atrever a tocar em festas, fazendo mixagens e fui aprimorando de acordo com o espaço que tinha para tocar. Toquei muito na Baixada Santista, onde o pessoal curte dançar e isso me incentivou a procurar por este perfil de público, pois o público “Rap” não curtia muito dançar. E DJ que toca olhando para uma pista congelada, não tem vibe que segure. Isso fez com que eu aprimorasse também o aspecto “feeling de pista” que eu acredito que todo bom DJ deva ter para manter a pista fervendo e a casa funcionando, coisa que raramente percebo nos dias de hoje.
BW: Como surgiu o convite do MC Jack para participar do Grupo Radicais de Peso? Fale um pouco sobre esse grupo?
Heliobranco: O Radicais do Peso, na realidade, já era formado sem ter este nome pois, tanto eu, como Rooneyoyo, Ninja, Alambeat, GDO e o próprio MC Jack, nos encontrávamos rotineiramente na casa do DJ Ninja para trocar ideia, ouvir música e fazermos a famosa “família” para mixar. Para quem não sabe, “família” é uma espécie de jogo que criamos, que consistia em um de nós começar a tocar um disco, fazer uma mixagem e passar para o outro colocar novo disco e fazer nova mixagem. Se você pegasse o disco que ia tocar, colocasse no toca disco e não conseguisse mixar, já saía de cena. Como a gente tinha uma visão “radical” sobre o cenário político da época, culminando com o Presidente Collor sequestrando todo o dinheiro das poupanças do povo e também porque sempre tocávamos muito “peso” (que era como apelidávamos os discos que traziam as músicas com muito grave) nestes “jogos”, a criação do nome saiu meio quase que automaticamente. O Radicais do Peso foi um dos grupos que gravaram no início das atividades do Atelier Studio, do grande amigo Wander Carneiro, com apoio do DJ Kri e Gibass do Região Abissal. No Atelier gravamos “O Peso”. Gravamos também no estúdio do DJ Cuca, a música “Acerto de Contas”. Em 1991, a gravadora “Rhythym & Blues” abraçou as músicas que tínhamos prontas e lançamos o single “O Peso”, que trazia duas músicas e suas versões – “O Peso” e “Acerto de Contas” (vocal e instrumental).
BW: Como era gravar um disco na década de 90?
Heliobranco: No final de 1991, era muito difícil você gravar um disco. Olhando por este aspecto, MC Jack utilizou seu prestígio. Por ser um grande nome ativo do Hip-Hop na época e ter ido muito bem no campeonato de DJ´s do DMC, conseguindo uma reunião, onde apresentou e firmou com a “Kaskatas Records” de Carlinhos K, a produção de um álbum completo para o Radicais do Peso, iniciando-se aí a produção do álbum “Ameaça ao Sistema”. Estávamos com dificuldade de encontrar alguém que ouvisse, respeitasse e seguisse nossas ideias e concepções e foi aí que nos deparamos com um amigo que dava seus primeiros passos como produtor musical e que era também fruto da São Bento e membro do grupo “Código 13”, que participara da coletânea “Hip-Hop Cultura de Rua”. Me refiro à Mad Zoo. Eu, MC Jack & Mad Zoo produzimos o álbum “Ameaça ao Sistema”, em 1991, lá na Vila Zelina, onde depois de prontas as instrumentais, fomos para o estúdio Camerate, localizado em Santo André, para gravarmos as vozes, scratches e fazer a mixagem do disco. Neste disco, temos a participação especial de um dos ícones do rap da baixada santista, o Criminal D.
BW: Quando foi lançado o disco “Ameaça do Sistema”? Ele ganhou uma importante premiação, fale sobre isso?
Heliobranco: Em 1992, o álbum “Ameaça ao Sistema” é lançado, fizemos vários shows de lançamento, culminando com a premiação dada pelo programa “Dr. Rap” do DJ Armando Martins, como disco revelação daquele ano. Ressaltando que neste momento, já tínhamos Racionais MC´s, Thaíde e DJ Hum, Baseado Nas Ruas e muitos outros grupos lendários já em ação. Foi realmente um toque muito especial em nossa carreira como membros ativos da Cultura Hip-Hop.
BW: O nome que usava nessa época era “Mega”. Porque mudou?
Heliobranco: Eu nunca tive apelido e todos me chamavam de “Hélio” e ponto final. Só que nesta época da criação do Radicais do Peso, eu trabalhava em empresa de consultoria empresarial e de alguma forma tinha que me desvencilhar de meu nome, para poder andar livremente no underground. Numa ida à Campinas para assistir ao show de “Kool Rock Jay & DJ Slice” no Bahamas, durante o trajeto, dentro do ônibus da Viação Cometa, o famoso “Dinossauro”, começamos a falar em nomes que cada um poderia assumir dentro do grupo. Como eu gostava de um som mega alto e mega pesado, acabamos por colocar meu pseudônimo de “Mega”, assim como MC Jack teve o seu pseudônimo conhecido por “Dr. Hype Bass”, por ainda ter algum contrato com a gravadora Eldorado, detentora do álbum “Hip-Hop Cultura de Rua”, o que poderia trazer algum inconveniente para a gente. Hoje meu pseudônimo artístico é Heliobranco, sim, escreve-se tudo junto por ser tipo uma marca. Este nome deve-se ao fato de existir realmente um Hélio preto. Este Hélio preto trabalhava na mais famosa loja de discos importados dos anos 80 – a “Trucks Discos”. Sempre que ligavam lá perguntavam: “É o Hélio branco ou o Hélio preto?”. Observação: O Hélio preto era chamado de Babyface também, porque ele era muito parecido com o cantor norte americano. Um camarada muito fino e educado que nunca mais o vi.
BW: Conte um pouco da sua caminhada como DJ, produtor musical e produtor de eventos. Por onde passou, com quem trabalhou e eventos que produziu em todos esses anos.
Heliobranco: Eu tinha pouco tempo na época para me de dedicar a ser DJ, pelo fato de viajar muito a trabalho. As minhas experiências iniciais foram sendo DJ em festas de pequena e média frequência de público, pois eu encarava apenas como uma válvula de escape para soltar um pouco da pressão que recebia em meu trabalho profissional como consultor. Com o passar do tempo, fui me dando mais atenção em ser DJ, onde pude participar da maioria dos eventos criados pelo Rooneyoyo. Participei das primeiras “B-Boy Battle Party” de 1997 a 1999, que depois se tornou o maior evento de Breaking da América Latina – “Batalha Final”. Em 1999, voltei a viajar e me distanciei dos eventos. Voltei dentro do “Batalha Final” em 2003 e toquei até 2006. Como produtor musical, minha caminhada ficou mais séria do que a de DJ, onde no final de 1999, fui ser DJ de Criminal D em sua turnê de lançamento do álbum “O Conteúdo do Sistema”, lançado pela gravadora Trama. Nesta ocasião, MC Jack entrou para o cast de artistas e o convite para produzir seu disco foi automático. Em 2000, entrei no Atelier Studios e, com a grande ajudar do mestre Wander Carneiro, completava-se um ciclo iniciado com o Radicais do Peso em 1991 e que agora tomava uma forma mais sólida e profissional, uma vez que eu tinha contrato de produção com a Trama. A partir deste momento produzi muitas músicas que nem lembro mais, para uma cena underground de rappers da periferia – que é a minha preferida. Produzi também um single para a atleta da seleção americana de vôlei, Danielle Scott e também um single para o recém campeão mundial de vôlei, Sérgio Escadinha. Como produtor de eventos, eu tenho muito pouco a falar pois sempre trabalhei como DJ convidado. Contudo, em 2007 fui convidado por André Rockmaster para formar com ele a equipe de produção e execução da “Rockmaster Party”, projeto voltado ao resgate da dança nas baladas noturnas, onde fui DJ residente de 2007 até 2012, momento que senti que minha missão neste projeto estava concluída.
BW: Você produziu trilhas para os B-Boys da Tsunami All Stars. Fale desse trabalho e da responsabilidade do DJ na hora de criar algo para profissionais de dança.
Heliobranco: Com a experiência que ganhei dentro da “Rockmaster Party” e também pelo conhecimento musical que já tinha dentro do Hip-Hop, não foi muito difícil alinhar com um time de alto nível, B-Boy Kokada, B-Boy Catatau, B-Boy Pelezinho, B-Boy Neguin, B-Boy Aranha, o formato musical para que pudessem expor toda sua arte. Em 2008, produzi a trilha sonora utilizada pelo super time de B-Boys vencedores do “Battle of The Year”, que os levou à Alemanha. Produzi também a trilha sonora, juntamente com o memorável DJ Primo, para a coreografia de abertura da participação da Tsunami All Stars na Coreia, em 2009, se minha memória não falha.
BW: Você foi o DJ do B-Boying do Brasil. Fale sobre.
Heliobranco: Sim, fui o DJ que juntou forças a outros DJ´s e que fortaleceram o projeto do visionário Rooneyoyo para, aí sim, criar toda uma cena profissional e respeitada do que seria, para nós, o “B-Boying” (e já fui criticado porque eu ainda chamo de breakdance – risos). Eu ainda acho que trabalhamos com muita energia e determinação para isso se fortalecer, mas como no Brasil a cultura da cópia do que é bom nunca é seguida à risca, vi muitos projetos cópia surgirem, brilharem por pequenos períodos e serem sepultados sumariamente.
BW: Como você vê hoje o trabalho de DJ e o que era feito na década de 80? Mudou muita coisa? Para melhor ou para pior?
Heliobranco: O que noto de diferente são duas coisas: 1 – Os equipamentos hoje facilitam demais a apresentação de um DJ, focando na vibração da pista, onde antes a coisa era mais visceral, olho no olho, suor no chão e muita, mas muita pesquisa e repertório para ser o diferente; 2 – Os equipamentos facilitaram tanto a apresentação de um DJ, que eles se tornaram “robots” à mercê de botoeiras infinitas e que, em muitos casos, desprezam a vibração da pista em prol de uma ginástica absurda demonstrada em coreografias ridículas mexendo nessas botoeiras, ao invés de demonstrarem repertório e pesquisa.
BW: O que acha dos DJ´s da nova geração? Quais são os novos desafios?
Heliobranco: Não tenho muito a falar sobre DJ´s da nova geração. Pertenço à uma casta de DJ´s “vibeiros”, que curtem tocar pelo prazer de ver seu público dançando até não aguentar mais. Por este motivo, vejo que o trabalho de um DJ da nova geração tenderá a se tornar pífio e sem importância, pois o DJ hoje se baseia num playlist de provedores de música que apontam o que mais estão ouvindo. Não tem vibe sua apresentação. Não olham e nem sentem a reação do público quando tocam. E o mais fatal de todos eles: os DJs agindo desta forma, favorecerão que qualquer um faça de graça o que ele cobra pra fazer, coisa que já vemos por ai, muito ao contrário do que nós encontramos no início. Mesmo assim, acredito que o DJ da nova geração que sobreviver terá o seguinte desafio: tocar o que as pessoas querem realmente ouvir e que arremate em seus corações e pernas, que poderá não ser o seu playlist de Spotify ou Deezer.
BW: Fale sobre o “SP Hip-Hop All Stars”, como surgiu a ideia desse trabalho? E como foi reunir num único CD todos esses grandes nomes do Hip-Hop Paulista? Quanto tempo levou para produzir esse trabalho?
Heliobranco: A faísca do projeto “SP Hip-Hop All Stars” surgiu quando muitos dos nomes que hoje compõem o projeto, fizeram seu show na Virada Cultural realizada no Parque Dom Pedro, em 2008. Após tirarmos uma foto com boa parte dos participantes daqueles shows, fiquei pensando sobre como poderia juntar todos ou a maioria, num projeto musical que seria histórico. Deixei isso guardado até em 2010, numa conversa via Messenger junto a MC A, do Doctor MC´s e MC Jack, perguntei sobre o que eles achavam de criar um projeto neste sentido e eles me incentivaram na hora em seguir e fazer as produções, que pelo menos eles dois estariam dentro. Em 2010, passei a entrar em contato e confirmar quem estaria disposto a participar. Naquele momento, consegui o apoio de Sampa Crew, Grandmaster Fish, Big Flea, Região Abissal, Mike (da dupla com Pepeu), $mokey D, M.T. Bronks e também de um ídolo da Old School que havíamos trazido em 2008 para fazer um show no Memorial da América Latina, T La Rock, o primeiro artista a ser lançado pela gravadora Def Jam. Além, é claro, de MC Jack, MC A e até mesmo do próprio Radicais do Peso! Levei 2 anos produzindo o disco, vendi meu carro pra pagar a prensagem e em 2012 o álbum “DJ Heliobranco apresenta SP Hip-Hop All Stars – Beats 80´s” foi lançado, com 18 músicas inspiradas na musicalidade do Rap dos anos 80. Neste ínterim, produzi músicas que foram lançadas em discos na Europa pela gravadora CBR Electro Underground, no álbum “CBR Electro vol 2” em 2012, “CBR Electro vol 4” em 2016 e do álbum “Underground Electro”, em 2018. Em 2014, produzi e lancei junto com DJ Cleston, do single “Serenity – Sacrifice”, que virou hit nas pistas de dança que curtem o gênero “freestyle”. Nos Estados Unidos, pela gravadora Cut It Up Def, em 2013, participei do single “Subway”, em 2015 participei do álbum de “Afrika Bambaataa – What You Want” e também participei do DVD “The Bass That Ate Miami” lançado em 2016, onde também fiz a tradução e narração para a versão em português que está disponível no YouTube. Em 2018, fui contratado junto com o DJ Cleston, pela gravadora Ground Control da Alemanha, para a produção do artista “Kyper”. Voltando ao projeto “SP Hip-Hop All Stars”, em 2015 planejei fazer o volume 2 do álbum, com alguns artistas que fizeram parte do volume 1 e agregando outras lendas do Hip-Hop paulista e com alguns convidados muito especiais. Com uma ideia inicial de fazer pelo menos 18 músicas, como havia feito no primeiro, acabei por fazer 35 músicas, tamanha foi a vontade de grandes nomes em participar, como também, daqueles que estiveram na luta lá atrás. Em 2016, inicio a produção do volume 2, onde levei 2 anos para finalizá-lo, pagando todos os custos de meu bolso, seja por meio de permutas ou de dinheiro vivo. Com isso cheguei a um cast respeitável, composto de Nelson Triunfo, Thaíde, Pump Killa, DJ Erick Jay, Catito, Electric Boogies, Sampa Crew, Doctor MC´s, Mr. Rizada, Sharylaine, DJ Gato Magro, Kuryña G-Funk, Apelidado Xis, DJ Alpiste, Grandmaster Fish, Rappin Hood, MC Eddie, Big Flea, Ellypretoriginal, DJ Dehco, Branco P9, Piveti, Radicais do Peso, Junior D, Paulo Break, Tchello Rock, Falcon, DJ Jamaika, Rivas, James D, DJ Cleston, Slow Dabf, Filosofia de Rua, Mike, Visão Urbana, Pepeu, Frank Bruno (Black Jrs.), Ieda Hills e das pessoas que mais me fizeram ser Hip-Hop em minha vida e que foram convidados especialíssimos: Afrika Bambaataa, T La Rock e T Boyz DL. Em 2018, o álbum duplo foi lançado e consolidava-se assim o projeto em suas propostas de resgate de toda uma geração de pioneiros que desbravaram palcos e espaços que não eram nossos mas que, com seu trabalho e perseverança, implantou toda uma geração na história do Hip-Hop brasileiro. E está aí mais um registro marcado na história!
BW: Em 2019, você foi um dos contemplados com o Prêmio Sabotage, feito pela Câmara Municipal de São Paulo. Como foi receber um Prêmio tão importante na cena? O que sentiu naquele momento?
Heliobranco: Nunca é fácil ser contemplado pelo que você faz no Brasil, ainda mais dentro do Hip-Hop e ainda mais ainda sendo DJ. Conhecia o Sabotage antes mesmo dele gravar seu primeiro disco e lembro bem quando ele já estava sendo reconhecido pelo seu disco recém lançado, onde fomos fazer o lançamento do disco do MC Jack e ele estava lá como convidado. Isso foi em 2001. Lembro dos comentários e dos toques que MC Jack deu à ele e de sua risada acanhada por receber tão sábios conselhos de quem já estava lá. Com isso na cabeça e sabendo da força que Sabotage tem até hoje nas camadas mais sofridas da sociedade e que é onde justamente o Hip-Hop está e sempre precisa estar, receber este prêmio é algo que compartilhei no momento em que recebi com todos os presentes e que até hoje faço questão de compartilhar. Um DJ não toca para si. Ele precisa de audiência. E foi esta audiência que me respondeu positivamente ao me conceder a honra de receber tal premiação. Infelizmente, muita gente de boa expressão não prestigia este prêmio, só porque ele é promovido por um órgão governamental e entregue em suas instalações. Eu sinto que muitos acham que é comédia ser premiado pela prefeitura. Eu não penso assim e acho que quanto mais perto estivermos de órgãos governamentais, quanto mais dentro de suas instalações estivermos e ainda por cima recebendo prêmios, mais relevantes seremos no momento em que pleitearmos algo para a Cultura Hip-Hop. Com o maior respeito eu digo: muito obrigado pelo prêmio! Não é comédia ser premiado como agente ativo do Hip-Hop.
BW: Nesse período de pandemia, o que você tem feito? Tem trabalhado em algo? O que pensa sobre esse momento que estamos vivendo?
Heliobranco: Neste ano de 2020, já tinha planejado fazer um projeto musical dentro do “SP Hip-Hop All Stars, junto com meu brother Ellypretoriginal, fora do espectro que envolve o apelo do projeto, mas sim, explorando outras tendências musicais e o talento do pessoal do projeto. Com isso tudo que estamos passando, tive que segurar e possivelmente no início de 2021 voltaremos com tudo. Ainda neste ano de 2020, provavelmente em outubro, sairá mais um álbum na Europa em que faço parte junto com T La Rock. Fora isso, presto serviços de mixagens e masterização de músicas dentro do universo Hip-Hop. Estamos passando por um momento único de experiência em nossas vidas. Experiências quase que de guerra. Só que não temos inimigos disparando balas contra nós, jogando bombas em nossas casas ou tomando nosso território. Nosso inimigo é altamente perigoso por ser invisível e por ter se tornado matéria de manipulação política. Por isso eu digo: sem vacina, não há distância social, máscara, cumprimento com cotovelo ou o que seja, que vá evitar que qualquer um de nós possa ser contagiado e até mesmo vitimado. Não confie em nada que te disserem até o dia em que você for vacinado. A partir deste momento, começaremos a retomar nossa realidade.
BW: Quais são seus planos para o futuro?
Heliobranco: Não tenho muitos planos para o futuro. O futuro não existe. Só existe o hoje e o agora. Faço o agora se realizar. Mesmo assim, dentro de minha cabeça penso em lançar o “SP Hip-Hop All Stars volume 3”, com novos convidados que fazem parte da história do Hip-Hop, depois que lançar o projeto intermediário que envolve o pessoal do projeto, que já mencionei acima. É isso aí pessoal. São raras as minhas entrevistas. Não curto muita exposição de minha vida, apesar de saber que crio produtos públicos. É complicado e eu sei… (risos). Fica aqui minha mensagem para vocês que vivem o Hip-Hop 24h por dia: “Quando você estiver triste e passar ou entrar em algum lugar que o faça se sentir feliz, procure saber quem está tocando, certamente será DJ Heliobranco namixxx”.
Fotos: Arquivo Pessoal
Discos Produzidos e Lançados
- CBR volume 2, 2012
- Subway, 2013
- Afrika Bambaataa, 2015
- Afrika Bambaataa, 2015, Rótulo
- CBR volume 4, 2016
- CBR, 2018
- Kyper, 2018
- Serenity, 2018
Radicais do Peso
- Ameaça ao Sistema, 1992
- Case-RDP, 1992
- DJ Heliobranco no microfone, Virada Cultural, 2008
- Lançamento "Ameaça ao Sistema", MC Jack, Rooney e Keliobranco, 1992
- RDP, 1992R
- Reunião do RDP, 2013
- Single "O Peso", 1991
- RDP na Virada Cultural, 2008
SP Hip-Hop All Stars
- SP Hip-Hop All Stars Volume 1, 2012
- Casa do Hip-Hop de Diadema, 2012
- Lançamento do SP Hip-Hop All Stars, 2012
- Heliobranco e T La Rock, 2012
- SP Hip Hop All Stars Volume 2
- Hip-Hop All Stars no Teatro Sergio Cardoso, 2017
- SP Hip-Hop All Stars, 2019
- SP Hip-Hop All Stars, 2019
Tocando Por Aí...
- Produzindo o Disco de MC Jack e Show Blen Blen, 2001
- Show Criminal D - Blen Blen, 2000
- Batalha Final, 2004
- Rockmaster Party 2007
- Rockmaster Party, 2008
- Batalha Final, 2009
- Impacto de Estilo, 2016
- Virada Cultural, 2017
- Festa no Portal do Cambuci, 2018
- Festa no Portal do Cambuci, 2018
- Projeto Som do Bom, 2018
- Encontro da São Bento, 2019