Fundamentos: Top Rock

“Top Rock, ao contrário do que muitos falam, não é um cartão de visita, pois nossa arte não é venda!” B-Boy Jotta
Para refletirmos sobre “fundamentos da dança Breaking”, torna-se necessário analisarmos suas relações com a cultura local de cada lugar, buscaremos perceber aqui as novas técnicas que surgem ao longo desse processo histórico, ao invés de tentarmos definir um único fundamento válido para todos, buscaremos compreender como são incorporados os novos elementos de sua linguagem, pois entendemos que discutir fundamentos, a sua aquisição do conhecimento e informação demostram a capacidade do ser humano de constituir e ampliar conceitos.
Ao olharmos para a história dessa arte, que nos revela inicialmente o seu contexto de origem nos Estados Unidos, onde pela interação de corpos em movimentos que dançavam no bairro do Bronx, em meados dos anos 70 e 80, se iniciou a construção do primeiro conjunto de movimentos dando a base dessa linguagem Breaking chamado de Top Rock, e em um dado momento foi ampliada com outro conjunto de movimentos chamado de Footwork, sendo posteriormente atualizado por um terceiro conjunto de movimentos que chamamos de Freeze, percebemos então que a cada momento as práticas corporais são expostas às novas dinâmicas e reinterpretadas em cada contexto histórico em um processo de construção dessa linguagem.
A construção desse texto parte dessa visão dinâmica do conhecimento e das práticas artísticas de sua condição contextualizada, pois cada nova realidade é incorporada às características da comunidade que recebem esses fundamentos vindos de fora, pois ao saírem de suas fronteiras de origem a linguagem humana tem um movimento próprio de estar sendo. Saindo dos EUA, o Breaking ao chegar a outros lugares, passa por uma nova fase de aprendizagem, os sujeitos na ação de aprender a nova linguagem, não se contentam em apenas copiar e reproduzir aquilo que vem de fora, e em segundo momento da prática, passam a ampliar os fundamentos que foram recebidos, é o ato de “inserção”, de inserir ou incluir uma coisa na outra, suas características locais do novo contexto, e isso acontece em um processo constante na construção da linguagem que chamamos de “Práxis da dança”, é a transformação diante da diversidade que acontece a cada nova região, município, estado ou país por onde essa linguagem se movimenta. Então, por ser uma linguagem e uma cultura, está inserida dentro de um processo de transformação dialético histórico-social de seus fundamentos.
A tomada da consciência da transformação pela diversidade da linguagem permite convocar outra questão: Quais seriam os “fundamentos-essências” aqui no Brasil? Podemos responder que, atualmente, temos em torno 5 (cinco) conjuntos de movimentação fundamental característico típico da criatividade do B-Boy e da B-Girl brasileiros, elementos que vão se dando à consciência e identidade dos fundamentos do Breaking Brasileiro na sua própria experiência, que testemunham sua história reconhecendo-se como autor. Então temos: o Salto Mortal, o Power Move como novos elementos que organizam os fundamentos dessa linguagem aqui no Brasil.
A ancestralidade cultural das nossas raízes africanas e indígenas trazem elementos que contribuem para a transgressão dos limites da linguagem. A dança brasileira diante dessa nova linguagem busca manter suas características ancestrais dentro da dança Breaking, pois a capoeira se mostra como conteúdo ancestral da Cultura Africana e suas incorporações com saltos mortais e a ginga de um bom capoeirista, permitem dialogar e romper as definições e limites iniciais dessa linguagem, abrindo novamente a ampliação da técnica dos fundamentos da linguagem da dança Breaking, adquirindo o tempero brasileiro, como soube muito bem expressar em sua ação prática o nosso Campeão Mundial 2010 B-Boy Neguin, em Tóquio, no Japão.
Muitos dizem que o Top Rock é o cartão de vista e o início da dança, porém, iremos ampliar essa compreensão para definirmos um campo comum da linguagem do Breaking brasileiro. O Top Rock é a parte do Breaking que mais simboliza a luta e o combate nessa dança, pois nesse momento o artista possui espaço para lançar sua expressividade corporal por meio de gestos de luta, como socos, golpes, armas, provocações, expressões faciais e trocas de olhares intimidadores, tudo para que o seu oponente perca a concentração, é o momento da presença e ocupação do corpo simbólico no espaço da batalha, toda essa movimentação somada ao gingado brasileiro que passa pelo samba, forró e danças populares, como o bumba-meu-boi da região norte e nordeste do Brasil, entre outras que podem ser fundidas ao Flow (fluidez), Feeling (emoção) e Flavor (interação com o público), todos esses elementos dão as características e identidade do corpo do B-Boy e B-Girl brasileiros durante suas expressões nessa linguagem.
O Top Rock é um conjunto de diversos movimentos que são executados e praticados na posição de pé ou movimentos bípedes. Então, para concluir essa primeira análise sem a pretensão de esgotar o debate sobre os fundamentos da dança Breaking, iremos listar aqui nomes de alguns passos que configuram o conjunto do Top Rock:
Indian Step – Back Step – Two Step – Side Step – Boyoing – Power Step – Power Hop – Latin Rock

Do ponto de vista orgânico, os órgãos do corpo humano são responsáveis por qualquer movimentação e ação da expressão de vida, o que ao mesmo tempo nos limita e nos define também, nos possibilita a viver, a sonhar, a pensar e a construir o novo e a novos costumes. Então, fora do nosso corpo existe uma realidade que temos que encarar para viver, são os desafios e obstáculos do nosso cotidiano, e isso nos levam para uma outra direção, que é a superação.
Os fundamentos são as bases, ou sementes que originam e definem a cultura e tradição histórica humana, não podemos negar nossas raízes indígenas e africanas, que já celebravam a dança bem antes da chegada do europeu, impôs um processo de invasão de nossa linguagem e destruição de nossa cultura, que se dá até os dias de hoje, superar o preconceito e exclusão na periferia dos grandes centros urbanos ainda é uma grande luta e desafio, assim os fundamentos dessa arte nascem nesse contexto de exclusão, que obrigou os jovens periféricos dos anos 70, 80 e 90 a entrarem em um processo de luta e batalhas pela sua libertação, por meio das gangues, acabaram rivalizando entre si mesmo por já não mais conseguirem identificar qual era o inimigo invasor. Podemos dizer que, com certeza, os fundamentos do Breaking também têm raízes nas lutas, depois na união desses povos, pois por meio dessa arte reivindicam espaço de existência e valorização de sua imagem e autoestima, assim, o início da superação começou quando, ao invés de lutarem entre si, abriram espaço para o diálogo e união, então, nasce a linguagem da dança Breaking (Quebrar), uma nas periferias e guetos dos EUA e nas Favelas e quebradas do nosso Brasil.
Os Novos Fundamentos da Dança estão organizados dentro dessa linguagem em 3 partes que são:
Top Rock: é executado em pé, na posição “Bípede”. Tem um significado cultural de introdutória e ao contrário do que muitos falam, não é um cartão de visita, pois nossa arte não é venda, é o ataque inicial para olhar nos olhos do seu oponente e intimidá-lo, o Breaking é uma dança de batalha contra algo, esse algo é a realidade injusta que muitos jovens de periferia são colocados, por isso “Top Rock significa atitude frente a uma batalha diária e histórica”, é a parte da dança onde o B-Boy e a B-Girl não baixam a cabeça e olham nos olhos e buscam superar seus medos e desafios que os limitam a agir e tomar uma decisão para a superação e libertação de sua subjetividade oprimida, podendo ser complementado por gestos e outros movimentos que o corpo, carregado de emoção, guiaram a razão do B-Boy ou B-Girl.
Footwork e Freeze também fazem parte da essência dessa dança.
Assim, a técnica da dança Breaking, como qualquer técnica-corporal inventada pelo homem, é um processo em permanente construção.
A dialética entre o novo (criação) e o velho (tradição)!
Foto: Reprodução
