B-Boy Thyaguin: “No passado nunca se via um campeonato Kids, a nova geração está cada vez mais inserida na cultura”
“No passado nunca se via um campeonato Kids ou um clipe de Rap com criança, creio que hoje está bem mais acessível para a nova geração e elas estão cada vez mais inseridos na cultura”. (B-Boy Thyaguin)
Ele é um pernambucano que vive em São Paulo e se destaca não só no Breaking e no Graffiti, mas principalmente no trabalho que faz junto às crianças do bairro de Perus.
Na última semana, a conversa foi com o B-Boy Thyaguin, que a convite do secretário de Cultura está à frente do projeto “Artistas Que Inspiram – Território Perus”, que é uma iniciativa do “Núcleo de Ação Cultural do CEU Perus” e busca divulgar os artistas e moradores do bairro, dando a eles visibilidade e voz.
Thyaguin reconhece que trabalhar com crianças é um desafio e é o idealizador do “Bomba Kids”, grupo formado pelas crianças de Perus que frequentam o CEU.
Veja a conversa na íntegra:
BW – Fale sobre suas origens. Onde nasceu e como foi sua infância?
Thyaguin – Nasci em São Paulo, porém, fui criado em Araripina, cidade do interior do sertão pernambucano. Tive uma infância normal, com muito apoio por parte da minha mãe em relação as coisas que sempre gostei, que foi a arte e cultura.
BW – Quando começou a ter contato com a dança e com a Cultura Hip-Hop?
Thyaguin – Em 2006, frequentava a “Igreja Universal”, onde um pastor fazia o moinho de vento (Windmill), aquilo me impressionou pois já fazia capoeira há mais ou menos uns 7 anos, daí por diante comecei a me aprofundar nesse universo, andando no estilo, usando umas roupas largas, bombeta e bandana (risos), porém, se intensificou através do meu primeiro contato com o Breaking, de uma apresentação de um grupo da cidade de Ouricuri (PE), chamado “DRS B-Boys”, na escola em que estudava.

BW – Com quem aprendeu a dançar? Pessoas te influenciaram?
Thyaguin – Ahh…! Na minha vida tive vários professores, isso posso afirmar, muitos contribuíram para o meu aprendizado, um dos primeiros foi o Robson B-Boy Cachorra da Mulesta, o Júnior Baladeira e o falecido B-Boy Randall. Essas foram pessoas muito importantes no meu desenvolvimento com a dança, sou muito grato por todo o ensinamento.
BW – Você já ganhou vários eventos, fale um pouco da sua caminhada na dança e por que eventos passou?
Thyaguin – A dança para mim foi ganhando uma nova perspectiva com o passar dos tempos, antes era muito focado em estar participando das batalhas e estar sempre presente nos eventos, conquistando títulos, porém, com o passar do tempo, fui focando na minha evolução pessoal e familiar, mas tenho grandes memórias de batalhas incríveis que participei, uma das que mais me traz boas recordações foi a vez que fui convidado pela equipe da “Battle Of The Year” em Salvador, na Bahia, para estar entre os “Top 16”, ano em que conheci o Storm pessoalmente. Para mim foi inesquecível, pois no início o DVD que eu tinha era o Storm ensinando alguns fundamentos dos Footworks, que faço até hoje, daí passa alguns anos e você está lado a lado com o cara, até porque ele deu uma atenção para a galera e se mostrou muito humilde em compartilhar seus conhecimentos. Ah, sim, conquistei muitos títulos. Vou citar alguns:
– Campeão “América Latina Battle Of The Year 2014” (BOTY), evento que me deu a oportunidade de participar em um dos maiores campeonatos mundiais na Alemanha, representando o Brasil;
– Campeão “CT Battle B-Boys 1vs1 2015”;
– 1° Lugar Eliminatória “Circuito Arena Caieiras 1 vs 1”;
– Bi-Campeão “Battle SP 1vs1” 2017/2019;
– 1° Lugar “BBS 1vs1 em Bodocó PE 1vs1”;
– Campeão Eliminatória “B-Boy In Shangai 1vs1”;
– Campeão “Breaking Circuito Fábricas de Cultura 1vs1”;
– Campeão “Street Roots 2019”;
– Campeão “Boom Breaking 2018”;
– 3° Lugar “Edacra Exú-PE 1vs 1”;
– 2° Lugar “Ginga B-Boys e B-Girls em Recife-PE”;
– 2° Lugar “Brasil Super Battle em Brasília-DF”;
– 3° Lugar “Battle Brazil Eliminatória Battle Of The Year” (BOTY) – Vaga para final do mundial na França 1vs1;
– Campeão “Fest Battle em Minas Gerais 2016”;
– Campeão “The Killers Jova Battle 2017 SP”;
– 2° Lugar “Aniversário da Street Son 25 anos”.

BW – Thyaguin, você tem um estilo diferente no Breaking. Fale da importância de se construir uma própria identidade na dança e como conseguir isso.
Thyaguin – Sim, ouço muito que tenho um estilo diferente, acredito que pelo meio cultural em que vivo e minhas pesquisas individuais, pois não me limito a apenas uma linhagem, sigo na procura por conhecimento e vertentes de distintos movimentos culturais, etnias e costumes de outros povos. Acho que essa é a chave, buscar ir além dos seus limites, claro, respeitando até onde você consegue, mas não se prendendo muito ao que o povo fala que é impossível, tudo é questão de força de vontade, se você quer, você consegue. E construir uma identidade na dança é essencial, como aquela frase: “todos os outros já existem, seja você mesmo, seja o diferencial”.
BW – E nos conte sobre o projeto “Artistas que Inspiram – Território Perus”, como surgiu o convite para participar desse projeto?
Thyaguin – O projeto “Artistas que Inspiram” é uma iniciativa do “Núcleo de Ação Cultural do CEU Perus” e busca divulgar os artistas e moradores do bairro, dando a eles visibilidade e voz. O convite surgiu através do novo secretário de cultura Nilton Moraes.
BW – Como é trabalhar com crianças e quais são os principais desafios? Como trabalha com elas na hora de passar conhecimento?
Thyaguin – Trabalhar com as crianças é um desafio a ser enfrentado diariamente, pois você tem que estar ali pronto pra ouvir e levar pra eles o melhor de você, são emoções e sentimentos compartilhados, é uma grande responsabilidade. Normalmente, trabalhamos sempre com temas específicos, dirigidos pela coordenadoria, procurando levá-los à realidade do lugar onde vivem e a importância da participação e envolvimento desde jovem na política pública.
BW – Fale sobre os talentos que você vem descobrindo e trabalhando com eles no bairro de Perus.
Thyaguin – Estou com um projeto em parceria com o “CCA Perus”, meu local de trabalho e que sou muito apoiado pela minha gerente Rosângela Azevedo e minha assistente técnica Elizabeth Guimarães, e daí lancei a proposta de criarmos um grupo de dança com os usuários do “CCA”, os mesmos já se familiarizaram com a prática, inclusive me acompanharam em alguns eventos, de onde surgiu a vontade deles também de montar uma Crew, denominada “Bomba Kids”.

BW – O trabalho é feito com o apoio das famílias? O que é necessário para participar do projeto? A partir de que idade as crianças podem participar?
Thyaguin – O “CCA” é “Centro para Crianças e Adolescentes” e a demanda é encaminhada e/ou validada pelo “CRAS – Centro de Referência de Assistência Social” de abrangência. O projeto tem como objetivo geral oferecer proteção social à criança e adolescente em situação de vulnerabilidade e risco, por meio do desenvolvimento de suas potencialidades, bem como favorecer aquisições para a conquista da autonomia, protagonismo e cidadania, mediante o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. O desenvolvimento de atividades é feito com crianças e adolescentes de 6 a 14 anos.
BW – Além do Breaking, você também é atuante no Graffiti. Fale sobre essa arte? E quando você começou a se interessar por ela?
Thyaguin – Na verdade, desenho desde criança e Graffiti só me interessei a partir do ano de 2015, que comecei a praticar e aplicar as técnicas na parede.
BW – Você ensina Graffiti também?
Thyaguin – Sim.

BW – Conversando, você falou da importância de dar voz à nova geração. Como você vê a nova geração do Breaking, ela tem tido voz?
Thyaguin – Creio que dar voz à nova geração é abrir espaços onde elas possam se expressar, seja com Dança, Graffiti, Rap, DJ ou qualquer outro tipo de manifestação artística cultural. Bom, pelo menos quando comecei a dançar e até há alguns anos após, quase nunca se via um campeonato Kids ou nunca um clipe de Rap com crianças cantando, e por aí vai, creio que hoje está bem mais acessível para a nova geração e elas estão cada vez mais inseridas nesse meio.
BW – Na sua opinião, os eventos que existem atualmente valorizam a nova geração?
Thyaguin – Alguns sim.
BW – Você também está à frente do evento Colisão Cypher. Fale sobre esse evento?
Thyaguin – Então, esse evento surgiu da vontade de querer fazer algo realmente voltado à nova geração, principalmente dar acesso aos meus alunos e algumas crianças que curtem a Cultura Hip-Hop, porém, não têm recursos para estar se deslocando para os eventos que acontecem em outros lugares de São Paulo.
BW – Com a pandemia, vários eventos foram cancelados. E no lugar surgiram os eventos on-line. O que você acha sobre esses eventos e sobre essa nova realidade enfrentada pelos B-Boys e B-Girls de todo o mundo?
Thyaguin – Bom, eu acho que diante de tudo que aconteceu, a única maneira é se adaptar, mas não curto muito não, acho que não dá para transmitir a mesma energia que um evento presencial.
BW – O que significa o Breaking para você?
Thyaguin – Estilo de vida.
BW – Quais são seus planos para o futuro?
Thyaguin – Dar continuidade aos meus projetos, trabalhar, estudar a dar estabilidade e todo suporte possível para minha família.
Fotos: Arquivo Pessoal