Dança limpa e sem culpa nas Olimpíadas
E com a notícia que o Breaking deve fazer parte das modalidades olímpicas, B-Boys e B-Girls devem buscar cada vez mais uma vida saudável e regrada, evitando o uso de substâncias proibidas. Nos últimos Jogos Olímpicos da Juventude, a Federação Internacional de Dança Esportiva (WDSF na sigla em inglês), que rege o Breaking, realizou “256 exames antidoping e todos deram negativo”, explicou Jean-Laurent Bourquin, conselheiro da federação e ex-membro do COI.
No Breaking, foram selecionados alguns dançarinos na base de vídeos, todos se comprometendo a passar por exames antidoping. Exigências essas que serão bem comuns no futuro.
No entanto, no mundo ainda muitos atletas fazem utilização de substâncias ilegais, pela falta de controle antidoping. A Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD) fez uma pesquisa com atletas contemplados pelo “Bolsa Atleta” (programa de apoio do governo federal) e apresentou números muito preocupantes: 83% dos atletas nunca foram testados contra substâncias ilegais e 92% dos atletas não sabiam da existência de uma lista de medicamentos e substâncias proibidas. Esses dados são alarmantes em relação ao combate ao doping nacional. Afinal, com a falta de controle, muitos atletas são estimulados a utilizarem de recursos ilegais para apresentarem melhora na performance.
Mas fica a pergunta no ar: “o que leva realmente uma pessoa cheia de talentos a buscar esses recursos para melhoria de sua performance?”. Será que apenas o fato de não ter um controle adequado, quando pensamos no Brasil? Ou será que existem outros argumentos mais fortes que são determinantes ao pensarmos numa visão mundial?
Os estudiosos do esporte, Eidelwein e Decker, apontam que outros fatores, além da busca por melhores resultados, estimulam a utilizarem substâncias proibidas no caminho do sucesso, como a busca por patrocinadores e fontes de renda extra, a busca por um espaço midiático se tornando referência aos mais jovens, e o medo de não ser mais competitivo e ter que encerrar a carreira esportiva. Esses motivos vão além também do fato de não existir um controle antidoping adequado.
Eis que surge a principal dúvida. Será que tudo isso vale a pena? Seria pior não alcançar resultados muitos expressivos, porém, ter uma carreira limpa e exemplar na dança e no esporte? Ou é melhor destruir uma linda história, com diversas conquistas importantes, por ter sido “pego” em um exame antidoping e revelar que tudo aquilo que foi conquista veio com ajuda de substâncias proibidas sendo uma fraude? Esse é o dilema que muitos atletas e dançarinos vão viver nos próximos anos. E, apesar de sempre revelar esportistas que fazem utilização de substâncias ilegais, o mundo do doping parece sempre estar um passo à frente do controle antidoping. Um exemplo são as mais recentes descobertas de doping em nível genético, que demonstra o avanço dos estudos para buscar mecanismos de melhoria de performances ilegais e indetectáveis.
E qual o papel do profissional de Educação Física diante desses fatos?
É fundamental que os profissionais de Educação Física saibam que serão formadores de opinião na sociedade, uma vez que muito do que falam e fazem vira exemplo a ser seguido, principalmente por crianças e adolescentes que são os prováveis participantes dos jogos olímpicos. No caso do Breaking, esses profissionais são fundamentais na vida das crianças e adolescentes que muitas vezes, na periferia, têm uma realidade tão próxima das drogas e da criminalidade. É importante que o profissional de Educação Física, que tem conhecimento técnico e didático, saiba o que passar e de que forma passar. Corrigir hábitos errados são mais fáceis na infância do que na fase adulta, desenvolvendo bons hábitos, treinos feitos de forma correta, caráter, ética na cultura, na dança, no esporte e principalmente na vida.
Dicas dos Doutores:
No caso de dançarinos com patologias crônicas ou mesmo em situações agudas que demandem o uso de medicamentos, a Confederação responsável pelo competidor deverá ser informada da situação. Existe para isso um formulário de Isenção para Uso Terapêutico.
Esse formulário, deve ser preenchido pelo médico que está cuidando do atleta, para evitar que um teste de controle seja considerado positivo. Isso deverá ser feito antes da competição, porque a simples declaração de uso durante um processo de controle não isenta o competidor de uma possível investigação.
Mas como é feito o controle? Existem três tipos de controle de doping que podem ser realizados com testes de sangue e urina:
– Controle em competição – o mais conhecido e realizado após uma prova desportiva – geralmente aplicado aos vencedores.
– Controle fora de competição – realizado em qualquer momento da preparação do atleta e visa a flagrar o uso de hormônios anabolizantes e outros métodos durante o treinamento.
– Controle de saúde – é o teste realizado logo antes do início das provas, restrito a algumas modalidades e que pode excluir o competidor de uma prova visando a preservar sua saúde.
Quem define?
Também é importante esclarecer quem define o que é doping e como deverá ser feito seu controle. Desde 2004, a Agência Mundial Antidoping (WADA), emite, anualmente, uma lista com as substâncias e métodos proibidos.
É importante lembrar que a responsabilidade final é do dançarino e do atleta, que deve estar atento para quaisquer situações que possam causar problemas.
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